Depois de algum tempo Nicolle descansava apoiada no peito de Draco. Tinha a expressão feliz e satisfeita mas algo parecia o estar incomodando.
- O que foi Draco? - perguntou, subindo e descendo ao sabor da respiração dele.
- Eu quero te contar sobre o meu casamento. Acho justo que você saiba tudo, já que eu sei tudo agora... - ele parou. - A menos que haja mais para contar - ela riu.
- Não, não há - ela se voltou para ele. - Mas eu gostaria de escutar... - ele respirou fundo.
- A primeira coisa que você deve saber é que eu tive que enfrentar a minha família para me casar com Virgínia, e a dela, diga-se de passagem... - Nicolle se ajeitou e os dois se sentaram; ela estava agora aninhada em seus braços.
- Então o amor de vocês era proibido? Isso é romântico... - ele deu uma risada.
- Acredite, Nikki, não há nada de romântico, de amor ou de nada disso nessa história... Bem, talvez a parte do proibido seja verdade... - ele parou. - Mas eu nunca me importei com isso... Virgínia era ex-namorada de um rapaz que eu simplesmente odiava. Um idiota presunçoso que se acha o máximo só porque tem uma cicatriz no meio da testa. Grande coisa... Bem, eu no início devo confessar que fiz força para conquistá-la... Era divertido imaginar o que ele acharia ao ver sua garota comigo. Mas eu gostava da maldita e isso foi a minha perdição. Eu comecei a realmente gostar dela durante o processo. E acabei me casando com ela, contra tudo e contra todos.
- E ela amava você? - ele riu.
- Eu gostava de pensar que sim. Mas hoje eu sei que não. E eu desisti de muito por ela. De tudo. Nós vivemos também por dois anos juntos, como trouxas, uma exigência dela é claro. Fomos para a Alemanha. No dia em que te conheci estava voltando definitivamente para cá. Vendi o apartamento e o casamento foi anulado... - ele passou a mão pelos cabelos. - Parece que faz tanto tempo ou que nem aconteceu de verdade. Isso tudo parece um daqueles pesadelos que você tem e não sabe ao certo se realmente aconteceu... - Nicolle sacudiu a cabeça.
- Mas o seu casamento foi anulado? - ela ficou curiosa.
- Foi. Segundo o Ministério da Magia um casamento bruxo só é válido se o casal viver como bruxos, senão é uma grande farsa, não importa se eu fiquei dois anos debaixo do mesmo teto que ela - Nicolle compreendeu mas tinha uma dúvida importante.
- E se vocês se casarem com não bruxos, trouxas, não é? O que acontece? - ele riu.
- Aí é diferente. Nós não temos a mesma cerimônia mas não me pergunte como é, pois nunca aconteceu isso na minha família... - ela abaixou a cabeça tristemente; ele percebeu o que tinha dito. - Me desculpe, não foi o que eu quis dizer... - ela deu de ombros, tristemente. - Que grande idiota eu sou. Uma coisa que você não sabe é que a minha família é uma das mais tradicionais famílias bruxas e eles são intolerantes. Eu já fui marginalizado por ter vivido como trouxa e, sabe do que mais, eu quero que todos eles se explodam. Meu pai não fala comigo desde que descobriu que eu estava namorando a Virgínia e isso não me afeta mais. Eu só fiz um comentário idiota, não deixe isso te afetar. Eu tenho uma tendência natural de estragar tudo e isso que nós temos é algo que eu não me perdoaria se conseguisse estragar - ela sacudiu a cabeça.
- Tudo bem Draco. Eu entendo. Eu tenho os meus problemas. Todos têm... Continue....
- A Virgínia também perdeu o apoio da família e por dois anos éramos só nós dois. Dois bruxos fingindo-se trouxas, duas pessoas fingindo se amar, dois idiotas completos... - ele riu. - Aí então um belo dia a cretina resolveu se tocar disso. Ela esperou que eu viajasse e fugiu. Com o miserável - ele respirou fundo -, o estúpido ex-namoradinho - Nicolle ficou boquiaberta.
- Como ela pôde fazer isso com você? Não que eu reclame... - ele riu. - Mas que mulher vulgar e baixa - completou, sacudindo a cabeça.
- Nikki, eu realmente nunca compreendi a Virgínia. Eu apenas perdi tempo demais com ela - avaliou friamente. - E também tive minha parcela de culpa e saiba que você é a única pessoa que vai me ouvir dizendo isso. Eu me aproximei dela pelos motivos errados. Eu queria fazer com que ela se apaixonasse por mim. Queria tirá-la do Potter, desvirtuá-la por completo... Mas eu não contava com as minhas fraquezas. Entenda bem, Nikki. Eu realmente não a amava no início mas infelizmente existem coisas que a gente não controla... - ele riu, sem jeito.
- Vocês tinham química, não é? - Nicolle perguntou, sorrindo.
- Nem me fale... - Draco sacudiu a cabeça. - Mas isso não pode segurar um casamento Nikki. Ajuda, é claro, distrai e ocupa o tempo, muito, mas não segura um casamento. Muito menos um casamento em que o amor é unilateral, porque o motivo de ela ter se aproximado de mim foi o mesmo. Ela também queria se vingar do ex-namorado mas não odiava o maldito, essa foi a grande diferença. Ela ainda amava o Potter e fugiu com ele, é só o que posso dizer - Nicolle sacudia a cabeça, atenta.
- E você nunca mais os viu? - ela perguntou curiosa.
- Na verdade essa é a parte cômica da história, ou trágica, como preferir... Eu os encontrei ontem à noite. Saí daqui nervoso e fui a um bar bruxo, como eu ainda não tinha tido azar o suficiente para uma noite fui parar na festa de despedida de solteiros do casalzinho ilustre. Eu não sabia, é claro, mas também não pude deixar de me divertir e descontar um pouco da minha frustração - Nicolle riu.
- Pelo menos agora você vai poder descontar a sua frustração de forma menos agressiva – foi a vez de ele rir.
- E muito mais agradável do que quase trocar tapas com o Potter e os seis irmãos estúpidos da Virgínia... - ele deu uma gargalhada. - Se bem que foi muito compensador vê-los saindo do sério... - suspirou. - Mas chega de falar de mim e de você. Vamos falar de nós - ela franziu a testa.
- Nós? Nós, Draco? Como assim? - ele riu novamente.
- Nós: eu e você... Isso esclarece algo? - implicou.
- Essa parte eu entendi, senhor "eu ainda sei o significado das palavras"... - ela provocou, lembrando-o do que ele havia dito mais cedo e cruzando os braços.
- O que eu quero saber é quando você vai se mudar lá para a minha casa, ou você pensa que eu vou querer ficar aqui aturando o seu mordomo fingir que é uma libélula? - ela poderia dar uma gargalhada se não estivesse completamente em choque. - Por que você está com essa cara? Você acha que eu deixaria você me escapar? - ele sorriu.
- Não. Mas eu pensei que... - ele a cortou com um beijo e disse, com os lábios colados aos dela.
- Nikki, faça um favor a nós dois e pare de pensar demais...
Nicolle ainda estava tonta quando perguntou.
- Draco, como nós vamos fazer? - ele franziu a testa.
- Fazer o quê, Nikki?
- Você sabe... Morar... Trouxa... Bruxo... - ela apontou para si e depois para ele, Draco ergueu uma sobrancelha.
- Você não conhece ainda a minha casa...
- Você nunca me convidou...
- Estou convidando agora... Vamos fazer um trato? - ela se surpreendeu mas sorriu.
- Que trato, Draco?
- Confia em mim?
- É claro que sim... - respondeu cruzando os braços.
- Bem, você pode passar um fim de semana lá em casa, aí decidimos se você prefere a vida de trouxa ou de bruxo - ela abriu um sorriso.
- Combinado então – Nicolle apertou sua mão.
Agora ele teria que convencê-la que morar em uma casa sem eletrodomésticos e televisão era confortável.
De manhã a correria foi intensa n'A Toca. Os rapazes confundiram as vestes de gala e agora estavam tendo problemas em descobrir qual era a de cada um. Molly se arrumou depressa e conseguiu pôr ordem na bagunça. Queria ir até o apartamento de Harry, onde a filha estava se arrumando com a ajuda de Hermione e madame Louise. Harry estava se vestindo na casa de Rony e Arthur e os outros garotos iriam direto para o Salão Cerimonial. Assim que todos os filhos e o marido aparataram Molly fez o mesmo.
Assim que chegou na casa de Harry teve a maior surpresa da sua vida: Gina já estava pronta. O vestido de mangas compridas e o curto véu com a coroa cravejada, compunham-na de tal forma que sentiu as lágrimas brotarem nos olhos.
- Ah mamãe. Não vá chorar agora. Eu usei maquiagem trouxa. Não posso borrar os meus olhos... – Mione riu.
- Mas eu lancei um feitiço impermeabilizante, Gina. Esteja à vontade para se emocionar – as três riram.
- Você está linda, minha garotinha... – Gina deu uma voltinha.
- Uma garotinha com um bebê dentro? –colocou as duas mãos na barriga e riu.
- Ainda assim... Você vai sem sempre a minha garotinha, Virgínia Weasley... – fungou e abraçou a filha.
Mione sorriu. Ela se virou e levou um susto. Rony havia aparatado e quase bateu o nariz no dela. Antes que a esposa dissesse qualquer coisa ele a puxou discretamente para o corredor, tapando-lhe a boca.
- Mas que diabos...
- Harry sumiu, Mione... – ela parou a frase no meio e ficou pálida.
- Como assim sumiu? – Rony bufou.
- Sumiu. Su-miu. S, U, M, I, U. Entendeu? – Mione ficou aborrecida.
- Quando? Como?
- Eu não sei. Eu só sei que ele se vestiu. A veste de gala dele não estava mais em cima da cama. Eu fui tomar um banho e me vesti. Quando fui ver como ele estava indo tinha desaparecido. Será que ele fugiu? – Hermione sacudiu a cabeça.
- É claro que não, Ron. Ele que casar com a Gina mais do que tudo na vida. Ele não fugiria assim... – ela franziu a testa.
- Mione – Gina gritou de dentro do quarto.
- Já vou Gi – respondeu sem deixar transparecer o medo na voz.
- E o que a gente faz?
- Hum. Você não falou isso para ninguém, falou?
- Não, você está doida? Eu quero viver. Já pensou, a minha irmã grávida, com os hormônios em fúria, me mataria por não ter amarrado o noivo dela lá em casa... – Mione continuou séria. – Eu pensei que se você contasse ela não teria coragem de matar uma mulher grávida...
- Ron! Francamente, o assunto é sério...
- Eu sei, a minha integridade física também. E você não quer ficar viúva, não é? – ela ignorou o comentário.
- Nós temos que cuidar para que Gina não fique viúva porque eu acho que se ela descobrir que o Harry sumiu vai matá-lo... – Rony engoliu em seco.
- Mione, e se ele estiver... Bem, você sabe... Morto? Ele tem muitos inimigos e o casamento foi anunciado no jornal...
- Eu não acredito que alguém faria alguma coisa com ele... A não ser que... Ron, você sabe onde era a casa que o Harry nasceu?
- O que isso tem a ver, Mione? – ela deu um muxoxo.
- Você sabe?
- Não. O Sirius sabe...
- O Sirius sabe o quê? – Gina perguntou abrindo a porta. Molly estava secando as lágrimas ainda.
- Nada – Rony disse nada convincente. Mione confirmou com o mais amarelos dos sorrisos.
- O que está havendo aqui? O que vocês dois não querem me contar? – colocou as mãos na cintura.
Mione abriu e fechou a boca algumas vezes mas não conseguiu pronunciar nenhum som. Molly olhou para a cara vermelha e apavorada do filho.
- Diga Ronald Weasley. Imediatamente. Pode cuspir o que está acontecendo – ele se abraçou na mãe e chorou.
- Harrysumiu. Nãoseiondeestá. MioneachaqueSiriuspodesaber. Nãofoiculpaminha... – disse, choroso.
- Homens... – Mione resmungou; Gina sentiu o corpo amolecer.
- Como assim "sumiu"? - Molly segurava o filho, que chorava como um bebê.
- Eu sou o pior padrinho do mundo...
- Cale-se – Gina disse, irritada. – Se alguém tiver que chorar aqui que seja eu. Mas eu sou vou fazer isso depois que tiver segurado Harry Potter pelo colarinho e ele tiver me explicado direitinho o que está havendo...
- Gina, eu acho que sei onde ele pode estar... Vamos falar com Sirius. Sra. Weasley, a senhora consegue levar esse bebê chorão para o Salão? – Molly confirmou.
- Tudo bem, nós nos encontramos lá, então – Mione disse decidida.
- Onde você acha que ele pode estar, Mione?
- Sabe, eu não sei o lugar. Mas eu acredito que ele tenha ido ao lugar onde nasceu... – Gina sorriu.
- O que foi?
- Nada. Mione, diz para os convidados que eu e Harry chegaremos lá em uma hora – Hermione não entendeu nada mas obedeceu, aparatando em seguida.
Gina foi até a gaveta e viu que a caixinha com o presente que ele havia dado a ela não estava lá. Seu sorriso aumentou. Fechou os olhos e aparatou.
Um enorme gramado verde cobria o lugar. Ela olhou o horizonte e avistou o que procurava, debaixo de uma árvore. Lá estava ele. Ela sorriu e se aproximou devagar.
- Eu imaginei quanto mais tempo eu deveria esperar aqui até você me encontrar – ele disse antes de ela entrelaçar a mão na sua.
Harry estava parado em frente à duas lápides de granito. Tinha marcas de lágrimas no rosto.
- Eu sempre vou te encontrar... – Gina disse, olhando para as duas lápides.
- Eu pedi que eles fossem trazidos para cá. Eu acho que se eles escolheram Godric's Hollow para viver é porque deveriam amar isso aqui. Sirius me disse que se casaram nessa colina. Embaixo dessa árvore – ele apontou para o tronco e estavam gravadas as iniciais dos dois. "T.P. & L.E.". Gina sorriu. - Então eu imaginei que nós poderíamos fazer o mesmo... – disse, virando-se para ela. – Eu sei que ainda não teríamos assinado os papéis mas eu gostaria muito...
- Eu também...
- Vai ser o casamento mais restrito do mundo mas ainda assim vai ser nosso... –brincou.
Segurou as duas mãos de Gina entre as suas e deixou o vento passar por eles por alguns instantes. Sentiram como se os Potter estivessem dando a sua bênção aos dois. Então ele retirou a caixinha do bolso e pegou a aliança que tinha sido de sua mãe e que agora tinha não só o nome do seu pai e a data de casamento dos dois como o nome dele, Harry, e a data do casamento com Gina.
- Eu, Harry Potter, tomo você, Virgínia Weasley, como minha esposa – ele fechou os olhos. – Não! – ela se espantou. – Não é isso que eu quero dizer. O que eu quero dizer é que a vida inteira eu esperei para você chegar. E agora você está aqui e ainda assim eu não consigo acreditar. Eu perdi a minha família e você me deu uma – passou a mão em sua barriga. – Eu perdi a minha alma longe de você e o meu coração, e agora eu os tenho de volta porque você está aqui, na minha vida... –respirou fundo e ela deixou as lágrimas escorrerem, agradecendo mentalmente pelo feitiço impermeabilizante de Hermione. – Eu ainda não acabei. Eu não posso tomá-la como esposa porque não me considero digno mas se você me escolheu como marido eu me entrego a você. Eu sou todo seu: a minha vida, o meu amor, a minha alma e o meu coração. Com esse anel eu te desposo... – completou, colocando a aliança no dedo anelar esquerdo dela, beijando a mão dela em seguida.
Ela controlou os soluços e sorriu para ele, que também chorava. "Eu te amo", Harry balbuciou. "Sua vez", ela respirou fundo, segurou a aliança dele na mão. Seu nome estava escrito debaixo do nome da mãe dele. Gina sorriu.
- Eu não sei o que eu poderia falar. Mas eu discordo de você. Eu amo você desde sempre, Harry Potter. Eu não lembro de mim sem esse amor no coração, eu não lembro de existir sem ele dentro de mim. E quando fiquei longe de você foi como se tivesse deixado de existir, quando você voltou para mim foi como se eu tivesse renascido. Eu já não me imagino sem você na minha vida porque ela se resume a você: minha vida, meu amor, minha alma, meu coração... – ele sorriu para ela, que colocou o anel no seu dedo, beijando sua mão também. – Com esse anel eu te desposo.
Harry a segurou pela cintura. Os olhos verdes cintilavam de felicidade e amor. Ela colocou os braços em volta do pescoço do marido e ele a beijou apaixonadamente. "Eu te amo", Gina disse sem descolar os lábios dos dele. "Hoje é o dia mais feliz da minha vida", completou.
Depois de casar foram para o Salão Cerimonial e repetiram o processo na frente das testemunhas. A festa foi linda e muito animada mas o que os convidados não sabiam era que a verdadeira festa já tinha sido feita, secretamente, e as lembranças estavam bem guardadas nos corações dos dois.
