Capítulo Sete - Depois da Tempestade Vem a Calmaria
Harry não permaneceu muito tempo no hospital. A bala havia sido removida por mágica depois do primeiro atendimento na emergência trouxa, bem como o ferimento curado. Por um milagre, ou obra do destino, não havia perfurado nenhum órgão vital. Ele recebeu alta apenas com a recomendação de tomar uma poção analgésica, caso sentisse alguma dor.
Hermione, por sua vez, não pôde ficar o tempo todo com ele. Não tinha contado nada a Rony sobre o que tinha acontecido com Harry mas sabia que logo a notícia se espalharia. Afinal não era todo dia que o "menino que sobreviveu" sobrevivia de novo.
Assim que foi liberado pelos medi-bruxos aparatou em casa. Arrumou em uma mochila a capa de invisibilidade, guardou a varinha no bolso das vestes e retirou da caixa de vidro que ficava em cima da lareira sua espada. A mesma espada com a qual havia abatido o basilisco quando era menino. A mesma com a qual havia varrido Voldemort da face da Terra. A espada de Godric Gryffindor, com a qual agora pretendia reclamar Gina de volta para si.
Tinha quase certeza de que Draco havia levado Gina para a mansão Malfoy. Ironicamente era o mesmo cenário do duelo final entre ele e o Lord das Trevas. Respirou fundo e aparatou para as imediações da mansão. Retirou a capa da mochila e se cobriu, usando o mesmo artifício que havia usado anos antes para entrar nos terrenos. Ficou impressionado que os feitiços protetores não tivessem sido trocados. Depois de alguns minutos estava dentro da casa, sem ser percebido por nenhum dos seguranças.
Sabia com precisão a localização dos cômodos. Snape havia repassado com ele infinitas e incansáveis vezes a planta da mansão. O ex-professor de Poções havia feito com que decorasse exatamente onde ficavam passagens secretas, entradas, saídas e até mesmo os acessos às masmorras. Perdeu a conta de quantas vezes Snape bateu com a varinha em seus dedos por errar alguma coisa do caminho do labirinto subterrâneo da casa. Agora fazia o mesmo caminho mas imaginava que Draco não estava no subsolo e sim em seu quarto. Pretendia tirá-lo de lá e fazer com que o levasse até Gina.
Assim que chegou retirou a capa de invisibilidade e empurrou a porta, que estava apenas encostada. Draco estava deitado de barriga para cima na cama, em silêncio e sem camisa. Os lençóis desarrumados e os travesseiros jogados no chão. O outro então se virou para ele. Harry tinha os olhos vidrados, olhando da bagunça do quarto para ele. Draco deu um sorrisinho malicioso com o canto dos lábios. Sabia exatamente o que Harry estava pensando.
- É bom provar do gosto amargo da traição, Potter? Sentiu os chifres doendo? - perguntou, sarcástico. Harry sacou a varinha.
- Onde ela está? - perguntou, apontando a varinha para o meio dos olhos do outro homem; Draco deu uma gargalhada.
- Não sei... Hummmm... Talvez no banho ou debaixo de algum lençol - disse, levantando as cobertas e olhando cinicamente debaixo delas. Harry apertou os olhos. - Ela não está aqui, Potter! – acrescentou, irritado, cuspindo a última palavra como um insulto. Harry franziu a testa. Desembainhou a espada e encostou a ponta desta no peito de Draco.
- Eu estou falando sério, Malfoy. Não me irrite - a voz cheia de ódio. - O que você fez com ela? - Draco sorriu com o canto da boca.
- Ora Potter. Ela ainda é minha esposa, o que você esperava? Eu não fiz nada que um marido não tivesse direito de fazer - Harry deslizou bruscamente a espada para cima, mantendo o fio desta contra o pescoço de Draco, que sentiu o metal frio da lâmina contra sua pele. Harry respirou fundo.
- Dê-me um motivo, Malfoy, um só motivo para não parti-lo em dois, como eu fiz com o querido mestre de seu pai - Draco se irritou com o comentário e empurrou a espada para longe de si.
- Se você quer tanto saber, eu não fiz nada com a sua amantezinha traiçoeira, Potter. Eu tenho nojo de vocês, grifinórios tão metidos a puritanos... Eu a mandei embora daqui. Espero que seja infeliz e que se afogue na culpa. Satisfeito? Agora me deixe em paz. Malditos sejam os dois... - vociferou. Harry estudou a expressão dele por alguns instantes.
- Nunca - disse, calmo, por fim. - Nunca mais se aproxime dela – completou e Draco deu de ombros.
- Como se eu quisesse... - mentiu. - Você ainda está aqui? - perguntou, fingindo surpresa. - Como você é chato, Potter. Sempre bancando o herói. Sempre se repetindo. Vá embora logo antes que contamine a minha casa com sua presença infecta - Harry recolocou a espada na bainha mas permaneceu com a varinha apontada para ele.
- Se quando eu chegar em casa ela não estiver ou se você tiver feito algo, qualquer coisa a ela, qualquer coisa, eu volto aqui e corto você ao meio - Draco deu uma gargalhada.
- Estou impressionado - deu um muxoxo. - Você realmente acha que intimida alguém com essa falsa coragem de frases feitas? - Harry permaneceu atento. - Vá. VÁ - gritou. - Vá, por Merlin, viver a sua vidinha medíocre ao lado da pobretona ingrata e vê se não enche mais a minha paciência.
Harry saiu do quarto andando de costas, de modo a manter Draco em seu campo de visão. Sabia que o outro, como todo sonserino, era cheio de tramóias. Pegou sua capa de invisibilidade no chão do corredor e desaparatou para casa.
Assim que aparatou na sala de estar Gina, sentada no sofá, deu um salto e se pendurou em seu pescoço, assustando-o.
- Você está bem? - ele perguntou, olhando-a de cima a baixo, checando se estava machucada mas o sangue que tinha nas roupas era dele.
- Nunca mais faça isso comigo - foi o melhor modo com o qual conseguiu responder à pergunta dele. - Eu pensei que estivesse morto... - disse, chorando. Harry ficou atônito e esperou que ela se acalmasse. - O que aconteceu com você? – perguntou, a voz abafada enquanto soluçava. Ele a pegou pela mão e a levou até a cozinha, dando-lhe um copo de água.
- Eu estou bem. Fui levado a um hospital trouxa e depois transferido para o hospital bruxo - ela suspirou.
- Eu estava apavorada. Não sabia o que tinha acontecido com você e não pude fazer nada... - ele a interrompeu.
- Malfoy. Ele fez alguma coisa a você? Ele... Ele encostou em você? - perguntou, olhando dentro dos seus olhos. Gina arregalou os olhos enquanto ele colocava a capa de invisibilidade, a varinha e a espada sobre a mesa da copa.
- Não, ele não fez nada, a não ser desabafar... Harry, onde você estava? - perguntou, já imaginando a resposta.
- Onde mais eu poderia estar, Gina? Eu fui buscar você na casa dele - respondeu em seguida; ela olhou para a espada em cima da mesa.
- Você o matou com ela, não foi? - perguntou, alheia ao que ele tinha dito. Harry franziu a testa e sacudiu negativamente a cabeça.
- Quem? Malfoy? Não! É claro que não. Mas eu mataria se ele tivesse ousado tocar em você sem o seu consentimento - ela sorriu.
- Eu estava me referindo a Vold... - ela suspirou. - Tom Riddle... - emendou. - Você o matou com essa espada, não matou? - perguntou, colocando a mão sobre o punho cravejado de rubis e observando na lâmina o nome de Godric Gryffindor gravado. Harry sacudiu a cabeça afirmativamente. - E também aquele basilisco... – continuou, os olhos fechados. - Ainda posso me ver açulando-o contra as pessoas em meus pesadelos - abriu os olhos de repente, como que assustada. Harry observou o dedo dela correr pelo fio da espada.
- Cuidado! - ele disse no exato momento em que ela se cortava.
- Ai!
Ela soltou a espada na mesa, da lâmina escorria um fino filete de sangue dela. Harry pegou sua mão e, automaticamente, colocou o dedo machucado na boca. Sentiu o gosto salgado do sangue e ela tremeu com a sensação úmida e quente da língua dele na pontinha do dedo. Gina tinha se espantado com a atitude dele.
- Pronto... - ele disse, corando. - Não foi nada - apontou para o corte fino e mínimo no indicador dela. Ela sorriu.
- Você nunca me contou com detalhes - ele olhou intrigado para ela.
- Não contei o quê? - ela riu.
- Como foi a batalha. A última - ele suspirou, desanimado.
- Não é uma história muito longa. Eu fui até a mansão Malfoy, encontrei Voldemort. Nós lutamos. Eu venci - ela olhou dentro dos olhos dele.
- Tudo bem se você não quiser falar nisso... - disse, compreensiva, e fez menção de se levantar.
- Não! - ele segurou seu braço. - Fique. Eu quero te contar tudo, é só que... - ela voltou até a cadeira e sentou-se à sua frente. - Primeiro eu devo avisar que da mesma forma que você tem seus pesadelos eu tenho os meus fantasmas - ela ouvia atentamente. - Meus pais... - ela ensaiou se manifestar mas ele emendou. - Eu sei que não fui responsável pela morte deles mas, de certa forma, a ausência deles foi o grande fantasma da minha vida - Gina sacudiu a cabeça, compreendendo. - Aí veio Cedrico. O que aconteceu com ele... O jeito com o que ele foi morto, de forma tão covarde, sem chance alguma. E era tão jovem... E não foi só ele - ele deu uma pausa. - Todos que Voldemort matou, principalmente com o meu sangue correndo em suas veias. Todos que ele torturou, os pais de Neville, Sirius... Os que ele fez sofrer... Você, Gina. O que ele fez com você. Você era uma menina, uma criança. E ele simplesmente... - Harry deu um soco na mesa. Gina tinha a expressão fixa nele. - E então começou aquela guerra estúpida e insana. Eu não tinha idéia do que era uma guerra, meu Deus, eu era só um garoto também mas eu tinha que ser bem mais do que isso - disse, passando nervosamente a mão pelos cabelos. - Eu tinha que crescer. E tinha que descobrir todas essas coisas que se levam anos para se descobrir em meses. Mas, às vezes, você tem que amadurecer tão depressa e à força que não é capaz de assimilar as mudanças - ele deu uma pausa. - E eu ainda não sabia o que era o amor. Embora ele estivesse o tempo todo exatamente na minha frente – disse, voltando o olhar para ela. - Então simplesmente eu soube. Me senti tão idiota. Em um momento eu não sabia e no outro foi como se eu soubesse a minha vida inteira... - sorriu. - Eu vi você entrando na sala comunal, você estava animada, tinha voltado da aula de vôo e sorria de uma forma que iluminava o seu rosto, não, iluminava toda a sala - fechou os olhos e viu nitidamente a Gina Weasley de quinze anos passando pelo buraco do retrato da Mulher Gorda. Ela conversava e sorria com as colegas de turma.
Harry estava jogando Xadrez de Bruxo com Rony, ganhando pela primeira vez na vida, e foi distraído pela algazarra que Gina fazia com as outras meninas. Ergueu o rosto e os olhos dele encontraram os dela por alguns segundos. Ela corou imediatamente e perdeu a fala, abaixando a cabeça. Aqueles mínimos instantes tinham sido o suficiente para Harry perceber o que sentia. Tinha visto refletido naqueles olhos castanhos e tímidos o sentimento mais forte que poderia sentir. Tinha acabado de conhecer o amor.
Como qualquer pessoa que faz uma grande descoberta sobre si mesmo, Harry estava perplexo. Acompanhou Gina com o olhar, agora fascinado pela graça e delicadeza da menina, até que ela se sentasse no sofá.
Passou o resto do jogo dando olhares furtivos em sua direção. Era impressionante como ela havia mudado para ele. Em um segundo era a irmã do seu melhor amigo e no outro estava tentando manter os olhos no tabuleiro e, principalmente a concentração, mas sem muito sucesso em ambos. Rony, completamente atento ao jogo, fez alguns movimentos e colocou o adversário em uma posição complicada.
"Xeque", ele disse, orgulhoso de si mesmo. "É engraçado como as coisas podem dar uma virada, não é mesmo, Harry?", perguntou, satisfeito.
Harry ainda estava incrédulo na sua descoberta. Só conseguia pensar agora em abraçar aquela menina ruiva, até então apenas uma amiga, e não a soltar nunca mais.
"Harry?", Rony o acordou do transe. "Você ouviu o que eu disse?"
"Ahn? Não, Ron. Estava distraído. O que foi que você perguntou?", disse, ainda meio perdido em pensamentos.
"Eu disse como é impressionante como as coisas mudam", Harry sorriu, lançando um olhar a Gina e virou-se para o amigo.
"É, Ron. É impressionante", fez um movimento e Rony o venceu.
"Xeque-mate", o amigo disse enquanto bocejava.
"Xeque-mate...", Harry repetiu. Tinha finalmente entendido o que sentia e agora precisava desesperadamente expressar aquele sentimento. Só não sabia como.
Depois de Rony lhe vencer no jogo eles se recolheram para dormir. Harry rolava na cama. Não conseguia adormecer. Agora apenas conseguia imaginar aqueles olhos castanhos, a boca convidativa e o corpo bem desenhado dela. Não conseguia nem mesmo fechar os olhos.
Todos os outros já dormiam quando decidiu descer as escadas e dar uma volta. Colocou a capa de seu pai debaixo do braço e foi até a sala comunal. Ficou surpreso ao ver que não estava sozinho.
Ela estava bem ali, debruçada na janela, os cabelos soltos. O vento fresco da noite assoviava em seus ouvidos, de olhos fechados, sorria. Ele poderia passar a eternidade olhando para ela daquela forma. Mas ela percebeu a presença sua presença.
"Harry?", ela disse, alarmada, as bochechas ficaram rubras, o que Harry achou adorável. Ele ainda permaneceu um segundo absorto em devaneios mas logo sacudiu a cabeça e ficou alerta. "O que você está fazendo acordado a uma hora dessas?", perguntou sem ter certeza se o deveria ter feito. Ela sabia que ele, Mione e Rony sempre aprontavam, mas nunca lhe haviam contado nada.
"Eu? Eu... Bem, eu... É óbvio que eu...", gaguejou. Não podia dizer a ela que não tinha conseguido dormir pensando nela. Ela sorriu, o que o fez pensar que seria capaz de confidenciar qualquer coisa a ela naquele momento.
"Você é sempre assim, articulado?", perguntou voltando ao tom normal de sua cor.
Ele sorriu, olhando profundamente nos olhos dela, Gina abaixou a cabeça. Não queria fantasiar sobre o modo que ela pensou que ele tinha olhado para si, afinal, Harry nunca havia sequer notado sua presença, muito menos seu amor. Por que seria diferente agora?
Harry se aproximou, fazendo com que o coração dela disparasse. Ele passou nervosamente a língua sobre os lábios, o que fez com que as pernas da menina bambeassem. Olhou para ela e não resistiu, passando a mão delicadamente pela lateral de seu rosto, deixando os cabelos ruivos deslizarem suavemente por entre os dedos. Ela fechou os olhos, engolindo em seco. Ele pareceu se perder na magia daquele momento e demorou a perceber que ela estava chorando.
"Harry, por que você está fazendo isso?", ela perguntou, afastando-se do toque dele, dando dois passos para trás. "Não brinque assim comigo", disse, chorosa. "É cruel...", ela terminou em um fio de voz. Harry andou até a garota, como se atraído por um imã invisível.
"Eu não estou brincando...", disse segurando o rosto dela com as mãos e delineando o caminho das lágrimas com os polegares. Gina estava trêmula e assustada quando ele tocou desajeitadamente os lábios com os seus e a abraçou com força.
Gina sentiu que podia desmaiar ali, nos braços dele. Mas ao invés disso apenas entreabriu os lábios e deixou que o amor os guiasse. Ele sentiu o gosto salgado das lágrimas dela e a doçura de tudo aquilo que ela havia reprimido durante quase seis anos.
Quando Harry a soltou Gina estava ofegante. As bochechas estavam coradas e ela mantinha a mão sobre o peito, tentando acalmar o coração disparado. Ele sorriu, satisfeito. Tinha sido bom demais para um primeiro beijo.
"Me diga que não foi um sonho...", ela suspirou. "Me diga que eu não vou acordar e descobrir que foi apenas outro sonho. Que você está lá no seu quarto dormindo e que eu adormeci pensando em você e acabei imaginando tudo isso."
"Não, Gina. Não foi um sonho", ele segurou as mãos dela entre as suas. "Eu estou aqui", disse, colocando a mão dela sobre o seu coração. Ela deu uma risada ao ver que estava ainda mais acelerado que o seu.
Harry abriu os olhos. Gina ainda estava atenta ao que ele contava. Ela nunca imaginara o modo como ele descobriu que estava apaixonado. Ele tomou fôlego e continuou a falar o que sentia.
- Eu amadureci mas não o suficiente. Eu ainda tinha medo. Medo de perder as pessoas que amava. Medo de dizer que amava as pessoas. Eu imaginava que isso era algo como mandar a pessoa embrulhada para presente para Voldemort - disse de modo sincero. - Eu cheguei a pensar em romper a amizade com Rony e Hermione mas eu achei que isso os poria em mais risco pois sei que os dois lutariam mesmo contra a minha vontade. Mas você... - respirou fundo. - Você era uma novidade na minha vida e eu queria protegê-la acima de todas as coisas. Eu não identificava o que eu sentia por você... Só sabia que se perdesse você, se Voldemort pegasse você, eu morreria. Então eu tomei uma decisão estúpida. Conversei com Rony e Hermione e, apesar de os dois terem me dito que era uma grande burrice, fiquei irredutível. Eu ia passar seis meses na Irlanda, sendo treinado intensivamente para ser o mais jovem auror da história, e não teria como te proteger estando longe de você. Foi aí que eu resolvi terminar nosso namoro. Eu pensava que se você não estivesse comigo estaria segura o suficiente para eu completar o treinamento, vencer Voldemort e, aí sim, ter direito à paz e felicidade – disse, sacudindo a cabeça, como se repreendesse a si mesmo por aquilo. - Mas quando eu voltei para Hogwarts as coisas estavam diferentes. Você estava namorando o Malfoy. Eu não conseguia suportar aquilo. Vocês andando de mãos dadas pelos corredores. Os beijos exageradamente apaixonados. As piadinhas que os sonserinos faziam... - ela sentiu os olhos marejarem. - Mas de alguma forma aquilo me ajudou a me concentrar apenas na luta. A Ordem da Fênix descobriu onde Voldemort estava e eu já tinha completado o treinamento. Era muito bom com a espada, melhor que em duelos. Então, depois de repassar mais de mil vezes os planos, nós invadimos a mansão Malfoy. Eu me confrontei novamente com Voldemort. Mas eu era um adulto. Nós lutamos. Ele me feriu no peito e eu imaginei que ia morrer mas pensei que se eu morresse teria perdido você em vão e que nunca o mundo seria um lugar seguro para você, mesmo não estando mais comigo. Aí eu consegui derrubá-lo, rolei no chão e alcancei a minha espada. De uma vez só separei a cabeça dele do corpo - Gina arregalou os olhos.
- Como é matar alguém? - perguntou, curiosa. Ele parou por alguns instantes.
- É horrível. Mesmo sendo alguém como Voldemort... Mas eu fiz o que tinha que fazer. E depois me deu uma grande sensação de vazio. Eu não tinha mais nenhum propósito na vida – ela sacudiu a cabeça. - Eu não tinha para quem voltar, Gina. Então eu não voltei mais. Antes tivesse voltado... Mas fui covarde. Teria que enfrentar uma outra luta, tentar recuperar você, mas eu não me considerava nem merecedor e muito menos capaz. Quando recebi a carta de Mione, dizendo que você se casaria com ele, passei mais dois dias pensando. Mas quando voltei era tarde demais... - ela olhava fixamente para ele, que agora falava sem parar, olhando a espada encima da mesa. Harry parecia querer terminar o mais rápido possível com aquilo e se livrar daquele peso. - Então quando você me enviou aquela carta eu pensei que poderia, de alguma forma, tentar compensar você pelos meus erros, pela minha covardia... - ficou em silêncio, tinha terminado.
- Eu não sabia disso tudo – ela disse enquanto o olhava. Harry parecia aliviado mas estava visivelmente perturbado pela conversa. Olhou paa ela e disse, com carinho.
- Obrigado por ter me ouvido. Eu precisava mesmo falar sobre isso - ela sorriu.
- Você sabe que pode contar comigo sempre, Harry – disse, olhando dentro dos olhos verdes dele, fazendo-o sorrir.
- É, eu sei disso. Você também... - respondeu, encontrando o olhar dela pela primeira vez depois de desabafar. Ele adivinhou o que ela estava pensando. - E não se preocupe - disse, piscando o olho. - Eu vou saber esperar desta vez - ela sorriu enquanto ele saía da cozinha para tomar um banho. Gina sabia que Harry faria um grande esforço para ajudá-la a ser feliz.
