O Fim de uma Era

A dor aguda na cicatriz persistia, mais forte, quando Harry acordou. Conforme ia abrindo os olhos, percebeu que estava num lugar completamente desconhecido, escuro e frio. Seus braços estavam amarrados nas suas costas, e o atrito das cordas em seus pulsos esfolavam a pele, provocando dor e desconforto.

Quando seus olhos se acostumaram com a escuridão, reconheceu a silhueta de Hermione à sua frente, e Rony amarrado à garota. O rapaz continuava desacordado, mas Harry viu o brilho de medo nos olhos arregalados de Hermione. Tentou mexer as mãos mais uma vez, mas os pulsos já estavam tão feridos, que ele desistiu. Ficou durante segundos encarando a amiga, até se animar a falar. Estranhamente, não estava amordaçado.

- Mione...você está bem? - sussurrou o suficiente para que ela o ouvisse.

- Estou - Hermione choramingou - Harry, onde nós estamos? O que está acontecendo?

- Não faço a mínima idéia - o rapaz fechou os olhos, a intensidade da dor aumentava a cada instante - você chegou a ver quem me estuporou? E onde está a Lilá?

- Eu não vi o que aconteceu com a Lilá, Harry...mas foi o Malfoy, quem te atacou - não havia surpresa nenhuma no tom de voz de Hermione - só que antes que eu e o Rony fizéssemos alguma coisa, também fomos estuporados...havia outros comensais...depois não vi mais nada.

Malfoy. Não era de estranhar, pensou Harry. Afinal, todos esperavam que o destino dele fosse esse mesmo, tornar-se um Comensal da Morte. Só esperava que Vívian estivesse segura em Hogwarts...e que não estivesse envolvida com toda aquela sujeira. Sentiu-se ainda pior, por não saber o que havia aocntecido com sua namorada...Um gemido de desconforto indicou que Rony também acordara. Ele ficou olhando para os lados, tentando descobrir onde estava. E antes que pudesse falar qualquer coisa, ouviram passos e vozes vindo naquela direção. Subitamente, o recinto iluminou-se com luz de tochas, e Harry , Rony e Hermione viram apavorados a figura de Lord Voldemort, seguido de alguns Comensais da Morte, entre eles Narcissa Malfoy e Pedro Pettigrew. Estavam no interior de uma gruta. Havia uma pequena fonte , da largura de um poço, e um filete de água esorria pela parede.Harry fechou os olhos com força, sentindo sua cicatriz doer terrivelmente.

- Harry Potter - disse a voz fria de Voldemort, tranquilamente - há quanto tempo...pensou que eu havia esquecido de você? Tsc, tsc...a hora do nosso acerto voltou, garoto... - sibilou, próximo ao ouvido do rapaz - eu tenho algumas surpresas para você...mas antes...Rabicho, traga os meus novos servos...

Pettigrew afastou-se, e Harry percebeu , enojado, que havia manchas de sangue nas vestes do bruxo. Pouco depois, Pettigrew reapareceu, segurando com força o braço de Draco Malfoy, que parecia resistir. Harry achou que alguma coisa não estava se encaixando...desviou o olhar para Narcissa. No entanto, a mulher parecia orgulhosa em ver o seu filho sendo tratado daquela maneira. Então, por detrás de Rabicho surgiu uma moça, os cabelos soltos, vestindo uma longa túnica. As sombras ocultavam seu rosto, mas Harry não teve dificuldade em reconhecê-la. A moça virou-se para o lado , e finalmente as tochas ilumiram o seu rosto, não havia mais a menor dúvida....Lilá Brown sorria para Harry, e fez uma reverência a Lord Voldemort.

- Gostou da surpresa, Harry? Devo confessar que você tem muito bom gosto...imagino que você deva estar imaginando o que a Srta Brown faz aqui...bem, essa é uma longa história, e ela mesma vai me ajudar a contá-la, logo, logo...antes, você vai assistir a uma cerimônia, como se vira um servo de Lord Voldemort.

Harry tremia de raiva, e se estivesse desamarrado e com sua varinha em mãos, provavelmente teria atacado Lilá, Voldemort e todos os outros...mas estava indefeso, sentia a revolta em cada parte de seu corpo.

- Você não diz nada, Harry Potter?

- Não vou perder meu tempo com você, Voldemort...

- tsc, tsc...como sempre, petulante...igual ao seu pai, um idiota que pensou que pudesse duelar comigo...

- NÃO FALE DO MEU PAI!!! - Harry gritou, tentando levantar-se, mas mais uma vez sentiu as cordas o prendendo, machucando o seu pulso.

- Não sou eu quem vai lhe dar a lição que merece, Potter...Rabicho, traga o Malfoy.

Pettigrew arrastou Draco até o centro da gruta, e soltou-o. O rapaz parecia perdido ali dentro, e olhou suplicante para a mãe. Mas a expressão de Narcissa permaneceu impassível.

- Meu caro Draco Malfoy...filho de um dos meus melhores homens...você deveria se orgulhar do seu pai, meu rapaz...Lúcio morreu defendendo a minha causa...e imagino o quão orgulhoso ele ficaria ao vê-lo me servindo.

- Eu já disse que não serei um escravo seu...- sibilou Draco, a voz tão venenosa quanto à de Voldemort.

- Ah, não? Então me prove, garoto...Imperio!

Draco sentiu toda a vontade sair do seu corpo, e sua mente estava estranhamente vazia, como se nada mais importasse...ouviu a voz de Voldemort lhe sussurrar uma ordem...Draco empunhou sua varinha na direção de Harry...- Crucio!

Harry torceu-se de dor, enquanto Rony e Hermione o olhavam apavorados. Então, subitamente Draco suspendeu a varinha, e interrompeu a tortura.

- Faça de novo! - ordenou Voldemort.

- Não faço...- murmurou fracamente - mãe, por favor...

- Um fraco...Narcissa, o seu filho é um fraco...e fracos devem morrer!

- Senhor, por favor...tenha clemência...Draco!

Voldemort sorriu sarcasticamente.

- Eu não vou matá-lo, Narcissa...talvez ele ainda tenha alguma serventia...aproxime-se rapaz...eu disse APROXIME-SE - Voldemort puxou-o com força, fazendo-o cair no chão - estique seu braço esquerdo...vamos...Rabicho, seu inútil, segure o braço dele...

Pettigrew fez o que seu mestre ordenava. E segurou com tanta força o braço de Draco que quase quebrou-o, fazendo o rapaz gritar. Então, Voldemort tocou com a varinha a pele branca do braço de Draco, e tatuou a Marca Negra.

- Pronto! Isso é para você nunca mais se esquecer de mim, meu caro Malfoy. Vai carregar a minha marca pelo resto da sua vida inútil...e dependendo do que acontecer aqui, hoje, ela não será tão longa assim. Rabicho, amarre-o firme. Agora, preciso resolver o meu assunto com o Potter...


Sirius assinou rapidamente a mensagem que havia escrito para o Ministério, amarrou-a em uma das corujas de Hogwarts, e a despachou pela pequena janela. Esperava que a mensagem chegasse o mais rápido possível, afim de lhe mandarem reforços. Sorriu tenso para Isabella, que o acompanhara até a torre.

- Bem, acho que é hora de irmos...- esfregou as mãos, nervoso - vai ficar tudo bem, Bella, eu prometo.

Mas Isabella não acreditou muito no que o marido dizia. Estava preocupada demais com a loucura que Sirius, Lyra, Snape e Remo pretendiam fazer dali a pouco.

- Será que não dá para esperar o reforço do Ministério chegar? Esperar mais um pouco?

- Eu não sei a que horas essa coruja vai chegar...e quanto tempo vão demorar para chegarem aqui, Isabella. Não, eu preciso ir...

Isabella não respondeu. Ao invés disso, começou a descer lentamente a torre de volta para o interior do castelo. Ela não sabia ao certo o que estava sentindo, se era raiva ou medo...Sirius a seguia cabisbaixo. Não queria magoá-la, mas resgatar Harry era muito mais do que uma simples obrigação ou dever de padrinho.

- Não vai acontecer nada, Bella...vai dar tudo certo...

- Como você pode ter tanta certeza? - virou-se para o marido, sentindo os lábios tremerem - Eu tenho o direito de sentir medo, Sirius...e estou certa de que se você encontrar o Pedro, não vai hesitar em segui-lo até a morte...e não adianta negar, eu vi isso estampado no seu rosto...e no do Remo também.

- Você está imaginando coisas...- disse Sirius, tentando desviar aquele assunto incômodo.

- Então negue...fale "eu não vou me vingar" - Isabella encarou-o, e Sirius permaneceu em silêncio - bem, você é quem sabe...

- Eu não vou deixar que nada me aconteça...e antes do amanhecer, eu vou estar de volta, são e salvo...eu prometo isso para você.

Não havia mais nada que Isabella pudesse fazer. Já haviam alcançado um corredor, e seguiram até a sala de Dumbledore, onde o diretor esperava por Sirius.

- Está pronto?

- Estou. - Sirius respirou profundamente - quem mais irá comigo e com a Lyra?

- Eu - todos olharam espantados para Dumbledore, mas havia tanta firmeza em sua voz, que ninguém ousou contrariá-lo - Hagrid, para nos indicar o caminho, o Profº Snape e o Profº Lupin - consultou o seu relógio - creio que já demoramos por demais, é hora de irmos...temos uma boa caminhada pela Floresta Proibida - Minerva, por favor cuide de tudo durante a minha ausência...

A Profª McGonagall concordou com um aceno, e juntamente com Isabella acompanhou o grupo até a orla da Floresta, onde Hagrid já os esperava. Dumbledore tirou do bolso o punhal enfeitiçado e fez um pequeno talho no próprio dedo, para se certificar de que a lâmina estava afiada. Isabella sentiu uma contração no estômago, e quase vomitou ao lembrar-se de que ou Sirius ou Lyra teriam que ser feridos...mas os dois irmãos pareciam resignados, e não esboçaram qualquer reação. E depois de despedir-se, o grupo penetrou na Floresta e logo sumiu de vista.


- Você deve estar imaginando o que a sua namorada está fazendo aqui, não Harry Potter? - Voldemort sorriu sarcasticamente, aproximando-se do rapaz. Harry já quase não conseguia raciocinar, tamanha era a dor que sentia na cicatriz. Mas sustentou o olhar do bruxo. - Para isso, acho interessante voltar alguns meses...pouco mais de um ano, Harry, quando você ficou terrivelmente dódoi...- Voldemort voltou-se para Narcissa - um plano brilhante, minha cara, uma pena que a idiota da Parkinson tenha se acorvadado...mas entre todas as garotas selecionadas, Lilá foi a que mais se destacou . E quando percebeu que o Ministério poderia descobri-lá, não hesitou em incriminar a amiguinha Patil....um truque antigo, não Rabicho? Mas que ainda assim, funciona....

Se não estivesse amarrada, Hermione seria capaz de lançar uma azaração em Lilá...então, todo aquele choro havia sido fingimento...olhou para Harry, mas o rapaz encarava a namorada fixamente.

- Eu não acredito que você tenha tido coragem...

- Tsc, tsc, Potter...ainda não é sua vez de falar - Voldemort aproximou-se novamente, pois sabia exatamente qual a reação de Harry - você vai ouvir a história até o fim.

- Então, de todas as garotas a Srta Brown foi a única que conseguiu manter-se a salvo. Ela estava fascinada com o pouco de poder que havia experimentado...começou a se corresponder com Narcissa, e finalmente disse que estava pronta para servir a mim...e eu comecei a articular o meu plano, lentamente. A Srta Brown se encarregou de mantê-lo o mais próximo possível...nunca lhe ocorreu o que havia na sua bebida naquela festa ? Uma pequena dose de uma poção Sedutora...

Harry olhou para Lilá como se não acreditasse em tudo o que estava ouvindo...sentia-se traído, enganado...então tudo o que havia entre eles era apenas mentira, nada mais?

- Agora você deve estar se perguntando porque eu me interessei tanto por esse "namoro"...para isso, eu preciso lhe contar algo que tem me chateado muito, Potter...depois de anos de pesquisa, descobri que não há mais nada que possa substituir a pedra filosofal...aquela mesma que Dumbledore destruiu...e isso complicou muito a minha busca pela imortalidade...mas me lembrei dessa caverna, e da água poderosa que ela guardava, a água do Poço Sagrado de Avalon. Ela me dará forças para viver centenas de anos, mas não me garantirá uma vida imortal. Então decidi que precisava de um herdeiro, alguém em cujas veias corresse o sangue de Slytherin.

Voldemort fez uma pausa, e voltou a olhar fixamente para Harry.

- Infelizmente não tive nenhum herdeiro, e este corpo que eu consegui, Potter, me impossibilita a reprodução tal como a entendemos...mas eu conheço um antigo feitiço que me garantirá a minha continuidade no mundo...e para isso só precisava de um casal jovem e virgem...e isso a Srta Brown conseguiu garantir - Voldemort sorriu sarcasticamente para Lilá - o que parece que não foi muito fácil...

Os Comensais presentes deram risadinhas maliciosas, e Harry percebeu que sentia vergonha. Era humilhação demais ter suas intimidades tão expostas, e justamente por quem?

- Acho que é hora de começarmos...Srta Brown, por favor...

Lilá aproximou-se de Voldemort, e esticou a mão para o bruxo, que fez um pequeno corte, deixando o sangue escorrer para dentro de um cálice. Em seguida, repetiu a operação com o seu sangue.

- Agora só falta você, Harry Potter.

Harry tentou reagir quando Voldemort aproximou-se, agarrando o seu braço, mas não pôde evitar que o bruxo fizesse um profundo corte, e colhesse o seu sangue também. Pela segunda vez, estava sendo usado para mais um ritual de magia negra.

Voldemort segurou o cálice como se aquilo fosse a coisa mais preciosa do mundo. Colheu um pouco da água que escorria pelas paredes, e a acrescentou à mistura de sangue. Adicionou ainda outros ingredientes estranhos, que Harry jamais vira em uma aula de Poções. Quando tudo parecia estar finalizado, Voldemort tocou o cálice com a varinha:

- "Que por essa poção, eu possa transferir o sangue do grande Slytherin para o ser gerado esta noite. Eu, Voldemort, o consagro desde já para os poderes das Trevas, e o destino para continuar a minha obra e eliminar do mundo os trouxas e sangue-ruins."

A poção chiou, e uma sombra escura saiu da varinha de Voldemort, escurecendo por alguns instantes a caverna. Em seguida, a sombra transformou-se numa fumaça negra, e foi sugada pelo cálice.


Os centauros sabiam que algo muito perigoso estava acontecendo naquela noite, na caverna que guardavam há mil anos. Aquele local era amaldiçoado, e nunca nenhum homem tentara entrar ali. Mas naquela noite, ao observarem as estrelas, compreenderam que muitos entrariam na caverna...e nem todos sairiam dali.

Se estava escrito nas estrelas que o bruxo mais temido de todos os tempos conseguiria entrar na caverna, os centauros nada puderam fazer para evitá-lo. Estavam encarregados de vigiar o local, mas não podiam mudar o futuro...e assim viram a maldição ser cumprida, quando um homem baixo e careca esfaqueou a própria irmã diante da caverna, derramando o seu sangue, e possibilitando a entrada dos bruxos .

Agora outro grupo se aproximava dali...e os centauros sabiam que aquelas pessoas também tentariam entrar na caverna. E também não seriam impedidos...

Hagrid vinha a frente do grupo, e logo avistou Firenze, o mais jovem dos centauros.

- Firenze, como vai? - disse, amistoso.

- Procura o caminho para a caverna? - perguntou, deixando Hagrid desconcertado - e só seguir alguns metros por esta trilha. Você não é o primeiro a passar por aqui hoje, Hagrid.

- E quem passou por aqui? Você-sabe-quem? E você o deixou passar?

- Não podemos mudar o que está escrito nas estrelas...

- Mas...mas o que vai acontecer?

- Vá e veja você mesmo...- o centauro disse, afastando-se.

Dumbledore aproximou-se de Hagrid.

- Você já devia saber que não conseguimos extrair muitas informações dos centauros...mas pelo menos estamos na pista correta...

A cada metro que avançava, Lyra sentia-se mais e mais apavorada. Adiantou-se a frente de Sirius, Remo e Severo, e caminhou pela estreita trilha ao lado de Hagrid e Dumbledore. Vinha cabisbaixa, pensando como tivera coragem de deixar seu bebê em Hogwarts, e se aventurar daquela forma na Floresta...mas havia a maldição da Caverna, precisavam de dois irmãos...

E Lyra foi a primeira que avistou Amanda caída próxima à entrada da caverna. Correu desesperada, mas sua angústia só aumentou quando percebeu que nada podia fazer pela amiga. Amanda estava semi-consciente, mas reconheceu Lyra, que tentava erguer sua cabeça. Mas havia um enorme corte no pescoço de Amanda, por onde escorria sangue. Lyra tentou estancar a hemorragia, mas o seu desespero era maior que a vontade de salvar a amiga.

- Ly...a...a Maryanne...

- Ela está em Hogwarts, com a Isabella...fica quietinha, não fala nada...

- Não...adianta...- Amanda segurou firmemente o pulso de Lyra - me perdoe...por favor...aquele dia...achei que ele estava morto...

- Eu já esqueci isso...- Lyra firmou os olhos na escuridão. Dumbledore e Hagrid já estavam próximos, mas ainda não havia sinal dos três homens.

- Não esqueceu...- Amanda sorriu tristemente - mas a minha filhinha...Lyra...me prometa...

- Eu não vou prometer nada, Amanda, porque não vai acontecer nada, entendeu? Você vai voltar para sua casa...para a sua filha...e você e o Remo vão se casar...Amanda, pelo amor de Deus...Remo!! - Lyra soluçava desesperada, e sentiu o braço forte de Hagrid puxando-a.

- Pobre garota...- murmurou Hagrid, desconsolado.

Remo despontou à frente de Sirius e Snape. Vinha correndo, atraído pelo grito de Lyra. Mas nada o havia preparado para encontrar Amanda já morta. Lyra jamais vira tamanha expressão de fúria no rosto de Remo. Não havia qualquer sinal do homem calmo e sereno que ela conhecia.

- Maldito...-sussurrou, depois aumentou o volume da voz, totalmente desequilibrado - Maldito seja, Pettigrew...

- Remo, por favor...tente se controlar - Dumbledore tocou o ombro do professor, mas este abaixou os olhos.

Finalmente Sirius e Snape juntaram-se ao grupo. Era um quadro desolador, o corpo de Amanda caído ao chão, o sangue misturado à terra...os olhos de Remo e Sirius se encontraram, e houve um entendimento comum, mesmo sem palavras...

- Já não há mais nada que podemos fazer pela Amanda...mas precisamos entrar logo nessa caverna...- Dumbledore alertou, preocupado.

- Então vamos entrar logo nessa merda, eu preciso achar o Pettigrew para fazê-lo em pedacinhos - Remo adiantou-se, com fúria, mas esqueceu-se que a entrada já estava bloqueada novamente...e com um forte tranco, foi atirado para trás. Sirius ajudou-o a levantar-se, e olhou preocupado para o amigo.

- Você precisa se acalmar, Remo...não sei como, mas vamos precisar ter muito sangue-frio...

- Sirius...Lyra...acho que já é hora...- havia muita tensão na voz de Dumbledore - vocês sabem o que devem fazer- disse, entregando o punhal para Sirius. Este hesitou por alguns instantes com a arma em mãos. Lyra abaixara os olhos, e já arregaçara a manga do braço esquerdo, quando sentiu que Sirius segurava firmemente o seu pulso, forçando-a a pegar o punhal.

- Eu não teria coragem de lhe ferir, Lyra, nem que fosse mesmo um arranhão...

- E o que te faz pensar que eu terei coragem? - sussurrou, desesperada.

- Você vai conseguir - Sirius afagou o rosto da irmã com carinho, e levantou a manga de suas vestes. Por alguns instantes, a mão de Lyra ainda tremia, mas segurou com firmeza o braço do irmão na altura do cotovelo. Respirou fundo, e finalmente conseguiu fazer com que a lâmina penetrasse na pele de Sirius, fazendo um profundo corte...este mordeu os lábios para não emitir nenhuma reação à dor que sentia, e sem perder tempo, deixou o seu sangue escorrer livremente na frente da caverna, fazendo uma nova poça viscosa.

Uma estranha luz prateada surgiu na entrada da caverna, e depois espalhou-se por toda a área ao seu redor. Sombras se moveram na noite, e eles puderam ouvir claramente o som de um duelo de espadas...e por alguns instantes, surgiu a imagem embaçada de uma mulher de meia-idade, com longos cabelos negros caídos pelos ombros...

- Rowena Ravenclaw...- Dumbledore murmurou, espantado.

Aquela visão durou poucos segundos, mas foi o suficiente para deixarem todos espantados e fascinados ao mesmo tempo...mas Dumbledore, prudentemente, apressou a todos.

- Temos pouco tempo...vamos...

Lyra hesitou em entrar na caverna. Snape chamou-a, oferecendo a mão para ajudá-la na descida, mas a esposa recusou.

- Eu não vou...vou ficar...esperar o ministério...

- Você tem certeza? - Sirius perguntou, preocupado.

- Vão, andem logo...eu vou ficar bem...

- Mas...- Snape hesitou. Lyra estava com os nervos à flor da pele, não seria seguro deixá-la sozinha...- Hagrid - gritou para o guarda-caça, que começava a descida - você não quer ficar com a Lyra?

- Eu não preciso de ninguém...

- É lógico que precisa...- Hagrid já voltava, e Snape respirou aliviado - você vai ficar com o Hagrid, e nos esperar...e eu te amo...

Os homens desceram pela caverna, e Lyra e Hagrid voltaram para o ponto onde se encontrava o corpo de Amanda. Hagrid tirou o seu enorme casaco de toupeira, e carinhosamente cobriu-o, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Lyra sentou-se numa pedra, e finalmente conseguiu dar vazão à toda angústia que sentia, chorando como uma criança.


Voldemort oferceu o cálice para Lilá, que bebeu todo o seu conteúdo sem hesitar. Em seguida, aproximou-se de Harry, deixando a sua túnica cair no chão.

- Agora só falta você, Harry - disse, desamarrando-o. Se fosse apenas um dia atrás, Harry não hesitaria nem um instante em tomá-la nua em seus braços, mas agora sentia um nojo daquela garota, que sua vontade era esbofeteá-la. Qaundo Lilá tentou beijá-lo, Harry aproveitando que estava livre, empurrou-a contra a parede.

- O que você pensa que eu sou? Um fantoche? - disse, com raiva. Rabicho, alerta, agarrou o rapaz novamente, enquanto Voldemort aproximava-se com outro cálice em mãos.

- Eu esperava que isso poderia acontecer, Potter...não adianta se revoltar, garoto. Acho melhor você fecundar a garota...você vai morrer de qualquer jeito...pelo menos você não morrerá virgem...- dizendo isso, virou a poção na boca de Harry, fazendo-o engolir todo o líquido.

Harry sentiu o seu corpo livre, completamente solto no mundo. Era a mesma sensação que lhe dava a maldição Imperius, porém muito mais forte...agora, seu pensamento estava voltado apenas para a garota nua à sua frente. Enlaçou-a com força, beijando os seus lábios como jamais havia feito antes...tocava-lhe todas as partes do corpo...deitou-a no chão, e agora ele sabia exatamente o que precisava fazer...

Um forte estampido ecoou em toda a caverna, fazendo a caverna tremer . Harry sentiu como se estivesse acordando de um pesadelo...e ouviu uma voz forte, uma voz que conhecia muito bem...

- Riddle !! - bradou Dumbledore, do alto da câmara onde se encontravam. Voldemort surpreendeu-se com o aparecimento repentido do seu antigo mestre, e não reagiu a tempo. Num salto, espantoso para um homem idoso, Dumbledore se pôs a frente de Voldemort, e conjurou um campo de força, isolando-os dos demais. Enquanto isso, Sirius, Snape e Remo estuporavam os Comensais que se colocaram em seu caminho...Pettigrew conseguiu transformar-se em rato, escapando por entre as pernas dos homens...mas Sirius acompanhou seus passos, e como cão seguiu o seu rastro. Snape conseguira dominar Narcissa, que se debatia desesperada. O professor não teve outro jeito senão estuporá-la. Já não havia mais nenhum comensal ali...somente Pettigrew conseguira escapar.

Snape e Remo aproveitaram a vantagem para desamarrar Rony, Hermione e Draco, enquanto Harry, já refeito da poção, segurava Lilá pelo braço.

- Ela também é um deles...- disse, descontrolado, entregando-a para os professores. Remo a olhou com uma certa piedade, e pegou a túnica que Harry lhe entregava.

- Vista-se. - e quando Lilá já havia se coberto, Lupin amarrou-a sem emoção. - Eu vou atrás do Sirius...- disse, e sumiu por um dos corredores que haviam naquela caverna.

- Onde está a varinha de vocês? - Snape perguntou, ríspido.

- Está com ela, professor...- disse Draco, apontando para a mãe, e em cada palavra havia ressentimento.

Snape devolveu as varinhas para os quatro alunos, e ordenou que ficassem o mais longe possível de Voldemort e Dumbledore...

Os dois bruxos mais poderosos do mundo continuavam isolados no campo conjurado por Dumbledore. E, aos poucos levitaram, ficando três metros acima dos outros. Harry olhou entre fascinado e assustado para a cena que assistia...mais uma vez, compreendeu porque Voldemort temia Dumbledore...os dois bruxos mediam forças, trocando os mais complexos feitiços de ataque...

Num golpe de sorte, Voldemort conseguiu distrair Dumbledore, quebrando o campo que os isolava. Os dois despencaram três metros, mas continuaram em pé...Snape e os quatro jovens colocaram-se em posição de alerta, ao redor do diretor...varinha contra varinha, Dumbledore e Voldemort encaravam-se com fúria e ódio, e sabiam que seria tudo ou nada...e quando o Lord das Trevas levantou a sua varinha e desferiu a pior das Maldições Imperdoáveis, sabia que aquele seria também o seu fim...eram seis varinhas contra uma...e um jorro intenso de luz verde inundou toda a caverna, fazendo as pedras das paredes começarem a rolar e o chão tremer...uma nuvem de pó tomou conta do ambiente...e segundos depois tudo voltou ao normal.

Harry encarou um a um, e depois para o chão, onde jaziam os corpos de Dumbledore e Voldemort...o pavor ainda estava estampado nos rostos de Draco, Hermione e Rony, e também deveria estar no seu...olhou para os corpos sem acreditar no que acontecera...sentiu um travo na garganta, e deixou que as lágrimas escorressem pelo seu rosto, sem nenhum constrangimento. Prefiria mil vezes que Voldemort continuasse vivo, se disso dependesse a vida de Dumbledore...

Snape adiantou-se ao grupo, e sem dizer palavra alguma, aproximou-se do corpo de Dumbledore, fechando os seus olhos.

- Acabou-se, professor...- disse, com a voz trêmula - está acabado...


Sirius seguia o rastro de Pettigrew rapidamente, em sua forma canina. Não fazia idéia do que estava acontecendo do outro lado da caverna, nem que Remo viera em seu encalço. Apenas sabia que queria pegar aquele rato..."Isabella tinha razão", pensou Sirius, amargurado " ela me conhece melhor do que eu imaginava...". Sentiu um arrepio frio na espinha quando finalmente encontrou o rastro de Rabicho. Ele estava em algum ponto, muito próximo dali...

- Estava a minha procura, Sirius? - falou uma voz esganiçada, logo atrás.

Quando Sirius virou-se, Pettigrew o encarava com um ar de deboche na cara. O clima era tenso, e lembrava exatamente o dia em que Rabicho simulara a própria morte...mas agora Sirius não iria deixá-lo levar a melhor...hesitou com a varinha em mãos, sentindo todo o ódio fazer tremer o seu corpo.

- Expeliarmus!! - Pettigrew fora mais rápido, e aproveitando-se da hesitação de Sirius, desarmara-o.

Enfurecido, e sem raciocinar, Sirius lançou-se sobre Pettigrew, esmurrando-o com o braço que não estava ferido. Empurrou-o com força contra a parede, tentando a todo custo pegar sua varinha de volta...

A dor lancinante que sentiu em sua perna fez Sirius largar Pettigrew, e cambalear para trás, encostando-se na outra parede da caverna...e a sua frente o rosto vitorioso do traidor, segurando o mesmo punhal com que assassinara a própria irmã, agora encharcado do sangue de Sirius.

- Estupefaça!! - Sirius viu Remo aparecer praticamente do nada - o que esse desgraçado fez com você?

- Na-nada - sua voz tremeu, e tentou não se apavorar ao ver a hemorragia provocada pelo ferimento - eu tô legal.

Mas Remo já não ouvia mais Sirius. Reanimara Pettigrew, e agora o tinha bem seguro diante de si, completamente desarmado. Devolveu a Sirius sua varinha, e voltou-se para Rabicho.

- Nós te demos uma chance, seu traidor filho da %#@*&#...mas agora...não há ninguém aqui para salvar a sua pele...

- Você pensa que eu tenho medo de você, seu lobisomem...

- Cala essa sua boca imunda...- Remo tremia - você não tem noção de tudo o que você fez? Você matou a sua irmã...- apontou a varinha para Pettigrew - você não merece clemência...

Juntando todas as forças que tinha, Sirius levantou-se e segurou a tempo o pulso de Remo.

- Da última vez íamos fazer isso juntos...- olhou com desdém para Pettigrew - vamos fazer juntos...pelo Tiago...pela Lílian...e pela Amanda...

- Avada Kedavra!!!!!

Pelo resto de sua vida, Sirius jamais se esqueceria do último olhar de Pedro Pettigrew antes de morrer pelas mãos daqueles que haviam sido seus únicos amigos, numa época já remota...era medo, pavor...mas em nenhum instante emitira qualquer sinal de arrependime

- Acabou-se...mas a que preço? - Sirius olhou agoniado para Remo - nos transformamos em assassinos...

- Nós ainda vamos ter muito tempo para se arrepender...vamos embora, Sirius...eu acho que alguma coisa aconteceu...- Sirius apoiou-se no ombro de Remo, e lentamente começaram a procurar a saída da caverna. Ainda olhou para trás, onde o corpo de Pettigrew estava caído...


Praticamente todos os aurors do Ministério foram para a Floresta Proibida, Danny McKinnon entre eles. Desde a morte de Lúcio Malfoy, a auror fora mantida longe de qualquer ação, por questões de segurança. Mas naquela noite, era a única pessoa de plantão em Londres que poderia chefiar um destacamento até Hogsmeade. E não hesitou nem um minuto quando recebeu a mensagem de Sirius.

Quando Sirius e Remo finalmente saíram de dentro da caverna, havia tanta gente que por alguns instantes ficaram tontos, tentando compreender o que acontecia...

- Eu pensei que vocês não fossem voltar - a voz de Lyra ecoou esganiçada, e a moça aproximou-se, ainda apavorada - onde vocês se meteram?

- Depois nós respondemos a sua pergunta, Lyra...eu preciso de uma maca, urgente.

Só então Lyra percebeu que Sirius mal se aguentava em pé, e conjurou rapidamente uma maca para o irmão.

- Quem te fez isso? - perguntou, mas já sabendo a resposta - o que vocês fizeram?

- Depois eu conto tudo...eu quero saber do Harry...Harry! - chamou, aflito, enquanto procurava uma posição confortável para ficar.

O rapaz aproximou-se, ainda chocado com tudo o que acontecera...mas sorriu ao ver que o padrinho estava a salvo.

- Você está bem? - Sirius perguntou, preocupado. - Aconteceu alguma coisa com você...Harry, eu não entendi muito bem o que estava acontecendo naquela caverna...e você está sangrando - disse, apontando para o braço do afilhado - e o que houve depois que eu saí?

- Vai ser uma longa história, Sirius...eu não sei dizer se eu estou realmente bem...Voldemort está morto...- Harry abaixou os olhos, amargurado - e Dumbledore também...

Sirius fechou os olhos, amargurado. Voldemort fora derrotado, mas antes conseguira fazer seu último estrago...no dia seguinte, todos os jornais estampariam a grande notícia, exatamente como acontecera dezessete anos atrás...mas a qual preço? Morte de pessoas queridas?

Naquele momento, Sirius já não conseguia mais raciocinar, e ficou aliviado quando Danyela tomou as rédeas da situação e deu ordens para regressarem o mais depressa possível para Hogwarts. Uma sensação de tranquilidade tomou conta do seu corpo durante todo o caminho de volta, e adormeceu num sono profundo e confortável.


Hogwarts amanheceu em silêncio, num sinal de respeito pela morte de Dumbledore. O café da manhã fora servido diretamente nas casas, e a professora Minerva deu ordens expressas para nenhum aluno sair de sua respectiva sala comunal. Havia muito o que ser feito durante todo aquele dia, mas ela não sentia o menor ânimo. O fato de ter que manter o pulso firme, e não demonstrar a sua tristeza, a torturava, mas essa atitude era necessária para manter a ordem no castelo.

Arabella Figg chegou logo pela manhã ao castelo, já ciente de todos os acontecimentos daquela noite. Apesar do cansaço reinante em todos os envolvidos, não hesitou em passar praticamente o dia inteiro interrogando-os, juntando todas as peças do quebra-cabeças. Só não ousara incomodar Sirius, que ainda dormia na ala hospitalar.

Olhou um a um os envolvidos : Harry, angustiado e exausto, lembrou-lhe Tiago, quando voltava de suas missões...Rony e Hermione, meio deslocados , haviam entrado de gaiato naquela história...Lyra provara que não era mais uma garotinha, como ainda gostava de agir e Snape mostrara toda a lealdade que possuía por Dumbledore...e Remo estava fora de órbita...a respeito da morte de Pettigrew, não conseguira explicar a história com clareza suficiente...

- Bem...vocês estão dispensados, e eu lhes recomendo umas boas horas de sono, e uma refeição reforçada. Eu não posso deixar de me alegar com a morte de Voldemort, mas também sinto enormemente a perda de Dumbledore...ele também foi meu professor, e muito do que sou hoje, eu devo a ele...Minerva, agora precisamos conversar sobre a sua posse...

A professora concordou, desanimada. Não sabia se estava preparada para assumir a diretoria de Hogwarts.


Isabella passou a noite toda em claro, preocupada demais com Sirius para dormir. Quando o viu chegar, desmaiado numa maca teve a clara impressão de que seu marido estava morto. Madame Pomfrey logo a tranquilizou, enquanto verificava a extensão do ferimento.

- Vou ter que tratá-lo como trouxa, mas não tem problema, Sra Black...tudo vai ficar bem...

Tudo vai ficar bem...era difícil para Isabella acreditar nisso, depois de tudo o que acotecera...a morte de Dumbledore afetara a todos em Hogwarts, e o clima de tristeza era reinante no castelo. Mas Isabella ainda não conseguira se conformar com a atitude de Sirius, embora ela tivesse certeza de que ele iria atrás de Pettigrew...e esse fora o resultado: arriscara a vida à toa, por uma pessoa que não valia nada, um traidor...

Não havia mais ninguém na ala hospitalar. Harry e os garotos estiveram ali logo quando chegaram, ainda de madrugada, mas agora já estavam recolhidos à suas casas. Isabella achou bom o silêncio. Não se sentia animada para conversar com ninguém. Da janela da enfermaria observava os jardins do castelo, com saudades da época em que era apenas uma adolescente, e considerava a escola sua segunda casa.

- Bella...

A mulher voltou-se para a cama, e verificou que Sirius acaba de acordar. Aproximou-se lentamente, exausta depois de uma noite de vigília.

- Faz tempo que você acordou?

- Só o suficiente para admirar você de longe...eu já te disse hoje que você está linda? - falou, quase sussurrando, mas mesmo assim sorrindo - você vai me perdoar?

- Eu acho que você precisa descansar - Isabella respondeu, ajeitando os lençois, tentando evitar o olhar de Sirius - mais tarde nós voltamos a conversar...

- Eu sei que cometi o maior erro da minha vida...mas eu preciso do seu apoio, Isabella...é você quem me dá forças...

- Por favor, não diga mais nada - ela aproximou-se mais ainda da cama, e seus rostos ficaram a poucos centímetros de distância - eu só preciso que você me prometa...que jure que nunca mais vai se meter numa enrascada...por mim e pelas crianças...

- Eu juro...- Sirius puxou Isabella para mais perto de si, e os dois beijaram-se, deixando as lágrimas se misturarem - eu te amo...


Todas as atividades de Hogwarts foram suspensas naquele fim de semestre. McGonagall cancelou todos os exames e a final do Campeonato de Quadribol. Isso gerou protestos em alguns alunos, mas no fundo Harry respirou aliviado: não estava em condições de jogar.

Sem ter muito o que fazer, Harry aproveitou aqueles últimos dias em Hogwarts para matar as saudades que sabia que iria sentir. Rony e Hermione estranharam no início aquele isolamento do amigo, mas Harry deixou bem claro que sentia-se melhor assim. Evitava lembrar-se daquela noite: a imagem de Dumbledore morto ainda persistia em sua mente.

Gastava a maior parte do tempo com Hagrid, talvez a pessoa de quem mais fosse sentir falta quando terminasse a escola. Eram as melhores horas do dia, enquanto brincava com Canino, e tentava comer um dos terríveis biscoitos feitos pelo amigo. Nessas ocasiões, Rony e Hermione o acompanhavam, e os quatro relembravam as melhores histórias daqueles sete anos de convivência. Aos poucos, o guarda-caças se recuperava da perda de Dumbledore, mas sempre que podia, contava aos garotos algo sobre o diretor.

- O Harry já te contou a novidade, Hagrid? - comentou Rony, empolgado, numa daquelas tardes.

- Qual novidade?

- Eu recebi um convite...do Pudlemore United para ser o apanhador do time júnior...

- Harry!! Por Merlin, você está falando sério? Mesmo? - Hagrid abraçou-o, quase quebrando as costelas do rapaz - seu pai ficaria orgulhoso de você, Harry - disse emocionado.

Mas nem só Harry recebeu boas notícias naqueles dias. Pouco antes do fim das aulas, Hermione fora chamada à sala de Lyra. A professora a esperava ansiosa, segurando uma carta nas mãos.

- Você conseguiu, Hermione...

- O quê? - perguntou, surpresa.

- Lembra-se que eu lhe disse se interessava a você uma vaga na Universidade Mágica de Boston?

- Lembro...mas professora, eu lhe disse que iria ficar muito caro...

- Eu sei disso, Hermione...mas eu escrevi uma longa carta para o reitor da universidade, expliquei como você é inteligente e aplicada, a melhor aluna de Hogwarts...e você conseguiu uma bolsa de estudos, Hermione. É uma chance que você não pode perder.

Hermione olhou perplexa para a professora, sem acreditar no que ouvia.

- Quer dizer...que eu vou poder estudar de graça? Mas isso é maravilhoso...eu...não sei nem como agradecê-la, professora.

- Você merece, Hermione. E não precisa mais me chamar de professora...apenas Lyra, ok?


Era o último dia em Hogwarts. Harry aproveitou para dar um último vôo no campo de Quadribol. Pelo menos enquanto voava, esquecia-se de seus problemas. Naquelas duas últimas semanas, tentara pensar o menos possível em Lilá, e em sua traição...mas havia horas em que era impossível, e sentia raiva de si mesmo por ter sido tão estúpido.

Do alto de sua vassoura, viu Sirius aproximando-se do campo lentamente, ainda mancando. Harry lembrou-se dos filmes de guerra que assistia quando era criança, quando os heróis voltavam para casa feridos...

Deu dois loopings no ar, antes de pousar ao lado do padrinho, que sentara-se nas arquibancadas, e o observava atentamente.

- Você é sempre tão exibicionista assim, ou é só por que eu estou aqui? - perguntou, divertido.

- Você não devia estar lá dentro, descansando? - retorquiu Harry, no mesmo tom do padrinho.

- Estou cansado de ficar deitado...e já não chegam a Lyra e a Isabella dizendo o que devo fazer - o semblante de Sirius voltou a ficar sério - eu estou preocupado com você, Harry.

- Eu estou bem, Sirius...de verdade - Harry sabia que não estava sendo convincente - eu vou ficar legal.

- Eu sei disso...mas eu só quero que você saiba que qualquer coisa que você precisar, eu estou aqui.

- Obrigado. - os dois permaneceram algum tempo em silêncio - eu não sabia o que estava fazendo, quando vocês chegaram na caverna...eu quase...bem, você sabe...qual teria sido a consequência, Sirius?

- Não sei bem ao certo...uma espécie de demônio, talvez. Mas não se atormente por causa disso. Você estava enfeitiçado, não sabia o que estava fazendo.

- E o que vai acontecer com ela? - perguntou, angustiado.

- Ainda não sei...ela está presa em Londres. Assim que eu voltar para as minhas atividades, é que eu vou saber. A única providência que eu tomei em relação a esse caso foi mandar soltar Parvati Patil.

- Eu não acredito ainda que a Lilá teve coragem...isso me revolta demais...

- Não é fácil descobrir que alguém que nós gostamos é um traidor, Harry. Mas transforme essa revolta em algo produtivo, e tente não alimentar mais raiva. É só o que posso lhe dizer.

Do outro lado do campo, vinham caminhando Vívian e Draco, abraçados. Harry percebeu como Sirius ficara tenso, e resolveu deixar os três a sós. Eles também tinham muito a conversar.


O Salão Principal estava de luto quando os alunos entraram para a festa de fim de ano. Na verdade, não haveria festa, em respeito à memória de Dumbledore. Mas o ministério preparara uma cerimônia especial para a posse de Minerva McGonagall como diretora de Hogwarts.

Ao assinar um enorme livro negro, Minerva já estava empossada. Em seguida, levantou-se e dirigiu-se a todos os presentes, alunos, professores e ao Ministério.

- Primeiramente, digo a todos que assumo hoje Hogwarts contra a minha vontade. Não era assim que eu imaginava a sucessão de Dumbledore. Nós últimos anos, ele vinha me preparando para ser diretora, quando ele se aposentasse...infelizmente, isso não aconteceu. Mas quero deixar bem claro que vou seguir a risca tudo o que aprendi com ele. Assim como vocês - dirigiu-se aos alunos - eu também fui aluna de Alvo Dumbledore. Hoje, vamos todos erguer nossas taças em sua memória, e espero que vocês sigam o exemplo do diretor.

McGonagall ergueu sua taça, e todos os alunos, sem exceção, também ergueram, e numa só voz disseram, emocianados:

- À Alvo Dumbledore!

- Gostaria de aproveitar o momento e nomear o Profº Severo Snape como o novo vice-diretor de Hogwarts e o Profº Remo Lupin o novo diretor da Grifinória.

Na mesa das duas casas explodiram palmas, comemorando as nomeações. Mas, fora a Sonserina, nenhuma das outras casas gostaram muito de ter Snape como vice-diretor.

- Ainda bem que estamos caindo fora - comentou Rony - já imaginaram, o Snape, vice-diretor? Agora sim ele vai se achar o máximo...

Harry não respondeu. Haviam passado por tanta coisa, que sua antipatia pelo professor quase que desaparecera. Mais uma vez, olhou para a mesa dos professores, e seu olhar se cruzou com o de Snape. Se não havia simpatia entre os dois, pelo menos o rancor ficara para trás.

Os alunos do sétimo ano receberam seus diplomas, e logo depois teve início o jantar. Só por volta da meia-noite o salão começou a se esvaziar. Quando já estava próximo da porta, Harry cruzou com Draco e Vívian. E para sua surpresa, Malfoy não fizera as piadas de sempre.

- Quem diria, não Potter? Finalmente formados...

- Pois é...quem diria... - Harry não soube o que dizer.

- Então até qualquer dia...não vou ser hipócrita o suficiente para dizer que sentirei sua falta...mas enfim...

- Não se esqueça que eu moro na mesma casa que a Vívian, Malfoy - respondeu, quase divertido - boa-noite para vocês.


O Expresso de Hogwarts partiu na manhã seguinte, e aquela parecia mais uma viagem de volta para casa...mas Harry sabia que era a última vez que viajaria naquele trem como aluno. Tinha um diploma na mala atestando que ele era um bruxo formado, apto para exercer magia fora de Hogwarts. Ao mesmo tempo em que se sentia aliviado, ficava perdido ante a expectativa da sua nova vida. Vida de adulto.

Rony e Hermione discutiam ardentemente sobre a partida dela para os EUA em Setembro. O namorado não aceitava de forma alguma que Mione fosse viver em outro país, mesmo sabendo que era o sonho dela continuar a estudar, se tornar pesquisadora...

Harry não dava ouvidos à discussão dos amigos. Ainda não se dera conta que dali para a frente tudo seria diferente. Cada um seguiria o seu caminho, não se veriam mais todos os dias. Mas sabia que a amizade continuaria, para sempre. Tudo o que haviam feito juntos, naqueles sete anos serviram para fortalecer os laços que os uniam.

Olhou mais uma vez pela janela, e viu pela última vez as torres do castelo, destacando-se na paisagem. Só então percebeu que seus amigos estavam ao seu lado...os três jovens deram-se as mãos e permaneceram um longo tempo em silêncio...não precisavam de palavras para expressar o que sentiam.

Epílogo...

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