(Rurouni Kenshin e Neon Genesis Evangelion Crossover)
por Tomoe Ayanami e DarK Rei
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Palavras para evitarmos processos judiciais:
Basicamente todos os personagens pertencem a Nobuhiro Watsuki, Gainax, Yuu Watase e seus respectivos distribuidores. Siim, estamos usando estes personagens sem a permissão dos autores. Este fic não tem fins lucrativos. (u.u") Maaas, interessados em depositar dinheiro na minha conta bancária me mandem e-mails ^.~
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"O cheiro de sangue e o perfume de ameixas brancas... isso realmente está me perturbando demais..." - Himura Kenshin, manga. Ato 168 - Yukishiro Tomoe.
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[Capítulo 3 – Pasiphae]
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Misato Katsuragi havia acabado de empilhar seus papéis e agora saía da sala de aula, seguindo o trajeto de seus alunos – ou a maioria deles – para a biblioteca. Andando pelo corredor, parou ao passar por uma grande porta cinza. Com dificuldade, conseguiu livrar uma das mãos do material que carregava e girou a maçaneta. Assim que entrou na sala dos professores, ouviu uma voz firme chamá-la.
'Seijuuro-sensei.' Não era difícil distinguir aquele tom de voz. Deixando as folhas e livros sobre uma mesa, ela respondeu ao professor coordenador. "Ah... Seijuuro-sensei! Não sabia que o senhor ainda estava aqui." Ela levou a mão à cabeça, com um sorriso forçado. 'Meu Deus... Esse homem quase me mata de susto...'
"A senhorita pode me dizer aonde seus alunos estavam indo? Eu os ouvi passando pelo corredor." Disse Hiko, sem olhar diretamente para ela, escrevendo em alguns papéis e mantendo seu semblante sério e compenetrado.
"Ah... Vamos ter aula na biblioteca... Para pesquisar." Respondeu Misato, já recuando para a porta.
"Hm. Mas vou adverti-la que o atual 3G é a pior turma da história desta escola. A senhorita deverá tomar muito cuidado." O homem ergueu brevemente os olhos para fitá-la, desviando-os em seguida para a mesa de trabalho.
"Seijuuro-sensei. Eles são jovens, é normal haver esses atritos, mas não acho que seja motivo para tanta preocupação. Eles me pareceram bem comportados, até!"
"Todos são, até que o professor acredite neles." Resmungou o homem. "Não confie tanto no 3º G."
"... Ah... Eu... vou indo... Com licença." Misato deu um passo e estava novamente no corredor. Respirou fundo e relaxou o corpo, apoiando as costas na parede fria. 'Nossa... Eu ouvi muitas coisas sobre essa turma, mas... Não pode ser... Eles não podem fazer grandes males.' Katsuragi-sensei desceu as escadas para encontrar sua turma na biblioteca. Mal sabia ela que, dias depois, estaria engolindo estas palavras.
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"Você tem algum problema?!?" Soava irritada a voz de Asuka. "Mein Gott! Como não consegue achar um livro?!" A garota estava de pé ao lado de uma das incontáveis prateleiras da ampla biblioteca. Agachado na sua frente estava seu colega, Suzuhara, com uma expressão nada contente.
'Não, Touji... Você não deve bater em mulheres... Controle-se...' Repetia ele para si mesmo, enquanto cerrava os punhos com força. O jovem tentava permanecer concentrado na sua tarefa, mas a voz da garota ruiva estava dando nos seus nervos.
Kensuke também procurava os livros necessários para o trabalho, do outro lado da estante onde estavam Touji e Asuka. Ele podia pressentir que seu amigo não ia agüentar muito tempo naquelas condições. Arrumando os óculos, ele respirou fundo, preparando-se psicologicamente para entrar em conflito com uma jovem muito intimidadora.
"Vocês sabem que eu não estou aqui por que quero! Então, pelo menos, sejam úteis uma vez na vida! Andem logo com isso, que eu já estou enjoando da cara de vocês..." Falou Asuka, passando a mão pelos cabelos e mostrando um olhar de desprezo.
'Argh! Quer saber? Fodam-se os princípios...' Touji se ergueu de súbito, abrindo a boca para despejar na cara daquela garota tudo o que pensava dela e, se isso não fosse o bastante, descer a mão nela também.
Mas ele não teve essa oportunidade. Aida havia se colocado na frente de Asuka e, com a mão para trás, fez sinal para que Touji se acalmasse.
"Ahn... Eu achei os livros, já podemos começar." Disse o rapaz de óculos.
"Já era tempo!" Comentou com irritação a jovem, virando-se e seguindo para uma mesa vaga. "Nossa, vocês têm que ter algum retardo mental sério... Ninguém normal demora tanto para achar uns livrinhos desses...!"
Deixando-a ir na frente, Kensuke, que segurava uma pilha de livros, virou o rosto para o amigo atrás de si.
"Sabe, eu acho que eu devia ter deixado você quebrar ela." Comentou, ligeiramente arrependido de ter interferido.
"Sério?" Rosnou Touji, sacudindo a cabeça logo depois. "Mas foi melhor assim. Eu ando meio estressado com umas coisas... E essa aí quase foi a gota d'água."
"Não precisa me agradecer!" Riu Kensuke, partindo em direção à mesa onde estavam as três garotas que faziam parte daquele grupo. Touji logo o seguiu, tendo retomado uma dose de paciência que, com sorte, duraria até o final do período.
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"Hahahaha... Ô Takashi! Vem cá, preciso te perguntar um negócio..." Gritou um dos rapazes, que folheava um livro.
"Não enche..." Disse o outro, aproximando-se mesmo aborrecido.
"Quanto pagaram pra ti quando tiraram essa foto?" O jovem mostrou o livro que segurava numa das mãos, onde várias fotos ilustrando doenças sexualmente transmissíveis.
"Ah! Vai te catar, Kira!" Takashi respondeu, jogando o livro no chão. "Que treco nojento, cara."
"Aaah... Então você tem nojo? Que flor!" Riu o colega.
"Não sou que nem você, que tem paixão por esse negócio." Sorriu Takashi. "Admite, você é chegado, não?"
"Te mostro no que eu sou chegado..." Kira arregaçou as mangas, sempre sorrindo.
"Epa, epa! Demonstrem o amor de vocês em outro lugar, pode ser?" Um dos amigos próximo aos dois interferiu.
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"Akemi!"
"Que é, Yohji?"
"Quero te mostrar uma coisinha bonitinha... chega mais." Sorriu o rapaz.
"Hm..." A garota sorriu também, mas replicou. "_Coisinha_, hein? Aposto que é." Riu ela.
"Te provo o contrário."
"Hahaha... Mas esse trabalho te inspirou, ne Yohji-kun??"
"Pode-se dizer que sim. Ô Akemi, o que você tem a perder?" O olhar do jovem indicava que ele sabia muito da vida da colega.
"Baka." Ela adquiriu uma expressão muito irritada, e logo virou as costas e foi embora.
"Não esquece disso!" Gritou ele, rindo junto com seus amigos e jogando um pequeno pacote na direção da jovem. "Não estamos estudando esse negócio à toa!"
Akemi virou-se com um olhar furioso, a fim de ver o que seu colega queria. Baixou os olhos para o chão e viu a embalagem de camisinha perto do seu pé. Seu olhar voltou diretamente para o rapaz com um ódio ainda maior. Ela pisou com força sobre o pacote enquanto encarava Yohji. De repente, seu olhar tornou-se mais suave e, em seguida, tomou um brilho malicioso. A garota se abaixou, juntou a camisinha do chão, e sorriu para seu colega.
Logo ela saiu da biblioteca, seguida por Yohji que tinha uma expressão um tanto quanto satisfeita.
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Embora muitos estudantes estivessem passeando por qualquer outro lugar que não fosse a biblioteca, para a surpresa dos funcionários, a maioria da turma estava dentro da grande sala. Talvez fosse por causa do peso daquela tarefa na média dos alunos, se bem que eles nunca foram conhecidos por se preocupar com esse tipo de coisa. Uma prova de que isso era uma conquista era a presença do rapaz mais displicente do 3º G ali. Tamahome, apesar de seu histórico pouco louvável – ou não, parecia ter aberto uma exceção naquele dia.
Ele estava lá, sentado numa mesa (mesmo que literalmente em cima dela) junto com seu grupo. Ou melhor, o que restou dele. Como era de se esperar, Touya e Akemi não apareceram, fazendo com que o grupo de resumisse a ele e uma colega. E, exatamente por isso, o rapaz estava com um sorriso desenhado nos lábios.
'Como eu pensei, aqueles dois não vieram estudar... Devem estar se perguntando onde eu estou... Mas nunca imaginariam que eu, de fato, vim fazer este trabalho.' Ainda sorrindo para si mesmo, lançou um olhar à única integrante do grupo que o acompanhava. Sorriu mais.
Rei Ayanami sentia o olhar dele sobre si, enquanto lia um grosso livro sobre a mesa. Por algum motivo que ela não podia entender, não conseguia concentrar-se, estando a reler a mesma frase pela quinta vez. Desistiu.
"Nani?" Perguntou Rei, no tom suave de sempre. Erguera a cabeça para fitar o jovem que a observava. 'Talvez seja o olhar dele que está me perturbando.'
"Ah..." Tamahome piscou, surpreso pela percepção dela. "Nan de mo nai... Precisa de ajuda?"
"Iie." Ayanami respondeu, voltando à tarefa de ler e resumir o capítulo que lhe cabia do livro.
"Sou ka..." O rapaz coçou a nuca, seu sorriso perdendo um pouco da intensidade. Descendo da mesa, ele puxou uma cadeira e sentou-se logo ao lado da garota de cabelos azuis. Apoiou a mão na cadeira dela e aproximou o corpo. "Posso ler com você?"
Rei virou o rosto para ele, não esperando esta pergunta. Ele podia ver que ela detinha um olhar levemente confuso e, além disso, havia um sutil rubor na face alva dela. Tamahome não pôde evitar uma breve risada. A isso, Ayanami reagiu desviando o olhar para o lado.
"Demo... Há outros livros com o mesmo conteúdo aqui. E a sua parte não é a mesma que a minha..." Disse a jovem, quase num sussurro.
"Ah..." Suspirou o rapaz, encostando-se na cadeira de forma a recuar o corpo, que antes estivera quase tocando o da colega. "Você é bem difícil, sabia?" Comentou, com um ar quase desapontado. 'Talvez por isso...'
"Nós... devemos voltar a fazer o trabalho." Falou ela, retomando o livro no lugar onde parara.
O jovem Tamahome permaneceu na cadeira, próximo a Rei. Pegou um dos livros que estavam sobre a mesa e passou a folheá-lo arbitrariamente, lançando eventuais olhares sobre a figura feminina a seu lado.
Uma pessoa ficou atenta a todos os movimentos de Tamahome, e não parecia satisfeita com o aparente interesse dele na silenciosa Rei. Asuka tivera um único motivo para ter vindo àquela aula na biblioteca e, agora, ela o via sentado muito perto de uma jovem que, de modo algum, tinha a sua afeição.
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"Gomen nasai, Ibuki-san!"
"Tudo bem... Os jovens nessa idade são assim mesmo, não se preocupe, Katsuragi-sensei." Respondeu a jovem bibliotecária, com uma expressão que contradizia suas palavras.
O diálogo referia-se ao comportamento do 3º G na biblioteca. Para qualquer um que visse, a situação seria descrevida por uma única palavra: caos. Misato bem que tentara acalmar os ânimos, mas como era de se esperar, seus pedidos não surtiram efeito algum.
"Gomen ne... Eu acho que um trabalho sobre DSTs assim, de primeira, aflorou os hormônios deles..."
"Não é isso..." Riu Maya. "Eles sempre foram assim, desde que eu entrei nesta escola. Ano passado, eles foram banidos da biblioteca já no primeiro mês letivo."
"Nani?" Surpreendeu-se a professora. Olhou para a grande sala – alunos gritando, rindo, fazendo piadas, jogando livros e materiais para todos os lados (e não somente isso, como no caso de Yohji e Akemi), subindo nas mesas, correndo, comendo... – e, de repente, passou a achar que o que a outra mulher lhe disse poderia ser justificado.
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Próxima à janela, estava um grupo que poderia ser classificado como o mais silencioso e menos produtivo de todos os que estavam presentes. Ao que parecia, a combinação de Himura, Yukishiro, Ikari e Kamiya não era das mais eficientes.
Desde que os quatros chegaram à biblioteca e sentaram-se juntos, um clima muito estranho se espalhara entre eles. Kaoru era a única que, a princípio, parecia animada com a tarefa e a perspectiva de poder conversar com uma certa pessoa. Mas, mesmo sendo essa a sua natureza, a empolgação dela só durou até que ela percebeu a forma como esse certo colega estava se comportando. As tentativas de diálogo com Kenshin não haviam tido o mínimo sucesso, e ele permanecia com a atenção voltada para a nova aluna.
O novato Himura tinha, além de seu semblante sério, um olhar quase raivoso. Ele não desviara os olhos de Tomoe nem por um segundo sem, porém, permitir-se encontrar o olhar ocasional dela. Quando todos se sentaram na mesa, fez com que ela ficasse logo ao lado dele; quando foram buscar os livros, seguiu-a por entre as estantes; quando ela ofereceu-se para falar com a bibliotecária, ele a conteve mandando Kaoru no lugar dela – essa que, obviamente, não recusou o pedido. Tomoe, aparentemente, ignorava o fato de seu colega não se afastar mais que alguns metros dela.
O outro componente do grupo, Ikari Shinji, já não ficara feliz quando soube que teria que trabalhar com o aluno novo. Mas isso não impediu que ele agisse com a gentileza que sempre teve com as duas colegas. Respondia à Kaoru quando esta, lhe perguntava algo. Mas o que estava deixando-o incomodado era o estado em que Himura se encontrava. Shinji percebia que ele estava inquieto e que seus olhos não se desviavam da nova colega, com quem não tivera a oportunidade de conversar.
Em relação à tarefa, nenhum dos quatro fizera grande coisa. Kaoru escrevia seu nome no caderno, várias e várias vezes, observando as pessoas sentadas com ela. Kenshin nem tocara nos livros, ocupado demais ficando perturbado com a presença de Tomoe. Esta última ocasionalmente escrevia no caderno, resumindo o que lia no livro, enquanto se esforçava para ignorar a vigia constante de Kenshin. Shinji bem que tentou evitar, mas seus olhos insistiam em voltar-se para onde estava Ayanami, da mesma forma como seus pensamentos insistiam em divagar sobre a relação que tinha com ela – ou a falta dela.
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Na mesa mais 'animada' ouviam-se constantes argumentos entre Asuka e Touji, ou melhor, constantes reclamações de Asuka em relação ao seu grupo como um todo. Touji direcionava sua raiva para o caderno, que já rasgara uma quatro vezes de tanto que pressionava a caneta com a qual escrevia. Kensuke estava com uma expressão entediada, largado na cadeira, ignorando a colega ruiva. As duas outras garotas se dividiram enquanto uma lia e a outra resumia o que ouvia. O fato de estar sendo ignorada deixava Asuka cada vez mais furiosa.
"Ainda não acabaram?? E não façam essas caras, eu poderia estar lá fora agora mas vim aqui fazer esse trabalho idiota." Quando nenhuma reação veio dos quatro colegas, ela fechou o livro que havia aberto. Levantando-se de onde estava, ela seguiu sem dizer nada até uma outra mesa onde outro grupo tentava fazer a tarefa dada pela professora.
"Kaoru, preciso falar com você." Disse, captando a atenção da garota que, até agora, parecia dividida entre estudar e olhar para seu colega ruivo.
"Nan desu ka?" Perguntou ela, surpresa de Asuka tê-la procurado tão de repente.
"Não aqui, né! Vem comigo!" A jovem ruiva pôs a mão na cintura, parecendo impaciente.
"Demo..." Kaoru pareceu hesitante em ir, dirigindo os olhos por um breve instante para Kenshin, e logo voltando-os para a amiga. "O trabalho..."
"Faça isso depois! Eu tenho que falar com você agora." Falou Asuka com um tom autoritário.
"..." Kaoru olhou para os colegas. Só Shinji estava prestando atenção no que acontecia.
"Pode ir com ela. Depois você faz a sua parte separada." Disse Shinji, supondo que esta fosse a preocupação da garota.
"Ela não precisa da sua autorização!" Riu Asuka, com um olhar desdenhoso para Shinji. Voltando para Kaoru ela a apressou. "Vamos logo!"
A garota com um alto rabo de cavalo recolheu seu material e saiu, ainda incomodada com o jeito do novo aluno. Quando as duas foram embora, Shinji deixou um comentário escapar.
"Como é que alguém agüenta ela...?" Sacudindo a cabeça, ele ergueu-se da cadeira e pegou seu caderno. Olhando para os dois colegas, decidiu com quem falar e avisou antes de se afastar. "Yukishiro-san, eu também vou terminar a minha parte depois. Se precisar de alguma coisa é só falar comigo."
"Hai." Ela levantou o rosto, surpresa que ele não se dirigira ao outro rapaz e, sim, a ela de fato. Ela ainda viu-o parar numa mesa mais adiante e falar com dois outros jovens, um de óculos e o outro que vestia o abrigo de educação física, que também se levantaram e saíram com ele.
Baixando os olhos para o livro que tinha nas mãos, Tomoe voltou a perceber o peso do olhar incisivo que estava sobre ela. Ela podia sentir um breve arrepio percorrer sua espinha. Não sabia se aquela sensação era medo ou até insegurança, mas o fato de agora estar sozinha com aquele rapaz a deixava inquieta. A mão delicada dela fechou-se com força em torno do lápis que segurava. Pouco depois, ela sentiu um certo alívio – ele desviara o olhar dela.
Alguns momentos se passaram onde nenhum deles se moveu ou disse alguma coisa. Ela não escrevia, nem lia; ele não observava nada em especial, mas tinha uma expressão firme. De repente, Kenshin estava de pé.
Tomoe permanecia como antes, mas o movimento brusco do colega quase lhe matara de susto. Ela voltou a cabeça para o lado, colocando seu olhar negro sobre o rapaz ruivo. Ele somente respirou fundo, fechou os olhos por alguns segundos e saiu sem dizer nada.
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"O que eu faço com eles??" Repetia a si mesmo Misato, vendo a biblioteca sendo ocupada por menos da metade de seus alunos. "Eu acho que não foi uma boa idéia..." 'Talvez eles sejam só um pouquinho mal comportados...' A professora coçou a cabeça, lembrando das palavras do coordenador há alguns minutos atrás. "Eu acho que por hoje não há o que fazer... mas eles vão ver na próxima aula..."
"Tendo problemas, Katuragi-sensei?" Uma voz masculina com um leve tom irônico parou Misato, que acabara de sair da biblioteca quase vazia.
"Dare...?" Virando-se, a mulher logo franziu a testa ao reconhecer quem lhe falava. "Kaji."
"Que honra... Você ainda lembra o meu nome..." Sorriu o homem, desencostando-se da parede e caminhando até a professora com as mãos nos bolsos.
"Não chegue muito perto." Disse Misato, com a mesma expressão descontente.
"Que frieza!" Riu Ryouji, passando a mão pelos cabelos e afastando a franja dos olhos. "Faz tanto tempo que não nos encontramos e você me trata assim..."
"Você me persegue..." Disse ela, estreitando os olhos.
"Eu?" Kaji sorriu. "Talvez seja o destino..."
"Não diga besteiras... Não tenho mais nada pra tratar com você." Misato suspirou, dando as costas para o homem. "Nosso assunto já está acabado há muito tempo."
"Mas se acostume com a idéia de esbarrar em mim pelos corredores pelo resto do ano..." Sorriu ele, observando enquanto a mulher de cabelos escuros se distanciava.
Misato fez uma expressão de desgosto ao ouvir as palavras do outro professor. 'Isto está virando um pesadelo...'
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"Nani?!" Soou estridente a voz de Kaoru. "Asuka, você ainda ta com isso na cabeça? É loucura!"
"Você vai continuar dizendo isso, é? Eu te dei um tempo pra pensar no assunto hoje de manhã, mas como você mesma viu, a situação ta ficando insuportável!!" Respondeu Asuka, gesticulando.
"Mas Asuka..." Hesitou Kaoru, incerta do que fazer. "É perigoso..."
"Agora só falta me dizer que isso é errado e que você tem pena dela!" A jovem ruiva deu as costas à amiga.
Kaoru baixou os olhos, pensativa. "Não é isso...!"
"Hmpf." Asuka revelou seu perfil e prosseguiu com uma voz fria. "Quer saber? Quem me dá pena não é ela, é você."
"...!" Kaoru arregalou os grandes olhos azuis. Aquelas palavras eram as últimas que ela imaginaria escutar. "Asuka..."
"Escute o que está dizendo... Em que mundo você acha que nós vivemos??" Riu com desdém a garota, virando-se por completo para a outra. "Você é ridiculamente infantil. Só falta me dizer que espera por um príncipe encantado e que vocês viverão felizes para sempre..." O olhar azul de Asuka penetrava carregado de desprezo no de Kaoru. "_Isso_ me dá pena."
Dizendo isso, a jovem alemã sorriu e se retirou do terraço onde conversava com Kaoru. Respirando fundo, Asuka passou as mãos nos cabelos. Tinha uma expressão decepcionada e irritada. 'Se você vai se prender aos seus princípios ridículos e não vai me ajudar, há quem me ajude.' Os olhos azuis se estreitaram.
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Uma jovem sentava-se no chão com o rosto apoiado nos joelhos. Seus longos cabelos escuros, presos num alto rabo-de-cavalo voavam com o vento ocasional que passava no terraço. Fazia alguns minutos que ela tivera uma discussão com uma amiga.
Ela enxugava algumas lágrimas com as costas da mão enquanto se levantava – o sinal para o recomeço das aulas acabara de soar. Apesar de mareados, seus olhos azuis também refletiam irritação. A expressão fechada demonstrava que as palavras de Asuka não só a magoaram, como feriram seu orgulho.
"Eu não sou infantil, como você diz." Disse Kaoru para si mesma. 'E vou provar...'
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Era o último período antes do almoço e a aula de gramática já estava quase no fim. Para Shinomori-sensei, não era difícil captar a atenção, pelo menos, da ala feminina da turma. Bastava ele estar lá. Conseqüentemente, a maioria dos rapazes também fazia silêncio e passavam a aula inteira emburrados. Obviamente, ainda havia aqueles que não calavam a boca sob nenhuma circunstância e impediam que o silêncio tomasse conta da sala.
"As duplas devem entregar as redações até o final do período, estejam elas concluídas ou não." Falou o professor, em seu tom frio e calmo.
As duplas, a que ele se referia, eram as definidas por ele no início do período. A tarefa que lhes cabia era uma simples redação individual, mas que contava com a ajuda de um colega. Como era de se esperar, havia combinações que eram, no mínimo, improváveis. Um bom exemplo era Himura e Tamahome.
"Ei." Chamou Tamahome, com a cara amarrada. "Já acabou?"
"Aa." Respondeu Kenshin, sem olhar para o rapaz ao seu lado.
"Passa pra cá, então." Disse ele, com um tom informal e entediado.
"Por quê eu deveria?" Kenshin virou o rosto para o outro, lançando-lhe um olhar frio.
"..." Tamahome, que tinha a mão estendida para pegar o trabalho do colega, deixou-a cair sobre a mesa e suspirou. 'Putz... Esse cara me dá nos nervos...'
O clima de total desconforto reinava entre aquelas duas classes e para isso contribuíam o mau-humor de Kenshin e o descontentamento de Tamahome.
Não muito longe dali, dois outros colegas formavam uma dupla pouco provável, mas que, contrariando algumas expectativas, estava se entendendo relativamente bem.
"Yukishiro-san, você escreve muito bem!" Comentou Shinji, que tinha acabado de ler a redação da nova colega.
"Arigatou..." Falou ela, parecendo um pouco incerta. Tomoe não estava acostumada a esse tipo espontâneo de elogio.
"Não achei um erro sequer." Disse o rapaz, sorrindo. "Já terminou de ler a minha?"
"Iie. Só mais um pouco." Respondeu Tomoe, com a voz suave de sempre.
Shinji olhou novamente para a redação daquela que era sua mais nova colega. 'Nenhum erro... e além disso, a letra dela é muito bonita...' O jovem Ikari voltou seus olhos para a jovem ao seu lado e passou a observá-la em silêncio. 'Ela me lembra a Ayanami... não é de falar muito. Mas tem algo nela que é bem diferente...'
"Ikari-san." A voz calma da colega despertou Shinji de seus pensamentos.
"Hai?" Falou ele, reflexivamente.
"Eu... corrigi algumas coisas." Informou ela, devolvendo o texto.
"Ah... Arigatou! Nossa... como eu pude errar isso...?" Comentou Shinji, rindo para si mesmo.
"Demo..." A voz da garota soou quase como um sussurro, mas captou a atenção do rapaz. "Está muito boa." Disse-lhe, sem olhar diretamente nos olhos.
"Ano..." Shinji corou levemente, sem entender por que. "Arigatou, ne..." 'Acho que eu não estou muito acostumado com elogios assim...'
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"Sabe... Quem não te conhece, te compra!" Riu Akemi, num tom que não inspirava muita confiança.
"Já me disseram isso..." Asuka passou a mão pelos cabelos. "Mas o que me diz? Vai me ajudar?"
"Hm... Tenho que pensar no que eu vou ganhar com isso." A garota adquiriu uma expressão de certo desprezo.
"Uma rival a menos." Respondeu Asuka, referindo-se a si mesma.
"A Ayanami, você quer dizer, né?" Riu a outra jovem, com cinismo.
"Argh." A garota alemã engoliu a resposta que queria dar e forçou um sorriso. "Engraçadinha..."
"Mas vamos ver. Fiquei curiosa. O que eu teria que fazer?" Akemi apoiou o queixo nas mãos.
"Só arranjar alguns caras que façam isso. Vai ser muito fácil, qual é o homem que iria negar fogo assim? Todo mundo sabe que o Tamahome perde o interesse quando a garota não é mais pura. Além disso, vai ser quase um favor que eu estou fazendo praquela boneca."
"Se é tão fácil assim, por que não faz isso sozinha?" Contestou, erguendo a sobrancelha.
"Tenho que me certificar de outras coisas." Desconversou Asuka.
"Hmm... Não quer sua imagem suja se der errado, é?" Sugeriu Akemi, percebendo que estava provavelmente certa pela expressão que Asuka fez.
"Ah, cale a boca. Quem é você pra falar de manter uma imagem? Todo mundo te acha muito boazinha, mas você é a mais suja de todas aqui." Irritou-se a jovem ruiva.
"Ah! Assim você não vai conseguir a minha colaboração mesmo..." O sorriso cínico voltara aos lábios da garota. "Mas vamos combinar uma coisa."
"..." Asuka lançou um olhar curioso, porém desconfiado, à colega.
"Eu consigo alguns rapazes aqui, que fariam isso por um preço bem baixo..." O sorriso malicioso ficou mais intenso. "Mas, se der errado, a culpa não vai ser somente minha, fique sabendo."
"Só daria errado se _você_ estragasse." Murmurou a jovem alemã entre os dentes.
"..." Akemi preferiu fingir que não ouvira nada e prosseguiu ainda sorrindo. "Mas, depois que nós acabarmos com ela, eu não prometo nada."
"Como assim?" Asuka cruzou os braços. 'Não gosto dessa garota.'
"Quando o Tamahome perder o interesse, eu não vou entregar ele de bandeja pra você." Riu ela.
"Do que está falando?!"
"Ele não é propriedade sua... é?" Akemi ria, brincando com uma caneta entre os dedos. "Antes propriedade da Ayanami do que sua... Com certeza."
"Ora, sua..." Respirando fundo, Asuka conteve o impulso de xingar a colega e pôs nos lábios seu sorriso mais falso. "Isso é um desafio?"
"..." Akemi somente sorriu, e voltou a escrever sua redação sem dizer mais nada.
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A maioria dos alunos já havia deixado a sala. O professor ainda estava lá, corrigindo os trabalhos conforme estes eram entregues. Aoshi, no entanto, ao terminar de ler uma das redações não colocou-a na de imediato com as outras já lidas. Ao invés disso, manteve-a nas mãos e somente levantou os olhos para visualizar a sala. Um momento a mais e ele chamou uma de suas alunas.
"Yukishiro-san." Falou com sua voz fria.
"Hai." A aluna nova, que acabara de fechar a pasta, foi até a mesa de seu professor e esperou pelo que quer que ele fosse lhe dizer.
"Sobre a sua redação." Começou Shinomori-sensei, com a austeridade usual. "Está impecável. Meus parabéns."
"Arigatou." Tomoe agradeceu com uma breve reverência.
"Não é comum encontrar jovens que tenham essa capacidade aqui, nessa escola." Aoshi, mesmo que não demonstrasse, estava surpreso com o comportamento educado e silencioso da jovem. "De que escola você vem?" Atreveu-se a perguntar, a fim de saciar uma curiosidade incomum.
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"Ei. Vamos descer?" Kensuke perguntou ao seu amigo.
"Eu ainda vou guardar isso..." Disse Shinji, indicando alguns livros sobre a mesa. "Podem ir na frente."
"O Touji tem treino hoje." Avisou Aida.
"Me desejem sorte. Se eu conseguir me controlar com aquele cara me cobrando e colocando defeito em tudo o que eu faço, eu acho que mantenho minha vaga de titular." Disse Suzuhara, com um sorriso duvidoso, referindo-se ao professor de Educação Física.
"Tá certo... Não vá fazer besteira." Riu Shinji.
"Então, eu vou indo também. Preciso passar em casa rápido, deixei meu computador ligado." Avisou Kensuke. "Ja, Shinji-kun!"
"Ja, ne." Despediu-se Touji com um aceno displicente.
"Mata ashita." Respondeu Shinji, e voltou a reunir o material.
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Já no corredor, Touji e Kensuke conversavam distraídos enquanto se dirigiam às escadas.
"Esse cara é insuportável. Ele tiraria do sério até a Ayanami." Comentou Suzuhara, cruzando as mãos atrás da cabeça.
"Nossa... Você não gostou muito dele, hein?" Ria Kensuke, certo do exagero do amigo.
"Putz, se eu pudesse... Eu..."
"Você o quê, Suzuhara-san?" Soou uma voz desdenhosa vinda detrás deles.
"Agh!" Touji pulou de susto. "V-você!" Gritou, apontando diretamente para o rosto de Hajime Saitou. "Está me perseguindo..." Acusou-o, estreitando os olhos.
"Tsc, tsc. Que falta de educação é essa? Não se deve apontar assim para as pessoas, principalmente se forem seus professores, a quem você deve respeito." Disse o homem alto, abrindo os olhos puxados e revelando íris douradas.
"..." Aquele olhar fez Touji calar-se, enquanto um arrepio subia-lhe a espinha.
"E, não. Eu não estou perseguindo o senhor, Suzuhara-san. Como você deveria saber, hoje nós temos treino após as aulas e, para isso, é necessário material – que eu vim buscar." Terminando de dizer isso, o homem – que não tirara o sorriso dos lábios finos – passou pelos dois alunos e entrou numa sala à esquerda.
"Eu achei que fosse morrer." Murmurou Aida depois de alguns momentos de silêncio.
"Eu é que quero ver quanto tempo vou sobreviver assim..." Touji sacudiu a cabeça, e prosseguiu seu caminho até o ginásio de esportes. 'De onde eles tiraram esse cara??'
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De volta à sala de aula, restavam apenas o professor de Gramática, a aula com quem ele tinha uma breve e lacônica conversa, o jovem Ikari, que acabava de arrumar sua pasta a última dupla que ainda não acabara as redações – Himura e Tamahome. Destes dois últimos, curiosamente, o mais próximo de acabar a tarefa era o displicente Tamahome. Ainda assim, Kenshin não se concentrava no texto que começara a escrever.
Os profundos olhos que carregavam um hostil brilho âmbar estavam voltados para frente, na direção da mesa do professor – cravados nas costas de Tomoe. Ele bem que tentava ignorá-la e acreditar que ela, de fato, não contaria a ninguém o que acontecera na noite anterior, mas era em vão. Não que ele duvidasse da palavra dela, pelo contrário – sentia-se estranhamente tentado a confiar nela – mas seus olhos ainda eram guiados até aquela mesma figura feminina.
'O que está acontecendo comigo?' Perguntava-se o rapaz toda a vez que sentia isso.
Mas nada mais passou em sua mente a partir do momento que ouviu Tomoe ser chamada pelo professor. Então, quando percebeu que havia um diálogo entre os dois, algo nele tornou-se insuportavelmente inquieto. Seu coração.
De súbito, ergueu-se. Rapidamente colocou os poucos materiais dentro da mochila e passou-a pelo ombro. Com a mão livre, pegou a folha em que escrevia – sem se preocupar se a amassava ou não - e atravessou a sala, ignorando os olhares que recebia dos outros dois colegas.
Ao chegar na mesa onde Aoshi estava, largou a folha escrita pela metade com violência sobre a mesa. O barulho seco do punho chocando-se contra a mesa calou por completo a conversa quase silenciosa entre aluna e professor. Shinomori deslizou os frios olhos azuis da jovem para fitar o rapaz ruivo com certo desgosto. Tomoe também voltou o rosto para vê-lo com a expressão neutra de costume.
Incerto de por que fizera aquilo, Kenshin ficou calado alguns momentos, recebendo aqueles dois olhares penetrantes. Antes, porém, que alguém pudesse falar alguma coisa ou exigir alguma explicação, o jovem de longos cabelos vermelhos desviou o olhar e, sem muito cuidado, passou o braço pela cintura de Tomoe e saiu da sala, forçando-a a ir com ele.
Assim que os dois colegas já estavam fora da sala, Tamahome se levantou de onde estava, no fundo da sala e, indo entregar seu texto, comentou com uma risada. "Bah, esse foi rápido! Eu nem tive chance...!"
Em resposta ao comentário, Shinji somente lançou um breve olhar ao colega. No rosto ele mantinha uma expressão fechada. 'Esse Himura... Tem algo estranho.' Logo ele estava de pé, disposto a ir atrás do casal.
Aoshi nem chegou a desviar os olhos da porta por onde haviam acabado de sair Tomoe e Kenshin. Seu olhar também parecia insatisfeito e desconfiado. Algo naquele aluno o incomodava. E muito.
Quando os dois rapazes, Ikari e Tamahome, haviam finalmente deixado a sala de aula. Aoshi se levantou e, colocando sua pasta debaixo do braço, buscou as chaves da porta no bolso. Ainda pensativo, o belo professor demorou mais do que o normal para perceber a presença de outra pessoa parada a alguns metros no corredor.
"..." Virando-se, ele reconheceu a alta e esguia figura masculina que o observava. "Hajime-sensei."
"Hm. Bastante perceptivo, Shinomori-sensei." Disse em seu tom duvidoso, enquanto se aproximava do outro homem.
"Você o viu?" Perguntou diretamente Aoshi, ao que terminara de trancar a sala.
"... Quem?" Sorriu Saitou, levando o cigarro à boca.
"Não se faça de desentendido. Sabe do que eu falo." Impacientou-se Aoshi, voltando-se para o outro professor com um olhar bastante sério.
"Está bem. Vamos parar com essa encenação." Saitou abriu seus olhos rasgados, mantendo o sorriso. "É melhor nós ficarmos de olho naquele rapaz."
"Sim. Mas ele não parece perigoso." Falou Shinomori friamente, seguindo à sala dos professores.
"Por isso mesmo." O sorriso que Saitou mantinha alargou-se pelo rosto.
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"Eu não vou fugir." Falou Tomoe, com seu tom suave, enquanto Kenshin a empurrava por entre os caminhos do jardim da escola.
"Não é isso que me preocupa...!" Respondeu rispidamente por entre os dentes, deixando clara sua impaciência na voz.
"..." Tomoe não disse mais nada, somente voltou a cabeça para trás e mostrou uma expressão questionadora nos olhos negros.
Kenshin parou, soltando a mão que mantinha firme na camisa da jovem. Livre do aperto dele, ela pôde virar o corpo e encará-lo – do mesmo jeito que fizera na noite em que choveu sangue. Mas, dessa vez, ele tinha perguntas.
"Eu quero que você me diga... de onde vem e por que está aqui." Seu tom era imperativo.
"..." A jovem demorou a falar, e quando o fez, desapontou as expectativas de Kenshin. "Você não acredita no que eu disse?"
"..." O rapaz franziu as sobrancelhas e estreitou os olhos, tornando-os mais penetrantes do que já eram. Não que o tom dela houvesse sido impertinente, mas ele estava sentindo-se bastante perturbado. "Eu estou falando sério!" Esbravejou ele, dando um passo na direção dela.
"..." Ela apenas o observava.
"Eu..." Kenshin recuou o mesmo passo que acabara de dar. 'Preciso manter o controle. Eu não estou normal...' Respirou fundo. "Você deveria saber, melhor do que todos, que esse é um assunto muito sério."
"E sei." Respondeu ela.
"... Então..." 'Como ela consegue estar tão calma?' "Me diga o que eu quero saber."
"Se eu não te responder..." Prosseguiu com a voz e o semblante neutros. "... o que vai fazer comigo?" O olhar ébano fulminava as órbitas douradas de Himura.
"..." O rapaz ruivo pestanejou. 'Ela está... me desafiando?'
"Oe, Himura." Veio uma voz masculina logo atrás de Kenshin.
"Dare...?!" O jovem novato virou-se de súbito para ver quem o seguira. "Ah, você." Disse ao reconhecer seu colega. 'Eu não percebi nenhuma presença! Eu definitivamente não estou normal... Preciso recobrar o controle antes que isso se torne um problema.'
"Yukishiro-san... Daijoubu ka?" Perguntou Shinji, deixando transparecer a preocupação na voz.
Tomoe pareceu surpresa com a aparição do colega, mas não durou mais do que alguns poucos segundos. Em resposta à preocupada pergunta dele, ela suavizou a expressão dos olhos e assentiu com a cabeça. Shinji sorriu para ela e virou para o colega que olhava surpreso para ele.
"Himura-san. Eu tive a impressão de que a Yukishiro-san não veio até aqui com você por vontade própria. Estou certo?"
"É Ikari, não é?" Perguntou Kenshin, parecendo incomodado. 'Mais essa agora...'
"É... Eu acho que a Yukishiro-san prefere voltar para almoçar. Yukishiro-san?" Ikari estendeu a mão para Tomoe, pretendendo tirá-la dali.
"Hmpf." Kenshin olhou com desgosto para o colega, fechou os olhos por alguns instantes e, ao abri-los, tomou a direção contrária à lancheria, passando entre Tomoe e Shinji e obrigando o último a recuar o braço que oferecia à jovem.
"..." Shinji suspirou, fechando os olhos e levando a mão à nuca. "Os olhos dele dão arrepios... Credo." Comentou com um sorriso. "Demo... Hontou ni... Daijoubu?" Perguntou ele novamente, temendo que a resposta anterior não fosse sincera devido à presença do novato.
"Hai." Repetiu ela, com a expressão suave.
"Por um momento... Eu me preocupei bastante." Confessou Shinji, com um leve rubor na face. "Esse cara, Himura Kenshin, é meio estranho. Você já o conhecia?"
"..." Tomoe abriu a boca, mas demorou a falar. 'Por que estou hesitando?' "Iie... É a primeira vez..."
"Sou ka..." Shinji começava a sentir a falta de idéias do que falar e acabou decidindo ir embora antes que a situação se tornasse constrangedora. "Ano... Hm... Eu... vou almoçar... Você fica?"
"Hai. Não se preocupe." Disse ela, e despediu-se com uma reverência.
"Ja... ne..." Murmurou Shinji, meio sem jeito. '... Ela é... muito bonita...' O jovem Ikari corou ao achar-se com esses pensamentos tão de repente. Esforçando-se por ignorar isso, ele seguiu a passos ligeiros o caminho que levava à lancheria da escola.
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Numa das mesas do refeitório, um grupo de rapazes discutiam sobre o que era, evidentemente, seu assunto preferido: mulheres. Tendo dito isso, não é surpresa que dentre esses estivessem vários alunos do 3º G, incluindo Tamahome e cia.
"Vocês não viram ela, ainda??" Touya referia-se à aluna recém-chegada à sua turma.
"Nem sabia disso!" Respondeu-lhe um aluno de uma outra turma. "É bonita mesmo?"
"É... É bem diferente das garotas daqui... Deve ter vindo de outro lugar." Comentou outro rapaz. "Ela lembra a Ayanami..."
"Hm? Do tipo quieta e discreta, é? O Tamahome já deve estar em cima! Tô certo, Tama-kun?" Riu Ranma, voltando o olhar para o colega que se mantivera calado.
O rapaz de cabelos negros abriu um sorriso que demonstrava certa decepção, e respondeu com um suspiro. "Nem... O novato já pegou ela."
"Sério?!" Exclamaram eles. "Aquele Himura??"
"Difícil de engolir, não?" Riu Tamahome. "Mas eu mesmo vi, agora na saída da aula. Os dois saíram abraçados e foram lá para o jardim."
"Não acredito... Putz!" Touya levou a mão à cabeça. "Se bem que num dos intervalos ele levou ela pro corredor, se lembram?"
"Bah... Ô Tama-kun... Você vai deixar isso assim? Que eu saiba, rivais nunca te impediram de conseguir alguma coisa." Incitou Ranma.
"..." O rapaz não respondeu, somente manteve o sorriso. 'Isso porque, normalmente, essa 'alguma coisa' me queria... Mas agora as coisas mudaram um pouco...'
"Ahh... Nem adianta! O Tama-kun aí ta fora de combate... Ele agora virou exclusivo da Ayanami..." Ironizou Touya.
"Bah... Vão começar, é?" Tamahome respirou fundo e tomou um último gole d'água. "Eu tenho mais o que fazer."
Levantando-se da mesa, o jovem lutador pegou sua mochila e, sem proferir sequer uma palavra, deixou a lancheria.
"To achando que o negócio é sério..." Murmurou Touya, enquanto via o colega sair pela porta.
"Será?"
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O sol já estava alto no céu, abrindo brechas de luz entre o cinza das nuvens. Sob este céu caminhava, pelas dependências da escola, o aluno Sokishuku Tamahome.
'Nem consegui almoçar direito...' Pensava ele enquanto andava a esmo. 'Será que eu não estou levando isso muito a sério...? Antigamente eu não me sentiria assim... O que está acontecendo?'
Subitamente sua mente ficou em branco. Seus olhos haviam captado uma cena à distância.
"Ayanami..." Sussurrou ele, parado no lugar.
Passou alguns momentos ali, somente observando a jovem que lia um pequeno livro, sentada num dos vários bancos que orlavam o caminho do jardim. Talvez por medo de perturbar a serenidade do ambiente em torno dela, ou por surpresa, Tamahome demorou a decidir-se e se aproximar.
"Ohayou..." Disse ele ao chegar ao lado dela. 'Preciso pensar em alguma coisa...'
"..." Rei levantou os olhos das páginas, encontrou o olhar do colega por um instante e voltou à leitura.
"Ano..." Tamahome ergueu a sobrancelha. 'Tsumetai ne...' Pensou, sorrindo consigo.
O rapaz sentou-se ao lado dela, mantendo um olhar observador sobre toda a figura de Rei. Desde os cabelos – azuis como o céu – até a ponta dos pés, Tamahome mantinha os olhos voltados para a colega. Reparou nos gestos discretos; na pele clara; na aparência frágil e no silêncio vazio que a cercava.
'Eu quero... sentir....' Decidiu. "Ayanami-san." Chamou-a.
"..." O olhar vermelho estava voltado para ele.
"Eu..." 'Num lugar onde não me procurem...' "Quero que você venha comigo à biblioteca."
"Doushite?" Perguntou ela, com a voz suave.
"É sobre o trabalho de biologia. Eu gostaria que você me ajudasse numa coisa."
"Demo..." A princípio hesitante, a jovem fechou o livro que tinha nas mãos e se levantou.
"Arigatou..." Sorriu Tamahome, levantando-se também.
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"..." Ayanami parou assim que entrou na grande sala cheia de estantes e livros. Seus olhos voltados para o rapaz que a trouxera ali eram questionadores.
"Ano... Por aqui." Pediu Tamahome, seguindo para as estantes do fundo, próximas à parede.
Rei o seguiu. Não era de seu feitio ajudar os outros – simplesmente porque ninguém costumava pedir sua ajuda. Mas naquele caso, a jovem estava incerta. 'Os livros de biologia ficam do outro lado...'
Quando Tamahome parou, na penúltima estante, seu olhar estava diferente. Dos olhos castanhos emanava um calor que antes não estava lá. Rei também parou, a uma certa distância dele, esperando.
"Aqui..." Disse, ao pegar um dos últimos livros. "Venha ver uma coisa." Seu tom também não era o mesmo, sua voz estava mais profunda.
Ayanami deu alguns passos até que pudesse ver as páginas do livro. "Eu pensei que você queria ajuda em Biologia." Comentou ela, praticamente sussurrando, ao constatar que o livro que o colega escolhera nada tinha a ver com a matéria.
Rei tentou recuar os passos que dera, mas Tamahome foi mais rápido, passando o braço pelas costas da colega e apoiando-se na prateleira e, dessa forma, prendendo a jovem entre seu corpo e a estante.
'Agora ela não pode mais fugir...' Pensou ele, enquanto a observava com seus calorosos olhos, que contrastavam drasticamente com os de um vermelho frio – ainda que surpresos - dela. Interpretando o olhar constante de Ayanami como uma brecha, Tamahome não hesitou em aproximar seu rosto, movimentando-se com a clara intenção de beijá-la.
"Dame." A mão de Rei estava tão fria em contato com o rosto de Tamahome quanto soou a sua voz naquele momento.
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O que Asuka acabara de presenciar só contribuiu para aumentar sua raiva com relação à Ayanami. Entre as frestas dos livros, a jovem alemã foi capaz de observar toda a movimentação do par. E não gostou nem um pouco do que viu. Mesmo que Rei tivesse parado Tamahome, colocando a mão sobre o rosto dele e detendo-o, Asuka dirigia um olhar furioso para a garota.
"Hm... A coisa ta séria." Sussurrou Akemi, rindo da perturbação da outra.
"Eu te chamei aqui para conversar sem que ninguém nos ouvisse, não para receber opiniões suas." Murmurou a ruiva entre os dentes cerrados com força.
"Pelo menos você tava certa de que ele _quer_ ela." Akemi abriu um sorriso. "Pra ter todo esse cuidado só para tentar conseguir um beijo."
"Cala a boca." Asuka cuspiu as palavras enquanto cerrava os punhos. "Ela vai ver."
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"Gomen..." Sussurrou Tamahome, depois que já havia recuado o rosto e enquanto retirava o braço que mantinha Rei junto dele. "Gomen nasai."
"..." Ayanami piscou os olhos uma vez, como se assentisse e simplesmente saiu.
Assim que a perdeu de vista, o rapaz soltou a respiração que continha sem perceber. Suspirando, ele sentou-se no chão, apoiando as costas na parede e dobrando uma das pernas sobre si. Inconscientemente trouxe a mão até a face esquerda, onde há poucos momentos Rei o havia tocado. A sensação fria e suave da pele dela ainda restava no rosto do jovem. Tamahome respirou fundo e encostou a testa no joelho. 'Não acredito que isso ta acontecendo...'
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As aulas da tarde se passaram sem maiores acontecimentos: Kenshin permanecia atento aos movimentos de Tomoe e começava a incomodar-se com os olhares desconfiados que recebia de Ikari. Tamahome não falara mais nada com Ayanami desde o incidente na biblioteca e permaneceu mais calado do que o normal até o fim do dia.
Agora que as aulas haviam se encerrado, todos os alunos esvaziavam os prédios e a maioria voltava para casa depois do terceiro dia de aula. O sol descia para se pôr no horizonte e seus raios vermelhos já refletiam nas paredes cinzas e nas janelas dos grandes prédios que formavam o complexo escolar.
Na frente do portão principal, o grande fluxo de alunos aos poucos ia diminuindo. Dentre os estudantes que esperavam na calçada estava a mais nova aluna da turma G do 3º ano do ensino médio. Yukishiro Tomoe estava de pé logo à frente da parede, com sua bolsa e sua pasta, aguardando pacientemente a chegada de alguém.
Alguns poucos minutos se passaram, mas foram suficientes para que a entrada da escola se esvaziasse quase que por completo. Dessa forma, Tomoe pôde perceber que o incômodo que sentia não era apenas fruto de sua imaginação. Himura Kenshin estava do outro lado do portão a observando.
'Ele... não pretende me seguir... Pretende?' A jovem começava a se preocupar de fato com a intensa vigia do colega. Ela temia que isso passasse a envolver mais alguém que não ela. 'Se ele vir o Enishi...' Mas, antes que Tomoe pudesse formular o resto de seu pensamento, teve a sensação de que aquele olhar hostil fora bloqueado. Virou o rosto para entender o motivo disso.
Uma jovem aparentando a mesma idade que ela, mas com cabelos curtos e azuis e olhos de um intenso vermelho havia cruzado o caminho entre os dois. Ayanami Rei não olhava para Tomoe, mas sua passagem fez com que Kenshin desviasse o olhar incisivo que tinha sobre a jovem de longos cabelos negros.
'Ano hito wa...' Tomoe lembrou-se de ter visto essa mesma figura na sala de aula.
Agora era Rei que se sentia inquieta por algum motivo. Conhecia a sensação de olhos sobre si, mas aquilo era um pouco diferente. Sentiu-se obrigada a devolver o olhar e descobrir quem era a pessoa que a observava.
O ar tornou-se, imediatamente, toneladas mais pesado quando castanhos e profundos se chocaram com intensos rubros olhos. Até mesmo outros alunos, que não haviam percebido sequer a presença delas ali, sentiram o clima tenso, diminuindo seus tons de voz inconscientemente. O jovem homem que estava observando a cena não pôde deixar de sentir uma incontrolável curiosidade. Kenshin só não sorriu porque, de fato, estava com problemas demais para se permitir tal expressão.
'Agora... _Isso_ é interessante...' Pensou o rapaz ruivo, enquanto permanecia totalmente atento às reações de Rei e Tomoe, que mantinham um olhar fixo uma na outra. Embora ele planejasse ir para casa o mais cedo possível para certificar-se de sua própria segurança, agora não estava disposto a dar um passo para longe dali, e imaginava como acabaria o encontro dos olhares mais profundos que já vira.
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[Fim do Capítulo 3 – Pasiphae]
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Traduções:
Nani: Quê/O quê
Iie: Não
Baka: Idiota/Burro/Estúpido (Ororo! =P)
Demo: Mas
Ja: Até mais (despedida)
Mata ashita: Até amanhã (despedida tbm)
Arigatou: Obrigado
'Demo... Hontou ni... Daijoubu?': 'Mas, tudo bem, de verdade?'
'Nan desu ka?': O que é?
Hai: Sim
Dare: Quem
Aa: Sim (mais informal)
Doushite: Por que
Konnichiwa: Boa tarde.
'Ano hito wa': 'Aquela é...'
-sensei: sufixo que designa 'Professor'
Mein Gott: Meu Deus (em alemão ^-^)
'Tsumetai ne...': Tsumetai significa frio, indiferente. Percebe a relação?
Gomen (nasai): Me desculpe
'Sou ka': concorda, tipo como 'Entendo.'
Dame: Não. (um corte feio, pode crer =P)
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A-ca-bou! O capítulo, é claro... Bom, o caso é que ficou um pouco curto, se comparado com os outros (com o segundo, para ser mais exata), mas eu achei que o encontro da Tomoe com a Rei foi um bom momento para encerrar. Bom, esse capítulo eu (graças a Deus) fiz todo no computador... Minha mão agradece... Mas isso não é relevante! (E desde quando eu digo coisas relevantes aqui... ? ¬¬")
Tá, como estamos falando de irrelevâncias, eu vou contar que escrevi isso em meio às minhas provas finais de trimestre. Ou seja, eu estou atordoada (por isso, me ignorem quando necessário) e se eu não passar eu vou colocar a culpa... nisso aqui. Mas isso também não importa, já que eu sou o tipo de pessoa que estudou Log por dois anos e ainda não sabe o que é esse negócio...! (Alguém sabe? Ô_õ) Aliás, eu já estou conformada com o fato de que matemática é a maldição que vai me assolar por toda a eternidade... E quem se importa?? Argh!
Forçando a mudança de assunto... Escrever sozinha é bem difícil... Não dá pra perceber os próprios erros com facilidade... Além de as idéias se reduzirem pela metade, né... Mas a DarK_Rei é uma menina ocupada =P E eu sou o cúmulo do ócio... Então acho que não tive muita escolha. Além disso, ela vai viajar pra Alemanha daqui a uns dias! (Hmm... Vou começar a minha lista de encomendas ainda hoje... ^.~) Eu não faço idéia do que vai acontecer, mas provavelmente o ritmo dos acontecimentos vai ficar mais rápido, senão a história não vai ir pra frente, o que acabaria deixando muitos dos que lêem esse fic entediados ao limite... (se é que já não estão... Ô.õ)
E mais uma coisa: Quem diabos foi que me rogou essa praga?!?!?! Eu to sem Internet de novo!! Não é possíveeeeelll!!! Tem que ser coisa do demo... Putz... Não dá pra crer... (*Tomoe Ayanami com ódio contido* _")
Comentando algumas Reviews:
Eu estou fazendo o lindo e ruivinho Kenshin PIRAR porque eu estou com ódio contido.
Eu estou ignorando a formatação por agora, porque eu estou com ódio contido.
Eu estou demorando a postar porque fiquei sem Internet de novo – o que causou o meu ódio contido.
Infelizmente, meus problemas particulares ultimamente têm contribuído para intensificar meu ódio contido.
Obs¹: Tenham paciência comigo enquanto eu não consigo liberar meu ódio contido.
Obs²: Eu REALMENTE tenho pena da criatura que estiver comigo quando meu ódio contido for liberado.
Hm... That's all! Arigatou, ne... Kisu³ Ja! Tomoe Ayanami
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[Próximo capítulo: Thebe]
