Raptos em Hogsmeade
Sirius acordou cedo numa bela manhã ensolarada, em meados de junho. O verão ameaçava chegar com força total, e os dias tornavam-se cada vez mais agradáveis. Parecia que, com o fim do inverno, todos os problemas desapareciam...era lógico que isso não era a realidade, mas para Sirius o verão era a sua estação do ano favorita, desde criança.
Isabella ainda dormia profundamente, depois de uma longa noite de comemoração...Sirius fizera aniversário um mês atrás, e quando Isabella lhe perguntara qual presente ele gostaria de ganhar, ele não precisou pensar muito: outro filho.
- Você é louco? Mais um bebê?
- E daí? Eu não quero me sentir um velho...
- Quem disse que você é um velho? - Isabella acariciou o rosto de Sirius, enquanto ele tentava morder-lhe as pontas dos dedos.
- Uma vez eu lhe disse que queria ter muitos filhos quando nós nos casássemos...
E Isabella não conseguira resistir aos argumentos do marido, e engravidara logo em seguida, talvez naquela mesma noite...e agora Sirius olhava encantado para Isabella, sentindo vontade de abraçá-la ainda mais, e dizer-lhe mais uma vez o quanto a amava.
- Que horas são, Sirius?
- Quase nove horas, sua dorminhoca...
- Se você já estava acordado, porque você não me acordou? - reclamou, enquanto levantava-se - esqueceu-se que vamos para Hogsmeade hoje?
- Claro que não...eu só estava reparando que você nunca esteve tão linda antes...
- E nem tão gorda, Sirius Black - Isabella sorriu, e quando abriu a porta do quarto, Diana já se achava do lado de fora, segurando um enorme urso de pelúcia, sonolenta. Sem qualquer cerimônia, a garotinha correu para a cama dos pais, onde Sirius ainda estava deitado, pulando no colo do pai.
- Papai...au-au, papai...
Dando boas risadas, Isabella deixou pai e filha à vontade, pensando satisfeita que não eram todas as crianças cujos pais se transformavam num enorme cão negro e lambão.
Hogwarts inteira parecia ansiosa, naquele sábado, para a última visita à Hogsmeade antes dos exames. Era um dia ensolarado e quente, propício para um bom passeio. Para Harry, era mais uma oportunidade de ficar à sós com Lilá nas colinas, longe dos olhares censuradores dos professores. E além disso, se encontraria com Sirius e Isabella, que estariam na vila naquele dia..
Não demorou muito para que o rapaz encontrasse os padrinhos. Estes tinham acabado de chegar à vila, e aproveitaram para tomar um sorvete, antes de irem para a casa de Lyra e Snape.
- Ei, Harry, como vai? - Isabella levantou-se, e deu um beijo no afilhado - senta-se conosco?
- Claro - disse, um pouco encabulado - vocês já conhecem a Lilá? - o rapaz fez as devidas apresentações - ah, e parabéns pelo bebê.
Sirius sorriu, orgulhoso.
- Acredito que isso merece uma comemoração - levantou-se, buscou meia-dúzia de cervejas, e um copo de suco de abóbora para Isabella. Rony e Hermione chegaram naquele momento, e participaram do brinde desajeitado de Sirius, rindo que nem um bobo.
- Vocês viram a Vívian por aí? - perguntou Isabella, enquanto procurava limpar a sujeira que Diana fizera com o sorvete.
- Ela saiu um pouco antes de nós... - comentou Hermione, pensativa.
- Com o Malfoy. - completou Rony, com uma profunda expressão de nojo - foi só falar...- disse, apontando para a porta, pela qual Vívian e Draco vinham entrando, o sorriso sumindo dos seus rostos ao verem Sirius e Isabella. Cumprimentou os pais displicentemente, dando atenção apenas à irmã, para quem deu uma cesta cheia de doces recém-comprados na Dedosdemel.
Sirius sentiu-se totalmente desnorteado com o desdém de Vívian, mas foi Isabella quem reagiu com sangue-frio suficiente e levantou-se, indo em direção aos fundos do bar.
- Como vai, Vívian? Draco? - cumprimentou o casal como se fossem meramente conhecidos - tudo bem com vocês?
- Mãe, eu...- agora era Vívian quem estava sem-graça - eu estou bem...ahã...parabéns...- forçou um sorriso.
- Nós ainda vamos conversar sobre isso, Vívian, e não vai demorar. Não estou gostando nem um pouco do modo como você vem agindo ultimamente...
- Aposto como a Lyra tem lhe mantido informada...e agora você veio pessoalmente verficar o meu comportamento, como se eu ainda fosse uma criança.
- Eu não vou discutir com você - disse, controlando-se para não tornar a situação ainda mais constrangedora.
Logo depois, Sirius e Isabella deixaram o bar, e foram para a casa de Lyra. Vívian não disse nada. Sentia-se ao mesmo tempo furiosa e envergonhada.
- Porque eles tinham que vir para cá justamente hoje? - disse, inconformada, para Draco. O rapaz não respondeu. Simplesmente a puxou para si, e a beijou loucamente, fazendo com que a garota esquecesse por uns momentos a discussão com a mãe.
O bar se enchia de alunos, o borburinho de vozes tornava-se mais intenso. Agora, Vívian já se esquecera por completo do incidente de minutos atrás. Crabbe e Goyle juntaram-se ao casal e, embora Vívian os achassem dois completos idiotas, eles a fazim rir, sem querer.
Uma coruja cinzenta entrou no bar, e pousou no colo de Draco. O rapaz olhou desconfiado para os lados, e abriu lentamente o pequeno bilhete. Sorriu discretamente, mas ao mesmo tempo sentiu-se desconfortável.
- Vívian...eu vou precisar sair um pouco...sozinho.
- Posso saber o porque?
- Alguns assuntos particulares...- disse, apressadamente, enquanto lhe dava um beijo de despedida - e vocês dois, podem ficar por aqui, não preciso de guarda-costas.
Magoada, Vívian sentou-se ao lado de Gina e Colin, e enquanto ouvia a amiga conversar com o namorada, sentiu-se infeliz e desconfiada.
Harry e Lilá caminhavam pelas colinas de Hogsmeade, em direção a um pequeno bosque, onde poderiam ficar mais à vontade. Desde a noite em que levara Lilá para a torre de Astronomia, o rapaz nunca mais insistira no assunto. Percebeu que era melhor esperarem pelas férias, quando teriam mais tempo um para o outro.
- Sabia que eu adoro esse lugar? - a garota perguntou, os olhos faiscando - eu vou sentir muita falta daqui...
- Nós poderemos voltar aqui de vez em quando. - Harry abraçou-a - quer se casar comigo?
Lílá teve um acesso de riso.
- Harry...nós temos dezessete anos...eu ainda não penso em me casar...
- Mas você promete pensar no assunto? - perguntou, ansioso.
Como resposta, a garota o enlaçou num longo beijo, que durou o suficiente para perderem a noção do tempo e espaço...mas repentinamente, Harry sentiu uma forte pontada na cicatriz, e abriu os olhos assustado, e encarou Lilá.
Ao pagar a conta no Três Vassouras, Rony lembrou-se que estava sem a carteira. Procurou-a em todos os bolsos, mas não a encontrou. Irritada, Hermione acertou as despesas com Madame Rosmerta, para que o namorado não parecesse um caloteiro.
- Mas você não se lembra onde colocou a carteira, Rony? - Mione ajudou-o a vasculhar os bolsos, e constatou que estavam todos rasgados - será que não caiu pela rua?
- Ah, como sou idiota - disse, batendo na própria testa - pedi para o Harry guardar para mim, e esqueci de pegar antes dele sair do bar...
- Ai, ai...dois lerdos...- a garota balançou a cabeça, inconformada - quer procurá-lo e buscar a carteira?
- Claro. Ou você acha que vou deixar de comprar uns chocolates para você? - Rony beijou-a rapidamente - aí, podemos aproveitar as colinas também....
Hermione fingiu que dava socos no namorado, enquanto tomavam o caminho para os arredores de Hogsmeade. Como todos os casais de Hogwarts, sabiam exatamente qual o melhor ponto das colinas para namorar. Não demorou muito para vizualizarem Harry e Lilá, há alguns metros de distância.
- Aconteceu alguma coisa, Harry? - a voz de Lilá parecia vir de muito longe, e seu rosto era apenas um borrão. Sentia-se extremamente entorpecido, mas tinha certeza que a cerveja que havia bebido não era suficiente para deixá-lo embriagado.
Ouviu as vozes de Rony e Hermione chamando-o, e quando virou-se para encontrá-los, sentiu um forte baque pelas costas, e caiu ao chão. E a última coisa que viu antes de desmaiar foi a surpresa estampada nos rostos de seus amigos, quando também tombaram na grama.
Lord Voldemort sorriu, satisfeito. A primeira parte do plano já dera certo, exceto pelo casal...mas estes não o atrapalhariam em nada.
Isabella segurava encantada o filho de Lyra no colo. Era um garoto grande, forte, e, reparou, muito parecido com o pai. Mas carregava alguns traços dos Black, e provavelmente teria olhos azuis como os da mãe.
- Quer dizer que vocês também tem novidades? - Lyra perguntou, enquanto pegava o filho novamente no colo.
- Coisas do seu irmão, Lyra - Isabella riu, enquanto Sirius fazia uma careta - mas eu estou curtindo a idéia de ter mais um bebê.
Sirius não se sentia muito à vontade na casa da irmã, mas esforçava-se para não demonstrar. Talvez o que mais o irritasse fosse a presença constante de Snape...mesmo depois de tudo o que haviam passado juntos, não conseguia agir naturalmente na presença do cunhado. Mas aceitou com prazer o conhaque oferecido, e percebeu que o nascimento do filho o deixara um pouco mais simpático.
- Dumbledore me disse que gostaria que você fosse até Hogwarts, hoje. Há alguns assuntos que ele precisa discutir com você, a respeito do Ministério.
- Ele disse qual o melhor horário?
Severo consultou o relógio. Eram quase cinco horas da tarde.
- Acho melhor irmos já, antes dos alunos voltarem...
Lyra aproximou-se, fingindo-se zangada.
- Vocês estão pensando em nos deixar sozinhas, seus folgados?
- Nós só vamos a Hogwarts conversar com Dumbledore...
- Mas Sirius, nós precisamos ainda ir até a casa do Remo, antes de irmos embora...afinal, ele também virou pai, e nós ainda não conhecemos a filha dele...
- Sem problema, Bella...provavelmente, o Remo também vai querer participar dessa reunião...e enquanto os homens discutem o destino da nação, nós mulheres conversaremos sobre fraldas e mamadeiras...
Isabella precisou segurar-se para não dar uma boa gargalhada. Quem não conhecesse Lyra, poderia jurar que estava falando sério.
Vívian passara a tarde inteira de cara amarrada, esperando por Draco. Agora, já era hora de voltarem para Hogwarts, mas não havia o menor sinal do rapaz. Gina também consultava o relógio a toda hora, preocupada com a demora de Rony.
- Isso não é normal...- as duas garotas encontravam-se na rua, acompanhadas de Colin - essa demora toda...
- Mas você não viu de quem era o bilhete?
- Ele não me deixou ver...em todo caso, isso é muito estranho...
- Talvez ele possa ter voltado para Hogwarts - disse Gina, esperançosa.
- Será? Mas sem me avisar?
- O que vocês duas acham de voltar para Hogwarts, e ver se o Malfoy já voltou? E provavelmente o seu irmão também já está no castelo...- Colin já estava farto daquela conversa.
Sem melhor alternativa, as duas concordaram em voltar.
Lyra e Isabella demoraram pouco tempo na casa de Remo e Amanda. O professor prontamente concordara em acompanhar Sirius e Snape até Hogwarts, e as três mulheres ficaram sozinhas com as crianças, o que aumentou ainda mais a birra de Lyra.
- Parece até que estamos na Idade Média, quando os homens iam para a guerra, e as mulheres ficavam sozinhas num castelo, isoladas do mundo...
- Eu não entendo de onde você consegue tirar essas idéias absurdas, Lyra - Amanda arrumava rapidamente a mesa para servir um chá - vamos aproveitar que nossos maridos não estão aqui e falar um pouco mal deles, então. O Remo, por exemplo, detesta lavar fraldas...
As outras duas riram, e passaram os minutos seguintes tomando chá, e conversando amenidades, até que uma batida na porta lhes chamou a atenção. Amanda espiou pela janela, e reconheceu um dos rapazes que trabalhava em sua companhia, na base do Ministério, ali em Hogsmeade.
- Boa tarde, Srta Pettigrew, eu não queria incomodá-la, mas chegou uma mensagem urgente da Ministra para a senhorita...
- Mas hoje é sábado, eu tenho visitas...
- Eu não sei do que se trata, mas parece ser urgente...
Amanda voltou para dentro de casa, contrariada.
- Vou precisar dar uma saída - disse, quase pedindo desculpas.
- Vá tranquila, Amanda, eu a Bella vamos para Hogwarts, e você pode nos encontrar por lá...
- Então você me faz um favor? Leve a Maryanne com você, e deixe-a com o Remo. E daqui a pouco eu vou para o castelo.
Lyra concordou, e pouco depois, acompanhada de Isabella, seguiu para Hogwarts. Já anoitecia, e os últimos alunos voltavam para o castelo. Remo e Sirius encontravam-se à porta da cabana de Hagrid, conversando com o guarda-caça.
- Ué, a reunião já acabou?
- Dumbledore só precisava dar uma palavra conosco...ele precisava de umas informações do Ministério - Sirius informou.
Isabella cumprimentou Hagrid alegremente, e deixou que Diana brincasse com Canino.
- Cadê a Amanda? - Remo perguntou, enquanto pegava a filha no colo.
- Ela recebeu um chamado urgente do Ministério, parece que a Ministra precisava falar com ela...
Sirius olhava para Lyra espantado, como se não tivesse entendido o que a irmã falara.
- Mas Lyra...a Sra Figg não poderia ter chamado a Amanda hoje...hoje é dia de inspeção em Azkaban...
- Mas, e se de repente ela precisou chamar a Amanda...talvez tenha voltado antes...
- Não...não há nenhum assunto pendente com a Amanda...Hogsemeade tem andado tranquila...e eu tenho certeza que a Sra Figg não voltaria antes da hora...tinha muito a ser feito em Azkaban, novos feitiços a serem testados...
Uma onda fria de medo percorreu todos os presentes. Sirius tinha certeza do que estava falando. Arabella Figg não poderia ter chamado Amanda naquela tarde.
- Vamos comigo até a base, Sirius...- a voz de Remo estava trêmula, e entregou a filha novamente para Lyra - vamos ver o que está acontecendo, vocês nos esperem dentro do castelo...
Na sua sala, Lyra preparou outra xícara de chá para ela e Isabella. As duas não haviam comentado nada até chegarem à sala. No entanto, o silêncio perturbava mais.
- Você acha que o que o Sirius disse faz sentido? - Lyra estava confusa.
- Dos assuntos do Ministério ele entende...não há como duvidar disso. E é por isso que estou extremamente preocupada.
A porta abriu-se repentinamente, e Snape entrou, acompanhado de Vívian e Gina.
- Malfoy, Potter, Wesley, Granger e Brown estão desaparecidos desde o início desta tarde, conforme as duas aqui podem explicar melhor. Acabei de checar na Sonserina, e McGonagall já está vindo da Grifinória.
- Como foi isso, Vívian? - Isabella aproximou-se da filha, extremamente tensa.
- O Draco recebeu um bilhete...saiu do bar e não disse para onde ia...
- E o Harry?
- Saiu depois, junto com a Lilá...e depois o Rony e Hermione...e nenhum deles voltou ainda.
Mais uma vez, a porta abriu-se, e por ela entraram Dumbledore e Minerva McGonagall, ambos com o semblante sério. O diretor olhou atentamente para Vívian, e depois para Lyra, Severo e Isabella.
- Srta Black, poderia repetir os acontecimentos dessa tarde em Hogsmeade?
Vívian relatou mais uma vez tudo o que acontecera, e quando terminou a sala ficou novamente silenciosa. Dumbledore fechou os olhos por um instante, absorvendo todas as informações.
- Onde estão Sirius e Remo? - perguntou, por fim.
Lyra contou sobre o chamado urgente do Ministério, e percebeu como os olhos de Dumbledore cintilavam.
Agora, ninguém falava mais nada. Vívian sentou-se ao lado da mãe, e apoiou a cabeça em seu ombro, procurando proteção. Vários minutos se passaram, o que pareceu uma eternidade.
Um estrondo indicou que Sirius arrombara a porta, furioso, seguido por Remo, o rosto lívido. E foi este quem deu a notícia, cada parte do seu corpo tremendo de raiva.
- Todos na base estavam mortos...assassinados...e não havia o menor sinal da Amanda por lá...ela foi sequestrada...era uma armadilha...
O silêncio que se abateu sobre as pessoas ali reunidas foi longo e sufocante. Remo enxugava o suor da testa, e Sirius caminhava de um lado ao outro da sala, pensando qual seria a melhor atitude a tomar. A Ministra estava longe, e mesmo se conseguisse ser avisada ainda naquela noite, só chegaria a Hogwarts pela madrugada. Mas precisava avisar Londres, afinal o ministério havia perdido cinco funcionários...o que mais lhe intrigava era saber qual a ligação entre o sumiço de Harry e dos outros alunos com o sequestro de Amanda. Devia haver um modo de descobrir para onde haviam sido levados.
Olhou para Dumbledore, e percebeu como o diretor estava velho...talvez aqueles acontecimentos tivessem contribuido ainda mais para envelhecê-lo...seus olhares se cruzaram, e Sirius soube que ele também procurava respostas...precisavam agir o mais rápido possível, mas como? Por fim, o rosto de Dumbledore iluminou-se, e seus olhos cintilaram quando dirigiu o olhar para Vívian Black...e a garota compreendeu que poderia ajudar.
Vívian levantou-se de onde estava, e caminhou segura até Dumbledore. Não parecia mais a garota voluntariosa que costumava ser, e sim uma jovem mulher, decidida e segura de si.
- Diretor...peça para me trazerem uma bacia de prata...e água limpa
Sirius e Isabella acompanharam com interesse e temor a filha exercer o dom que possuía...apenas ficaram sabendo do que Vívian era capaz de ver e sentir poucos meses atrás, quando Percy Weasley morrera. E desde então a garota evitara tocar no assunto, evitando a todo custo lembrar-se do que vira.
Com a bacia d'água a sua frente, Vívian respirou fundo e esqueceu que estava cercada de pessoas por todos os lados...que seu pais estavam ali...respirou mais uma vez, sentiu seu corpo entorpercer-se, e em poucos instantes tudo o que via eram apenas as confusas imagens que se formavam no espelho em que a água havia se transformado.
- Não são muitos os que trazem a Marca Negra...mas eles têm força...são adultos...- Vívian murmurou, em transe - há uma mulher e todos os outros são homens...um é mais baixo que todos...eles têm seus reféns...não, há mais uma mulher...bem mais jovem, mas eu não consigo distinguir seus rostos...eles estão entrando numa caverna...no meio de uma floresta...o homem baixo têm sangue nas mãos...Harry...Draco...todos eles - Vívian tonteou, as imagens sumiram da sua frente, e ela sentiu que caia...mas mãos fortes a seguraram antes de tocar o chão. Sirius levantou a filha como se ela fosse uma criança, e a fez sentar-se, limpando as lágrimas involuntárias que escorriam do rosto da garota.
- Eu não vou deixar você fazer isso novamente...não vou...- virou-se para Dumbledore, cujos olhos cintilavam - o que tudo isso significa?
- A Caverna Ravenclaw...eles conseguiram alcançá-la. Há muitos anos ningúem se atreve a tal ousadia, os centauros expulsam de lá qualquer ser humano que se aproxime...Voldemort quer a água de Avalon...isso lhe traria muito poder...mas para entrar na caverna....
- ...precisam cumprir a maldição de Rowena Ravenclaw - murmurou Lyra, compreendendo o raciocínio de Dumbledore - derramar o sangue do próprio irmão diante da caverna...- olhou para Remo, tensa - agora tudo faz sentido...Pedro sequestrou Amanda...- não conseguiu completar, os seus lábios tremiam de medo e raiva.
- E quanto ao Harry, e os outros? - Sirius perguntou, aflito.
- Não imagino o que Voldemort queira com Rony Weasley e Hermione Granger...mas todos sabem que Potter é seu alvo, e Malfoy...- Snape hesitou - talvez ele possa ter finalmente passado para o outro lado, depois da morte do pai.
- Não, isso não é verdade - Vívian, já recuperada, levantou-se repentinamente - ele jamais faria uma coisa dessas, ele me prometeu...
- Ora, não seja tola, Srta Black! O que são promessas feitas para uma garota, diante do poder de Voldemort? - o olhar inquisidor de Snape a intimidou, e quando procurou auxílio no olhar do pai, entendeu que Sirius pensava como seu professor - um dia eu também fiz um promessa Vívian, e adiantou alguma coisa? - Snape levantou a manga do braço esquerdo, e exibiu a Marca Negra para a garota.
- O Draco não tem essa marca...- disse lentamente, enjoada com aquela visão.
- Agora não é o momento para discussões inúteis, Severo - Dumbledora agia com firmeza, e aproveitando-se de sua posição, começou a dar suas ordens - Minerva, por favor ajude a Sra Black com as crianças...levem-nas para a ala hospitalar...Srta Black e Srta Weasley, voltem imediatamente para o seu dormitório, sob pena de levarem uma detenção.
- Mas diretor, o meu irmão...
- Nós vamos encontrá-lo, Srta Weasley, mas não há nada que a senhorita possa fazer...
Tanto Maryanne quanto Severinho dormiam profundamente naquele momento, em seus carrinhos, e Diana estava deitada no colo da mãe, quietinha como se soubesse que o que estava acontecendo era muito sério...mas a garotinha reagiu quando a Profª McGonagall tentou tirá-la do colo de Isabella.
- Pode deixar, professora, eu mesmo a levo...só preciso de ajuda com os bebês...vocês duas, venham nos ajudar - disse energicamente para Vívian e Gina.
Isabella deu uma última olhada ao redor da sala, e seus olhos se encontraram como os de Sirius...sabia que ele se envolveria mais uma vez diretamente na luta contra Voldemort...e sentiu medo, como jamais havia sentido antes.
Dumbledore abriu um enorme mapa sobre a mesa, com toda a área de Hogwarts, Hogsmeade e a Floresta proibida demarcada. Enquanto o examinava minuciosamente, Hagrid entrou afobadamente pela sala, seguido por Sirius.
- Despachou a coruja para o Ministério? - Dumbledore perguntou, sem tirar os olhos do mapa.
- Sim... solicitei reforços urgentes...
- Mas não poderemos esperar...Hagrid, você sabe exatemente onde fica a aldeia dos centauros?
- Eles nunca me deixaram ir até lá, diretor, por mais que eu pedisse...mas eu sei a direção em que ela fica....
- Você acha que consegue nos guiar até lá? - perguntou, incisivo.
Hagrid olhou confuso para o diretor,e depois para Sirius, Snape, Lyra e Remo. Já sabia dos desaparecimentos daquela tarde, e estava disposto a ajudar. Mas o que Dumbledore pretendia fazer?
- Vamos todos nós...vamos encontrar a caverna, e evitar que Voldemort a possua...ele não pode ter acesso à agua...
- Mas vai ser necessário que entremos na caverna...e para isso...- Lyra murmurou, apreensiva, e encarou Sirius - vamos ter que cumprir a maldição também.
- Infelizmente não há outra saída, Profª Snape - Dumbledore fez um pequeno punhal de prata aparecer em sua mão. Pronunciou algumas palavras incompreensíveis, numa língua muito antiga, e tocou a arma com sua varinha. O metal, por alguns instantes pareceu arder em chamas, e logo voltou ao normal. - A maldição só se cumprirá se o ferimento for feito com a lâmina que os antigos usavam, enfeitiçada. - Dumbledore fez um talho na palma da própria mão, e depois tocou o corte com a varinha. Nada aconteceu. - Vocês terão que decidir diante da caverna quem será ferido. Não há necessidade de um grande ferimento, mas quero que saibam desde já que nenhum feitiço irá servir para fechar o corte. Ele terá que ser curado sem magia alguma...
Capítulo 21...
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