Capítulo Quatro - O Golpe No Ministério

Assim que Harry desmaiou foi levado para o quarto de Rony pelo Sr. Weasley e Gui, que estavam muito preocupados, além de todos estarem muito chocados com a notícia. A Sra. Weasley havia subido com Gina, que estava inconsolável - Colin era seu colega de turma. Hermione chorava, abraçada a Rony, havia criado uma grande afeição pelo menino, que era um grande fã de Harry, sempre disposto a fotografá-lo nas mais inusitadas situações, o que de fato os irritava um pouco mas não deixava de ser engraçado quando viam as fotos. Além do mais, ela tinha belas fotos junto aos amigos tiradas gentilmente pelo menino. E estava morto. Ninguém havia feito nada que pudesse ter impedido, não se tinha sequer pistas de quem tinha cometido tal atrocidade. Era óbvio, para o Sr. Weasley, que Comensais da Morte eram responsáveis pelo crime. Mas com o Ministério dividido ficava difícil tentar qualquer investigação mais profunda sobre o caso, ainda não se sabia exatamente quem era leal a Fudge e a Dumbledore dentro do Ministério. Gui estava incumbido dessa tarefa, já detinha uma grande lista de nomes de bruxos influentes do Ministério simpáticos às idéias de Dumbledore. Era só uma questão de tempo para executarem o plano que haviam tramado. Seria dado um golpe no Ministério. Eles deporiam o Ministro, Cornélio Fudge, colocando à frente alguém de confiança, alguém com vasta experiência nas artes das trevas, com grandes feitos, admirável coragem e ousadia. E todos concordavam que a melhor pessoa para o cargo era o ex-auror Alastor "Olho-Tonto" Moody.

Harry estava acordando, deitado na cama de Rony, cercado por todos - exceto a Sra. Weasley e Gina, que ainda estavam no outro quarto.

- Anh? - disse, ainda tonto. - O que aconteceu? - antes que alguém pudesse lembrá-lo do que havia acontecido Harry, que sentia ainda a testa latejar pela dor que tivera em sua cicatriz, já tinha se lembrado de tudo e, com os olhos cheios de lágrimas, de raiva e tristeza, olhava atentamente para o Sr. Weasley.

- Harry, filho, você não deve ficar assim! Nós sabemos que a culpa não é sua, você fez tudo para que Fudge acreditasse em você ano passado. Se ele não fosse tão idiota... - Percy franziu a testa. - Enfim, isso tudo possivelmente não estaria acontecendo mas tinha que ser assim, não? Talvez agora aquele imbecil entenda que o que estamos enfrentando não é brincadeira e que é necessária uma pronta ação para contenção das desgraças, que com certeza estão por vir - Harry estava muito atento e concordava com o pai de Rony.

- Sim Sr. Weasley, isso tudo só está acontecendo por que não deram ouvidos a Dumbledore. Mas nós temos que fazer alguma coisa, não podemos deixar que esses miseráveis saiam por aí matando inocentes. Tem que haver algo que eu possa fazer - Harry, que havia levantado da cama, ainda tonto, tombou e foi amparado por Gui, que acenava com a cabeça para que continuasse deitado.

- Gui, eu não quero ficar deitado aqui enquanto tudo está acontecendo lá fora, eu quero ajudar, tenho que assumir as minhas responsabilidades - Harry estava falando como um adulto, estava calmo e sério, certo de que deveria desempenhar algum papel importante em tudo aquilo. O Sr. Weasley o olhava seriamente.

- Harry, você sabe que eu tenho você como um filho então eu vou dizer o que eu diria para qualquer um deles nessa situação. Você é uma das pessoas mais corajosas e íntegras que eu conheço. Tenho orgulho de te conhecer mas você precisa entender, agora que você já é um rapaz, que às vezes uma pessoa não pode abraçar o mundo todo com os braços. Eu sei o quanto você quer e pode ajudar, a sede que você tem de se provar útil... Mas, Harry, você é muito importante, de algum modo você é especial, você é único. Você é o único que sobreviveu a Você-Sabe-Quem. Eu entendo que você não é mais nenhuma criança. Aliás, você nunca teve direito de viver sua infância plenamente. Passou por situações que muitos bruxos adultos sequer suportariam presenciar mas, no momento, precisamos protegê-lo. Essa é a vontade de Dumbledore e você deve compreender que ele tenha os seus motivos para não querer te expor - Harry olhava atentamente para o Sr. Weasley, sabia o que queria dizer, sabia que queria protegê-lo, mas em nenhum momento o estava fazendo se sentir inútil ou criança demais para fazer alguma coisa. Apenas ainda não tinha chegado o momento de ele, Harry, desempenhar o seu papel naquela guerra.

- Sr. Weasley, eu entendi bem. Acho que meu pai não teria falado diferente. Pode deixar, farei o que Dumbledore aconselhar, eu confio nele acima de tudo.

Harry estava convicto agora de que ajudaria mais dando conforto aos amigos. Via que Hermione ainda tinha lágrimas nos olhos enquanto se aninhava nos braços de Rony, e Gina, que a esta altura estava juntamente com a mãe no quarto do irmão, estava visivelmente arrasada. Desempenharia um grande papel ali, ajudando aqueles que tanto amava. E quando chegasse a hora de fazer o que devia faria novamente, como antes, com muita determinação.

- Bem, queridos, eu vou fazer o almoço. Gina, fique aqui com os meninos, eu não vou precisar de muita ajuda, sobrou muita coisa da festa de ontem. Creio que vocês devam ficar juntos por um momento - a Sra. Weasley desceu junto com os outros, deixando apenas Rony, Mione, Gina, Harry e os gêmeos no quarto.

Quando os adultos saíram Harry olhou para os gêmeos e, sinalizando para eles, disse:

- Eu gostaria de partilhar com os outros o nosso segredinho, vocês concordam? - Harry se referia à abertura da loja de logros que havia financiado. - Não acho que devam existir mais segredos entre nós agora.

- Ok! - responderam os meninos em coro enquanto Rony, Mione e Gina olhavam para eles com curiosidade.

Harry contou tudo para os outros, de como esperava que os gêmeos ajudassem a alegrar o mundo bruxo com os seus feitos e o quanto poderiam ser úteis, criando novas formas de resistir às artes das trevas, uma vez que criatividade era seu forte.

Todos concordaram e prometeram não contar nada aos adultos, que poderiam ficar alarmados, o que era bem fácil em se tratando das artimanhas dos gêmeos. Os dois se retiraram e foram para o quarto, pois segundo eles estavam tendo algumas idéias que gostariam de pôr em prática. Harry sorriu e quando saíram do quarto mostrou para Gina, Rony e Mione a cópia do Mapa do Maroto que havia ganhado de aniversário dos meninos.

- Harry, o que é isso? - Gina perguntou, na realidade ela nunca havia estado a par das aventuras do inseparável trio e só agora começava a tomar parte.

- Isso é um mapa de Hogwarts e das suas imediações. Eu quero que todos nós saibamos como usá-lo, isso pode ser útil para nós enquanto estivermos na escola, por razão de segurança. Podemos ver quem está no interior do castelo, passagens secretas e se alguém estiver invisível ou disfarçado, ainda assim leremos o seu nome no mapa. Eu não quero que nada aconteça a nenhum de vocês, principalmente por falta de informação. Chega de tragédias por causa disso.

Os amigos concordaram e Harry explicou a Gina também como funcionava a capa de invisibilidade de seu pai, disse que tanto o mapa quanto a capa, estariam a disposição de todos no caso de alguma encrenca.

- Nós temos que nos unir agora. Eu não vou perder nenhum de vocês se eu puder evitar.

Hermione percebeu a intenção de Harry e deu um abraço no amigo, que imediatamente puxou Rony, que puxou Gina. Os quatro permaneceram abraçados por alguns instantes, até que a mãe os chamou para o almoço.

Não houve muita conversa durante a refeição, o Sr. Weasley praticamente engoliu a comida e desaparatou de volta para o Ministério. Gui e Percy não puderam ficar para o almoço. O mais velho estava fazendo muitos contatos no Ministério e já contava com a quantidade de votos necessária para depor o Ministro Fudge. Havia trabalhado muito desde o ocorrido e, por ser um homem muito inteligente e perspicaz, tinha conseguido persuadir muitos integrantes do Ministério em prol da deposição de Fudge. E com o assassinato do menino Creevey seria praticamente impossível evitar que isso acontecesse.

Embora Gui estivesse agindo em sigilo Percy sabia que algo estava sendo tramado. Gui estava agora trabalhando junto com seu pai e Percy desconfiava que fariam algo para ameaçar Fudge. Isso de certa forma o incomodava absolutamente. Havia sido discípulo de Cornélio e sua rápida ascensão dentro do Ministério fora sabidamente devido a esse. E se tinha uma coisa que Percy sabia ter, como qualquer Weasley, era gratidão.

Ele não estava em uma situação das muito confortáveis. Seu pai tinha pontos de vista diametralmente opostos aos de Fudge e Percy, por mais que amasse o pai o considerava um tanto quanto excêntrico, com as suas manias de colecionar objetos e utensílios trouxas. E Dumbledore para ele era também igualmente ou mais estranho que seu pai, embora soubesse que o diretor era uma pessoa muito bem intencionada. Enfim, Percy se sentia dividido, em conflito absoluto, mas tendia a acreditar na teoria de Fudge de que na realidade havia um grupo de engraçadinhos, se é que podiam ser chamados assim, imitando o modo de agir dos antigos Comensais da Morte numa tentativa de criar uma histeria coletiva por alguma razão misteriosa.

Talvez por medo e orgulho, mais do que por ignorância, Percy acreditava que essa fosse a verdade, não achava que os outros eram loucos mas sim que estavam completamente envolvidos por uma alucinação, um engano. Sabia que mais cedo ou mais tarde haveria um confronto de interesses e se veria num impasse, tendo que escolher um lado. Possivelmente isso se tornaria uma questão familiar muito séria, já que estaria então pela primeira vez em um campo contrário ao de seu pai.

Ao final daquela tarde aconteceu o que Percy tanto temia. O Conselho do Ministério fora convocado às pressas para uma reunião. Era estritamente fundamental que todos comparecessem pois ao que parecia haveria uma importante questão a ser votada. Muito trêmulo, Fudge entrou acompanhado de Percy na imensa Assembléia. O Sr. Weasley, bem como Gui, já estava presente e acompanhava Alastor "Olho-Tonto-Moody", que parecia estar tendo uma crise, o olho girando em todas as direções rapidamente, aparecendo e desaparecendo da órbita. Havia aproximadamente duzentos bruxos no auditório, alguns nunca sequer já tinham ido ao Ministério. Eram inclusive de outros países, participantes dos Plenários Ministeriais por corujas ou representantes, mas ainda sim estavam naquele dia ali. Isso preocupou Percy, sabia que de alguma forma os que votavam decisões realmente importantes eram obrigados a estarem presentes e nunca havia tido um coro tão grande de bruxos para decidir nenhuma outra questão antes. Então, pigarreando, Arthur Weasley conduziu o início da reunião.

- Ilustríssimo Senhor Ministro, caríssimos colegas, como todos foram informados esta reunião extraordinária foi convocada às pressas para que um assunto de suma importância fosse discutido e votado - Fudge estava tão vermelho de raiva que mal pôde se conter.

- Ora, Arthur, vamos parar com essa encenação! Nós sabemos que nenhuma reunião de emergência contaria com bruxos que nem mesmo moram no nosso país. Francamente... - Percy estava sem ação mas sabia que Fudge tinha razão, aqueles bruxos tinham sido convocados com antecedência e a reunião não tinha nada de extraordinária.

- Ok! Cornélio, eu me expressei mal mas creio que esta reunião possa ser considerada emergencial, tendo em vista os recentes acontecimentos. Afinal, houve um assassinato e isso significa que Você-Sabe-Quem está começando a agir - todos na sala tinham a expressão consternada.

- Weasley, você é realmente um patife! - Cornélio agora tinha o tom de escárnio na voz. - Eu, sinceramente, não tenho nada que fazer aqui. Eu sei que o que quer que vocês tenham tramado já está comodamente decidido, obviamente você e esse seu filhinho aí - apontava para Gui com um aceno desdenhoso de queixo - já se certificaram de que detêm a maioria dos votos e, como posso presumir, pela presença de Alastor "Olho-Tonto" aqui, ele tomará parte nas tramóias de vocês. Então antes que vocês votem pela minha deposição eu renuncio. RENUNCIO! - berrava. - Não quero mais fazer parte de um Ministério controlado por loucos e excêntricos. Vamos Percy, creio que você, meu jovem, mereça um futuro brilhante, já que é uma pessoa equilibrada, não vai querer tomar parte dessa insanidade - Percy não sabia o que fazer, olhou tristemente para seu pai e Gui, finalmente ergueu a cabeça e desaparatou com Fudge.

Arthur sentiu uma profunda tristeza ao ver a cena mas sabia que no momento era mais importante centrar todas as energias na composição do novo Ministério. Haviam acabado de dar um golpe na equipe de Fudge e Alastor Moody estaria em alguns minutos assumindo o cargo de Ministro da Magia. Então continuaram a reunião, agora era Gui quem comandava.

- Primeiramente, por uma questão formal, deveremos votar um novo Ministro para a reunião prosseguir. A nossa proposta é Alastor Moody. Aqueles que forem a favor levantem a mão, por gentileza.

Cento e oitenta e sete votos foram contados. Alastor estava eleito, com maioria absoluta, o trabalho de Gui havia surtido efeito.

- Agora, Ministro Moody, creio que Vossa Excelência, na qualidade de autoridade maior aqui, deva assumir a condução desta reunião - disse solenemente.

- Obrigado meu rapaz, mas todos podem me chamar de Alastor aqui. Somos igualmente importantes nessa guerra. Iniciaremos uma nova era no Ministério. Com a ajuda de Arthur Weasley e Mundungo Fletcher procuraremos coordenar nossas forças com uma equipe de bruxos treinados, infiltrados nos setores trouxas estratégicos: a polícia, o departamento de inteligência e o próprio governo trouxa. Temos que vigiar os passos de Você-Sabe-Quem bem de perto em todas as frentes possíveis. Não sabemos como ele agirá em seguida, por isso coordenaremos várias frentes de ação. Outra modificação é que anistiaremos todos os gigantes que forem simpáticos à nossa causa e inimigos do Inominável. Para isso, Rúbeo Hagrid, um meio gigante e da mais absoluta confiança de Alvo Dumbledore, está nas montanhas nesse exato momento, negociando com um grupo de gigantes essa questão. Madame Maxime, diretora da Escola de Magia francesa Beauxbatons, está com ele para ajudá-lo. Uma outra questão complicada é Azkaban. Nós não sabemos ainda como os dementadores podem ser destruídos, uma vez que não estão vivos de fato. Mas acreditamos que assim que seja possível devemos removê-los para algum local seguro e distante da prisão pois, como sabemos, há ainda bruxos das trevas extremamente perigosos por lá e simpáticos Àquele-Que-Não-Devemos-Nomear. Devemos pensar em uma solução para a prisão rapidamente, seria extremamente indesejável que os dementadores fossem arrebanhados para o lado inimigo, uma vez que essas criaturas já possuem tendências malignas demais para o meu gosto. Outro assunto importante mas ainda mais delicado é o que faremos com aqueles que forem suspeitos de serem Comensais da Morte. Mas esse será o último de nossos problemas a ser resolvido. A primeira medida é a vigilância constante.

Todos ouviam atentamente, vez ou outra havia uma manifestação favorável, e mesmo a minoria que era contrária ao mandato de Moody agora estava realmente simpatizando com as suas idéias. Alastor era muito carismático e tinha o dom da oratória. Logo todos na sala estavam aplaudindo veementemente. E no fundo da sala podia ser notado um velho bruxo com óculos de meia-lua e vestes vermelhas, sorrindo, muito satisfeito, em silêncio.

Já era tarde da noite quando o Sr. Weasley aparatou na sala de estar. Molly parecia extremamente triste. Todos estavam sentados na mesa de jantar em silêncio e de cabeça baixa. Em um canto da sala estava Percy, olhando para o chão, roupas formais e as malas prontas. Arthur entendeu a tristeza de todos. Seu filho estava saindo de casa.

- Pai - começou friamente. - Eu estou saindo, eu não tenho mais um emprego no Ministério e o Sr. Fudge acha que eu tenho um futuro promissor na carreira burocrática. Por isso eu vou acompanhá-lo até a Irlanda, ele conhece por lá bruxos muito influentes, que poderão me ajudar na minha carreira - Arthur apenas olhava para o filho.

- Está bem, Percy, você é adulto agora e, sendo assim, é servo das próprias convicções. Não posso mudar o que você acredita, filho, infelizmente. Mas mesmo assim me orgulho de saber que você é fiel ao que acredita como verdade. Não vou te pedir para ficar ou te impedir de partir - Molly olhou ressentida para o marido, já havia feito uma grande cena para que o filho ficasse e mesmo Fred, Jorge e Rony estavam com tanta raiva do irmão por ter feito a mãe chorar, haviam também criado uma enorme confusão para demovê-lo da idéia de deixar A Toca. Gina havia apenas subido para seu quarto e provavelmente ainda estava chorando, era difícil para ela, sendo a caçula, ver seus irmãos mais velhos partirem, ainda mais dessa forma. - Mas saiba, meu querido, que essa casa será sempre sua, bem como a nossa família sempre o acolherá com amor. Afinal, nós amamos você muito - pai e filho se olharam nos olhos.

Percy estava quase hesitando em ir mas seu orgulho era maior. Ele não conseguiria destruir a imagem de Fudge que havia construído dentro de si durante todos aqueles anos. Então, num aceno de cabeça para os pais, ele desaparatou. Molly parecia que ia se partir ao meio de tanto desgosto. Olhava para o marido com mágoa, raiva, tristeza e preocupação. Os meninos, Harry e Hermione subiram, para deixar os dois mais a vontade. Naquela noite uma parte da família Weasley havia se perdido e isso era doloroso para todos. Principalmente para os pais, que agora precisavam conversar bastante para tentar entender aquela situação tão absurda.

- Molly, eu não podia fazer nada, querida... Você já sabia que isso poderia acontecer, meu amor, nós fomos avisados - Arthur se sentia culpado pelo que tinha acontecido mas sabia que era inevitável que tomassem o controle do Ministério.

- Eu sei, Arthur, mas dói - ela chorava e agora o marido a abraçava forte e tremia junto dela, chacoalhado pelos soluços da esposa. - Ele é muito criança. Não é como Gui e Carlinhos. Ele é um cabeça dura, teimoso e orgulhoso.

- Ele é um Weasley, Molly, e sempre será, isso não poderá mudar nunca. Nunca. Ele pertence a essa família como essa família pertence a ele. O importante é que nós estaremos sempre aqui para ele, de braços abertos. Amando-o - Arthur olhava agora nos olhos de Molly.

- Eu sei, querido, mas eu temo que ele se meta em encrencas, sabe lá onde esse orgulho desmedido vai levá-lo... - Arthur sorriu.

- Molly, meu anjo, um dia o meu orgulho desmedido acabou me levando até você. Desde então não há um só dia da minha vida em que eu me esqueça de agradecer por isso ter acontecido - ele beijou ternamente os lábios da esposa. - Tudo ficará bem, meu amor, precisamos ficar fortes agora, pelas crianças, concorda? Nós temos que continuar sendo o porto seguro deles.

- Está bem, querido, você está certo. Gina está inconsolável e os meninos, acho que até mesmo o pobrezinho do Harry, gostariam de dar uma surra daquelas em Percy. Precisamos de calma agora. Vamos, vamos subir para dormir - quando já estavam lá em cima a Sra. Weasley teve uma idéia.

- Arthur, você acha que poderia encontrar um tempinho para nos levar amanhã ao Beco Diagonal? Sabe, para comprar o material das crianças e levá-los para passear? Tenho a impressão de que isso iria animá-los muito.

- É claro, querida. Prepare os meninos, nós iremos após o almoço. Eu vou pedir uma folga para Alastor. Creio que ele não vá se importar, diante do que houve com Percy. Vá avisar para as meninas que eu falo com os rapazes - cada um se dirigiu a um quarto.

Gina ouviu batidas à porta, Molly tinha a expressão muito mais tranqüila agora.

- Entre, mamãe, por favor - a menina tinha os olhos vermelhos. Era o segundo dia que passava praticamente inteiro chorando. Desse jeito seus olhos ficariam mais injetados que os do vampiro do sótão.

- Querida, amanhã nós iremos passear um pouco. Vamos comprar o material de vocês no Beco Diagonal. Papai vai pedir uma folguinha de tarde e vai nos levar. Não é uma boa idéia, Hermione? - Mione apenas concordou com a cabeça, qualquer coisa que os tirassem daquela casa seria uma boa distração.

Enquanto isso o Sr. Weasley estava dando a notícia aos garotos.

- Rony, Harry, amanhã vamos fazer compras no Beco Diagonal. Que tal? Compraremos o material de vocês para a escola. Tomaremos sorvete e tudo o mais - queria parecer despreocupado mas não era muito bom em fingir.

- Está bem papai, avise ao Fred e ao Jorge. Eles estão trancados há horas no quarto. Devem estar bolando alguma vingança contra Percy, acho que vão mandar bombas de bosta para ele ou coisa pior, o que é na verdade bem menos do que "aquele" lá merece - eles riram e o Sr. Weasley saiu do quarto.

Todos já estavam dormindo mas Rony rolava de um lado para outro na cama. O que seu irmão havia feito o tinha deixado fora de si de tanta raiva mas havia se contido em consideração à sua mãe e Gina, que estavam muito abaladas. E mesmo que se exaltasse, nada seria comparado aos gêmeos, prometendo mandar BBB's (Bombas de Bostas Berradoras), a última "gemialidade" da dupla, para Percy no trabalho novo na Irlanda todos os dias.

Rony decidiu levantar, precisava desabafar com alguém ou desabaria. Mas, percebendo que Harry dormia profundamente, parecendo estar realmente tendo um sono tranqüilo - o que sabia ser raro para o amigo -, optou por não o acordar. Ainda assim, sabia que não podia deixá-lo sozinho, então resolveu que iria até o quarto de Gina o mais rápido possível e a enviaria para seu quarto, para tomar conta de Harry enquanto conversava com Hermione. Com isso em mente, Rony abriu sorrateiramente a porta, esgueirou-se silenciosamente até o quarto de Gina e a acordou de leve.

- Gin, Gina, Virgínia. Acorda, vamos! - ele sussurrou ao ouvido da irmã, que entreabriu as pálpebras.

- Rony? O que você está fazendo aqui? - ela falava baixinho, para não acordar Mione. - O Harry está bem? O que aconteceu com ele? - era impressionante como mesmo com todo aquele sono o primeiro pensamento de Gina era sempre para ele.

- Está, está dormindo calmamente lá no meu quarto e... - ele nem pôde terminar. Gina havia agora aumentado um pouco o tom da voz, o suficiente alto para acordar Mione mas suficientemente baixo para evitar que a casa toda despertasse.

- Como você o deixou sozinho? Você tinha que protegê-lo - ela parecia indignada.

- Eu não deixei - Rony explicou enquanto Mione se espreguiçava e assistia à cena. - Quer dizer, deixei por alguns segundos, eu vim pedir para você ficar lá e... - novamente ele não terminou a frase, Gina já estava de pé, bem acordada, e deixando no ar apenas a frase: "Contratempos só têm esse nome porque basta um segundo e eles acontecem", já havia disparado para o quarto de Rony e desaparecido porta afora.

- Rony, o que houve? Você está se sentindo bem? Sabe, eu até entendo o ponto de vista da Gina - disse Mione, totalmente descabelada e bocejando.

- Ah, Mione! Eu sei disso... Mas é que é tão bom ter você aqui sabe? Ter você assim, para mim... - era ótimo ouvir aquilo mas ela sabia que ele não havia criado tanta polêmica com Gina e arriscado Harry, deixando-o sozinho no meio da noite, para apenas fazer uma declaração romântica daquelas. - Eu estava me sentindo só. Eu sei lá, essa história do Percy me tirou um pouco do sério. Eu não sei o que fazer em relação a tudo isso que aconteceu hoje. Nós, os Weasley, temos dificuldades em tomar atitudes rapidamente - Mione sabia, a prova era a demora que tinha sido para Rony perceber, finalmente, que gostava dela mais do que como uma amiga. - Eu acho que eu simplesmente precisava sentir algo familiar nesse momento, sabe? Algo que eu tenha certeza, em que eu acredite piamente... Como o que eu sinto por você - ela sorriu, era a melhor declaração de amor do mundo todo aquilo. - Eu precisava de um abraço, Mione. Não de qualquer um, do seu abraço, para ser bem exato.

Mione apenas olhou nos olhos dele e, gesticulando, chamou Rony para perto de si. Ele sentou na beirada da cama e ela o abraçou com força e com todo o carinho. Então ela levantou as cobertas e fez com que Rony se deitasse ao seu lado, batendo de levinho com a mão no colchão. E quando ele se deitou ao lado dela Mione o envolveu em seus braços e pôde perceber que ele estava chorando, como um menininho assustado.

- Vai ficar tudo bem Rony... - Mione não podia suportar Rony chorando e sofrendo daquela forma. - Eu te amo! - era a primeira vez que ela dizia isso e mesmo estando constrangida com toda a situação, de ter um rapaz feito, chorando, deitado na sua cama Mione não imaginava um melhor momento para dizê-lo. Ele olhou para ela e sorriu.

- Eu também te amo, Mione... Mais que tudo, é essa a única certeza da minha vida - e a aninhou em seus braços, beijando-a apaixonadamente.

Dessa forma eles adormeceram, juntos, abraçados, certos do amor declarado por ambos, um pelo outro. Felizes e reconfortados, acima de tudo, na amizade que nutriam mutuamente.

Enquanto isso Gina, que já estava no quarto de Rony, observava Harry dormir. Apreciava cada detalhe dele. Estava atenta à cadência da sua respiração. Como era possível ela se sentir como se sentia perto dele? Dessa forma tão avassaladora e surpreendente? Intoxicada. Era como se ela estivesse embriagada, absorvida na sensação de estar tão próxima. Como ser nocauteada por um Trasgo Montanhês. Tinha certeza que ele nunca a veria da forma que o via, como a expressão viva do próprio amor, mas vê-lo daquele modo, dormindo inocentemente daquela forma, totalmente passivo, fazia sentir menos intimidada em sua presença. Daquele jeito ele parecia indefeso e não a ameaçava tanto.

Então, num ato de muita ousadia, Gina se aproximou nas pontas dos seus pés da cama de Harry. Queria estar cada vez mais próxima dele. Ela observava, dessa nova perspectiva, que seus olhos se moviam rapidamente sob as pálpebras. Ele estava sonhando e com certeza dormia profundamente. Aproximou-se ainda mais e então, sentindo o calor que emanava do seu corpo e mesmo estando trêmula como nunca, passou a mão suavemente em sua testa, acariciando seus cabelos negros, deixando à mostra a famosa cicatriz em forma de raio. Ele nem ao menos se moveu ao toque de Gina, devia ter o sono muito pesado quando era tranqüilo ou mesmo estar tendo um sonho muito agradável. Ela continuou olhando para ele, maravilhada com o que via. Seu peito subia e descia num ritmo suave, seus olhos fechados, as mãos repousadas de leve sobre a própria barriga e os lábios parecendo convidativos.

Gina não conseguiu resistir aos seus impulsos. Ela decidiu fazer uma loucura. Sabia que seria uma oportunidade única em sua vida e se a perdesse não se perdoaria jamais. Ela então fechou os olhos, não sabendo se para afastar aquela idéia maluca ou se para apurar ainda mais o sentido do tato, e quando percebeu já havia delicadamente encostado seus lábios quentes e entreabertos nos de Harry Potter.

Aquele beijo, infantil e egoísta que havia dado nele, era tecnicamente seu primeiro. Seria, possivelmente, a relíquia mais preciosa que ela guardaria na lembrança. Embora Harry sequer tivesse consciência do que ela havia feito, tinha agora um sorriso quase imperceptível nos lábios.

Gina se sentiu tão envergonhada e culpada que rapidamente cessou o toque de seus lábios nos dele. Tremia dos pés à cabeça e um calor invadia todo o seu corpo, tão forte que vibrava por dentro. Como uma criança que é repreendida fazendo sua primeira travessura, ela se afastou num instinto primário de fugir da cena do crime. Deitou-se, sentindo-se agora a uma distância mais segura dele, na cama de Rony. Adormeceu embalada pelo ritmo da respiração de Harry e pela lembrança da sensação maravilhosa que tinha sentido com aquele beijo, na realidade com o simples toque dos lábios dele nos seus. Ela nunca havia sido tão íntima dele nem de ninguém antes, aquela era a experiência mais romântica e ousada de toda a sua vida.

De manhã, quando Harry acordou, ele se espantou ao ver Gina dormindo ao seu lado, na cama de Rony. Ela estava descoberta, toda encolhida, mãos unidas e joelhos dobrados, como um anjinho deveria dormir.

Estava ficando muito bonita mesmo, estava se tornando uma mulher. Harry pensava, meio perturbado por olhar para ela - no momento indefesa - dormindo daquela forma. Ele se aproximou e tocou de leve nas mãos dela, que estavam geladas. Então percebeu que ela havia dormido sobre as cobertas, devia estar com frio. Ele a cobriu com suas cobertas e saiu do quarto sem perceber que ela, automaticamente, havia se aninhado preguiçosamente naquelas cobertas que tinham seu cheiro.

Ele supôs, diante daquela situação, que Rony estava junto com Hermione e foi até o quarto de Gina. Chegando lá encontrou Rony e Hermione dormindo, abraçados e com sorrisos tênues nos lábios. Calmamente se curvou para o amigo e falou em tom baixo ao ouvido de Rony.

- Hey, Rony, acorda! Acorda Rony! Eu queria saber por que a Gina estava dormindo lá comigo e... - Rony deu um pulo da cama, estava agora mais que acordado.

- A minha irmãzinha dormiu com você? Quer dizer, na sua cama, com você? - Rony havia acordado Mione com aquele sobressalto.

- Claro que não Rony! Não foi o que eu quis dizer... - Harry não sabia se ria da situação ou se abaixava a cabeça, constrangido. Não tinha medido as palavras antes de usá-las.

- Então, o que aconteceu? - Gina entrou no quarto, ainda enrolada nas cobertas de Harry. Mione olhava sonolenta a cena, piscando e esfregando os olhos para espantar o sono. Gina falou, num bocejo.

- Rony, você é a única pessoa que dormiu junto com alguém nessa casa. Exceto pelos nossos pais. Francamente, agora eu posso voltar para minha cama e dormir mais um pouquinho? Estou morta de sono! Mamãe e papai vão achar muito estranho todos nós aqui, amontoados no meu quarto à essa hora da manhã, você não acha? Talvez comecem a fazer perguntas descabidas como as suas. Eu sugiro que você vá para o seu quarto com o Harry e finja que passou a noite por lá, de repente durmam um pouco mais, é o que eu vou fazer - com isso os dois meninos foram embora e Mione, bem como Gina, puderam voltar a dormir.

Porém, no quarto de Rony, a situação estava bem diferente pois os meninos estavam muito bem acordados.

- Rony, onde você estava com a cabeça? Já pensou a confusão que ia dar se a sua mãe entrasse aqui ou lá? Ela ia achar muito estranho, você não acha? - Harry estava impressionado. Como o amor estava derretendo os miolos do amigo e fazendo-o cometer burradas como aquela?

- Eu sei, Harry, mas eu precisava de alguém para conversar, sabe? Você não ia poder me dar todo o apoio que Mione me deu. Além disso, você parecia estar dormindo bem como nunca. Eu tive pena de acordar você, você raramente dorme assim - Harry riu e jogou o travesseiro no amigo.

- Com certeza o apoio que Mione te deu eu não te daria, nem sonhando - Rony estava sem graça, não tinha notado que a frase havia soado tão mal. - E eu realmente dormi muito bem, foi bom que você não me acordou. Há muito tempo que eu não tinha uma noite de sono tão boa.

Harry não contaria para o amigo mas tinha tido um sonho em que uma jovem acariciava seu rosto, fazendo-o se sentir amado e seguro como nunca antes na sua vida. Ela o beijava apaixonadamente. Era uma pena que ele não tivesse tido a oportunidade de saber quem era mas poderia reconhecer o toque das suas mãos e o seu beijo se a oportunidade surgisse de verdade. Pelo menos era o que pensava.

A Sra. Weasley, que já tinha acordado fazia algum tempo e preparado uma montanha enorme de panquecas mágicas com coberturas de vários sabores, gritou para todos - do primeiro andar, na beira da escada - para que descessem para o café da manhã. Eles teriam muito que fazer naquele dia e ela queria deixar as crianças todas de barriga bem cheia.

Os meninos desceram e tomaram aquele farto café da manhã que Molly havia preparado com tanto carinho. Era um novo dia e agora estavam todos mais esperançosos de que as medidas do novo Ministro surtiriam algum efeito e a vida seria um pouco mais sossegada para todos.

Passaram a manhã jogando Snap Explosivo e Xadrez Bruxo. Logo após o almoço o Sr. Weasley chegou em casa num dos carrões do Ministério e agora levaria a todos para fazerem compras no Beco Diagonal.