Romances em Hogwarts

Narcissa Malfoy desceu imponente as escadas de sua mansão, os longos cabelos loiros brilhando, refletindo a luz das velas que iluminavam toda a casa. Era, sem dúvida, uma bela mulher e ela sabia bem disso. A característica mais marcante em seu rosto era o seu olhar, não frio e cortante como o do seu marido. Dos seus olhos, pareciam sair faíscas de fogo, que ocultavam totalmente seus verdadeiros sentimentos. Somente quem a conhecesse muito bem poderia adivinhar se ela estava triste ou feliz, satisfeita ou decepcionada. Lúcio era uma dessas poucas pessoas. Ele a aguardava, no grande salão de festas, e a mediu com os olhos, da mesma forma que fizera quando se casaram, há quase vinte anos .

- Sabia que você está linda? Adoro te ver assim, sempre produzida - Lúcio a beijou ternamente.

- Me arrumei especialmente para o dia de hoje, meu amor...- Narcissa adiantou-se para o bar, e se serviu de uma dose de conhaque - estou ansiosa demais, há quanto tempo não temos uma reunião como essa? Uns quinze anos, quase. Da última vez que nós todos nos reunimos, o Draco ainda era um bebê, que mal engatinhava...

- É, minha cara...passou-se muito tempo...mas hoje vamos estar todos juntos novamente...nossa primeira grande missão foi realmente bem-sucedida.

- Uma pena que antes vocês acabaram com o Karkaroff...ele realmente era um cara divertido.

- Mas um traidor também, Narcissa. Quando Rookwood foi preso, perdemos uma grande fonte de informação de dentro do Ministério. Tudo por culpa do Karfaroff. E pensar que eu quase mandei o Draco para Durmstrang...

- Com certeza Hogwarts é o melhor lugar para o nosso filho, apesar da legião de sangue-ruins que Dumbledore tem admitido...enfim, quando nós assumirmos o poder, poderemos varrê-los de lá.

- Aí você se engana, querida. Nós vamos começar justamente por Hogwarts.

- Posso saber como?

- Espere nossos amigos chegarem, e aí você irá conhecer os detalhes do plano que eu venho arquitetando nos últimos meses junto ao nosso mestre...e tenha certeza que sua participação será muito importante.


Como nos velhos tempos, os Comensais da Morte mais íntimos dos Malfoy se reuniram na mansão da família, especialmente preparada para aquela noite. Era uma ocasião esperada há vários meses, desde que Voldemort recuperara seu corpo. Comemoravam a volta triunfal dos Lenstrange, Travers e Dolohov, presos há catorze anos em Azkaban.

O único que não compartilhava da mesma excitação que dominava todos os presentes, era Severo Snape, embora não o demonstrasse abertamente. Sabia que Voldemort só não mandara matá-lo, assim como fizera com Karkaroff, porque sua posição como professor em Hogwarts era privilegiada. E esse era o jogo combinado com Dumbledore: fingir que estaria espionando para Voldemort em Hogwarts, e não o contrário.

Sentia nojo de todas aquelas pessoas, que se vangloriavam dos feitos do passado: trouxas que torturaram, seus assassinatos... . Sentiu vontade de vomitar ao se reencontrar com os Lenstrange. Christiane parecia mais um fantasma, uma morta-viva. Mas ao contrário do muitos supunham, ela conservava perfeitamente os seus poderes, provavelmente à base de muita magia negra, invocada por alguém de fora de Azkaban.

Havia ainda Pettigrew...aquele verme miserável! O professor não podia deixar de esquecer que Lílian estava morta por causa daquele traste impretável. E Rabicho ainda se divertia, contando sua bela história, como conseguira enganar a todos, e jogar toda a sua culpa sobre o Black.

Finalmente Voldemort aparatou na mansão, com o seu impertubável ar de sempre, como se não houvesse nada no mundo que não o impedisse de alcançar o poder almejado. Olhou um a um os presentes, e sorriu sarcasticamente:

- Ah, Lúcio, meu caro...você não perde a oportunidade de se exibir, não é mesmo?

- Organizei essa reunião especialmente para o senhor, milorde.

- Sei...eu finjo que acredito - Voldemort se dirigiu para o lado onde os Lenstrange se encontravam - Willian e Christiane, vocês voltaram como heróis. Merecem toda a honra, pois permaneceram fiéis a mim durante todos esses anos em Azkaban. O que vocês querem em troca dessa fidelidade?

- Só o fato de estarmos de volta nos faz sentir honrados, milorde. Obrigado por nos tirar de lá.- Willian se curvou, e beijou os pés de Voldemort.

- Eu já disse, e torno a repetir...o que mais prezo em um Comensal da Morte é sua fidelidade. Lembrem-se de Karkaroff, o destino que ele teve será o mesmo para todos os que me trairem.- Fez uma pausa, observando as expressões espantadas dos comensais - Agora, chega de sermão. Eu vim até aqui para tratarmos de negoócios...

- O senhor já decidiu como vai fazer para colocar as mãos novamente em Harry Potter?

- Não, Nott...a única coisa que eu sei é que um dia eu acabo com aquele moleque magricela...mas quando isso irá ocorrer, eu ainda não decidi. O que eu preciso que vocês façam é preparar Hogwarts para o dia que eu triunfar sobre Dumbledore. Posso contar com sua ajuda , Profº Snape?

Snape, sentado numa poltrona afastada, concordou com a cabeça.

- Você sabe que eu só o poupei por causa de sua influência em Hogwarts. Espero que sua lealdade não vacile mais.

- O senhor pode confiar em mim, milorde.

- Quero que você, Severo Snape, vigie todos os passos de Harry Potter...você e todos os seus filhos - Voldemort apontou para os Malfoy, Crabbe, Goyle, Nott...todos os comensais que tinham filhos estudando em Hogwarts - precisamos de uma forte rede de contatos dentro daquela escola. Aí, sim eu direi quando e como agir. Vamos fazer Dumbledore imaginar que não estou mais interessado em perseguir o garoto...

Horas mais tarde, quando Voldemort e todos os Comensais já tinham ido embora, Lúcio recolheu-se ao seu quarto. Narcissa se preparava para deitar, escovando os cabelos.

- Conversei um pouco em particular com Voldemort...- comentou Lúcio, calmamente.

- E...?

- Ele não confia em Snape...nem um pouco.

- E porque não o liquidou de uma vez? - Narcissa pousou a escova na penteadeira, impaciente.

- Justamente por causa da posição privilegiada de Snape em Hogwarts...mas o Lord das Trevas pediu para que eu vigie atentamente os passos dele no castelo.

- E como ele quer que você faça isso, Lúcio? Desde que você foi demitido do cargo de conselheiro de Hogwarts, não há justificativa nenhuma para você se enfiar na escola novamente.

- Chegou a hora , Narcissa - os olhos frios e cinzentos de Lúcio pousaram na foto de Draco sobre a penteadeira - do nosso filho honrar o nome que tem, e se colocar aos serviços de Lord Voldemort.


Snape aparatou em Hogsmeade, mas não seguiu direto para Hogwarts. Já passavam da meia-noite, e apesar da urgência em conversar com Dumbledore, sabia que aquela hora o diretor já estava dormindo.

Entrou no Três Vassouras, mas imediatamente arrependeu-se. Lyra e Lupin se encontravam no bar, e conversavam animadamente. Como não tinha escolha, Snape passou pelos dois colegas, acenando discretamente com a cabeça, e se refugiou nos fundos do bar.

- Às vezes eu gostaria de saber o que se passa na cabeça desse cara...- murmurou Lyra, observando Snape discretamente. - No fundo eu tenho pena dele.

- Pena? Meus parabéns, Lyra Black. Você está se tornando um verdadeiro ser humano...- gracejou Remo. - Existe algum motivo para você ter pena dele?

- Ele é sozinho, não tem nenhum amigo, não confia em ninguém..."e tem medo de se apaixonar por mim" - pensou.

- Você já ouviu dizer que uma pessoa colhe aquilo que planta? Escuta, Lyra, você não o conheceu como eu e o Sirius o conhecemos na época em que nós estudávamos aqui. O Snape era insuportavelmente chato e irritante.

- Mas ele deve ter alguma coisa boa...afinal de contas, a Lílian se apaixonou um dia por ele...

Remo bateu com o copo de cerveja amanteigada na mesa, fazendo barulho.

- Acho melhor você guardar essa história só para você, Lyra. Não seria nada agradável se essa história chegasse aos ouvidos do Harry e de toda a escola.

Lyra levantou-se, e colocou alguns sicles sobre a mesa.

- Com licença, Remo, mas já percebi que é impossível conversar com você sem discutir. Ou você acha que o Harry não vai descobrir um dia, que a mãe dele namorou com o Snape? Já está na hora de vocês pararem de tratá-lo como uma criança.

A professora saiu do bar, deixando Remo confuso e sem-graça. Ela não precisou correr para alcançar Snape no meio do caminho para Hogwarts.

- Boa noite!

Snape olhou-a, entre surpreso e irritado.

- Boa noite, Black. Será possível que você agora deu para me seguir?

- Te seguir? Longe disso, Severo. Acontece que nós dois estamos indo para o mesmo lado...eu te incomodo?

- Se você fosse menos chata...

- ...e irritante como todos os Black...Severo, por favor, seja mais criativo, por que se sua intenção é me ofender, você não está mais conseguindo.

Já haviam alcançado o castelo. Snape parou nas escadas, e olhou para Lyra pela primeira vez sem raiva ou impaciência. Sentiu uma incontrolável vontade de tê-la novamente em seus braços, como na noite do ano-novo. Desde que ela chegara à Hogwarts, ele não conseguia pensar em qualquer outra mulher que não fosse Lyra Black, com sua pose de mulher independente, mas que no fundo não passava de uma menina...mas porque justamente ela? Até quando teria uma sombra de Sirius Black em sua vida?

Lyra aproximou-se de Snape, sentindo cada batida do seu coração. Estar apaixonada por aquele homem ranzinza já era um fato. Beijaram-se novamente, dessa vez não por efeito de uma bebida. Era um beijo sincero e desejado por ambos. Quando Lyra abriu os olhos, surpreendeu Severo sorrindo. E por trás do ombro dele, pode ver a silhueta de Remo ao longe, entrando na propriedade.

- Vamos sair daqui...- sussurrou.

Entraram no castelo, e desceram as escadas em direção às masmorras. Entraram silenciosamente no quarto de Snape, semi-iluminado pelas velas. Lyra sentiu um arrepio de frio misturado com ansiedade. E quase sem perceber, já estavam se beijando novamente. Snape procurou ansiosamente livrar-se da incômoda capa, ao mesmo tempo que Lyra fazia o mesmo. Ela deitou-se na cama e esperou. Snape tirou a camisa, e aproximou-se da moça. E no instante em que a enlaçou novamente, Lyra segurou com força o seu braço esquerdo, e o empurrou para longe.

- O que foi...?

- Fique longe de mim, seu...seu...servo das trevas, nojento. - Lyra levantou-se, e começou a apanhar a sua blusa, jogada no chão.

Snape suspirou, resignado, e esfregou o braço no local em que aparecia a Marca Negra.

- Escuta, Lyra, deixe eu te explicar...

- Não há nada para ser explicado. Estou indo agora mesmo procurar Dumbledore, e dizer que há um Comensal da Morte em Hogwarts...

- Você não vai a lugar algum antes de eu lhe explicar...Lyra, por favor, me escute.- Ele respirou profundamente - o diretor sabe que eu tenho a marca, o seu irmão sabe, até o Ministro e o Potter sabem...ok, ok, eu já fui um deles, mas me arrependi em tempo. Você nunca se arrependeu de nada, de nenhuma besteira que fez na vida?

- Já estou arrependida de ter vindo até aqui com você.

- Quer saber? Eu já perdi muito na vida, por um dia ter me aliado ao lado das Trevas...eu quase morri por causa disso, e Dumbledore me ajudou e muito a me reerguer. Tudo o que eu tenho hoje em dia eu devo a ele. O meu emprego, uma certa dignidade e respeito - fez uma pausa, espantado por ter desabafado daquele jeito com Lyra - se você quiser ir embora, tudo bem, eu entendo.

Segurando a maçaneta da porta, Lyra sentia-se dividida entre sair dali, e sentir-se segura em seu quarto, ou permanecer no quarto de Snape, e aceitar suas explicações, como o seu coração desejava.

"Você tem medo de ser feliz, Lyra Black?"- uma vozinha, em seu inconsciente sussurrava.

Ela resolveu ficar.


Estar apaixonado não é nada fácil. Ficar horas sonhando acordado, pensando na pessoa amada, perder apetite e não conseguir dormir...era exatamente assim que Harry se sentia, naquelas semanas que se passaram após o ano-novo.

Pensar em Gina virara um hábito, assim como acordar e dormir, tomar banho ou almoçar e jantar. Se sentira o máximo quando dançaram a noite toda, até o baile ser interrompido daquela forma estúpida. No entanto, de volta a Hogwarts, Gina parecia se esquivar, evitando-o. Harry tentava descobrir, nas longas noites em que passara em claro, se havia feito ou falado qualquer coisa que a tivesse ofendido.

Mas agora haviam coisas demais para se fazer. Os professores pareciam cada vez mais exigentes, e faziam questão de lembrar todos os alunos do quinto ano que os N.O.Ms se aproximavam, e deviam estudar, e muito para obterem boas notas.

Hermione, logicamente, era a que mais estudava, e tentava sob todas as leis, fazer com que Harry e Rony a acompanhassem em longas sessões na biblioteca, fazendo exercícios simulados e longas revisões dos anos anteriores. Logicamente, essas sessões não duravam muito tempo. Rony sempre achava um jeito de irritar Mione, e cair fora, arrastando Harry consigo.

- Pra mim chega, eu não vou estudar mais nem um minuto com a Mione - Rony entrou irritado no dormitório, e continuou - agora que ela é monitora, está a cada dia mais insuportável.

Harry sorria, achando graça da cara enfesada do amigo.

- Vocês dois não tem jeito, mesmo. Vão passar a vida inteira brigando?

- Eu não brigo com a Mione, mas ela implica demais...e deve ser algum tipo de perseguição, ela não age assim com você.

- Por que será, não Rony? - Harry deu uma risadinha maliciosa, e Rony sacudiu a cabeça.

- Não é o que você está pensando, nem vem. - disse, corando. - E você, com essa cara de bom-garoto, não perdeu a oportunidade de agarrar a Gina durante aquele baile.

- Rony!!! - agora era a vez de Harry corar.

- Tudo bem, Harry. Eu não vou bancar o irmão mais velho chato e ciumento...é preferível ver a Gina com você, que é meu amigo, do que com um idiota qualquer...

Se segurando para não rir, Harry decidiu que era melhor mudar de assunto.


Além das aulas, havia também o quadribol para se preocupar. Logo após as férias de Natal, o time da Grifinória voltou a treinar intensamente, se preparando para o segundo jogo da temporada, contra a Lufa-Lufa. Harry não dizia a ninguém, mas se sentia extremamente incomodado com o fato de ter que jogar contra a casa de Cedrico. Não imaginava que um dia iria sentir tanta falta do colega em um jogo.

Na véspera do jogo, Harry ficou até mais tarde no campo, tentando relaxar sozinho, voando. Levou tempo para perceber que não estava só, e que Vívian o observava atentamente. Desceu veloz, fazendo graça com um vôo rasante sobre a cabeça da garota.

- Seu bobo-alegre...- Vívian colocou as mãos na cintura, olhando para o súbito exibicionismo de Harry.

- O que você está fazendo aqui?

- Estive pensando em entrar na floresta proibida, e procurar uns bichos-papões...eu estava te procurando, oras. Já está quase na hora do jantar, e como você não apareceu com o restante do time...

- Eu tava afim de ficar um pouco sozinho...

- Preocupado...? Não há motivos para tanto, você joga muito bem.

Harry sorriu, satisfeito. Sabia que se destacava mesmo no quadribol, e não procurava disfarçar o quanto jogava bem. Vívian tomou a firebolt nas mãos, e a examinou atentamente.

- Você quer dar uma volta, Vívian? - perguntou o garoto, vendo a vontade estampada no rosto da filha de Sirius.

- Posso mesmo?

- Você sabe que sim. É só me pedir.

Impulsivamente, Vívian deu um beijo estalado na bochecha de Harry.

- Valeu, Harry - tomou impulso e levantou vôo.

O vôo na firebolt foi o melhor da sua vida. A segurança que a vassoura transmitia, aliada à alta velocidade fizeram com que Vívian se sentisse livre, livre o suficiente para uma sensação estranha, mas já conhecida, tomasse conta de si.

- Sirius Black, volte aqui e me devolva o meu diário!!!

- Por que você não vem pegar?

- Você sabe que eu detesto voar...volta aqui...

- Sirius, isso não tem graça nenhuma ...devolve o diário da Isabella, ou eu mesma vou buscá-lo...

- Então venha, Srta Evans...Tiago, o que você acha dessa nova modalidade de quadribol, usando o diário da Isabella como goles...

- Vívian, você está bem? - Harry gritou, vendo a expressão assustada da garota. Mas a voz dele parecia vir de longe, como se ela estivesse sonhando. Lentamente, Vívian desceu, ainda atordoada.

- O que que aconteceu?

- Depois eu te conto...eu preciso falar urgente com a Lyra...

Vívian voltou para o castelo, entre confusa e assustada. Não gostava nada daquelas visões ou seja lá o que aquilo significava. Sempre se considerou uma bruxinha comum, como todas as garotas de sua idade. Agora, dera para ouvir os seus pais quando eram crianças e adolescentes.

Ouviu risadinhas sufocadas dentro da sala de Lyra, e a porta estava trancada. Bem, aquilo não era normal. Com uma pancadinha usando sua varinha, Vívian abriu a porta, e encontrou sua tia e o insuportável do Profº Snape se beijando, como se fossem dois adolescentes.

- Vívian, o que você está fazendo aqui?

A garota encarou a tia, num misto de raiva e surpresa.

- Eu preciso conversar com você...mas vi que cheguei em hora imprópria...

Snape se adiantou, mal-humorado.

- A porta estava trancada, Srta Black...bem, Lyra, mais tarde a gente se fala...

Lyra jogou um beijo discretamente, e Snape esboçou um sorriso malicioso, fechando a porta ao passar.

- O que você queria me contar, Vivi? - a sobrinha a encarava desafiadoramente - me desculpe pela cena que você viu, mas como o Severo disse, a porta estava trancada.

- Você não tem vergonha, Lyra? E se não fosse eu, sua sobrinha?

- Nenhum aluno teria motivo algum para invadir a minha sala minutos antes do jantar a não ser você, Vívian. O que te incomoda tanto?

Vívian jogou-se numa poltrona, e desabafou com Lyra. Sua tia talvez fosse a pessoa em quem a garota mais confiava, para quem não tinha nenhum segredo. Era como se Lyra fosse uam espécie de irmã mais velha.

- Você tem idéia por que isso acontece comigo?

- Apenas teorias, Vívian. Já ouvi dizer que existem pessoas que são capazes de captar sentimentos que estão espalhados no ar, outras prevêem o futuro...pelo que você me diz, até agora você só ouviu os seus pais...

- E os pais do Harry...- Vívian engoliu em seco - e nas duas vezes, ele estava comigo, mas não me levou a sério. Isso é algum tipo de adivinhação?

- Pode ser, mas não do tipo que a Sibila pensa que ensina aos alunos...aliás, seria melhor se a Profª Trelawney não soubesse disso.

- Eu nem sou louca de contar...e não conta nada para os meus pais também, ok?

- Eles têm que saber, Vivian...eu não posso esconder um fato importante como esse.

- Eu sei, mas eles têm muito com o que se preocupar...e depois eu tenho certeza que o meu pai não iria gostar de saber de um certo romance aqui em Hogwarts. - Vívian se levantou, e cruzou rapidamente a sala, ante o olhar incrédulo de Lyra - calma, titia, foi só uma brincadeirinha - e saiu, assobiando . Agora , sentia-se bem mais leve e tranquila.


Na manhã seguinte, toda a escola estava reunida no estádio aguardando o jogo Grifinória x Lufa-lufa. Harry, no entanto, não parecia estar tão tranquilo quanto o restante do time. Mas foi debaixo de vivas que entraram em campo, e se posicionaram para aguardar o início do jogo. Então Harry reparou que a torcida da Lufa-lufa trouxera para campo enormes faixas homenageando Cedrico Diggori.

Finalmente Madame Hooch apitou, dando início à partida. Harry subiu mais rápido e veloz que todos os jogadores em campo, já em procura do pomo. Lufa-lufa havia selecionado Justino Finch-Fletchey para o posto de apanhador, mas aparentemente o garoto parecia perdido, meio sem saber o que fazer diante da potência da firebolt de Harry.

E Harry não precisou de muito tempo para apanhar o pomo, num mergulho que Justino não conseguira acompanhar...Harry sobrevôou o estádio, e passou radiante pelas balizas da Grifinória, onde Gina o acompanhava atentamente com os olhos, num misto de orgulho, admiração e paixão. E então, num gesto ousado demais para a tímida Gina Weasley, ela atirou um beijo para Harry, que a encarou surpreso. Sentou braços o puxando para o chão, o time inteiro se aglomerando em torno do apanhador, que ainda segurava o pomo em sua mão.

- Ganhamos, Harry, estamos na final novamente - Fred parecia um louco, sacudindo a cabeça de Harry.

- Que venha a Sonserina agora!!! - Jorge riu - vai ser a melhor despedida para nós...

Depois da euforia da vitória, o time finalmente entrou nos vestiários às pressas, esperando continuar a comemoração na sala comunal. Harry trocou-se devagar, esperando que Jorge e Fred saíssem antes .

- Ué, você vai ficar aí, Harry? - Fred franziu a testa.

- Hã? - Harry hesitou alguns instantes, apurando os ouvidos para ouvir a conversa das garotas no vestiário ao lado - Vão indo, eu vou...vou aparar algumas cerdas da vassoura, que estão desalinhadas...

Aquela era a pior desculpa que Harry já arranjara, mas fazer o quê? Os gêmeos o encararam com um ar de dúvida, mas o deixaram sozinho. O garoto esperou os dois se afastarem o suficiente, para em seguida aguardar Gina na saída do vestiário. Poucos minutos depois, a garota saiu, acompanhada de Angelina, Katie e Alicia.

- Grande jogo, hein, Harry? - Angelina cumprimentou o colega, e se afastou com as amigas. Gina retardou o passo, até que ficou sozinha com Harry, de frente para o campo de quadribol.

- Foi um ótimo jogo, Harry...- Gina levantou os olhos, e encarou o garoto - Você estava me esperando?

Harry fez que sim com a cabeça. Sentiu o coração acelerar mais que o normal. Imaginara que seria fácil dizer a Gina tudo o que estava sentindo, pedir desculpas por nunca ter reparado nela...Aproximou-se dela sem saber ao certo o que iria fazer ou dizer. Ficaram se olhando por um tempo que pareceu uma eternidade, até que Harry finalmente tomou coragem, e puxou Gina para perto de si, e a beijou, sentindo que nada mais ao seu redor os interessava...

Depois de muito tempo, os dois voltaram para a sala comunal da Grifinória, onde a festa já começara . Num só movimento, Rony, Fred e Jorge se viraram para Harry e Gina, que haviam entrado de mãos dadas.

- Então, Harry Potter...você pensa que pode sumir com a minha inocente irmã e voltar assim, com essa cara lavada? - Fred assumira uma pose formal, quase parecido com Percy.

- Nós exigimos uma reparação pelo mal que você pode ter feito a ela - agora era a vez de Jorge. Rony, por detrás dos gêmeos, se segurava para não rir.

- Como vocês conseguem ser tão palhaços? - Gina passou pelos irmãos, levemente irritada e foi sentar-se ao lado de Vívian, que tentava ensinar Neville a jogar xadrez.

Harry, no entando ainda encarava os gêmeos, impecáveis no seu papel de irmão mais velho. Inesperadamente, Fred e Jorge deram dois animados tapas nas costas de Harry, que quase fizeram com que o garoto dobrasse o corpo.

- Ei, relaxa , Harry? Achou que nós iríamos te bater ou coisa parecida?

- Vocês não tem jeito mesmo - Harry sorriu, sem-graça.

- Antes você, que é um cara legal e nosso amigo, do que um babaca qualquer para ficar com a Gina .

- Aceita uma balinha para refrescar o hálito? - Jorge estendera a mão, e Harry, prudentemente recusara a guloseima. Provalvente deveria ser mais uma das "gemialidades" Weasley.


Naquela noite, Vívian recolheu-se mais cedo ao dormitório, apesar da insistência de Neville para ficarem mais um pouco juntos. A garota alegou estar com cólica, e se retirou da sala.

Sentada diante do espelho, observava atentamente o seu rosto, os traços dos Black em evidência...mas foram os olhos que mais lhe chamaram atenção: estavam tristes, revelando cada segredo de sua alma.

Jogou-se na cama, e puxou as cortinas, permanecendo em silêncio. Agora, parecia arrependida de ter incentivado tanto Gina a ficar com Harry. Sentiu raiva de si mesma, por ter sido tão estúpida.

- Mas afinal, nós somos quase como irmãos...- murmurou para si mesma - e Neville gosta de mim, ele é legal...- Vívian suspirou profundamente, e tentou manter os seus pensamentos no garoto de rosto redondo e atrapalhado, mas que beijava muito bem e que agora ela podia considerar seu namorado.

- Vívian, você ainda está acordada?

Vívian abriu as cortinas, e deparou-se com Gina, exultante de alegria.

- Consegui, Ví...nós nos beijamos, pareceu um sonho...- Gina jogou-se na própria cama.

- Que bom...bom mesmo, Gina - Vívian se aproximou, e encarou a amiga - Você está feliz?

- Feliz? Muito mais que isso, Vívian. Eu estava esperando isso desde que eu conheci o Harry...

Conversaram ainda por muito tempo, mesmo quando as outras garotas voltaram para o dormitório. Por fim, cada uma se recolheu à sua cama, e se preparou para dormir.

Capítulo 10...

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