Fantasmas do Passado
Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty
Parte VYohji rolou na cama a noite inteira, não conseguia dormir. Aquele dia havia sido cheio de descobertas que não o agradavam nem um pouco. Mas não era apenas isso que tirava seu sono, a possibilidade de ficar sozinho com Aya o deixava nervoso. Teria que se esforçar para não agarrar o ruivo assim que estivessem no quarto a sós.
O espadachim também não conseguia dormir, estava ansioso e ao mesmo tempo preocupado com o encontro do dia seguinte. Estava aliviado porque seu amante não estava em casa, Yohji devia estar em algum de seus clubes favoritos e só chegaria de manhã como sempre fazia. O loiro que dizia ser seu Yohji de alguns anos atrás o fazia repensar toda sua relação, como um relacionamento tão promissor podia acabar daquele jeito? 'Por minha culpa', pensou Aya, se não tivesse traído seu amante nada disso estaria acontecendo. Quando estava quase adormecendo ouviu a voz de seu amante.
"Aya?!?", chamou Yohji com a voz pastosa. Havia passado a noite bebendo, nada conseguia tirar as dúvidas de sua cabeça, achava que o ruivo estava traindo-o com Ken.
O ruivo continuou imóvel, não queria brigar e sabia que pela voz do playboy que ele estava bêbado. Yohji fechou a porta atrás de si com um estrondo sem se importar com mais ninguém e deitou na cama abraçando o espadachim por trás.
"Aya?!?", insistiu Yohji mais alto desta vez, mordiscando o pescoço pálido e acariciando o corpo forte preso em seus braços.
O ruivo permaneceu imóvel, o cheiro de bebida e de perfume barato que emanava do playboy o deixava doente. O loiro continuou acariciando-o, Aya sentia que seu koi ficava mais e mais excitado.
"Acorde, Bela Adormecida!", sussurrou Yohji mordendo com mais força o pescoço e a clavícula de seu amante.
Dessa vez Aya não conseguiu conter um tremor que sacudiu seu corpo, as carícias de Yohji estavam machucando-o, o loiro não fazia questão de ser carinhoso.
"Não finja, sei que está acordado", falou Yohji virando Aya.
Lentamente Aya abriu os olhos, sabia o que o esperava quando o playboy o acordava no meio da noite. O loiro só o procurava quando queria fazer sexo, a desculpa que ele dava era que não iria traí-lo com qualquer um que encontrasse no clube. Aquela noite em especial não estava disposto, mas não havia como negar porque Yohji não aceitava um não muito bem.
Yohji segurou Aya pelos cabelos impedindo que ele se afastasse. Aya não conseguia respirar quando os lábios do playboy esmagaram os seus, a língua invadindo sua boca quando tentou protestar. Estava quase para morder a língua de seu koi quando ele se afastou.
"Por favor, não, Yohji", pediu Aya tentando afastar o loiro.
Yohji sorriu, sem tirar os olhos dos lábios rosados molhados. Deliciosos e contundidos por seu beijo.
"Pensei em você a noite toda, Aya", ronronou Yohji saqueando os lábios doces. "Você tem idéia do quão bonito você é? Fico excitado só de olhar para você".
"O que você quer de mim?', perguntou Aya sentindo uma labareda de medo quando Yohji o prendeu na cama com seu peso. O playboy era maior e mais forte que ele."
"Eu quero que você me ame do mesmo modo que eu amo você", sussurrou Yohji beijando o pescoço de seu amante. "Entretanto, no momento me conformo com um sexo rápido".
"Por favor, não faça isso", implorou Aya com lágrimas nos olhos. Ele não podia lidar com aquilo no momento.
"Você nunca me negou nada, Aya. O que esta acontecendo? Você está me traindo novamente?", acusou Yohji segurando Aya com força pelos braços. "Quem é ele? Ken?".
"Já disse que não estou traindo você. Eu só não quero isso agora", respondeu Aya em um fio de voz. Não queria arrumar problemas para Ken e muito menos levantar suspeitas em seu koi.
"Então me prove", disse Yohji desafiante. Sabia que Aya não o recusaria agora.
Relutante Aya beijou Yohji, tinha que manter seu amante longe de Ken e de seu eu do passado. No princípio Yohji manteve-se passivo, mas logo tomou a iniciativa e começou a tirar as roupas do ruivo. Após despir Aya, o loiro se afastou um pouco para tirar suas roupas. Seus olhos brilhavam de excitação vendo o corpo pálido sob o seu, suas mãos acariciando cada centímetro da pele macia. Sentiu Aya vacilar sob seus toques, entretanto ele não recuou.
"Chupe-me", ordenou Yohji sentando-se no tórax de Aya e empurrando seu membro contra a boca obstinadamente fechada. Aya olhou para ele com os olhos marejados de lágrimas, Yohji não conseguiu conter um sorriso. Com força ele puxou os cabelos do ruivo que entreabriu os lábios para protestar, aproveitando-se disso o loiro empurrou seu pênis na boca de seu amante. "Nem pense em morder", avisou Yohji ainda segurando os cabelos sedosos com força.
Aya separou mais seus lábios e engolfou todo o membro de Yohji que suspirou de prazer ao sentir a língua hábil percorrendo seu pênis. Quando estava quase gozando Yohji retirou seu órgão entumecido da boca de Aya, queria gozar dentro de seu amante
"Vire-se", falou Yohji com a voz rouca, não agüentaria muito tempo.
O espadachim obedeceu, ficando de quatro na cama esperando as ações de seu amante. Ofegou quando sentiu um dedo longo preparando-o, Aya mordeu seu lábio tentando não gemer quando Yohji encontrou sua próstata. Percebendo que o ruivo estava mais receptivo as suas carícias o playboy adicionou mais um dedo fazendo Aya tremer de prazer.
"Relaxe, koi, não quero machucar você", murmurou Yohji retirando os dedos e posicionando seu pênis na entrada de Aya.
Yohji sentiu Aya endurecer quando ele o penetrou, teve que ir devagar para não machucar seu amante que estava muito tenso. O loiro se debruçou acima de Aya beijando os ombros largos tentando relaxá-lo. Quando sentiu que a pressão sobre seu membro diminuiu, ele continuou a penetrá-lo, até que estava todo dentro de seu amante.
"Faça isso logo", silvou Aya ziguezagueando tentando se acomodar.
"Em um minuto" respondeu Yohji, ele tinha intenção de deixar Aya excitado também. Queria que a natureza selvagem de seu amante explodisse. "Você é doce", Yohji sussurrou movendo-se lentamente dentro de Aya.
Aya moveu-se embaixo de Yohji erguendo um pouco seus quadris, provocando o playboy que não resistiu e deslizou um braço sob o ruivo, usando sua força para ergue-lo. Após alguns ajustes Aya estava sentado no colo de Yohji, o loiro suspirou de prazer quando seu membro entrou todo em Aya. O espadachim moveu-se querendo ele, Yohji ficou mais duro com o movimento. Enlaçou a cintura esbelta e começou um movimento rítmico entre eles. Yohji angulou cada punhalada de modo que a ponta de seu pênis estimulava a próstata de seu koi. Aya ofegou sentindo um tremor intenso percorrer seu corpo. Ambos moviam-se mais rápido e mais forte, tentando alcançar o clímax. Yohji deitou Aya de costas na cama e penetrou-o novamente, pernas longas e musculosas envolveram sua cintura, puxando-o para mais perto. O playboy percebeu que era apenas uma tentativa do ruivo de recuperar algum controle. Yohji agarrou o quadril esbelto para tocar a próstata de Aya repetidamente. E quando o loiro veio ele ouviu Aya clamar também. Satisfeito o playboy rolou para seu lado na cama e adormeceu em seguida sem ouvir os soluços de Aya que se sentia humilhado e derrotado por seu próprio corpo.
Quando se levantou aquela manhã para correr Aya sentia-se péssimo, não havia conseguido dormir e todo seu corpo doía. A última coisa que desejava era sair do quarto, mas ao mesmo tempo não queria ficar perto de seu amante. Tinha que sair antes que Yohji acordasse e o impedisse de sair.
"Pensei que não viria", falou Yohji quando Aya apareceu no parque aquela manhã. Ficou preocupado ao ver a expressão derrotada no rosto do ruivo, quando viu as marcas no pescoço de alabastro imaginou o que tinha acontecido.
"Desculpe, me atrasei", murmurou Aya envergonhado quando viu que o loiro estava olhando as marcas em seu pescoço.
"Não há nada para desculpar, Aya", disse Yohji segurando o queixo do espadachim e fazendo-o encará-lo. "O que aconteceu? Ele machucou você?".
"Não aconteceu nada", mentiu Aya evitando olhar o playboy nos olhos. Não queria deixá-lo preocupado. "O que você queria falar comigo?"
O playboy não pode deixar de sorrir, em alguns aspectos Aya continuava o mesmo quando não queria falar sobre alguma coisa ele mudava de assunto descaradamente. Mas ficou momentaneamente sem palavras porque não tinham muito o que conversar, o ruivo já havia contado tudo que sabia. O real motivo do encontro era que queria ver Aya e passar algum tempo com ele, porque as informações teriam que conseguir em outro lugar.
Sentia-se um pouco inseguro em levar o ruivo para o hotel principalmente agora que seu eu do futuro havia feito alguma coisa e porque não tinha um bom motivo para o encontro.
"Vamos para o hotel", comentou Yohji e rapidamente complementou para que Aya não recusasse na mesma hora "Assim nós não corremos nenhum risco de sermos vistos".
Apesar de estar um pouco temeroso acompanhou o loiro. Em poucos minutos chegaram no hotel, como combinado Omi não estava quando eles entraram no quarto. Yohji percebeu que o ruivo estava pouco confortável em estar sozinho com ele.
"Não precisa ter medo de mim, nunca machucaria você", falou Yohji afastando-se de Aya para deixá-lo mais a vontade.
Aya apenas olhou-o sem dizer nada, queria acreditar nas palavras do playboy, mas era difícil. Depois de tudo que havia passado nas mãos de seu amante desconfiava de tudo e de todos. Entretanto o loiro parecia sincero e estava tentando ajudá-lo.
"Sente-se, assim poderemos conversar mais confortavelmente", falou Yohji oferecendo uma cadeira para o ruivo que o olhava ressabiado.
Sentados frente a frente os dois apenas se olhavam em silêncio. Yohji não se cansava de admirar Aya, como ele estava bonito com o passar dos anos. Aya procurava nos olhos esmeralda algum traço de mentira ou falsidade, mas não encontrou nada disso.
"Aya, você sabe porque Omi não contou para Ken ou para Kritiker sobre você e Schuldich?", Yohji resolveu ir direto ao assunto, não tinham muito tempo a perder.
"Já disse que não faço idéia", respondeu Aya sem saber onde o outro queria chegar.
"Seu amante chantageou Omi, se o menino contasse alguma coisa para qualquer pessoa ele matava Ken", revelou Yohji observando as reações do ruivo.
"O que? Mas...ele...por que?", Aya estava incrédulo. Seu koi não faria uma coisa daquelas, muito menos com Ken que havia sido seu melhor amigo.
"Não sei, mas ele não deixou o chibi contar nada para proteger você", Yohji estava tentando montar aquele quebra-cabeças, mas estava muito difícil.
Aya fechou os olhos e recostou-se na cadeira, além de sua vida, havia estragado a vida de Yohji, Ken e Omi por uma besteira. Schuldich tinha razão ele devia ter deixado o grupo e desaparecido da vida deles, só havia trazido sofrimento para todos.
"Você não tem culpa de nada, você não pode se culpar pelo que seu amante psicótico fez", falou Yohji com firmeza, sabia que o espadachim se culparia por tudo que havia acontecido.
"Mas ele fez isso para me proteger", disse Aya com voz derrotada. De qualquer maneira aquela bagunça era sua culpa e nunca se perdoaria por trazer tanta desgraça para seus amigos.
"Mas você me disse que ele ia matar você e que Schuldich o salvou, o que o fez mudar de idéia?", aquela era uma das peças chaves que faltavam em seu quebra-cabeças.
"Não sei, nós conversamos quando ele ainda estava no hospital e ele me disse que havia pensado em tudo e que havia me perdoado e que não iria me deixar", contou Aya relutante, não gostava de revelar coisas tão pessoais para ninguém.
"Simplesmente um dia ele acordou e resolveu que ia te perdoar?", não estava comprando aquela história, faltava alguma coisa ainda.
"Não foi tão simples assim, ele me disse que nunca ia me deixar ir e que se eu pensasse em deixá-lo ele me mataria", murmurou Aya evitando olhar para o homem mais alto. "Ele disse que não ia me entregar tão facilmente para Schuldich".
Ao ouvir aquilo percebeu que mesmo tendo mudado muito ainda podia se reconhecer naquela personalidade psicótica. Ele também iria fazer de tudo para não perder o ruivo, havia prometido para seu amante que só a morte os separaria. Pelo visto seu eu do futuro havia levado aquela promessa até as últimas conseqüências e como não havia conseguido matá-lo iria mante-lo ao seu lado de qualquer maneira.
"E você aceitou isso? Ele tentou te matar e você aceitou ficar com ele?", estava ficando cada vez mais confuso.
"Foi minha culpa tudo que aconteceu, se eu não tivesse traído Yohji ele não teria feito nada", explicou Aya tentando justificar os atos de seu amante.
"Pare de defende-lo!", gritou Yohji exasperado. Estava cansando de ver Aya defendendo aquele psicótico que apenas o maltratava. "Ele não merece seu amor incondicional, Aya".
Sem pensar em nada Yohji levantou-se e aproximou-se de Aya. Atordoado com a explosão do playboy o ruivo permaneceu estático. Inclinado tão perto quanto podia, ele encostou seus lábios nos de Aya, mas o ruivo não se moveu. Lutando para controlar sua própria necessidade faminta, Yohji beijou Aya com toda paixão que pode reunir, mentalmente disposto a fazer o outro relaxar.
Lentamente Aya começou a relaxar, aceitando o contato, e levantou uma mão para o rosto do loiro. Yohji interrompeu o beijo, sorrindo, e suavemente puxou o espadachim mais perto.
"Aya, você não pode aceitar tudo tão passivamente", murmurou Yohji beijando os cabelos do espadachim que estava em seus braços.
"Mas eu arruinei a vida de todos a minha volta", disse Aya.
"Você não arruinou nada. Foi tudo minha culpa", falou Yohji abraçando o ruivo com mais força. Aya tinha que perceber que não era responsável por tudo que estava acontecendo.
"Mas eu traí...", recomeçou Aya a recitar seu mea-culpa novamente.
"Pare, Aya! Mesmo que você tenha dormido com o alemão, coisa que não acredito, isso não justifica as minhas atitudes", interrompeu Yohji enfático.
"Mas...", insistiu Aya, era mais simples aceitar a culpa por tudo.
"Não tem mas nenhum. Você não é culpado por tudo de errado que aconteceu, todos tem sua parcela de culpa", Yohji estava ficando irritado com a teimosia do outro. 'Talvez apenas Kenken não tenha culpa de nada', completou mentalmente o playboy.
Aya não disse nada apenas continuou aconchegado no peito másculo. Mesmo sabendo que parte do que ele falava era verdade não conseguia se sentir menos culpado. O que o machucava mais era saber que o fator desencadeador de tudo havia sido sua traição, não havia como negar aquilo.
O playboy sabia que Aya não iria parar de se culpar, era a natureza do ruivo sentir-se responsável por aqueles que amava. Tinha que descobrir o que realmente havia acontecido pela paz de espírito de Aya e pela sua própria.
Omi caminhou devagar pelas ruas do bairro, mas não prestava nenhuma atenção no caminho a que percorria, apenas sendo levado por seus pensamentos. Havia deixado o hotel feliz por Yohji, mesmo com tudo o que estavam passando o loiro mantinha a perspicácia e estava determinado a ficar com seu amante a todo custo. Embora as atitudes do playboy fossem muitas vezes fruto de sua inconseqüência, omi o invejou. Invejou a personalidade forte do amigo, bem diferente da sua, tão comedida, temperada e repleta de bom senso. Parou em cima de uma ponte recostando-se no parapeito, seu olhar estava preso no horizonte e seus olhos marejados de lágrimas, no entanto seu pensamento vagava entre lembranças e expectativas.
Fazer aquele tipo de reflexão interior lhe causava um certo desconforto. Tudo naquela realidade o desagradava. Perdeu as contas de quantas vezes se perguntou como pudera ser tão estúpido a ponto de deixar-se envolver pelas tramas escusas de Schudich, se sentiu derrotado com isso, mas em contra partida outro pensamento lhe feriu muito mais que esse. E se essa não fosse a verdade? E se o garoto só estivesse tentando imputar ao outro a culpa que não competia a ninguém mais que a ele mesmo? Preferiu acreditar na primeira hipótese, pois lhe doía pensar que suas versões futuras nada mais eram do que os reflexos mais sujos de suas verdadeiras almas. Não. Não poderia ser isso. E a cada conflito entre seus pensamentos ele se fazia ainda mais determinado em sua busca pela verdade, mesmo com a possibilidade de todo seu esforço ser em vão e talvez ter de conformar-se com o destino que haviam lhe escrito.
Voltou a caminhar a esmo, preferindo se concentrar agora em suas memórias, nos momentos em que tivera alegria, era mais agradável pensar assim, já que nesse futuro não havia nada que gostasse para pensar, exceto em seu ex-amante que estava muito mais bonito do que jamais poderia ter imaginado. Uma pontada de tristeza lhe cortou o peito, custava a acreditar que tinha perdido Ken e que o fizera sofrer tanto, e agora talvez o fizesse sofrer ainda mais revelando o que tinha descoberto. Decidiu não mais procura-lo e contentar-se com suas lembranças, mesmo que essas lembranças não passassem de velhos fantasmas de um passado em que foram felizes.
Quando se deu conta estava parado enfrente a uma loja de artes. Existiam vários quadros expostos na vitrine, o local parecia ter um ar de antiquário. Não soube explicar os motivos que o levaram a entrar no estabelecimento, mas seu corpo sucumbiu a este desejo tão estranho. Entrou e observou todo o lugar, a loja estava bem limpa, bem diferente dos outros lugares em que havia estado naquele bairro e por um minuto Omi teve a gostosa sensação de ter retornado ao passado. Notou então que um rapaz observava um grande quadro pendurado mais ao fundo da loja. Aproximou-se do estranho pelas costas e contemplou com surpresa a figura feminina pintada na obra de arte, era o retrato da garota Tot que pertencera as Scharients. Então um calafrio percorreu seu corpo havia encontrado algo referente ao seu passado e até se perguntou o que aquele quadro estaria fazendo ali, mas não pode deixar de ver o quanto a obra era bonita e então disse ao rapaz que estava agora ao seu lado. "É uma linda pintura!".
"Sim... a mais linda que já vi em minha vida", respondeu o rapaz voltando seu olhar para o garoto.
"E mesmo uma bela tela", Omi não estava mentindo. Encarou por mais alguns instantes o estranho que se mantinha sério e calado até que a voz deste se fizesse presente.
"Bom, será que se importaria em me dizer o que está acontecendo? Suponho que tem algo errado acontecendo por aqui. Ou será que de repente você resolveu inventar a fórmula da juventude, Omi?", disse o estranho.
O garoto arregalou os olhos ao ouvir seu nome e encarando mais um pouco aquele olhar frio e serio pôde reconhece-lo. "Nagi?? É você?", disse com a voz trêmula. Devia ser ele mesmo, não o Nagi que conhecia e sim a versão futura dele.
O rapaz balançou a cabeça afirmando. Omi ainda tentou buscar os dardos em suas roupas em uma reação defensiva, mas as palavras de Nagi o impediram."Não é necessário, não tenho a intenção de lutar com você. Schwarz não existe mais", disse ainda sério.
"Eu fiquei sabendo. Pensei até que estivessem mortos".
"Nem sempre as coisas são o que parecem ser", respondeu Nagi.
"Sim, nunca tive tanta certeza disso como agora...".
"Se importa de agora me contar o que acontece?"
Omi estava cansado de repetir aquela história e talvez não tivesse motivos para contar tudo a Nagi. Mas por um momento pensou que o rapaz de alguma forma pudesse saber o que havia realmente acontecido naquela fatídica missão que em tanto os modificou. Pensando assim, achou que se Nagi fosse mais uma peça daquele terrível quebra-cabeça deveria contar-lhe a verdade e assim o fez. O rapaz ouviu todo o relato de Omi sem interrompe-lo e depois ainda se manteve calado.
"Não está surpreso?", questionou Omi curioso.
"Deveria?"
Ao contrario do que Omi esperava Nagi se mantinha calmo e em nada parecia surpreso. Omi sentiu vontade de rir de si mesmo. Era evidente que o rapaz o compreendia perfeitamente, era tão inteligente e bem informado quanto ele. Não que os outros não fossem inteligentes, é que esse tipo de informação poderia parecer um tanto o quanto desinteressante para algumas pessoas, mas Omi não os culpava por isso.
"Desde então temos nos deparado com essa realidade insana em nossas vidas", continuou o chibi. "Nagi, você não sabe de algo que possa me ajudar? Parece que a explicação está no dia da missão em que Yohji foi gravemente ferido".
Nagi concordou com um leve manear de cabeça.
"Nagi... eu preciso saber o que aconteceu. Me ajude, por favor!".
"E por que eu o ajudaria?", pronunciou friamente.
"E por que não me ajudaria?", retrucou o menino. "Me odeia tanto assim?".
"Não... diria apenas que não amei tantas pessoas assim em minha vida", respondeu olhando para o quatro com admiração.
"Compreendo...".
"Mas se quer saber, Não o odeio", prosseguiu Nagi calmamente."Ao contrario, o admiro por sua coragem mesmo diante de toda sua deficiência e dificuldade em campo de luta".
Isso até deixou Omi um tanto mais aliviado, mas ainda tinha que convencer o outro a lhe contar o que queria. Continuou apenas ouvindo Nagi falar.
"Na verdade acho até que se não tivéssemos lutado em lados opostos poderíamos ter sido amigos ou até mais que isso, Omi".
Omi evitou o olhar de Nagi, nunca em sua vida imaginou coisas como aquelas que se deparava agora. Aya e Schudich? E... talvez Nagi e ele? Não! Isso era insensatez.
"Olhe para mim", pediu o rapaz e Omi o obedeceu. "Sabe, eu gostava de ver você sorrindo, claro que isso na época em que você ainda sorria. Sabes que há muito tempo não faz isso, não é? Pois bem, seus sorrisos me lembravam os doces sorrisos de Tot".
Omi olhou para o quadro procurando entender onde Nagi teria encontrado tal comparação.
"Omi, sorria para mim. Quero me lembrar dela".
Omi sorriu, mas não porque Nagi pediu e sim porque achou graça no pedido tão estranho. Nagi fechou os olhos satisfeitos com o sorriso do outro. O chibi preferiu não tentar imaginar o que Nagi pensava naquele momento.
"Nagi, preciso que me ajude! Me conte o que houve, por favor!", Omi ainda insistiu.
"Me de um bom motivo para que eu faça isso."
"Eu... eu acho que essa rivalidade não faz mais sentido agora. Você mesmo disse que os Schwarz não existem mais".
"É um bom argumento. Mas ainda não é o suficiente".
"Quer que eu implore pela verdade? Eu imploro! Não percebe que você tem a minha vida em suas mãos nesse momento? Que minha felicidade depende apenas de uma decisão sua... Creio que você deveria sentir um grande prazer com isso. E se quiser eu imploro!".
Nagi quase deixou um sorriso se formar em sua face, mas não o fez. "hun... não, não precisa implorar. Apenas sorria. Eu gostaria de poder fazer isso tão bem como você faz."
Aquilo desarmou Omi por completo. Nagi deu alguns passos em direção a uma porta e disse com a voz serena. "Hoje não estou disposto a conversar sobre isso, nem a contar qualquer coisa, mas posso mudar de idéia. Volte outra hora, gostarei de ver mais um de seus sorrisos."
Nagi deixou o garoto sozinho no interior da loja ainda estupefato com os acontecimentos. Só depois de alguns minutos é que Omi se deu conta de que já era tarde. Era hora de voltar para o hotel. Saiu da loja e respirou fundo, só então percebeu que seu estomago reclamava faminto, mas sua fome não era de forma alguma maior que sua decepção. Mas não iria pensar nisso, deveria se agarrar a esperança que Nagi lhe havia dado e não mediria esforços para conseguir seu objetivo.
Enquanto isso no hotel Yohji tentava tirar de Aya qualquer informação que pudesse ajuda-lo a compreender melhor todos aquelas mudanças.
"As coisas mudaram depois dessa conversa que vocês tiveram?", perguntou Yohji inquieto. Talvez pudesse entender melhor a mente do seu eu psicótico.
"Sim, ele começou a me vigiar depois que saiu do hospital. Agora tenho que avisar onde vou sempre que saio de casa", contou Aya envergonhado. Era muito embaraçoso revelar coisas tão pessoais.
'E com quem está', complementou Yohji para si mesmo. Havia percebido que Aya não podia fazer nada sem a permissão de seu amante. Era assustador ver Aya tão submisso e sem vontade própria, tão diferente do Aya voluntarioso que conhecia.
"E quando ele começou a bater em você?", inquiriu Yohji, sabia que sozinho o ruivo não tocaria no assunto.
"Ele...não...", gaguejou Aya desconfortável, estava prestes a negar que seu koi fosse violento quando viu o olhar descrente do loiro. "Na primeira missão depois do incidente encontramos Schuldich, o telepata provocou Yohji todo o tempo. Quando chegamos em casa ele se descontrolou e me bateu".
"Ele bate em você com freqüência?", tinha que descobrir o que se passava entre os dois. Queria saber de tudo para tentar não cometer os mesmos erros com seu amante.
"Não, apenas quando desconfia de mim", murmurou Aya evitando olhar nos olhos esmeralda, era como se o loiro conseguisse ler sua mente, ele sempre sabia quando estava mentindo ou ocultando alguma coisa.
"E por que você não o deixa?", insistiu Yohji, não conseguia entender porque o espadachim agüentava tudo em silêncio.
"Porque eu o amo!", respondeu Aya se irritando. Parecia que estava na inquisição, o loiro fazia perguntas que não sabia como responder.
"Acalme-se, Aya, só quero entender o que esta acontecendo para ajudar você", disse Yohji puxando Aya para si tentando confortá-lo. Não queria magoar o ruivo de maneira nenhuma, só estava procurando uma forma de ajudá-lo.
Ficaram abraçados em silêncio por um longo tempo. Há muito tempo Aya não se sentia seguro na presença de alguém, mas com o loiro sentia-se bem porque sabia que ele não faria nada contra sua vontade. Desejava não ter que voltar para sua dura realidade.
Omi entrou no quarto assustando os dois que se separaram abruptamente. Yohji não conseguiu conter sua irritação quando olhou para o menino. Omi corou ao imaginar o que os dois estavam fazendo e o que já deveriam ter feito. Não queria estragar nada, mas não imaginava que Aya ainda estivesse ali porque já havia passado do horário que ele e Yohji combinaram na noite anterior.
"Desculpe, pensei que já tivessem terminado", desculpou-se Omi envergonhado.
"Tenho que ir ou vão desconfiar de algo", murmurou Aya olhando para o relógio. Havia ficado constrangido ao ser flagrado abraçado com o playboy, sentia como se estivesse traindo seu koi o que não fazia sentido porque de alguma forma esse também era seu amante.
"Amanhã você volta?", perguntou Yohji cauteloso, tinha que ganhar a confiança do espadachim aos poucos.
"Estarei aqui no mesmo horário", afirmou Aya antes de sair do quarto.
Aya saiu antes que Omi tivesse tempo de ordenar seus pensamentos e contar sobre seu encontro com Nagi. O chibi sabia que o espadachim estaria encrencado se o Yohji psicótico sentisse falta dele por isso iria esperar outra oportunidade para falar com ele, no momento tinha que reunir toda sua genialidade para contar para o playboy o que havia acontecido.
Continua...
Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty / Outubro de 2002
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