AS ESTRELAS NÃO TÊM NADA A VER COM ISSO
Autora: Madam Spooky
E-mail: spooky_rae@terra.com.br
Retratação: As personagens de Rurouni Kenshin pertencem a Nobuhiro Watsuki, não a mim. Não tenho intenção de obter lucro com este fanfic, apenas divertir fãs do anime.
N/A: Oi, gente!! Estou de volta com mais um fanfic de Rurouni Kenshin. Eu tinha prometido a mim mesma que não ia publicar nada até terminar um dos outros, mas... *olha para o chão e começa a fazer círculos imaginários com o pé* Vou tentar não demorar muito com os capítulos. ^_^ Desta vez, a idéia do fanfic também não me pertence, ela pertence a Chibi-lua que me deixou escreve-la (obrigada, Chibi, eu espero não decepcionar). E obrigada também a Dai, pela ajuda que me deu com este prólogo.
Espero que se divirtam!!!
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Prólogo - Uma Manhã Absolutamente Normal
O dia está frio e nublado, clima estranho para uma manhã de verão. Eu olho a minha volta e posso sentir o vento circular sobre minha cabeça e envolver as folhas das árvores próximas, levando-as com ele em uma dança colorida e bem articulada. É o rito que precede a chegada do outono todos os anos e eu levaria um longo tempo apreciando-o se não tivesse que continuar correndo.
Não faz muito tempo que amanheceu e a cidade ainda está mortalmente quieta. De vez em quando ouço o ranger de uma porta se abrindo e vejo quando um cidadão despreocupado sai para o quintal de casa ainda espreguiçando-se, tentando organizar os pensamentos e se lembrar o que planejara fazer esta manhã.
Lavar roupa; era isso que eu faria se tivesse despertado como um deles, como o homem comum que sou desde aquele dia abençoado que me trouxe Kaoru Kamiya e uma nova vida. Eu não posso imaginar qualquer coisa que me desse mais prazer neste momento que sentir a água fria sobre minhas mãos, o aroma suave do sabão embrenhando-se na leveza dos tecidos até deixa-los tão imaculados quanto eu gostaria de me sentir algum dia. Mas eu não posso fazer nada esta manhã e desconfio que não poderei fazer por muitas outras se não continuar correndo.
As casas vão passando uma a uma e logo as ruas e bairros. Estou correndo em círculos. A muito meu atordoamento me lançou a um estado de torpor sem precedentes. Minhas pernas se movem por reflexo enquanto minha mente vaga por lugares mais seguros, mais racionais, onde eu não preciso passar por essa provação.
Eu evito olhar para as calçadas ao meu redor e para os homens que me observam com expressões curiosas, espantadas ou com pequenos sorrisos maliciosos no rosto. Eu quase posso ver Seijuurou Hiko entre eles, com sua inseparável garrafa de sake, gargalhando loucamente e gritando que só seu estúpido pupilo para se meter em uma enrascada como aquela e correr simplesmente. Mas, raios, o que mais eu poderia fazer se não isso?
Afasto o horrível pensamento e novamente tomo consciência de minhas pernas. Não demora muito para que meu senso de direção também retorne e eu finalmente compreenda onde estou.
E eu me sinto horrorizado por isso.
A rua do mercado se torna nítida a minha frente e eu já posso ouvir os gritos entusiasmados de "promoção de tofu", "kimonos pela metade do preço" e outros anúncios semelhantes vindos dos primeiros comerciantes do dia. Pobres infelizes. Eu, que fiz um voto de não matar e proteger os fracos, agora estou levando até eles uma verdadeira tempestade. Pensando bem, o pobre infeliz serei eu mesmo, a noite, nos próximos dias, quando deitar em minha cama e não conseguir fechar os olhos de tanto remorso.
Isso se eu ainda tiver uma cama. Se a senhorita Kaoru me perdoar.
A curva que a rua faz pouco antes do mercado ambulante está a menos de cem metros a minha frente. Eu que estava tentando correr o mais rápido que podia sem trair minhas habilidades de espadachim, agora diminuo a velocidade. Não quero dobrar aquela esquina, mas não há outra maneira de escapar do meu problema. As construções a minha volta são altas demais até mesmo para mim e mesmo toda a minha experiência em batalha que me ensinou a ser criativo em situações extremas não está ajudando. Ah, droga... A esquina vem aí, seja o que Kami-sama quiser.
Eu dobro a esquina e, apesar da vontade de fechar os olhos com força e só abrir quando tudo estiver terminado, eu os obrigo a permanecerem atentos ao caminho a minha frente. Lá estão todos eles, comerciantes e clientes. Posso ver uma mulher, vestida com roupas estranhas, escolhendo frutas em uma barraca um pouco afastada, a primeira que será atingida quando eu passar por lá.
- Saiam daí!! - eu grito, na tentativa de chamar a atenção dela.
As pessoas que tomavam café em uma boteco na esquina, a maioria bêbados segurando suas garrafas de sake, abraçados a mulheres vestidas com kimonos escandalosamente decotados, olham para mim com interesse. Eu continuo correndo e acenando loucamente para a mesma mulher que não dá sinal de ter me entendido e ouço quando eles gritam, assobiam e alguns até fogem ao ver do que eu estou fugindo.
- Cara de sorte! - um deles diz e joga sua garrafa contra a calçada.
A mulher que comprava frutas está olhando para mim abismada e eu quase sorrio aliviado. Ela me viu. Ela finalmente me viu e vai dar o alarme. Talvez algumas mercadorias sejam danificadas, mas pelo menos haverá tempo de todos saírem da frente e eu poderei passar com a consciência mais leve.
Ela grita alguma coisa. Eu percebo que ninguém está se mexendo e desmancho o sorriso, preocupado. É com grande horror que vejo a mulher largar suas compras na barraca e posicionar-se de braços abertos no meio da rua, bem na minha frente. Em exatamente dez segundos eu estarei lá e ela vai conseguir me prender. Eu não poderei passar sem machuca-la. Oh, Kami, o que devo fazer?
Então a salvação aparece bem na minha frente como uma luz que se acende de repente bem em cima da porta enquanto se tateia em um quarto escuro. Uma construção pequena, que parece ser um armazém, mas eu não tenho certeza nem tempo de averiguar. Eu corro para ela, dou impulso, salto por cima de uma gaiola cheia de pássaros e depois para cima de uma barraca. De lá impulsiono meu corpo com toda a força que consigo reunir e salto para o telhado do prédio ficando a salvo.
Com pesar eu olho para baixo e vejo o meu receio tornar-se realidade. A multidão de mulheres que me perseguia continua correndo, poucas tendo captado meu movimento, e seguem pela rua levando barracas, clientes e comerciantes junto com elas. Como pude ser tão descuidado? Eu poderia ter tomado o caminho da floresta, mas acabei voltando para a cidade como alguém que nunca pisara em Tokyo. Talvez eu não tenha me dado conta, mas tenha voltado por ela, por Kaoru. Eu preciso encontra-la antes que seja tarde e explicar que ela não viu o que pensa que viu. Ou melhor, ela viu sim, mas dessa vez, por mais que se diga que essa é a desculpa preferida dos homens, eu juro que não foi minha culpa.
Eu olho para todos os lados procurando uma maneira de chegar ao dojo Kamiya até calcular que estarei seguro se seguir por cima das casas. Lá embaixo elas já começam a se organizar e tentar desesperadamente escalar as paredes para chegar até mim. Posso ver uma escada sendo trazida por uma mulher muito bonita que me lança um olhar cheio de luxúria. A pouco mais de meio ano atrás, isso seria um convite irresistível para mim, mas agora ela me afeta tanto quanto um cachorro abanando o rabo. Ela não é Kaoru, nenhuma delas é. Tudo que eu quero é chegar ao dojo e explicar inúmeras vezes até que ela entenda. Depois sim, eu poderei sair e ter uma longa conversa com Sano e, ao término dela, se ele não correr suficientemente rápido, talvez abrir uma exceção aquele meu voto de não matar...
Talvez tenha sido o desejo de rever Kaoru, talvez o de torcer o pescoço de Sano, mas aos saltos, de telhado em telhado, consigo chegar à entrada do dojo e estar finalmente em casa e seguro. Agora não ouço mais as vozes delas gritando meu nome como se estivessem loucas e o silêncio me conforta. Na rua há apenas um casal de pedestres que, ocupados demais adorando um ao outro, sequer percebem minha presença. Perfeito. Talvez o pesadelo tenha acabado e elas não me encontrem. Eu poderei entrar no dojo e não sair de lá até que o meu nome seja completamente esquecido.
Eu entro correndo e passo direto para o quarto da minha anfitriã.
- Kaoru, eu juro que não era minha intenção! - digo ao mesmo tempo em que escancaro a porta sem sequer me preocupar em bater. Corro o risco de flagra-la se trocando e levar uma surra de bokken, mas eu não penso nisso até ser tarde para voltar atrás. - Eu quero me desculpar pelo que houve...
Ela não está no quarto. Não estava na sala quando passei, então o mais provável é que ainda não tenha voltado. Mas que azar... O que mais poderia dar errado hoje? Só falta Kaoru decidir ficar na clínica como sempre faz quando está zangada comigo. Eu penso que o sentimento a faz esquecer que o dojo é a casa dela, deixada pelo pai dela, pertencente à família dela, não a minha. Ela poderia gritar e jogar as minhas coisas pela janela quando quisesse e ordenar que eu sumisse da vida dela e não aparecesse nunca mais, mas ela não faz isso. Minha Kaoru pensa em mim até mesmo quando me odeia e eu a amo por isso.
- Kaoru?
Nada na cozinha, nada nos outros quartos, nada atrás do dojo. Ela não está em lugar nenhum e eu não posso sair para procura-la. Se eu encontrar aquela multidão de loucas apaixonadas não vai sobrar um pedacinho sequer do rurouni para contar a história. O estado de minhas roupas fala por mim. Chega a ser engraçado que o lendário Battousai tenha que passar por uma coisa assim. Se isso tivesse acontecido há dez anos atrás talvez eu matasse todas elas alegando que estavam importunando minha paz e se colocando na frente do objetivo da era pacífica, mas eu não tenho mais esse argumento nos dias de hoje. Inferno, eu nem tenho mais a minha velha espada. Não que eu iria mata-las se pudesse, mas quando eu penso no problema que me causaram... De qualquer maneira terei que permanecer aqui, não ouso arriscar. Quero estar vivo e de preferência inteiro quando tiver a conversa que poderá mudar minha vida. Tudo o que eu posso fazer no momento é trocar de roupa e esperar.
Começo a andar sem pressa em direção ao quarto quando ouço o temido barulho de vozes:
- Kenshin! Kenshin! Kenshin!
São elas. De alguma maneira souberam que eu viria para o dojo e agora estão vindo atrás de mim.
- Kenshin! Kenshin! Kenshin!
Não, não, agora não... O ruído aumenta de volume a cada segundo, o que significa que elas estão chegando mais perto. Eu já estou em pânico, mas consigo ficar ainda pior ao constatar que não lembro de ter fechado o portão da frente. Ele estava aberto quando eu cheguei e entrei com tanta pressa para falar com a senhorita Kaoru que não me lembrei de fecha-lo.
- Os portões estão abertos e elas estão chegando perto... - eu repito, para dar consistência à idéia. É difícil para alguém como eu admitir que cometeu tamanha burrice. Talvez faça parte da minha sina, todas essas mostras de incompetência devem estar escritas no grande livro do destino, que fica nas estrelas, em algum lugar do universo, dizendo que o dia em que finalmente Battousai, o retalhador será vencido é justamente hoje. E não por um espadachim poderoso, vindo do passado em busca de vingança ou de um oponente forte para enfrentar, mas por um maldito batalhão de histéricas querendo um showzinho particular com um ruivo, pouca roupa e muita bebida.
O que eu fui fazer...?
Eu penso nas chances de escapatória que ainda tenho como um desesperado. Posso me esconder no quarto se eu quiser, mas é improvável que não me encontrem lá. Quantas elas são? Cem? Duzentas? Eu posso me lembrar delas ocupando a rua do mercado como a avalanche de pessoas saindo do antigo Coliseu de Roma depois de ver leões devorando cristãos inocentes. A diferença é que nesse caso, elas são os leões e eu sou a presa. Não sou cristão, mas pela primeira vez na vida, sou inocente.
"Perfeito, Himura", soa a voz de Battousai dentro da minha cabeça, completando o meu dia. "Anos de luta contra os espadachins mais poderosos do Japão e eu nunca consegui nos matar, em compensação, você só precisou de uma noite e uma garrafa. Eu espero que esteja satisfeito, morreremos com honra", havia um indiscutível tom de deboche nessa última palavra e eu começo a sacudir a cabeça a fim de me livrar desses pensamentos. Eu não preciso de um assassino debochado complicando minha vida agora. E eu me recuso a morrer. Mesmo que elas consigam me pegar, eu duvido que queriam a minha morte. Eu só não vou ficar aqui parado esperando para descobrir se tenho ou não razão.
- Kenshin! Kenshin! Kenshin!
As vozes estão quase no portão e eu não vou mentir, dizendo que não estou em pânico. Eu estou em pânico. Nunca senti tanto medo na vida. Não por mim. Até então todas as batalhas foram algo simples: viver ou morrer, e eu podia controlar isso, mas o que está lá fora... Droga, eu estou com medo de um bando de mulheres!
Kaoru merece uma explicação e eu não vou decepciona-la. Também penso em Sano que merece cada pontinha de dor que eu possa faze-lo sentir. Começo a me lembrar de Kaoru mandando Yahiko guardar algum material de treinamento no... Porão! O dojo tem um porão!
Eu corro para fora e começo a vasculhar o terreno até encontrar um pequeno alçapão quase imperceptível perto da parede do salão de treinamento. O lugar está cheio de trastes velhos, deve haver muita poeira e eu nem imagino o que mais, mas agora é tudo o que eu tenho. Já sobrevivi a situações piores e por isso não penso duas vezes antes de abrir a portinhola e pular para dentro, fechando-a atrás de mim de maneira que ela fique tão oculta quanto estivera antes.
Bem a tempo. Posso ouvir o barulho dos passos delas ecoando sobre minha cabeça e suas vozes chamando por mim. Eu não me mexo e levo minha mente para longe dali, para perto de Kaoru, tentando imaginar o sorriso deslumbrante que ela exibirá da próxima vez que nos virmos, quando eu disser tudo que tenho guardado para mim mesmo nos últimos meses e ela entender que nada disso está acontecendo por minha culpa. Ela saberá nem que eu tenha que torturar Sanosuke até que ele confesse.
Eu fecho os olhos e a vejo. O barulho da
multidão abandona meus sentidos. No instante seguinte não há mais porão nem
perseguidoras apaixonadas. Há apenas eu, Kaoru e o vislumbre de um belo futuro.
FIM DE PRÓLOGO
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E então? Muito estranho? Caso a resposta seja sim, eu fico muito feliz!! Hehe...
Continua??? Por favor, comentem!!
Madam Spooky, que adora coisas estranhas, como não poderia deixar de ser... =^-^x=
