Entre Desejos e Descobertas

Desde que deixara a casa dos Dursley, aquelas estavam sendo as piores férias de verão de Harry. Não estava muito fácil conviver com Vívian, agora que ele sabia que ela e Draco estavam namorando. Diversas vezes sentira vontade de abrir o jogo com Sirius, mas desistira da idéia. Não era o seu perfil fazer fofocas.

Harry gastava a maior parte do tempo na biblioteca da cidade, procurando livros, ou se interessando pela história de River Country, que de uma certa forma se confudia com a história de sua própria família. Fazia planos, imaginava investir boa parte de sua herança na reforma do seu casarão, embora não pretendesse se mudar da casa de Sirius e Isabella tão cedo.

Completara dezessete anos, e sua madrinha preparara um grande bolo de chocolate. Isabella chegara a sugerir uma festa, mas Harry não topou muito a idéia. Prefiria passar as férias com Rony e Hermione, mas os dois estava viajando com a família da garota. Rony sempre lhe escrevia, contando como estavam sendo os dias com os pais da namorada.

Na cidade, muitas garotas o paqueravam descaradamente, mas Harry tinha suas dúvidas, se era porque ele estava atraente, ou porque era famoso e carregava o nome Potter. Mas de uma certa forma, estava mais satisfeito com sua aparência: crescera muito nos últimos anos, e agora contava com um metro e oitenta de altura. Continuava magro, mas seis anos de prática de quadribol lhe dera braços fortes.

Era nesse estado de ânimo que Harry se encontrava no princípio do mês de agosto: entediado. Até o dia em que uma coruja entrou pela sua janela, trazendo um bilhete no bico.

Caro Harry,

Como vão suas férias? Espero que você esteja se divertindo. Bem, no próximo sábado faço dezessete anos, e este ano resolvi comemorar. Afinal, não é sempre que se fica maior de idade. Conto com sua presença, estou convidando toda a nossa turma de Hogwarts. O endereço está na parte de fora do envleope.

abraços,

Lilá Brown


Sirius dera uma carona à Harry, embora o garoto achasse que podia se virar muito bem com Pó de Flu. Quando estacionou o carro, Sirius encarou o afilhado:

- Espero que você tenha muito juízo, não beba demais, qualquer problema mande me chamar, e ...

- Tá, tá , já entendi - Harry fingiu estar zangado, mas gostava de saber que o padrinho se preocupava com ele.

- Boa festa, então.

O carro arrancou velozmente, e Harry olhou para a casa à sua frente. Embora ainda fosse um pouco cedo, já havia música alta, e vozes animadas lá dentro. Foi quando deu-se conta que aquela seria sua primeira festa fora de Hogwarts.

Lilá estava radiante, vestida com um minisaia que deixava suas longas pernas à mostra. Cumprimentou Harry animadamente, e o levou para o lugar onde Dino e Simas já se encontravam.

- E aí Harry, curtindo as férias?

- Nem um pouco...principalmente porque tenho que aturar a Vívian o dia inteiro...

- Nós achamos que ela viria com você.

- Eu chamei, mas ela não quis vir. Foi melhor assim.

Logo em seguida foi a vez de Neville chegar ( sem-graça, porque esquecera o presente de Lilá em casa ). Os quatro garotos aproveitaram a ocasião para colocar as novidades em dia. A aniversariante aparecia toda hora, para abastecer a mesa dos amigos com cerveja amanteigada, que rapidamente eram consumidas.

- E o Rony e a Hermione, por que não vieram? - Neville perguntou, ao encher mais uma vez o copo.

- Eles estão viajando...com a família da Mione.

- Há - fez Dino, com a cara já vermelha - esses é que sabem aproveitar a vida....

Harry levantou-se da mesa, tendo a leve impressão de que era o único que ainda estava sóbrio o suficiente para conversar outra coisa que não fosse as belas pernas de Lilá Brown.

- Curtindo a festa, Harry? - Lilá aproximou-se, simpática.

- Bastante - mentiu.

- Quer dançar?

- Eu sou péssimo nisso, você sabe...

A garota não esperou Harry continuar. De um instante para o outro, Lilá trocou a música, colocando uma balada de Celestina Warbeck para tocar, e o puxou para a pista de dança. Harry sentiu o corpo bem-feito de Lilá agarrado ao seu, e deixou-se envolver pela música, e pelo momento. Há um bom tempo, desde que rompera com Gina não sentia tamanha atração por uma garota. E Lilá o provocava, mesmo sem querer. Harry não hesitou em beijá-la ali mesmo, esquecendo-se de Gina, Vívian ou qualquer outra garota.


Vívian aproveitou a ausência de Harry naquela noite para ficar sossegada em seu quarto, sem ter que disfarçar todas as vezes que pegava a caixa onde escondia todas as cartas que recebia diariamente de Draco. Sentia uma saudade absurda do namorado, mas desistira de tentar encontrá-lo durante as férias. Tremia só de imaginar se Sirius descobrisse quem ela estava namorando.

Tinha acabado de tomar banho, e tirou o robe diante do espelho, e enquanto espalhava um creme pelo corpo, prestava atenção em suas formas, e surpreendeu-se a si mesma, imaginando como seria o dia que Draco a veria daquela forma.

"Você só tem quinze anos...- pensou, temerosa - "Mas e daí?"

Colocou a camisola, e escreveu rapidamente um bilhete para Draco, e o guardou na gaveta, para despachá-lo na manhã seguinte. Deitou-se na cama, mas não conseguiu dormir. Sabia que seria muito bom conversar com Isabella sobre tudo o que estava sentindo, mas ainda não conseguira reunir coragem suficiente. A relação entre as duas havia mudado muito naqueles últimos dois anos, e Vívian no fundo se lamentava por não ter mais exclusividade da mãe. Agora, precisava dividi-la com seu pai e sua irmãzinha.

Abriu o diário, e rabiscou algumas linhas, antes de sono vir:

River Country, 08 de agosto de 1997

Estou me sentindo deprimida nos últimos dias. Essas férias estão custando a passar, e eu não vejo a hora de encontrar o Draco, e matar as saudades. Cheguei a conclusão de que só continuo a aguentar Hogwarts por causa dele.

Engraçado isso. Durante toda a minha infância, sentia curiosidade em conhecer essa escola, afinal a fama de Hogwarts atravessou o Atlântico. Mas hoje, vejo que eu embarcava nas histórias que minha mãe e minha tia contavam.

E ainda há a minha relação com o Sirius - quer dizer, meu pai . Um dia eu ainda vou entender o que ocorre entre a gente. Passo meses longe de casa, sentindo saudades absurdas dele. Não vou ser hipócrita se eu disser que não senti orgulho dele no dia em que ele esteve em Hogwarts. Mas quando eu chego em casa, e vejo que ele é meu pai, com todos os defeitos que um homem tem, o encanto acaba. Ele deixa de ser o meu héroi, e aí começam os problemas...me mantenho afastada, para evitar conflitos.

Dá pra entender? Será que algum dia vamos ter intimidade suficiente, como todo pai e filha que se prezem?

Sei lá...às vezes tenho a impressão que vou ficar louca....

V.B.Black

PS: EU AMO O DRACO!!!!


No dia primeiro de setembro, Sirius deixou Harry e Vívian na estação King's Cross, o que fora um alívio para ambos. O garoto já aguardava ansioso pelo início das aulas. Não demorou muito para encontrar Rony e Hermione, os dois queimados de sol, rindo à toa. Vívian passou direto pelos colegas, e entrou no trem sozinha, a procura de Draco.

- Ela continua estranha...- Rony comentou.

Harry deu de ombros. Cumprimentou Gina polidamente, e em seguida acenou para Lilá, que acabara de chegar à estação.

- Oi Harry...- Lilá sorria maliciosamente, e Harry sentiu o rosto queimar. - Olá Rony, Mione, como foram as férias? Pena que vocês não puderam ir a minha festa, foi muito divertido.

- É...vocês perderam o Neville bêbado...- Harry comentou, divertido.

Um longo apito avisou que era hora de embarcarem. Os alunos entraram no trem, e logo a viagem começou. Harry colocou a cabeça para fora da janela, sentindo o vento bater em sua face. Era o início do sétimo e último ano em Hogwarts, e ele já começava a sentir saudades da escola. Talvez tivesse se demorado mais, apreciando a paisagem já conhecida, se uma voz tediosa e arrastada não interrompesse o seus pensamentos.

- Cadê a Vívian, Potter? - Draco entrou na cabine, com sua falta de educação costumeira.

- Aqui ela não está, Malfoy, será que não dá para perceber? - Harry levantou-se, mal-humorado. - Dá o fora daqui.

- Eu admiro a sua educação, Potter. Até mais ver...- Draco bateu a porta com força, deixando Harry ainda mais nervoso.

- Idiota!.


Vívian fora direto para o banheiro, trocar suas roupaa pelas vestes de Hogwarts. Penteou mais um vez os cabelos ( ela havia os cortado na noite anterior, deixando-os na altura dos ombros ), e passou uma leve maquiagem no rosto. Parecia um pouco mais velha e mais atraente.

Draco vinha pelo corredor do trem, procurando-a nas cabines, já lotadas.

- Procurando alguém, Draco Malfoy?

O rapaz virou-se e encontrou Vívian, parada.

- Pensei que você não tivesse embarcado no trem...

- E você achou que eu iria lhe deixar solto, sozinho em Hogwarts? - Vívian aproximou-se de Draco, beijando-o.

- Vem pra cá...- Draco a puxou, e entraram em uma cabine vazia, onde puderam ficar mais à vontade. Vívian acomodou-se no colo de Draco, encarando o rosto do namorado. O rapaz transformava-se quando estavam juntos. Não havia aquele brilho frio em seus olhos, nem o seu ar metido e arrogante.

- Você já sabe o que vai fazer depois da formatura?

- Nem pensei nisso ainda...- Draco mexeu nos cabelos de Vívian - você tinha que cortar tão curto?

- Achei que você fosse gostar...quase pintei de loiro, mas achei que iria ficar estranho...- Vívian fez uma pausa, e levantou-se, agora séria.

- Eu não quero controlar a sua vida, Draco. Mas eu tive tempo suficiente para pensar durante as férias...

- Sobre?

- Eu não sei bem...eu não quero que você se torne um deles, sabe...

Draco olhou-a sério. Agora não sorria mais.

- Um comensal da morte?

- É...

- Eu pensei que nós não iríamos mais tocar nesse assunto. Isso me irrita, sabia? Não gosto que as pessoas me confundam com meu pai.

- Não estou confundindo nada...mas a influência dele sobre você...

- Escuta aqui, Vívian...eu quero ser livre, entendeu? Não quero seguir ninguém, ser obrigado a obedecer ordens. Não quero.

- Então você me promete?

- Eu prometo que quando você se formar, no ano que vem, a gente se casa. Tá bem assim? - Draco olhou-a, com ar de deboche. Puxou o rosto de Vívian, e a beijou com carinho. - Eu não vou fazer nada que te magoe, ok?


As aulas recomeçaram, e mais uma vez em ritmo frenético. As aulas mais estressantes eram sem dúvida as de Defesa Contra as Artes das Trevas. Lupin agora começara a ensinar os princípios da Maldição Cruciatus, o que provocava arrepios nos alunos. Harry e Rony acordaram durante várias noites, com Neville tendo horríveis pesadelos. Por mais que Lupin tentasse manter o clima em sala de aula saudável, os alunos invariavelmente saiam da classe em estado de choque.

Em compensação, o Clube de Duelos era mais divertido. Apesar das pequenas confusões que os alunos provocavam, o clube servia de treino contra as artes das trevas, mas bem mais leve que as aulas propriamente ditas. Harry pelo menos se divertia tentando estuporar Rony de brincadeira, ou quando Mione lançava a azaração do Impedimento no namorado.

- Vocês me usam como um saco de pancadas - resmungou Rony, enquanto Hermione o beijava delicadamente, depois de lhe pedir desculpas.

- Será que algum dia esse clube vai ter alguma utilidade?

- Sei lá - disse Mione - mas é uma boa desculpa para treinarmos algumas azarações. E tenho quase certeza que vão cair no N.I.E.M...

Rony bocejou, entediado. A fascinação de Hermione pelos estudos era uma das poucas coisas que o irritava.

- A Mione agora veio com a novidade que quer cursar uma faculdade bruxa...dá pra entender? São caríssimas.

- Aposto que o que te preocupa não é o custo da faculdade, mas sim o fato da Mione ficar longe de você. - Harry olhou sério para o amigo - eu não sei se é só impressão minha, mas parece que você voltou diferente, principalmente em relação à Hermione.

- É...eu descobri que ela é a única mulher que eu vou querer ter na minha vida, Harry. Quer dizer...o que eu vou te contar deve ficar só entre nós. Nem a Mione deve saber, apesar de você ser amigo dela também...

Harry já estava entendendo o que Rony queria dizer. Ouviu-o contar como havia sido sua primeira vez, durante as férias de verão. E se admirou do respeito e carinho com que Rony falava de Hermione.

Naquela noite, Harry demorou a pegar no sono. Pensou em todas as vezes que sentira vontade de ter mais intimidade com Gina, mas sabia que ainda era cedo. Mas em seguida lembrou-se de Lilá usando minissaia, e o longo beijo que haviam dado durante aquela festa. Talvez não fosse má idéia se ficassem juntos de uma vez. Os professores já haviam anunciado que no dia das Bruxas haveria um baile em Hogwarts. Antes de dormir, Harry decidira convidar Lilá para o baile. E faria isso logo pela manhã.


No princípio de outubro, numa manhã fria e nublada, Lyra e Snape tomavam café em casa, antes de irem para Hogwarts. Ela mexia nervosamente a xícara de chá, enquanto o marido lia calmamente o Profeta Diário.

- Você chegou tarde ontem...

- Mas eu te avisei que eu iria demorar...pelo menos o Ministério conseguiu recapturar o Travers - Snape sorriu, mas Lyra parecia apavorada - Eu já não disse que você não precisa se preocupar?

- Eu estou grávida, Severo.

Snape piscou algumas vezes, como se não tivesse entendido o que sua esposa acabara de falar.

- Nós não haviamos combinado...esperar um pouco mais?

- Eu já imaginava que você fosse reagir assim. Eu não quero, não posso esperar mais. Eu quero ter um filho...

- E quem disse que eu não queria um filho? Ah, Lyra, por favor - Severo levantou-se, e abraçou a esposa. Lyra parecia magoada, e lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto - Eu estou feliz, meu amor - ele sorriu - há quanto tempo você sabe?

- Desde ontem à noite...fiquei te esperando, ansiosa. Mas eu já desconfiava há alguns dias...- Lyra esfregou os olhos - eu fiz de propósito, Severo. Eu devia ter te consultado antes...- antes que pudesse continuar, o marido a calou com um profundo beijo.

- Tomara que seja uma menininha linda como você.

- Com os olhos azuis dos Black? - provocou Lyra, sorridente.

- Foi justamente por esses olhos que eu me apaixonei...


Hermione, mais do que nunca, se preocupava em conciliar os estudos, suas tarefas como monitora-chefe e o seu namoro com Rony. Às vezes pensava que iria enlouquecer com tantas responsabilidades juntas. Mas não reclamava, pois sabia que eram escolhas suas, e que determinariam o seu futuro após a formatura.

Uma de suas matérias favoritas agora era História da Magia. Desde que Lyra assumira a vaga, Hermione passou a se interessar cada vez mais pelo assunto. E conversava muito com a professora, querendo saber mais sobre o trabalho que Lyra desenvolvera como historiadora em Boston.

No dia em que Lyra assumira sua gravidez para a escola toda, estava de tão bom humor que resolveu fugir do tema das aulas daquele trimestre ( História Moderna da Magia - A queda de Grindelwald ) e deu total liberdade para os alunos escolherem algum assunto mais divertido para aquele dia. Em geral, a turma do sétimo ano da Grifinória não era muito entusiasta com a matéria de Lyra: achavam-na exigente demais e diziam, aos cochichos pela escola que a professora era uma mistura de McGonagall com Snape.

Por coicidência, naquela tarde Hermione pegara um livro novo na biblioteca, intitulado As Lendas de Hogwarts, escrito por um bruxo no século XIX, que conseguira reunir as mais extravagantes histórias da escola, desde sua fundação, até a data em que fora editado. Eram contos sobre supostos fatos ocorridos em Hogwarts, narrados de um forma irônica e com muitas cenas picantes. Não era a toa que o livro estava censurado para menores de dezessete anos. O que mais chocara Hermione era o conto "A caverna Ravenclaw", e que descrevera com detalhes o caso entre Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin.

- Hum...profª Snape? - Hermione levantou a mão, hesitante - dá para confiar nas histórias desse livro? - perguntou, exibindo a velha brochura.

- Então você descobriu o livro que conta mais fofocas sobre Hogwarts, Hermione? - Lyra sorriu - há coisas verdadeiras e outras que o autor inventou, para apimentar a narrativa. Qual capítulo você está lendo?

- Sobre a tal da caverna que supostamente existe na Floresta Proibida. Ela existe mesmo?

- Existe, sim. No coração da Floresta, mas ela está protegida pelos centauros. Eles não deixam nenhum ser humano se aproximar.

- Mas o que há de tão interessante nessa caverna? - Neville perguntou, interessado. Agora, toda a classe estava prestando atenção na aula.

- Dizem que no fundo dessa caverna existe uma fonte de água...o último resquício do Poço Sagrado de Avalon. Rowena Ravenclaw descobriu o lugar pouco depois que Hogwarts fora fundada.

- E ela teve mesmo um caso com Slytherin? - agora era Simas que perguntava, sorrindo maliciosamente.

- Teve. E quando ele foi embora, ela esperava um filho de Salazar Slytherin. Como naquela épcoca era um escândalo uma mulher solteira e grávida, Godric Griffindor se prontificou a casar-se com Rowena.

- E eles foram felizes para sempre...- Rony bocejou, já entediado com aquela aula. Olhou para Harry, que praticamente estava dormindo sobre os livros.

- Só que Slytherin casou-se, e seu filho, anos depois, veio a Hogwarts por ordens de seu pai, para abrir a Câmara Secreta e acabar com todos os alunos trouxas. Mas o rapaz descobriu a caverna, e ficou seduzido pelo poder que continha naquela água. O filho de Rowena descobriu o que seu irmão pretendida, correu para proteger a caverna...e foi assassinado a golpes de espada.

Lyra contemplou os alunos, agora espantados com a trágica história.

- Naquele dia, Rowena jogou uma maldição . Uma pessoa só poderá entrar na caverna se derramar o sangue do próprio irmão...e incubiu os centauros de protegerem o local, afastando os seres humanos de lá. Desde então, nunca mais se ouviu falar de alguém que o tenha tentado. A localização exata da caverna também é desconhecida.

O sinal tocou, indicando o final da aula. Não houve deveres, o que foi um alívio geral. Os alunos saíram, comentando sobre a caverna.

- Que tal se a gente saísse por aí para procurar a caverna, Harry? - Rony cutucou o amigo, que estivera calado durante quase toda a aula. Harry riu com gosto, mas Hermione fechou a cara, fazendo com que o namorado calasse a boca.


A recaptura de Travers trouxera ao Ministério novas esperanças de colocar as mãos sobre Lucio Malfoy. Danyela Mckinnon fora forte o suficiente para interrogar o homem que matara seus pais. No entanto, tudo o que o comensal dissera já não era mais novidade. Simplesmente voltara a acusar Malfoy, exatamente como fizera dezesseis anos atrás.

As investigações a respeito do feitiço lançado em Harry no ano anterior também não haviam sofrido grandes avanços. Todas as garotas se recusavam a contar quem havia sido o mandante. Porém, Sirius sabia que havia bruxos e bruxas poderosas por detrás do feitiço. E não havia conseguido obter autorização para utilizar Veritasserum.

- Talvez elas não possam falar, Sirius. Já pensou na possibilidade de que elas estejam protegidas por algum feitiço? - disse Arabella.

- O julgamento já foi marcado, Sra Figg. Se elas não disserem quem é o mentor do feitiço, poderão ser condenadas à prisão perpétua...e elas não passam de adolescentes. E a garota Patil, eu tenho quase certeza que ela é inocente.

- Vou mandar chamar um especilista em feitiços, Sirius. Vamos tirar essa história a limpo.

Três dias depois, a ministra entrou no gabinete de Sirius acompanhada do Profº Flitwick, que gentilmente concordara em examinar as nove garotas detidas. Fora um trabalho lento, mas ao final do dia, o professor já tinha um laudo pronto.

- Estão enfeitiçadas sim, Arabella . Feitiço Confidentia, segue o mesmo princípio do Feitiço Fidelius . É preciso um fiel do segredo, inclusive. Esse feitiço impede que elas digam quem foi o mandante do crime. Uma saída muito inteligente. No entanto - o professor fez uma pausa - Parvati Patil não está sob o efeito do feitiço. Mas é a única.

Arabella encarou Sirius surpresa, e este retribuiu o olhar, como quem diz "eu tinha razão".

- Então vamos adiar o julgamento da Srta Patil. Muito obrigada, Flitwick, pelo esclarecimento.


O fato das garotas estarem sob o efeito do feitiço Confidentia amenizou a pena que elas receberam após o longo julgamento. Kelly Lenstrange, por ter incitado as colegas a executarem o feitiço, foi condenada a vinte e cinco anos de prisão, em Azkaban. Ao ouvir o veredicto, a moça não esboçou nenhuma reação. Seu rosto estava desprovido de qualquer emoção.

- Eu já disse que não tenho medo de Azkaban, Sr Black - sibilou, venenosamente, enquanto era algemada - Eu sei que não há mais dementadores por lá.

- Não precisa se preocupar...há feitiços poderosos por toda a ilha, Srta Lenstrange. Em pouco tempo, irá se arrepender profundamente de ter infringido as leis. Podem levá-la - ordenou aos guardas, que a seguravam pelos braços.

As outras foram condenadas a quinze anos cada uma. A opinião pública reagiu, classificando a condenação das adolescentes como arbitrárias. Sirius reagiu, e convocou uma entrevista coletiva, para esclarecer os fatos:

- As condenações serviram de exemplo. Espero que mais nenhum jovem tenha a ousadia de infringir as leis como essas garotas. Elas sabiam que o que estavam fazendo era proibido, mesmo que não soubessem o real motivo do feitiço, como elas próprias afirmaram.

Sirius deu por encerrada a entrevista, e voltou para o seu gabinete. Ainda havia muito com o que se preocupar. E estava mergulhado em seus pensamentos confusos, quando Penelope ( a noiva de Percy, e que agora trabalhava como secretária de Sirius ) entrou timidamente na sala.

- Sr Black?

- Hum...pode falar, Srta Clearwater

- É que chegou uma carta para o senhor...e está sem remetente...

- Deixe-me ver - Sirius abriu o envelope, e logo reconheceu a bela letra

Sirius,

Preciso muito lhe falar, mas não posso, por questões de segurança, ir até o Ministério. Por favor, me encontre às 17 horas no Museu de Londres, no mesmo lugar em que você me pediu em casamento.

N.W.Avery


Vestido de trouxa, Sirius não atraía nenhuma atenção para si mesmo dentro do Museu. Ele já havia perdido a noção de quanto tempo não entrava ali. Era um dos lugares favoritos de Nancy, fascinada pelas antigas relíquias que os trouxas juntaram ao longo dos séculos.

A mulher já o esperava, na sala dedicada às obras de arte gregas, retiradas das ruínas dos antigos templos da Grécia antiga. Andava calmamente pela câmara, e sorriu discretamente quando viu Sirius.

- Pensei que você já tivesse se esquecido desse lugar...

- Bem, a minha memória ainda funciona muito bem, Nancy. Fatos importantes da minha vida eu não esqueço.

Nancy sorriu melancolicamente.

- Bem, você me chamou aqui...acredito que haja um bom motivo para isso.

- Eu soube dos julgamentos da última semana, Sirius. Mas parece que o caso ainda não foi resolvido. Talvez eu possa ajudá-lo.

- Como assim?

- Eu sei quem é o mandante...mas antes de lhe dizer, preciso lhe contar algumas coisas que estão acontecendo comigo...

- Eu ainda não estou entendendo...

A ex-noiva de Sirius caminhou lentamente entre as antigas peças, e começou a falar. Parecia mais um desabafo do que propriamente uma conversa.

- A última coisa que eu tolero numa relação Sirius, é traição - ela o encarou, e subitamente Sirius sentiu o seu rosto queimar .

- E...?

- Eu descobri que meu marido tem uma amante. Ela também é casada, mas coleciona amantes. Isso eu sei porque fomos amigas durante quatorze anos. Eu descobri há poucas semanas, quase por acaso. Eu pedi o divórcio ao Mathew, mas não contei a ele que descobri sobre o seu caso. Ele acha que não há motivos para a separação, e por isso se recusa a dividir os nossos bens.

Sirius continuava a não entender nada. Sentiu-se tentado a perguntar quem seria a amante de Avery, mas preferiu ser mais discreto.

- E o que eu tenho a ver com isso? Desculpe, Nancy, mas eu não sei onde você quer chegar.

- Eu não sou uma idiota, Sirius, como o meu marido acha que eu sou. Quando eu me casei com o Mathew, eu sabia que ele havia sido um Comensal da Morte. Ele tem a Marca Negra, e nunca escondeu isso de mim. E eu sei que ele retomou suas atividades desde que Você-Sabe-Quem voltou.

Ela fez nova pausa. Custava-lhe muito tocar naquele assunto, mas prosseguiu em sua narrativa.

- A amante do Mathew é Narcisa Malfoy, Sirius. Há meses os dois vêm mantendo um caso. Como eu pude ser tão tola, não? Eu a admirava, sempre tão segura de si. Ela tornou-se minha confidente, sabia tudo sobre a minha vida. E levou o meu marido para a sua cama.

Aos poucos, Sirius parecia estar conseguindo montar as peças daquele intrincado quebra-cabeça.

- Eu tenho provas do envolvimento do meu marido com Você-sabe-quem, e também tenho como provar que Narcisa foi a mandante do feitiço contra Harry Potter. Eu posso lhe entregar tudo isso...mas há um porém.

- Qual?

- Eu sei que o Ministério está confiscando os bens de todas as pessoas que estão sendo presas, acusadas de exercerem atividades como Comensais da Morte. Eu preciso de uma garantia de que os bens do meu marido não serão bloqueados, e sim transferidos para o nome dos meus filhos.

- Você está disposta mesmo a entregar o seu marido, Nancy? O pai dos seus filhos?

- Eu já disse a você, Sirius...eu não tolero traição. Ser traída uma vez já foi doloroso demais, a segunda eu não vou perdoar.

- Tudo bem, eu já entendi - Sirius tentava esconder sua euforia - eu vou precisar conversar com a ministra, mas acho que não haverá grandes problemas. Eu lhe comunico quando tiver uma posição concreta.

- Então aja rápido, Sirius, por que há mais coisas que você precisa saber...

- O quê?

- No Dia das Bruxas Narcisa estará completando quarenta anos. Ela gosta muito de dar festas, e desta vez não vai ser diferente. Mas Lúcio está planejando um golpe...

- Ele sabe do caso da Narcisa com o seu marido?

- Se sabe, ele disfarça muito bem....ele também tem suas amantes. Mas o golpe que ele está armando não é contra o Matt...Sirius, o Malfoy descobriu que o Snape é espião, e faz questão da presença dele nessa festa. E acompanhado da esposa, logicamente.

O coração de Sirius disparou, e sua garganta ficou seca de repente.

- Avise sua irmã que ela e o marido correm perigo. E todos já sabem que ela está grávida. - Nancy o encarou - me mande uma reposta o mais rápido possível.

Antes que Sirius pudesse responder qualquer coisa, Nancy desaparatou, deixando-o confuso e apavorado.

Capítulo 18...

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