Fantasmas do Passado

Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty

Parte VII

Ken voltou para o hospital pensativo, novamente estavam escondendo algo dele. Odiava aquela sensação de que o mundo todo partilhava um segredo e ele não conhecia a verdade. Não conseguia acreditar que sua vida havia sido virada de cabeça para baixo e ele era o único que não sabia o motivo. Era angustiante passar por tudo aquilo outra vez, mas dessa vez não deixaria as coisas como estavam, iria atrás das respostas, não seria ludibriado tão facilmente. Deixou esses pensamentos de lado quando entrou no hospital, agora sua prioridade era ajudar Aya.

Encontrou Aya dormindo e Kyou sentado em uma cadeira perto da porta lendo. Sentou-se em uma cadeira ao lado da cama, era difícil acreditar que Yohji havia espancado o espadachim. Absorto em seus pensamentos só percebeu que Aya estava acordado quando este tentou levantar-se da cama.

"Fiquei deitado, Aya", pediu Ken com suavidade. "Você precisa descansar".

"Ken? Onde estou?", perguntou Aya ligeiramente confuso.

"Você esta no hospital. Tudo vai ficar bem", Ken tentava confortar o ruivo. "Aya, você tem que deixar Yohji, ele...".

"Não!", afirmou Aya. "Não foi culpa dele, eu não devia...".

"Aya, não foi sua culpa. Ele não tinha o direito de fazer o que ele fez com você", disse Ken tentando se controlar. "Ele não pode continuar fazendo isso".

O espadachim não disse nada, apenas fechou os olhos e ignorou Ken. Inconformado o jogador recostou-se na cadeira, não fazia sentido Aya aceitar tudo tão passivamente, algo estava muito errado. Tinha que arrumar uma maneira de impedir que Yohji machucasse Aya outra vez. Tudo seria mais fácil se eles rompessem, mas sabia que o playboy não se afastaria facilmente e pelo visto Aya também não tinha nenhuma intenção de deixar o loiro.

Aya já estava ficando irritado com as enfermeiras que iam acordá-lo de hora em hora. Ken teve que conversar com um médico para que liberasse Aya. Após um último exame para verificar se a pancada não havia provocado nenhum trauma, deram alta para o espadachim.

"Para onde está me levando?", perguntou Aya confuso quando passaram pelo quarto dele e de Yohji.

"Você vai fica comigo, pelo menos quando eu estiver perto Yohji não vai machucar você", respondeu Ken resoluto. Aquela havia sido a única saída que havia encontrado, Aya ficaria em seu quarto até se recuperar.

"Posso cuidar de mim mesmo", resmungou Aya com o orgulho ferido.

"Você tem feito um excelente trabalho até agora", intrometeu-se Kyou irritado com a atenção que Ken dispensava ao espadachim. Estava começando a desconfiar que o real motivo para que Ken não ficasse com ele era o ex-líder do Weiss e não Omi como havia pensado.

Ken não disse nada, não era o momento para discutir e sim para apoiar Aya. Depois teria uma conversa com Kyou e lhe diria umas verdades. Aya ficou mudo depois do comentário ferino de Kyou.

"Está confortável?", perguntou Ken acomodando Aya em sua cama.

"Yohji não vai gostar, Ken", insistiu Aya nervoso. Sabia que o playboy tinha ciúmes de Ken e que não ficaria nada satisfeito sabendo que ele estava no quarto do jogador.

"Deixe que eu me preocupo com isso", disse Ken cobrindo Aya.

"Mas Ken...", começou Aya. Não queria envolver Ken em seus problemas.

"Sem mas. Você vai ficar aqui e ponto final. Se Yohji tiver algo contra ele que venha falar comigo", cortou Ken firme. Já havia se omitido durante muito tempo, estava na hora de ajudar Aya.

"Ken, você não deveria se meter, é problema deles", disse Kyou logo depois que Aya adormeceu. Nunca havia gostado muito do ruivo por achá-lo muito fraco, agora que Ken estava protegendo-o o odiava.

"Claro que devo me meter, ele é meu amigo", retrucou Ken cada vez mais irritado com Kyou.

"Amigo?!", insinuou Kyou amargo.

"Sabe de uma coisa? Não devo nenhuma satisfação a você", disse Ken se afastando revoltado, pelo visto seria o único a ajudar Aya.

Kyou ficou furioso com a resposta de jogador, aquilo havia confirmado suas suspeitas. Tinha que falar com Yohji, precisava de um aliado para separar aqueles dois, e não havia ninguém melhor do que o amante do ruivo. Sem perder tempo foi atrás do playboy irritante.

"O que?", gritou Yohji irado quando Kyou contou onde Aya estava. "Não acredito que eles tiveram a ousadia de fazer isso. Eu sabia que eles estavam juntos".

Aproveitando que Ken estava tomando banho Yohji foi atrás de Aya. Seu ódio foi aplacado quando viu seu koi adormecido, a pele de alabastro maculada por seus golpes, o braço quebrado descansando sobre seu tórax. Ao vê-lo frágil como estava naquele momento, se arrependia de cada golpe e de cada palavra que havia dito na noite anterior. Ajoelhou-se ao lado da cama e afastou uma mecha de cabelo que caia no rosto de Aya.

Kyou ficou irritado vendo aquela cena terna, não conseguia entender o que todos viam no ruivo. Havia falado com Yohji para que desse um jeito naquela situação, mas parecia que a simples visão do espadachim havia amolecido o coração do homem mais velho.

"O que você esta fazendo aqui?", perguntou Ken surpreso ao encontrar o playboy no seu quarto.

"Vim buscar Aya", respondeu Yohji sem tirar os olhos de seu koi.

"Você não vai levá-lo de maneira alguma", disse Ken enfrentando o loiro. Não deixaria que nada acontecesse com Aya.

"E quem vai me impedir? Você?", perguntou Yohji irônico. "Caso tenha se esquecido ele é meu amante".

"Infelizmente, mas no que depender de mim não por muito tempo", respondeu Ken sem pensar em como seria interpretado.

"Ele nunca irá me deixar, Kenken", disse Yohji levantando-se para encarar Ken. Ele via tudo vermelho novamente, mas dessa vez seu ódio era dirigido a Ken que estava se intrometendo em sua relação com Aya.

"Isso é o que você acha", falou Ken irritado. Faria de tudo para que Aya percebesse que aquela relação não tinha futuro e se continuassem como estavam Yohji ainda o mataria.

"Acorde, Aya", chamou Yohji tentando manter a calma com a insolência do jogador. Sentiu uma ponta de dor quando o espadachim ao acordar e encontrá-lo ao seu lado recuou amedrontado.

"Sinto muito, eu não queria...", murmurou Aya com medo de apanhar outra vez.

"Eu sei, eu sei. Acalme-se, Aya, não vou machucar você", disse Yohji acalmando o ruivo que tremia. "Vou levar você para nosso quarto".

"Ah, mas não vai mesmo", declarou Ken um pouco aturdido com o comportamento do playboy. "Ele vai ficar comigo até se recuperar".

"Não seja idiota, ele vai comigo", rosnou Yohji levantando-se novamente para ficar cara a cara com Ken.

"Parem, por favor!", pediu Aya aflito. Não queria que brigassem por sua culpa.

"Não se meta, Aya. Agora é entre Ken e eu", disse Yohji descontrolado. O jogador não roubaria seu koi debaixo de seu nariz.

"Yohji, vamos para nosso quarto", insistiu Aya.

"Você não vai sair daqui, Aya, assunto encerrado. Muito menos para ficar sozinho com ele", falou Ken desafiando Yohji.

"Seu...", começou Yohji avançando em direção ao jogador, mas detendo-se quando viu Omi e Sena entrando no quarto.

Ken prendeu a respiração quando viu seu ex-amante entrando em seu quarto, fazia muito tempo que ele não entrava ali, na verdade anos. Ainda sentia seu coração bater mais forte por ele, apesar de todas as mudanças.

Omi lançou um rápido olhar para Aya fazendo uma breve avaliação de suas condições, ficou muito contrariado quando viu o gesso no braço do espadachim. "Eu não acreditei quando fiquei sabendo! O que vocês pensam que estão fazendo?", disse num tom muito ríspido.

"Não se preocupe, Omi. Aya está bem agora", respondeu Ken em sua ingenuidade.

"Isso pouco me importa. Quantas vezes vou ter que repetir para vocês que as missões estão acima de seus problemas pessoais!", prosseguiu Omi friamente e bastante irritado.

"Mas, Omi...", murmurou Ken notando o olhar de desalento do ruivo ao ouvir aquilo.

"Yohji, você tem noção da gravidade do que você fez?", disse Omi. "Você tirou Abissynian de combate com esse seu gesto impensado. Não sabe que ele é importante para as missões?", não era ódio que Omi possuía em seus olhos e sim o mais puro desprezo.

"Isso é problema meu e de Aya!", retrucou o playboy levantado a voz.

"Cale a boca!", ordenou Omi colocando o dedo na cara do loiro. "Não admito que grite comigo! Se você não está lembrado as coisas mudaram. Você não me assusta mais!"

Por mais incrível que parecesse Yohji não reagiu, colocando-se a ouvir o discurso de Omi passivamente.

"Você nunca mais vai me intimidar! E é melhor você não tentar me enfrentar ou você pode se dar muito mal!", os olhos de Omi encararam seriamente os do loiro que só ouvia.

No rosto de Ken estava estampado os indícios de sua perplexidade. Não conseguia acreditar que Omi estava tendo aquela atitude, ainda mais diante de uma reação tão diferente em relação com a que o Omi do passado havia tido horas atrás. Se não tivesse certeza chegaria a duvidar que realmente aqueles dois eram a mesma pessoa. Mas agora o jogador estava convencido de que Yohji havia feito algo de muito grave, caso contrário por que Omi teria lhe atirado tantas ofensas? Mas o que não conseguia compreender era porque o chibi tentara lhe esconder isso quando estavam no hotel.

"Muito bem, Balines. Você já tirou Abissynian de combate, nem pense em fazer o mesmo com Siberian ou qualquer outro que seja. Não podemos dispor de ninguém, entendeu? Acho que tenho que lembrar vocês mais uma vez do objetivo deste grupo, e também que as missões são prioridade absolutas!", avisou Omi dirigindo a ultima parte a todos os outros que apenas olhavam atentamente, não tinham como negar que neste ponto Omi estava certo. "Não me importo com o que acontece entre vocês, contanto que isso não atrapalhe as missões!", finalizou passando seu braço envolta da cintura de Sena e saindo do quarto de Ken do mesma forma que havia entrado.

Todos ficaram em silencio depois da saída de Omi. Até mesmo Yohji decidiu esquecer o desentendimento com Ken por hora. Não lhe era interessante irritar a Omi, não seria nada bom se ele resolvesse trazer toda a verdade à tona. Ainda mais agora que Omi se tornara líder e podia em muito prejudicar Yohji se quisesse, mais tarde o loiro pensaria em como resolver aquela diferença com Ken sem chamar muita atenção.

Aya por sua vez não conseguia encarar a nenhum deles. Não pode evitar de pensar que a culpa por tudo aquilo era sua, mais uma vez sentia-se responsável por toda a desgraça em suas vidas.

"Aya fica aqui por enquanto, Ken. Mas não pense que isso vai ficar assim", decidiu Yohji tentando conter sua raiva. Caminhou até a porta e batendo-a com força quando deixou o quarto.

Ken ainda se mantinha mergulhado em seus pensamentos tentando compreender a atual realidade que agora os envolvia.

"Não ligue para eles, Ken-kun", disse Kyou colocando a mão no ombro do jogador.

Neste momento Ken saiu de seu transe virando-se para Aya ignorando Kyou quase que completamente. "Aya, está tudo bem com você?".

No corredor Omi e Sena caminhavam devagar.

"Omi-kun, você foi tão duro com eles. Realmente precisava fazer aquilo?", perguntou Sena quebrando o silencio.

"Sim, às vezes precisamos ter atitudes firmes se quisermos manter as coisas em ordem", respondeu sério. "Demorei muito até compreender isso".

"Kyou me disse que Ken-kun contou para ele que você não costumava agir dessa forma no passado...", murmurou Sena tímido, com medo por tocar em assunto que parecia ser tão delicado, uma vez que os integrantes do Weiss jamais falavam sobre aquilo.

"Hm... é verdade... Mas para o seu próprio bem é melhor que você fique bem longe disso tudo. Não procure entender e muito menos faça perguntas", advertiu ele.

"Por que?", questionou o menino.

"Porque quero te preservar. Você ainda é inocente. Não quero que aconteça com você o mesmo que aconteceu comigo", respondeu meio amargo.

Sena se calou, mesmo não compreendendo o que o outro tentava lhe dizer achou melhor não contraria-lo com relação a isso, pois ele era o único por quem Omi ainda demonstrava um pouco de afeto.

"Mas eu ainda acho que você foi muito frio com eles. Você não agiria da mesma forma comigo, agiria?", perguntou o garoto fazendo um pouco de manha.

"Claro que não", replicou acariciando o rosto do menino.

Um leve sorriso se formou no rosto de Sena.

"Não faria isso... desde que você nunca me desafie", terminou Omi retomando sua postura séria.

"Kyou, você pode me deixar a sós com Aya?," perguntou Ken friamente. Estava cansado de agüentar Kyou que não o ajudava em nada.

"Eu...eu tenho que trabalhar", balbuciou Kyou saindo do quarto furioso. A cada minuto que passava odiava mais Aya, o ruivo estava roubando Ken dele.

"Aya, você esta bem?", Ken estava preocupado com o espadachim. A "visita" de Omi não havia feito nada bem ao ruivo.

"Hum?! Estou", murmurou Aya cabisbaixo.

"Aya, eu preciso saber o que aconteceu naquela missão", disse Ken sentando em uma cadeira ao lado da cama para ficar de frente para Aya.

"Você sabe o que aconteceu, você estava lá", falou Aya evasivo. Não queria que seu último amigo o odiasse como os outros, já era muito duro saber que Yohji e Omi o desprezavam.

"Aya, não esconda isso de mim, por favor", pediu Ken nervoso. Depois das palavras de Omi sabia que algo de muito errado havia acontecido naquela missão e só ele não sabia.

Desconfortável Aya desviou o olhar, não podia esconder a verdade de Ken , ele era seu amigo, mas ao mesmo tempo sabia que a verdade o afastaria e novamente estaria sozinho. Ken percebeu que o ruivo enfrentava um dilema por isso ficou em silêncio, o rosto pálido não escondia a dor e os olhos ametista estavam marejados de lágrimas.

"Sinto muito, não posso", sussurrou Aya tão baixo que Ken quase não conseguiu ouvir apesar de estar muito próximo.

"Por favor, Aya, me conte a verdade", insistiu Ken começando a ficar desanimado. "Pensei que fossemos amigos, Aya".

"Nós somos", murmurou Aya abatido, não era sua intenção magoar o jogador.

"Então me conte o que aconteceu", implorou Ken sem esconder a dor que sentia em ser deixado no escuro.

"Foi tudo minha culpa que a missão deu errado, Ken", contou Aya evitando olhar para Ken.

Ken ficou quieto tentando digerir a informação. Mas se era só isso por que haviam escondido dele durante todo esse tempo? Não podia ser tão simples assim. Queria sacudir o ruivo para persuadi-lo a falar tudo, mas sabia que não devia pressionar Aya ou nunca saberia o resto da história.

"Eu traí Yohji e naquela missão ele descobriu. Ele se descontrolou quando soube e nós brigamos", simplificou Aya escondendo o fato de que Yohji havia tentando matá-lo. "A missão só não fracassou totalmente porque Omi foi atrás do alvo e o eliminou".

"Com quem você traiu Yohji?", perguntou Ken surpreso, nunca havia pensando que Aya pudesse fazer aquilo.

"Schuldich", respondeu Aya envergonhado.

"Schuldich?!", repetiu Ken aturdido. Aquilo não fazia nenhum sentido, Aya não trairia Yohji muito menos com o alemão que havia feito da vida do espadachim um inferno. "Não é possível, você não faria isso com Yohji".

"Eu fiz, Ken, eu fiz", murmurou Aya fechando os olhos para tentar afugentar as lembranças daquela missão.

"Por que?", insistiu Ken perplexo. Não era verdade, não podia ser verdade. Talvez se fosse Yohji ele acreditaria, mas Aya? Nunca, o ruivo era muito correto, nunca faria aquilo.

"Não sei", respondeu Aya com sinceridade. Sempre havia se perguntado aquilo, mas nunca havia encontrado uma resposta. Nem mesmo se lembrava do que havia acontecido entre eles.

"Omi sabe disso?", perguntou Ken curioso. Se o chibi sabia como não havia contado para seus chefes que um dos agentes de Kritiker estava tendo um caso com um inimigo? Cada vez menos entendia o que havia acontecido.

"Sabia, ele evitou que Schuldich matasse Yohji", contou Aya amargo.

"Schuldich matasse Yohji?", estava tudo muito confuso para ele.

"Quando Yohji descobriu ele ia me matar, mas Schuldich atirou nele para evitar. Não foi um dos seguranças que atirou nele como nos falamos, foi Schuldich, por minha causa", revelou Aya com tristeza.

"Espere, Aya, nada faz sentido nisso que você esta me contando", disse Ken confuso. Estava tentando inutilmente atar as pontas soltas daquela história maluca, mas não conseguia.

"Eu sei, mas foi o que aconteceu, Ken", falou Aya exasperado. Não agüentava mais ficar remoendo aquela história, era muito doloroso.

"Aya, você esta me escondendo alguma coisa", faltava alguma coisa, mas não sabia o que era.

"Contei tudo que sabia", retrucou Aya nervoso.

"Mas por que você continua com o Yohji e eu não estou com Omi?", murmurou Ken mais para si mesmo do que para Aya.

"Sinceramente não sei, Ken. Quando estava no hospital Yohji disse que havia me perdoado e que não queria me perder, por isso estamos juntos", explicou Aya.

"E ele perdoou? Eu não acho que ele tenha te perdoado, Aya. Veja como ele trata você! Ele esta com você para puni-lo", alfinetou Ken, sabia que aquilo magoaria Aya, mas no momento não se importava. Não era justo que ele não tivesse nada a ver com tudo aquilo e mesmo assim perdesse seu amante.

Aya permaneceu em silêncio, sabia que Ken o odiaria depois que contasse a verdade, mas ele merecia, havia estragado a vida de todos. Com muita dificuldade sentou-se na cama, iria voltar para seu quarto e deixar Ken em paz.

"O que você pensa que esta fazendo?", perguntou Ken despertando de seus pensamentos.

"Vou voltar para meu quarto", respondeu Aya franzindo o cenho, não era óbvio o que estava fazendo?

"Me desculpe, Aya. Não devia ter dito aquelas coisas para você, mas é que tudo é tão confuso", Ken sentiu-se mal por dizer aquilo para o espadachim, conhecendo o ruivo como conhecia sabia que ele se culpava por tudo e que suas palavras apenas traziam mais pesar para ele.

"Não precisa se desculpar, Ken, tudo que você disse é verdade", admitiu Aya tentando se levantar. "Sinto muito mesmo, Ken, por ter estragado tudo."

"Pare, Aya, você não é o culpado de tudo. E você não vai sair desse quarto para ficar com o Yohji, não depois do que ele fez", disse Ken enérgico. Mesmo que Aya tivesse traído Yohji, nada justificava o que o playboy estava fazendo, ainda mais porque ele havia perdoado o ruivo.

"Você não me odeia?", perguntou Aya piscando confuso, esperava que o jogador o desprezasse por tudo que havia feito.

"Claro que não, Aya. Por que você acha que eu te odiaria?", agora era Ken que estava confuso.

"Yohji me odeia, Omi me despreza e Kyou e Sena não poderiam se importar menos comigo", revelou Aya magoado.

"Não te odeio, Aya", reafirmou Ken firme. Nunca havia percebido que apesar de toda aquela frieza, Aya era muito frágil. Cada vez mais tinha vontade de bater no playboy até faze-lo perceber que estava machucando o espadachim mais do que ele podia imaginar. "Agora deite-se que eu vou buscar alguma coisa para você comer".

"Ken?", chamou Aya antes que o jogador saísse do quarto.

"O que?", perguntou Ken parando na porta.

"Obrigado", murmurou Aya timidamente.

"De nada, Aya", disse Ken sorrindo. Nem nos seus delírios mais loucos havia imaginado que um dia ouviria o espadachim agradecer por alguma coisa, mas sua vida estava tão maluca que nada deveria surpreende-lo mais.

No hotel Omi tentava acalmar Yohji que ainda estava morto de preocupação. O chibi temia que ele fizesse alguma besteira, por isso não podia deixá-lo sozinho. Ele também estava preocupado com Aya, mas sabia que no momento não podiam fazer nada por ele, estavam contando com Ken para protege-lo.

"Yohji-kun, não se preocupe com Aya. Lembre-se de que Ken-kun esta cuidando dele", disse Omi suspirando, já estava ficando sem argumentos.

"Chibi, você acha que aquele psicótico hesitaria em machucar Ken?", perguntou Yohji acendendo seu quinto cigarro em poucas horas.

Omi ficou em silêncio, não havia pensando naquela possibilidade. Será que o Yohji do futuro machucaria seu Ken? Agora além de se preocupar com Aya estava começando a se preocupar com o jogador. Porém não podia esquecer que seu principal objetivo no momento era descobrir o que havia acontecido na missão e voltar para casa.

Yohji sentiu-se culpado por usar um golpe tão baixo com Omi, mas não pode evitar. Contava com a preocupação do menino para ter notícias do espadachim e talvez até encontrá-lo. Queria ter certeza de que ele estava bem, sabia que Ken havia escondido a real condição do ruivo.

"Por que você não liga para Kenken? Só para ter certeza de que eles estão bem", falou Yohji ansioso. Só se acalmaria quando visse o ruivo.

"Não é uma boa idéia, Yohji-kun", avisou Omi. Não queria correr riscos desnecessários, apesar de estar muito preocupado. "Não podemos despertar suspeitas nos outros".

"Por favor, Omi", pediu Yohji apelando para o coração mole do menino. "Eu preciso saber como Aya esta, só isso".

"Certo, Yohji-kun, vou ligar", concordou Omi comovido. Mas era só porque o playboy estava pedindo que faria aquilo, mas também porque ele também precisava saber se estava tudo bem com Ken.

Omi havia falado com Ken rapidamente, ele e Aya estavam bem. O jogador parecia estar chateado com alguma coisa e havia insistido muito para falar com ele naquela mesma noite, tinham algo muito importante para conversar. Para evitar serem vistos combinaram que o jogador iria no hotel.

"O que foi, chibi? Eles estão bem?", perguntou Yohji preocupado, o menino estava muito estranho desde que havia desligado o telefone.

"Hum?! Nada não, eles estão bem", respondeu Omi distraído. Ken não parecia ele mesmo no telefone, algo estava muito errado, mas não conseguia imaginar o que.

"Omi, por favor! Fale comigo", pediu Yohji exasperado. Alguma coisa tinha que ter acontecido para que o chibi ficasse tão preocupado.

"Ken-kun vem hoje à noite aqui, ele disse que temos que conversar", explicou Omi relutante. Não estava certo se queria ou não que o playboy estivesse junto quando fossem conversar.

"O que? Ele vai deixar Aya sozinho com aquele psicótico por perto?", falou Yohji exaltado.

"Acalme-se, Yohji-kun. Aya-kun vai ficar no quarto de Ken-kun até se recuperar. Você não tem com que se preocupar", disse Omi tentando acalmar o loiro que estava com os nervos a flor da pele desde que Ken havia falado com eles aquela manhã. "Ken-kun não iria deixá-lo se não tivesse certeza de que tudo estaria bem".

Mesmo não acreditando muito naquilo Yohji deixou o menino em paz. Estava com outras coisas na cabeça naquele momento, as mil e uma maneiras que mataria seu eu do futuro eram algumas dessas coisas. A tarde foi interminável sem nenhuma notícia de Aya ou de Ken, os dois estavam ficando loucos trancados no quarto do hotel.

"Vou sair um pouco, não agüento mais ficar aqui", avisou Yohji pegando seu casaco e saindo, pouco depois que anoiteceu.

"Yohji-kun, não vá fazer nenhuma besteira", alertou Omi sabendo quais eram as intenções do playboy.

"Não se preocupe, chibi, não farei nada que você não faria", disse Yohji sorrindo despreocupado para o menino.

"Cuide-se, Yohji-kun", falou Omi desconfiado. Tinha quase certeza que o playboy iria no Koneko, mas não o impediria porque sabia que ele teria muito cuidado para não prejudicar Aya.

Caminhou sem rumo durante algum tempo pensando em tudo que estava acontecendo em sua vida. Havia prometido a si mesmo que se conseguisse voltar para seu tempo nunca deixaria que nada, nem ninguém ficasse entre ele e Aya. Era muito duro ver o que havia acontecido em sua relação, era mais doloroso ainda porque havia feito de tudo para que desse certo apesar de todos prognósticos negativos. Após andar algum tempo resolveu ir na floricultura, sabia que àquela hora o jogador já estaria no hotel e Aya estaria sozinho. Era perfeito.

Queria ver com seus próprios olhos como o ruivo estava, porque não acreditava que ele estivesse tão bem quanto Ken dizia. Esgueirou-se com cuidado até chegar no quarto de Ken, não podia ser visto por ninguém ou Aya sofreria as conseqüências de seu ato impensado. Foi mais cuidadoso do que jamais havia sido em qualquer missão.

Aya estava adormecido, o rosto parcialmente escondido pelas sombras. A única coisa que o lembrava da surra que o espadachim havia levado era o braço engessado do ruivo. Ao se aproximar porém ficou chocado com o rosto de Aya. Dois grandes hematomas escureciam o rosto alvo, os lábios inchados e cortados. Não conseguia acreditar que um dia faria uma coisa daquelas com seu amante.

"Aya", chamou suavemente, não queria assustá-lo.

O espadachim lentamente abriu os olhos, um pouco atordoado pelo efeito dos remédios. Assim que conseguiu acordar e viu quem estava ao lado de sua cama, recuou assustado. Além de estar indefeso, Ken não estava do seu lado desta vez, estava sozinho a mercê de seu amante.

"Aya, acalme-se, sou eu, Yohji!", murmurou tentando tranqüilizar o ruivo. Mas ao falar seu nome teve vontade de bater a cabeça na parede, nunca conseguia falar a coisa certa, era patético.

"Yohji!", exclamou Aya relaxando. Aquele não era seu amante enciumado, querendo puni-lo por estar no quarto de Ken. "Você não deveria estar aqui, é muito arriscado".

"Eu sei, mas tinha que ver como você estava", contou Yohji sentando-se na cama. "Estava preocupado".

"Estou bem, mas você tem que ir antes que alguém apareça", avisou Aya comovido pela preocupação do playboy. Mas independente disso tinha que fazer com que ele fosse embora, não queria que mais ninguém sofresse por sua culpa.

"Ninguém vai aparecer", disse Yohji segurando a mão ilesa do espadachim. "Vou ficar com você até Ken voltar".

"Não precisa me proteger, eu sei me cuidar sozinho", falou Aya furioso. Odiava quando o achavam fraco, ele era um assassino afinal.

"Eu sei que não precisa, mas quero ficar com você", Yohji sabia que não adiantava discutir com o ruivo, era uma causa perdida.

Com cuidado deitou na cama ao lado do espadachim, iria com calma para não assustá-lo apesar de querer abraçá-lo e beijá-lo sem parar. Percebeu que ele ficou um pouco desconfortável com a proximidade, mas sabia que não era por sua culpa, mas pelo que havia acontecido antes.

"Se quiser eu fico no sofá, Aya", ofereceu Yohji sabendo como agir com o espadachim.

"Não, fique aqui", murmurou Aya timidamente. Sentia-se seguro ao lado dele e sabia que ele não faria nada para machucá-lo.

Contendo um sorriso Yohji ajeitou-se na cama, era fantástico estar tão perto do ruivo novamente. Com cautela puxou o ruivo para que ele descansasse em seu tórax, mas mesmo com todo cuidado Aya gemeu em dor com o movimento.

"O que foi, Aya?", perguntou Yohji preocupado.

"Nada", mentiu Aya nervoso, não queria que ele soubesse de todos os detalhes da sua briga.

"Aya, não minta para mim", pediu Yohji fazendo o espadachim encará-lo.

"Não é nada, apenas estou dolorido", insistiu Aya desviando o olhar, não conseguia mentir encarando-o.

Desconfiado e certo de que o ruivo mentia, Yohji o segurou com firmeza pelos pulsos de costas para a cama. Sabia que estava assustando-o com seu comportamento, mas tinha que saber o que havia acontecido.

"Aya, por favor, a verdade", pediu Yohji sentindo que o espadachim estava entrando em pânico. "Aya, não vou machucar você".

"Por favor, me solte", implorou Aya com os olhos marejados de lágrimas. Não suportaria ser traído por ele também.

"Assim que você me contar tudo", disse Yohji tentando ser forte, mas o olhar assustado de Aya o fazia fraquejar.

"Eu caí da escada, por isso estou dolorido", murmurou Aya com a respiração pesada.

"Droga, Aya", praguejou Yohji antes de erguer a camisa do ruivo. Ficou sem palavras ao ver as contusões espalhadas pelo corpo dele, não era possível que todas as marcas fossem resultado da queda. Agora era ele que estava chorando, Aya não merecia ser tratado daquela forma, ninguém merecia.

"Sinto muito", murmurou Yohji abraçando o espadachim e confortando-o. Sentia-se culpado por tudo que estava acontecendo com Aya, afinal era seu eu do futuro que estava fazendo aquilo. Teria que dar um jeito em tudo aquilo antes de ir embora ou da próxima vez Aya não sobreviveria a um ataque de ciúmes de seu amante psicótico.

Aya deixou-se embalar pelos braços fortes, a sensação de ser amado o deixava inebriado. Fazia muito tempo que ninguém demonstrava tanta preocupação e amor para ele. Fechou os olhos para evitar que Yohji visse que estava chorando.

"Não chore, meu amor", sussurrou Yohji afagando os cabelos sedosos. "Estou aqui para proteger você, nada de ruim vai acontecer com você".

O ruivo queria acreditar naquilo, mas sabia que logo ele iria embora e estaria sozinho outra vez. Não podia se apegar muito ou acabaria sofrendo muito e não agüentaria mais uma desilusão. Mas era impossível não se agarrar ao conforto que o playboy estava oferecendo, ao amor que estava sendo outra vez sentindo.

"Te amo, Aya", murmurou Yohji antes de cobrir os lábios contundidos com os seus. Timidamente Aya desliza sua língua na boca de Yohji, o playboy saboreia o gosto único de Aya, o gosto metálico do sangue misturado com as lágrimas.

"Yohji, pare por favor", pediu Aya trêmulo afastando o playboy. Não podia fazer aquilo, não podia trair seu amante outra vez.

Em resposta Yohji saqueou os lábios úmidos outra vez. Não deixaria que o fantasma de seu eu ficasse entre eles aquele momento. Sabia que a única coisa que impedia Aya de se entregar era seu eu psicótico, mas não permitiria que isso o detivesse.

Continua...

Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty / Novembro de 2002

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