Shun, completamente suado, com a camisa colada ao bem delineado corpo, chegou a casa pela tardinha. Abriu a porta e o ruído de conversa amena que saía pela porta entreaberta de uma das salas fê-lo sair disparado em direcção das escadas. Mas como geralmente acontece quando tentamos entrar desapercebidos nalgum sítio, Shun foi de encontro a um enorme jarrão chinês que se espatifou no chão. Todos acorreram à entrada da casa e depararam-se com um Shun de cabeça baixa e punhos apertados. Antes que qualquer um pudesse falar, a porta da rua abriu-se com estrépito, dando entrada a um Ikki com cara de poucos amigos que fechou a porta com um estrondo. Olhou para o irmão.

- Posso saber por onde andaste? Corri tudo à tua procura. - Shun cerrou mais os punhos e resmungou qualquer coisa. - Como?

- Se não me encontraste, é porque eu não queria ser encontrado, não é, niisan? - Shun forçou um sorriso - Mas estou com uma enorme dor de cabeça. Vou-me deitar um pouco, ok? E não te.

- ". admires se eu não vier jantar". - conclui Ikki. Soprou para o ar. - Vais-te encerrar nas catacumbas como um cão que levou um pontapé do dono?

Shun susteve a respiração para se acalmar. Hoje não. Definitivamente, não. Não estava com cabeça para aquilo. Olhou para os companheiros que assistiam silenciosos. Mirou-os um por um. E inevitavelmente o seu olhar caiu em June, cujos os olhos estavam inchados e vermelhos. A rapariga teve uma primeira reacção de baixá-los, mas depois, como se se lembrasse de algo, encarou Shun com um ar de desafio. Shun perdeu-se na sua contemplação. Tão bela, tão forte, tão corajosa, tão resistente...

- Vais responder ainda hoje? - rosnou Ikki. O mais novo deu-lhe as costas e encaminhou-se para as escadas, por detrás dos amigos. - SHUN!

- Deixa-me. em. PAZ, IKKI! - berrou o rapaz, voltando-se para ele, surpreendendo-o. - Queres saber? Não, eu não me vou esconder em lado nenhum porque ninguém me deu um pontapé, porque eu sou livre e NINGUÉM MANDA EM MIM, entendes? Simplesmente ESTOU FARTO DESTA VIDA! - Ikki deu um passo para trás. Shun continuou em direcção das escadas. Eri encostou- se a Hyoga, mais receando uma nova explosão do jovem do que para lhe abrir caminho. O rapaz notou-o e teve pena. Sorriu-lhe - Desculpa-me pelo meu comportamento esta manhã. Fui um parvo, é claro que não tens culpa de nada. - Eri gaguejou qualquer coisa Shun continuou a andar quando sentiu uma mão no seu ombro. Shiriyo ia falar, mas ele não o deixou, abanando a cabeça. - Eu estou bem, não se preocupem. - olhou Hyoga, cujos olhos estavam ainda mais sérios do que habitual - A sério.

Trancar-se no quarto talvez não fosse a solução adequada, mas pelo menos parecia-lhe a única coisa que podia fazer agora. Tirou a roupa e tomou um banho de água fria, que pelo menos o impedia de pensar. Voltou ao quarto já vestido com umas calças de fato de treino beges. Sentou-se no parapeito da janela e olhou o pôr-do-sol. Era um espectáculo bonito, mas nunca tão belo como era na ilha. ou seria que o que era belo na ilha era ele estar com June? Abanou tristemente a cabeça. Estar com ela... "Claro que ela te ama!". Queria estar com ela outra vez. queria ser criança outra vez. "Foste o primeiro e o único homem a quem ela mostrou o rosto" .aquele rosto de anjo. o rosto que somente ele vira naquele tempo em que as amazonas tinham que ter a face coberta. não mais como agora. e ele fora. "o primeiro e o único homem". aquilo . ou não?... provava... sim?... "Ela ama-te, é óbvio que sim!" O amor deles que podia ser tão belo. acabara por culpa dele. ele tinha tido a oportunidade da sua vida, os amigos tinham feito tudo para que fosse perfeito. ele estragara tudo, ferira o seu coração. porque era burro, porque era "um mísero humano desprezível que deve morrer. E é isso que vai acontecer!" . "Não, não vai acontecer". "O vosso amor é tão grande, tão belo." Shun deu-se conta que a voz da elfo do seu estranho sonho (fora um sonho, claro!) ia respondendo automaticamente às suas perguntas. Responder- lhe-ia sempre? Escurecera. Furioso, abanou o punho no ar, na direcção da lua

- O que queres que eu faça? - "Agora podes voltar lá, falar com ela, explicar-lhe a situação." - Achas que é fácil? Não viste os olhos dela, lá em baixo. Ela é-me inacessível, ou se calhar sempre o foi! - uma brisa quente de Agosto trouxe consigo os ecos de um riso juvenil e perfumado "Tu podes vencer. Sempre. Alasto beth nîn. Estelio melmelle. Estelio amin. Estelio. Ammen" ( Ouve as minhas palavras. acredita no teu amor. acredita em mim. acredita. em Nós")

Shun ergueu-se como um cego, como estando num estado de overdose e ficou a olhar para a lua. Esta cresceu nos seus globos oculares.

- Sin, wan fumme, nîn seldo. (Agora, vai dormir, minha criança.) - e obedecendo àquele comando doce, como cego Shun dirigiu-se à cama onde se deitou e fechou os olhos. Instantes antes de adormecer de imediato, o seu rosto suavizou-se como uma criança. Sentira um beijo materno. - maara oloores. (bons sonhos.)

Aqueles dias quentes, mas incertos da primeira semana de Agosto correram rapidamente. Ambos aprenderam a conviver um com o outro sem falar, a observarem-se quando o outro não estava a olhar, a engolir os soluços quando tinham uma desesperada vontade de abraçar o outro, de o beijar, de gritar que o amava e não podiam. Não era por orgulho. Não era por desinteresse. Não era por medo da reacção. Não era por vergonha. era por tudo isso ao mesmo tempo. E assim as coisas deram a impressão de voltar ao normal, mas isso nunca chegou a acontecer. Faltava uma semana para o aniversário de Ikki, o aniversário dos seus 20 anos, e Saori pretendia dar uma festa maravilhosa, tanto mais não fosse para o seu cavaleiro, como para alegrar a casa e até mesmo porque uma vozinha lhe dizia que isso ajudaria a resolver as coisas.

Entretanto, com a ajuda de Shunrey, tentava manter June divertida, superior ao tudo, mesmo superior a Shun. E Seiya e Shiriyo faziam o mesmo com Shun, se bem que o dragão não tivesse ainda a certeza que estava a fazer bem. E, obviamente, começou a haver um clima de separação dentro de casa, ao qual só Hyoga e Eri escapavam, embora nenhum deles entendesse bem onde ia buscar as forças para que ele, melhor amigo de Andrómeda e defensor da inocência deste, e ela, amiga de June, feminista refractária e completamente convencida da culpabilidade de Shun, mantivessem-se juntos, nem sequer discutissem depois daquele episódio no jardim e ainda conseguissem manter alguma união entre os dois partidos, tanto mais que funcionassem com elo de ligação. Por seu lado, Ikki, se bem que há sua maneira, parecia ser o único que mantinha a cabeça fria: dava grandes palmadas nas costas de Shun, passava-lhe grandes canecas de cerveja ou copos de vodka ou qualquer outra coisa para as mãos, obrigava-o a sair com ele, arrastando todos os outros atrás de si (os rapazes seguiam-no de boa vontade; Hyoga ia, Eri também. Se Eri ia, iam todas). De modo que, embora os amigos se unissem, as tentativas para animar o ainda não casal fracassavam por completo. June sentia os seus olhos encherem-se de lágrimas quando alguma rapariga, especialmente as produzidíssimas empregadas dos bares ou alguma amiga extremamente interessante de Ikki se aproximava de Shun (não percebia que tudo eram esquemas de Ikki para provocá-la ou, pelo menos, animar o irmão). Shun já furara várias vezes a carne das mãos com as unhas, de tanto cerrar os punhos para não espancar os interessantíssimos e atraentes rapazes que se aproximavam de June.

Resto do tempo, espancamentos à parte, era passado a observar o objecto do seu desejo, cada linha do seu corpo destacada pelas chamativas roupas que ela vestia (ou Saori a obrigava a vestir) para sair à noite, cada traço do seu rosto divino, o azul etéreo dos seus olhos azuis sobressaído pela maquilhagem esmerada que Eri aplicava sabiamente, o brilho do seu cabelo dourado caindo-lhe em cascata pelas costas ou levantado por uma mola, fazendo-o cair do alto da cabeça em todas as direcções, ofuscando as luzes coloridas, pelo aroma doce, estival e quente que os seu corpo emanava e que ele podia sentir do outro lado da mesa.

Resto do tempo, lágrimas à parte, era passado a observar Shun, destacado de todo os outros pela elegância com que as roupas tão pouco habituais nele anteriormente lhe caíam pelo corpo esbelto, de herói da antiguidade, não demasiado musculado mas com novas linhas e formas que a nova paixão pelo trabalho de ginásio e artes marciais lhe tinham fornecido, pelo cabelo, mais curto agora, lhe caía distraidamente, movimentando-se com ele, nunca cobrindo aquele par de esmeraldas sem preço que, por si só, eram mais brilhantes e coloridas que qualquer outro ponto de luz que por ali houvesse. E sentir aquele perfume que a inebriava e viciava de tão sedutor, que fazia todos olharem quando ele passava, tal o modo como o aroma se desprendia suavemente do seu corpo a cada movimento, tal o modo como o aroma condizia com ele.

Mas nenhum deles notava o espanto que causavam nas outras pessoas. O espanto de "quem é ela?", "bela desconhecida" que ao passar prendia olhares que a seguiam o resto da noite, "a gaja boa" que nenhum conseguia conquistar, "a musa divina, a deusa" que alimentava os sonhos dos grupos de homens que estavam à volta deles. O espanto de "aquele é o irmão do Ikki?", "aquele miúdo baixinho e enfiado" que crescera "àquela altura e beleza de deus", que fazia uma concorrência de empregadas de cinco em cinco minutos à mesa, oferecendo rodadas, perguntando se estava tudo bem, ou aquelas amigas de ocasião do Ikki que se transformavam nas melhores amigas e que vinham conhecer "o podre de bom" do irmão dele, ou a fixa atenção dos grupos de mulheres que estavam há volta deles, de todas elas muitas vezes mais velhas, que o comiam com os olhos e se desesperavam com a falta de atenção dele. Nenhum deles notava nada a não ser o outro.
E, além disso, as raparigas tinham ganho o hábito de sair sozinhas, hábito precedido pelos rapazes. Iam cada grupo para um lado, desesperando June e Shun, que ficavam a encher a cabeça com os possíveis rapazes e raparigas que pudessem aparecer pelo caminho de cada um deles. E era óbvio que nessas saídas, muita gente nova foi conhecida. =================================================================

A praia era igual. Arrastados para a praia ou pelos irrequietos rapazes ou pelas feministas, o grupo ia para a praia, uns atrás dos outros, dois grupos separados com um elo de ligação. Os jogos de bola, as brincadeiras na água, os jogos de cartas, as conversas em círculo, passavam-lhes quase ao lado, participando parcamente, soltando uns risos no meio das gargalhadas dos outros, o olhar vagamente perdido quando lhes faziam perguntas.

Os parzinhos que, ante a passagem da carruagem de Apolo pelo céu quente de Agosto, uniam corpos molhados brilhantes e partilhavam as estreitas toalhas, as brincadeiras de namorados que ocorriam dentro de água, as perseguições na areia molhada que terminavam num rebolar de corpos enrolados e cobertos de areia, os mergulhos a dois, bocas com bocas, braços em torno dos pescoços, os colos de braços fortes e protectores, as mãos entrelaçadas nos passeios à beira mar. mergulhavam os dois numa depressão profunda e numa fome desesperada; comiam-se com os olhos, os corpos perfeitos, as curvinhas da boca quando sorriam, os olhos expressivos. E Eri e Hyoga, que por certos momentos se esqueciam de tudo, dos problemas, das presenças dos amigos, aqueciam toda a atmosfera, com as suas brincadeiras, com as suas carícias, com o deitar dos seus corpos em perfeita sintonia, com a doçura do olhar que cada um deitava ao outro, com as expressões instintivas com que se acariciavam constantemente, entreolhavam-se culpabilizados. Por não conseguirem evitar a expressão do seu amor. Por terem medo de estar a magoar e a baixar a moral dos seus amigos.

. Mas curiosamente acontecia o contrário.

O final daquela primeira semana foi envolvido por uma lufada de ar fresco na mansão Kido. O amor de Eri e Hyoga parecia contaminar todo o grupo.

Shun tinha estado no ginásio, a treinar. As técnicas que agora o movimentavam, longe dos antigos treinamentos sem que estes deixassem de existir, levavam-no a experimentar a arte do combate com armas. Pelas suas mãos passavam punhais, espadas, estiletes, adagas, paus, correntes, tudo. Estivera precisamente a treinar com punhais, que ofereciam uma bonita movimentação com fluidos movimentos graciosamente felinos. Parara em frente a um espelho que ocupava toda a parede de uma sala ampla, de chão acolchoado, e ficara a pensar se estaria a ficar violento. Achava que não. Não tinha o mínimo desejo em magoar ninguém. Não praticava pela força, mas pela performance, pela beleza daqueles combates artísticos. Absorto nos seus pensamentos, assustou-se quando um pequeno gato saltou pela janela entreaberta e, não movimentando a mão para segurar o punhal que estivera maquinalmente a atirar ao ar, cortou-se. Da pele nívea correu o sangue em rio. Disparatando em palavrões frustrados, envolveu a mão na própria camiseta e correu até casa, entrando pela porta da copa. Os olhos correram a cozinha e estacionaram em June, sentada num banco alto em frente a um copo de leite, os olhos perdidos numa revista e a testa abandonada numa mão delicada e preguiçosa. Levantou os olhos e ficou corada. Fez-se um silêncio incomodativo. Ela acabou por falar.

- Precisas de alguma coisa?

- Não, não preciso de nada. - respondeu ele, escondendo um esgar fruto do ardor que sentia na mão. Os olhos dela percorreram-no e centraram- se na mão envolta em tecido. Abriram-se imenso quanto viram o sangue que já o manchava.

- Shun. - saltou do banco - Estás ferido! Deixa-me ver.

- Não é nada. - balbuciou, tentando esconder a mão. Mas ela agarrou-a meigamente.

- Não sejas criança! Deixa ver. - desenrolou o tecido e observou o corte - Como fizeste isto?

- Foi num punhal.

- Eu sabia que ias acabar por te magoar com essa brincadeira. - ele perguntou-se mudamente como saberia ela dos seus treinos. Ela dirigiu-se à despensa e voltou com uma caixa branca. Voltou a segurar-lhe na mão e começou a limpar o golpe. Shun sentia as mãos delas macias e carinhosas, o calor da sua pele na sua. Encolheu a mão quando ela começou a desinfectar o corte. - Pára, Shun! Pareces aquele menino que apareceu na Ilha. Não é mais uma criança, mas sim um be. um homem. - June corou imenso com o que ia acabar de dizer, "um belo homem", e fixou os olhos no seu trabalho. Maravilhado, Shun observava a sua pele de veludo voltar à cor normal, os seus olhos brilhantes, o lábio inferior levemente mordido pelos dentes na concentração do trabalho.

Sentindo a fixação do seu olhar, a rapariga levantou a cabeça apenas para ficar mais corada ainda quando os seus olhos se encontraram. Shun achou-a adorável; ela acabou de enfaixar a mão.

- Felizmente é a esquerda, não deves ter problemas. - a mão dele permanecia sobre as suas; murmurou - Já acabei.

Shun mandou ao chão o orgulho, a timidez, a vergonha, a moral, tudo. Enlaçou-a pela cintura e, ao mesmo tempo que a encostou a si, ergueu-lhe o queixo e beijou-a apaixonadamente. June tentou resistir, demasiado surpresa, demasiado chocada, acabando por sucumbir ao lábios grossos e macios, à boca doce e meiga, contudo esfomeada de Shun. Perdendo a noção das coisas, ele pegou-a pela cintura e sentou-a em cima da bancada, encaixando-se entre as suas pernas, continuando a beijá-la. Continuou a acariciá-la, mas as suas carícias eram cada vez mais ousadas, mais sensuais. Shun empurrou o seu corpo para trás, deitando-a com o movimento do seu próprio corpo, deitando-se por cima dela. Inebriado, apenas pensava que agora ia ficar com ela, ia possui-la, iam ficar juntos para sempre, ia tudo ficar bem.

Foi quando sentiu uma mão agarrá-lo pelo pescoço e jogá-lo para o chão. Surpreendido, olhou para um rapaz um pouco mais velho do que ele, que abraçava o corpo de June. O corpo de June. Da sua June. Um rapaz lindíssimo abraçava o corpo da sua June. Levantou-se enraivecido mas não houve espaço a nada. O outro limitou-se a dizer:

- Nunca mais te quero ver, idiota, ou mato-te. - e, virando-se para June - vem, June, anda para longe deste tarado. - Os olhos de June brilharam cheios de lágrimas e as pernas negavam-se a seguirem o rapaz. Shun fixou-a, pedindo mudamente que ela ficasse, ficasse com ele, para sempre. Mas o outro segurando-a pela cintura, levou-a para longe. E June nada fez.

Ficou parado, estático, negando-se a aceitar, sem compreender. Pouco a pouco foi sentindo a vida voltar, mas voltar amarga como a bílis. Cerrou os punhos e correu ao ginásio. Agarrou dois punhais e recomeçou a dança. Mas agora ansiava mais. Ansiava a performance, a agilidade, com a força, com a rapidez,. com o cosmos. letalmente. Estava só. Uma tempestade estalou lá fora; trazia consigo a presença de alguém, a presença que Shun não conseguia localizar, mas sabia que estava do seu lado, que chorava com ele, que sofria com ele, que era sua companheira. E Shun começou a treinar loucamente.

Now I know that the end comes

You knew since the beginning

Didn't want to believe it s true

You are alone again, my soul will be with you

Sozinho, de novo sozinho, para sempre sozinho. Sentia uma vontade animal de matar, mas ainda conseguia controlar isso. E isso era conseguido com o treino, com o esforço exaustivo do seu corpo. No entanto treinar, treinar para matar.. Matar só um. O tempo passou, e ele continuava. Para ele era lento, lento como tempo que sofreu por ela.

Why is the clock even running

If my world isn t turning

Hear your voice in the doorway wind

You are alone again I m only waiting

Sangrava, pura e simplesmente o seu coração sangrava. Estava partido, escaqueirado em mil bocados. E ninguém entenderia. Chorava lágrimas de sangue.

You tear into pieces my heart

Before you leave with no repentance

I cried to you, my tears turning into blood

I m ready to surrender

You say that I take it too hard

And all I ask is comprehension

Bring back to you a piece of my broken heart

I m ready to surrender

A infância na Ilha, as memórias do seu passado com ela. tinha tudo sido um sonho? Era para ter sido um grande amor, mas o tempo fora curto demais para isso. treinar, treinar, treinar.

I remember the moments

Life was short for the romance

Like a rose it will fade away

I m leaving everything

Pegar na espada, cortar o ar à sua frente, cortar madeira, bater em aço. Tivera o seu coração nas mãos e perdera-o. nunca mais.

No regrets, war is over

The return of a soldier

Put my hands on my bleeding heart

I m leaving all behind

No longer waiting

O pau, o bastão, as correntes, os estiletes. cada coisa tinha a sua função. Perfeição era saber harmonizar todas. Perfeição era saber harmonizar os bocados do seu coração partido.

You tear into pieces my heart

Before you leave with no repentance

I cried to you, my tears turning into blood

I m ready to surrender

You say that I take it too hard

And all I ask is comprehension

Bring back to you a piece of my broken heart

I m ready to surrender

Estava tudo perdido. Os japoneses tinham uma técnica antiga para terminar o sofrimento. Bastava uma espada. Ele tinha uma espada.

I've waited for so long!

- NÃO! - a voz ecoou na cabeça de Shun, a tempestade piorou, o terror nasceu no coração dos homens. Então Shun, ouvindo as palavras mais estranhas do mundo, não sabendo exprimi-las mas sabendo o que sentia, desmaiou e acabou por adormecer no chão de napa fria do ginásio.

Depois daquele dia, Shun nunca mais foi o mesmo. As horas de treino diárias tornaram-se uma violência a nível de exigência física, passava o resto do dia trancado no quarto, apenas sabiam que ele ouvia música bem alto, que fazia vibrar a casa toda. Respondia taciturnamente quando falavam com ele, desaparecia por uma outra quando June entrava pela outra.

Continuou as saídas com os amigos, mas já não bebia controladamente, ingerindo copos atrás de copos, uns a seguir aos outros, sem ao menos reparar no que bebia. Começou a sair sozinho com o irmão, levado para sítios e companhias que não eram decerto as mais indicadas para a sua situação. Hyoga temia pelo amigo e tentava mantê-lo junto dele, transmitir- lhe alguma da sua paz e amizade.

Acabaram por fixar as suas saídas num bar um pouco mais calmo, em que uma rapariga nova cantava ao vivo vário temas. Shun fixava-a teimosamente todas as noites, o que começou a dar a ideia de que estava interessado nela. Mas não era isso. A rapariga era-lhe familiar, com longos cabelos escuros ondulados e olhos verdes, que o olhavam eternamente, transmitindo- lhe amor, confiança e mensagens que ele sentia e não compreendia. Como as músicas.

Até que chegaram as vésperas do aniversário de Ikki. E, sem que percebessem, uma lufada de esperança entrou na mansão Kido.