Capítulo Oito - A Pseudo Vida Conjugal

Harry estava na cozinha, preparando um delicioso jantar para ele e Gina. Em seu íntimo tinha dificuldades para cumprir sua promessa, era uma tentação saber que ela dormia em sua cama todas as noites e dividir o mesmo teto com ela estava começando a deixá-lo intoxicado. Mas, mesmo assim, tinha se mantido afastado. Contudo não deixava de agradá-la e mimá-la sempre que podia. Havia prendido o quadro dela, "A Ruiva Triste", no quarto de hóspedes e toda noite adormecia olhando-o. Queria mantê-la feliz, compensá-la pelo passado. E se no meio do processo conseguisse conquistá-la novamente não seria de todo ruim.

Enquanto verificava o peixe assado lembrou que não tinha vinho branco para acompanhar o jantar. Verificou o relógio e calculou que daria tempo de ir à loja da esquina e trazer um vinho para os dois. Gina ainda estava no banho. Escutou o barulho do chuveiro ligado e o peixe ainda demoraria vinte minutos para assar. Com certeza daria tempo. Saiu para comprar o vinho.

Não demorou cinco minutos e Rony aparatou na sala de estar dele. Não tinha conseguido avisar ao amigo sobre a visita. Fazia tempo que não se viam e estava preocupado com Harry, havia um boato sobre ter sido baleado. Ficou alguns minutos parado, sentindo o cheiro gostoso vindo da cozinha foi ver se o amigo estava lá.

- Harry? - entrou na cozinha e viu o peixe assando no forno. Bebeu um copo d'água e ouviu passos no andar de cima. Voltou até à sala e ouviu o barulho de alguém descendo as escadas.

A primeira coisa que ouviu foi uma voz feminina mas antes que tivesse tempo de reconhecer por que a voz lhe era tão familiar deu de cara com Gina. A irmã estava descalça e usando o roupão de banho que a senhora Weasley tinha dado de presente para Harry, com um "H" e um "P" bordados, secava os cabelos com uma toalha. Ela arregalou os olhos.

- R-Ron? - perguntou, gaguejando. Ele ainda estava sem fala.

- O que você está fazendo aqui? - gritaram juntos. - Eu perguntei primeiro - disseram em uníssono novamente. Ambos vermelhos até às orelhas.

Os dois bufaram e cruzaram os braços. Harry abriu a porta e deu de cara com os dois irmãos Weasley, de frente um para o outro, confrontando-se.

- Oh-oh! - deixou escapar e os dois se viraram para ele.

- Como você explica isso, Harry? - berraram ao mesmo tempo. Harry quase deixou o vinho cair no chão. - Cale essa boca - um disse para o outro.

- O que ela está fazendo aqui? - Rony perguntou de forma quase acusadora.

- Eu pergunto o mesmo. Não era para ninguém saber... - ela disse, aborrecida, olhando atravessada para o irmão.

- Eu... Eu não contei para ninguém, Gina. Juro – Harry disse nervoso.

- E eu que achei que estava visitando um amigo - Rony disse, ressentido. - E você pelo visto se esqueceu dos modos. Parece bem à vontade, praticamente em casa... - disse, apontando para a roupa dela. Harry engasgou, tendo uma crise de tosse. Gina ficou com as bochechas escarlates.

- Olha como fala comigo, Ronald Weasley. Com quem você pensa que está falando? - colocou as mãos na cintura.

- Bem, até onde eu sei, com a Sra. Malfoy, mas pelo visto você está muito confortável, brincando de casinha com o Harry aqui e fingindo-se de Sra. Potter - respondeu, irritado. Gina apertou os olhos, fuzilando-o.

- Hey! - Harry se ofendeu. - Não tome conclusões precipitadas. Eu só estou ajudando a Gina, como amigo... - Rony deu um sorriso cínico.

- Ah! Me desculpem. Eu realmente devo ter uma imaginação muito fértil. Minha irmã está saindo do banho com o roupão do meu amigo enquanto ele prepara um jantarzinho romântico regado a vinho para ela. Realmente não há nada de estranho nisso... - Gina bufou.

- Ronald Weasley, acho bom o senhor me respeitar - disse em tom ameaçador.

- Ora Gina. Dê-se então ao respeito. Você tem feito uma besteira atrás da outra. Não me surpreenderia nada se você estivesse dormindo com o Harry agora... - ela arregalou os olhos.

- Obrigado pela parte que me toca - Harry disse, desanimado. Os dois o ignoraram, medindo forças com os olhares. - Bem, se ninguém se importar eu vou lá na cozinha salvar o jantar de virar carvão - acrescentou sem ser ouvido. Deu de ombros e entrou na cozinha. Ainda ouviu os dois vociferando na sala.

- Rony! Como você pode dizer uma coisa dessas? Você acha que eu sou o quê? – ela perguntou aos berros, o irmão riu cinicamente.

- Maninha, do jeito que você está se comportando é difícil acreditar que você não encontrou um modo peculiar de pagar a sua estadia aqui... - disse no mesmo tom de antes. Gina jogou a toalha nele. Teve o impulso de esganá-lo.

Harry teve vontade de entrar na sala e estuporar o amigo mas sabia que os dois tinham que resolver aquilo sozinhos.

- Então é isso que você pensa de mim? Que eu sou uma vagabunda qualquer? Uma louca? - perguntou, os olhos rasos de lágrimas.

- Não. Imagina... - disse, debochado. - Primeiro você começa a namorar o Malfoy, aí fica noiva daquele infeliz. E não satisfeita, porque realmente era pouco, se casa com ele e vai morar como trouxa na Alemanha. Isso contra a vontade de todo mundo. Me desculpe, você é completamente lúcida. Nós é que somos os loucos aqui... - ela teve vontade de lhe dar um tapa mas começou a rir, surpreendendo o irmão.

- Ah! Eu me esqueci - disse, segurando as risadas e batendo a mão na testa. - A minha vida não me pertence. Como é que eu me atrevi a tomar decisões sozinha? Eu tenho que fazer sempre o que os outros querem - disse, irônica.

- Se você não sabe decidir sozinha pelo certo é melhor escutar a sua família mesmo - justificou. Harry imaginava até onde iriam naquela discussão.

- Agora você disse algo realmente contraditório. A minha família? Uma família que nem sequer foi ao meu casamento? Nunca me visitaram na Alemanha ou me mandaram cartas pelo correio trouxa? - disse, ressentida. - Ninguém se importou em saber se eu estava viva ou morta, quem dirá FELIZ... - completou, gritando a última palavra.

- Ah Gina. Você sabe muito bem que éramos contra. Ninguém queria testemunhar você fazendo uma estupidez daquela. Você não amava o Malfoy e... - ela o interrompeu.

- Eu não amava o Malfoy? - berrou a plenos pulmões. Harry quase largou o assado no chão da cozinha. - Algum de vocês por acaso se deu ao trabalho de me perguntar isso? Não. Vocês preferiram me julgar e me virar às costas, me castigando por considerar a minha escolha errada – completou, havia mágoa na voz.

- Faça-me um favor Gina. Ninguém precisava perguntar quem você amava. Estava escrito na sua testa desde que entramos em Hogwarts. Todo mundo sabe que você era apaixonada pelo Harry. Só casou com o panaca do Malfoy para fugir do que sentia, para feri-lo - ela se sentiu ofendida. - E depois renegou a nossa família porque nós não a apoiamos nessa loucura. Ou você quer que eu acredite que você ama muito o Malfoy? Por isso está aqui, na casa do homem que ele mais odeia no mundo, vestindo o roupão dele e tirando umas fériazinhas conjugais.

Harry não conseguiu evitar de sorrir enquanto abria a garrafa de vinho e arrumava, por não ter nada para fazer, a mesa do jantar. Gina, porém, não achou tanta graça. Ela ficou sem fala. Não podia negar que o que o irmão tinha dito era a mais pura verdade. Rony sorriu, vitorioso, mas ela ainda tinha mais um às na manga.

- E o que você tem a ver com tudo isso? – perguntou, triste. - Nada - ela própria disse, a voz embargada. - Ninguém se importou comigo. Ninguém ajudou, nem impediu. Nenhum de vocês fez nada. Absolutamente nada... – agora os olhos estavam cheios de lágrimas.

- Você nem ao menos tentou pedir ajuda, Gina - disse, quase arrependido por tê-la feito chorar. Ainda se sentia o pior dos homens quando fazia a irmã caçula sofrer.

- Não adiantaria. Vocês nunca me levaram a sério mesmo – disse, soluçando, e correu para a cozinha, batendo a porta.

Harry entendeu que ela não tinha mais condições de continuar a conversa com o irmão. Gina havia pedido socorro a ele com o olhar. Foi até à sala, bloqueando o caminho de Rony, detendo-o pelo ombro.

- Deixe-me passar, Harry. Eu ainda não terminei de falar - ele se adiantou mas o amigo permaneceu em frente à porta.

- Ron, deixa ela se acalmar um pouco. Depois você fala com ela, está bem? - disse calmo porém firme. Rony ficou vermelho até a raiz dos cabelos.

- Como você pode ficar do lado dela? Depois de tudo que ela fez com você? - perguntou, indignado.

- E o que eu fiz a ela, Ron? - respondeu com simplicidade.

- Estávamos em guerra...

- Não justifica. Eu a abandonei. Eu a joguei nos braços do Malfoy. Eu sou o responsável – acrescentou, olhando nos olhos do amigo. - Eu vou fazer a coisa certa agora e tomar conta dela - Rony franziu a testa. Falavam baixo e Gina não podia ouvi-los da cozinha.

- Ela é minha irmã, Harry. Eu tenho direito - ele forçou; Harry se colocou na frente da porta.

- E é a mulher que eu amo, Ron. A minha vida. Você não vai entrar nessa cozinha - nunca havia falado tão sério com o melhor amigo.

- Você vai me impedir de falar com a minha irmã, Harry? - perguntou em tom ameaçador.

- Vou. Agora vou, Ron. Ela não está em condições. Sentiu-se mal ontem. Por favor - Rony se sentiu traído.

- Tudo bem Harry. Eu não vou mais atrapalhar vocês dois – completou, havia mágoa na voz.

- Ron, eu... - Harry ainda tentou se justificar mas o amigo já tinha desaparatado.

Ele entrou na cozinha, desanimado, e se assustou. Gina tinha encontrado a garrafa de vinho e bebido quase toda.

- Ele já foi? - perguntou, os olhos e as bochechas vermelhos.

- Já – disse, desanimado. - Eu acho que ele nunca mais vai falar comigo de novo... - completou, sentando na cadeira em frente a ela.

- Sorte sua - disse, virando o resto da garrafa de vinho no gargalo.

- Você não deveria beber tanto assim... – ele estava preocupado. Ela jogou a garrafa na parede, enfurecida, quebrando-a em mil pedaços.

- O senhor se acha muito superior, não é? Me dizendo o que fazer - ele sacudiu o cabeça, sem entender.

- Eu só quero o seu bem, Gina - ela deu uma gargalhada cínica.

- "Eu só quero o seu bem, Gina" - debochou. - É só o que todos querem. Ou pelo menos o que dizem que querem. Nós queremos o bem da Gininha... Então vamos nos juntar e dizer a ela o que fazer. Vamos decidir a vida dela, prendê-la numa gaiola de ouro... Pois adivinha só: A Gininha aqui, voou da gaiola - disse, colocando a mão no peito e, levantando, aproximou-se de Harry. - Eu vou fazer só o que eu quiser agora – acrescentou em tom sério.

Harry engoliu em seco quando ela sentou no colo dele, montando por cima de suas pernas.

- E eu quero você agora - ela beijou seu pescoço, deslizando a mão por seu peito. Ele ficou de pé, afastando-a com delicadeza.

- Gina, não... - disse, suplicante. Sabia que não resistiria por muito tempo às provocações dela.

- Vamos lá Harry - segurou a gola da camisa dele, abrindo os dois primeiros botões. Ele a deteve, segurando as duas mãos entre as suas.

- Não - disse, quase sem acreditar no que estava fazendo.

- Vai me dizer que você não me quer? Eu posso sentir o quanto você me quer agora – disse, maliciosa, enquanto se sentava na mesa, em frente à ele. Ela o puxou para perto e o enlaçou com as pernas, abrindo o roupão. - Eu quero você. Agora – completou, beijando os lábios dele mas Harry não retribuiu.

- Você está completamente fora de si - disse, olhando sério para ela.

- E daí? Você não me quer? - ela se inclinou para trás, puxando-o, mas ele se manteve firme.

- Eu quero você mais do que tudo. Mas não assim. Não desse jeito... - disse de modo delicado. - Eu te amo demais para te deixar fazer uma coisa dessas, assim - ela riu.

- Você não passa de um grande covarde. Isso sim - ela ficou de pé. - E eu te odeio por isso - ela socou o peito dele, praticamente sem forças. - Eu te odeio - ela começou a chorar, apoiando a testa nele. - Eu te odeio - continuou socando o peito dele, soluçava e tremia. - Eu te odeio porque te amo. Porque não consigo tirar você do meu pensamento, de dentro de mim. Você está entranhado na minha pele, impregnado na minha alma - ela gritou, esfregando os braços com as unhas, arranhando-se, como se quisesse limpá-los. - Eu te amo, seu desgraçado. E te odeio por isso... - disse em um último esforço e amoleceu o corpo. Ele a amparou, pegando-a no colo.

Subiu as escadas com ela, livrou-a do roupão e entrou no chuveiro com Gina. Depois fez com que ela engolisse uma xícara de chá forte com mel e a deitou na cama.

Ele ficou ao lado dela, observando-a dormir. Era a primeira vez que Gina perdia o controle daquele jeito. Tentou ficar acordado mas não conseguiu. Estava cansado demais para isso. No meio da madrugada ela acordou, sobressaltada. Tentou levantar e sentiu o quarto rodar. Assustou-se ao perceber que estava sem roupas. Olhou para o lado e viu Harry. Ele abriu os olhos.

- Você está melhor? - perguntou, sonolento. Ela sentiu o rosto ficar quente de vergonha.

- Nós... Nós não? - perguntou, nervosa. Ele sorriu e sacudiu a cabeça.

- Ah! Não. Nós não fizemos nada. Eu coloquei você no chuveiro e depois na cama. Mas me portei como um perfeito cavalheiro - ela colocou a mão no peito, aliviada. E subitamente se levantou, enrolada no lençol. Foi para o banheiro vomitar. Dez minutos depois ela voltou. Harry já estava quase indo ver se ela precisava de ajuda.

- Minha cabeça está explodindo. Nunca mais me deixe beber assim - ele sorriu.

- Eu vou tentar...

- Obrigada... - sussurrou antes de cair no sono novamente.

- De nada, meu amor - respondeu, com a certeza de que ela não tinha ouvido. E não conseguiu mais dormir. Passou a noite contemplando a mulher que amava.