Capítulo Dois - O Melhor Aniversário

Harry ainda estava tonto. Quando olhou para o lado viu a Sra. Figg, que tinha acabado de aparatar com seu malão, a gaiola de Edwiges e o resto de suas coisas. Estava conversando - apressadamente - com o Sr. e a Sra. Weasley, sendo observada atentamente por Percy. Foi nesse momento que Rony finalmente veio falar com ele.

- Harry, como você está? Dumbledore não nos enviou nenhuma coruja para avisar da sua chegada!

- Eu imaginei Rony. Ele me enviou Fawkes. Acho que estava com medo de interceptarem a correspondência e descobrirem que eu estaria aqui. Creio que ele também quer evitar que todos vocês corram riscos por minha causa.

Nesse momento Rony riu com vontade e, batendo de leve no braço de Harry, olhou para os gêmeos e Gina, que agora voltava à sua cor normal. Ela sempre corava à simples presença de Harry. E disse, ainda rindo:

- Ah! Francamente Harry! Como se qualquer cuidado que alguém já tenha tomado nos tenha evitado de entrar em alguma encrenca. A encrenca sempre sabe o nosso endereço, onde quer que estejamos - Rony estava gargalhando e foi bruscamente interrompido pela Sra. Weasley.

- Ronald Weasley! - quando a mãe o chamava assim era certo de que não estava para brincadeiras. - Harry já enfrenta problemas suficientes para você ficar criando piadas deles - e, virando para Harry, completou. - Querido, você deve estar cansado. Tão logo Arabella termine de nos dar todas as instruções de Dumbledore para a sua segurança nós vamos almoçar e você poderá ficar mais a vontade junto com as outras crianças - todos os meninos Weasley protestaram, até mesmo a pequena Gina. Afinal todos já estavam bem crescidinhos, Gina tinha com quatorze anos, já estava uma mocinha.

Então a Sra. Figg - que estava entretida com a conversa agora com o Sr. Weasley e Percy apenas - percebeu que Harry já estava sendo acompanhado por Rony, os gêmeos e Gina para o segundo andar, e interrompeu bruscamente a conversa.

- Espere Harry, eu ainda não terminei com você - aquilo soou engraçado para Harry. - Eu ainda não te dei o meu presente de aniversário, querido.

Harry havia ficado espantado mas não protestou, aproximou-se da Sra. Figg e ela olhou ternamente para ele, estendendo-lhe um pacote plano e fino, como um livro, embrulhado em papel dourado. Harry prontamente abriu o pacote e viu que era um porta-retratos com uma foto, uma foto do seu batizado. Ele era, é claro, um bebê ainda mas podia reconhecer claramente sua mãe, com lágrimas nos belos olhos verdes, ao lado de seu pai, que sorria de forma mágica para o bebê. Na foto ele estava no colo de uma bela jovem de cabelos cor de fogo e olhos amarelos, muito expressivos. Ao lado dela Sirius, ainda novo com aspecto de muito compenetrado no momento, também estava nitidamente feliz. Todos sorriam, piscavam e acenavam, menos o Harry bebê, que bocejava preguiçosamente e piscava, sonolento, seus olhinhos verdes. Harry ficou muito feliz com a foto. Ele não sabia sequer que tinha uma madrinha, na verdade ficou tão feliz quando soube que tinha um padrinho que nunca parou para pensar que, pela lógica, era certo que tivesse uma.

- Sra. Figg, quer dizer, Arabella, essa moça na foto, ela é... - ele nem completou a frase.

- Sua madrinha, querido? Sim ela é, ou era - a Sra. Figg parecia muito triste agora. - Ela se chama Allana, querido, Allana Figg, e era a minha filha. Eu não sei onde ela anda e suponho que não esteja mais entre nós. Ela era muito amiga do seu padrinho, Sirius, e foi muito duro para ela quando ele foi enviado para Azkaban. Ela não acreditava na culpa dele, sabe? Foi uma das poucas pessoas que tentou provar sua inocência. Porém pouco tempo depois ela saiu de casa, estava decidida que sabia de uma maneira de ajudá-lo mas nunca mais voltou. Quando Sirius fugiu ainda tive esperanças de que ela retornasse, talvez estivesse com ele, mas foi em vão... - Harry percebeu o quanto era difícil para ela tocar naquele assunto, Arabella tinha os olhos marejados e viu que era o momento de encerrar o assunto.

- Muito obrigado! O seu presente significou muito para mim - ele abraçou a Sra. Figg, que, com a voz ainda embargada, disse.

- Ah! Harry! Eu assumi para mim mesma a tarefa de ser a sua madrinha, de certa forma. Não podia deixá-lo a mercê daqueles trouxas idiotas. Por isso eu te conheço desde que nasceu e por isso sempre tomei conta de você. Eu fiz por você o que Allana com certeza teria feito - Harry sorria, feliz, e não se intimidou ao ser abraçado e beijado na testa por aquela velha bruxa tão amável e tão sofrida. - Agora, querido, vá se divertir com os seus amigos! Eu ainda tenho muito que instruir os Weasley sobre as medidas de segurança que envolvem a sua estada aqui - nesse momento Harry pôde ver a expressão de paisagem no rosto de Percy. Sem dúvida ele ainda estava sob influência de Fudge, o Ministro da Magia, e acreditava ser impossível que Voldemort tivesse retornado.

Sem mais delongas, Harry subiu as escadas logo atrás de Rony e seus irmãos. Rony e os gêmeos já tinham levado todos seus pertences para o quarto de Rony, onde ficaria hospedado. Estavam todos muito animados por tê-lo novamente n'A Toca. Fred e Jorge estavam ansiosos para contar a Harry que já estavam começando a procurar um local em Hogsmeade para estabelecer a sua loja de logros, a "Gemialidades Weasley", com o dinheiro do prêmio do Torneio Tribruxo, que Harry havia lhes dado no fim do ano anterior. E Rony estava com saudades de conversar e jogar Xadrez de Bruxo com o amigo. Os gêmeos então saíram e deixaram os dois, conversariam com Harry depois.

Harry percebeu que o quarto de Rony estava um pouco diferente e com muita curiosidade perguntou por que havia mudado o quarto.

- Ah! Harry! Fred e Jorge fizeram algumas modificações no quarto deles e me deram muitas coisas que não iam mais usar. Aliás, eles me deram inclusive um bonito traje de gala novinho, para eu usar em ocasiões especiais - Harry sorriu, lembrando que ele mesmo havia pedido isso aos meninos. - Eles estão bem mais gentis comigo agora. Eu não sei o que deu neles, andam muito contentes.

- E Percy, Rony? Ele estava tão estranho lá embaixo...

- Ah, aquele lá não muda. Depois que Você-Sabe-Quem voltou ele anda meio ressabiado com papai, ele na verdade não acredita muito no que Dumbledore diz, ele sempre o achou um tanto quanto excêntrico. E Fudge é seu ídolo, de qualquer forma é muito difícil destruir uma imagem assim...

- É, Rony, eu percebi que ele estava achando exagerado todos os cuidados de Arabella. Mas eu estou tão feliz em estar aqui novamente, mal posso acreditar que seja verdade por isso nem estou me importando - os meninos ouviram um barulho no sótão, provavelmente o vampiro que vivia lá, e pela janela de Rony veio entrando uma coruja marrom com uma carta para ele.

Logo reconheceram pela bonita caligrafia que era de Mione.

- Nossa mãe! - exclamou Rony. - Eu esqueci completamente. Eu ia mandar uma coruja pra Mione quando você chegasse aqui. Pretendia enviar apenas um convite para ela, sem mencionar você, por questão de segurança. Ela vai me matar!

"Ronald Weasley,

Você poderia por acaso se dar pelo menos o trabalho de se manifestar?

Não custa enviar uma coruja aos amigos às vezes!

Hermione Granger"

Rony sabia que pelo tom da carta - e pelo fato de Mione ter escrito "Ronald" - ele poderia esperar problemas quando a encontrasse, pior do que aquilo só se ela tivesse lhe mandado um berrador. É certo que Harry havia acabado de chegar mas ele não tinha mandado sequer uma coruja para ela durante todas as férias e, mal sabia ele, esse tinha sido o principal motivo de Hermione - após receber a terceira coruja de Krum a convidando para ir à Bulgária - ter aceitado o convite. Então Rony prontamente pegou um pergaminho e escreveu:

"Mione,

Ficaríamos contentes em tê-la aqui para o fim das férias! Estamos com saudades do Harry também mas ele não poderá vir. Se quiser pode vir amanhã mesmo. Avise se não estiver bom para você.

Rony"

Rony achou melhor mencionar que Harry não iria, para despistar caso a carta caísse em mãos erradas, e preferiu usar de tom delicado. Entregou a carta à coruja marrom, dando-lhe também um pedaço de bolo de nozes e observou a coruja se afastando no céu.

- E aí, como foram as coisas nesse tempo que você ficou lá na casa dos seus tios?

- Para dizer a verdade eu não ouvi nenhuma notícia de nada. Não tive nenhum sonho estranho e a minha cicatriz não doeu sequer uma vez. Eu quase entendo a incredulidade de Percy pois se não tivesse sido eu a presenciar o ressurgimento de Volde... - Rony fez uma cara que ia passar mal, Harry não tinha problemas em pronunciar aquele nome mas corrigiu. - Quer dizer, Você-Sabe-Quem, eu mesmo teria certa dificuldade de acreditar, está uma calma quase assustadora. Eu perdi a conta das noites que eu passei em claro, na expectativa que algo terrível fosse acontecer, mas nada aconteceu. Ainda bem, acho eu.

- É verdade. Os jornais não informam nada. Você bem sabe que o Ministério ainda pode controlar a Imprensa Bruxa e já que Fudge não acredita no que aconteceu abafa todas as notícias que possam alarmar as pessoas. Mas papai sabe que algumas coisas estranhas aconteceram. Ele tem meios de descobrir, embora nós não saibamos muito quais sejam. Ele acredita que o Ministério e os jornais só vão se manifestar quando algo de muito ruim acontecer. Infelizmente eu acho que ele está certo.

- É, Rony, espero que não seja nada de muito grave... Eu não suportaria ser responsável pela morte de mais alguém - era a primeira vez que Harry impunha o que sentia em relação à morte de Cedrico Diggory. - Acho que já foi mais que suficiente para mim.

- Harry, você está sendo muito duro consigo. Nós dois sabemos muito bem que você jamais poria a vida de alguém em risco. Você não é o culpado pela morte do Cedrico, quem o matou foi Rabicho, a mando de Você-Sabe-Quem, e nem você nem ninguém pode tirar essa responsabilidade deles.

Os meninos ouviram a voz da mãe de Rony gritando do andar de baixo. O almoço estava na mesa. Mas eles comeriam dentro de casa, por questão de segurança. Algumas regras teriam que ser explicadas a eles também. Condições de Dumbledore para a permanência de Harry na casa de Rony. Todas seriam seguidas à risca, ninguém queria que Harry tivesse que ir embora ou corresse algum risco.

A Sra. Weasley havia feito um belo almoço e, com a ajuda de Gina, um delicioso bolo de aniversário para Harry. Mal sabia ele, e mesmo Rony, que Hermione chegaria no fim da tarde. De acordo com o que a Sra. Weasley havia combinado com ela - por um telefonema dado de uma cabine pública na cidade, o que para Molly, foi uma das maiores façanhas de sua vida. Fariam uma festa surpresa de aniversário para Harry. Seria a primeira festa da sua vida, ainda que em circunstâncias difíceis.

Todos já estavam sentados e assim que Harry e Rony se acomodaram o Sr. Weasley começou a dar todas as explicações necessárias:

- Bem meninos, como todos já sabem Você-Sabe-Quem retornou com toda a sua força - nesse momento Percy torceu o nariz. - Então nós teremos que tomar certas medidas para a proteção do Harry e do resto da família - Harry se sentia alegre por ser considerado parte daquela família que amava tanto. - Todos, eu digo TODOS - e olhou para os gêmeos, que fizeram a maior cara de injustiçados que conseguiram -, devem entender que temos que nos comportar como se Harry não estivesse aqui. Não devemos mencionar esse fato fora dessa casa. Isso inclui você, Percy, nem mesmo ao Ministro, está me ouvindo? - Percy concordou monotonamente, acenando com a cabeça. - Além disso não podemos deixar Harry sozinho. NUNCA! Apenas quando ele for ao banheiro deve ir sozinho, é claro - achou por bem acrescentar isso diante das risadinhas de Fred e Jorge e do rosto ruborizado de Gina. - E, por último, mas não menos importante, vocês só poderão ir lá fora com o Harry sob minha supervisão ou de sua mãe. Nós temos guardada conosco uma chave de portal enfeitiçada por Dumbledore pessoalmente que teletransportará a todos em segurança para Hogwarts imediatamente no caso de um ataque. Por isso, para Harry ir lá fora só comigo ou com a mãe de vocês junto. Gui está resolvendo alguns problemas para mim - Percy franziu a testa. - Quando resolver isso poderá vir passar algum tempo com vocês e sob supervisão dele vocês também poderão ir lá fora. Entendido? Agora vamos comer.

Dito isso todos concordaram e começaram a comer, os gêmeos rindo muito da cara de Percy, e Harry novamente preocupado porém extremamente grato por aquela família acolhê-lo tão bem, de modo a mudar toda a sua rotina em nome do carinho que tinham por ele. Após o almoço os meninos foram para a sala de estar jogar uma partida de Snap Explosivo. Porém Rony tinha sido convocado pela Sra. Weasley e Gina para ajudar na limpeza da cozinha. Afinal, faziam um rodízio de ajuda nas tarefas da casa. O Sr. Weasley e Percy já haviam desaparatado para o Ministério e a mãe de Rony olhava, feliz, para o relógio na parede, conferia que a posição do ponteiro com o nome de Carlinhos e o de Gui dizia "no trabalho" também. O resto da prole estava em casa e isso deixava Molly realmente muito feliz.

Enquanto Rony e Gina estavam ocupados Fred e Jorge tiveram um tempinho para conversar com Harry. Eles ainda não haviam lhe dado o seu presente, afinal.

- Harry, eu e Fred queremos te agradecer muito, estamos já procurando a loja para comprar em Hogsmeade. Assim que nos formarmos vamos começar a trabalhar lá.

- E sabe - continuou Fred -, nós vamos fazer muito sucesso. Já temos um grande estoque de "Gemialidades" guardado no nosso quarto, mudamos muita coisa por lá. Demos muitos presentes para o Roniquinho, até mesmo as vestes de gala que você sugeriu.

- Eu sei! Ele me contou - disse sorrindo, satisfeito.

- É, então eu e Jorge queríamos te dar o seu presente e saiba que deu um grande trabalho para nós - nesse momento Fred lhe entregou uma cópia exata, idêntica, ao Mapa do Maroto. - Nós fizemos uma cópia, sabe, antes de lhe dar o original daquela vez, e achamos justo que você fique com ela. Isso ainda pode ser útil a você.

Harry adorou o presente. Deu um largo sorriso e guardou o mapa com cuidado no bolso. Enquanto isso Rony voltava suado da cozinha junto com Gina, que ainda não tinha trocado uma só palavra com Harry desde que ele havia chegado.

- Olá Gina. Estava ajudando a sua mãe na cozinha? - realmente a escolha do que disse a ela foi péssima. Era óbvio que ela estava ajudando a mãe e a pergunta tinha sido a mais idiota possível. Mas já estava tão acostumado ao bloqueio que Gina tinha no que dizia respeito a si que talvez ele próprio já não se sentisse tão articulado para falar com ela.

Mesmo a pergunta sendo idiota, Gina sorriu de modo simpático. E dessa vez Harry pôde perceber que ela já não era nenhuma garotinha. Estava se tornando uma jovem muito bonita e ele se sentiu estranho ao enxergá-la assim, dessa forma, pela primeira vez. Ela respondeu sorrindo para ele, desta vez sem ruborizar:

- Estava sim Harry. Quando posso, ajudo a mamãe, sabe? Eu adoro cozinhar sem magia. Mamãe está me ensinando muitas coisas e... - antes que Gina pudesse terminar o que dizia Rony a interrompeu, caçoando.

- Essas mulheres de hoje em dia... Fazem qualquer coisa para fisgarem um marido - nesse momento Gina fez uma cara muito aborrecida, pediu licença e subiu, chateada, para seu quarto.

Harry olhou para Rony, repreendendo-o. Começaram uma partida de Xadrez de Bruxo, que durou até o final da tarde, Rony vencendo, é claro.

A Sra. Weasley pediu para os meninos subirem para tomar banho. Ela sabia que em pouco tempo Hermione estaria chegando, via Flu, para festa surpresa de Harry. Gina sabia de tudo e já estava arrumada. Usava um vestidinho de alças, branco com estampas florais miudinhas, e tinha o cabelo ruivo preso em um rabo de cavalo com cachos nas pontas. O cabelo de Gina tinha crescido muito, estava quase na cintura. Ela já tinha descido para ajudar sua mãe nos preparativos. Mas Mione e a festa não eram as únicas surpresas que Harry teria no seu aniversário. Sirius também iria. Ele havia praticamente implorado a Dumbledore para estar com o afilhado naquela ocasião. Sabia o quanto era importante para um garoto fazer quinze anos. É claro que iria como o cachorro negro Snuffles mas mesmo assim iria, e isso o deixava muito feliz. Chegaria trazido por Gui, que iria buscá-lo em um ponto de encontro previamente combinado. Harry teria a primeira e melhor festa de aniversário de toda a sua vida.

Já eram seis horas da tarde quando a lareira começou a faiscar e crepitar estranhamente, então lá de dentro saiu Mione. Ela também já estava pronta para a festa com um vestido rosa claro que lhe caiu muito bem. Os cabelos lisos - por um feitiço de alisar - e presos numa tiara prateada. Também estava muito bonita. Tinha quase quinze anos e desabrochava a olhos vistos. Gina veio contente recebê-la.

- Olá Mione! Os meninos ainda estão lá em cima, daqui a pouco mamãe vai mandá-los descer - nesse momento as meninas escutaram um barulho de carro e em um minuto Gui estava entrando na sala com um grande cão negro, Sirius.

A Sra. Weasley, que já tinha arrumado tudo, olhou feliz para o pequeno grupo na sala e disse:

- Agora só falta o papai e Percy - com um "pop" suave os dois aparataram na sala no mesmo instante e a mãe de Rony pôde finalmente chamar os meninos. - Queridos! Desçam! Venham jantar! - gritou.

Imediatamente desceram correndo Rony, Fred, Jorge, e por último, seguindo todos, Harry que, como os outros três meninos, mal podia acreditar no que via. Todos haviam gritado "surpresa". A Sra. Weasley havia feito todos os quitutes gostosos de seu arsenal culinário. Gina segurava um bolo com quinze velinhas acesas com chamas mágicas de cores diferentes. Mione estava de pé, ao lado de Sirius, que abanava freneticamente o rabo e todos imediatamente começaram um desafinado coro de "parabéns pra você". Harry estava tão feliz que mal conseguia falar.

- Meu Deus! Gente! Mi-minha nossa!... - gaguejou. - Vocês são a melhor família que alguém poderia ter! - incluía com isso todos, sem exceção. Seu sorriso iluminando os olhos verdes.

A festa continuou animada, os gêmeos fazendo das suas e provocando principalmente Percy, Gina e Mione trocando risadinhas sapecas entre cochichos, Rony e Harry se divertindo a valer com Snuffles. Foi então que Harry subiu discretamente para o quarto de Rony e, com um sinal, foi seguido rapidamente por Rony, Mione e Sirius. Chegando lá Sirius assumiu sua forma humana e pôde dar finalmente um abraço no afilhado.

- Harry! Eu estava tão preocupado com você! Não podia deixar de vê-lo, eu sei como é importante o aniversário de quinze anos. Por isso eu vim.

- Eu estou feliz Sirius. Como nunca. Mas eu também tenho minhas preocupações. Eu chamei vocês aqui para mostrar isso - Harry havia pegado a foto do seu batizado e mostrava agora para os três.

- Minha Nossa! Eu nem me lembrava dessa foto. A Allana era mesmo linda! E olha você, Harry, que preguiçoso! Ah! Tiago, Lílian, se nós ao menos soubéssemos do que estava por vir...

Harry guardou a foto, sabia como devia ser dolorido para Sirius rever e reviver tais momentos. Como sempre curiosa, Mione perguntou.

- Sirius, quem era essa Allana?

- Ih! Hermione, ela era uma grande amiga da mãe do Harry. Ela não estudava em Hogwarts mas era amiga da sua mãe. O pai dela era trouxa e colega de trabalho do pai de Lílian. Allana era, é claro, uma bruxa também mas seu pai não havia permitido que ela fosse para Hogwarts. Ele não tinha nada contra o fato da filha e da esposa serem bruxas mas não queria que a filha fosse para um internato. Então ela foi educada pela própria mãe, que pediu dispensa de Hogwarts para dar aulas para Allana. Arabella Figg era uma grande professora em Hogwarts na minha época. Mas de Allana eu nunca mais ouvi falar... Ela acabou se tornando muito mais que uma amiga para mim mas infelizmente aconteceu o que aconteceu e... Céus! Parece que foi tudo a mil anos atrás...

Harry percebeu que o assunto estava se tornando muito sério e sugeriu que descessem para participar da festa. Porém quando Sirius já estava novamente na forma de cão e Harry já estava saindo do quarto, seguido por Rony, Mione pediu que Rony esperasse. Ela queria falar com ele a sós. Harry imaginou o que viria. Ela contaria "as novidades" - fossem quais fossem elas - para Rony. Então saiu com Sirius, olhando de forma apoiadora para Rony antes de fechar a porta.

- Rony - começou tímida porém muito séria. - Você não me mandou nenhuma coruja nas férias! - Rony suspirou, tinha certeza de que ela abordaria aquele assunto.

- Ah, Mione! Eu sei, me desculpe, é que depois de tudo que aconteceu... - ele foi rapidamente interrompido.

- Depois do que aconteceu nós deveríamos nos unir, não nos afastar mais, Rony. Você tem idéia de como eu me senti sozinha? Eu não podia alarmar meus pais com o que havia acontecido nem desabafar com ninguém. Você sabe o que é ter que apelar para receber apoio de quem não é nem mesmo seu amigo quando seu melhor amigo, que deveria te apoiar incondicionalmente, nem mesmo se importa? - Mione tinha os olhos cheios de lágrimas, embora tentasse segurar ao máximo.

- Como assim? Apoio? Eu me importo sim! Como você pode duvidar disso Mione? E você recebeu apoio de quem, por acaso? - Rony agora estava começando a ficar realmente nervoso.

- Do Vítor, Rony - ele parecia chocado. - Eu aceitei o terceiro convite dele por que ele mandou três, Rony, TRÊS. Eu fui até a Bulgária, pelo menos com ele eu poderia dividir minhas preocupações. Ao menos foi o que eu pensei.

- O QUÊ? - Rony agora tinha elevado o tom da voz. - Você foi para a Bulgária atrás do idiota do Krum? Como? Por quê?

- Porque o IDIOTA que deveria me apoiar não estava nem aí se eu precisava de algum apoio! Mas agora, Rony, me pergunte por que eu só aceitei o terceiro convite. PERGUNTE, VAMOS RONY, PERGUNTE! - a voz de Mione alternava de um tom fraco e choroso para um forte e cheio de raiva. Seus olhos pareciam que a qualquer momento transbordariam de tantas lágrimas acumuladas.

- E POR QUÊ, HERMIONE? FALA LOGO SE ISSO É TÃO IMPORTANTE ASSIM PARA VOCÊ - Rony gritava agora, as orelhas tão vermelhas que parecia que explodiriam.

- Porque eu estava esperando que você me mandasse UM convite, Rony! Unzinho, bastaria, e eu estaria aqui com você no mesmo instante. Mas você não fez isso - Hermione agora falava calmamente e não continha mais as lágrimas, que escorriam livremente pelo seu rosto. - Por que eu sou sempre o último recurso para você, Rony? Isso dói, sabia? Você não tem idéia... - agora a voz dela sumia e se tornava quase um sussurro, um fio de voz. - De como eu me sinto.

Nesse momento foi como se para Rony o mundo parasse, ele sentia como se detivesse todo o conhecimento do mundo. Olhou para Mione, que agora soluçava e tremia, chorando convulsivamente, e finalmente entendeu por que brigavam tanto. Por que ela era tão dura com ele às vezes e ao mesmo tempo tão doce. E, acima de tudo, entendeu por que, apesar de saber que era bem mais fraco que Vítor Krum, teria facilmente enfiado um soco no meio da cara do outro naquele momento, só pela ousadia de ter mandado tantos convites assim para Mione. Rony agora sabia...

- Mione! - disse carinhosamente e simplesmente a abraçou, forte.

Sentiu por alguns momentos as lágrimas quentes dela molharem toda sua camisa. Rony suspirou e, com os próprios olhos marejados, levantou levemente o queixo dela. Hermione estava com o rosto lavado de tanto chorar. E assim, quando Rony tocou de leve os lábios dela com os seus, sentiu o gosto salgado das lágrimas misturado à doçura dos lábios. No início Mione se assustou com a atitude mas rapidamente correspondeu ao beijo, que de terno havia se tornado num grande beijo apaixonado, daqueles que Hermione costumava ver em filmes melosos trouxas. Rony a apertava contra si, segurando-a pela cintura como se o mundo fosse acabar a qualquer momento, e Hermione, com os braços em volta de seu pescoço dele, acariciava seu rosto, seus cabelos vermelhos, sua nuca. Os lábios deles então se entreabriram e o beijo foi se tornando cada vez mais intenso, ambos já não respiravam normalmente, suspiravam de maneira entrecortada e estavam sentindo mais calor do que em qualquer outro momento da vida deles, parecia-lhes agora que o quarto estava girando muito depressa. Então finalmente pararam. Sorriram um para o outro e foi Hermione quem falou primeiro.

- Você não tem idéia do quanto eu esperei para ter esse momento com você - Hermione ainda estava abraçada a ele e sussurrava estas palavras ao seu ouvido.

- Espero que tenha valido à pena pois eu realmente demorei para perceber as coisas - Rony falava também baixinho, junto ao ouvido de Mione, mas subitamente a afastou e olhou bem dentro dos olhos dela com expressão preocupada. - Er, Mione... Esse foi o seu primeiro... É... Ahn... Quer dizer... - Mione riu com vontade.

- Sim, Rony, foi - disse, olhando dentro dos olhos de Rony, limpando a expressão apavorada deles. - Eu te disse que fui a Bulgária procurar apoio mas não te disse que tinha encontrado. O Vítor é a pessoa mais chata do mundo, sabe? É quase tão cheio de si quanto Malfoy - ela riu. - E depois, como eu poderia beijar um garoto quando estou perdidamente apaixonada por outro? - nessa hora ela ruborizou tanto quanto Gina. Rony apenas sorriu.

- Só para checar... Esse outro sou eu, né? - agora riam com vontade. - E Mione, não precisa ficar vermelha, não... Eu também só poderia dar o meu primeiro beijo em quem eu estivesse tão apaixonado quanto uma pessoa pode estar - então, estendendo a mão para Mione, Rony ajoelhou. - Hermione Granger, você quer namorar comigo?

- É claro que eu quero, Ronald Weasley! - dessa vez o tom não era formal. - É tudo o que eu mais quero nesse mundo! - Hermione então pegou na mão de Rony, deu um beijinho de leve nele e sorriu. - É melhor descermos, já são nove horas e a festa deve estar acabando, temos que fazer companhia para o Harry também, afinal é aniversário dele, vamos? - desceram as escadas de mãos dadas e foram ter com os outros na sala.

Harry já estava cortando o bolo e após provarem e elogiarem bastante o bolo que Gina tinha feito Gui levou Snuffles embora e Percy, que tinha que ir resolver alguns assuntos do Ministério, também se retirou. Havia terminado o melhor aniversário que Harry Potter já tinha passado na sua vida, ainda que tivesse sido o único.