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Notas: Esta história é contada pela Tomoyo Daidouji e está dividida em três partes. Esta é a segunda parte, desculpem pela demora. Todos os personagens pertencem á Clamp , eu só escrevo porque gosto.

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Seis dias nas férias de Verão

Parte II

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Por Tomoyo Daidouji

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Ao tomar finalmente consciência de que Meiling estava morta, tentei reagir para ao menos alertar os outros com um grito ou algo do género, mas dos meus lábios não saiu uma única palavra. Não conseguia mover-me, pois sentia o corpo gelado. Não conseguia falar, pois os meus lábios não se abriam. Por momentos, pensei que talvez também tivesse morrido, pois não conseguia sequer esboçar um simples movimento. Era horrível.

Depois de alguns minutos, consegui finalmente gritar. Mas a voz que saiu da minha garganta já não era a minha voz segura e melodiosa. Era sim a voz de uma rapariga assustada e trémula.

Eriol, Sakura e Shaoran chegaram momentos depois ao quarto e perceberam quase imediatamente o que tinha acontecido.

Eriol aproximou-se do corpo inerte de Meiling e confirmou de forma seca o que já sabíamos:

" Ela está morta."

Aquelas palavras ecoaram na minha mente e tive um leve sobressalto ao perceber finalmente que não estava a sonhar. Aquilo era real. Muito mais real do que qualquer cena de livro ou filme de acção. Aquilo era a verdade...

Olhei á minha volta e pude então observar os rostos dos meus amigos. Sakura, de olhos verdes cheios de água, ajoelhara-se perto do corpo de Meiling e murmurava uma frase estranha, onde se percebiam somente algumas palavras. Eriol mantinha-se sério e direito, parecendo até um pouco insensível. Mas eu admirei-o por conseguir dominar as suas reacções. Shaoran mantinha-se encostado á porta e os cabelos castanhos tapavam-lhes os olhos. Estava pálido e parecia assustado, o que não era natural nele, habitualmente tão corajoso.

" O que vamos fazer?" - perguntei, sobressaltando todos - " Não podemos ficar aqui parados...Ela morreu. Temos que aceitar a verdade."

" Sim, ela morreu. Shaoran, chama a polícia, por favor. Existe um telefone na entrada..."

Shaoran desapareceu então por vagos momentos, reaparecendo pouco depois com um fio na mão.

" Acho que temos aqui um pequeno problema...":

" O que queres dizer com isso?" - perguntei, intrigada.

" O que eu quero dizer é que alguém avariou o único telefone que existe aqui. Cortaram o fio principal. É impossível fazer uma chamada para a polícia neste estado."

 Senti o sangue gelar-me nas veias, enquanto ficava de novo paralisada. Sakura pareceu dominada pela histeria e exaltou-se bastante, gritando várias frases sem sentido nenhum. Curiosamente, foi Eriol quem a acalmou, colocando amigavelmente o braço em torno dos seus ombros.

" Tem calma, Sakura..."

" Como queres que eu tenha calma?! Estamos fechados nesta casa horrível, com uma pessoa morta e tu queres que eu tenha calma? Idiota!"

" Eriol, não haverá um meio de ir á cidade mais próxima chamar ajuda?"  - perguntei eu, querendo tomar a iniciativa.

" Desculpa desiludir-te, mas a única maneira de sair daqui é chamar a camioneta que vos trouxe até aqui...esta casa fica demasiado longe do resto do mundo e são raros os carros que passam por aí..."

" Queres dizer...que ficámos presos aqui?"

" Exactamente. Estamos presos até que a camioneta volte para nos buscar..."

Presos. Estávamos presos naquela casa. Ninguém poderia vir até ali, mas também ninguém poderia sair...Naquele momento, um pensamento percorreu as nossas mentes. Se ninguém podia entrar ali, então um de nós era um assassino...um de nós tinha morto Meiling...

Miradas desconfiadas encheram o quarto de Meiling e todos nos afastámos uns dos outros. O medo tomava conta de nós. E seria aquele medo que viria a perseguir-me durante toda a vida ...Não se podia confiar em ninguém...nem em nós mesmos...

*

O sol começava a nascer quando fui para o meu quarto e tentei adormecer. O quarto onde Meiling estava tinha sido fechado e o seu corpo estava agora coberto com um lençol branco. Não podendo fazer nada, eu e os outros tínhamo-nos resignado a esperar...e decidimos tentar passar aqueles seis dias de forma natural.

Curiosamente, não conseguia adormecer. Emoções e cenas do dia confundiam-se na minha mente e tentava desesperadamente achar uma solução para tudo aquilo. Uma imagem ia aparecendo cada vez mais nítida na minha mente...

Meiling, deitada de costas, o sangue seco no quimono e pétalas de rosa vermelha nos seus cabelos...

Tentei concentrar-me e pensar porque aquilo me produzia tanta excitação. O facto de Meiling estar morta era estranho, horrível e até bizarro, mas havia algo mais que chamava a minha atenção...

Sentei-me apoiada no parapeito da janela e fiz um último esforço para raciocinar. Lá fora, alguns raios de sol mais atrevidos iluminavam as flores do jardim...

As flores do jardim...

As rosas vermelhas que Shaoran segurava nas mãos...

As pétalas de rosa vermelha que Meiling tinha sobre o cabelo...

Quase caí devido ao choque que aquela revelação me tinha provocado. Como teriam as pétalas de rosa vermelha aparecido nos cabelos de Meiling? No jardim, não existiam rosas vermelhas e nos quartos, todas as rosas eram brancas...Excepto no quarto de Shaoran...

Recordei então a conversa que ambos tínhamos tido, em que ele me falara de Sakura...nas suas mãos tinha um ramo de rosas vermelhas...

 Instantaneamente, fiquei paralisada com a solução que me parecia a mais óbvia. Shaoran matara Meiling? Não sabia, mas era ele o único que parecia podê-lo ter feito. Fora o que chegara mais atrasado á mesa do jantar e o único que tinha rosas vermelhas...

Atarantada com a descoberta, vesti rapidamente umas calças azuis informais e uma blusa de riscas amarelas e apressei-me a ir até á sala onde tomávamos o pequeno almoço.

Sakura já estava lá, e o seu vestido de Verão parecia demasiado grande para a sua figurinha frágil e demasiado pequena. Aproximei-me dela e sentei-me a seu lado.

" Tomoyo..Bom-dias"

"Bons-dias, Sakura"

O silêncio tomou então conta de nós e recordei com nostalgia a infância, quando Sakura era a minha maior amiga e companheira e juntas conversávamos e trocávamos bilhetinhos nas aulas. Que saudades! Mas muita coisa tinha mudado desde então.

" O Eriol também já acordou. Está na cozinha."

Olhei para a minha amiga e pude notar-lhe os olhos verdes rodeados por círculos negros. Sakura parecia tão triste, tão desanimada...o que se teria passado com ela?

" Sabes uma coisa, Tomoyo? Desde que tu saíste de Tomoeda houve muita coisa que mudou...a Rika e o professor Terada estão noivos...Chiharu e Iamazaki casaram...Só eu continuo sem nada, sem ninguém..." - enquanto falava, Sakura abria e fechava as mãos, como se se sentisse solitária. Ainda amaria Shaoran? Era difícil dizer...

" Sakura, tu ainda amas o Shaoran ?"

A minha amiga abriu os olhos de forma espantada e limitou-se a abanar a cabeça.

" Eu não o amo...na verdade, fui eu que terminei a nossa relação. Estava farta. Primeiro, pensei que tivesse sido um erro estúpido acabar tudo daquela maneira, mas depois percebi que o meu coração pertencia a outra pessoa..."

Sorriu de forma egoísta e pegou na chávena de café á sua frente.

" Um brinde ao meu futuro"

*

Shaoran acordou mais tarde que todos nós e concedeu em acompanhar-me até á biblioteca. Parecia ter perdido a força de viver e arrastava-se agora comigo pela biblioteca, fazendo um ou dois comentários sobre os livros, tentando aparentar a naturalidade que a todos nos faltava. Só momentos depois tive coragem suficiente para abordar o assunto que me levara até ali.

" Shaoran...eu estive a pensar no que aconteceu ontem...recordei que Meiling tinha rosas vermelhas no cabelo..."

" Sei no que pensas, Tomoyo" - sorriu ele, fazendo com que eu corasse - " Mas não fui eu que colocou as rosas vermelhas no cabelo da minha prima. Se não acreditas, podes ir comigo até ao meu quarto...as rosas vermelhas que eu tinha continuam lá"

"Oh!" - exclamei, bastante embaraçada - " Eu não te estava a acusar. Mas achei estranho que..."

" Eu percebo-te. Mas tens que acreditar em mim. Eu não a matei. E nem mesmo lhe coloquei as rosas vermelhas no cabelo"

Os nossos olhares cruzaram-se numa espécie de 'fim de conversa' e senti aquele laço de amizade que nos unia. Mas era estranho...este não era um olhar de amizade...talvez fosse como Eriol dizia...talvez este olhar escondesse sentimentos mais fortes. Sentimentos de confiança e amizade. Ele confiava em mim....

Eram sentimentos mais fortes...mal eu sabia como este olhar ia mudar a minha vida...mas só o percebi tarde demais...tarde demais...

*

O dia decorreu sem mais incidentes e arrastou-se devagar, de forma muito lenta. Não confessávamos uns aos outros, mas todos nós temíamos pela vida...pela nossa vida e pela dos outros. Era tudo tãao estranho, tão diferente...porque não poderíamos voltar a ser amigos como antes? Acaso aquele assassínio tinha destruído a nossa amizade?

Não sabia a resposta para as perguntas que formulava naquele dia...e mal podia pensar que essas perguntas me iriam perseguir para toda a vida...

*

No dia seguinte, acordei com a estranha sensação de 'tempo trocado'. Tinha tido pesadelos terríveís com a morte de Meiling e as rosas vermelhas que lhe cobriam os cabelos negros. Sem saber porquê, a imagem das rosas continuava a perseguir-me de forma estúpida...mas afinal, que mal poderiam ter umas simples rosas vermelhas?

Quando desci para o salão onde costumávamos descansar de manhã, encontrei Sakura no caminho.

" Bom-dia, Sakura"

"Bom-dia, Tomoyo. Hoje está um dia lindo, não achas?"

Surpreendida, olhei a minha melhor amiga como muitas vezes fizera . Estava tão diferente de ontem! Os olhos brilhantes, as faces coradas e o ar de felicidade davam-lhe um ar belo, irreal.

" Gostas do meu vestido novo?"-perguntou-me, fazendo rodopiar a saia.

" É muito bonito, Sakura."

" Nunca pensei usar este vestido aqui, depois do que aconteceu á Meiling. Mas ontem aconteceu uma coisa estupenda!" - ela inclinou-se para me mostrar um anel dourado - "Não é maravilhoso? Ele deu-me...e ele..."

Shaoran apareceu nesse momento e Sakura ficou calada, parecendo fria e distante.

" Bons-dias, Shaoran" -saudei, enquanto reparava que Sakura simplesmente fugia dele, indo falar com Eriol, que estava na cozinha.

"Ah..Bom-dia, Tomoyo"

Notei que os olhos castanhos dele estavam pousados em Eriol e Sakura e pareciam frios, muito ameaçadores. Era quase como se...como se estivesse ciumento. Foi então que me ocorreu uma canção ao espírito, uma canção daquelas que nunca tinha percebido até ao momento...

"Quando o amor é errado

O ciúme e o pecado dão a mão

E dás-te conta que chegar  ao Inferno

É tão fácil como abrir a mão..."

Sorri para mim mesma. Tudo parecia demasiado estranho, demasiado falso.

Mas eu sabia que novas coisas iriam acontecer. Mais cedo...ou mais tarde.

"E dás-te conta que chegar ao Inferno

É tão fácil como abrir a mão"

*

O sol já se estava a esconder no horizonte quando finalmente decidimos ir tomar um chá leve para a sala onde tinhamos jantado da última vez. Fui eu e Eriol quem preparou o chá, enquanto conversávamos sobre alguns assuntos sem importância.

" Eu ajudo-vos a levar o chá para a cozinha"-pediu Shaoran, aproximando-se de nós e carregando o tabuleiro que continha os pratinhos e o açucar.

" Tudo bem"-Eriol sorriu de forma enigmática, enquanto se encaminhava até á sala, onde Sakura já nos esperava.

"Então esse chá, está bom?"

"Ótimo! Vais gostar, prometo-te" - assegurei.

Cada um de nós se serviu de um copo de chá enquanto Eriol e eu continuávamos a conversa de á pouco, e Shaoran dizia algumas frases simpáticas.

Sakura interrompeu a nossa conversa, elevando a sua voz fina:

" Tenho algo para vos contar...um de vocês já sabe, é claro, mas..."

" O que é, Sakura?"

Ela ergueu o anel que me mostrara de manhã e sorriu:

" Com este anel, vou começar uma nova vida, ao lado da pessoa que amo. Vou ter um futuro magnífico! Um brinde ao meu futuro!" - E a rapariga de olhos verdes pegou no copo e sorveu o chá de um trago.

De repente, porém, as suas esperanças para o futuro terminaram. Sakura Kinomoto engasgou-se, engasgou-se seriamente. O seu rosto contorceu-se, ficando roxo. Tentou desesperadamente dizer-nos algo, mas era tarde demais. Segundos depois, escorregou da cadeira e deixou cair o copo ao chão.

Uma pétala de rosa vermelha deslizou suavemente até ao seu corpo inerte.

Não era díficil dizer o que tinha acontecido. Sakura Kinomoto estava morta.

Continua

***

E aqui está a segunda parte da história...

Como vos parece que ficou? Esta parte custou-me bastante mais a escrever, embora fosse bastante mais emocionante (na minha opinião) e mais reveladora. Mas ainda muita coisa vai acontecer...e só na terceira parte se vai desvendar tudo.

Enfim, a personalidade da Sakura está um pouco mudada no fanfic e eu queria pedir aos fãns dela para não ficarem zangados por eu a ter morto. Desculpem!...

Algum comentário, dúvida ou sugestão, enviem para rika_rita .com.br ou deixem simplesmente um review no próprio fanfiction.net com o comentário, dúvida ou sugestão. Adorava saber o que pensam sobre este fanfic!

Queria agradecer a todos aqueles que me deixaram apoio, isso dá-me muito ânimo para continuar a escrever! Obrigada a todos/as!

Este fanfic está dedicado á Sofia, a minha irmã que mesmo sem saber me ajudou muito a 'construir' a trama final. Obrigada, mana!

Acho que é só.

Beijos

Violet-Tomoyo