Discores Amores

As duas semanas de férias voaram rapidamente. Apesar do clima tenso que tomava conta da cidade, o Natal em River Country transcorreu tranquilamente, quase como se estivessem em tempos de paz. Quando Vívian e Harry se deram conta, já era hora de voltarem para Hogwarts.

O primeiro dia de aulas não trouxe grandes surpresas. Lupin começara a ensinar a Maldição Imperius na prática, utilizando para isso besouros. Poucos alunos tiveram algum êxito com os insetos. No fim da aula, Harry chegara a conclusão de que jamais se daria bem como Auror. Seu besouro simplesmente não obedecia ao seu comando.

- Eu acho que esse besouro não foi com a minha cara...

- Não só com a sua , Harry - Rony comentou, infeliz - Imperius!

O besouro continuava imóvel. O professor, obeservando os dois alunos, aproximou-se, atencioso.

- Algum progresso, Harry?

- Nenhum, professor.

- Me responda com sinceridade...você quer realmente submeter esse inseto à Maldição?

- Hum...acho que não. Isso faz alguma diferença?

- Faz toda a diferença, Harry. Esse feitiço depende da sua vontade, do seu desejo de conjurá-lo.

- Então eu só vou conseguir submeter o besouro se eu realmente quiser vê-lo obedecendo às minhas ordens, e não simplesmente por que posso perder pontos se não consegui-lo?

- É por aí, Harry. Mas não vou descontar pontos de você por causa disso.

O sinal bateu, indicando o fim da aula. Lupin passara o dever, e os alunos se retiraram da sala. Harry parecia um pouco mais tranquilo, após a conversa com o professor.


Durante o jantar, Pansy Parkinson não parava de observar Harry Potter, do outro lado do Salão, sentado a mesa da Grifinória. Se pudesse voltar no tempo, não teria concordado com a loucura de Kelly. Agora, era tarde para voltar atrás. Sabia muito bem que o que iriam fazer aquela noite era completamente ilegal. Primeiro, produzir Poção da Impercepção sem autorização . E depois...

Kelly Lenstrange parecia tranquila. Conversava com Tiffany Nott e Emilia Bulstrode, que também faziam parte do Plano. Não conseguira convencer mais nenhuma garota da Sonserina, o que a obrigou a entrar em contato com suas colegas das outras casas. Isso não importava. O que lhe interessava era apenas ser bem-sucedida: enfraquecer Harry Potter até o limite de suas forças, para então entregá-lo a Voldemort. Antes, porém, teria que acabar com o romance do garoto, o que não seria muito complicado. Apenas combinar dois fortes feitiços...

Sorriu para Draco, pensando que em pouco tempo o garoto estaria aos seus pés. Não seria mais necessário se humilhar, chamar atenção para sua pessoa. Draco percebeu os olhares insistentes de Kelly, quase suplicantes. Era isso o que mais lhe irritava numa garota: oferecer-se descaradamente. Desviou o olhar para a mesa da Grifinória, onde Vívian Black conversava animadamente com Gina Weasley. Não entendia o porque, mas aquela garota lhe provocava, e a sua simples presença o incomodava. Ah, mas como ele gostarai de estar naquela mesa, e saber porque ela ria tanto...voltou o seu olhar para Kelly, e sorriu falsamente.


Faltavam quinze minutos para a meia-noite quando as quatro garotas se encontraram na Sala Comunal da Sonserina, completamente vazio àquela hora. Rapidamente, Kelly distribuiu a poção da Impercepção, fundamental para andarem tranquilamente pelo castelo.

- Vamos encontrar as outras na orla da floresta...estão prontas? - perguntou, disfarçando a ansiedade.

Num só gesto, engoliram o líquido amargo, e sairam sorrateiramente, subindo as escadas que davam acesso para o saguão do castelo. Mesmo protegidas pela poção, respiraram aliviadas ao perceberem que Filch não se encontrava naquela área do castelo.

A neve dominava os jardins de Hogwarts, tornando a noite ainda mais fria. Caminharam rapidamente em direção à orla da floresta Proibida. Seis garotas ansiosas e um pouco assustadas já se encontravam no local.

"Deveria ter dito a verdade a todas elas?" pensou Kelly, enquanto conjurava fogo . Olhou de relance para Pansy Parkinson. "Ela está apavorada. Não devia ter-lhe contado a verdade, também" - Colocou o caldeirão sobre o fogo, e começou a jogar os ingredientes que seriam utilizados durante a execução do feitiço - "São umas tolas, todas elas...acreditar que somente vão enfeitiçar Harry Potter para conquistarem os garotos por quem estão apaixonadas...francamente! Apenas EU terei quem eu quero..."

Fizeram um círculo em torno do fogo, e cada uma das garotas tiraram alguns fios dos próprios cabelos, jogando-os no caldeirão.

- Esse feitiço irá nos unir...e somente poderá ser desfeito por todas nós juntas...se assim o desejarmos...

Começaram a se mover, murmurando as palavras mágicas, necessárias ao feitiço. Foram acrescentando aos poucos os ingredientes . Kelly tirou de dentro da bolsa que trazia várias peças de roupa íntima. Colocou uma a uma dentro da poção borbulhante, mentalizando as donas daquelas roupas. Uma grande fumaça avermelhada se formou, tomando a forma de duas pessoas...a primeira parte já estava concluída.

Em seguida, pegou uma mistura verde, pegajosa. Fez um gesto para que não a interrompessem. Aquele feitiço era praticamente uma invenção. Combinar o primeiro feitiço ( Feitiço Discores Amores, que provocava discórdia entre namorados, proibido pelo ministério), com a Poção do Enfraquecimento Progressivo ( também proibida ).

Colocou delicadamente a mistura no caldeirão, e agitou o líquido com a varinha, fazendo sua ponta relampeguear. Aquela última parte do plano não revelara a ninguém...aquele bando de tolas ainda acreditavam que estava concluindo o Feitiço Discores...

Sorriu satisfeita com o seu grande feito. Não via a hora de amanhecer, e conferir o resultado do seu empenho. E conquistar o seu prêmio final: Draco Malfoy


Harry dormia tranquilamente em seu dormitório. Sonhava com Gina, os dois a sós em algum lugar secreto de Hogwarts...quem entrasse no quarto naquele momento, veria um malicioso sorriso de prazer estampado no rosto do garoto.

- Harry...eu sei o que você está sonhando...por que não o tornamos realidade?

O garoto pensou que ainda sonhava, e respondeu, murmurando

- Então vamos, Gina...eu conheço passagens para fora do castelo....

- Isso não é um sonho, meu amor...eu estou aqui no quarto...acorde, vamos...

- Não Harry. Eu fui a primeira que você beijou, está se esquecendo? - a voz de Vívian vibrou ao lado de Gina.

Harry abriu os olhos, e mesmo na escuridão do quarto conseguiu distinguir a silhueta das duas garotas.

- Vocês duas estão loucas? - colocou os óculos - vocês não podem ficar aqui. - sussurrou Harry, para não acordar os seus companheiros.

- Venha, Harry. Vamos colocar o seu sonho em prática...

De uma certa forma, Harry sabia que aquilo não era real, mas mesmo assim tomou Gina em seus braços, e beijou-a com força, sentindo ímpetos de jogá-la na cama. Mas a voz de Vívian o fez voltar para aquela estranha realidade.

- Eu não devia ter incentivado vocês dois!! - o vulto de Vívian saiu correndo do dormitório.

- Vívian, volta aqui, eu não estou entendendo nada.

- Esqueça ela, Harry. Preste atenção somente em mim...

- Eu preciso saber o que está acontecendo, Gina...- Harry saiu do dormitório, atrás de Vívian. Do alto da escada, viu a garota, parada no meio da sala Comunal. De repente, Gina apareceu ao lado da amiga.

- Você vai ter que se decidir, Harry, qual de nós duas você prefere...- disse Gina, calmamente.

Harry desceu as escadas rapidamente. E foi quando sentiu uma tontura fortíssima, enquanto Gina e Vívian sumiam envoltas numa cortina de fumaça vermelha. O garoto não conseguiu se equilibrar na escada, e escorregou , rolando pelos degraus.

Rony foi o primeiro a ouvir o estrondo, e ao ver a cama de Harry vazia, correu para fora do dormitório. Deu de cara com o amigo caído ao pé da escada.

- Harry!!

Desceu as escadas e percebeu que Harry estava desmaiado. Tirou os óculos, agora quebrados, do garoto. Rony olhou-o preocupado: havia sangue escorrendo pelo rosto de Harry. Subiu para os dormitórios femininos, e bateu desesperado na porta do quarto de Hermione.

- Você está ficando louco, me acordar a uma hora dessas? O que está acontecendo?

- O Harry, Mione...caiu da escada - sussurrou Rony, desesperado.

Mione correu para onde Harry estava caido. Pegou a varinha, e reanimou o amigo. Harry abriu os olhos, e encarou os rostos de Rony e Hermione completamente fora de foco. As portas dos dormitórios começaram a se abrir, e os alunos, atraídos pelo barulho, vieram espiar o que estava acontecendo.

- Você está bem, Harry? - perguntou Mione, preocupada.

- Estou...quer dizer, mais ou menos...o que aconteceu?

- Eu também gostaria de saber...Rony, fica aqui com ele, eu vou chamar a Profª McGonagall. E vocês - apontou para os alunos nas escadas - podem voltar para seus dormitórios.

Gina e Vívian não obedeceram às ordens de Hermione. Desceram as escadas, e se aproximaram de Harry.

- Como você veio parar aqui, Harry? - Gina perguntou.

- Foram vocês duas que me chamaram...- murmurou.

- Nós não chamamos você, Harry. Estávamos dormindo até agora...- Vívian falou, sem entender.

Harry tentou levantar-se, mas Gina impediu-o, forçando o namorado a deitar-se no chão novamente. Os dois encararam-se, mas enquanto o olhar de Gina era só ternura e preocupação, o de Harry parecia feito de gelo, intimidando a namorada.

Hermione chegou rapidamente, acompanhada da Profº McGonagall. A simples presença da professora intimidou os alunos que ainda insistiam em permanecer na sala comunal.

- Por enquanto, eu não vou me interessar em saber o que você estava fazendo fora da cama, Potter. Mas pode ter certeza que amanhã nós vamos ter uma longa conversa. - disse a professora, no seu tom habitualmente severo - você acha que consegue andar até a ala hospitalar?

Com esforço, o garoto conseguiu colocar-se em pé, encostando na parede. Sua cabeça latejava horrivelmente, e Harry sentia-se extremamente cansado e sem forças.

- Weasley, Srta Granger, por favor, ajudem o Potter até a ala hospitalar. Srta Weasley e Srta Black, voltem imediatamente para suas camas.

A professora saiu, seguida por Rony e Hermione que ajudavam Harry a andar. Gina ainda tentou argumentar, queria ir junto, mas McGonagall foi categórica:

- Volte para a sua cama, ou eu tiro vinte pontos da Grifinória, Srta Weasley.

Gina voltou bufando para o dormitório, e bateu a porta com força ao entrar. Vívian a esperava, sentada na beirada da cama.

- O que o Harry quis dizer ao alegar que nós o chamamos para fora do dormitório? - Gina perguntou, encarando Vívian - que interesse você teria em acordá-lo no meio da noite?

- Você está achando que eu realmente entrei no quarto dele, Gina? Está na cara que ele teve uma alucinação...

- O que eu não entendo é por que ele incluiu você nesse devaneio, Vívian...

Vívian ficou calada enquanto Gina deitava-se, puxando as cortinas de sua cama.


Harry somente foi interrogado pela manhã, logo após o café, por Dumbledore, na presença da Profº McGonagall. Ele contou todos os detalhes do sonho ( ou seria mesmo realidade? ) que tivera antes de acordar, e como vira Vívian e Gina no seu quarto.

- Você tem certeza, Harry? Se elas estavam no seu quarto, cometaram uma grave infração e a Grifinória pode perder muitos pontos, além da detenção que elas irão receber.

- Tenho, diretor. Eu até...- Harry corou violentamente - eu agarrei a Gina, e a beijei.

- Bem...eu vou chamá-las para esclarecer esse assunto.- Dumbledore levantou-se, e encarou o rosto pálido do garoto.- Descanse, Harry. Você ainda está muito fraco.

Vívian e Gina estavam tremendo ao entrar na sala do diretor. Mas o sorriso de Dumbledore fez com que as duas garotas logo se acalmassem. Então, começaram a falar as duas ao mesmo tempo, tentando fazê-lo entender que não estiveram em momento algum no quarto de Harry.

- Eu não duvido que as senhoritas não entraram no dormitório masculino. Já conversei com o Sr Weasley e com a Srta Granger, e eles me garantiram que vocês sairam depois da queda do Harry. Mas - e Dumbledore fez um gesto para não ser interrompido - Ele está acreditando no que viu. Ou eu muito me engano, mas ele está sob o efeito de algum feitiço. Portanto, nada do que nós dizermos, vai fazê-lo acreditar na verdade. Por favor, tenham paciência. Agora podem voltar para suas aulas.

- O senhor já mandou avisar minha mãe e meu pai? - Vívian perguntou, ao sair.

- Estou enviando uma coruja daqui a pouco, Srta Black. Não se preocupe.

Quando as duas saíram da sala, Dumbledore pegou sua penseira, e tirou de sua mente mais um pensamento. Estava muito mais preocupado do que parecia.


Na hora do almoço, Rony, Mione, Gina e Vívian correram para a ala hospitalar, para verificarem como Harry estava. Deitado na cama, o garoto esboçou um sorriso ao vê-los entrar.

- Você já almoçou, Harry? - Hermione perguntou, preocupada, ajeitando os travesseiros do amigo.

- Madame Pomfrey me trouxe uma sopa, mas eu não consegui tomar tudo. Estou totalmente sem fome.

- Você está com febre, Harry. Madame Pomfrey já verificou isso? - disse Gina, tocando a testa suada do namorado.

- Claro que já.- disse ríspido, segurando o pulso de Gina. - Agora você não precisa se preocupar.

- Você não precisa ser grosso, Harry. Eu só quero que você fique bem o mais rápido possível...

- Já disse que não tem com o que se preocupar , Gina. Me deixe em paz, por favor.

Gina o encarou, magoada. Esperava qualquer coisa, menos ser tratada daquela forma. Pegou a mochila, e saiu da enfermaria sem dizer uma só palavra.

- Você pegou pesado, Harry. Ela só queria te ajudar...

- Se você está tão preocupada, vá atrás dela, Vívian, já que são tão amigas...- Harry tentou se levantar, mas a vertigem que sentiu o obrigou a deitar-se novamente. Rony e Hermione, que permaneceram mudos todo aquele tempo, se entreolharam, espantados com a atitide do amigo.

- Você não precisa tratá-las assim, Harry. Eu conheço a Gina, ela ficou profundamente magoada. - disse Rony.

- Isso foi mais forte que eu...a presença das duas me irritou, só isso...

Hermione observava Harry atentamente. Tocou a testa dele, e percebeu que o garoto queimava de febre.

- E eu, Harry? Irrito você? - perguntou, segurando as mãos do amigo entre as suas, olhando-o nos olhos.

- Claro que não. Eu até gostaria que você e o Rony permanecessem mais tempo aqui...

A garota não respondeu. O sinal bateu, anunciando o fim do intervalo. Os dois se despediram de Harry, e deixaram a ala hospitalar.

- Você entendeu o que está acontecendo com o Harry? - Rony perguntou, enquanto se dirigiam para a sala de Feitiços.

- Ainda não...mas eu vou descobrir, Rony. Eu já li a respeito de alguns feitiços...não tenho certeza, mas depois da aula eu vou até a biblioteca, pesquisar.

Dois dias depois, a situção de Harry parecia se complicar. Mesmo com toda a medicação de Madame Pomfrey, o organismo do garoto parecia não reagir.

Hermione entregara-se de corpo e alma à pesquisa naqueles dias. Durante todo o tempo livre que tinha, passava na biblioteca, procurando uma resposta para as suas dúvidas. Sabia que Dumbledore também estava procurando a origem daquela estranha doença de Harry. Ouvira o diretor comentar com o Profº Lupin numa daquelas tardes, que só um feitiço poderia agir daquela forma. Mas ninguém chegava a alguma conclusão.

Finalmente encontrara um bom livro para guiá-la: Feitiços Banidos . Ali, havia apenas a descrição de feitiços proibidos pelo ministério. Folheou-o atentamente, até encontrar o que queria: Feitiço Discores Amores. Leu atentamente a descrição, e seus efeitos.

1 - a pessoa a ser atingida pelo feitiço deve estar apaixonada

2 - a discórida é provocada pelo ciúmes. É importante envolver pessoas com quem o alvo já teve algum tipo de relacionamento amoroso, usando para isso peças de roupa, ou objetos de uso pessoal.

Fechou o livro, satisfeita. Teria que ter uma boa conversa com Vívian e Gina.


Quando chamou as duas garotas para conversar, Hermione não imaginara o tamanho da confusão que sem querer armaria. Gina e Vívian estavam dentro do dormitório, lendo em silêncio. Não havia mais ninguém ali.

- Gina, Vívian, será que eu posso conversar com vocês? - Mione perguntou.

- Sobre...? - Vívian não gostava muito do tom mandão que a monitora geralmente usava.

- É sobre o Harry...eu acho que descobri o feitiço que usaram contra ele. Para ter certeza, eu preciso saber umas coisas de vocês...

Hermione abriu o livro, na página do feitiço Discores.

- Vocês duas repararam que o Harry só está estranho com vocês?

- Eu pensei nisso...- Vívian respondeu hesitante, sem evitar , no entanto o olhar significativo de Hermione - "Ela descobriu que houve algo mais entre o Harry e eu..." - pensou.

- A principal característica desse feitiço é provocar desavenças entre casais - Hermione encarou Gina atentamente - e entre todas as pessoas que já tiveram algum tipo de envolvimento amoroso com o alvo do feitiço...

Vívian encarava o chão, completamente sem-graça. Entendera perfeitamente onde Hermione quisera chegar com aquela conversa. No entanto, nunca contara para Gina com quem fora o seu primeiro beijo...vieram algumas lágrimas pelo seu rosto, que Vívian não fez a mínima questão de limpar.

- Eu não acredito nisso! - o rosto de Gina estava tão vermelho quanto os seus cabelos - O que você está escondendo de mim, Vívian? O que? - Gina a pegara pelo braço, nervosa.

- Escuta, Gina...foi antes de te conhecer, antes de vir para Hogwarts...eu tinha acabado de chegar à Inglaterra, a única companhia que eu tinha era o Harry - Vívian começou a soltar toda a verdade,de uma só vez, para espanto de Gina e Hermione - aí um dia, aconteceu, nós nos beijamos, mais por curiosidade que outra coisa...

- E esse tempo todo eu confiei em você!! - Gina esbravejou, furiosa.

- Gi, por favor...eu já disse que foi antes de te conhecer - Vívian soluçava - quando eu percebi que você gostava do Harry, eu fiquei quieta. Eu já te considerava minha amiga...

- Bela amiga você é, Vívian...falsa, cínica, isso sim. Ou você achava que eu jamais iria ficar sabendo? Você e o Harry se merecem, dois falsos, mentirosos.

- Gina, se acalma...Vívian, pare de chorar, por favor - Hermione tentava aplacar os ânimos - nós temos que nos unir para tentar ajudar o Harry.

- Eu estou fora, Mione...entendeu? Fora!!!

Gina saiu do quarto, batendo a porta com força ao passar.

Hermione encarou Vívian, que estava sentada na cama, a cabeça escondida entre as mãos, soluçava sem parar.

- Vívian...- Mione chamou baixinho, abraçando a garota. - Tente se acalmar...

- Eu sou horrível, mesmo, Mione...não precisa se preocupar comigo...- Vívian encarou Hermione, com amargura - Eu nunca quis enganar a Gina...eu só achei que não precisava contar.

- Eu acredito em você. Mas vocês vão ter que fazer as pazes, vocês são tão amigas.

- Acho que ela tem razão, Hermione. Talvez eu não tenha sido tão amiga assim...pode ir, obrigada por tentar ajudar.

- E eu só criei confusão, tentando ajudar...

- Você vai contar ao diretor o que descobriu?

- Vou...amanhã logo cedo. - Hermione levantou-se, pronta para sair do quarto.- Vocês vão fazer as pazes, Vívian. Tenho certeza que a Gina só disse tudo aquilo por que estava nervosa.


Gina caminhou apressada pelos corredores do castelo, temendo ser encontrada por Filch ou por Madame Nor-r-ra, em direção a ala hospitalar. As lágrimas corriam pelo seu rosto, ela tentava segurar ao máximo os soluços.

Abriu a porta devagarinho. A enfermaria estava escura, mas não foi difícil à Gina encontrar a cama em que Harry estava deitado.

- Harry?

O garoto acordou, assustado ao ver Gina na ala hospitalar.

- O que você está fazendo aqui, Gina? Volta para a Grifinória...- murmurou, fracamente.

- Eu sei que é injusto eu estar aqui, querendo me aproveitar da sua situação...

- Gina, vai embora...Madame Pomfrey pode aparecer a qualquer momento...

- A Vívian me confessou o que houve entre vocês. E eu não esperava que vocês dois me tratassem como uma idiota, uma tola.

- Eu não vou discutir com você, Gina.

- Não precisa discutir, Harry. Pra mim já chega. Acabou...

Harry viu Gina deixar a ala hospitalar, chorando . Deitado em sua cama, ele não conseguiu sentir nada além de um vazio no peito, como se estivessem arrancando alguma coisa fundamental para sua vida. Começou a sentir um medo terrível de morrer, ali sozinho. Enfiou a cara no travesseiro, para sufocar o choro que não conseguia evitar.


Hermione procurou o diretor logo pela manhã, para contar tudo o que descobrira a respeito do feitiço feito contra Harry.

- A senhorita me surpreende cada vez mais com sua inteligência, Srta Granger. Tudo o que me disse tem muito fundamento.

- Se eu não tivesse certeza, não teria vindo aqui, diretor.

Dumbledore sorriu para a aluna. Gostava de alunos destemidos e ousados, como Hermione.

- Foi bom ter descoberto o feitiço, Srta Granger, mas temo que há mais coisas afetando o Harry, e o feitiço Discores é extremamente complexo. Só quem o executou poderá desfazê-lo.

- E o que o senhor pretende fazer?

- Eu recebi uma carta do ministério essa manhã. Sirius estará aqui por volta da hora do almoço, acompanhado da Ministra e de uma comitiva especial. Esse caso não infelizmente não posso resolver sem ajuda.

- O senhor desconfia de alguém?

- Ninguém em específico, mas o Profº Snape fez uma inspeção na propriedade, e descobriu restos de uma fogueira...provavelmente um ritual de Magia Negra, quem sabe? - Dumbledore encarou Hermione com seus olhos cintilantes - por favor, Srta Granger, que essa conversa não saia daqui de dentro, sim?

Hermione concordou. Como não tivesse mais nada a fazer ali, pediu licença e saiu da sala do diretor. Sentia-se zonza, preocupada demais com Harry. Vira o amigo pouco antes, e ele parecida pior. Ele lhe contara que Gina estivera na ala hospitalar, e Hermione arrependeu-se mais uma vez de ter trazido aquele assunto à tona.

A comitiva do ministério chegou à Hogwarts por volta das onze horas, quando toda a escola se encontrava no campo de Quadribol, assistindo ao jogo Sonserina x Lufa-lufa. Uma equipe especialista em feitiços ilegais permaneceu na orla da floresta,examinando o local, enquanto Sirius e Arabella dirigiram-se para o castelo.

- Eu só não consigo entender como tudo isso pôde ter acontecido, Dumbledore. Como?

- Há dias eu me pergunto a mesma coisa, Sirius. E não encontro uma resposta consistente...

- Bem, eu vim aqui para ver o Harry. Onde ele está, na ala hospitalar?

- Exatamente. Vamos?

Logo ao entrar na ala hospitalar, Sirius viu Harry , extremamente pálido. Aproximou-se do garoto, mas foi impedido de lhe falar por Madame Pomfrey.

- Ele acabou de dormir, Sr Black...- a enfermeira hesitou, e em seguida dirigiu-se ao diretor - ele passou muito mal, diretor. Vomitou todo o almoço, e perdeu a respiração. Aqui em Hogwarts não há mais nada que eu possa fazer, ele precisa ir para um hospital urgente...senão...eu não sei...mas acho que não vamos salvá-lo...

Vívian entra na enfermaria naquele exato momento. Soubera que Sirius estava em Hogwarts, e queria vê-lo, mesmo que fosse para dizer oi. Só não esperava ouvir o que a enfermeira dissera. Ficou um instante paralisada, na porta, e antes que Sirius pudesse lhe dizer qualquer coisa, Vívian saiu correndo pelo corredor. E no meio do caminho tropeçou em Malfoy.

- Sai da minha frente! - berrou, tentando passar pelo garoto, que lhe bloqueara o caminho.

- Chorando pelos corredores da escola, Black? - perguntou, ao mesmo tempo debochado e preocupado.

- E isso por acaso é da sua conta? - só então Vívian se dera conta de que Draco estava com o rosto todo sujo de sangue - O que aconteceu com você?

- Não é da sua conta também...um balaço me atingiu durante o jogo...e você estava chorando por causa do Potter, não?

- E se for? E se eu te dissesse que ele pode morrer a qualquer momento? Aposto como você daria uma festa, não?

- Então é assim que você me julga? Eu posso não gostar do Potter, mas não desejo a morte dele. Não desejo isso para ninguém, Vívian Black.

Vívian o encarou, assustada.

- Eu não sou o monstro que você julga, Vívian. Não sou mesmo. - Draco afastou-se, em direção à ala hospitalar. Era a primeira vez que a chamava pelo primeiro nome.


Naquela noite, Pansy Parkinson atingira o grau máximo do seu nervosismo. Conversara brevemente com Draco, que lhe narrara o diálogo com Vívian no corredor.

- E depois eu entrei na ala hospitalar, Pansy. O Potter não está nada bem...pelo que a Black me disse, ele está morrendo...

Havia poucos alunos na sala comunal quando Pansy decidiu tentar convencer suas amigas a desfazer o feitiço, antes que fosse tarde.

- Nós precisamos desfazer o feitiço...nós vamos acabar matando o Potter...

- E quem se importa? - Tiffany Nott perguntou - Mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer mesmo...

- Kelly...vamos desfazer o feitiço - Pansy implorou.

- Desfazer? Agora que ele está fazendo efeito? Só se eu estivesse louca...

- Por favor...não era isso que nós queríamos...

- Não era o que você queria, querida. Eu sinto muito...

- Pois eu vou sozinha...- a garota olhou para as meninas, assustada. Subiu para o dormitório, pegou o pergaminho onde estavam as instruções para o feitiço e contra-feitiço, tomou um gole da poção da Impercepção, e voltou para a sala comunal - Se vocês querem ir para Azkaban, que vão sem mim. Não quero me transformar numa assassina.

E saiu da masmorra da Sonserina, ao mesmo tempo furiosa e apavorada. Não tinha muita certeza que obteria êxito sozinha.

Capítulo 15...

voltar