Capítulo Cinco - Um Plano Quase Perfeito

Hermione recebeu a carta de Harry e aparatou no apartamento do amigo. Ele tinha sido taxativo: deveria ir até lá imediatamente e não contar nada a Rony. E assim foi feito. O mistério era grande demais para que ela se negasse a atender ao pedido do amigo.

Assim que aparatou na sala de estar de Harry ficou surpresa ao encontrá-lo sério e compenetrado. Tinha um pergaminho enrolado nas mãos. Ela olhou curiosa para ele. Sabia que devia ter algo importante para dizer.

- Olá, Mione - disse calmamente. - Muito obrigado por ter vindo - completou, meio sem jeito.

- De nada Harry. Mas confesso que estou surpresa com isso tudo. O que houve? - perguntou diretamente, ele ficou meio confuso.

- Eu não sei por onde começar... - disse, desconcertado.

- Deixe que eu falo, então - Gina disse, descendo as escadas. Hermione arregalou os olhos.

- Gina? Você? Aqui? - não tinha entendido nada também.

- É, Hermione. Eu voltei - disse, parando em frente à outra e sentando no sofá. Mione fez o mesmo e ficou de frente para Gina e Harry. - Eu sei que você deve estar se perguntando muitas coisas mas eu creio que posso esclarecer a sua dúvida principal - Mione sacudiu a cabeça. - Eu fui embora de casa. Resolvi terminar meu casamento. Estou pretendendo recomeçar a minha vida aqui, na Inglaterra, mas primeiro preciso me organizar. Eu não faço mágica há tanto tempo... - Mione franziu a testa.

- Eu poderia ajudar você com isso. Isso é, se você quiser... - disse, decidida. Harry sorriu.

- Eu gostaria muito. Mas eu não poderia te deixar fazer isso escondido do Rony – completou, desanimada. - Eu já estou suficientemente sem graça de te pedir um favor, ainda mais algo assim... - Mione sacudiu a cabeça.

- Você não pretende falar com a sua família? - perguntou, curiosa.

- Ainda não. Eu não me considero pronta ainda. Tenho tantas mágoas para expulsar do coração e feridas para curar – disse, sincera. Harry teve o impulso de pegar em sua mão mas se conteve. Mione compreendeu.

- E qual é o favor que você quer me pedir? - disse objetivamente. Harry esticou o pergaminho para Mione, e ela leu.

"Eu, Virgínia Weasley Malfoy, outorgo a Hermione Granger Weasley o poder de retirar o animal (um gato angorá branco que atende pelo nome de Salt) de minha propriedade, cujo registro é 59473, do depósito público de animais de Londres.

Virgínia Weasley Malfoy."

Mione terminou de ler examinando a assinatura bem desenhada de Gina. Sentiu um arrepio ao ler o nome "Malfoy" ali, escrito pelo próprio punho da amiga. Por fim, ergueu os olhos para a cunhada.

- Eu não posso ir Mione. E nem Harry. Draco está atrás de nós. Seria muito fácil para ele nos abordar lá no depósito. Eu ainda não estou preparada para esse tipo de confronto. E eu e Harry tivemos que fugir do trem na viagem para cá e deixamos o meu pobrezinho para trás - emendou tristemente.

- Eu não posso ajudar você Gina - disse, consternada. Harry franziu a testa.

- E por quê, não? - perguntou sério. - Eu pensei que poderíamos contar com você e... - Mione deu um sorrisinho amarelo.

- Eu posso me explicar primeiro Harry? - ele se calou. - Eu disse que não posso. Não que eu não quero - completou. Harry e Gina não entenderam. - Eu estou vindo do médico - ela disse, rindo. - Nossa, nunca imaginei que vocês saberiam disso antes do Ron - sacudiu a cabeça. Gina parecia já ter entendido e sorria mas Harry ainda tinha a mesma expressão abobalhada de antes. - Eu estou grávida, Harry. Um mês – acrescentou, feliz. Harry abriu um sorriso também.

- Que coisa maravilhosa Mione. Vocês dois merecem - ele levantou e deu um abraço na amiga. Gina fez o mesmo. - Mas o que isso tem a ver? - perguntou, ainda sem saber; Gina riu.

- O meu médico disse que não posso ter contato com gatos - Gina se virou para ele.

- Gatos transmitem toxoplasmose, Harry. E grávidas não poder pegar essa doença ou afeta o bebê - Harry se surpreendeu.

- Nossa, Gina! Como você sabe disso? - perguntou, espantado.

- Eu queria ser medi-bruxa. Cheguei a cursar seis meses - disse, melancólica. Ele ficou calado.

- Bem, isso nos traz de volta à estaca zero. Como vamos recuperar o seu gato? - Hermione apertou os olhos.

- Bem, nós poderíamos pedir ao Rony... - Gina abriu a boca mas Hermione prosseguiu. - Mas sei que isso está fora de cogitação... Então teremos que improvisar - piscou para os dois amigos.

- O que você quer dizer, Mione? - Harry perguntou, curioso.

- Um disfarce. Coisa simples. Nada que não tenhamos feito antes - arrancou um fio do próprio cabelo. Harry abriu um grande sorriso.

- Hey, é o que estou pensando? - ele disse animado e a amiga riu.

- É sim. Eu sou professora em Hogwarts agora. Posso trazer um pouco de Poção Polissuco que tenho em casa e Gina busca o gato como se fosse eu mesma. Harry pode acompanhá-la com a capa de invisibilidade do pai - os dois se entreolharam.

- É uma grande idéia -  disseram juntos.

- E vamos relembrar os velhos tempos - Harry acrescentou, o que fez Mione rir.

- Então eu vou passar em casa e trazer um frasco de poção para você -  desaparatou e em questão de minutos estava de volta. Colocou um fio de cabelo na poção e entregou o frasco a Gina. - Lembre-se, você tem uma hora apenas. Não se demore demais ou será descoberta - Gina sacudiu a cabeça.

No dia seguinte, pela manhã, Harry e ela saíram, Gina ia escondida sob a capa da invisibilidade. Quando já estavam a uma boa distância do prédio entraram em um beco e ela tomou a poção. Contorceu-se um pouco e virou Hermione bem diante dele. Harry achou estranho olhar nos olhos escuros da amiga e ainda sentir todo aquele amor que sentia por Gina, mesmo com ela transfigurada na esposa de seu melhor amigo.

- Vamos! - ela disse na voz de Mione.

Ele acordou do choque inicial e se cobriu com a capa. Os dois entraram em um táxi e ela mandou que o motorista seguisse para o depósito de animais. Assim que chegaram Gina foi até a recepção e entregou a documentação de Salt. Sentia o calor protetor do corpo de Harry, coberto pela capa, ao lado do seu. Depois de alguns minutos um homem saiu de dentro do escritório e a chamou. Ela engoliu em seco.

- Teremos problemas - Harry sussurrou em seu ouvido. Ela ouviu o barulho dele retirando a varinha do bolso enquanto se encaminhava para a sala indicada pelo homem.

Assim que entrou o homem fechou a porta atrás de si. Ela se perguntou se Harry teria conseguido entrar também. O homem indicou que se sentasse. Ela obedeceu.

- Sra. Weasley, certo? - ela sacudiu a cabeça afirmativamente, colocando os cabelos castanhos e cheios de Hermione para trás da orelha. - A Sra. sabe que este é um animal caríssimo e roubado? - perguntou seriamente. Gina não sabia o que responder. Apenas imaginava se Harry estava ali com ela.

- Eu... Eu... - ela gaguejou; o homem sorriu.

- O nome Draco Malfoy lhe diz alguma coisa? - perguntou de forma contundente. Ela passou a língua pelos lábios nervosamente.

- É... Ele... Ele... Estudou comigo e meu marido. A esposa dele é minha cunhada - disse, tentando se controlar. O homem deu uma gargalhada.

- E seu marido sabe que a senhora está aqui, resgatando um animal roubado? -  perguntou calmamente. Ela consultou o relógio. Faltavam dez minutos para acabar o efeito da Poção Polissuco. Seu coração disparou.

- Eu apenas vim buscar o gato da minha cunhada. Ela me enviou o registro pelo correio e eu estou fazendo um favor para ela. Estou atrasada. Não creio que o animal seja roubado - disse com o máximo de firmeza que conseguiu; o homem riu.

- Eu sou da polícia, Sra. Weasley. E sinto informar que o animal está registrado no nome do Sr. Malfoy. O registro que a senhora possui é tão falso quanto uma nota de três libras - disse, irritado.

Gina arregalou os olhos. Cinco minutos faltavam agora. Ela podia sentir um zumbido estranho no ouvido, indicando que estava voltando a ser ela mesma. Olhou nervosa para o relógio.

- Preocupada com a hora, Sra. Malfoy? - perguntou de súbito.

- Não, eu... - Gina respondeu sem pensar. Na mesma hora o homem sorriu.

- Eu trabalho para o Ministério da Magia. A senhora está presa por roubo e por falsidade ideológica - Gina se levantou da cadeira e correu para a porta. Tentou abrir mas esta estava trancada. O homem continuou a rir. - Quem vai ajudá-la agora? - perguntou, irônico.

- Harry! Harry! - ela bateu na porta e gritou desesperada. - Socorro!

Ele não esperou duas vezes. As pessoas na sala de espera se assustaram ao ver um homem surgir do nada e apontar um pedaço de madeira para a porta.

- Alohomorra! - abriu a porta. Gina se atirou para fora e agarrou a mão dele, ainda como Hermione. - Vamos dar o fora daqui - mas foi impedido por dois homens, que se colocaram à frente deles. - Saiam da frente - Harry disse em tom ameaçador, apontando a varinha para eles. O homem que estava na outra sala veio até à porta.

- Não os deixem sair - disse, despreocupado. Harry se virou para os dois brutamontes.

- SAIAM AGORA - gritou com ódio no olhar. Apertou a mão de Gina na sua e investiu contra os dois. - Estupore! - um jorro de luz vermelha brotou da varinha, assustando as pessoas.

Os dois caíram estatelados. O homem se aproximou mas parou de repente. Gina ficou tonta e caiu sentada no chão. A Poção Polissuco estava perdendo o efeito. Ela foi abaixando a cabeça e Harry viu os olhos de Hermione morrerem e se transformarem nos dela. Os cabelos castanhos pareceram estar sendo embebidos em sangue, ficaram ruivos das pontas até a cabeça. Ela suspirou. Tinha voltado a ser ela mesma completamente. Algumas pessoas correram, outras desmaiaram de susto. Com certeza o Ministério teria muitas memórias para apagar.

Harry se virou para ela e estendeu a mão para erguê-la do chão. Mas o homem se aproveitou de ele ter baixado a guarda e tirou de dentro do paletó uma arma, apontando-a para a cabeça de Gina. Harry perdeu o ar.

- Solte a varinha agora, senhor Potter!

Harry, que estava agachado, deixou a varinha aos pés de Gina, que continuava sentada. O homem acompanhou Harry se levantar. O último olhou significativamente dentro dos olhos de Gina, indicando a varinha no chão. Ela a pegou sem que o homem notasse, apertando-a com força na mão esquerda. Não fazia magia há muito tempo e nem sabia se seria capaz de fazer. Mas tinha que tentar de alguma forma. Gina esperou que Harry ficasse em pé.

- Assim está melhor, Sr. Potter - disse cinicamente. - Espero que saiba que eu seria capaz de atingi-lo onde realmente dói – completou, referindo-se à Gina.

Harry olhou para ela, abaixando os olhos, indicando que o homem havia abaixado a arma. Ela, mesmo sentada no chão, ergueu a varinha, e apontou disfarçadamente para o homem.

- Lacarnum Inflamare! - disse baixinho.

Ficou surpresa ao ver o jorro de luz laranja sair da varinha de Harry e atingir as pernas do homem, queimando suas calças. Harry sorriu.

- Vamos! - disse, puxando-a do chão e tentando alcançar a porta.

Mas o homem foi mais rápido e, apontando a arma na direção aos dois, disparou um tiro. Gina deu um grito. As pessoas que ainda estavam ali se abaixaram. E depois do estampido todos ouviram um baque surdo. Harry tinha sido atingido. Estava caído no chão e o seu sangue começava a se espalhar. Gina começou a chorar e se abaixou junto a ele, temendo que estivesse morto.

- Harry? - ela disse, colocando a mão no pescoço dele, sentindo seu pulso, que estava forte e rápido. Ele estava vivo ainda e abriu os olhos.

- Você está ferida? – perguntou, a voz fraca, vendo o sangue nas roupas dela. Ela tremia e chorava.

- Não. Você está - mostrou a própria mão suja do sangue dele. Ele tinha levado um tiro no peito e sangrava bastante. - Alguém chame uma ambulância. Por favor... - disse, a voz fraca e chorosa. - Você vai ficar bem. Vai ficar bem – acrescentou sem nenhuma confiança na voz. Ele sorriu.

Enquanto ela estava ao lado dele o homem deu um telefonema. Em cinco minutos dois outros brutamontes entravam na sala. Seguraram Gina pelos braços, erguendo-a à força. Ela se debateu desesperada.

- Não! NÃO! - ela gritava. - HARRY! HARRY! - Harry não conseguiu se mexer.

- GINA! NÃO! SOLTEM ELA! - ele usou toda a força que ainda tinha para pegar a varinha, que ela havia deixado caída, mas o homem percebeu isso e pisou na sua mão, impedindo-o.

- Sr. Potter, Sr. Potter. Eu poderia matá-lo agora - disse, sarcástico, encostando o cano ainda quente do revólver na testa de Harry. - Mas é bem melhor que o senhor sobreviva mais esta vez e saiba que nunca mais vai ver aquela ruivinha de novo - provocou.

Harry viu Gina ser arrastada para longe, sem poder fazer nada. Ouviu o barulho da sirene da ambulância e apagou. O plano perfeito de resgatar Salt tinha dado completamente errado.