Capítulo 2 – O Dia Seguinte

Quando Draco abriu os olhos Nicolle já estava acordada. Ela tinha o olhar perdido nele e deslizou as unhas suavemente por seu peito descoberto. Ele deteve a mão dela e a beijou.

- Isso faz cócegas - disse de forma maliciosa e ela sorriu.

- Não fazia cócegas ontem à noite - Nicolle justificou; ele continuou beijando-lhe a mão, delicadamente se encaminhando até o braço.

- Ontem à noite você poderia me marcar com ferro em brasa que eu não sentiria nada além de você – ela sorriu, satisfeita.

- Você está com fome? - ele se virou para ela.

- Estou. Muita. Vem cá - disse, puxando-a para cima de si mas se desvencilhou dele.

- Não estou falando deste tipo de fome, Draco - respondeu, rindo.

- Ah! O outro tipo? Também estou...

Ela vestiu a camisa de Draco e esperou que ele colocasse as calças, então os dois se esgueiraram pelo corredor. Nicolle abriu a geladeira e pareceu pouco à vontade na própria cozinha. Draco achou graça nas inúmeras tentativas que ela fez até encontrar o pó de café.

- Eu poderia tomar leite mas já que você teve tanto trabalho eu terei prazer em experimentar um café feito por você - implicou.

- Você diz isso porque não sabe há quantos anos eu não cozinho. Por que você acha que eu tenho três funcionários? - ele deu de ombros. - Eu odeio cozinhar e fazer coisas do gênero. Odiava quando mamãe me obrigava a lavar a louça.

Draco lembrou que nunca havia lavado um talher sequer na vida. Sentiu-se um tanto quanto envergonhado.

- Então já que você vai fazer algo que não está acostumada eu lavo a louça depois - Nicolle sorriu.

- Isso é hipotético? - imitou a frase dele na noite anterior; Draco levantou uma sobrancelha.

- Não me provoque - caminhou até ela e começou a fazer cócegas em sua barriga.

Nicolle deixou cair o pote de pó de café e Draco começou a abrir lentamente os botões da camisa, beijando cada centímetro da pele descoberta dela. Os dois não perceberam mas Paolo já havia entrado na cozinha.

- Hum-hum - o mordomo italiano pigarreou.

Nicolle ficou roxa de vergonha e Draco a colocou para trás de si. Ele estava tão descomposto quanto ela; exceto pela calça, que tinha a braguilha aberta, não usava mais nada.

- Como é que você chega assim? - disse sem pensar.

Nicolle escondeu o rosto nos ombros dele.

- Ele sempre chega essa hora, Draco - a voz dela soou abafada.

Paolo continuou plantado no meio da cozinha.

- Você está esperando o que para dar o fora daqui? - Draco disse, irritado, vendo que o mordomo parecia estar mais interessado nele do que na patroa.

O outro fez uma reverência e se retirou, dando uma última olhada para os dois. Nicolle tremia.

- Meu Deus! Espero que ele não conte isso para o irmão dele que trabalha com os meus pais. Seria horrível eu ter que dar explicações da minha vida amorosa a essa altura - Draco se virou para ela, surpreso.

- Vida amorosa? Hum... Isso torna as coisas um pouco mais sérias. Gostei disso. Eu só não gostei do jeito que aquele meio quilo de coisa alguma olhou para mim - Nicolle riu.

- Eu não posso culpá-lo por ter bom gosto, posso? - ela respondeu, passando a mão pelo peito dele.

- Você acha que o borboletinha aí tem bom gosto? Me fale mais sobre isso... - ela corou.

- Você não quer comer? - perguntou, olhando-o.

- Eu vou começar pela sobremesa... - respondeu, segurando-a no colo e encaminhando-se para o quarto dela.

Uma hora depois Paolo levou uma enorme bandeja de café da manhã para os dois. Draco estava no banho e Nicolle recebeu o empregado, que deu uma olhada de esguelha para a porta do banheiro, encostada, e saiu com uma expressão repressora no rosto. As duas colegas já tinham chegado e ele estava só esperando a oportunidade para contar para elas a "novidade".

Chegou na área de serviço ansioso para contar. Assim que chegou perto delas e abriu a boca, Marie o interrompeu.

- E aí, Paolo? Como é o senhor Malfoy? É bonito? - ele ficou passado em saber que as duas já sabiam que Draco estava na casa.

- É. Finalmente madame arranjou um bom partido. Não é muito educado mas... – as duas deram gargalhadas e foram se trocar.

Draco e Nicolle tomaram o café da manhã enquanto conversavam animadamente. Ele estava se sentindo muito bem ao lado dela mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria que contar que era um bruxo. Seu único medo era de que a reação dela não fosse das melhores e acabassem perdendo contato. Nunca havia tido amigos trouxas e agora estava simplesmente se apaixonando por uma. Imaginava o que seu pai falaria disso. Provavelmente seria deserdado.

Gina abriu os olhos e deu um pulo da cama, sobressaltando Harry. Novamente os dois tinham dormido mais do que deviam, aconchegados um no outro.

- O que foi? – ele perguntou, esfregando os olhos.

- Estou atrasada. Tenho a prova do vestido, o médico... Ah! Deus! Isso sem falar nos convites... – ela bateu nervosamente a mão na testa.

Harry bocejou em meio a uma risada.

- Vem, cá, vem, minha nervosinha – disse, puxando-a para trás, fazendo com que ela deitasse na cama de novo.

- Harry, já são oito horas... – choramingou. Ele fingiu não ouvir, colocando-se sobre ela e beijando-lhe o pescoço.

- Shhhhh! – disse, subindo os beijos para seu rosto, Gina acabou sorrindo. – Vamos começar o dia de novo... – beijou-lhe os lábios docemente. – Bom dia.

- Bom dia meu amor... – ela disse com antecipação na voz. – Está melhor assim?

- Bem melhor. Só por se comportar assim deixe que eu mando os convites... – ela deu uma travesseirada nele, que riu. – É sério, Gi. Eu não quero que se atrase para o médico. Mione vai mesmo com você?

- Vai sim – respondeu, abrindo o armário para escolher uma roupa. – Ela vai me encontrar em Hogsmeade, na loja de vestidos – Harry sacudiu a cabeça, satisfeito.

- Você toma café comigo?

- Ah, meu amor, estou tão atrasada... – ele fez uma careta.

- Eu vou ser rápido. Prometo. E você precisa se alimentar. Está comendo por dois agora... – achou por bem acrescentar enquanto ela escovava os dentes.

- Eu estou enjoada ainda. Só melhora depois do almoço – disse, a boca cheia de espuma, cuspindo em seguida. – De que adianta tomar café se vou despejá-lo fora logo em seguida? – ele riu.

- É apenas uma torrada com leite... Vem, eu faço para vocês... – incluiu, dando um beijo em sua barriga. – Você não vai fazer a mamãe vomitar o café da manhã do papai, vai, pequeno? – cochichou na altura do umbigo dela, que sorriu e alisou os cabelos dele.

- Com um "papai" assim é fácil. Vamos, você foi convincente o suficiente. "Nós" vamos lá embaixo provar o seu banquete matinal, Harry.

De fato o café da manhã foi simples e não causou náuseas em Gina. Depois subiram para acabar de se arrumar e se despediram.

- Eu ainda me sinto mal em não poder acompanhar você ao médico, Gi... – ela sorriu.

- Eu sei, meu amor, mas eu vou com Hermione. Você e Rony não podem largar o trabalho no meio do expediente... – ele apertou os olhos, estava tendo uma idéia.

- Bem, na teoria não. Mas eu vou tentar. Vou pedir uma folga pra diretora McGonagall. Afinal, eu ainda não comecei efetivamente a dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Vou pedir para ela me liberar no meio do expediente. Quero fazer isso junto com você. Afinal, metade do nosso bebê fui eu quem fiz...

- Está bem "papai". Ninguém pode vencê-lo argumentando mesmo – ele riu, satisfeito. – A consulta é às três. São quase dez agora. Vou ter que correr. A prova do vestido é às onze. Vou almoçar com Mione e depois vamos direto para o médico. É no centro de Londres. Aqui, vou anotar o endereço para você – ela rabiscou rapidamente em um pedaço de pergaminho e o colocou no bolso de Harry. - Tenho que ir agora querido. Eu te amo muito – disse, beijando-o, e desaparatou.

Encontrou Hermione no Três Vassouras. A barriga da amiga estava começando a despontar e agora que tinha passado do primeiro trimestre de gravidez estava com um apetite exagerado.

- Gina, eu estava começando a me preocupar – disse, a boca cheia de bolo de caldeirão.

- Eu estava enjoada e Harry me fez tomar o café da manhã – a cunhada riu.

- Como você mesma vê – apontou para a farta mesa –, não sinto falta dessa parte. Rony me enfiava comida goela abaixo e eu vomitava tudo imediatamente. Mamãe dizia que era mais fácil que ele jogasse a comida direto na privada, pouparia tempo – as duas riram.

- Vamos?

- Vamos sim Gina. Madame Louise está esperando por nós provavelmente. Ela ficou muito animada de a futura senhora Potter ter escolhido sua loja para fazer o vestido de noiva.

Cruzaram o vilarejo sendo cumprimentadas por algumas pessoas que conheciam a "professora" Weasley. Chegaram na porta da "Ocasião Mágica", a loja de roupas e acessórios finos e elegantes para casamentos e eventos especiais. Possuíam modelos próprios para formaturas até casamentos e faziam vestidos de noiva sob encomenda.

- Bom dia professora Weasley. Oh! A futura senhora Potter está adorável – Mione e Gina abafaram uma risadinha. A simpática dona da loja tinha diversas almofadas de alfinetes presas na roupa e parecia estar fantasiada de cacto. - Então vamos experimentar o vestido para o grande dia? – Gina sorriu enquanto Madame Louise a conduzia até o fundo da loja.

Ela colocou o vestido, que era simples, manga comprida, o casamento seria no inverno, mas com um belo decote em canoa. A saia não era muito rodada nem o vestido era justo. Não sabia o quanto a barriga poderia crescer e não queria ter que fazer ajustes de última hora. Gina se considerava péssima para resolver qualquer coisa sob pressão. Depois de ser devidamente preparada pela dona da loja - e de ter vários alfinetes presos na saia - saiu de trás do biombo e Mione pôde vê-la.

- Oh, minha nossa! Você está linda!

Gina corou. Sorrindo, encaminhou-se até o espelho. Observou maravilhada cada detalhe do vestido de noiva. Os olhos percorreram a extensão do espelho, que cobria toda a parede do fundo da loja. Então viu algo que a deixou de boca aberta. Mione viu pelo espelho a expressão da amiga e olhou para trás. Harry estava de pé atrás delas, tinha os olhos verdes fixos em Gina.

- Sra. Potter – foi o máximo que ele pôde dizer.

Gina puxou um pedaço de tecido e se cobriu. Continuou virada para frente, olhando para ele pelo espelho.

- Harry, por que você veio até aqui? – Mione perguntou, incrédula. – O noivo só vê a noiva pronta no dia do casamento... – ele manteve o olhar fixo em Gina, que ainda mantinha o tecido seguro entre as mãos.

Caminhou até ela, olhando nos olhos castanhos assustados da noiva. Chegou bem perto.

- Eu vim para trazer isso para você. A diretora me liberou mais cedo. Eu resolvi caminhar pelas ruas de Hogsmeade para fazer hora até o nosso encontro e acabei encontrando isso em uma vitrine – ele retirou de uma caixinha uma coroa cravejada de brilhantes. – Toda noiva é uma princesa mas a minha é uma rainha. Eu não resisti e trouxe para você – Gina arregalou os olhos enquanto Harry colocava a coroa em sua cabeça. - Eu te amo – ele sussurrou. – Você está tão linda. Parece uma miragem. Uma visão... – ela riu.

- Dá azar o noivo ver a noiva antes da hora, você devia saber – disse, olhando-o ainda através do espelho.

- Nada pode azarar o nosso casamento, Gina Weasley. Muito menos o nosso amor... – ela deixou o tecido escorregar das mãos e virou-se para ele, encontrando-o em um beijo apaixonado.

Hermione e a dona da loja sorriram. Era impressionante como os dois eram perfeitos um para o outro.