Capítulo Seis – Uma Grande Novidade

Após todos terem chegado ao castelo a professora McGonagall veio recepcionar os alunos novos enquanto os outros já estavam devidamente acomodados para assistir a Cerimônia de Seleção. Como sempre, o Chapéu Seletor cantou uma música de boas-vindas aos alunos após entoarem o Hino de Hogwarts e iniciou-se, então, a Seleção.

Harry e os amigos repararam que a mesa dos professores estava praticamente vazia enquanto a Cerimônia se realizava. Restavam sentados apenas a professora Sprout, o professor Flitwick e Madame Hooch. É claro, não podiam esquecer de Sibila Trewlaney, que também estava à mesa. Não tinham visto ainda Dumbledore e Hagrid, tampouco o novo professor de Defesa Contra Artes das Trevas. Em compensação, não viam nem sinal do professor de Poções, Severo Snape. Isso era tudo muito estranho.

Após um último menino ter sido escolhido - para Lufa-Lufa - finalmente Dumbledore entrou no salão e se dirigiu aos alunos.

- Caros alunos, primeiramente, gostaria de dar as boas-vindas àqueles que chegam hoje pela primeira vez a Hogwarts. Que esta escola lhes seja não só fonte de conhecimento como também um lar - sorriu, olhando por cima dos óculos de meia-lua para o menino que tinha acabado de ser selecionado. - Aos que já são antigos - olhou diretamente nos olhos de Harry, transmitindo firmeza -, força! O ano que virá não será nada fácil. Mas creio que o final será recompensador - Harry agora retribuía o olhar, ciente do que o diretor queria dizer com aquilo. - Como a maioria de vocês já sabe Você-sabe-Quem retornou - um grande burburinho se formou e rapidamente se desfez, com um aceno de mão de Dumbledore - mas não é alarmá-los meu objetivo e sim incentivá-los, encorajá-los. Todos aqui têm potencial de realizar grandes feitos... Alguns têm coragem, outros força, inteligência, perspicácia... Mas, meus queridos, o que torna especial uma pessoa é a capacidade de se trabalhar em equipe. Unindo todas essas diversas virtudes que possuímos - agora ele sorria, dirigindo-se à mesa dos professores. Quando sentou, continuou a falar. - Por isso eu gostaria de deixar claro que, atendendo às recomendações do novo Ministro da Magia, Alastor Moody - Draco Malfoy franziu a testa, desdenhoso, mas o diretor não percebeu -, deveremos nos unir, mantendo-nos vigilantes. Esse ano vamos ensinar vocês a trabalhar em grupos bem diversificados. E isso nos leva à apresentação dos professores novos - Harry ficou animado, como muitos outros alunos, será que se livrariam finalmente do seboso professor de Poções, Severo Snape?

Enquanto os alunos confabulavam, cochichando sobre o que o diretor havia acabado de falar, viram entrar pela porta quatro vultos enormes. Um deles puderam reconhecer. Era Rúbeo Hagrid, ex-guarda caça e agora professor de Trato com Criaturas Mágicas. Junto com ele estavam três outras pessoas gigantescas, dois homens, um mais baixo que o outro, e uma mulher. Tinham sido eles que tinham viajado no vagão de animais do Expresso de Hogwarts. A entrada dos gigantes acirrou ainda mais o burburinho dos estudantes, que agora pareciam estar em grande dúvida sobre quem seriam aquelas pessoas. Dumbledore, fazendo um gesto para que os quatro sentassem à mesa, prosseguiu.

- Esses são os novos professores de Trato com Criaturas Mágicas. Hagrid não poderá ministrar todas as aulas sozinho, estará ocupado em assuntos oficiais do Ministério e contará com a ajuda de três amigos: Colossus, Vasta e Miúdo - cada um fez uma reverência enquanto o diretor dizia os seus nomes. - Vocês também terão um novo professor para Defesa Contra as Artes das Trevas, a professora Arabella Figg - Harry, Rony e Hermione trocaram olhares de surpresa e alegria. - E o professor Snape continuará a ser o professor de Poções, é uma pena que esteja atrasad... - Dumbledore foi interrompido. Snape tinha acabado de entrar no Salão Principal. Entrou pisando forte e dava largas passadas. Sentou rapidamente à mesa, dirigindo um seco "Sinto muito pelo atraso" ao diretor. A mesa de professores estava completa agora. - Que comece o banquete! - magicamente todas as travessas das mesas se encheram das mais deliciosas iguarias de Hogwarts e os alunos começaram a comer.

Durante o jantar Harry pôde conversar mais à vontade com os amigos, que estavam muito animados com os novos professores. Estavam também um tanto quanto apreensivos, Snape parecia ainda mais antipático e não gostariam de ser separados em grupos aleatórios para assistir às aulas. Rony estava particularmente nervoso.

- Mione, você bem que podia usar da sua influência e descobrir que raios de grupos são esses... Eu não gostaria de estudar cercado por sonserinos, principalmente pelo Malfoy.

- Ah! Rony, se eu puder descobrir alguma coisa... Eu vou tentar saber com a professora McGonagall qual será o critério para a formação desses grupos de estudo.

- Gente, fiquem calmos - disse Harry. - Dumbledore disse que cada um tem talentos diferentes então Malfoy não se qualifica para nenhum grupo. É praticamente um peso morto, não creio que tenha talento para nada - todos riram.

- 'Per'aí, Harry, ele tem talento sim... - disse Jorge, piscando para Fred.

- É - completou Fred -, ele daria um ótimo garoto propaganda de funerária - toda a mesa da Grifinória caiu na gargalhada.

Gina estava sentada próxima a Rony e os gêmeos. Ela gostava de acompanhá-los às refeições, assim era quase como estar em casa. Além disso era uma forma bem discreta de estar junto de Harry sem que ele percebesse. Ela estava terminando de comer o bolo de carne quando sentiu uma sensação estranha. Sentia um frio na espinha. Parecia que alguém tinha soprado um vento gelado em seu ouvido. Ela olhou em volta mas não viu ninguém. Apurou a visão e pôde perceber, na mesa dos professores, o professor de Poções olhando fixo para ela. Snape a encarava de modo tão sinistro que a menina derrubou os talheres no chão, fazendo um grande barulho:

- Gina! - Mione tinha se assustado. - Tudo bem? - ela agora percebia que Snape tinha desviado o olhar.

- Sim, está. Eu... Eu só me atrapalhei, acho. Eu tive a impressão de... - decidiu não terminar a frase. Não gostaria de alarmar os amigos por algo que provavelmente era só uma cisma boba.

- Impressão de quê, Gina? - Harry agora tinha se interessado pelo assunto, deixando as brincadeiras dos Weasley de lado.

- De nada. Eu só não vou muito com a cara do Snape. E acho que ele estava olhando para cá. É só - Harry imaginou que isso seria esperado, uma vez que. agora, ele devia estar exercendo alguma nova função a mando de Dumbledore. Era normal estar diferente, observando tudo e todos.

- Ninguém pode te culpar, maninha. O cara é assustador, só de olhar para ele me dá arrepios - Rony concordou com a irmã.

E então mudou de assunto. Mas mesmo assim Gina permaneceu o resto do jantar incomodada. Continuou com a sensação de estar sendo cuidadosamente observada.

- Harry, vai ser bem legal Arabella dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas pra gente. Ela parece ser bem normal - disse Rony. Antes que Harry pudesse dizer alguma coisa Mione já tinha respondido.

- Eu acho que sim. Eu li em "Hogwarts, Uma História" que apenas uma vez um professor teve a ousadia de adotar um livro trouxa para suas aulas. E isso aconteceu há dois séculos. Na época esse ato foi tão polêmico que nunca mais se repetiu, até agora... Acho que vai ser muito interessante. Vai ajudar a diminuir os preconceitos de CERTOS alunos em relação aos trouxas - olhava para a mesa da Sonserina, tentando localizar Draco Malfoy. Ele estava olhando de volta para a mesa da Grifinória. Parecia estar procurando alguém também. Mas Mione não percebeu quando os seus olhos cinzentos localizaram quem ele procurava: Gina.

- Ah! Mione, eu acho que não. Aquele lá não muda. Nem que houvesse um prêmio de um milhão de galeões para que ele mudasse. Até por que ele é rico...  - disse Harry; Rony riu.

- Por um milhão de galeões eu pintava até o meu cabelo com as cores da Sonserina - novamente todos riram.

Estava ficando tarde, alguns professores já tinham se recolhido. A professora McGonagall ordenou que os monitores chefes instruíssem os monitores novos para a retirada organizada dos alunos. Em alguns minutos Cho Chang, Monitora Chefe agora, chegava na mesa da Grifinória para instruir Mione.

- Hermione, vamos, você tem que levar os alunos novos até a sala comunal da Grifinória. Eles não podem se perder. A senha é "escama de lagarto", a professora McGonagall pediu para lhe informar - ela se virou para a mesa, reparando então no resto das pessoas. - Olá Harry! - ele ficou tão vermelho e desconcertado que sequer pôde responder. A menina já tinha se retirado quando finalmente conseguiu falar alguma coisa.

- Oi! - disse, a voz tímida e miúda. Gina ficou com as orelhas tão vermelhas de raiva e ciúme que parecia que as tinha mergulhado em água fervente. Rony riu do amigo.

- Articulado assim, você vai longe, meu amigo - Harry apenas olhou com reprovação para ele. Mione já estava na porta do Salão, organizando os alunos para irem para a sala comunal.

- Atenção alunos novos, para não se perder! Sigam-me - todos seguiram em filas de três até as escadarias com Mione à frente. Quando chegaram lá ela avisou que tomassem cuidado com os movimentos das escadas e os continuou guiando até o retrato da Mulher Gorda. - Escama de lagarto! - o retrato se abriu e revelou a entrada da Torre da Grifinória. Todos entraram e se espalharam pelo cômodo. - Atenção! Meninos à esquerda, meninas à direita - os alunos iam tomando o rumo dos dormitórios. - Seus pertences esperam por vocês nos seus devidos quartos, seus malões já foram trazidos para cá.

Ao final Mione estava muito cansada mas muito feliz e orgulhosa. Tinha a sensação de dever cumprido. Antes de subir deu um rápido beijo em Rony.

- Boa noite Rony! - disse, tocando os lábios dele com os seus de levinho.

- Boa noite monitora! - ele disse, orgulhoso. - A mais bonita de todas... - ela sorriu e subiu aos pulinhos as escadas.

Harry e Rony subiram logo em seguida. Estavam exaustos e rapidamente se enfiaram debaixo das cobertas para dormir.

Rony ainda demorou um pouco para pegar no sono, ficou alguns minutos pensando em como era sortudo por ter Hermione como namorada. Quando olhou para o lado para falar com Harry o amigo já estava dormindo pesado. Então fechou os olhos e também dormiu.

Harry tinha dormido quase que instantaneamente e começou a sonhar. Uma espécie de sonho diferente, que nunca tinha tido antes. Sentiu como se estivesse sentando na cama e levantou. Ao invés de seus pés tocarem o chão viu que estava flutuando a alguns centímetros do chão e quando olhou para a cama viu a si mesmo, deitado, dormindo. Era como se estivesse fora do seu corpo. Foi se sentindo cada vez mais relaxado e leve, viu um túnel escuro se formando à sua frente, uma luz clara no final, foi flutuando até a extremidade do túnel e quando chegou lá pôde perceber o vulto de uma pessoa. Ele se aproximou e viu, para sua surpresa, que a pessoa era Colin. Ele imaginou como isso seria possível, uma vez que o menino estava morto. Estava achando o sonho cada vez mais real. Colin sorria para ele e acenava. Ele não conseguia ouvir o que o garoto dizia mas sabia que estava tentando dizer alguma coisa. Seus lábios se moviam mas não saía nenhum som. Ele próprio estava tentando falar com Colin mas também era como se fosse mudo.

A imagem começou a ficar fora de foco, embora de vez em quando voltasse a entrar em foco novamente. Num desses momentos percebeu que Colin tinha a expressão apreensiva e a claridade, à volta deles, estava diminuindo cada vez mais. Já não estava se sentindo tão bem e leve quanto antes e a escuridão estava se tornando cada vez maior. Viu duas figuras encapuzadas, de mantos negros, se aproximando de Colin. Pôde ler os lábios do menino, que tentava em vão, gritar, "cuidado". Mas no segundo seguinte os dois vultos agarraram Colin e o arrastaram dali. Harry sentiu o corpo pesando cada vez mais e passou pelo túnel de novo, rápido desta vez, como se estivesse caindo de um penhasco, voltando para o seu corpo e acordou com um baque.

Quando abriu os olhos viu que a cama estava sacudindo, como se tivesse acabado de cair de uma grande altura direto nela. Estava suando e ofegante. Com certeza tinha sido o sonho mais estranho de toda a sua vida. Tão logo amanhecesse reuniria Rony, Hermione e Gina para contar o sonho. Porém, apesar de estar ainda exausto, não conseguiu voltar a dormir, permanecendo deitado na cama, pensando.

Pela manhã já estava arrumado para o café bem antes dos amigos. Desceu as escadas e ficou esperando por eles na sala comunal. Quem desceu primeiro foi Hermione. A amiga queria acordar bem cedo para pôr em dia os deveres de monitora. Encontrou o amigo sentado numa poltrona. Ela sorriu e se aproximou.

- Bom dia Harry! O que houve? Caiu da cama? - estava surpresa pelo amigo estar ali tão cedo.

- Na realidade eu caí na cama, Mione. O que foi realmente estranho... - ela estava ainda mais confusa com a declaração.

- Como? - Gina descia as escadas.

- Olá, vocês acordaram cedo mesmo, hein? - ela ainda estava com o sono estampado nos olhos e Harry a olhou, constatando que era adorável pela manhã.

- Ih! Gina, eu ia acordar cedo mesmo, sou monitora agora. E o Harry caiu da cama, ou na cama, sei lá... Por isso está aqui embaixo tão cedo. Se não fosse por isso, estaria tão pregado na cama quanto o seu irmão. Você sabe como esses dois são quando o negócio é acordar cedo...

- Hey! Cuidado com o que diz! - era Rony, que descia as escadas com a cara tão amassada quanto massa de pão. - Você está me difamando assim... Eu posso não acordar cedo todos os dias mas eu tenho muita disposição pela manhã - disse, largando o corpo de qualquer jeito, deitando no sofá. Os outros três riram. Mione e Gina disseram juntas.

- É, deu para perceber a sua disposição! - eles riram mais ainda e Harry interrompeu os amigos.

- Eu queria dizer uma coisa para vocês. Eu tive um sonho ontem à noite, um sonho muito estranho... - Gina olhou para ele, lembrando do sonho que ele havia tido n'A Toca, durante as férias.

- Foi o mesmo que você teve quando estava lá em casa? - ela perguntou instintivamente. Rony e Hermione se entreolharam e olharam dela para Harry e de volta para ela. Ele corou e ela também.

- Não! - antes que os amigos perguntassem, continuou em tom casual. - Foi um sonho sem importância o que eu tive nas férias, nem vem ao caso... Este sim, foi mais real - fez questão de enfatizar. - Foi estranho... Como se eu tivesse saído do meu corpo. Quando eu acordei eu estava trêmulo, como se tivesse caído do teto, deitado na minha cama. Eu pude ver o meu próprio corpo deitado na cama... Foi muito engraçado...

- Engraçado? Engraçado é bomba de bosta. Deve ter sido horrível - disse Rony, fazendo uma careta. - Cair do teto parece coisa de aranha, ficar se pendurando assim pelas paredes... Arght! Eu realmente odeio aranhas!

- Rony! - Mione estava impressionada com o namorado. - Francamente, o sonho do Harry não tem nada a ver com aranhas, você precisa acabar com este seu pânico obsessivo.

- Você também teria medo se tivesse quase sido devorado por um bando de aranhas gigantes. Só de pensar no assunto já me dar dor de barriga.

- Você já tinha medo antes disso e se fosse assim eu deveria ter pânico de cobras... - era Gina quem falava agora, rindo.

- Caramba maninha! Afinal de contas, de que lado você está? - Mione riu e Rony não pôde acreditar.

- Hey! Você, pelo menos, era para estar supostamente do meu lado! - disse, fazendo cócegas em Mione. Ela ia responder mas Harry interrompeu a discussão.

- Eu preciso da ajuda de vocês. Tenho que saber se esse sonho foi mesmo real. Mas eu não sei como...

- Eu posso procurar na biblioteca - disse Mione, um brilho no olhar, muito empolgada. - Como monitora terei fácil acesso a alguns livros restritos. Vou procurar algo sobre isso no final do dia, depois das aulas e das minhas obrigações. Quando nós terminarmos o jantar podemos nos reunir aqui, para saber se eu consegui alguma novidade.

- Agora sim você está feliz não é meu amor? Vai poder se enfiar naquela biblioteca até a hora do jantar e se "divertir" a valer... - disse Rony, brincando com a namorada, que deu um sorrisinho amarelo.

- Harry, o sonho foi só isso? Essa sensação de sair do corpo? A queda? Não tinha mais nada? Mais ninguém nele? - Gina perguntou, encarando seus olhos, procurando lê-los em busca da verdade. Ele sabia que seria difícil mentir para ela.

- Basicamente só isso que tinha de diferente - disse, encarando a menina e depois os dois amigos. - Eu estou acostumado com sonhos assustadores... Mas as sensações foram reais e é realmente essa a minha preocupação - ele não queria contar para os amigos que Colin estava no sonho. Sabia que o assunto era doloroso, principalmente para as meninas. Achava, sinceramente, que tinha visto o menino por mero sentimento de culpa e que não tinha realmente relevância diante do contexto do resto do sonho, da sensação que tinha sentido.

Embora estivesse omitindo não estava mentindo e foi um pouco mais fácil convencer Gina de que o sonho se resumia somente ao que ele tinha dito. Enquanto terminavam a conversa a sala começou a se encher de alunos da Grifinória, que desciam as escadas aos tropeços. Estava quase na hora de descer para o café e começar o primeiro dia de aulas de mais um ano letivo. Tinham um dia cheio pela frente e muitas dúvidas na cabeça.