Fantasmas do Passado

Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty

Parte IX

Pela manhã Ken e Omi ainda estavam dormindo juntos no hotel. O garoto se remexeu na cama quando ouviu um barulho na fechadura, mas não conseguiu reagir a principio, estava ainda muito entorpecido pelo sono. O jogador também havia despertado com o ruído, mas antes que qualquer um deles pudesse fazer qualquer movimento o playboy já havia adentrado o quarto.

"Han han... Bom dia", cumprimentou o loiro limpando a garganta como se assim quisesse anunciar sua presença quando os viu abraçados na cama.

Omi levantou o corpo cobrindo-se com o lençol até o pescoço, ainda estava nu. "Bom dia, Yohji-kun", respondeu o menino muito envergonhado, arrependendo-se por não ter feito seu koi ir embora antes que o playboy tivesse chegado, achou que não devia ter se descuidado tanto.

Ken espreguiçou-se descaradamente e sentou-se na beirada da cama, observou Yohji caminhar até o outro lado do quarto, acender um cigarro e sentar-se à mesa tranqüilamente. O jogador dispensou ao loiro um olhar serio e pouco amistoso, ameaçou levantar-se da cama, mas foi impedido por Omi que o segurou pela mão, pedindo com um gesto de cabeça que não fizesse nada impensado. Isso fez o jogador desistir de qualquer intento, estava se sentindo muito bem e realmente não valia a pena estragar as coisas depois de uma noite tão agradável, alem do mais tinha consciência de que Omi tinha razão quando dizia que eles eram apenas vitimas naquilo tudo.

Yohji a esta altura já havia percebido que o chibi devia ter contado toda a verdade ao jogador, mas não o culpava por isso, mais cedo ou mais tarde ele teria mesmo que saber. "É... o mundo se acabando lá fora e vocês se divertindo aqui dentro, a noite foi boa mesmo, hein?", disse com seu sorriso sarcástico, achou que o clima pesado merecia ser quebrado com bom humor.

"Yohji-kun...", sussurrou Omi baixando o rosto completamente tomado pelo rubor.

"Hun... e você vai querer nos enganar que não se divertiu também...", insinuou o jogador devolvendo o mesmo sorriso sarcástico. "E então? Gostou da minha cama, Yohji?".

"Bastante... mas não se preocupe, você vai encontra-la inteira quando chegar em casa", replicou o playboy esticando-se displicente na cadeira.

"Vocês dois querem parar com isso", pediu o chibi todo envergonhado, teria morrido de vergonha se pudesse.

"Ahh, desculpe, Omi. Esquecemos que você estava aí", desculpou-se Yohji vendo o rostinho constrangido do menino. Pelo menos havia conseguido diminuir o clima ruim.

"Bem, acho que está na hora de voltar para o Koneko. Não quero que eles sintam minha falta e também não quero que Aya fique sozinho por muito tempo", explicou o moreno levantando-se da cama e pegando suas roupas espalhadas pelo chão.

Tão logo o jogador deixou o hotel, Omi foi ao banheiro voltando minutos depois de banho tomado, todo arrumado e com um belo semblante de felicidade.

"Aonde o mocinho vai com toda essa disposição?", interpelou o loiro muito curioso.

"Bem, vou resolver nossas vidas, Yohji-kun. Alguém precisa fazer alguma coisa", respondeu Omi. Não podia mais ficar adiando o inevitável, não podiam mais esperar que as coisas resolvessem por si só, pois de certo isso não aconteceria. "Estamos quase sem dinheiro e não sabemos que conseqüências nossa presença aqui pode trazer para nossas vidas".

"Certo... você vai procurar Nagi, então?", perguntou o loiro, porem ele já sabia a resposta. Desejou com todas as suas forças que qualquer que fosse o plano que o chibi tivesse em mente, que este funcionasse, não agüentava mais ver Aya sofrendo tanto. Despediu-se do garoto com um sorriso.

Omi parou diante da vitrine da loja, não fazia idéia do iria dizer para Nagi, nem o que iria fazer, sabia apenas que precisava fazer. Era a primeira vez que se via em uma situação em que ele não possuía um plano premeditado e isso o fazia hesitar um pouco. Não. Talvez fosse apenas a possibilidade de descobrir que Nagi não poderia ajuda-lo e de repente se ver perdido, sem nenhuma esperança. Talvez fosse isso que temesse.

Abriu a porta devagar e um sino anunciou sua presença, podia sentir seu coração levemente descompassado. Percorreu com os olhos todo o interior da loja em busca do ex-membro dos Schwarz e o encontrou sentado calmamente numa mesa tomando um chá.

"Seja bem vindo. Estava mesmo esperando que você voltasse", disse Nagi apontando para uma cadeira ao seu lado indicando que Omi devia sentar-se.

Omi acomodou-se em silencio. Devia ter calma ao lidar com Nagi, precisava sair dali com todas as respostas que necessitava.

"Vejo que aconteceu algo muito bom para você", Comentou o rapaz mais velho o que despertou no chibi um olhar confuso. "Sei disso porque você está sorrindo diferente hoje".

"Sim... mas... não foi sobre isso que eu vim conversar", arriscou Omi.

"Eu sei... você quer saber o que aconteceu. Ainda precisa me dar um motivo que justifique isso".

Omi não podia acreditar que Nagi ainda insistia nisso. Não existia um motivo realmente relevante que não fosse o fato de tudo isso tinha mexido com sua felicidade pessoal e provavelmente isso em nada comoveria ao outro.

"Nagi... eu... eu não sei o que poderia justificar meu pedido. Na verdade acho que não existe uma justificativa que possa te interessar, mas o que posso dizer é que estou me sentindo lesado pela vida, roubado de minha felicidade, como se de repente o mundo tivesse me tirado tudo que me importava. Não quero viver um futuro onde eu estou só, não quero isso", balbuciou Omi um pouco triste. "Você sabe bem o que é se sentir sozinho, sabe como é a sensação de perda, sentiu isso quando tiraram ela de você, não é mesmo? Tenho certeza que quando você vivia nas ruas tudo o que queria era uma chance de viver uma vida digna, uma chance que não veio... Mas agora, Nagi... sou eu quem te peço essa mesma chance. A chance de ter de volta a minha vida".

"Certo..." concordou Nagi com um suspiro. "Uma noite Aya e Yohji estavam num bar, eles haviam discutido e Yohji foi embora deixando Aya só. Aya bebeu um pouco demais e estava fragilizado, embora fizesse questão de não aparentar isso, foi tudo muito perfeito para que Schuldich se aproximasse de Aya e controlasse a sua mente. Mas para Schuldich não bastava ter controle sobre apenas um de vocês, precisava de todos. Foi então que ele montou toda essa farsa. Ele queria que vocês acreditassem mesmo que existia uma traição, sabia que a desunião do grupo era apenas um instrumento para a destruição de todos vocês. Mas tudo começou a sair errado. Schuldich não imaginava que o Yohji amava tanto Aya a ponto de permanecer com ele apesar de tudo. Schuldich queria que vocês se matassem entre si e embora ele não tenha conseguido isso, conseguiu que vocês fossem pelo menos muito infelizes. Ahh sim... e ele também influenciou a mente de vocês durante muito tempo".

Omi estava atônito com aquelas revelações. Aos poucos as coisas começam a fazer mesmo sentido. Sentiu todos os músculos do corpo ficarem tensos enquanto Nagi continuava falando.

"Então na verdade não existiu traição alguma...", sussurrou Omi ainda tentando processar aquelas informações.

"Sim, não existiu... posso lhe assegurar que Schuldich nunca tocou em Aya... pelo menos não com o consentimento dele", confirmou Nagi.

"Como... como nós podemos nos deixar enganar desse jeito?", questionou-se num misto de tristeza e indignação.

"Tem certeza que você não sabe, Omi?".

"Sim, eu sei... Foi a falta de confiança. A falta de confiança que tivemos uns nos outros que nos levou a esse destino cheio de dor...", desabafou Omi já com os olhos cheios de lagrimas.

"É verdade, mas pense que você ainda tem uma chance", disse Nagi parecendo ainda mais calmo do que antes.

"Você tem razão. Preciso voltar... preciso voltar e impedir que tudo isso aconteça. Mas o problema é que não sei como... já fui à todos os lugares em que podia conseguir alguma informação, mas foi inútil... eu realmente não sei onde procurar", disse o chibi se levantando e andando de um lado para o outro bastante nervoso.

"Me acompanhe, Omi. Quero lhe mostrar uma coisa", pediu Nagi indo em direção a uma porta.

Omi o olhou meio ressabiado, não fazia idéia do que Nagi pretendia, "O que tem aí?".

"Você disse que faria qualquer coisa pelas suas respostas, não disse?", Nagi o respondeu com outra pergunta.

"Disse, mas...", hesitou, mil coisas passaram pela cabeça de Omi naquele instante.

"Então não discuta e entre logo", ordenou Nagi entrando no estranho cômodo sendo seguido por Omi.

O garoto não conseguia enxergar nada, o cômodo estava completamente escuro, mas logo Omi respirou um pouco mais aliviado quando Nagi acendeu a luz e pode perceber que se tratava de uma espécie de escritório.

"Você disse que não sabia onde procurar... Por que não começa procurando naquilo que você sabe fazer melhor?", disse Nagi apontando para um canto da sala.

Omi observou que Nagi lhe indicava um moderno computador sobre a mesa, e embora não conseguisse entender acompanhou todos os movimentos do outro. Nagi sentou em uma cadeira enfrente a tela do computador e ficou olhando para ele por alguns segundos, logo a maquina se ligou sozinha, as teclas do teclado se moviam sem que ninguém as tocasse enquanto as informações começavam a aparecer no monitor. Omi ficou ao lado de Nagi e vendo aquilo acontecer percebeu que o rapaz estava usando sua telecinese. Essa era uma das vantagens que Nagi tinha sobre ele, podia teclar sem usar as mãos.

O loirinho prendeu seus olhos atenciosamente nas informações que apareciam no monitor enquanto o outro teclava a distancia. "O que é isso, Nagi? Departamento Nacional de Ciências do Japão?".

"Exatamente!", respondeu Nagi convicto.

"Vamos rackear os sistemas do centro de pesquisa? É isso?", perguntou Omi já extremamente empolgado com a idéia.

"Por que não? Onde mais poderíamos encontrar as informações que você precisa? Eu lhe dou as peças, Omi. Agora use sua inteligência para montar o quebra-cabeça".

Omi sorriu satisfeito. Podia entender o que o rapaz dizia, Nagi não iria procurar as informações para ele, iria apenas lhe mostrar o caminho.

"Hun... departamento de matemática... departamento de física...", dizia o garoto com os olhos vidrados na tela do computador. "Espere! Pare, Nagi! Acho que encontrei uma coisa interessante".

Nagi parou de teclar imediatamente e Omi começou a ler as informações em voz alta enquanto seus olhos faiscavam de empolgação. "Hun... Dr. Irven Laurens, Físico e astrônomo. Era um conceituado cientista na área de pesquisas, mas foi severamente desacreditado e ridicularizado em um congresso onde apresentou sua tese de lapso temporal com base na teoria do caos. Depois desse trágico episodio foi transferido do departamento de pesquisa e hoje dá aula em uma universidade".

"E nós podemos ler o trabalho dele por aqui?", perguntou Nagi já bastante interessado na pesquisa do tal doutor.

"Sim, podemos. Os escritos ainda estão no sistema. Nossa, tenho pena dele, Ninguém acreditou em sua pesquisa, mas o fato é que Yohji e eu somos as provas vivas de que a teoria dele é verdadeira, que ironia...", comentou Omi.

"Diga o que ele explica nesse tal estudo", pediu Nagi. "Precisamos ser rápidos, Omi".

"Certo... Bem, o Dr. Irven fez um estudo sobre as anomalias temporais possivelmente geradas por impulsos eletromagnéticos. Dentre os locais de ocorrência destas anomalias ele cita o triangulo do dragão, que foi o que nos trouxe pra esse tempo, e famoso triangulo das bermudas. As Perdas misteriosas de embarcações e aeronaves foram verificadas coincidentemente entre as latitudes 30º e 40º norte e sul da linha do equador que incluem estas duas áreas, as condições climáticas criariam redemoinhos magnéticos que em eventuais condições especiais, poderiam fazer com que navios e aviões desaparecessem, navegando ou voando para um ponto diferente no tempo ou no espaço. Mas o mais interessante é a comparação que ele faz com o fenômeno do buraco negro. Apenas suspeitados e nunca vistos até hoje, os buracos negros podem ser passagens para outros universos alem do nosso. É um ponto de densidade infinita, em que as leis de espaço e tempo, como as conhecemos, se anulam e se desfazem. Tudo que existe perto do buraco é sugado para seu centro, a isso se dá o nome de singularidade. Sendo assim um astronauta poderia mergulhar num buraco negro e imergir em um outro universo inteiramente diverso, ou ainda reemergir em nosso universo no mesmo instante, mas a enorme distancia de onde se encontrava".

"E o que isso tudo tem a ver com o que estamos procurando?", perguntou Nagi duvidando por um momento que aquilo poderia mesmo os levar a solução daquele enigma.

"Calma... O Doutor explica também a possibilidade da entrada do tal astronauta em um universo negativo, onde a natureza se inverte, nele, por exemplo, a gravidade seria uma força de repulsão e não de atração. Tal efeito exige o oposto ao buraco negro, ou seja, um "buraco branco", Depois dessa comparação ele retomou novamente a questão do triangulo do dragão e das bermudas, citando a localização oposta de cada um no globo terrestre. Ele sustenta que tal oposição criaria ondas eletromagnéticas de forças inversas. E forças opostas se anulam, com isso podemos supor que o fenômeno ocorrido no triangulo das bermudas teria efeitos exatamente contrários aos dos ocorridos no triangulo do dragão. E dessa forma eu concluo que se o triangulo do dragão nos trouxe até aqui, o triangulo das bermudas pode nos levar de volta", terminou Omi respirando aliviado depois da conclusão de tão precioso raciocínio.

"É uma teoria bastante interessante, mas você acredita mesmo que isso possa dar certo?", disse Nagi um tanto cético.

"E porque não? Eu também não acreditava que poderia viajar ao futuro e no entanto estou aqui não estou? Então porque não acreditar que o mesmo fenômeno que me trouxe poderia me mandar de volta ao meu tempo", respondeu o garoto com um sorriso. "E alem do mais eu não tenho nenhuma outra opção".

"Você está certo... Bem, parabéns então. Você acaba de resolver o caso mais difícil de sua vida", cumprimentou Nagi.

"Sim!! E eu tenho certeza que vai dar tudo certo! Estou tão feliz. Você não faz idéia de como isso é importante para mim. Eu vou voltar, vou voltar. Nem sei como lhe agradecer", Omi não podia se conter de tanta alegria, aproximou-se de Nagi e o abraçou como se quisesse comemorar aquele feito. Numa cena típica de criança ao ganhar o brinquedo favorito.

Acompanhando a atitude de Omi, Nagi também o envolveu com seus braços acariciando-lhe as costas. Porem a proximidade não durou mais que alguns segundos, apenas o suficiente para que Omi percebesse o que havia feito e se afastasse rapidamente totalmente constrangido e pedindo um milhão de desculpas.

"Desculpe, Nagi. Não me entenda mal... não tive a intenção de... na verdade eu... desculpe...", gaguejou o garoto.

"Tudo bem... não precisa se explicar", interrompeu Nagi com um leve sorriso, talvez a alegria de Omi o tivesse contagiado. "Eu entendi que não foi com intenção, mas não me culpe por tentar. Bom, agora acho que você precisa ir cuidar da sua vida. Pode deixar a porta encostada quando sair".

"Vou fazer isso sim, muito obrigado, Nagi. Muito obrigado mesmo", disse Omi com aquela mesmo expressão gentil de sempre.

"Não agradeça agora. Ainda nos veremos", sentenciou Nagi desaparecendo atrás de uma porta.

"Nagi...", murmurou Omi quando se viu sozinho.

O garoto saiu da loja e respirou fundo todo o ar que seus pulmões foram capazes de absorver. Correu apressado pelas ruas da cidade. Queria pular e gritar que finalmente tinha uma esperança, que finalmente sua vida seria como nunca deveria ter deixado de ser, mas precisava se controlar, não queria chamar atenção das outras pessoas na rua.

Ken voltou para casa mais feliz do que nunca, depois de tanto tempo pode fazer amor com Omi. Não o Omi frio que liderava Weiss agora, mas o seu Omi, doce e meigo. Só a perspetiva da partida dele o deixava um pouco triste, mas sabia que aquilo seria o melhor para todos. Confiava no chibi para mudar aquele futuro tenebroso e já sonhava com um futuro em que Omi continuava sendo seu. Antes que entrasse em seu quarto para ver Aya encontrou Kyou esperando-o de braços cruzados encostado na parede.

"Bom dia, Ken! Vejo que teve uma noite muito boa", disse Kyou com ironia. Havia escutado barulhos provenientes do quarto do jogador a noite toda, e pela cara satisfeita no rosto de Ken fazia uma idéia do havia acontecido naquele quarto.

"Você nem imagina o quanto", retrucou Ken sem perder o bom humor. Se nem mesmo o playboy havia conseguido acabar com seu bom humor não seria Kyou que conseguiria.

"O que será que Yohji vai achar disso?", perguntou Kyou com um sorriso malicioso. Não deixaria o ruivo roubar Ken debaixo de seu nariz e sabia que o playboy também não deixaria que isso acontecesse.

"Yohji? O que o Yohji tem a ver com isso?", disse Ken confuso. Não estava entendendo onde Kyou estava tentando chegar.

"Não se faça de bobo, Ken. Você acha que Yohji vai gostar de saber que você dormiu com o koi dele?", Kyou não acreditava no que Ken estava dizendo. Pela primeira vez achava que o jogador estava sendo dissimulado, tentando ocultar a verdade.

"Aya? Mas eu estou chegando agora", respondeu Ken se irritando. Kyou estava ficando cada vez pior, vigiando todos seus passos.

"Mas eu ouvi gemidos em seu quarto essa madrugada, se não era você então quem passou a noite com Aya?", insistiu Kyou esperando que Ken entregasse logo a verdade estava farto de jogos.

"Gemidos? No meu quarto?", repetiu Ken incrédulo. Queria matar Yohji por não ter sido mais cuidadoso, agora teria que pensar em uma boa desculpa, não podia contar a verdade.

"Sim, e não se faça de bobo, Ken. Esse papel não fica bem em você", falou Kyou exasperado. O jogador estava testando sua paciência fingindo que não sabia o que havia acontecido em seu próprio quarto.

Impaciente com o inquérito de Kyou Ken não deu mais nenhuma explicação e entrou em seu quarto. Sua vontade de matar Yohji aumentou quando encontrou a porta aberta, qualquer um poderia ter entrado ali e feito alguma coisa com o espadachim por seu descuido. Quando entrou encontrou Aya adormecido, ele gemia e tremia de frio. Ao colocar a mão na testa do ruivo sentiu que ele queimava de febre.

"Droga!", resmungou Ken entredentes. A visita do playboy não havia feito muito bem ao espadachim. Estava crescendo sua lista de motivos para matar Yohji, mas um pouco disso era sua culpa, não devia ter deixado o ruivo sozinho no estado em que se encontrava. "Aí estão seus gemidos, Kyou".

"Eu... mas... pensei...", murmurou Kyou aturdido. Não havia cogitado nem por um minuto que Aya poderia estar passando mal.

"Faça um favor a todos e não pense em mais nada", disse Ken com raiva. Estava descontando em Kyou toda sua frustração pelo que estava acontecendo, porque sentia-se culpado por haver deixado o ruivo sozinho mesmo sabendo que não deveria. "Vá pegar uma toalha no banheiro, acho que umas compressas de água fria vão baixar a febre".

"Yohji...", sussurrou Aya delirando quando Ken ajeitou-o na cama.

"Aya, acorde! Sou eu, Ken", chamou Ken preocupado. O ruivo estava muito pálido e suava frio. "Aya!".

"Ken, acho que não esta adiantando nada", falou Kyou quando viu que os esforços do jogador para baixar a febre de Aya estavam sendo em vão.

Ken estava quase levando Aya para o hospital quando viu que nada estava adiantando e que ele parecia cada vez pior. Estava sozinho no quarto porque Kyou havia desaparecido minutos antes, iria levar Aya sozinho para o hospital se preciso fosse.

"O que aconteceu, Ken?", perguntou Yohji irrompendo no quarto de Ken, sendo seguido por Kyou.

"Não sei, ele esta com muita febre", respondeu Ken olhando furioso para Kyou. Não precisava ser nenhum gênio para descobrir porque Kyou havia sumido, ele estava com o playboy.

"O que podemos fazer?", inquiriu Yohji ajoelhando-se ao lado da cama.

"Não sei, já fiz o que sabia, acho melhor leva-lo para o hospital", disse Ken se controlando para não dizer umas verdades para Yohji. Estava cansado de ver a mesma novela sempre, primeiro ele machucava Aya e depois ficava tentando se redimir.

"Acho que um banho frio ajudaria", falou Kyou num fio de voz. Tinha ido chamar Yohji para ajudar Ken com Aya, desta vez não teve nenhuma outra intenção. Estava sentindo-se culpado por ter acusado Ken e não ter ajudado Aya antes.

"Pode deixar que faço isso", adiantou-se Yohji. Não deixaria que mais ninguém visse seu koi nu e também queria fazer algo por ele, afinal tudo aquilo era sua culpa.

"Não acho....", começou Ken temeroso. Não queria deixar Aya sozinho com Yohji, ainda mais agora que ele não podia se defender. Não confiava no playboy.

"Não faria nada para machucá-lo, Ken!", afirmou Yohji olhando para o jogador. Nunca havia machucado Aya daquela forma e estava assustado consigo mesmo, tinha que de alguma forma reparar seu erro. Não queria perder seu koi, não podia viver sem ele.

As palavras sarcásticas morreram em sua garganta quando viu o olhar de Yohji para Aya, pela primeira vez em muito tempo reconhecia seu amigo em Yohji. O playboy estava sendo sincero, talvez nem tudo estivesse perdido ainda. Queria acreditar na sinceridade de Yohji, acreditar que as coisas ainda podiam mudar. Yohji pegou Aya em seus braços e o levou para seu quarto enquanto Ken continuava divagando.

"Desculpe ter chamado Yohji, mas...", balbuciou Kyou interpretando errado o silêncio do jogador.

"Pela primeira vez você fez algo certo, Kyou. Obrigado!", agradeceu Ken despertando de seus pensamentos. "Queria ficar um pouco sozinho, por favor".

Um tanto quanto aturdido pelas palavras de Ken, Kyou saiu do quarto. Cada vez entendia menos a relação de seus parceiros.

A mente de Ken estava a mil, pensava em Omi e na noite maravilhosa que passaram juntos, em Yohji e sua atitude poucos minutos atrás, em Kyou sempre se intrometendo em sua vida. Desde que Yohji e Omi haviam aparecido as coisas ficaram mais confusas para ele, não sabia como reagir as novas situações que se apresentavam.

Atirou-se na cama pensativo, não sabia que rumo sua vida tomaria depois que Omi fosse embora. Será que tudo voltaria a ser como antes, ele ficaria sozinho vendo Omi e Sena ou Omi seria seu novamente? A única coisa que sabia era que tudo continuaria igual se continuasse impassível, esperando que as coisas acontecessem. Sua mente estava um turbilhão, pensava em muitas possibilidades diferentes, mas não sabia que atitude tomar.

Estava tentado a ir falar com Omi e pedir uma explicação. O que o impedia de fazer isso era o chibi que havia ficado no hotel, não podia fazer isso enquanto ele estivesse ali. Ao refletir mais um pouco chegou a conclusão que o loirinho seria o primeiro a encorajá-lo a fazer isso e finalmente resolver sua vida. Não podia esquecer que logo o menino voltaria para seu tempo e ele voltaria a ficar sozinho. Só teria que pensar em uma maneira de falar com Omi sem que Sena estivesse por perto. Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos, um pouco contrariado foi atender a porta. Não poderia ficar mais surpreso quando viu quem estava parado em sua porta.

"Omi? O que aconteceu?", perguntou Ken sem esconder seu espanto. Desde que haviam terminado Omi não o procurava para conversar.

"Vim ver se Aya esta se recuperando bem", respondeu Omi sem olhar nos olhos do jogador. "Temos uma missão e iremos precisar dele".

"Ah! Ele passou mal essa noite, não sei se não precisaremos levá-lo para o hospital", explicou Ken um pouco decepcionado. Havia pensado por um segundo que Omi quisesse falar com ele, como era tolo em pensar essas coisas.

"O que aconteceu? Yohji apareceu por aqui?", perguntou Omi entrando no quarto irritado. Odiava quando o desobedeciam, não admitia ser contrariado.

"Pode entrar, Omi", resmungou Ken sarcástico. Além de não ser por sua causa o motivo da visita de Omi, o atual líder de Weiss agia como se o quarto fosse seu, assim como fazia na casa toda.

"O que?'", indagou Omi parando no meio do quarto.

"Nada", desconversou Ken seco. A última coisa que precisava no momento era ter que ouvir um sermão de Omi sem merecer.

"Você disse que Aya está mal, então por que ele não está aqui com você?", perguntou Omi confuso olhando ao redor do quarto.

"Yohji o levou", respondeu Ken recostando-se na parede. Estava vendo que a inquisição iria ser longa, só esperava que no fim não fosse responsabilizado por tudo.

"Droga, agora que Aya nunca vai se recuperar. Por que você deixou?", inquiriu Omi virando-se furioso para Ken, pela primeira vez olhando nos olhos chocolate.

"Porque Aya estava mal e ele queria ajudar", falou Ken exasperado. Estava ficando cansado da atitude prepotente de Omi.

"E você acreditou nele? Você realmente acha que pode confiar nele?", debochou Omi sorrindo.

"Acreditei, afinal é o Yohji e sei que posso confiar nele", retrucou Ken respirando fundo. O garoto mais novo estava deixando-o no limite de sua paciência.

"Você realmente acha que pode confiar nele?", insistiu Omi ainda com o sorriso debochado em seu rosto. Parecia guardar um segredo que ninguém mais sabia.

"Acho", disse Ken convicto. Agora quem estava no escuro era Omi, ele já sabia tudo que o playboy havia feito, mas mesmo assim ainda confiava nele, tinha que confiar não poderia viver com alguém em que não confiasse.

"Você não sabe de nada", falou Omi amargo. Teve vontade de rir da ingenuidade do jogador, Ken continuava igual, não havia mudado. O riso morreu em sua garganta quando pensou que aquela era uma das qualidades que mais o fizera gostar do moreno.

"Você está enganado, eu sei de tudo", entregou Ken, estava cansado de meias palavras.

"Você tem certeza disso?", perguntou Omi incrédulo. O jogador só podia estar falando de outra coisa, afinal havia aberto mão de sua felicidade para que Ken nunca soubesse a verdade por trás de tudo e para que não se magoasse com aquilo.

"Sei mais do que você imagina", alertou Ken sorrindo confiante. Queria que Omi perdesse a pose, a maneira como ele estava agindo o deixava furioso.

Omi estava ficando intrigado, não havia como o jogador ter descoberto a verdade, era impossível. Yohji nunca contaria nada porque ele havia pedido segredo, Aya só fazia o que o playboy mandava e ele não havia contado nada. Havia os dois novos membros, mas eles nem sonhavam com o que havia acontecido naquela missão.

"O que você acha que sabe, Ken?", insistiu Omi petulante. O moreno com certeza falava de outra coisa.

"O que aconteceu naquela missão. Tudo que vocês esconderam de mim durante todo esse tempo", revelou Ken aproximando-se de Omi que o olhava espantado. O líder de Weiss não conseguia esconder sua surpresa.

"Mas como.....", balbuciou Omi aturdido. Não queria que as coisas acabassem daquele jeito, a verdade deveria permanecer oculta para sempre.

"Isso não importa, o que importa é que descobri tudo. Mas a única coisa que quero saber agora é por que você mentiu para mim Omi?", perguntou Ken encarando Omi. Só faltava aquela peça para o quebra-cabeça fazer sentido para ele. O Omi do passado havia descoberto o diário real da missão, mas precisava que a pessoa que havia escrito aquilo confirmasse tudo. Por enquanto tudo que tinha eram especulações suas e de Omi.

"Eu... não...", murmurou Omi confuso. Não conseguia pensar em nada, nem na verdade e muito menos em uma mentira plausível.

"Você não me amava o suficiente para confiar em mim? Você achou que essa era uma boa desculpa para me deixar? Ou você nem mesmo pensou que isso me magoaria? Por que, Omi???? Me responda, você me deve isso", acusou Ken ficando frente a frente com seu ex-amante, seus corpos quase se tocando.

"Nunca pensei nisso, eu fiz tudo isso para que você não sofresse, Ken", falou Omi mordendo os lábios nervoso. Não podia deixar que o jogador tirasse esse tipo de conclusão. Havia feito aquilo porque o amava demais, não o contrário.

Ken não falou nada, apenas ficou encarando Omi procurando algo em que acreditar. Haviam mentido tanto para ele que não sabia mais no que acreditar, estava perdido no meio daquela confusão toda.

Continua...

Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty / Dezembro de 2002

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