Fantasmas do Passado

Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty

Parte XII

Dois dias haviam se passado e era chegada à hora que Yohji e Omi tanto haviam esperado, iriam voltar para casa.

"Apresse-se, Yohji-kun. Já escureceu e Ken-kun está nos esperando", pedia o loirinho ansioso enquanto olhava o playboy encostado ao lado da janela bastante desanimado.

Omi colocou todo o material que havia investigado nos últimos dias dentro de uma maleta, todos os mapas, rotas e cálculos que havia feito. Atravessou o quarto lentamente procurando conter sua própria ansiedade e se dirigiu ao loiro de um jeito afetuoso.

"Yohji-kun, eu sei que você está preocupado com Aya-kun, mas ficar aí parado de nada vai adiantar. Temos que voltar logo para casa e você vai poder corrigir todos os erros, isso é a única coisa que você pode fazer no momento", tentou anima-lo.

"Eu sei, Omi", respondeu tentando sorrir ao garoto, mas definitivamente aquilo era muito difícil.

"Não vai arrumar suas coisas?", perguntou o chibi como se realmente houvesse muita coisa para ser arrumada.

"Não, já está tudo pronto", respondeu ainda sem muito animo.

"Então vamos logo, teremos que pegar um transporte público e isso pode demorar um pouco, ou podemos pegar um táxi", comentou o loirinho analisando a melhor maneira de chegarem ao local combinado. "Além do mais ainda temos que pagar a conta no hotel, ou você está pensando em dar um calote?".

"Até que não seria uma má idéia", respondeu Yohji finalmente dando seu sorriso bem característico.

"YOHJI KUN!!!", reprovou o menino.

"Relaxa, chibi. Eu só estava brincando", disse Yohji pegando suas coisas e saindo pela porta seguido por Omi.

Apesar de tentar aparentar descontração Omi sabia que o homem mais velho estava pensado em Aya, como havia pensado durante os dias em que haviam ficado sem nenhuma notícia do ruivo. Não queria ver o playboy assim, mas não tinha o que fazer, não podia arriscar tudo para que Yohji se despedisse de Aya. Estava confiante que iriam conseguir voltar para casa e arrumar as coisas, assim ele também ficaria com a consciência tranqüila por deixar Aya nas mãos do Yohji do futuro.

"Vamos, Yohji-kun, antes que você tenha mais alguma idéia brilhante", brincou Omi na dura tarefa de tentar animar Yohji.

"Hei, chibi", falou Yohji fingindo indignação. Não queria preocupar o menino com seus problemas apesar de ter certeza que Omi sabia o que se passava em sua cabeça.

Os dois dias que tiveram de esperar para conseguirem o avião foram uma tortura para ele, embora tivessem muitas coisas para fazer seus pensamentos sempre estavam no espadachim. Não conseguia se concentrar em nada, só pensava no que estava acontecendo com Aya agora que estava sozinho com seu eu psicótico. As palavras de Ken não o aliviavam nem um pouco, sabia que seu eu não era de confiança e que faria algo contra Aya. Sabia também que não devia se torturar com aqueles pensamentos, mas era inevitável.

Tinha que torcer para que o chibi estivesse certo e que eles voltando para casa conseguissem mudar aquele futuro que até agora tinha se mostrado desastroso. Faria de tudo que fosse possível para arrumar o passado, não permitiria que sua relação com Aya acabasse daquela maneira.

Inúmeras vezes teve vontade de ir à floricultura e ver Aya, queria se despedir dele, assegurar que tudo ficaria bem e que as coisas voltariam ao normal. Mas de nada adiantava ficar pensando naquilo porque não podia arriscar ser visto pelos outros ou pior ainda pelo seu eu do futuro.

Resolveu deixar aqueles pensamentos de lado e ajudar o menino a carregar as coisas, quanto antes resolvessem tudo antes voltariam para casa e arrumariam o futuro.

Ken estava muito nervoso esperando o tempo passar, não queria levantar suspeitas em ninguém e precisava dar um jeito de sair sem que Kyou percebesse ou teria muitos problemas. Havia avisado Aya que naquela noite Yohji e Omi iriam embora, mas o ruivo não havia demonstrado muitas emoções, parecia o antigo líder de Weiss outra vez.

As horas passaram lentamente prolongando seu sofrimento, só pensava na última conversa que teve com Omi e na possibilidade de tê-lo para si outra vez caso tudo desse certo. Tinha que parar de divagar tanto ou Kyou ficaria muito desconfiado por seu comportamento aéreo.

"Não quer sair comigo hoje, Ken?", perguntou Kyou pegando Ken de surpresa. Tinha que partir para o ataque logo ou poderia perder Ken para Omi.

"Não sei nem porque você perde seu tempo, Kyou, não tenho o mínimo interesse em você", respondeu Ken mordaz. De todas as noites Kyou tinha que justamente convidá-lo para sair na noite em que Omi precisava dele?

"Acalme-se, é só um convite inocente, Ken. Quero mostrar para você que não sou tão mau assim", falou Kyou sorrindo. Tinha que conseguir convencer Ken a sair com ele porque sabia que Omi e Sena sairiam àquela noite e queria mostrar para ele que não adiantava ter esperanças em relação a Omi.

"Tenho outros planos", cortou Ken áspero. Aquela conversa não levaria a nada, não sairia com Kyou por nada desse mundo. "Agora se me dá licença tenho mais o que fazer".

Deixando um Kyou muito furioso para trás Ken foi verificar o estoque da loja. Não deixaria de ajudar Omi para sair com Kyou, não existia nenhuma chance daquilo acontecer.

"Estava pensando em dar um passeio, espero que você não se incomode", falou Aya quando viu Yohji arrumando-se para sair. Tinha que aproveitar um momento em que o playboy estivesse de bom humor.

Mesmo tendo aceitado as desculpas de Yohji, sabia que ainda demoraria muito tempo para tudo voltar ao normal. Não seria de uma hora para outra que conseguiria provar para Yohji que merecia confiança e que ele por sua vez voltasse a confiar no playboy. Muita coisa havia acontecido durante esses anos para serem esquecidas num piscar de olhos. Tinha que tomar muito cuidado ou tudo seria em vão. Não deixaria de ir se despedir de Yohji e Omi, mas não queria colocar em risco sua relação.

"Por que não vem comigo?", perguntou Yohji sem dar muita atenção ao ruivo procurando um casaco no armário.

"Você sabe que eu não gosto de lugares barulhentos. E além do mais ainda não estou muito bem, meu braço ainda me incomoda um pouco, acho melhor não abusar. Quero sair para relaxar um pouco", mentiu Aya tentando ficar calmo. Yohji não podia desconfiar que estava indo se despedir do Yohji do passado.

"Pode ir, espero que não volte tarde", disse Yohji em tom de advertência. Quando chegasse do clube esperava encontrar seu koi em casa.

"Não vou demorar, é uma coisa rápida", mentiu Aya outra vez. Não sabia quanto tempo demoraria, mas estava tranqüilo porque quando Yohji saía sempre chegava ao amanhecer.

"Então pode ir. Estou saindo daqui a pouco", avisou Yohji dando os últimos retoques no visual.

Apressado e com medo que Yohji mudasse de idéia Aya saiu do quarto quase correndo, não podia se arriscar com seu koi, sabia que ele era muito voluntarioso. Quase esbarrou em Kyou quando descia as escadas.

"Ei, aonde você vai sem Yohji?", perguntou Kyou recuperando-se do encontrão.

"Não é de sua conta", retrucou Aya sem dar atenção a Kyou. Não gostava do modo como Kyou vivia se intrometendo na vida de todos.

"Yohji sabe que você está saindo ou resolveu fugir dele?", insistiu Kyou. Primeiro Ken o recusava dizendo que tinha outro plano e agora o espadachim estava saindo, aquilo era muito suspeito.

"Por que você não cuida de sua vida?", perguntou Aya irritado. Sem esperar uma resposta foi para a garagem e saiu deixando Kyou para trás.

Algum tempo depois Kyou encontrou Ken saindo, desta vez preferiu não abordar o jogador para não provocar mais sua sorte. Tinha que evitar confrontar Ken ou nunca teria uma chance com ele. Mas ficou desconfiado quando viu que o jogador saiu na mesma direção que Aya, isso era uma coisa que o playboy tinha que ficar sabendo.

"O que você quer, Kyou?", perguntou Yohji quando saiu do quarto e encontrou Kyou parado na frente da porta. Havia ficado incomodado quando viu Ken saindo todo arrumado do quarto pouco tempo atrás, sabia que o jogador não tinha uma vida social muito intensa.

"Nada, por que iria querer algo?", desconversou Kyou. "Qual a grande ocasião?".

"Do que você está falando?", perguntou Yohji descendo as escadas dando pouca importância ao outro homem.

"Ken e Aya saíram juntos, pensei que fosse alguma ocasião especial", respondeu Kyou fingindo-se de desinteressado. Sabia que Yohji morderia a isca.

"Ken e Aya saíram juntos?", perguntou Yohji parando e virando-se para Kyou. Se aquilo fosse algum tipo de brincadeira Kyou se daria muito mal.

"Não tenho certeza, mas você também viu que Ken saiu pouco tempo depois de Aya e os dois foram na mesma direção", respondeu Kyou dando de ombros e se afastando. Com certeza aquilo serviria para irritar o playboy e tirar o espadachim do caminho de Ken durante muito tempo.

Fumegando de ódio Yohji atirou o cigarro no chão e foi para seu carro, Aya tinha muitas coisas para explicar aquela noite. Não podia ser uma simples coincidência ele e o jogador terem decidido sair na mesma noite. Conseguiria as respostas nem que tivesse que arrancá-las de Aya.

Chegaram no ponto de encontro, mas não havia ninguém. Alias não havia nada por perto, era uma pista clandestina afastada da cidade, aquele tipo de lugar no meio do nada. Omi olhou no relógio e constatou que Ken não estava atrasado, ele e Yohji é que haviam chegado um pouco antes da hora combinada.

"Não imaginava que Kritiker tivesse um lugar como esse", disse Omi analisando tudo em sua volta.

"É, mas parece que você vai ter que saber de tudo isso um dia. Afinal é você quem manda na organização agora", comentou Yohji desejando que Ken chegasse logo, queria colocar logo um fim naquilo tudo.

"Sim e isso me assusta muito", respondeu Omi ouvindo o barulho de uma moto se aproximando. "Deve ser ele".

O coração de Omi batia descompassado quando Ken desligou a moto. Apesar de saber que era sua única opção uma pequena parte de si queria ficar com o jogador naquele futuro imperfeito. Faria tudo que estivesse ao seu alcance para impedir que Ken sofresse outra vez.

Ao lado de Omi Yohji tentava esconder sua decepção, tinha alimentado muitas esperanças de que Aya viesse se despedir. Queria ver uma última vez seu koi antes de ir. Ainda não aceitava o fato de que o futuro deles havia se tornado aquele pesadelo por sua culpa. Porém agora não adiantava ficar ali se lamentando, tinha que se redimir arrumando o passado. Ou, como pensou com amargura, não estraga-lo com seu ciúme doentio.

"Vamos, Yohji-kun, Ken-kun chegou com as chaves do hangar. Estamos indo para casa finalmente", falou Omi tentando animar o homem mais velho.

"Certo, chibi, vamos para casa", concordou Yohji desanimado. Sorriu com tristeza quando Omi atirou-se nos braços de Ken, apesar de sempre tentar ser forte pelos outros Omi era muito carente.

Ficou preocupado quando escutou um carro se aproximando, nada o impediria de voltar para casa e mudar o passado. Afastou-se do casal discretamente, não queria preocupar o chibi. Livraria-se do intruso sem que os dois vissem.

Com cuidado esgueirou-se até a moto de Ken, preparou seu arame e encostado em uma árvore esperou que a pessoa se aproximasse. Após alguns minutos começou a duvidar de sua sanidade, não havia ninguém por ali, estava ficando paranóico como seu eu do futuro. Quando estava prestes a voltar ouviu um graveto se partindo. Todos seus músculos se contraíram devido à tensão, tinha que se livrar logo de quem os estava espionando.

No momento em que a pessoa passou pela árvore Yohji surpreendeu-a e segurou o arame contra a garganta do intruso. Não hesitaria em matar quem estivesse em seu caminho, principalmente porque seu futuro e de seus amigos dependia dele.

"Um movimento e corto sua garganta", avisou Yohji segurando a pessoa com força. A escuridão o impedia de ver quem era a pessoa que segurava. "Quem é você e o que faz aqui?".

"Vim me despedir de você", sussurrou Aya tenso. O arame estava encostando em seu pescoço, mal podia respirar sem se cortar.

"Aya!", exclamou Yohji recolhendo seu arame e abraçando o ruivo. Não conseguia acreditar que o espadachim estava em seus braços. Seus olhos se encherem de lagrimas quando o espadachim o beijou.

"Você não vai ter problemas por ter vindo aqui?", perguntou Yohji preocupado abraçando Aya com força. Não precisou mencionar quais seriam os problemas, porque ambos sabiam bem quais eram.

"Não, ele me deixou sair", confessou Aya envergonhado. Sentia-se desconfortável falando sobre aquele assunto com o loiro. "Mas mesmo que ele não tivesse deixado eu viria. Não poderia deixá-lo ir sem me despedir. Você tornou tudo mais suportável, você fez tudo valer a pena novamente".

"Aya...", murmurou Yohji emocionado. Outra vez seus olhos ficaram marejados de lágrimas. Não esperava uma declaração daquelas, muito menos porque ele era o culpado por tanto sofrimento. "Aya, eu sinto...".

Aya o beijou para silenciar seus protestos, com aquele gesto simples queria demonstrar que não o culpava por nada que havia acontecido. Sabia que tinham pouco tempo juntos, por isso não queria desperdiçar esse momento precioso com palavras. Yohji deixou as desculpas de lado e correspondeu ao beijo com sofreguidão. Por alguns minutos queria esquecer toda aquela loucura e entregar-se aquele beijo.

"Yohji-kun, onde você está? Temos que ir", chamou Omi com urgência. Temia que o playboy tivesse ido atrás de Aya na floricultura.

"Já estou indo", avisou Yohji separando-se de Aya relutante.

"Aya-kun!", exclamou Omi surpreso quando viu Yohji e Aya se aproximando de mãos dadas. Não espera mais ver o espadachim, achava que ele não viesse se despedir deles.

"Pensei que não viria", falou Ken sorrindo ao ver o playboy mais animado.

"Vim pelo caminho mais longo e tive que deixar o carro no fim da estrada", explicou Aya embaraçado por ter sido flagrado pelos dois.

"Porshes não são carros feitos para trilhas como esta", comentou Ken tentando imaginar onde Aya tinha deixado seu carro. "Seria mais fácil se você tivesse vindo comigo de moto".

"E mais perigoso", complementou Aya lembrando-se da implicância que Yohji tinha com o jogador. Não podia colocar em risco a relativa paz que havia conseguido com seu koi.

"Vamos, temos que ir logo, não temos tempo a perder", disse Omi mudando de assunto. Não queria que Yohji ficasse preocupado por deixar Aya com seu eu psicótico, não naquele momento.

"Não sei para que você precisa de mim", resmungou Yohji contrariado. Desejava aproveitar o tempo que restava com Aya sem ter que se preocupar com mais nada.

"Yohji-kun, preciso de toda ajuda possível para sairmos o mais rápido possível daqui", repreendeu-o Omi tentando esconder um sorriso ao ver o playboy se comportando normalmente outra vez. Sabia porque Yohji não queria ajudar, pois ele também queria ficar com Ken, mas tinham coisas mais importantes para fazer como voltar para casa e arrumar aquela bagunça.

Mesmo contra sua vontade seguiu Omi e Ken até o hangar sem soltar a mão de Aya.

Em menos de meia hora o avião estava pronto para decolar. Havia sido mais fácil do que Omi imaginava. Caso tudo continuasse a favor deles logo estariam em casa a tempo de evitarem que aquele futuro se tornasse realidade. Agora vinha a parte mais difícil de tudo, se despedir de Ken.

Omi virou-se para seu koi e sem conseguir suportar a dor que sentia em seu peito baixou os olhos. Uma mão acariciou seu rosto com gentileza, um toque suave ao qual Omi já conhecia, o mesmo toque que o fizera se derreter por tantas vezes.

"Ei, que carinha triste é essa, Omi", disse o jogador cheio de ternura. Por mais que Omi tentasse disfarçar Ken sempre sabia o que se passava com o seu pequeno amante. "Eu gosto bem mais quando você está sorrindo".

"Todos gostam mais quando eu sorrio...", balbuciou Omi meio amargo, estava difícil de lidar com toda aquela situação.

"Omi, você sabe que comigo é diferente, não sabe?", dizendo isso Ken beijou Omi com vontade, com toda paixão que merecia um beijo de despedida. Porém Ken não queria acreditar que aquele seria o ultimo beijo entre os dois. Ele confiava no loirinho para mudar tudo aquilo, ele acreditava cegamente nisso, precisava disso para continuar vivendo.

Quando os lábios se afastaram Omi agarrou-se a Ken e o abraçou cheio de urgência. Como se não se separar fosse o seu único desejo naquele instante e realmente era.

"Ken... eu... eu quero que saiba que nunca vou desistir de você, não importa o que aconteça eu não vou desistir de você", enfatizou Omi. "Eu nunca mais vou permitir que afastem você de mim. Eu perdi tudo em minha vida, mas não vou perder você, isso eu não vou".

"Omi... Eu te amo".

"Odeio deixar você aqui, com aquele psicótico", falou Yohji puxando Aya de encontro ao seu tórax e beijando-o na testa. "Tenho medo do que ele possa fazer com você".

"Não se preocupe, as coisas melhoraram entre nós", contou Aya. Após tantas promessas vazias de seu koi, queria acreditar que daquela vez ele estivesse falando sério, mas não podia expor suas preocupações para o playboy.

"Desta vez farei tudo certo, pode ter certeza", prometeu Yohji desta vez deixando que as lágrimas que havia segurado antes rolassem pela sua face bronzeada. "Não cometerei o mesmo erro duas vezes, eu prometo".

"Yohji, não precisa prometer nada, eu acredito em você", murmurou Aya enxugando as lágrimas do loiro. "Foi tudo culpa do Schuldig, não fique se culpando".

"Não, Aya. Ponha de uma vez em sua cabeça, foi tudo minha culpa. Eu preferi acreditar nas mentiras do alemão do que em você que sempre esteve ao meu lado. Mas eu juro que isso nunca mais acontecerá, aquele alemão maldito nunca ficará entre nós novamente", falou Yohji com firmeza. Queria que Aya ficasse com a certeza de que as coisas seriam diferentes, que ele mudaria o passado para que o futuro deles fosse diferente.

Sem palavras Aya se limitou a beijar o playboy. Sabia que Yohji não conseguia abandonar a culpa que sentia por tudo que havia acontecido, mas não o culpava. Há muito tempo havia se conformado com sua vida e não queria agora achar quem responsabilizar pelo que havia acontecido.

"Ficarei bem, Yohji", disse Aya quando se separaram. Odiava ver o loiro tão angustiado, mas suas palavras não eram suficiente para tranqüilizá-lo.

"Adeus, Aya. Não se esqueça de minha promessa", falou Yohji antes de entrar no avião. "Tchau, Ken, cuide bem de Aya por mim".

"Você sabe que pode confiar em mim. Só espero que desta vez você confie em Aya", comentou Ken se despedindo do loiro. O futuro de todos estava nas mãos do playboy, esperava que desta vez ele fizesse tudo certo. "Adeus, Yotan".

Com tristeza Ken observava a porta do avião se fechar. Com as costas da mão enxugou algumas lágrimas, lágrimas que havia relutado em derramar na presença de Omi, o menino precisava de toda sua força. Um toque suave em seu ombro despertou-o de seus pensamentos.

"Temos que ir, Ken", chamou Aya tentando dominar seus sentimentos. Yohji não podia desconfiar do que havia feito e com quem havia estado aquela noite.

"Eu te dou uma carona até seu carro", ofereceu Ken enquanto caminhavam até sua moto.

"Obrigado, Ken, mas acho melhor você ir antes. Não podemos correr o risco de que...", começou Aya, mas foi interrompido.

"Eu desconfie, Aya?", perguntou Yohji de braços cruzados encostado em uma árvore ao lado da moto.

"Yohji!", exclamou Aya amedrontado. A última pessoa que esperava e deseja ver naquele instante era ele.

Dentro do avião Yohji não parava quieto um único minuto, parecia muito angustiado. Toda aquela agitação foi percebida facilmente por Omi que não hesitou em perguntar o que havia de errado com o homem mais velho. Yohji tentou disfarçar diversas vezes, mas sabia que nada escapava aos olhos sensíveis do loirinho.

"Omi, tem certeza que essa é a rota correta? Parece que está demorando tanto", perguntou Yohji impaciente.

"Tenho sim, refiz esses cálculos um milhão de vezes", respondeu o menino muito seguro. "Fique calmo que vai dar certo... logo estaremos em casa".

Em resposta Omi só ouviu um longo suspiro vindo por parte do loiro, o que o deixou um pouco preocupado.

"Yohji-kun.... tem certeza de que está bem? Você está desse jeito por causa de Aya-kun, não é?", arriscou o loirinho na esperança que isso ajudasse Yohji a desabafar mais facilmente.

"Sim, eu estou preocupado com ele. Estou com um mau pressentimento".

"Mas por que? Você mesmo não viu quando partimos que ele estava bem", lembrou Omi na tentativa de acalmar o amigo.

"Eu vi mas..... aqui dentro...", respondeu o loiro apontando para o próprio peito. "Aqui dentro eu sinto que alguma coisa está errada".

O olhar entristecido do loirinho recaiu sobre Yohji, o menino sabia que qualquer coisa que dissesse em nada aliviaria o que playboy estava sentindo naquele momento, na verdade Omi até entendia, pois também possuía dentro de si as mesmas preocupações e incertezas, não gostava da idéia de deixar sua situação com Ken tão mal resolvida como havia deixado, mas o que devia fazer agora era concentrar-se no que teria de enfrentar de agora em diante.

"E agora, Aya, é apenas coisa da minha cabeça?", perguntou Yohji com desdém. Não o fariam de idiota por mais nem um minuto, já haviam brincado com ele por muito tempo.

"Yohji, não é nada do que você está pensando. Aya e eu...", tentou justificar-se Ken quando Yohji aproximou-se dele.

"Não tem nada? Eu sei disso, Ken", falou Yohji parando na frente do jogador que o olhava assustado.

"Sabe?!", perguntou Ken confuso. Yohji não estava fazendo muito sentido para ele.

Sem dizer mais nenhuma palavra Yohji acertou um soco no rosto do moreno derrubando-o. Deixando o jogador aturdido, caído no chão irregular, Yohji agarrou o braço de Aya e o levou.

"Nem uma palavra, Aya, não teste minha paciência", avisou Yohji levando Aya para o carro.

A caminhada até o carro de Yohji foi tensa, o loiro teve que se controlar para não matar o ruivo ali mesmo com suas mãos nuas. Abriu a porta do carro e empurrou Aya com violência no banco do passageiro, depois deu a volta no carro e entrou batendo a porta com força.

"Droga, Aya, eu quase acreditei em você. Pensei que estava errado durante todo esse tempo, que você nunca havia me traído", gritou Yohji ligando o carro e saindo em disparada pela estrada de pedras. Seu sangue ainda fervia ao se lembrar do homem abraçando seu koi.

"Yohji, por fav...", Aya ainda tentou explicar-se, mas Yohji não permitiu.

"Cale a boca, Aya", rosnou Yohji furioso. "Não quero ouvir nenhuma palavra sua até chegarmos em casa".

Assustado com a explosão do playboy Aya encolheu-se em seu canto, encostando-se contra a porta em silencio. O loiro acelerava o carro cada vez mais, o carro derrapava em cada curva deslizando pela estrada.

"Por que, Aya? Não sou bom o bastante para você? Não me ama mais?", Yohji fazia perguntas para as quais não queria respostas. "E quem era ele, Aya? Com quem você está me traindo desta vez?".

Segurava o volante com força, até os nós de seus dedos ficarem brancos. Estavam muito além da velocidade recomendada para uma estrada como aquela, o carro não tinha nenhuma estabilidade, os pneus mal tocavam o chão.

"Ele é melhor do que eu? Como pode fazer isso comigo, Aya? Eu te amo", falou Yohji virando-se para Aya. Todas aquelas dúvidas martelavam em sua cabeça desde o momento em que o homem havia abraçado seu koi.

Havia ficado desconfiado quando Kyou falou que Ken havia saído apenas alguns minutos depois de Aya da floricultura. Por mais que tentasse não conseguia confiar plenamente em Aya, levaria algum tempo para acreditar no ruivo outra vez. Por curiosidade seguiu Ken até a pista clandestina que Kritiker mantinha ali, quando viu apenas o jogador e dois desconhecidos ficou aliviado e um pouco culpado, por continuar desconfiando de Aya sem motivo.

No momento em que pensava em sair sem ser visto escutou um carro se aproximando, com medo de ser descoberto ficou escondido. Ficou furioso quando viu Aya chegando, quase estragou sua tocaia quando seu ciúme aflorou, mas conseguiu se controlar a tempo e ficou espreitando os quatro homens.

Teve que dominar toda sua fúria quando Aya beijou o desconhecido com tanta paixão. Em alguns momentos chegou a pensar que Aya e Ken estavam planejando fugir, mas como viu que não era esse o caso ficou aguardando o momento certo de confrontar Aya. Sabia que não seria páreo para os quatro homens sozinhos, teria que esperar uma boa oportunidade que chegou quando o avião partiu.

Durante muito tempo havia pensando que Aya e Ken tinham um caso, mas no fim Ken estava acobertando as escapadas do ruivo. Como havia sido idiota, Aya nunca perderia seu tempo com o jogador, ele não fazia seu tipo. O que o fazia voltar a sua dúvida, quem era aquele homem? Não havia conseguido dar uma boa olhada nele, estava muito longe. Só viu que era loiro e mais alto que Aya. Mas aquilo não importava Aya nunca mais veria aquele homem, se certificaria disso.

Irritado Yohji pisou mais uma vez no acelerador, queria chegar logo em casa e dar uma lição que o ruivo nunca mais esqueceria. Um sorriso maldoso iluminou seu rosto enquanto pensava em um castigo para Aya, tinha que mostrar que o espadachim lhe pertencia e a mais ninguém.

"Yohji, cuidado!", avisou Aya quando o carro derrapou em uma curva e foi em direção a um despenhadeiro.

Continua...

Por Suryia Tsukiyono e Bad Kitty / Julho de 2003

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