Primeira fic da Série Elos. Fic pós-Hogwarts. Depois de dois anos fora de casa, Gina resolve se separar, e reconstruir novamente sua vida. Mas a vida adulta não é assim tão fácil, e ela vai ter que enfrentar todos os seus maiores medos e mágoas nessa jornada de auto-conhecimento. Abrindo mão de suas convicções e revivendo o passado, ela vai tentar ser feliz de verdade. Agora e Para Sempre.

Disclaimer: Alguns personagens, lugares e citações pertencem a J.K. Rowling. Essa estória não possui fins lucrativos.

Agradecimentos: Eu gostaria de agradecer primeiro a quem leu e tem lido as fics, e mandado e-mails, sugestões, críticas... Obrigada mesmo, isso faz a gente querer continuar. Não posso deixar de agradecer as grandes amigas, e só não digo irmãs, porque são sobrinhas, Mile (que fez as minhas capas dessa fic e sua propagandas, muito lindas... Amei!) e Má (que me ajudou muito na "alfagem" e "betagem" rs Valeu, Pichitinha!). Quero deixar um beijo para a Mya Wend (Bruna Grisang) que me ajudou com o alemão da fic, valeu Bruninha. Bem, é isso, espero que vocês gostem. Ah! Quase esqueci, estou trabalhando na continuação desta fic. Bjims da Lú.

Capítulo Um -  O Caminho de Volta Para Casa

"...Eu preciso desesperadamente de você..."

Quando ele leu as palavras na carta não pensou em mais nada. Tremeu. Sabia que não poderia negar um pedido desses. Muito menos partindo dela. Não depois de tudo que a tinha feito passar. De certa forma a situação em que ela estava era parte culpa dele. Pelo menos era o que sentia.

Ela estava casada, sabia bem disso. E sozinha. Afastada da própria família - no início por opção, depois por culpa e, por fim, por medo.

Ele sabia que por mais que fizesse tudo certo daquela vez, por mais que não fosse covarde, por mais que não fosse egoísta, ela estava perdida para sempre. Como um cristal que se quebra de modo irreparável. Ela estava perdida para ele. Inalcançável. O sentimento que ela guardava por ele, dentro de seu coração, estava como este, partido.

Mesmo assim ele não pensou duas vezes. Pegou o primeiro vôo para a Alemanha e foi ao seu encontro. Não negaria um pedido de ajuda dela. Sabia como deveria ter sido difícil para ela fazê-lo. Tanto do ponto de vista prático como sentimental.

Ele já tinha lido a carta diversas vezes. Sabia de cor todas as palavras que ela tinha escrito com a caligrafia tremida, tão diferente de antes. Perdeu a conta das vezes que a tirou do bolso e correu os olhos, apenas apreciando algo que vinha dela. Fechou os olhos, guardando-a, e memorizou as palavras:

"Harry,

Eu preciso desesperadamente de você. Espero que entenda o fato de eu ter escolhido você. Eu ainda não estou pronta para me comunicar com a minha família. Eu acho que não conseguiria ter forças para isso agora. Está tudo tão recente e confuso dentro da minha cabeça. Eu mal estou pronta para abrir mão das minhas convicções para mim mesma, quem dirá para os Weasley. Você sabe como nós somos... Eu sei que terei que contar a eles sobre a minha decisão. Mais cedo ou mais tarde. Só estou pedindo um tempo para você. Um tempo para mim.

Eu realmente preciso sair daqui. Achei que poderia encontrar felicidade longe de tudo... Mas fugir do lugar não muda os sentimentos da gente. E fugir sempre me pareceu a coisa mais fácil a se fazer.

Porém agora será difícil. Eu vou estar fazendo a coisa certa pela primeira vez em dois anos. Preciso da sua ajuda para sair daqui. Por meios não mágicos. Estou impedida de desaparatar. E de mandar corujas, como você deve ter percebido ao receber essa carta por correio convencional. Espero que um dia possa me perdoar por ter recorrido a você. Eu vou me separar. Preciso. Me ajude...

Sinceramente.

Virgínia Weasley Malfoy."

Na cabeça dele as palavras martelavam. Preciso... Desesperadamente... Ajuda... Fugir... Perdoar... Separar... Malfoy... Ele franziu a testa. Não percebeu mas já estava dormindo, apesar da turbulência e da tempestade lá fora.

Não soube exatamente quando pousaram. Foi acordado pela comissária de bordo. Já estavam em solo alemão. Harry tinha viajado com pouca bagagem, levava consigo apenas uma bolsa, aumentada magicamente para caber todos seus pertences. Então retirou esta do porta-bagagens e saiu do avião. Até que tinha sido interessante voar em algo que não era uma vassoura.

Retirou a carta novamente do bolso, lendo o endereço. Foi até o ponto de táxi do aeroporto e pediu um motorista para levá-lo até a Rua Hertzalle. Entrou no carro e sentiu o estômago dar voltas. Finalmente iria revê-la. Depois de dois anos sem sequer ter notícias. Pagou o táxi e saltou em frente ao prédio em que ela morava. Apertou o número do apartamento e em instantes ouviu a voz que ansiava tanto ouvir distorcida pelos chiados do interfone.

- Sim? - ela disse em um alemão carregado no sotaque britânico. Ele ficou sem ação.

- So-sou eu. Harry Potter - ele se sentiu um idiota. Ouviu um barulho estranho e a porta se abriu.

- Suba - ela disse na própria língua após alguns segundos. Ele respirou fundo.

Harry apertou o botão do elevador mas este estava parado no décimo primeiro andar. Gina morava no sétimo. Ele olhou para as escadas. "Que mal há no antigo modo de se chegar a algum lugar?", pensou. Subiu ansiosamente os sete lances de escadas. Parou junto à porta do apartamento único daquele andar. Apoiou uma mão no batente de madeira e levou a outra mão ao peito, tomando fôlego antes de bater. Mas ela já havia aberto a porta, antes que ele tivesse retomado a respiração normal. Os dois se olharam por algum tempo.

Ele estava diferente. Mais velho, a expressão mais madura. Ela parecia a mesma, à exceção dos cabelos, presos em um coque bem feito, e das vestes, impecavelmente sóbrias, em tons pastéis. Eles permaneceram um tempo se olhando. Gina finalmente quebrou o silêncio incômodo.

- Obrigada por ter vindo... - disse, fazendo com que ele entrasse. Harry entrou e observou o enorme apartamento.

A sala deveria ter uns cem metros quadrados, no mínimo. Muito bem decorada. Um piano de cauda branco dava um toque clássico à moradia dos Malfoy. Ele correu os olhos pelas paredes. Tinham uma bela coleção de quadros. Aproximou-se para ver de perto. Picasso, Monet; leu a assinatura dos pintores.

- São os originais - ela disse desanimada. - Draco fez questão de comprá-los quando eu me interessei por arte... - Harry continuou olhando para os quadros.

- Você pinta? - perguntou sem tirar os olhos das telas. Ela riu, desconcertada.

- Não como eles. Eu... - ele a interrompeu.

- Eu adoraria ver os seus quadros - disse, olhando em seus olhos, fazendo com que Gina encarasse o chão.

- Venha por aqui - disse, andando na frente.

Conduziu-o a um pequeno estúdio, extremamente iluminado pelas clarabóias no teto, permitindo que o sol iluminasse todo o recinto. As paredes eram de vidro e atrás um jardim muito bem cuidado explodia em flores. Ele ficou impressionado.

- Eu também me interessei por jardinagem antes das aulas de piano e da pintura - ela explicou, melancólica. - Eu me ocupei muito nesse jardim de inverno - completou.

Harry a observou retirar um pano branco de cima de um cavalete. O quadro que surgiu contrastou com a claridade do ambiente.

Era uma mulher de costas, olhando por uma janela escura. Os cabelos vermelhos eram a única cor quente usada no quadro. Harry não pôde ver o rosto da mulher mas soube, na mesma hora, que era ela mesma. Observou o quadro. Na extremidade inferior direita as iniciais: "V.W.M." A letra "M" estava escrita com um outro tom de tinta. Ele passou a mão de leve.

- Ele sempre fez questão que eu assinasse o "Malfoy" - justificou a letra diferente das outras.

Harry passou as vistas pelo quadro, reparando nas cores escuras e na sensação de angústia que passava. Uma sensação de aprisionamento. Ele suspirou.

- Por que a mulher do quadro está chorando? - perguntou sem pensar. Ela respondeu automaticamente, surpreendendo-se.

- Como você sabia que a mulher estava chorando? Ela está de costas... - disse, espantada.

Ele era a primeira pessoa que observava o detalhe principal do quadro. A infelicidade da mulher. A infelicidade dela. Harry deu de ombros.

- Eu imaginei que ela estivesse - respondeu calmamente.

- Porque ela está infeliz. Presa numa gaiola de ouro. Com tudo o que o dinheiro pode comprar. Todos os mimos e vontades feitas. Mas ela não tem direito de sonhar – Gina respondeu prontamente. Harry soube na mesma hora que não estava falando da mulher do quadro.

- E por que ela não vai embora?

- Eu acho que ela tem medo do que há lá, fora daquela janela que ela tanto olha - ele se virou para ela.

- Eu pensei que a gaiola fosse mais assustadora para ela.

- Agora é.

- Por isso você me enviou a carta? - perguntou diretamente; ela sacudiu a cabeça.

- É. Eu preciso que você a ajude a pular essa janela - respondeu, séria.

- Eu vou ajudar – disse, passando a mão pelos cabelos ruivos da mulher do quadro, como se estivesse acariciando os cabelos dela. - No que ela precisar - completou sorrindo. Gina suspirou, aliviada.

- Venha - ela disse, ansiosa. Andou até um quarto muito claro também. A casa era toda branca. Agora estavam no quarto.

Uma enorme cama de casal preenchia uma boa parte do cômodo. Uma penteadeira, cheia de jóias e perfumes, e, é claro, um armário, na realidade um closet, cheio de roupas caríssimas e vestidos de griffes famosas. Ela se esgueirou e arrancou, de trás do armário, uma pequena mala.

- As minhas coisas estão todas aqui - ele estranhou o pequeno volume, diante da infinidade de peças contidas no closet. - Foi o que eu comprei com o dinheiro da venda de algumas orquídeas e de dois quadros. Não é muito mas é algo meu - ele acenou com a cabeça.

- Suponho que você vá avisá-lo - disse sem acreditar no que dizia. Gina ficou em silêncio por alguns minutos.

- Eu vou deixar um bilhete. Ele chega amanhã de manhã. Eu quero estar longe daqui quando ele chegar. Eu não sei qual seria a reação dele se... - de repente ouviram um barulho vindo da sala.

O coração dos dois disparou. Será que ele tinha chegado antes, para fazer uma surpresa para ela? O que Draco Malfoy pensaria encontrando sua mulher de malas prontas para fugir de casa com Harry Potter? Gina entreabriu a porta do quarto mas tinha sido Salt, o gato angorá, branco como a neve e felpudo como algodão, que tinha derrubado um jarro chinês, que Harry presumiu ser algo original e, portanto caríssimo.

- Salt! - ela disse, levando a mão ao peito. - Venha aqui menino - o bichinho se esgueirou até ela, estranhando a presença de um desconhecido. - Esse é o Harry, Salt. E este é Salt, Harry - ele sorriu, o gato tinha os olhos vivamente azuis. E miou dengoso quando Harry lhe afagou a barriga. Gina sorriu, abismada. - Ele nunca deixa que Draco o acaricie – disse, surpresa. - Achava que ele tinha ciúmes de mim... – completou, soltando o bicho no chão. - Espero que Draco cuide bem dele – acrescentou por fim, receosa. Harry se virou para ela.

- Por que você não o leva, Gina? – perguntou, curioso.

- Eu não o comprei. Eu não quero levar nada que não tenha sido comprado por mim - Harry olhou para os olhos castanhos tristes dela, observando o gato brincar com as cortinas transparentes que balançavam com o vento da manhã.

- Quanto custou esse gato?

- Mil libras - ela suspirou; Harry sorriu.

- Quanto dá essa quantia em marcos alemães? - disse, colocando a mão no bolso. Ela calculou mentalmente por alguns segundos.

- Em torno de três mil - ele retirou um maço de notas de cem marcos e estendeu três mil para ela.

- Deixe aqui o dinheiro, com um bilhete dizendo que você comprou o gato dele - Gina arregalou os olhos.

- Harry, eu não posso aceitar isso. Esse dinheiro é seu. Como eu disse, eu não quero levar nada que não seja comprado com o meu dinheiro e... - ele deu um sorriso malicioso.

- Esse dinheiro é seu, Gina. A não ser que o quadro que você pintou já tenha sido vendido ou que você não possa me vendê-lo por três mil marcos - ela arregalou os olhos. - E então? Negócio fechado? - ela sorriu. Poderia levar Salt, agora ele era dela.

- Negócio fechado - ela apertou sua mão, tocando-o pela primeira vez em dois anos.

Gina tremeu. Harry fingiu que não percebeu. Até porque tinha sentido a mesma coisa. Ela enrolou o quadro, que mais tarde ele apelidou de "A Ruiva Triste", a qual jurou que tentaria fazer feliz, a qualquer custo, à partir daquele dia.