N/a: Neste capítulo, um pouco mais de interação entre Darcy e Elizabeth e Lucy, será que a opinião delas sobre ele irá mudar?
Maria Teresa C, vamos ver se o Darcy consegue conquistar a filha, já que a mãe está com a guarda levantada. IASBr, alguns poucos detalhes sobre a esposa de Darcy neste capítulo. Agradeço pelos feedbacks!


Capítulo 5 - Um admirável amigo

Apesar de terem retornado tarde de Rosings, Elizabeth ouviu a porta do quarto que estava ocupando se abrir. Ela havia acabado de se trocar e se virou e sorriu ao ver Lucy entrar e ir direto para seu colo. Sua expressão era sonolenta e ela arrastava sua manta favorita consigo.

-Já é de manhã? - perguntou ela, confusa.

Elizabeth agradeceu sua dama de companhia e a dispensou. Sentou-se na beirada da cama com a menina no colo.

-Não, ainda é noite. Nós acordamos você?

A menina simplesmente deu de ombros, os dedos alisando uma das pontas da manta. Era um costume que ela tinha desde muito pequena e Elizabeth sabia que ela logo adormeceria novamente. Ela se recostou na cabeceira da cama, abraçando a criança contra o peito como fazia quando ela era um bebê.

-Mama... a vovó disse que você vai se casar de novo, é verdade? - perguntou, os olhos pesados.

Elizabeth pensou na resposta. Com a filha ela não precisava manter a guarda, poderia ser totalmente honesta. Mas qual era a verdade? Queria ela se casar novamente?

-Talvez algum dia. Mas não por enquanto, Lucy.

A menina sorriu, finalmente se entregando ao sono.

-Que bom.

~X~

-Mamãe, mais rápido! - disse Lucy, correndo à frente da mãe com uma fita violeta, que ela havia pegado entre suas coisas para brincar. Elizabeth correu mais alguns metros, mas finalmente se cansou, as duas mãos no joelho.

-Chega, Lucy! Preciso de um descanso. - ela se encostou a uma árvore, recuperando o fôlego, enquanto observava a menina continuar a correr, olhando para a fita que voava veloz atrás de si.

Elizabeth ouviu passos se aproximando pelo caminho que cruzava aquele em que ela e a filha estavam e, ao se virar, se deparou com Mr. Darcy.

-Bom dia, Mrs. Sheffield.

-Mr. Darcy. - ela disse, fazendo uma mesura.

-A senhora está bem? Está sem fôlego.

-Sim, estava brincando com minha filha.

-Oh, é claro.

O sorriso no rosto de Elizabeth sumiu ao ouvir as palavras, que pareciam carregadas de julgamento.

-O senhor disse que iria acordar cedo hoje. Planejava fazer uma caminhada?

-Na verdade haviam alguns assuntos que precisava resolver. Acabei de fazer uma pausa.

Ela concordou e ficou em silêncio. Imaginou se deveria se desculpar a respeito dos comentários com os quais ele abandonou a mesa no dia anterior, mas então se lembrou novamente de como, a cada novo lugar que ela ia, as pessoas lhe faziam perguntas pessoais a respeito de sua família, e lhe diziam que ela precisava casar de novo. Mas quando se tratava de Darcy na mesma posição de viúvo, nada era falado e a história sequer era de conhecimento geral.

Ela não iria se desculpar.

-Onde está sua filha? - ele perguntou afinal.

Elizabeth ia responder, mas a menina voltava correndo nesse momento, os olhos ainda na fita atrás de si. Enquanto os dois observavam a menina tropeçou e foi ao chão, o choro logo seguindo.

-Lucy, você está bem? - Elizabeth correu para a menina e Darcy a seguiu. - Lucy?

Elizabeth a ergueu do chão, procurando por ferimentos. Logo percebeu o queixo arranhado nas pedras do chão, o sangue pingando no vestido branco.

-Você está bem, Lucy? Algo dói além do queixo? - Elizabeth perguntou, fazendo movimentos circulares nas costas da menina, a voz mais alta que seu choro. A pequena esfregou os olhos, fazendo mais lágrimas escorrerem, e esticou as mãos em seguida. Ambas estavam levemente arranhadas

-Você deveria tomar mais cuidado ao correr, olhar para onde está indo. - disse Darcy, e sua voz era leve. - Foi apenas um susto, não foi?

A menina parou de chorar, mas as lágrimas ainda escorriam por seu rosto. Ela fixou os olhos nele, e Elizabeth temeu o que viria a seguir.

-Por que ele está aqui? - ela perguntou, a voz ainda chorosa.

-Estávamos conversando, meu amor. Vamos agora, temos que limpar esse ferimento. - ela disse, antes que a menina tivesse tempo de expressar sua opinião a respeito do cavalheiro.

Elizabeth se ergueu e percebeu que toda atenção de Darcy estava na criança. Ele olhava para ela com extrema concentração, mesmo que estivesse em silêncio. Ela imaginava o que se passava por sua cabeça. A repreendia mentalmente com certeza – deixando a menina correr por aí e se machucar, permitindo que se dirigisse a um cavalheiro daquela forma, sem modos algum!

-Ela está bem, senhor. Foi um arranhão, não foi o primeiro e não será o último. - ela disse, firme.

Ele ainda levou alguns segundos para tirar os olhos da criança e olhar para ela.

-Senhora? - ele parecia genuinamente confuso.

-Vou levá-la para casa para lavarmos esse ferimento.

-Rosings está mais perto, se quiser...

Elizabeth já se afastava.

-Agradeço, senhor, mas ela também irá precisar de roupas limpas.

Darcy deu alguns passos na direção dela.

-Caso queira, Mrs. Sheffield...

-Sou mais do que capaz de lidar com isso sozinha, Mr. Darcy, obrigada. - Elizabeth disse, se afastando com as mãos nos ombros da filha, que ainda chorava. Ela não deixou de notar que ele estava parado da mesma forma que ficara da primeira vez que se encontraram: congelado, mirando-as se afastarem, a surpresa estampada no rosto.

É claro que, com a sorte que Elizabeth tinha, o dia em que não poderia negar de levar Lucy até Rosings fora exatamente o dia seguinte à queda, quando o queixo da menina estava coberto pelo vermelho da ferida cicatrizando. Lady Catherine a repreendeu sobre não ensinar à menina o comportamento esperado de uma dama, sobre não deixar as brincadeiras nas mãos da babá e sobre não ser mais rápida ao tratar do ferimento, que agora deixaria uma cicatriz, com certeza.

A menina, no entanto, estava curiosamente olhando seu entorno e sua timidez inicial logo se dissipou. Acompanhada da mãe, dos tios e do Coronel Fitzwilliam, que facilmente a ganhara depois de mostrar-lhe alguns truques com moedas, ela se sentia à vontade. E claro, Mr. Darcy não estava presente.

-Você é a tia do Mr. Darcy? - perguntou a menina de repente, mirando Lady Catherine.

-Sim, eu sou. - a mulher disse, enchendo o peito. - E ele irá se casar com a minha filha, Anne. Esse era o plano original, mas o pai dele interferiu, fazendo-o casar com Miss Turner, com certeza de uma família respeitável, mas sem a fibra necessária para ser Mrs. Darcy.

Elizabeth não teve tempo de comentar pois a filha, após dar de ombros, como se provasse que aquilo não era de seu interesse, disse:

-Vocês são parecidos.

-Bom, a mãe dele era minha irmã. Mas eu acho que ele puxou muito mais ao lado do pai em aparência. A irmã dele sim, se parece com a família Fitzwilliam.

-E quem seriam esses?

-Minha família, assim como da mãe de Fitzwilliam. Não está acompanhando, menina?

-Não estou muito interessada.

-Mrs. Sheffield, seu caso é pior do que pensei! A essa menina nunca foi ensinado nenhum tipo de limite! - Elizabeth ouviu a ladainha que se seguiu, consciente de que Lucy estava distraída demais com a quantidade de objetos na sala para se importar com o fato de que ela e a mãe estavam levando uma bronca.

Por sorte pouco depois o Coronel Fitzwilliam sugeriu que eles fizessem uma caminhada, sabendo muito bem que sua tia alegaria indisposição para tal atividade. Collins disse que ficaria fazendo companhia para a senhora, por isso eles saíram acompanhados apenas de Jane e Mary.

-Peço desculpas pela falta de tato da minha tia. - Fitzwilliam disse – Sua filha com certeza tem mais coragem do que todos nós juntos, e minha querida tia não está acostumada a ouvir opiniões acerca de si mesma declaradas com tanta veemência, apesar dela fazê-lo indiscriminadamente.

-Essa era uma das razões pela qual eu temia trazê-la. - disse Elizabeth, sorrindo para a filha, que conversava com Mary. - Imagino que Mr. Darcy tenha falado alguma coisa a respeito do incidente que Lucy teve para sua tia. Não o vi hoje, ele está indisposto?

-Ele recebeu uma carta ontem e disse que precisaria partir, sem dar maiores explicações. Quanto a ele fazer comentários, não imagino como ele poderia saber a respeito do incidente para fazê-los.

-Oh, eu havia encontrado-o caminhando e estávamos conversando quando tudo aconteceu. Ele viu-a cair. Se ofereceu para ajudar mas ficou muito surpreso com tudo, imagino que não tenha muita convivência com crianças.

Fitzwilliam suspirou e Elizabeth olhou para ele.

-Se me permite dizer, seu primo é um verdadeiro mistério, Coronel. Na maior parte das vezes ele parece totalmente absorto em seu próprio mundo mas às vezes parece se dar conta de onde está e fazer um comentário agradável.

-Acredito que a senhora seja benevolente em sua descrição. - disse o coronel, rindo – Meu primo tem uma cabeça muito sensata sobre os ombros. Mas socializar-se não é um de seus pontos fortes.

-Os negócios que Mr. Darcy tinha a resolver... espero que não sejam problemas em sua família.

-Acredito que não, o mais provável é que fosse algum negócio urgente relacionado à propriedade. Apesar de que, se algum de seus amigos estivesse em necessidade, seria do feitio de Darcy correr em seu socorro. Recentemente ele salvou um de seus amigos de uma união desastrosa.

-Uma união desastrosa, senhor? Como?

-Um amigo que ele estivera a visitar nos últimos meses estava prestes a se casar com uma noiva sobre a qual pairavam fortes alegações negativas.

O coração de Elizabeth pulou uma batida. Ela observou a irmã caminhando ao lado de Mary e Lucy, as três rindo. Nos últimos meses Darcy estivera em Netherfield, com Bingley. E o último partira para Londres sem maiores explicações no inverno.

-Que tipo de alegações?

-Principalmente quanto à sua família. Darcy deu a entender que a família tinha interesse no casamento, pelo dinheiro do noivo.

-E o que ele fez?

-Removeu o amigo do convívio da moça.

Elizabeth segurou o murmúrio de espanto que quase soltou, e permaneceu o resto do caminho em silêncio, pensando como o gesto em favor de um amigo, como o coronel colocara, havia causado o coração partido de sua irmã.

~X~

-O que você acha do Coronel Fitzwilliam, Lizzy?

Elizabeth se virou para Mary, surpresa. As duas estavam a alguns quilômetros de Hunsford, voltando para casa da vila mais próxima. O Coronel Fitzwilliam havia encontrado-as, quando cavalgava pela estrada, e parado para conversar. Elizabeth percebeu que a pergunta da irmã não tinha malícia, por isso respondeu de forma sincera.

-Ele é uma companhia agradável. Conversa sobre vários assuntos, mesmo aqueles que não tem muito interesse ou conhecimento. É sempre educado e tem bom-humor.

Elizabeth esperou, mas nenhuma resposta veio da irmã.

-Por que pergunta, Mary?

-Achei que vocês dois estavam se dando bem. Achei que ele seria uma boa escolha para você.

-Uma boa escolha? - Elizabeth ergueu os olhos para Mary. - Não me diga que você está fazendo o trabalho da mamãe! Por que se importa que eu me case?

-Eu não sei, a vida como viúva me parece assustadora. Como você lida com todas as questões que surgem, além daquelas que já são de sua responsabilidade?

-Da mesma forma que um homem lidaria com elas. Nem sempre é fácil, mas não tenho outra escolha a não ser lidar com o que precisa ser resolvido.

-Você realmente não pensa em se casar novamente?

-Não com o Coronel Fitzwilliam, com certeza. - Elizabeth disse, rindo.

-Por que não? Você acabou de dizer que ele é uma companhia agradável.

-É preciso mais que uma companhia agradável para se ter um bom marido, Mary. - ela disse, e logo depois se arrependeu.

As duas caminharam por algum tempo em silêncio.

-Nem sempre é ruim, você sabe? - Mary disse de repente. - Quando ele trabalha no jardim, mexendo na terra com tanta cuidado, temos conversas agradáveis.

Elizabeth meneou a cabeça, olhando para a estrada à frente.

-Você acredita que nunca achará alguém como James? Por isso não tem interesse em um novo casamento?

-Eu tenho medo de achar alguém pior que James. - ela disse, olhando para a irmã brevemente antes de desviar o olhar. - Faço minhas as suas palavras, nem sempre as coisas eram ruins. Mas quando eram, eu desejava ter me tornado uma solteirona. Eu achei que o que vira durante o tempo do noivado era quem James era. Mas há tantos lados para uma mesma pessoa!

Notando que as feições da irmã se entristeciam, Mary a puxou pelo braço. As duas percorreram todo o caminho de volta para a casa de braços dados e em silêncio.