Fantasmas do Passado
Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty
Parte XI
Yohji fitou o menino loiro encolhido na cadeira perto da janela. O rostinho parecia estranhamente tomado pela tristeza e o playboy não conseguiu evitar sentir pena dele. Aproximou-se devagar e agachou na frente do menino.
"O que foi, chibi?", perguntou bastante preocupado. "Porque está com essa cara? Você estava tão feliz antes".
"Ele não veio ontem, Yohji-kun. E acho que também não virá hoje", respondeu quase em um murmúrio lembrando-se que já haviam se passado dois dias desde que falara com Ken no telefone.
"Por que você não liga para ele? Ele pode ter tido algum problema, uma missão talvez", Yohji tentava justificar, apesar de achar aquilo muito estranho, pois também estava preocupado sem noticias de Aya, mas não queria deixar o garoto ainda mais triste do que já estava.
"Não, não vou ligar. Não vou agüentar ele me dispensando outra vez no telefone", respondeu amargo. A verdade era que tinha ficado muito sentido com a maneira que Ken o havia tratado no celular.
"Então é mesmo isso... Eu já imaginava. Omi, não fique assim, ele deve ter tido um motivo para agir desse jeito", disse Yohji carinhoso.
"Sim... talvez ele tenha descoberto que não me ama mais. Ou quem sabe ele não queira mais me ver agora que já conseguiu o que queria".
"Pare com isso. Omi!", retrucou o playboy energicamente segurando o garoto pelos ombros. "Você sabe muito bem que o Ken ama você. Ele não é do tipo canalha, nem que se aproveita da situação e você sabe muito bem disso".
"Mas... então por que...?", insistiu o loirinho tentando segurar as próprias lágrimas.
Neste instante a campainha tocou interrompendo os dois. Omi esfregou os olhos tentando esconder os vestígios do choro enquanto Yohji foi abrir a porta.
"Desculpe vir a essa hora, mas é que estava muito difícil sair do Koneko sem levantar suspeitas", explicou-se Ken. "O Omi está aí, Yohji?".
O loiro o olhou sério dando passagem a ele e apontou a figura frágil do menino que continuava encolhido na mesma cadeira. Ken se aproximou de Omi e beijou-lhe a face carinhosamente, no entanto Omi não reagiu.
"E então? O que foi que aconteceu que você parecia tão eufórico no telefone aquele dia?", perguntou o jogador com um sorriso, não tinha a menor idéia de como sua fria reação havia magoado o loirinho.
"Nada, só que já descobri uma maneira de voltarmos para casa", disse desanimado.
"Como nada? Se você descobriu mesmo isso é maravilhoso, Omi!", retrucou o moreno feliz com a noticia.
"Tem razão, logo você estará livre de mim", concordou com a voz carregada de mágoa.
"O que você está dizendo?", perguntou Ken confuso. "Não era isso que você tanto queria? Poder consertar as coisas? Estou feliz por isso e não porque você vai embora. De onde você tirou uma idéia dessas?".
"Eu pensei que você não me quisesse mais depois que nos falamos no telefone", respondeu baixinho.
"Desculpa interromper... Mas é só pra avisar que eu vou sair para fumar um pouco enquanto vocês conversam", disse Yohji já saindo pela porta. Iria dar um pouco de privacidade aqueles dois para que discutissem aquilo mais à vontade.
"Omi... não é nada disso. Eu sei que te devo uma explicação, mas é que aconteceram muitas coisas e não tive outra escolha. Mas nunca me passou pela cabeça ficar longe de você, entendeu bem?", falou o jogador apressado. Não podia deixar Omi concluir aquelas tolices.
"Ahnn... Ken... Que bom", suspirou Omi abraçando seu koi e beijando de leve os lábios. "Então, por favor, me diga o que foi que aconteceu".
O jogador começou a contar tudo o que havia se passado nos últimos dois dias. Contou como havia encontrado Aya passado mal quando chegou em casa e como Yohji havia se revelado um companheiro cuidadoso desde então, sem também esquecer de Kyou que parecia ficar no seu encalço muito mais do que de costume.
"Mas então Aya está sozinho com Yohji? Isso não é perigoso, Ken?", ponderou Omi preocupado, se o loiro resolvesse ter mais um surto psicótico Ken não estaria lá agora para defender Aya.
"Acho que não tem problema. Aya está bem melhor agora e Yohji realmente cuidou muito bem dele, parece que ele realmente se arrependeu do que fez e decidiu mudar".
"Entendi, mas é melhor você não se descuidar, nunca se sabe. Yohji-kun não vai gostar nenhum pouco de saber que Aya-kun está perto daquele louco novamente. Acho que vou ter que arrumar um jeito de contar isso para ele sem deixá-lo furioso", disse Omi resignado.
"É, eu sei, mas sei também que ninguém pode fazer isso melhor do que você", concordou sorrindo e dando-lhe mais um beijo.
"Então foi por isso que não me procurou? Era o Yohji que estava com você no dia do meu telefonema então?", questionou o chibi procurando compreender toda aquela situação.
"Na verdade não", respondeu Ken sem jeito, não sabia como explicar aquilo. "Eu... eu estava com você".
"Comigo? Como assim?", Omi não conseguiu esconder sua surpresa.
"É que eu e você... nós dois... bem... aconteceu, Omi", respondeu o jogador nervoso.
"Aconteceu o que? Eu não estou entendendo", na verdade Omi entendia, mas queria ter certeza que não estava se enganado.
"Bom, naquele dia você me procurou, então eu acabei falando de algumas coisas que eu sabia. Nós discutimos e no fim acabamos juntos na cama. Foi isso...", explicou Ken quase em um desabafo. "Quando você ligou ainda estávamos juntos e eu não podia falar nada àquela hora".
O loirinho sorriu, mal podendo acreditar que o motivo de toda aquela confusão havia sido ele mesmo.
"Não está zangado?", perguntou o jogador meio tímido.
"Claro que não! Era comigo que você estava e isso me deixa muito feliz. Isso quer dizer que ainda nos amamos de verdade, Ken, mesmo com tudo o que aconteceu", respondeu Omi sorrindo abertamente.
"Mas não é tão simples assim, meu amor. Nós não reatamos nosso relacionamento", avisou o jogador se afastando um pouco. "Você não quis. Disse que ainda me amava, mas não queria magoar seu amante".
"Eu... eu sinto muito", disse Omi abaixando a cabeça. "Compreenda que isso deve ser uma situação muito difícil para mim".
"Eu sei...", concordou Ken, ainda quando se lembrava disso não conseguia disfarçar a frustração em seu rosto.
"Mas prometo que vou dar um jeito nisso! Eu vou sim! Eu já sei como voltar para casa. Vou conseguir, você vai ver!!", anunciou Omi todo confiante.
"Eu sei que vai. Confio muito em você", disse Ken tomando Omi em seus braços e beijando-o intensamente.
Yohji desceu para fumar deixando os dois a sós. Estava curioso para saber o que estava acontecendo no Koneko, mas primeiro deixaria que os dois conversassem em paz. Eles tinham muito para falar um para o outro, não queria que o chibi ficasse triste por algum mal-entendido entre eles. Porém assim que tivesse resolvido seus problemas Ken teria que contar como estavam às coisas na floricultura e como estava Aya, estava morrendo de saudades do ruivo.
Sorriu ao perceber que seus pensamentos sempre voltavam para o espadachim, não importando a situação. Nunca havia parado para pensar que aquela relação que tinha tudo para dar errado era perfeita, não conseguia mais imaginar sua vida sem Aya. Tinham que arrumar o passado para que não acabasse como seu eu do futuro.
Apagando o cigarro Yohji resolveu dar uma volta para dar alguns minutos para Ken e Omi, sua vontade era dar uma passada no Koneko, mas era muito arriscado e no momento a última coisa que precisavam era que ele fizesse alguma tolice.
Omi explicou a Ken tudo o que havia descoberto sobre a viagem de volta no tempo, falou de todas as suas expectativas, mas ainda lhe faltava planejar como executar tudo o que pretendia.
"Então ainda preciso reunir informações mais exatas sobre rotas e localizações... e isso pode levar algum tempo. Mas o difícil vai ser conseguirmos um avião. Sei que seria muito fácil invadirmos um hangar e roubar um, mas... eu realmente não queria fazer isso...", continuou Omi um pouco preocupado com aquilo.
"Acho que posso resolver isso", avisou o jogador.
"Resolver isso como? O que está pretendendo, Ken?", questionou Omi intrigado. Onde será que o moreno iria arrumar um avião para aquela situação?
"Nada de mais. Só que acho que sei quem pode resolver esse problema. Confie em mim", pediu Ken com um sorriso. "Agora preciso ir".
"Já? Mas tão rápido? Eu queria que ficasse mais um pouco", respondeu Omi decepcionado.
"Eu sei, mas pense que quando isso tudo acabar vamos poder ficar juntos novamente".
"Espero que sim", e dizendo isso Omi deixou que seus lábios se juntassem aos de Ken num beijo apaixonado.
Sorrindo Yohji entrou no quarto, tinha quase certeza que pegaria os dois amantes ainda na cama e sabia que Omi ficaria muito embaraçado, isso era o que o motivava a entrar tão sorrateiramente. Era divertido ver o chibi envergonhado, Omi nunca conseguia disfarçar seu desconforto quando era pego naquelas situações.
Porém seu sorriso esvaeceu quando encontrou Omi debruçado sobre alguns livros que havia conseguido na biblioteca. Ken não estava em nenhum lugar a vista. Aquilo só podia significar que tinham más noticias para ele, algo que Ken não tinha coragem para contar e havia sobrado para Omi.
"Quais são as novidades no Koneko?", perguntou Yohji dissimulado. Estava preparando terreno para pegar Omi de surpresa, não aceitaria que escondessem nada dele.
"Quase nenhuma, Ken e Omi estão começando a se entender, Kyou continua controlando todos os passos de Ken e contei nossos planos para ele", respondeu Omi evitando olhar nos olhos do homem mais velho. Ainda não havia pensado em uma maneira de contar que Aya estava sozinho com Yohji, sabia que ele não gostaria muito daquela idéia.
"Só isso? Pensei que depois de dois dias sem notícias ele teria mais para contar", falou Yohji sentando-se de frente para Omi. Sabia que isso deixaria Omi desconfortável e logo ele contaria o que queria saber.
"Nós nos acertamos também, foi apenas um mal entendido entre nós", contou Omi tentando ganhar tempo. Tinha que evitar que Yohji fizesse algo idiota, como ir ao Koneko matar seu eu do futuro.
"Hum, que bom que vocês se acertaram", murmurou Yohji distraído. Devia ser algo que o irritaria muito ou Omi não estaria enrolando tanto para contar a verdade.
"Yohji-kun, eu...Ken... VocêestácuidandodeAya", disse Omi atropelando as palavras. Não tinha como amenizar a notícia, tinha que conseguir colocar na cabeça do loiro que tudo estava bem.
"O que? Não entendi nada do que você acabou de dizer, fale devagar", pediu Yohji confuso. Omi estava muito estranho, só podia ser alguma notícia relacionada a Aya para o menino estar tão relutante em contar.
"Aya está com você, na verdade você está cuidando dele", repetiu Omi devagar e observando as reações do homem mais velho.
"Como Ken deixou uma coisa dessas acontecer?", perguntou Yohji levantando rapidamente e deixando a cadeira cair violentamente no chão. "Ele deixou Aya sozinho com aquele psicótico para vir aqui namorar?".
"Você está sendo injusto, Yohji-kun", falou Omi magoado. Ken nunca seria egoísta do modo que Yohji o estava acusando. "Ken nunca deixaria Aya com ele senão tivesse certeza de que nada iría acontecer. Aya está em boas mãos, Yohji-kun, pode ter certeza".
"Não tenho tanta certeza, chibi, mas agora não podemos fazer nada", murmurou Yohji desanimado. De nada adiantaria fazer algo contra seu eu do futuro agora, precisava se concentrar em voltar para seu tempo e evitar que tudo aquilo acontecesse.
"Yohji-kun, você está bem?", perguntou Omi preocupado. Tinha certeza de que quando o loiro soubesse com quem Aya estava ele sairia como um louco para salvar o ruivo, mas para sua surpresa depois da reação irracional inicial ele deixaria as coisas como estavam.
"Como posso estar bem sabendo que Aya está com aquele louco?", retrucou Yohji acendendo um cigarro. Sabia que o menino esperava que tivesse outra reação, mas tinha que se controlar para não estragar tudo como sempre fazia. "Quero fazer as coisas certas desta vez, Omi. Não posso deixar minhas emoções estragarem tudo outra vez".
"Não se preocupe, Ken vai ficar de olho em Aya", disse Omi colocando uma mão no braço de Yohji para dar um pouco de apoio para seu amigo.
Yohji não respondeu nada apenas apagou seu cigarro e deitou na cama para refletir um pouco. Não teria um minuto de paz imaginando o que Aya estava sofrendo neste momento. Havia prometido que iría ajudá-lo e não cumpriria sua promessa
Ken chegou ao Koneko todo sorridente e logo viu Kyou encostado na porta de seu quarto.
"O que foi dessa vez?", perguntou Ken impaciente, só ele sabia o quanto odiava toda vez que chegava em casa e Kyou estava lá esperando para fazer mais uma daquelas cotidianas cenas.
"Nada. Você está tão sorridente. Posso saber onde você esteve e o motivo de tanta alegria?". Perguntou Kyou.
O jogador o olhou serio e depois quase quis gargalhar. Quem Kyou pensava que era para exigir explicações daquele jeito?
"Eu imaginei que fosse isso... Será que você não se toca que eu quero que pare de se meter na minha vida?", disse Ken.
"Ei, calma... Eu só fiquei curioso".
O jogador queria acabar de uma vez por todas com aquela mania ridícula que Kyou tinha de ficar lhe controlando e acabou tendo uma idéia que o ajudaria a resolver dois problemas de uma única vez.
"Escuta, Kyou. Já que você parece tão preocupado em tomar conta da vida alheia, será que você saberia me dizer onde se encontra Omi nesse momento?", perguntou Ken irônico e ao mesmo tempo provocativo, percebendo os olhos de Kyou queimarem de raiva.
"Sei, ele está no quarto dele", respondeu secamente, segurando-se para não xingar Omi de todos os nomes feios que conhecia.
"Muito obrigado", agradeceu Ken com um sorrisinho sarcástico e foi saindo.
"Aonde você vai, Ken?".
"Vou ver Omi", disse parando no corredor, pensando em quanto Kyou devia estar revoltado com aquilo.
"Mas Sena está com ele. Você não vê que vai atrapalhar os dois, vai? Se liga, Omi está com o amante dele!", esbravejou Kyou frisando bem a ultima parte.
"Não por muito tempo, meu caro Kyou...", Ken foi em direção ao quarto de Omi deixando para traz aquelas palavras no ar e um Kyou roxo de tanta raiva.
Quando estava frente ao quarto de Omi pensou seriamente se deveria bater, talvez ele nem se quer quisesse recebê-lo, mas iria tentar. Devia isso ao próprio Omi, faria isso pelo chibi que havia ficado no hotel.
Sena ouviu as batidas na porta e levantou da cama para abri-la e qual não foi sua surpresa quando viu que se tratava de Ken.
"Boa noite, eu vim falar...", disse o jogador quando foi recepcionado pela figura seria do menino, mas sem nem ao menos ter tempo para terminar de falar teve a porta literalmente batida em sua cara. "Eu hein. O que deu nele?", perguntou para si mesmo estranhando a atitude de Sena.
"Quem era? Eu ouvi uma batida na porta", perguntou Omi saindo do banheiro.
"Não era ninguém!", respondeu Sena sem conseguir esconder sua irritação.
"Como ninguém? Eu ouvi claramente", insistiu o rapaz mais velho.
"Não era ninguém de importante", respondeu o menino com a cara amarrada e dando de ombros. Na verdade estava morrendo de ciúmes de Ken e achava muito abuso da parte dele ir procurar Omi na sua frente.
Sem entender o que estava acontecendo Ken bateu novamente na porta, não deixaria que atitude estúpida de Sena o impedisse de tentar o que tinha em mente.
"Sena, tem alguém batendo na porta sim", disse Omi com um olhar reprovador. "Quem é?".
"É Ken-kun...", murmurou baixando a cabeça.
"Sena, vá abrir a porta, por favor", ordenou pausadamente, mostrando o quanto aquilo o havia irritado.
O menino não retrucou nada, com os ombros encolhidos e contra sua vontade obedeceu indo abrir novamente a porta. Não encarou Ken, apenas o deixou passar. O jogador pediu licença e entrou no quarto indo na direção de Omi que estava sentado na cama.
"Omi, eu preciso falar com você. É um assunto importante", avisou Ken, não queria correr o risco de ser mandado embora sem antes dizer a que veio.
"Deve ser mesmo importante, para vir me procurar dessa maneira", disse Omi friamente. "Estou ouvindo".
"Sim, mas devido à seriedade do assunto... eu gostaria de ter uma conversa em particular", argumentou olhando de lado para Sena. Queria que Omi entendesse que não queria o garoto presente.
"Sena, nos dê licença", pediu o líder.
"Ahh, não! Não vou sair! Se vocês querem 'conversar' porque não o fazem em outro lugar? Não vou sair daqui", retrucou o menino nervoso, dirigindo ao jogador o olhar mais hostil que podia ter.
"Eu mandei você sair", repetiu Omi com calma.
"Mas, Omi... eu...", Sena ainda insistia.
"Saia! Vamos!", dessa vez disse Omi mais firmemente.
Sena até se assustou com aquilo, mas não discutiu. Passou pelo jogador olhando com desprezo, um sentimento que nunca antes havia sentido. "Droga!".
"O que ele tem?", perguntou Ken depois que o menino saiu. Estava espantado, sabia que Sena estava sempre sorrindo e sendo simpático com todos, mas sabia também que o menino costumava mudar de humor facilmente e ficar irritado quando alguma coisa lhe contrariava.
"Não sei", respondeu Omi. Estava quase tão surpreso quanto Ken.
"Você não contou nada para ele, contou? Parece até que ele sabe de alguma coisa... pode ser que...".
"Não eu não contei. Agora esqueça isso e diga logo o que quer", interrompeu Omi, não queria pensar mais naquele assunto, já estava sofrendo demais para ficar remoendo aquilo.
"Calma, eu só pensei que...", Ken tentou se explicar mais foi novamente interrompido.
"Olha, se você veio aqui falar sobre isso melhor ir embora, perdeu seu tempo", esbravejou Omi levantando-se da cama.
Ken o empurrou fazendo-o sentar novamente, não permitiria que Omi voltasse a tratá-lo daquela maneira.
"Escute bem! Pare de agir assim comigo!", disse Ken alterado. "Eu sei que você não é assim. E além do mais eu não vim mesmo falar sobre nós".
"Desculpe...", pediu Omi meio atordoado. Odiava admitir, mas sentia-se vulnerável perante Ken.
"Eu vim lhe pedir um favor, Omi", disse o jogador ajoelhando-se diante dele e tocando lhe o rosto.
"Um favor?", retrucou Omi estranhando aquilo.
"Sim, mas... eu preciso muito de uma coisa. Mas não posso te dizer para o quê", explicou o jogador para Omi que ainda o olhava ressabiado. "Por favor, eu preciso muito. Preciso que me arrume um avião".
"Um avião?", Omi o olhou com total surpresa. Por que diabos Ken poderia querer um avião?
"Sim, mas eu preciso para uma coisa e provavelmente não vou poder devolvê-lo depois".
"Ken, isso está muito estranho. Para que você quer um avião? E como não pode devolvê-lo? O que você vai fazer com ele?".
"Eu disse que não posso contar", repetiu Ken andando de um lado para o outro do quarto. Aproximou-se novamente de Omi segurando-o pelos ombros. "Por favor, eu não estaria pedindo se não fosse importante. Você vai ter que confiar em mim".
Omi fitou o rosto de Ken por um longo tempo, seu silencio angustiava o jogador que ansiava pela resposta. Desde que soube de toda a verdade Ken não parava de pensar sobre todas as coisas que Omi havia abdicado para protegê-lo e ele nunca fizera nada por Omi todo aquele tempo e agora era sua chance de fazer alguma coisa.
"Terá seu avião em dois dias", respondeu Omi sem saber o imenso alivio que sentia o jogador nessa hora. "Só espero que não esteja metido em nenhuma confusão".
"Obrigado, Omi. Nem sei como lhe agradecer", disse Ken aproximando seu rosto do de Omi.
"Já agradeceu. Agora saia, por favor", pediu Omi virando o rosto, se continuasse com aquilo talvez não conseguisse resistir àqueles lábios que tanto desejava.
Ken respirou fundo e saiu do quarto, embora decepcionado por Omi continuar a rejeita-lo estava tão feliz por ter conseguido o avião que nem notou o olhar atravessado de Sena para ele quando passou pelo corredor.
Sentado próximo à janela Yohji observava seu amante adormecido. Desde o dia que havia trazido Aya para o quarto deles não havia saído do seu lado por muito tempo. Durante aquele tempo o espadachim não havia ficado acordado muito tempo, os remédios o deixavam sonolento. Quando pensava no quão perto estivera de perder seu amante lágrimas vinham aos seus olhos, não conseguia acreditar que quase havia matado Aya.
Estava muito arrependido do que havia feito, mas sabia que teria que reconquistar a confiança de Aya e faria de tudo para conseguir. Tentava entender como a relação deles havia se tornado tão doentia, Aya sempre se sujeitando as suas vontades por culpa e ele sempre humilhando o espadachim mais e mais.
Sabia que tudo havia começado com Schuldich, mas o alemão não era o único responsável estava na hora de assumir sua culpa naquilo tudo e poder recomeçar com Aya. No começo de sua relação havia traído Aya, mas depois de algumas brigas tudo voltava ao normal. Aya só havia errado uma vez e estava pagando por isso durante muito tempo. Já estava na hora de esquecerem definitivamente do passado, seguir em frente. Porém as coisas só mudariam quando ele conseguisse controlar seu ciúme e sua vontade de dominar Aya. O que sentia pelo ruivo não era amor, era um sentimento de posse, como se Aya fosse algo para ser usado, possuído.
Um gemido de Aya o despertou de seus devaneios, ele estava acordando e possivelmente com muitas dores. Com cuidado para não assustar o espadachim que ainda se sobressaltava cada vez que ele se aproximava Yohji cruzou o quarto em direção a cama.
"Aya, meu anjo, você está bem?", perguntou Yohji ao lado da cama. Os hematomas ainda maculavam a pele pálida, relembrando Yohji de seus atos.
"Sim", murmurou Aya sem olhar para Yohji. Não havia uma parte de seu corpo que não estivesse doendo, mas sabia que o loiro não gostava que demonstrasse nenhuma fraqueza.
"Não minta para mim, Aya", disse Yohji ajoelhando-se ao lado da cama. "Sei que o efeito do remédio passou algum tempo atrás, mas não quis acordá-lo".
"Você está cuidando de mim?", perguntou Aya confuso. Lembrava-se de estar no quarto de Ken e dos cuidados do jogador, não sabia ao certo o que Yohji fazia ali com ele.
A surpresa na voz de seu koi o magoou profundamente, o espadachim parecia não acreditar que ele pudesse fazer algo por ele. Mas há muito tempo não dava motivos para Aya pensar que o amava e se importava com ele, era sua culpa.
"Sim", respondeu Yohji segurando o rosto de Aya e fazendo-o encará-lo. "Quero que você me perdoe, Aya, por tudo que fiz a você. Sei que sempre falo que me arrependi depois de ter perdido a cabeça, mas desta vez é verdade. Quero mudar antes que eu perca você".
Aya ficou mudo com as palavras do playboy, parecia que ele estava sendo sincero, mas não conseguia acreditar nele. Sempre era a mesma coisa, primeiro ele lhe batia e depois pedia desculpas e dizia que aquilo nunca mais aconteceria. Estava cansado de viver aquela mentira, apesar de amá-lo de todo seu coração.
"Diga que me perdoa, Aya, que vai me dar uma nova chance. Quero fazer dar certo entre nós. Preciso que você me ajude a mudar. Por favor, Aya, por favor", implorou Yohji com lágrimas nos olhos. Tinha certeza que Aya não estava acreditando nele, mas provaria que era sincero daquela vez.
"Yohji, por favor, não chore", pediu Aya confuso. Agora estava errado, Yohji havia se tornado uma pessoa que não chorava e não pedia nada a ninguém, ele mandava. Sua resolução em terminar tudo acabou no momento em que as lágrimas rolavam pelo rosto do playboy. Não podia deixar Yohji, principalmente quando ele pedia a sua ajuda.
"Aya, me perdoe", pediu novamente Yohji. "Tudo pode voltar a ser como antes, quando éramos felizes juntos".
Aya fitou o loiro por um tempo, as palavras lhe faltaram nessa hora, estava perdido entre suas duvidas, pensava no que fazer agora que Yohji lhe pedia uma nova chance.
Continua...
Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty / Maio de 2003
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