A Festa na Mansão Malfoy
Diante do espelho, Lyra contemplava o seu rosto sombrio e
angustiado. Suas feições exprimiam exatamente o que estava
sentindo: medo, temor, raiva. Nada que Severo lhe dissesse
serviria para alguma coisa. Ela não conseguia se conformar com o
que estava acontecendo, ser envolvida em algo que nem sabia
direito o que era. Embora Severo nunca tivesse lhe escondido nada
de suas atividades como espião, Lyra nunca lhe perguntara como
funcionava. Apenas sentia medo, mas não se envolvera sob nenhum
aspecto.
Naquela noite, entrariam, como Sirius havia dito, no covil dos leões.
Seu irmão a alertara sobre o perigo que corriam, caso fossem
para a festa de Narcissa completamente despreparados. Pelo menos,
teriam suporte do Ministério. O plano de Sirius era
relativamente simples: antes que os Comensais emboscassem Lyra e
Severo , o Ministério emboscaria os partidários de Voldemort.
Pelo menos essa era a teoria. Torcia para que desse certo na prática
também.
- Você já está pronta? - Severo entrou no quarto, já vestido com sua melhor roupa. Lyra encarou o marido, e confirmou, resignada.
- Eu quero ir a Hogwarts antes, tudo bem? Quero dar uma espiada no baile...
- Como você quise, Lyra - Snape estava sério, mas estreitou a esposa nos seus braços. E pensou, amargurado, por que aquilo tudo estava acontecendo justamente no melhor momento de sua vida, recém-casado e aguardando a chegada do primeiro filho. Houvera um tempo em que ele não acreditava mais no amor, e se fechara para o que ele chamou de um tolo sentimento. Agora, ele percebia como fora tolo. - Eu não vou deixar que nada aconteça com você e com o nosso filho.
A expectativa em relação ao baile havia atingido o seu auge no final da tarde do Dia das Bruxas. Os alunos andavam excitados pelos corredores, e as meninas lotaram os banheiros horas antes, a fim de terem tempo suficiente para se arrumarem.
Harry aguardava ansioso Lilá terminar de se arrumar. Hermione desceu antes para a sala comunal, e avisou o amigo que sua acompanhante ainda iria demorar mais um pouco para descer. Praticamente todas as garotas já estavam na sala comunal, Gina inclusive. O rapaz observou-a disfarçadamente. Parecia muito feliz ao lado de Colin, que não sabia o que fazer para agradá-la. Vívian estava ao lado do casal, e Harry surpreendeu-se ao perceber que as duas haviam voltado a se falar.
- Demorei muito, Harry? - o rapaz virou-se, e encarou, encantado, Lilá ao seu lado.
- N..não, claro que não - sorriu timidamente, e sentiu o rosto arder, imaginando como Lilá seria sem as vestes justas que usava - vamos para o salão?
Lilá concordou, e deu o braço para Harry. O casal saiu da sala comunal, acompanhados de Rony e Hermione. Harry não percebeu, mas Gina os observava atentamente, sentindo raiva de si mesma.
No salão Principal havia uma verdadeira avalanche de alunos, buscando os melhores lugares para se sentar. Ao pé da escadaria, Draco esperava Vívian, acompanhado de Crabbe e Goyle, seus eternos guarda-costas. Como de costume, usava vestes pretas, que embora o deixasse ainda mais pálido, tornava-o elegante. Apertou a namorada pela cintura, e beijaram-se rapidamente, e logo entraram no salão.
Sentada à mesa reservada aos professores, Lyra tentava manter uma conversa amena com Amanda, sobre os bebês que estavam para chegar. A gravidez de Amanda já era visível, o que deixava Remo cada vez mais orgulhoso.
Severo consultava o relógio a cada instante. E quando deram nove horas, ele tocou o ombro de Lyra delicadamente. Virou-se para Dumbledore, e lhe sussurrou algumas palavras no ouvido do diretor.
- Boa sorte para vocês - Dumbledore virou-se para os dois professores - eu sinto muito tê-lo envolvido novamente nisso, Severo.
- Não é culpa sua, Dumbledore.- Snape respondeu, secamente.
Fazia uma noite fria e escura, sem nenhuma estrela no céu. Lyra e Snape caminhavam lentamente pelo jardim, em direção à saída da propriedade, de onde poderiam desaparatar. Estavam em silêncio, mas apenas pelo contado de suas mãos frias, conseguiam sentir o que o outro sentia. E quando finalmente cruzaram o portão, desaparataram com destino à mansão dos Malfoy.
Lyra e Severo aparataram numa estrada deserta e escura, que terminava justamente na mansão dos Malfoy. Não havia ninguém por perto, o que aumentava ainda mais a tensão de Lyra. Uma fraca luz apontou no meio de umas árvores. Severo segurou a varinha em sinal de alerta, mas respirou aliviado ao ver Sirius ali, embora a presença do cunhado ainda o incomodasse e muito.
- Vocês chegaram bem? - Sirius observou Lyra, ainda mais pálida do que de costume.
- Sim...vamos ver como vai ser daqui por diante...
- Não há com o que se preocupar, Lyra - das sombras surgiu o rosto decidido de Dany Mckinnon - montamos uma boa equipe - disse, apontando para algumas dezenas de pessoas escondidas no pequeno bosque. Snape reconheceu algums rostos, inclusive o de Percy, e se perguntou o que aquele garoto estava fazendo ali.
- Bem, tudo o que vocês têm a fazer é entrar naquela mansão, e serem hipócritas como os Malfoy - Sirius tomou a mão esquerda da irmã, e tocou na aliança com sua varinha - qualquer problema que ocorrer, você só precisa esfregar a jóia. Não hesite em nos chamar, nós estamos aqui justamente para isso - Lyra olhou-o, preocupadamente, e em seguida o abraçou, como se ainda fosse uma garotinha.
Sirius encarou Snape, sem raiva ou ódio no olhar. Percebeu que finalmente ele era seu aliado naquela luta, e bem ou mal, era um membro da sua família. Severo parecia sentir o mesmo, e quando apertaram as mãos, dessa vez firme e longamente, já haviam deixado para trás todos os ressentimentos para trás.
- Boa sorte! - disse, quando Lyra e Snape retomaram o seu caminho.
Aquela festa fora a mais tediosa a qual Lyra já havia participado. Narcissa desfilava pela casa, exibindo um belo colar de brilhantes que ganhara de Lucio. Não parecia que estava completando quarenta anos, e Lyra não pode deixar de admitir que Narcissa era realmente bela. e conseguia ofuscar qualquer outra mulher ali presente.
Todos os nomes que conhecia, de antigos acusados de serem Comensais da Morte estavam ali presentes. Mas o que mais enjoou Lyra, que a fez se refugiar nos braços de Severo, foi o seu encontro com Pettigrew, que andava pela casa como se não estivesse sendo perseguido pelo ministério. O homenzinho encarou-a, parecendo divertir-se com o pânico estampado no rosto da irmã de Sirius Black.
Nancy chamou Lyra para o local onde as mulheres se encontravam, conversando sobre sobre futilidades.
- É sempre assim, Lyra...homens de um lado, mulheres do outro...exceto por Narcissa Malfoy e Christiane Lenstrange, as outras todas são umas tolas que só sabem falar de filhos, vestidos e como Hogwarts está infestada de sangue-ruins - Nancy falava baixinho, enquanto apresentava Lyra.
Realmente aquelas mulheres não tinham muito o que falar. Eram, em sua maioria, submissas aos maridos, que pareciam mais preocupados com sua lealdade a Voldemort do que prestar atenção à suas esposas. Exceto Narcissa, que parecia entediada com aquela conversa inútil.
Quanto tempo aquela agonia durou? Lyra nunca saberia responder. O cheiro forte dos perfumes, das bebidas a enjoavam, queria sair dali, respirar ar puro, ir embora. Já estava farta de tanta falsidade, não nascera para aquilo. Severo estava rindo, segurando um copo de uísque, que Lúcio a toda hora enchia. Atravesssou o salão, nervosa.
- Já chega de beber, Severo - Lyra arrancou o copo das mãos do marido, que a olhou abestalhadamente - eu quero ir embora - sussurrou, quase implorando.
- Ir embora, Sra Snape? - Lúcio agora a encarava, divertido - mas a festa ainda nem começou...- Malfoy riu, e movendo a varinha, arremessou Snape contra a parede - bêbado infeliz, traidor, sujo - gritou, chamando a atenção de todos. Lyra segurou a respiração, e tentou não perder o controle. Ninguém percebeu que ela esfregava nervosamente a aliança, e torcia para que Sirius chegasse logo. Tentou aproximar-se de Severo, mas Narcissa a impediu, segurando fortemente os seus braços. Lúcio, com a ajuda de Avery, Crabbe e Goyle carregou Snape, desacordado para dentro da mansão.
- Solte-a, Narcissa - a voz de Nancy, sempre dócil, agora estava repleta de raiva - você me ouviu, sua vaca?
Narcissa olhou-a, surpresa.
- Quem lhe deu o direito de falar assim de mim?
- Que moral você tem para me repreender, depois de se deitar com o meu marido, hein? - Nancy agora gritava, e formou-se uma verdadeira roda para assistir à cena.
Narcissa riu, gargalhou. Nancy pulou no pescoço da mulher de Lúcio, que surpresa, soltou Lyra, que correu para o interior da casa, sem ao menos saber para qual direção haviam levado Severo. E quando finalmente Sirius invadiu a mansão, Nancy estava caída no chão, sangrando. E não havia mais nenhum sinal de Narcissa.
Sirius ajudou Nancy a se levantar, enquanto os aurors entravam na mansão.
- Onde está a Lyra? - perguntou, ansioso.
- Ela correu para dentro - Nancy indicou o rumo que Lyra tomara.
- Você precisa de cuidados - Sirius chamou um dos aurors - leve-a para fora, essas outras mulheres também...precisamos encontrar os Malfoy, Pettigrew e quem mais estiver envolvido com Voldemort...
- Vá procurar a Lyra, Sirius...e leve o Weasley com você - Danyella olhou para Percy, que parecia fascinado com tudo o que estava acontecendo. O rapaz insistira muito para fazer parte daquela missão, o que ele classificou como uma oportunidade única de combater as trevas, e adquirir experiência. Danyella fora contra, o achava totalmente tolo e despreparado. Mas Sirius achava que aquela seria realmente uma grande chance do rapaz fazer algo realmente importante. E por isso não hesitou em levá-lo junto. - Enquanto isso, eu procuro o Malfoy. Eu tenho umas contas de dezesseis anos para acertar com ele.
Enquanto dançava com Draco, Vívian subitamente
sentiu-se mal. Não era um mal-estar exatamente físico, mas a
garota começou a sentir-se agoniada, como se algo muito grava
estivesse acontecendo naquele momento, fora de Hogwarts. Ela já
conhecia aquela sensação: era a mesma sempre que estava prestes
a entrar em transe. Vívian fechou os olhos com força, e
respirou fundo para tentar evitá-lo.
- Você está bem? - Draco perguntou, percebendo que a namorada
suava frio.
- Mais ou menos...- Vívian abriu os olhos, o salão agora rodava
a sua volta.Podia ouvir atentamente a voz de seu pai, da sua mãe...por
mais que tentasse, Vívian não conseguia se acostumar com a idéia
de que possuía um raro dom. - Eu acho que vou dormir...estou
muito cansada...
Vívian acenou para Gina, indicando que estava subindo para a
Grifinória, e deixou o salão. Estava começando a entrar em pânico,
e sentia uma necessidade absurda de falar com Sirius. Tinha a
impressão de que todas aquelas sensações ruins tinham a ver
com o pai.
Com o dormitório vazio, Vívian resolver apelar para as lições que recebera da amiga de Lyra. Mecanicamente, buscou uma bacia de prata, encheu-a de água limpa, e executou todo o ritual necessário para tentar visualizar o que estava acontecendo fora de Hogwarts, longe da sua vista. Nunca tentara isso antes, e intimamente, achava que não daria certo. Mas, para seu espanto, alguns rostos surgiram trêmulos na água, e Vívian pode contemplar o rosto angustiado de seu pai, e de todos os que estavam ao redor de Sirius...e começou a se sentir apavorada com o que via....
Sirius andava apressado pelos corredores da mansão, seguido de perto por Percy. Procurava Lyra desesperado, imaginando o que Malfoy seria capaz se colocasse as mãos na sua irmã. Precisava encontrá-la antes, custasse o que custasse.
Quando chegaram a um extenso corredor, Sirius resolvera arrombar todas as portas que encontrava, sem medir as consequências do seu ato. Entrou numa espécie de sala, e automáticamente a porta fechou-se. Percy tentou abrí-la, mas foi em vão.
- O Malfoy usou algum tipo de feitiço de vedação, a porta não abre.
Sirius parecia não ouvir o que Percy dizia. Era como se estivesse em algum tipo de transe.
- O senhor me ouviu? - o rapaz agora gritava, deixando para trás a prudência - estamos trancados.
- Não precisa gritar...eu já ouvi - Sirius respondeu, ríspido. - Vem, por aqui.
Num dos cantos da sala, havia uma porta disfarçada na parede. Sirius abriu-a sem esforço, e desceu alguns degraus estreitos. À sua frente, um longo corredor estreito e escuro.
- Vamos em frente? - perguntou, temeroso.
- O senhor quer encontrar sua irmã, não quer? Então vamos.
Os dois acenderam as varinhas, e seguiram em frente. Não haviam caminhado nem dez metros, quando ouviram passos seguindo-os. Sirius desatou a correr, com Percy logo atrás. Subitamente, uma porta abriu-se do nada, e um homem saiu de dentro, esmurrando Sirius com força no rosto. Percy pulou no pescoço do desconhecido, tentando fazê-lo parar. O comensal soltou Sirius, e este caiu no chão, completamtente zonzo. Enquanto tateava, procurando sua varinha, viu o reflexo de um raio verde, e o corpo de Percy caindo ao chão, já sem vida. Antes que pudesse reagir, um novo jato de luz verde surgiu do outro lado do corredor...
Vívian jogou longe a bacia d'água, ensopando todo o chão do dormitório, e desceu as escadas desesperada. Não podia ver mais, estava além de suas forças. Encontrou Harry e Lilá, que acabavam de voltar do baile.
- Cadê a Gina e o Rony, Harry? - Vívian segurou o braço do rapaz com força, provocando ciúmes em Lilá - Harry, o meu pai está em perigo...me ajuda, por favor...
Por alguns instantes, pareceu a Harry que Rony tinha razão em chamar Vívian de louca. Mas vendo o desespero da garota, sentiu pena e concordou em ajudá-la, sem saber ao certo o que estava acontecendo. Os dois saíram da sala comunal, mas Vívian não sabia qual rumo tomar.
- Você pode me explicar o que aconteceu?
- Você não ia entender...eu só preciso que você me leve a sala do diretor...e preciso falar com a Gina...e o Rony...
- Se você não explicar o que está acontecendo, eu não vou poder te ajudar, Vívian....- Harry insistiu.
- Eu vi, Harry...o...o...Percy....morreu...e eu não sei se o meu pai também...- a garota não concluiu a frase, os soluços a impediam. Agarrou-se com força à Harry, chocado com aquela revelação. E antes que pudesse reagir, Rony e Hermione se aproximavam, e pouco atrás, Gina e Colin.
- O que está havendo? A Vívian está passando mal? - Hermione perguntou, preocupada com o estado da garota.
- Hermione...me faz um favor, leve a Vívian para a ala hospitalar...- Harry não sabia se acreditava ou não no que a garota lhe dissera, e não sabia como explicá-lo para Rony e Gina. Esta aproximou-se da amiga, e a abraçou carinhosamente.
- Eu vou junto...- disse, solícita.
- Gina, é melhor...- Harry começou, mas foi interrompido pelo olhar apavorado de Vívian.
- Harry, o que eu disse é verdade...eu vi...- a garota virou-se para Gina, completamente trêmula - eu não quero ir para a ala hospitalar, eu quero falar com Dumbledore...
- Eu e a Gina levamos você para a ala hospitalar, e o Harry e o Rony vão chamar o diretor, tudo bem? - Hermione falava com Vívian como se ela fosse uma criancinha.
Vívian concordou, e enquanto as garotas iam para a ala hospitalar, Harry e Rony se dirigiram para a sala do diretor.
- Você não vai me contar sobre o que a Vívian estava falando?
Harry encarou Rony, constrangido e apavorado. E se fosse verdade que o irmão do seu melhor amigo realmente estivesse morto àquela hora?
- Rony...a Vívian diz que ouve e vê coisas...sinceramente, eu não acredito muito, principalmente por que ela gosta de chamar atenção...só que hoje...ela disse ter tido uma visão com o Percy e o Sirius...e aparentemente ela viu o Percy...morto...
- Quantas vezes eu já te disse que essa garota é louca, Harry? - Rony esbravejou, o rosto tão vermelho quanto os seus cabelos - Será que você não percebe que isso pode ser coisa do Malfoy? E se ele enfeitiçou a Vívian? Ou pior, e se ela for tão podre quanto o idiota do namorado dela? - o rapaz fez uma pausa, para respirar - Isso não é brincadeira que se faça, Harry...e agora ela pode estar enchendo a cabeça da minha irmã com essa bobagem...e você quer saber? Pode ir sozinho procurar o Dumbledore, eu vou até a ala hospitalar buscar a Gina.
Rony deu meia-volta, deixando Harry na metade do caminho, se arrependendo profundamente de ter dito tudo antes da verdade ser esclarecida.
- Black, você está bem? - Sirius virou-se para o lado de onde viera a luz verde, e distinguiu nas sombras a silhueta de Snape. Este esticou o braço, e ajudou o cunhado a levantar-se. Os dois encararam-se por alguns instantes, antes de finalmente se darem conta do que havia acontecido.
Snape agachou-se ao lado do corpo de Percy, e suspirou resignado. E do outro lado, encontrava-se caído Avery, também morto.
- O rapaz foi um dos meus melhores alunos...- comentou, como se desabafasse, sorrindo amargamente - mas eu nunca admiti, logicamente.
Sirius nada dissera. Estava com a garganta sufocada, prestes a explodir, liberando toda a raiva que sentia. Era como se tivesse voltado no tempo exatos dezesseis anos...Lílian e Tiago também haviam morrido num dia das Bruxas...e agora Percy...mais uma família que perdera um filho, mais uma mãe e um pai...e ao pensar nos Weasley, que sempre foram tão bons e dignos com Harry, Sirius chorou...raiva, remorso, saudades, medo...era um homem de quarenta anos assustado como um garoto.
Snape permaneceu em silêncio. Imaginava o que se passava na mente de Sirius, e não o censurava por chorar. Quisera ele também ter aquela capacidade...chorara pouquíssimas vezes na vida...quando sua mãe morrera...depois seu pai...e Lílian. Desde então nunca mais vertera uma só lágrima, nem de raiva, tristeza ou alegria. Tornara-se duro demais consigo mesmo.
Encostado na parede, Sirius tentava recompor-se. Tocou no rosto dolorido, e percebeu que havia sangue escorrendo pela sua face. Snape também não estava numa situação muito melhor.
- Como você chegou até aqui? - Sirius perguntou, um pouco mais tranquilo.
- Eu fui arrastado pelo Malfoy e pelos capangas dele para o porão...essa é uma das poucas passagens...eu acho que ele pretendia me torturar bastante antes de me matar - Snape esboçou um sorriso torto, e Sirius verficou que ele estava com um enorme talho no rosto - só que os aurors descobriram a outra passagem, e ivadiram o porão. Havia pelo menos três aurors para cada comensal...bem, foi um massacre, Black. O Avery e o Pettigrew conseguiram escapar, e eu vim atrás deles...perdi o rastro dos dois, mas sabia que deviam estar por aqui...e então o resto você já sabe...acabei de matar o homem que durante anos considerei amigo.
- E os Malfoy?
- Lúcio está morto...- Snape disse, sem emoção - foi pego de surpresa pela Mckinnon. Ela me pareceu bastante satisfeita em matá-lo. Quanto à Narcisa, nem sinal...acho que conseguiu escapar...
- E você me disse que o Pettigrew está por aqui - Sirius levantou-se, tomado por uma nova onda de raiva - eu vou atrás dele.
Snape, no entanto, segurou as vestes de Sirius, chamando-o à consciência.
- Há coisas mais importantes agora do ir atrás do rato, Sirius...Lyra, por exemplo. Você ainda não a encontrou, não é mesmo? Então...eu acredito que a sua vingança ainda pode esperar...e precisamos levar o corpo do Weasley para a família....
Sirius concordou. E levantando-se, ajudou Snape no penoso trabalho de levar Percy para fora daquele corredor escuro. E deixaram para trás o corpo de Avery. Depois mandariam alguém buscá-lo.
Quando chegaram ao salão onde o jantar havia sido servido àquela noite, havia uma grande confusão. Por todos os lados haviam aurors, vigiando cada movimento das mulheres que ali se encontravam. Apenas uma delas interessava realmente ao ministério: Christiane Lenstrange. As outras, estavam completamente apavoradas. No entanto, a única coisa que interessava aos dois homens era encontrar Lyra. E ela não se encontrava ali...
Lyra estava sentada ao lado de Nancy, envolta em sua capa, tentando se proteger do intenso frio daquele começo de madrugada. Sentia-se um farrapo, cansada e totalmente perdida. Ainda não conseguia entender como fugira de Malfoy e permanecera escondida até ser encontrada por Danyela. Todo o desespero que sentia horas antes, agora dera lugar a um imenso desânimo e agonia. Não voltara para dentro da mansão. A sala estava cheia de corpos, aurors para todos os lados....era preferível enfrentar o frio no jardim. E a cada minuto que passava, as esperanças de encontrar seu marido e seu irmão vivos parecia diminuir.
Sirius sentiu-se imensamente aliviado ao ver que Lyra estava a salvo, sentada no jardim. Aproximou-se rapidamente da irmã, acompanhado de Snape. Lyra olhou-os por alguns instantes sem reagir, mas logo jogou-se nos braços do irmão, e logo depois nos do marido.
- Eu pensei que não ia mais ver vocês...- Lyra afastou-se dos dois homens, e os encarou, preocupada - o que foi isso no seu rosto, Severo? E você, Sirius?
- Nós estamos bem, Lyra. E preocupados com você e o bebê...
Ela sorriu discretamente, mas não disfarçou a felicidade de vê-los ali, a salvo. No entanto, Nancy também se encontrava presente, e parecia ansiosa por notícias.
- Vocês conseguiram capturar o Matthew?
- Seu marido está morto, Nancy - Severo disse, afastando-se em seguida com Lyra.
- O quê? Sirius....
- Eu sinto muito....
- Ah, você sente? - a mulher esbravejou, e Sirius pode sentir todo o ódio que os olhos dela destilavam - eu me prontifiquei a entregar o meu marido , para que ele fosse preso, Sirius Black, e não para você e os seus capangas o matarem.
- Eu não tenho culpa se você se casou com um assassino...não tenho mesmo, Nancy...agora, se você me der licença...
Sirius afastou-se, a cabeça rodando. Parecia estar assistindo a um filme, como se não estivesse participando de tudo aquilo. Não, tudo aquilo não podia ser realidade, e embora acompanhasse atentamente a remoção dos corpos de Lúcio Malfoy, Matthew Avery e Percy Weasley, não acrediatava no que via. Os dois comensais, que conhecera ainda em Hogwarts, foram capazes de morrer em nome da fidelidade à Voldemort, cujo paradeiro era completamente ignorado. E Percy...não precisava ter se sacrificado. E mais uma vez, Sirius sentiu-se culpado, da mesma forma como se sentira na noite em que Lílian e Tiago morreram.
E no meio de tudo aquilo, Sirius teve a impressão de que ouvia alguém o chamando...era uma voz distante, mas ele não teve dúvidas de quem precisava dele desesperadamente, mais que qualquer um naquela noite...
- Lyra, Severo, vão para a minha casa, e fiquem por lá...avisem a Isabella que eu estou bem...
- Por que....? - Lyra não chegou a completar a frase.
- Estou indo para Hogwarts....- disse, e antes que sua irmã fizesse mais perguntas, Sirius desaparatou.
Hogwarts estava imersa em total silêncio quando Sirius entrou, apressadamente no castelo, e caminhou decidido para a ala hospitalar. Ele nem teve dúvidas de que encontraria Vívian na enfermaria, e não na Grifinória, como era de se esperar.
Por sorte, não encontrou Filch nos corredores, o que o deixaria bastante irritado naquele momento. E se a situação não fosse tão grave, acharia graça daquela cena, um alto funcinário do ministério da Magia se esgueirando pela antiga escola.
A ala hospitalar estava escura, e apenas algumas velas ainda ardiam nos candelabros. Mas não houve dificuldades para Sirius reconhecer a filha, seus cabelos castanhos jogados sobre o travesseiro.
- Vívian...sou eu...acorda, filha...
Vívian demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo, mas quando finalmente abriu os olhos, e viu o pai parado diante de si, a garota sorriu, sonolenta, e o abraçou com toda a força que tinha. Então, o fraco sorriso desaparecera do seu rosto, e Vívian caiu num pranto compulsivo e incontrolável.
- Está tudo bem agora, Vívian...
- Como você soube...- Vívian encarava o pai, tentando entender porque ele estava ali - como você sabia que eu queria te ver?
- Eu senti...foi um pressentimento de que algo havia acontecido com você.
- Eu vi tudo, pai. O Percy morreu, não é mesmo? E alguém tentou atacar você? - dizia tudo rapidamente, e Sirius apenas confirmava com a cabeça - Ninguém acreditou em mim, e a Madame Pomfrey me forçou a passar a noite aqui. E onde vocês estavam?
- Na mansão dos Malfoy.
- Dos Malfoy? - Vívian alterou-se - mas a Lyra ia para lá hoje, por causa do aniversário da mãe do Draco, ele até comentou comigo que os pais dele são amigos do Snape. - Vívian então, deu-se conta subitamente de que falara demais.
- Você tem contato com esse rapaz, Vívian? - a expressão de Sirius mudara, e ele parecia seriamente preocupado.
Durante aqueles infinitos segundos, Vívian imaginou centenas de desculpas para dar ao pai, mas sabia que qualquer uma delas não seria boa o suficiente. Mentir? Não era do seu feitio. Todos em Hogwarts já sabiam do seu namoro, e era hora de abrir o jogo com seus pais também.
- Eu e o Draco estamos namorando...
Aquela foi a primeira vez que Vívian viu claramente a decpção estampada no rosto de Sirius, e sentiu raiva de si mesma. Mas estava apaixonada também, e não iria abrir mão do seu namorado apenas para agradar o pai. Sirius estava perturbado, mas não antes que fizesse qualquer comentário, ouviu a voz autoritária de Madame Pomfrey.
- O que o senhor pensa que está fazendo aqui a uma hora dessas, Sr Black? São duas da manhã, francamente.
- Eu só vim ver minha filha...e preciso falar urgentemente com o diretor...
Os dois afastaram-se, mas Sirius ainda lançou um último olhar a Vívian, como quem diz "mais tarde a gente conversa", e saiu da ala hospitalar acompanhado de uma indignada Madame Pomfrey.
Vívian encostou a cabeça no travesseiro, mas não chorou ou esboçou qualquer reação. Nem tampouco conseguiu voltar a dormir. Tinha medo do que iria acontecer quando amanhecesse, e tivesse que encarar Gina e Rony. E do que seu pai seria capaz de fazer em relação ao seu namoro.
Capítulo 19...
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