Saori conseguiu acabar de subir as escadas da mansão, se bem que ia a
deitar os bofes pela boca, amaldiçoando os dias em que sempre se negara em
ter algum treino físico. Entrou no quarto onde supostamente June já estava,
visto que corria muito mais rápido que ela.
De facto June estava no quarto que Saori lhe tinha dado, contando que ela ficasse muito tempo, mas a bonita garota estava a fazer as malas de novo, rios de lágrimas correndo daqueles maravilhosos olhos azuis.
- June..? - perguntou ela da soleira da porta. June virou o rosto e jogou-se em cima da cama. - Oh! Amiga. não fiques assim.
June limitava-se a soluçar em cima da cama, os soluços abanando os ombros de aparência frágil.
- Vamos, June! Foste sempre tão forte.quando ele se veio embora, quando ele apareceu na ilha volvidos todos aqueles anos, quando ele foi para todas a batalhas. - novos soluços. Saori suspirou e sentou-se na cama. Fez-lhe uma festa no cabelo - June, ele gosta de ti, como poderia não gostar? - a rapariga respondeu qualquer coisa com a cabeça enterrada numa almofada de seda - O quê?
- Gosta, oh sim, imenso. ele odeia-me! - disse a amazona, levantando a cabeça para logo a enterrar a seguir, derramando mais um rio de lágrimas.
- Oh, June, não digas isso! Ele ama-te. Levou estes anos todos a sonhar contigo, juro-te!
- Imagino.
- Por favor, June, acredita em mim!
- Olha, Saori. - ela ergueu o rosto e olhou a amiga - pode até ter sido. Acredito que sim. Mas agora não. Viste bem como ele me tratou. Como se eu fosse. - voltou a enterrar o rosto na almofada.
- June, querida, não é isso. Não pode ser. é. June, não chores, não assim.
- Eu quero morrer.
- Não June.
- Vou voltar à ilha. e vou. as correntes de Andrómeda que me ajudem, porque eu. Não, Saori! Eu vou-me matar sim!
- Não te atrevas a pensar nisso!
- Tu nunca passaste por isto! Tu não sabes como é difícil! - berlindes líquidos multicolor jorraram cruelmente daqueles doces olhos - Tu não sabes. o que é viver sem ter a certeza que o verás outra vez, sabendo que ele, que conheces desde a infância, com quem brincaste, com quem aprendeste o mais sublime e elevado sentimento humano, com quem descobriste o mundo. irá sempre e sempre para a guerra. que a vida dele não é certa. Não sabes! Tu. simplesmente não. sabes. como é difícil. porque tu. - a garota rompeu em arquejos e soluços, incapaz de falar. Saori aproveitou para dar-lhe mais alguns carinhos e tentar explicar-lhe que ela estava a ser injusta.
- Eu sei, querida, acredita que sei. Eu.
Shun correu pelos bosques sem destino. Não lhe interessava para onde ia, ou porque corria; movia-se sem pensar, sem ver, sem ouvir nada, limitando-se a correr cada vez mais depressa, mais e mais. Não precisava de ver. Apenas de sentir. a árvore. a rocha que lhe bloqueava o caminho. saltar por cima. desviar-se das silvas que estavam do outro lado. dois ramos enlaçados. pular por cima deles. jogar-se ao chão para não bater num ramos mais alto. levantar-se no último segundo para continuar a sua correria desenfreada.
- NÃO SABES! - June ergueu-se da cama e encarou Saori, praticamente erguendo o cosmos. - Alguma vez, diz-me, alguma vez adormeceste, sonhaste toda a noite com o homem que amas, o mais doce dos sonhos, o sonho que tu querias que fosse a realidade, para de manhã acordares na miséria de mundo em que vives?
- June.
- Isso já me aconteceu. Acontece. Cada maldita noite! Oh, Deuses, como me atrevo a amaldiçoar a única coisa boa da minha vida? É como uma droga, Saori, uma droga que te vicia, a que não consegues escapar. Eu só quero sonhar, sonhar, sonhar. nunca acordar. acordada vivo numa dolorosa letargia. cada recanto da ilha, cada elo de uma corrente partida.- suspirou e baixou a voz, olhando tristemente para o verde das árvores do jardim - Cada vez que acordo, morro, uma parte de mim morre. e só volta em sonhos. Estou a morrer, Saori, cada dia que passa, eu morro mais um pouco. E um dia. - June encostou a cabeça ao vidro da janela - um dia apenas o meu corpo estará vivo, e a minha alma só viverá nos sonhos, eu só existirei como um todo nos sonhos. Até que morro completamente. E de mim só restará a recordação de um belo sonho, nunca nada mais que isso. A menos que ele me salve antes de morrer. e a única maneira de me salvar é amar-me, ficar comigo para sempre, sentir o seu corpo, os seus lábios, os seus braços. ser dele para sempre. E isso, minha amiga. - riu-se tristemente - isso é algo como o meu sonho; nunca acontecerá.
- Mesmo que ele não te ame. tu continuas a ser a June. tens uma divida com os Deuses. eles deram-te uma vida.
- Amaldiçoada. - murmurou, mas Saori ignorou-a.
- . e tu tens que preservar essa vida. é um presente sagrado. Tens que viver e cumprir a tua função no mundo. Mesmo sem o amor dele.
Apenas correr, correr, correr para qualquer sítio. Nunca estar parado; estar parado é sinónimo de morte. Um cervo. corre depressa. correr mais depressa que ele. mais depressa, sempre mais depressa. deixá-lo para trás. mas não parar, continuar a correr cada vez mais depressa, mais depressa, mais depressa. ignorar o bater surdo do coração nos seus ouvidos. mais depressa, mais depressa.
- Sem o amor dele eu não sou nada! Amor. que amor.? Como é que ele podia amar uma rapariga como eu? Que tenho eu para lhe dar? Um coração despedaçado, nem rosto, nem corpo, nem nada, apenas uma mulher criada entre homens que aprendeu a lutar e é só isso que sabe fazer, uma mulher-homem, uma criatura horrível, uma. Malditos sejam todos os De.
- CHEGA! - Saori perdeu toda a compostura, torturada pelas palavras da amiga e pelo sofrimento que ela passava. - June, não te atrevas a blasfemar, a ira dos Deuses é cruel para quem os desrespeita! Foste criada na ilha de Andrómeda, sabes bem disso! - a garota caiu no chão frio do quarto, as mãos da cara a chorar. Saori, ainda sentada na cama, estendeu as mãos e afastou-lhas da face juvenil e sofredora. Sorriu-lhe. - És uma mulher, June. Não um homem. Não podes desistir. As Deusas não permitem que as suas enviadas desistam por um homem, por mais que o amem. Minha querida. - não só a voz de Saori alterou-se, ficando mais doce e profunda, como também a sua face pareceu envelhecer e tornar-se mais bela do que nunca, a face da donzela de escudo, da mulher amante do seu amor, da mãe adoradora dos seus filhos, da velha sábia, do Nascimento, da Morte, da Paz, do Amor.de tudo o que a deusa Atena representava. O seu cosmos ergueu-se suavemente e rodeou as duas. Segurou-lhe a face docemente - as pessoas vêm e vão, como as estações do ano. Mas não voltam como estas. Apenas os seus sentimentos, o que havia dentro delas fica gravado no mundo ao fogo dos seus cosmos; é a sua dádiva para as gerações futuras. E tu, June, tu estás cheia de sentimentos bons. Como o teu amor. Já deste a tua dádiva ao mundo e ofereceste-a ao homem porque quem a nutres. Por ora ele não corresponde, ou assim pensas. Mas quem és tu para desistir? És uma mulher, uma amazona, uma guerreira de Atena. tens que honrar essa posição, tens que ser mais forte. O que achas que teria acontecido se eu tivesse abandonado o Olimpo e o Mundo só porque Páris, apesar de o amar tanto, escolheu a minha irmã e não a mim como a mais bela das Deusas? O que teria parecido da força da feminilidade no mundo? Nós, elementos femininos, somos belos, fortes, inteligentes. não nos afundamos assim. - June sorriu por meio das lágrimas, que Atena enxugou - Isso, querida, sorri. Ficas linda quando o fazes. O sorriso é um dos segredos do mundo da felicidade. - June sorriu outra vez. O lábio inferior daquela boca vermelha como um botão de rosa tremeu e a garota abraçou Atena.
- Obrigada. Mãe. - e recomeçou a chorar, mas desta vez eram lágrimas de alívio, que como a água sagrada dos deuses, regavam a flor da esperança. Amazona e Deusa abraçaram-se, não como dois seres diferentes, mas como dois elementos sagrados do mundo secreto feminino. como o são todas as mulheres.
Acabou por escorregar numa zona arenosa e, indo de rojo pelo chão, bateu com as costas numa árvore. Ficou assim, sentado, de cabeça baixa, o coração tentando sair pela boca, a respiração acelerada, o cérebro inundado de sangue e oxigénio. As memórias começaram a aflorar-lhe. June. Num movimento felino ergueu-se num pulo e, acto contínuo, virou-se para a árvore, e bateu com o punho no grosso tronco. A árvore tremeu. Encostou-lhe a testa, tentando ordenar os pensamentos, tinha que ser lógico, ou endoidecia! Mas as cruéis memórias da praia infiltravam-se pelos capilares da sua cabeça, ferviam-lhe o sangue, envenenavam-lhe a mente. Nunca tão poucas palavras tinham causado tanto desastre.
Cheio de tremores, de raiva não sabia contra quem, de desgosto e de um sofrimento confuso, deixou-se cair de joelhos em frente do velho tronco de árvore, braços pendidos ao lado do corpo, abandonado aos ventos da tristeza. Já não sabia nada, só tinha a certeza de uma coisa: tinha perdido June. Se é que alguma vez a tinha tido. Agora, outro homem conspurcaria o corpo do seu anjo. Não, fora ele que conspurcara o seu coração. Uma lágrima solitária percorreu um caminho indefinido pelo seu suave rosto e caiu na erva rasa. June. "eu amo-te." As dúvidas do rapaz enrolaram-se-lhe no estômago, fizeram-lhe um nó na garganta, enviaram ao seu cérebro as imagens e hipóteses mais cruéis que poderiam existir. Mas ele não tinha ninguém para confortá-lo. Ele ERA um homem, como o seu irmão dizia. Não. ele era apenas um homem. nada mais que isso. e tinha perdido o seu amor. Então, Shun chorou abraçado à árvore, única testemunha silenciosa do seu tormento.
Algures no Cosmos uma chama acendeu-se na mente de um vulto escuro. Ele baixou a cabeça e, olhando para a Terra suspirou e disse: não estás sozinho, Shun. nenhum homem está.
E uma certa árvore vergou-se e cobriu um rapaz com a sua frondosa copa. O rapaz não deu por isso, mas sentiu um doce cosmos embalar o seu coração e adormece-lo nos braços do Amor universal.
Shun estava confuso, perdido algures entre a quimera e a realidade. Estava no mesmo bosque, atrás de si estava a árvore que abraçara, no meio do seu desespero. Mas as trevas cobriam a verdura e os únicos pontos de luz eram o cintilar das estrelas e fria luz da lua em quarto crescente. Pensou se teria adormecido. Então, perante os seus olhos, acendeu-se uma fogueira. Mas esta não queimava verdura. Aliás, parecia que as chamas estavam em levitação, poucos centímetros acima da erva. Esperou que mais alguma coisa acontecesse, mas foi uma espera longa e infrutífera. Sentou-se em frente à fogueira, sem vontade de se ir embora. Não percebia porquê. Naturalmente, começou a pensar nos seus problemas: tinha metido completamente a pata na poça, e em relação a isso não podia fazer nada. Bem que Ikki o tinha prevenido que estar perdido em sonhos acordado só trazia problemas. Quem lhe mandar pôr-se a sonhar com June no meio na praia, sem prestar atenção a mais nada? E porque reagira de forma tão brusca ao contacto com Shiriyo? E porque se tinha irritado tanto com Saori? E, Deuses, como não pudera reconhecer de imediato o perfume e o toque suave daquela que amava? E porque.
- Questões a mais, não te parece? - uma voz suave mas profunda fez-se ouvir na escuridão da floresta. Shun olhou para todos os lados, pensando se estava a ouvir coisas. Olhou para a escuridão em redor, prestando atenção a cada um dos pontos. E, estava a olhar para a escuridão em frente da fogueira quando pareceu distinguir um vulto escuro. Fixou-se-lhe com atenção e de súbito viu dois luminosos olhos verdes surgirem no meio dessa escuridão. Com o coração acelerado, quase que deu um pulo para trás. O vulto soltou algumas notas de riso infantil e aproximou-se da fogueira. Shun pensou em erguer-se, mas algo na sua mente contrapôs prontamente essa ideia. Ergueu os olhos e contemplou a figura. Era mais baixa que ele, era uma rapariga muito jovem. Ou assim quis interpretar, pois não conseguia dar- lhe idade alguma, a não ser pelo aspecto infantil das suas faces. Os olhos verdes sorriam-lhe felinamente, no entanto amigáveis mas, misteriosos. O coração dele saltou. Os olhos. tinham fendas como os dos gatos. As suas orelhas eram pontiagudas e a rapariga era demasiado pálida e esguia para um ser humano. O cabelo escuro corria em ondulações pelas suas costas, terminando um pouco acima da cintura. E a roupa parecia leve, era de um tecido estranho que flutuava à sua volta, mesmo sem vento, de uma cor indefinida. Não podia ser uma rapariga. na realidade parecia mais., não, Shun quis afastar esse pensamento da sua mente. Que idiotice, já não era um bebé de colo! Por outro lado. não.
- Sim, sou isso mesmo. - disse, abanando uma mão sobre as chamas, as fendas dos olhos estreitando-se mais com a aproximação da luz das chamas.
- Elfo.? - ele achou-se muito estúpido. Mais estúpido ainda se achou quando ela respondeu.
- Claro! O que pensaste que eu era? Uma aparição? - a elfo aproximou- se e, batendo-lhe suavemente na face, disse contristada - vocês, humanos, são as coisas mais esquisitas que eu já ouvi falar. Não acreditam em nada que seja diferente de vocês. Nem deuses, nem elfos, nem anões, nem fadas, nem duendes, nem magia, nem nada. Não admira que o vosso coração chore tanto e a alma do Mundo esteja tão triste. Se bem que tu estás ainda mais triste que a alma do Mundo. Não me queres dizer o que se passou?
Sentiu de novo uma força impulsionar-lhe a mente a contar tudo. Precisava tanto de falar. abanou a cabeça e começou a contar tudo, de fio a pavio, se bem que se sentisse um idiota. Qualquer ser humano se sentiria um idiota se estivesse a falar com um elfo. Os humanos não acreditam mais na magia, não sabem que a magia é a energia que alimenta a alma do Mundo. Como não acreditam, a alma do Mundo não consome essa energia que a mente dos humanos, os mais numerosos de todas as raças, não aceita. Da mesma maneira que cada vez há menos paixões derradeiras, menos sonhos imprimidos de amor puro, menos corações a baterem ao mesmo ritmo da música gloriosa que é o amor, pois tudo pensa na carne, e carne alimenta carne, não o espírito. Então, a alma do Mundo chora e vai desaparecendo aos poucos.
Andrómeda abriu a sua mente e o seu coração à estranha elfo. Ela ouviu tudo, deixou-o contar e desabafar, chorar, gritar e esmurrar o chão. Ouviu pacientemente a lista completa das qualidades de June, cerca de 24 vezes o que tinha acontecido na praia, todos os sonhos de consumo do jovem. Viu as suas lágrimas molharem infinitas vezes a relva, os seus punhos vermelhos e sujos de terra, a sua cara contorcida pela raiva, desespero e as ideias mais absurdas e tristes do mundo. Tudo isto a elfo ouviu sem dizer uma palavra, sem deixar de prestar atenção, atenta a cada palavra, expressão e reacção de Shun. Rouco de tanto falar o rapaz acabou por se remeter ao silêncio. Ficaram ambos em silêncio durante muito tempo, olhando o fogo que se negava a extinguir. Por fim ela falou.
- Shun, eu não te percebo. Tu sonhas dia e noite com a rapariga, contaste-me tudo o que faziam juntos, o teor de cada uma das suas cartas para ti, as lágrimas salgadas que lhe corriam pela face cada vez que vocês se separavam. É mais que claro que ela te ama.
- Ama? Não sei como.Ela nunca me amou! Como é que alguém podia amar um banana como eu? Não sou conhecido como o Seiya ou musculoso como o Shiriyo, não sou lindo como o Hyoga ou misteriosamente charmoso como o Ikki. Não sou nada e ela é tudo, ela é um anjo, uma deusa que merece o que há de melhor e eu sou somente o que há de pior.
- Shun. eu acho que te estás a esquecer de uma coisa. foste o primeiro e o único homem a quem ela mostrou o rosto. Bem sabes o que isso significa: ou mata o homem que o vir, ou o ama para sempre. Nunca te tentou matar. E mostrou-te o rosto de livre vontade não foi mero acaso ou por distracção. Ela ama-te, é óbvio que sim.
- Sabes, podia até amar. Mas agora não. Não mais. Como podia ser depois do que eu fiz? Ela está completamente convencida que eu amo outra mulher qualquer! Oh, insanidade pura! - cerrou os punhos - e ela pensa isso porque eu sou um idiota que não tem cuidado com o que diz. Sou um estupor! Um mísero humano desprezível que deve morrer. E é isso que vai acontecer! - a elfo abanou a cabeça.
- Não, não vai acontecer.
- Porquê? Achas que podes mandar nisso? Eu faço o que quero! - berrou ele.
- Simplesmente que, se te matares, nunca poderás ficar com ela. Agora podes voltar lá, falar com ela, explicar-lhe a situação. Se morreres isso não vai acontecer. - explicou ela calmamente.
- Vai sim, eu já não quero saber de nada! Eu sou um miserável, eu tenho que morrer! Atrevi-me a magoar o seu coração, por minha culpa lágrimas de tristeza mancharam aquela face imaculada! A minha morte será um preço baixo para esse crime, mas a minha vida é tudo o que tenho para dar! - as lágrimas corriam-lhe pela face.
- Não, Shun, não! - a voz dela começou a ficar inquieta - Tu não podes morrer! A June.. ela precisa de ti! Vocês têm que ficar juntos! O vosso amor é tão grande, tão belo. Por favor, Shun! - o rapaz tinha os olhos parados, as lágrimas corriam-lhe ininterruptamente. Engoliu em seco. - Shun, eu prometo-te, vocês vão ficar juntos. - ele olhou-a, interrogativamente - Acredita no que te digo. Eu Juro-te que vocês vão ficar juntos para sempre. O caminho dos homens é duro, e eles têm que labutar muito contra as constantes adversidades. Mas tu já lutaste demais para desistires agora! Luta mais um pouco, Shun, e recebe de braços abertos a tua amada. Será um caminho árduo, mas tu... tu foste o eleito de Hades, e ele não ia escolher alguém fraco.Acredita em mim. Tu podes vencer. Sempre. Os deuses nunca te abandonarão. - Shun olhou-a com um fogo de esperança nos olhos. Ela abriu os braços e encostou-o ao peito, parecendo mais velha, parecendo a sua mãe.
Alasto Beth nîn. Ú-dollen i Rwi. Nâ i vedhed. Han bâd lîn lleothat. Esteliore, nîn seldo, Estelio June, melisselle Estelio melmelle Estelio Ammen.
(Ouve as minhas palavras. Ainda não chegou, para ti, o Inverno. É o fim da batalha. é este o teu destino. Acredita nela, minha criança, acredita na June, a tua amada Acredita no teu amor. E confia em Nós.)
Shun sentiu os olhos a fecharem-se e adormeceu abraçado à elfo, como uma criança abraçada à mãe, com as estranhas palavras a ecoarem-lhe na sua cabeça.
Um sorriso surgiu no rosto de Shun. A árvore vergou-se mais e as suas folhas cercaram o adormecido rapaz, protegendo-o do frio da noite e aquecendo o seu sono inocente.
No cosmos, um vulto abraçou outro.
- Que fazeis? - o vulto mais pequeno afastou-se do abraço e dirigiu- se para uma zona iluminada. Uma mulher alta, de cabelos e olhos cor de mel.
- Cuido do Universo, senhor.
- Ah, sim. - um homem muito belo, de olhos azuis e densos barba e cabelo negro olhou para a Terra - A alma do mundo enfraquece.
- E aqueles que a podem sarar não se unem. os humanos não compreendem a necessidade do Amor no mundo. - a bela mulher abanou a cabeça.
- O Amor é algo divino. e mágico. Os humanos afastaram ambas as coisas. É natural que não percebam. Mas ainda há esperanças.
- Falais da vossa filha, senhor? - a mulher ficou com uma expressão irritada. - Para quem apregoa o amor e tem a função de proteger a Terra, faz muito mal o seu trabalho.
- Mesmo sendo minha esposa, não podeis contestar as minhas escolhas!
- Perdão, senhor... - a mulher curvou contra vontade as costas, numa vénia forçada.
- Athena faz o seu melhor. Ela contribui com todo o seu Amor para salvar a alma da Terra. -o homem suspirou.
- E o melhor é, suponho, amar desesperadamente o Cavaleiro de Pégasus. - ela abanou a cabeça - Athena não entende. Páris, mesmo reencarnado, não deixa de ser Páris! E Páris não é homem que aceite ter e ser de uma mulher só.
- Temos que ter esperança nos humanos.
- Ele não é um humano. Foi favorecido pelos deuses em reencarnar, acompanhando Athena de 200 em 200 anos. Não é mais um deles. E eu acredito em alguns humanos senhor. Naqueles dois.
- Aqueles dois, senhora, estão fadados ao Amos desesperado, dificilmente ficarão juntos. Não poderão salvar a alma do mundo.
- Poderão sim. com alguma ajuda. O Amor deles é puro. Eles são acreditadores.
- Que haveis feito? Não podeis interceder directamente, Hera, sois uma deusa superior!
- Eu sei, Zeus, meu senhor, que ambos somos altos-deuses e não podemos interceder directamente. Alguém foi no meu lugar. - Hera sorriu para consigo mesma.
- Não haveis enviado. Senhora, não podeis ter feito! Estais louca? Eles não a podem ver! Ainda não!
- Descansai, meu senhor. Não a viram. O rapaz apenas falou com uma adorável elfo no que ele acredita ter sido um sonho. Ela não se mostrou, metamorfoseou-se. O Povo Belo não se incomodará.
- Mesmo assim, minha esposa, haveis corrido demasiados riscos, mesmo para algo tão importante. Ainda não é altura de eles conhecerem a nossa filha. Nós fomos afastados do mundo por aquele deus cristão, deixámos de poder cuidar directamente da alma da Terra. As batalhas divinas continuam, e o mundo mergulhou no desespero com o afastamento dos antigos deuses e o surgimento deste novo. A MÃE e o seu direito foram rejeitados. A Suprema vinga-se. Apenas ela poderá trazer de volta a paz e harmonia à terra, e o culto reservado a nós, os deuses do mundo.
- Achais que ela é suficiente para levar a cabo essa empresa sozinha? É demasiado jovem.
-É também, não vos esqueceis, a reencarnação da Mãe. E nasceu com os olhos abertos no céu, no seio do Olimpo, mas será forte o suficiente para ser a Suprema. quando a altura chegar.
- E nós, senhor? Que vai ser de nós?
- Teremos o nosso mundo de novo, deuses supremos, mas nunca Os Supremos. É a ordem do Universo. Foi estabelecida pela Mãe, ela criou-nos, não podemos modificar nada. Acabaria o mundo.
- Contudo, a nova fé afastou-a.
- Ah, Hera - Zeus fez-lhe uma festa nos cabelos e deixou a sua mão percorrer-lhe as linhas do rosto, do pescoço e descansar nos seios - somos novos demais. Para tudo há um Inverno. Mesmo para a Mãe. Mas ela deixou a sua semente, que mesmo em pleno Inverno, germinou. Temos que aguardar pelo Verão.
- E entretanto, Senhor? - a deusa aproximou o seu corpo do dele e deixou os seus lábios brincarem com a pele do seu pescoço. Zeus baixou a cabeça e beijou-a longamente, percorrendo-lhe o corpo como as suas mãos fortes.
- Entretanto, temos que reensinar aos humanos o que é o Amor divino.
- E os escolhidos, Senhor.? Zeus. - ela semicerrou os olhos enquanto ele lhe beijava o pescoço.
- São fortes. Vencerão. Mas os humanos, apesar de terem uma vida fugaz, levam tempo a fazer tudo. Dai-lhes um pouco de tempo, senhora. E concedei-me algum também.
Hyoga treinava no meio do bosquete que cercava a mansão dos Kido. Estava preocupado com os amigos. Eri fora consolar June, e por muito que ele quisesse ajudar, sabia que não se devia meter nos meio delas.
Por outro lado, não sabia onde estava Shun. Franziu as sobrancelhas. «Tomara que não faça disparate nenhum», pensou enquanto fazia flexões de braços. Ergueu a cabeça quando sentiu um cosmos conhecido a sair da casa. Limpou-se com a t-shirt e foi a corta mato, apanhando Eri a meio do caminho para a saída. Pôs a mão de fora da ver dura e puxou-a para ao pé de si. Ela assustou-se.
- Sou eu, calma! - disse Hyoga, falando em voz baixa, por precaução.
- Um dia matas-me, tontinho. O que queres? São quase horas de almoço, tenho que ir para o orfanato.
- Ias-te embora sem me dar um beijinho? - ele fez cara de criança magoada.
- Hyoga! - repreendeu-o - Nós estamos com bastantes problemas!
- Desculpa. - ficou sério - Como está June?
- Bastante abalada. Não sei o que Saori fez, mas acalmou-a bastante. Pelo menos já não chora. Vai precisar de apoio. Felizmente conseguimos convencê- la a cá ficar. E Shun?
- Não sei - Hyoga mordeu o lábio inferior - Estou preocupado, não o consigo sentir em lado nenhum. Temo que faça uma doidice.
- E já não fez?
- Hum?
- Como é que ele pode? Homens.! - resmungou Eri, cruzando o braços e olhando para o lado.
- Eia, Doce, eu estou a tentar ajudar. Mas o Shun é o meu melhor amigo, e tu ouviste-o na praia, ele não fez de propósito. Está tão mal como ela; ou pior ainda. - protestou Hyoga.
- Sei. A pobrezinha está lá em cima sentindo-se abaixo de cão. E onde está ele?
- Pelo menos ela está ao pé das amigas! Ele está a sofrer sozinho sabe-se lá onde! - Eri deu um pontapé numa pedra e virou as costas. Hyoga agarrou- lhe um braço e girou-a para si, bastante zangado.
Duas luzes verdes luziram no Cosmos, olhando para a Terra. A seguir um vulto esguio que abanou a cabeça.
- Assim não dá. Contava com vocês para ajudá-los. - murmurou o vulto. Fechou os olhos e soprou suavemente na direcção da alma do planeta. Os corações dos homens enterneceram-se. . e o seu rosto suavizou-se de imediato. Olhou-a com ternura - Desculpa, Doce. Estamos muito nervosos; dois amigos abaixo do nível da infelicidade manda qualquer um abaixo. Mas não nos vamos zangar por causa disso, boneca. - ergueu-lhe o rosto com uma mão - está bem? - Eri sorriu e acenou com a cabeça, passando-lhe os braços pelo pescoço e erguendo-se nos seus ombros para beijá-lo. Hyoga abraçou-a contra si e pressionou os seus lábios de fogo contra a doçura da boca de Eri, beijando-a com carinho. Entreabriu os olhos e viu a expressão de anjo que ela tinha, meio corada e os olhos suavemente cerrados.
O vulto olhou de novo para a mancha do cosmos da alma do Mundo. Estava fraca. Olhou para dois jovens que se beijavam na Terra. «Ajudem os vossos amigos e ajudem o mundo» - murmurou. Desta vez soltou uma suave brisa na direcção dos dois apaixonados. E todos os corações do mundo aqueceram.
Hyoga nunca saberá explicar o que se passou na sua cabeça, mas isso também não lhes interessa. Sentiu o corpo de Eri colar-se mais ao seu e a língua dela acariciar a sua. O Corpo respondeu ao desejo e o que era um beijo meigo passou a um ósculo ardente. Beijaram interminavelmente e então Eri sentiu algo duro pressionar as suas pernas. Interrompeu o beijo e olhou para Hyoga, abanando a cabeça.
- Hyoga, no que estás a pensar? - ele sorriu-lhe com um ar maroto. Ela engasgou-se e olhou em redor. Ele abraçou-a por trás e começou a beijar- lhe o pescoço - Hyoga.
- Estava só a pensar no teu corpo. desnudo. junto ao meu. - murmurou ele ao seu ouvido, arrepiando-a. Ela voltou-se para ele.
- Hyoga, aqui não. Hyoga! - o rapaz enlaçou-a pela cintura, beijando- a ardentemente e puxou-a na direcção do chão. Ela tentou resistir, mas ele tinha, óbvio, mais força e acabaram deitados, ele rolou para cima dela e prendeu-lhe os braços. Sorriu vitorioso.
- Anh Anh. -disse ele abanando a cabeça quando ela se tentou soltar - e agora? - ela riu-se e encolheu os ombros - não sabes? Vou-te mostrar. - Deixaram que a paixão de ambos fosse oculta pela verdura viçosa.
De facto June estava no quarto que Saori lhe tinha dado, contando que ela ficasse muito tempo, mas a bonita garota estava a fazer as malas de novo, rios de lágrimas correndo daqueles maravilhosos olhos azuis.
- June..? - perguntou ela da soleira da porta. June virou o rosto e jogou-se em cima da cama. - Oh! Amiga. não fiques assim.
June limitava-se a soluçar em cima da cama, os soluços abanando os ombros de aparência frágil.
- Vamos, June! Foste sempre tão forte.quando ele se veio embora, quando ele apareceu na ilha volvidos todos aqueles anos, quando ele foi para todas a batalhas. - novos soluços. Saori suspirou e sentou-se na cama. Fez-lhe uma festa no cabelo - June, ele gosta de ti, como poderia não gostar? - a rapariga respondeu qualquer coisa com a cabeça enterrada numa almofada de seda - O quê?
- Gosta, oh sim, imenso. ele odeia-me! - disse a amazona, levantando a cabeça para logo a enterrar a seguir, derramando mais um rio de lágrimas.
- Oh, June, não digas isso! Ele ama-te. Levou estes anos todos a sonhar contigo, juro-te!
- Imagino.
- Por favor, June, acredita em mim!
- Olha, Saori. - ela ergueu o rosto e olhou a amiga - pode até ter sido. Acredito que sim. Mas agora não. Viste bem como ele me tratou. Como se eu fosse. - voltou a enterrar o rosto na almofada.
- June, querida, não é isso. Não pode ser. é. June, não chores, não assim.
- Eu quero morrer.
- Não June.
- Vou voltar à ilha. e vou. as correntes de Andrómeda que me ajudem, porque eu. Não, Saori! Eu vou-me matar sim!
- Não te atrevas a pensar nisso!
- Tu nunca passaste por isto! Tu não sabes como é difícil! - berlindes líquidos multicolor jorraram cruelmente daqueles doces olhos - Tu não sabes. o que é viver sem ter a certeza que o verás outra vez, sabendo que ele, que conheces desde a infância, com quem brincaste, com quem aprendeste o mais sublime e elevado sentimento humano, com quem descobriste o mundo. irá sempre e sempre para a guerra. que a vida dele não é certa. Não sabes! Tu. simplesmente não. sabes. como é difícil. porque tu. - a garota rompeu em arquejos e soluços, incapaz de falar. Saori aproveitou para dar-lhe mais alguns carinhos e tentar explicar-lhe que ela estava a ser injusta.
- Eu sei, querida, acredita que sei. Eu.
Shun correu pelos bosques sem destino. Não lhe interessava para onde ia, ou porque corria; movia-se sem pensar, sem ver, sem ouvir nada, limitando-se a correr cada vez mais depressa, mais e mais. Não precisava de ver. Apenas de sentir. a árvore. a rocha que lhe bloqueava o caminho. saltar por cima. desviar-se das silvas que estavam do outro lado. dois ramos enlaçados. pular por cima deles. jogar-se ao chão para não bater num ramos mais alto. levantar-se no último segundo para continuar a sua correria desenfreada.
- NÃO SABES! - June ergueu-se da cama e encarou Saori, praticamente erguendo o cosmos. - Alguma vez, diz-me, alguma vez adormeceste, sonhaste toda a noite com o homem que amas, o mais doce dos sonhos, o sonho que tu querias que fosse a realidade, para de manhã acordares na miséria de mundo em que vives?
- June.
- Isso já me aconteceu. Acontece. Cada maldita noite! Oh, Deuses, como me atrevo a amaldiçoar a única coisa boa da minha vida? É como uma droga, Saori, uma droga que te vicia, a que não consegues escapar. Eu só quero sonhar, sonhar, sonhar. nunca acordar. acordada vivo numa dolorosa letargia. cada recanto da ilha, cada elo de uma corrente partida.- suspirou e baixou a voz, olhando tristemente para o verde das árvores do jardim - Cada vez que acordo, morro, uma parte de mim morre. e só volta em sonhos. Estou a morrer, Saori, cada dia que passa, eu morro mais um pouco. E um dia. - June encostou a cabeça ao vidro da janela - um dia apenas o meu corpo estará vivo, e a minha alma só viverá nos sonhos, eu só existirei como um todo nos sonhos. Até que morro completamente. E de mim só restará a recordação de um belo sonho, nunca nada mais que isso. A menos que ele me salve antes de morrer. e a única maneira de me salvar é amar-me, ficar comigo para sempre, sentir o seu corpo, os seus lábios, os seus braços. ser dele para sempre. E isso, minha amiga. - riu-se tristemente - isso é algo como o meu sonho; nunca acontecerá.
- Mesmo que ele não te ame. tu continuas a ser a June. tens uma divida com os Deuses. eles deram-te uma vida.
- Amaldiçoada. - murmurou, mas Saori ignorou-a.
- . e tu tens que preservar essa vida. é um presente sagrado. Tens que viver e cumprir a tua função no mundo. Mesmo sem o amor dele.
Apenas correr, correr, correr para qualquer sítio. Nunca estar parado; estar parado é sinónimo de morte. Um cervo. corre depressa. correr mais depressa que ele. mais depressa, sempre mais depressa. deixá-lo para trás. mas não parar, continuar a correr cada vez mais depressa, mais depressa, mais depressa. ignorar o bater surdo do coração nos seus ouvidos. mais depressa, mais depressa.
- Sem o amor dele eu não sou nada! Amor. que amor.? Como é que ele podia amar uma rapariga como eu? Que tenho eu para lhe dar? Um coração despedaçado, nem rosto, nem corpo, nem nada, apenas uma mulher criada entre homens que aprendeu a lutar e é só isso que sabe fazer, uma mulher-homem, uma criatura horrível, uma. Malditos sejam todos os De.
- CHEGA! - Saori perdeu toda a compostura, torturada pelas palavras da amiga e pelo sofrimento que ela passava. - June, não te atrevas a blasfemar, a ira dos Deuses é cruel para quem os desrespeita! Foste criada na ilha de Andrómeda, sabes bem disso! - a garota caiu no chão frio do quarto, as mãos da cara a chorar. Saori, ainda sentada na cama, estendeu as mãos e afastou-lhas da face juvenil e sofredora. Sorriu-lhe. - És uma mulher, June. Não um homem. Não podes desistir. As Deusas não permitem que as suas enviadas desistam por um homem, por mais que o amem. Minha querida. - não só a voz de Saori alterou-se, ficando mais doce e profunda, como também a sua face pareceu envelhecer e tornar-se mais bela do que nunca, a face da donzela de escudo, da mulher amante do seu amor, da mãe adoradora dos seus filhos, da velha sábia, do Nascimento, da Morte, da Paz, do Amor.de tudo o que a deusa Atena representava. O seu cosmos ergueu-se suavemente e rodeou as duas. Segurou-lhe a face docemente - as pessoas vêm e vão, como as estações do ano. Mas não voltam como estas. Apenas os seus sentimentos, o que havia dentro delas fica gravado no mundo ao fogo dos seus cosmos; é a sua dádiva para as gerações futuras. E tu, June, tu estás cheia de sentimentos bons. Como o teu amor. Já deste a tua dádiva ao mundo e ofereceste-a ao homem porque quem a nutres. Por ora ele não corresponde, ou assim pensas. Mas quem és tu para desistir? És uma mulher, uma amazona, uma guerreira de Atena. tens que honrar essa posição, tens que ser mais forte. O que achas que teria acontecido se eu tivesse abandonado o Olimpo e o Mundo só porque Páris, apesar de o amar tanto, escolheu a minha irmã e não a mim como a mais bela das Deusas? O que teria parecido da força da feminilidade no mundo? Nós, elementos femininos, somos belos, fortes, inteligentes. não nos afundamos assim. - June sorriu por meio das lágrimas, que Atena enxugou - Isso, querida, sorri. Ficas linda quando o fazes. O sorriso é um dos segredos do mundo da felicidade. - June sorriu outra vez. O lábio inferior daquela boca vermelha como um botão de rosa tremeu e a garota abraçou Atena.
- Obrigada. Mãe. - e recomeçou a chorar, mas desta vez eram lágrimas de alívio, que como a água sagrada dos deuses, regavam a flor da esperança. Amazona e Deusa abraçaram-se, não como dois seres diferentes, mas como dois elementos sagrados do mundo secreto feminino. como o são todas as mulheres.
Acabou por escorregar numa zona arenosa e, indo de rojo pelo chão, bateu com as costas numa árvore. Ficou assim, sentado, de cabeça baixa, o coração tentando sair pela boca, a respiração acelerada, o cérebro inundado de sangue e oxigénio. As memórias começaram a aflorar-lhe. June. Num movimento felino ergueu-se num pulo e, acto contínuo, virou-se para a árvore, e bateu com o punho no grosso tronco. A árvore tremeu. Encostou-lhe a testa, tentando ordenar os pensamentos, tinha que ser lógico, ou endoidecia! Mas as cruéis memórias da praia infiltravam-se pelos capilares da sua cabeça, ferviam-lhe o sangue, envenenavam-lhe a mente. Nunca tão poucas palavras tinham causado tanto desastre.
Cheio de tremores, de raiva não sabia contra quem, de desgosto e de um sofrimento confuso, deixou-se cair de joelhos em frente do velho tronco de árvore, braços pendidos ao lado do corpo, abandonado aos ventos da tristeza. Já não sabia nada, só tinha a certeza de uma coisa: tinha perdido June. Se é que alguma vez a tinha tido. Agora, outro homem conspurcaria o corpo do seu anjo. Não, fora ele que conspurcara o seu coração. Uma lágrima solitária percorreu um caminho indefinido pelo seu suave rosto e caiu na erva rasa. June. "eu amo-te." As dúvidas do rapaz enrolaram-se-lhe no estômago, fizeram-lhe um nó na garganta, enviaram ao seu cérebro as imagens e hipóteses mais cruéis que poderiam existir. Mas ele não tinha ninguém para confortá-lo. Ele ERA um homem, como o seu irmão dizia. Não. ele era apenas um homem. nada mais que isso. e tinha perdido o seu amor. Então, Shun chorou abraçado à árvore, única testemunha silenciosa do seu tormento.
Algures no Cosmos uma chama acendeu-se na mente de um vulto escuro. Ele baixou a cabeça e, olhando para a Terra suspirou e disse: não estás sozinho, Shun. nenhum homem está.
E uma certa árvore vergou-se e cobriu um rapaz com a sua frondosa copa. O rapaz não deu por isso, mas sentiu um doce cosmos embalar o seu coração e adormece-lo nos braços do Amor universal.
Shun estava confuso, perdido algures entre a quimera e a realidade. Estava no mesmo bosque, atrás de si estava a árvore que abraçara, no meio do seu desespero. Mas as trevas cobriam a verdura e os únicos pontos de luz eram o cintilar das estrelas e fria luz da lua em quarto crescente. Pensou se teria adormecido. Então, perante os seus olhos, acendeu-se uma fogueira. Mas esta não queimava verdura. Aliás, parecia que as chamas estavam em levitação, poucos centímetros acima da erva. Esperou que mais alguma coisa acontecesse, mas foi uma espera longa e infrutífera. Sentou-se em frente à fogueira, sem vontade de se ir embora. Não percebia porquê. Naturalmente, começou a pensar nos seus problemas: tinha metido completamente a pata na poça, e em relação a isso não podia fazer nada. Bem que Ikki o tinha prevenido que estar perdido em sonhos acordado só trazia problemas. Quem lhe mandar pôr-se a sonhar com June no meio na praia, sem prestar atenção a mais nada? E porque reagira de forma tão brusca ao contacto com Shiriyo? E porque se tinha irritado tanto com Saori? E, Deuses, como não pudera reconhecer de imediato o perfume e o toque suave daquela que amava? E porque.
- Questões a mais, não te parece? - uma voz suave mas profunda fez-se ouvir na escuridão da floresta. Shun olhou para todos os lados, pensando se estava a ouvir coisas. Olhou para a escuridão em redor, prestando atenção a cada um dos pontos. E, estava a olhar para a escuridão em frente da fogueira quando pareceu distinguir um vulto escuro. Fixou-se-lhe com atenção e de súbito viu dois luminosos olhos verdes surgirem no meio dessa escuridão. Com o coração acelerado, quase que deu um pulo para trás. O vulto soltou algumas notas de riso infantil e aproximou-se da fogueira. Shun pensou em erguer-se, mas algo na sua mente contrapôs prontamente essa ideia. Ergueu os olhos e contemplou a figura. Era mais baixa que ele, era uma rapariga muito jovem. Ou assim quis interpretar, pois não conseguia dar- lhe idade alguma, a não ser pelo aspecto infantil das suas faces. Os olhos verdes sorriam-lhe felinamente, no entanto amigáveis mas, misteriosos. O coração dele saltou. Os olhos. tinham fendas como os dos gatos. As suas orelhas eram pontiagudas e a rapariga era demasiado pálida e esguia para um ser humano. O cabelo escuro corria em ondulações pelas suas costas, terminando um pouco acima da cintura. E a roupa parecia leve, era de um tecido estranho que flutuava à sua volta, mesmo sem vento, de uma cor indefinida. Não podia ser uma rapariga. na realidade parecia mais., não, Shun quis afastar esse pensamento da sua mente. Que idiotice, já não era um bebé de colo! Por outro lado. não.
- Sim, sou isso mesmo. - disse, abanando uma mão sobre as chamas, as fendas dos olhos estreitando-se mais com a aproximação da luz das chamas.
- Elfo.? - ele achou-se muito estúpido. Mais estúpido ainda se achou quando ela respondeu.
- Claro! O que pensaste que eu era? Uma aparição? - a elfo aproximou- se e, batendo-lhe suavemente na face, disse contristada - vocês, humanos, são as coisas mais esquisitas que eu já ouvi falar. Não acreditam em nada que seja diferente de vocês. Nem deuses, nem elfos, nem anões, nem fadas, nem duendes, nem magia, nem nada. Não admira que o vosso coração chore tanto e a alma do Mundo esteja tão triste. Se bem que tu estás ainda mais triste que a alma do Mundo. Não me queres dizer o que se passou?
Sentiu de novo uma força impulsionar-lhe a mente a contar tudo. Precisava tanto de falar. abanou a cabeça e começou a contar tudo, de fio a pavio, se bem que se sentisse um idiota. Qualquer ser humano se sentiria um idiota se estivesse a falar com um elfo. Os humanos não acreditam mais na magia, não sabem que a magia é a energia que alimenta a alma do Mundo. Como não acreditam, a alma do Mundo não consome essa energia que a mente dos humanos, os mais numerosos de todas as raças, não aceita. Da mesma maneira que cada vez há menos paixões derradeiras, menos sonhos imprimidos de amor puro, menos corações a baterem ao mesmo ritmo da música gloriosa que é o amor, pois tudo pensa na carne, e carne alimenta carne, não o espírito. Então, a alma do Mundo chora e vai desaparecendo aos poucos.
Andrómeda abriu a sua mente e o seu coração à estranha elfo. Ela ouviu tudo, deixou-o contar e desabafar, chorar, gritar e esmurrar o chão. Ouviu pacientemente a lista completa das qualidades de June, cerca de 24 vezes o que tinha acontecido na praia, todos os sonhos de consumo do jovem. Viu as suas lágrimas molharem infinitas vezes a relva, os seus punhos vermelhos e sujos de terra, a sua cara contorcida pela raiva, desespero e as ideias mais absurdas e tristes do mundo. Tudo isto a elfo ouviu sem dizer uma palavra, sem deixar de prestar atenção, atenta a cada palavra, expressão e reacção de Shun. Rouco de tanto falar o rapaz acabou por se remeter ao silêncio. Ficaram ambos em silêncio durante muito tempo, olhando o fogo que se negava a extinguir. Por fim ela falou.
- Shun, eu não te percebo. Tu sonhas dia e noite com a rapariga, contaste-me tudo o que faziam juntos, o teor de cada uma das suas cartas para ti, as lágrimas salgadas que lhe corriam pela face cada vez que vocês se separavam. É mais que claro que ela te ama.
- Ama? Não sei como.Ela nunca me amou! Como é que alguém podia amar um banana como eu? Não sou conhecido como o Seiya ou musculoso como o Shiriyo, não sou lindo como o Hyoga ou misteriosamente charmoso como o Ikki. Não sou nada e ela é tudo, ela é um anjo, uma deusa que merece o que há de melhor e eu sou somente o que há de pior.
- Shun. eu acho que te estás a esquecer de uma coisa. foste o primeiro e o único homem a quem ela mostrou o rosto. Bem sabes o que isso significa: ou mata o homem que o vir, ou o ama para sempre. Nunca te tentou matar. E mostrou-te o rosto de livre vontade não foi mero acaso ou por distracção. Ela ama-te, é óbvio que sim.
- Sabes, podia até amar. Mas agora não. Não mais. Como podia ser depois do que eu fiz? Ela está completamente convencida que eu amo outra mulher qualquer! Oh, insanidade pura! - cerrou os punhos - e ela pensa isso porque eu sou um idiota que não tem cuidado com o que diz. Sou um estupor! Um mísero humano desprezível que deve morrer. E é isso que vai acontecer! - a elfo abanou a cabeça.
- Não, não vai acontecer.
- Porquê? Achas que podes mandar nisso? Eu faço o que quero! - berrou ele.
- Simplesmente que, se te matares, nunca poderás ficar com ela. Agora podes voltar lá, falar com ela, explicar-lhe a situação. Se morreres isso não vai acontecer. - explicou ela calmamente.
- Vai sim, eu já não quero saber de nada! Eu sou um miserável, eu tenho que morrer! Atrevi-me a magoar o seu coração, por minha culpa lágrimas de tristeza mancharam aquela face imaculada! A minha morte será um preço baixo para esse crime, mas a minha vida é tudo o que tenho para dar! - as lágrimas corriam-lhe pela face.
- Não, Shun, não! - a voz dela começou a ficar inquieta - Tu não podes morrer! A June.. ela precisa de ti! Vocês têm que ficar juntos! O vosso amor é tão grande, tão belo. Por favor, Shun! - o rapaz tinha os olhos parados, as lágrimas corriam-lhe ininterruptamente. Engoliu em seco. - Shun, eu prometo-te, vocês vão ficar juntos. - ele olhou-a, interrogativamente - Acredita no que te digo. Eu Juro-te que vocês vão ficar juntos para sempre. O caminho dos homens é duro, e eles têm que labutar muito contra as constantes adversidades. Mas tu já lutaste demais para desistires agora! Luta mais um pouco, Shun, e recebe de braços abertos a tua amada. Será um caminho árduo, mas tu... tu foste o eleito de Hades, e ele não ia escolher alguém fraco.Acredita em mim. Tu podes vencer. Sempre. Os deuses nunca te abandonarão. - Shun olhou-a com um fogo de esperança nos olhos. Ela abriu os braços e encostou-o ao peito, parecendo mais velha, parecendo a sua mãe.
Alasto Beth nîn. Ú-dollen i Rwi. Nâ i vedhed. Han bâd lîn lleothat. Esteliore, nîn seldo, Estelio June, melisselle Estelio melmelle Estelio Ammen.
(Ouve as minhas palavras. Ainda não chegou, para ti, o Inverno. É o fim da batalha. é este o teu destino. Acredita nela, minha criança, acredita na June, a tua amada Acredita no teu amor. E confia em Nós.)
Shun sentiu os olhos a fecharem-se e adormeceu abraçado à elfo, como uma criança abraçada à mãe, com as estranhas palavras a ecoarem-lhe na sua cabeça.
Um sorriso surgiu no rosto de Shun. A árvore vergou-se mais e as suas folhas cercaram o adormecido rapaz, protegendo-o do frio da noite e aquecendo o seu sono inocente.
No cosmos, um vulto abraçou outro.
- Que fazeis? - o vulto mais pequeno afastou-se do abraço e dirigiu- se para uma zona iluminada. Uma mulher alta, de cabelos e olhos cor de mel.
- Cuido do Universo, senhor.
- Ah, sim. - um homem muito belo, de olhos azuis e densos barba e cabelo negro olhou para a Terra - A alma do mundo enfraquece.
- E aqueles que a podem sarar não se unem. os humanos não compreendem a necessidade do Amor no mundo. - a bela mulher abanou a cabeça.
- O Amor é algo divino. e mágico. Os humanos afastaram ambas as coisas. É natural que não percebam. Mas ainda há esperanças.
- Falais da vossa filha, senhor? - a mulher ficou com uma expressão irritada. - Para quem apregoa o amor e tem a função de proteger a Terra, faz muito mal o seu trabalho.
- Mesmo sendo minha esposa, não podeis contestar as minhas escolhas!
- Perdão, senhor... - a mulher curvou contra vontade as costas, numa vénia forçada.
- Athena faz o seu melhor. Ela contribui com todo o seu Amor para salvar a alma da Terra. -o homem suspirou.
- E o melhor é, suponho, amar desesperadamente o Cavaleiro de Pégasus. - ela abanou a cabeça - Athena não entende. Páris, mesmo reencarnado, não deixa de ser Páris! E Páris não é homem que aceite ter e ser de uma mulher só.
- Temos que ter esperança nos humanos.
- Ele não é um humano. Foi favorecido pelos deuses em reencarnar, acompanhando Athena de 200 em 200 anos. Não é mais um deles. E eu acredito em alguns humanos senhor. Naqueles dois.
- Aqueles dois, senhora, estão fadados ao Amos desesperado, dificilmente ficarão juntos. Não poderão salvar a alma do mundo.
- Poderão sim. com alguma ajuda. O Amor deles é puro. Eles são acreditadores.
- Que haveis feito? Não podeis interceder directamente, Hera, sois uma deusa superior!
- Eu sei, Zeus, meu senhor, que ambos somos altos-deuses e não podemos interceder directamente. Alguém foi no meu lugar. - Hera sorriu para consigo mesma.
- Não haveis enviado. Senhora, não podeis ter feito! Estais louca? Eles não a podem ver! Ainda não!
- Descansai, meu senhor. Não a viram. O rapaz apenas falou com uma adorável elfo no que ele acredita ter sido um sonho. Ela não se mostrou, metamorfoseou-se. O Povo Belo não se incomodará.
- Mesmo assim, minha esposa, haveis corrido demasiados riscos, mesmo para algo tão importante. Ainda não é altura de eles conhecerem a nossa filha. Nós fomos afastados do mundo por aquele deus cristão, deixámos de poder cuidar directamente da alma da Terra. As batalhas divinas continuam, e o mundo mergulhou no desespero com o afastamento dos antigos deuses e o surgimento deste novo. A MÃE e o seu direito foram rejeitados. A Suprema vinga-se. Apenas ela poderá trazer de volta a paz e harmonia à terra, e o culto reservado a nós, os deuses do mundo.
- Achais que ela é suficiente para levar a cabo essa empresa sozinha? É demasiado jovem.
-É também, não vos esqueceis, a reencarnação da Mãe. E nasceu com os olhos abertos no céu, no seio do Olimpo, mas será forte o suficiente para ser a Suprema. quando a altura chegar.
- E nós, senhor? Que vai ser de nós?
- Teremos o nosso mundo de novo, deuses supremos, mas nunca Os Supremos. É a ordem do Universo. Foi estabelecida pela Mãe, ela criou-nos, não podemos modificar nada. Acabaria o mundo.
- Contudo, a nova fé afastou-a.
- Ah, Hera - Zeus fez-lhe uma festa nos cabelos e deixou a sua mão percorrer-lhe as linhas do rosto, do pescoço e descansar nos seios - somos novos demais. Para tudo há um Inverno. Mesmo para a Mãe. Mas ela deixou a sua semente, que mesmo em pleno Inverno, germinou. Temos que aguardar pelo Verão.
- E entretanto, Senhor? - a deusa aproximou o seu corpo do dele e deixou os seus lábios brincarem com a pele do seu pescoço. Zeus baixou a cabeça e beijou-a longamente, percorrendo-lhe o corpo como as suas mãos fortes.
- Entretanto, temos que reensinar aos humanos o que é o Amor divino.
- E os escolhidos, Senhor.? Zeus. - ela semicerrou os olhos enquanto ele lhe beijava o pescoço.
- São fortes. Vencerão. Mas os humanos, apesar de terem uma vida fugaz, levam tempo a fazer tudo. Dai-lhes um pouco de tempo, senhora. E concedei-me algum também.
Hyoga treinava no meio do bosquete que cercava a mansão dos Kido. Estava preocupado com os amigos. Eri fora consolar June, e por muito que ele quisesse ajudar, sabia que não se devia meter nos meio delas.
Por outro lado, não sabia onde estava Shun. Franziu as sobrancelhas. «Tomara que não faça disparate nenhum», pensou enquanto fazia flexões de braços. Ergueu a cabeça quando sentiu um cosmos conhecido a sair da casa. Limpou-se com a t-shirt e foi a corta mato, apanhando Eri a meio do caminho para a saída. Pôs a mão de fora da ver dura e puxou-a para ao pé de si. Ela assustou-se.
- Sou eu, calma! - disse Hyoga, falando em voz baixa, por precaução.
- Um dia matas-me, tontinho. O que queres? São quase horas de almoço, tenho que ir para o orfanato.
- Ias-te embora sem me dar um beijinho? - ele fez cara de criança magoada.
- Hyoga! - repreendeu-o - Nós estamos com bastantes problemas!
- Desculpa. - ficou sério - Como está June?
- Bastante abalada. Não sei o que Saori fez, mas acalmou-a bastante. Pelo menos já não chora. Vai precisar de apoio. Felizmente conseguimos convencê- la a cá ficar. E Shun?
- Não sei - Hyoga mordeu o lábio inferior - Estou preocupado, não o consigo sentir em lado nenhum. Temo que faça uma doidice.
- E já não fez?
- Hum?
- Como é que ele pode? Homens.! - resmungou Eri, cruzando o braços e olhando para o lado.
- Eia, Doce, eu estou a tentar ajudar. Mas o Shun é o meu melhor amigo, e tu ouviste-o na praia, ele não fez de propósito. Está tão mal como ela; ou pior ainda. - protestou Hyoga.
- Sei. A pobrezinha está lá em cima sentindo-se abaixo de cão. E onde está ele?
- Pelo menos ela está ao pé das amigas! Ele está a sofrer sozinho sabe-se lá onde! - Eri deu um pontapé numa pedra e virou as costas. Hyoga agarrou- lhe um braço e girou-a para si, bastante zangado.
Duas luzes verdes luziram no Cosmos, olhando para a Terra. A seguir um vulto esguio que abanou a cabeça.
- Assim não dá. Contava com vocês para ajudá-los. - murmurou o vulto. Fechou os olhos e soprou suavemente na direcção da alma do planeta. Os corações dos homens enterneceram-se. . e o seu rosto suavizou-se de imediato. Olhou-a com ternura - Desculpa, Doce. Estamos muito nervosos; dois amigos abaixo do nível da infelicidade manda qualquer um abaixo. Mas não nos vamos zangar por causa disso, boneca. - ergueu-lhe o rosto com uma mão - está bem? - Eri sorriu e acenou com a cabeça, passando-lhe os braços pelo pescoço e erguendo-se nos seus ombros para beijá-lo. Hyoga abraçou-a contra si e pressionou os seus lábios de fogo contra a doçura da boca de Eri, beijando-a com carinho. Entreabriu os olhos e viu a expressão de anjo que ela tinha, meio corada e os olhos suavemente cerrados.
O vulto olhou de novo para a mancha do cosmos da alma do Mundo. Estava fraca. Olhou para dois jovens que se beijavam na Terra. «Ajudem os vossos amigos e ajudem o mundo» - murmurou. Desta vez soltou uma suave brisa na direcção dos dois apaixonados. E todos os corações do mundo aqueceram.
Hyoga nunca saberá explicar o que se passou na sua cabeça, mas isso também não lhes interessa. Sentiu o corpo de Eri colar-se mais ao seu e a língua dela acariciar a sua. O Corpo respondeu ao desejo e o que era um beijo meigo passou a um ósculo ardente. Beijaram interminavelmente e então Eri sentiu algo duro pressionar as suas pernas. Interrompeu o beijo e olhou para Hyoga, abanando a cabeça.
- Hyoga, no que estás a pensar? - ele sorriu-lhe com um ar maroto. Ela engasgou-se e olhou em redor. Ele abraçou-a por trás e começou a beijar- lhe o pescoço - Hyoga.
- Estava só a pensar no teu corpo. desnudo. junto ao meu. - murmurou ele ao seu ouvido, arrepiando-a. Ela voltou-se para ele.
- Hyoga, aqui não. Hyoga! - o rapaz enlaçou-a pela cintura, beijando- a ardentemente e puxou-a na direcção do chão. Ela tentou resistir, mas ele tinha, óbvio, mais força e acabaram deitados, ele rolou para cima dela e prendeu-lhe os braços. Sorriu vitorioso.
- Anh Anh. -disse ele abanando a cabeça quando ela se tentou soltar - e agora? - ela riu-se e encolheu os ombros - não sabes? Vou-te mostrar. - Deixaram que a paixão de ambos fosse oculta pela verdura viçosa.
