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Notas: Esta história é contada pela Tomoyo Daidouji e está dividida em três partes. Todos os personagens pertencem á Clamp , eu só escrevo porque gosto.
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Seis dias nas férias de Verão
Parte I
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Por Tomoyo Daidouji
Quando olho para trás, parece-me que tudo aconteceu á muito tempo. Mas não foi assim. Tudo se passou á cerca de...quantos? Dois? Três? Quatro anos? Não sei. É demasiado difícil recordar á quanto tempo foi. E no entanto...lembro-me com clareza do que aconteceu. Aqueles dias, as horas, os minutos fazem parte de um passado estranho e confuso que quero esquecer e não consigo.
Como posso esquecer o passado? É tão difícil...tão horrível...Sei que por mais que me queira esquecer de tudo, mais as recordações virão marcar-me, como um relógio a bater as horas. Por quanto tempo continuará o passado a perseguir-me? Talvez...talvez seja para sempre, não sei ainda.
"Aquilo" marcou a minha vida. E no entanto, foram só seis dias. Seis dias nas férias de Verão.
Recordo-me bem de como era na altura em que "aquilo" aconteceu. Devia ter 21 anos...era alta, elegante e bonita. Tinha sonhos para realizar, planos para o futuro...e era feliz. Os meus olhos brilhavam a cada minuto que passava e a imaginação levava-me a conhecer terras diferentes, por onde nunca ninguém passara. Tinha um pequeno apartamento em Tóquio, onde vivia desde a morte da minha mãe-Sonomi Daidouji- e trabalhava como professora de crianças na escola infantil de Tóquio. Levava uma vida normal, com alegrias e algumas tristezas que rapidamente passavam.
E, num dia de Verão, chegou aquela carta. A carta que iria mudar as nossas vidas.
"Querida Tomoyo
Os amigos nunca se devem separar. Eu concordo com esta frase. Que pensas tu de um reencontro?
Convido-te a ti, á Sakura, ao Shaoran e á Meiling para que passem comigo seis dias numa casa de férias que comprei no Japão.
Aceita o convite!
Eriol Hiragisawa"
Quando acabei de as últimas palavras, deixei-me cair num sofá próximo. Eriol Hiragisawa...lembrava-me bem dele. Fora á uns anos para Inglaterra e tinha mantido contacto comigo, através de cartas, telefonemas e alguns e-mails. Éramos bons amigos, mas nada mais e, apesar de Sakura me ter dito muitas vezes que entre mim e ele havia mais do que amizade, nunca o senti. Eriol era só um amigo. E agora, aquele convite...um reencontro...seis dias...os meus olhos brilhavam de prazer. Seria encantador reencontrar Sakura, Shaoran, ou Meiling. É claro que ia aceitar aquele convite.
Comecei imediatamente a escrever uma resposta:
"Eriol
Será ótimo um reencontro entre amigos! Tenho tantas saudades dos "velhos" tempos que passámos em Tomoeda...
Vou de certeza adorar esses seis dias que vamos passar todos juntos nas férias de Verão.
Um beijo da Tomoyo"
Na altura, pensava que seis dias não chegavam para um reencontro...mas agora, aprendi que seis dias chegam para muita coisa, como por exemplo, mudar vidas. Sim, aqueles seis dias iriam mudar a minha vida. Mas eu não podia prever o futuro e estava ansiosa para que o dia do reencontro chegasse. Um reencontro entre amigos.
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A casa de Eriol ficava num lugar muito pouco conhecido e desabitado e assim, ele alugou uma camioneta para que eu, Sakura,Shaoran e Meiling pudéssemos ir juntos.
Por isso, pude rever os meus amigos mais cedo do que esperava. Não tinha mantido contacto com Meiling e fiquei bastante satisfeita por a ver. Ela continuava a mesma...simpática,alegre e bonita e, embora tivesse madurado um pouco, continuava a ser a mesma Meiling da minha infância.
Fiquei bastante surpreendida quando vi Sakura e Shaoran. Quando eu saíra de Tomoeda, os dois estavam a namorar e pareciam bastante felizes. Mas agora, tinham-se modificado bastante. Sakura tratava Shaoran de forma muito fria e ele parecia evitá-la. O comportamento dos dois fez com que me sentisse preocupada e aflita, mas Meiling pareceu não dar por isso e falou durante toda a viagem sobre Hong Kong, a China, o seu emprego e mais algumas coisas sem importância.
A viagem foi bastante incómoda...o condutor parecia-me meio adormecido, e era bastante duro e frio na maneira como falava comigo e com os outros. Não vimos outros carros passar na estrada, o que me assustou um pouco, habituada como estava ás ruas movimentadas de Tóquio. A casa de Eriol ficava mesmo longe de tudo e de todos! Foi uma viagem bastante longa e eu sentia-me muito mal, sentada entre Sakura e Shaoran. Era quase como se eu fosse uma barreira entre os dois...Mas que parvoíces estava eu a dizer!? Nós éramos amigos, não éramos? Na altura, não suspeitei de nada ao ver ao comportamento dos meus amigos de infância...mas acontecimentos futuros iriam provar-me que não éramos os mesmos...e que devemos suspeitar de tudo...e de todos.
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Chegámos á casa de férias de Eriol por volta das cinco horas da tarde. O sol tinha um brilho alaranjado e o ar parecia sufocante. Acho que não podia chamar aquilo uma casa, pois na verdade não era uma casa, mas sim uma grande mansão, construída para passar umas férias tranquilas. Ficava situada num sítio "deserto", onde não havia nada á nossa volta, apenas uma estrada de terra batida e ao fundo, uma praia rochosa, mas agradável. Achei o lugar maravilhoso...não podia suspeitar que o viria a detestar, anos mais tarde!
A camioneta que nos tinha trazido até ali partiu e deixou-nos sozinhos no jardim, onde Eriol nos esperava com o seu característico sorriso.
" Bem-vindos á minha casa de férias. Este vai ser um reencontro memorável, não acham? "
" Eriol! Estava cheia de saudades!Como vais?"
" Tens que nos mostrar a casa! Podemos ir á praia e fazer um piquenique e..."
"Onde ficam os quartos? Temos que arrumar as malas, não se esqueçam..."
" Já não nos víamos desde..."
O som das nossas vozes confundia-se enquanto íamos acompanhando Eriol numa "visita" pela casa. Notei que não havia qualquer tipo de criados, criadas, ou cozinheiros, pelo que teríamos de ser nós a tratar de toda a casa. Lembro-me que fiquei um pouco assustada por não haver mais ninguém na casa além de nós, mas não me importei porque pensava que estarmos juntos era o que realmente importava. Se eu tivesse sabido mais cedo do que viria a acontecer...
O meu quarto ficava no fundo do corredor (era o último da casa, perto do de Shaoran)e Eriol levou-me até lá, sozinha com ele -os outros já tinham começado a arrumar as malas nos seus quartos.
"Estava com saudades, Tomoyo . Já não nos víamos desde há algum tempo..." ele sorriu como habitualmente, fazendo brilhar os seus olhos azuis meia-noite.
" Também tinha saudades" respondi " Passaram quantos anos? Dois? Acho que os verdadeiros amigos não devem estar separados muito tempo. Separação de amigos...é quase como se tivéssemos quebrado o 'laço' de amizade que nos une..."
" Talvez esse 'laço' de amizade já tenha sido quebrado por sentimentos mais poderosos..."
" Que queres dizer?" perguntei de forma brusca " A verdadeira amizade nunca acaba!"
" Há sentimentos mais fortes no mundo que a amizade. E quando esses sentimentos acabam...acaba-se a amizade".
Tinhamos chegado á porta do meu quarto onde conversávamos agora. Não dera muita importância áquela conversa mas ela ia ficar-me para sempre gravada na memória, como se fosse uma previsão...uma previsão do que se iria passar...e que mudaria a minha vida. Entrei no espaçoso quarto que ia ocupar e Eriol retirou-se, para preparar o jantar.
Fiquei sozinha e comecei a arrumar as malas. Aquele era um quarto bonito, mas prático. Não estava muito mobilado, mas tinha tudo o que eu precisava: dois armários, uma cadeira, duas mesinhas e uma jarra com rosas brancas, a cor de tudo o que era puro.
Estava habituada a tratar do meu apartamento em Tóquio e rapidamente acabei a tarefa (um pouco chata) de arrumar tudo. Ainda não conhecia toda a casa e dei uma volta por várias salas até que cheguei a uma biblioteca que me fez sentir arrepiada. Além dos livros e mesas de trabalhos usuais numa biblioteca, aquela tinha penduradas nas paredes várias armas: algumas pistolas, um revólver carmesim, três espingardas de caça, sete facas douradas, uma corda, algumas kunais e...também havia um grande machado que me fez tremer. Não era um machado qualquer, mas sim um machado grande, pesado, talvez do século XIII. Era horrível, pois lembrava cabeças cortadas, aldeias destruidas e pessoas mortas. Era um machado utilizado pelos povos bárbaros, aqueles povos que todos temiam na Europa...Estremeci novamente e voltei para junto do meu quarto. Aquele machado dera-me a sensação de que algo...ou alguma coisa ia acontecer.
Passei pelo quarto de Shaoran, o que ficava mais próximo do meu. Ele tinha a porta entreaberta e chamou-me enquanto passava. Notei-lhe sobretudo a expreessão séria enquanto me chamava.
" Tomoyo...Entra e fecha a porta, por favor."
Apressei-me a fazer o que ele pedira e sentei-me numa cadeira junto dele.
" Já deves ter percebido...mas é melhor contar-te já."
" Que se passa?"perguntei, fazendo o sorriso mais fofo que podia existir" É alguma coisa relacionada com a Sakura?"
" Sim...Tomoyo...eu e ela...eu e a Sakura...nós acabámos tudo...foi um erro estúpido. Acabou tudo entre nós"
" Lamento imenso...eu..."
" Não precisas de te lamentar. Acabou tudo muito rápido...pouco depois de teres ido para Tóquio."
" E tu...ainda a amas?"
Ele fixou o olhar no ramo de rosas vermelhas, e repondeu, tal e qual como se fosse um autómato:
" Acabou tudo...mas talvez ela ainda...ela ainda o tenha...a mim foi-me roubado, nunca mais o vou ter...mas ela ainda o tem."
Levantou-se e pegou no ramo de rosas:
" Talvez ela ainda o tenha" sussurrou para si mesmo.
Percebi que estava a mais ali e saí pé ante a pé e fui para o meu quarto. Era tudo tão estranho...todos eram tão estranhos. Mais tarde, viria a perceber que todos éramos estranhos...que todos tinhamos mudado...até eu...
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Á noite, o jantar foi servido na sala de jantar, que era grande e bonita. Uma música suave podia ser ouvida e o luar entrava pela única janela.
Sakura foi a primeira a chegar á sala. Vestia um quimono verde estampado, que combinava maravilhosamente com os seus olhos da cor das esmeraldas. O cabelo castanho estava preso por uma mola rosa e notei-lhe um pouco de palidez no rosto.
Eriol chegou logo depois, parecendo mais atraente do que nunca com os olhos azuis a brilharem intensamente e o cabelo penteado na perfeição. Saudou-me e lançou a Sakura um olhar malicioso, quase irónico, enquanto a elogiava secamente.
Shaoran apareceu na sala de jantar parecendo confuso e aturdido. Sentou-se a meu lado, evitando de propósito o lugar perto de Sakura.
Não começámos a comer porque queríamos esperar Meiling, que ainda não tinha descido.
"Deve estar a arranjar-se" sugeriu Eriol e Sakura acenou com a cabeça para cima e para baixo.
Iniciámos uma conversa ligeira, sem importância. Shaoran continuava calado, como se estivesse mergulhado nos seus próprios pensamentos. Pude olhar para ele e notei como se formava uma 'tempestade' nos seus olhos cor de âmbar. Parecia muito preocupado.
Os minutos foram passando...quinze minutos....trinta minutos...uma hora...uma hora e quinze minutos...
"Acho que seria melhor que uma de vocês fosse chamar Meiling" sugeriu Eriol.
" Posso ir lá eu"
Levantei-me e caminhei até á zona dos quartos. O quarto de Meiling tinha a porta encostada.
"Meiling...Meiling...Sou eu, a Tomoyo. Posso entrar?"
Não houve nenhuma resposta ao meu pedido.
Sentindo-me preocupada, abri a porta. Meiling estava deitada na cama, com as costas viradas para mim e tinha em cima dos seus cabelos pétalas de rosa vermelha.
"Ah! Estás aqui!"-exclamei, e aproximei-me mais da minha amiga de infância.
De súbito, deixei escapar uma exclamação abafada. No quimono vermelho da chinesa, distinguiam-se algumas manchas vermelhas de sangue já seco. Cravada nos seus cabelos, entre as pétalas da rosa vermelha, estava uma faca dourada.
Meiling estava morta. Assassinada.
Continua
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Então?
Que tal ficou a primeira parte? Há muito tempo que queria voltar a escrever uma história de mistério/drama/assassínio, mas faltava-me a inspiração...
Enfim, eu não tenho nada contra a Meiling, mas eu precisava de alguém que fosse a minha primeira vítima...desculpem-me, fãns da Meiling!...
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Este fanfic é dedicado á Sofia, a minha (única) irmã, que está quase a fazer oito anos. Obrigada, Sofia! Se não fosses tu, com quem é que eu iria partilhar os meus segredinhos?! Adoro-te, mana!
Beijos
Violet-Tomoyo
