Capítulo Oito - O Visitante Insólito

Hermione ficou na biblioteca até o início das aulas da tarde, tinha conseguido juntar algumas informações da caderneta de Arabella com o conteúdo dos livros e, com certeza, sua pesquisa não tinha sido em vão. Esperava poder ajudar Harry quando se reunissem no final do dia. Também estava muito preocupada com Gina. A menina tinha chorado até cair no sono, ainda não tinha conversado com a amiga. Todos esses pensamentos vinham à mente de Hermione quando ela, saindo da biblioteca, deu um encontrão em Draco Malfoy, derrubando todos os livros no chão.

- Desculpe! - disse, sem perceber em quem tinha esbarrado.

- Olha por onde anda, Granger - resmungou.

- Ah! É você? Francamente! Não sei por que eu ainda tentei ser educada... - fez uma careta de nojo. - A educação é algo que você desconhece mesmo, não, Malfoy? - ele ignorou o insulto e, fazendo a expressão mais cínica que pôde, disparou.

- Estava distraída, Granger? Problemas com o namoradinho pobretão? - ela bufou mas não disse nada. Abaixou, juntando os livros caídos. - Ou terá sido alguma coisa com o seu amiguinho, Potter-problemático-patético? Você tem sempre que resolver tudo para eles não é, Granger? - ela estava tentando ignorar o garoto, tentava sair dali mas ele bloqueava a passagem do corredor.

- Eu estava ocupada! Deixe-me passar, Malfoy! Estou atrasada para a aula...

- Está atrasada, ocupada... Você sempre tem que fazer alguma coisa... Salvar o dia... E eles nem mesmo reconhecem... Nem devem ter sentido a sua falta no almoço. A monitora, sempre certinha... E chata - agora ele tinha passado dos limites.

- CALE A BOCA, MALFOY! - berrou.

Madame Pince apareceu na mesma hora e exigiu silêncio e uma explicação. Draco já tinha ido convenientemente embora e Hermione passou alguns minutos esclarecendo o que tinha acontecido. Sorte que Madame Pince conhecia bem a menina e relevou a falta de comportamento, dando apenas uma notificação. Agora a monitora estava realmente furiosa e muito atrasada para a aula de Aritmancia, sua preferida.

"Tudo culpa do idiota do Malfoy...", pensava enquanto corria pelos corredores.

Os meninos estavam no início da aula de Adivinhação. Ainda se perguntavam como estavam agüentando assistir àquela matéria. A obsessão da professora Sibila em prever uma morte horrível para Harry já estava se tornando repetitiva demais para o gosto deles. E mesmo eles, embora tivessem uma enorme criatividade, já não sabiam mais que tipo de desgraças poderiam inventar para preencher os deveres de casa da matéria.

- De repente a gente podia inventar que o mundo vai acabar! O que você acha, Harry?

- Acho que isso não é desgraça o suficiente para ela, Rony - eles riram.

A aula estava começando e a professora tinha colocado os alunos um de frente para o outro. Ela estava pretendendo ensinar a eles técnicas de hipnose, para que pudessem revelar informações guardadas no subconsciente. Harry e Rony estavam achando muito engraçado a demonstração da professora, que tinha tido Lilá Brown como voluntária para ser a sua cobaia. Estava de frente para a menina, muito compenetrada, e balançava uma pedra azul transparente em forma de cone num fino cordão de prata. Conforme o pêndulo oscilava os olhos de Lilá, muito atentos, acompanhavam o movimento.

- Você está com sono... Muito sono - dizia a professora para a menina. Rony estava se segurando para não explodir em risadas.

- Sono? Sono estou eu - disse Rony para Harry. - Eu juro, a morcega velha pode até não fazer a Lilá dormir mas daqui a pouco toda a turma vai estar babando. Já tem alguns alunos roncando lá atrás - Harry não conseguiu segurar uma gargalhada. A professora ouviu e, desistindo de hipnotizar Lilá, voltou-se para os dois meninos.

- Vocês dois, cheguem aqui - Harry olhou desanimado para Rony. Tinham combinado tentar passar desapercebidos pela aula, para não despertar a atenção da professora. Ele devia ter segurado a risada. Estavam na frente de Trelawney, que agora tinha entregado o pêndulo não mão de Harry. - Vamos lá, Sr. Potter. Tente a técnica no Sr. Weasley - Harry começou a balançar, desanimadamente, o pêndulo. Mas Rony deu uma discreta piscadela para o amigo. O que tinha sido suficiente para Harry entender o que eles fariam. Então colocou no rosto a expressão de maior seriedade que conseguiu e começou.

- Você está com muito sono... Muito sono... - tentava fazer uma voz soturna. Rony estava gargalhando por dentro mas tinha que manter a postura.

- Uahhh! - Rony estava bocejando. A professora Trewlaney parecia animada agora. Harry a observava pelo canto do olho, sem parar de oscilar o pêndulo. A professora agora estava exatamente à sua frente, ao lado de Rony.

- Seus olhos estão pesados. Você deve fechá-los - Rony fechou os olhos lentamente, a professora ficou satisfeitíssima.

- Agora, Sr. Potter, pergunte algo que o Sr. imagina que o Sr. Weasley não contaria para ninguém. Nem mesmo para os melhores amigos - Harry gelou. Rony, aproveitando que a professora estava atrás dele, abriu um dos olhos e fez uma cara de "E agora?". Harry sabia que Rony não gostaria nada de dizer confidências ali na sala, na frente de todo mundo. Tinha que pensar rápido.

- Ronald Weasley, diga! O que você esconde - disse, evitando entrar em algum assunto particular para tentar dar a opção ao amigo de inventar alguma baboseira para a turma.

A professora parecia que ia protestar mas quando abriu a boca para falar, fechou os olhos com força e começou a falar com a voz sinistra. Avançou bruscamente para frente, derrubando Rony e segurando Harry pelos ombros. Estava machucando-o com as unhas.

- ELA NUNCA VAI TE PERTENCER! - berrou e Harry se assustou. Tentou se soltar. Ela tinha dito exatamente uma das frases que Voldemort dissera em seu sonho. Ela abriu os olhos e estavam totalmente vermelhos. - VOCÊ SÓ VAI PERCEBER TARDE DEMAIS! - ele agora estava definitivamente apavorado.

- O que a senhora disse? - ele tentou fazer com que ela falasse mais mas foi em vão. O próprio Rony estava com os olhos arregalados e muito atento à situação. Mesmo os alunos que roncavam no fundo da sala tinham sido acordados pelos berros da professora.

- Ahn? O que perguntou, Sr. Potter? - ela parecia não se lembrar absolutamente de nada. Nem mesmo do tema da aula. - Turma, vocês estão dispensados... Estou com uma forte dor de cabeça - todos foram saindo rapidamente. Harry ainda estava muito chocado mas não sabia direito o que aquilo queria dizer. Rony, por sua vez estava fulo da vida.

- Droga Harry! Aquela coruja seca sempre arranja um jeito de dar sustos na gente. Ela queria era terminar a aula dela em grande estilo. Pobre morcega doida... Ficou com raiva por que estávamos dando uma aula de hipnose com a nossa encenação - Harry riu. Mesmo estando preocupado, tinha sido muito engraçado enganar novamente a professora com a falsa sessão de hipnose, teriam um tempo livre antes do jantar e então resolveram fazer uma visita a Hagrid.

Hagrid estava hospedando em sua cabana os outros três gigantes e o espaço estava absurdamente escasso dentro da casa. Na hora de dormir os três homens se acotovelavam no tapete do chão, já que tinham deixado a cama de Hagrid para Vasta poder dormir. Até mesmo Canino estava dormindo do lado de fora. Hagrid esperava que assim que Madame Maxime chegasse pudesse abrigar os gigantes em sua carruagem, tornando sua cabana um pouco mais habitável.

Dumbledore tinha achado melhor, pelo menos no início do ano letivo, que os gigantes ficassem fora do castelo, para não alarmar os alunos. Tinha sido, afinal de contas, um grande período de desavenças entre humanos e gigantes e alguns pais poderiam ficar intimidados com a presença deles no convívio com seus filhos. Com o tempo, é claro, teriam acomodações apropriadas no castelo.

Vasta abria a porta de madeira, para grande surpresa dos meninos.

- Olá garotos! Em que eu posso ajudar? - ela parou e olhou seriamente para a testa de Harry. - Minha nossa, você é Harry Potter!

- É - disse timidamente, Rony rindo muito. - Eu sou ele, digo, eu sou eu... Você entendeu não? - a giganta riu.

- Hagrid falou muito de você. Suponho que você, ruivinho - apontou para Rony -, seja o Ronald Weasley, melhor amigo de Harry - Rony sorriu, era a primeira vez que alguém já tinha ouvido falar dele. - Rúbeo me falou muito bem de vocês - os meninos sorriram enquanto ela os fazia entrar. - Ele não vai demorar. Foi cuidar dos animais com os rapazes.

A cabana estava vazia, os três homens estavam fora. Tinham deixado Vasta tomando conta da casa. Ela era muito simpática e ótima anfitriã. Assim que os meninos entraram colocou um bule com água para ferver. Faria um chá para os meninos enquanto esperavam por Hagrid e os outros. Timidamente, Rony reiniciou a conversa.

- A senhora da tinha ouvido falar de todos nós?

- Ah! Sim, Rúbeo conversava muito conosco durante as noites nas montanhas e durante a viagem de volta. Não digam a ele que eu mencionei isso mas ele chorava muito quando lembrava de vocês e do diretor. Tinha muitas saudades, pobrezinho. Contou tantas histórias sobre vocês que é como se eu já os conhecesse - ela sorriu e levantou-se para preparar o chá. A cabana estava com um novo cheiro, muito agradável, de limpeza e de chocolate com canela. Retornou à mesa com as xícaras e um prato de biscoitos. - Podem provar, queridos. Eu mesma fiz. O Rúbeo, e não digam que eu mencionei isso, é uma negação na cozinha - os meninos riram, esticaram as mãos e pegaram um biscoito cada um.

Estavam deliciosos, a porta se abriu no instante seguinte e por ela entraram os três gigantes. Harry foi até Hagrid e lhe deu um forte abraço. O gigante ficou com os olhos cheios d'água.

- Olá, Harry! Rony! Senti saudades de vocês... E a Hermione? Ela não veio?

- Ela ainda está em aula - respondeu Rony. - A morcega velha da Trewlaney nos liberou mais cedo. Depois eu volto com a Mione aqui, para você poder ver a minha namorada - Harry ergueu os olhos, achando graça do amigo. Rony só estava tentando achar um pretexto para informar a novidade a Hagrid.

- Vocês dois, hein? Eu sempre achei que tanta briga ia acabar assim - ele riu. - É como eu e Madame Maxime que... - ele parou e ficou sem graça. - Eu não devia ter dito isso - os outros riram.

- E então, Hagrid, como foi lá nas montanhas? - Harry estava curioso para saber como tinham sido as negociações com os gigantes.

- Ah! No início foi difícil. Nós podemos ser muito teimosos, se você entende o que eu quero dizer - o mais baixo dos outros dois gigantes, Miúdo, se manifestou.

- Hagrid quer dizer que depois de tanto tempo de segregação é difícil uma readaptação. Ficou complicado o reestabelecimento de um patamar de confiança e amizade entre nós. Nós, gigantes, podemos ser grandes e fortes mas temos uma sensibilidade aguçada e nossos sentimentos são muito perenes. Nos magoamos com facilidade - o outro gigante, Colossus, o interrompeu.

- Não, Miúdo. Não é nada disso. Nós só não sabíamos se devíamos acreditar neles. Ficamos muito tempo aborrecidos com os humanos - Harry olhou para Hagrid, que deu uma piscadela e balançou a cabeça, indicando que Colossus não era bem uma mente brilhante. Miúdo, por sua vez, era como se fosse a Hermione da terra dos gigantes. Tinha sempre a resposta na ponta da língua e adorava falar difícil.

- Então - Harry disse enquanto Vasta trazia mais chá para todos -, como foi que vocês resolveram voltar com Hagrid?

- Ah! - Miúdo exclamou. - Alguns de nós ainda relutamos em aceitar o mundo humano. Mas eu creio que o preconceito é uma praga sobre a terra. Então se Dumbledore se deu ao trabalho de enviar dois meio gigantes de sua confiança eu o julguei sábio e dei meu voto de confiança.

- Eu quis vir por que achei Hagrid uma pessoa boa. E se o Miúdo vinha eu tinha que vir - disse Colossus, com simplicidade.

- E eu vim - disse Vasta - porque esses dois não são nada sem mim - ela sorriu para os outros dois gigantes. - E porque eu acredito em um mundo melhor, com convivência pacífica - completou sob um olhar de aprovação de Miúdo.

Harry achou que a amizade dos três gigantes lembrava sua amizade com Rony e Hermione.

- E as aulas, Hagrid? Como vão ser? Eu não estou gostando nada dessa história de grupos de estudo - Rony estava ansioso para arrancar alguma informação do gigante.

- Fique calmo Rony. Pelo menos Hermione vai estar no seu grupo. Já o Harry... - os dois meninos fizeram cara de espanto.

- Como assim? - Harry agora tinha ficado preocupado. - Estou em um grupo diferente do de Rony e Mione?

- Ah! Meninos, eu não devia ter dito isso, não devia mesmo... Mas Dumbledore os separou por diferentes características e agrupou as mais diferentes pessoas em cada grupo. Os professores ajudaram, dando opiniões. As idades, turmas, casas... Tudo misturado. E o Harry... Eu ainda tentei insistir com o Dumbledore mas Snape ficou pressionando... - o gigante deu um suspiro profundo.

- O que tem eu, Hagrid? - disse, parecendo desanimado embora conformado. - Eu já estou até me acostumando... Pode contar... Eu vou acabar sabendo mesmo...

- Draco Malfoy é do seu grupo, Harry! - disse Hagrid, tristemente.

- Ah, não! Era só o que me faltava... - reclamou, decepcionado.

- Mas como, Hagrid? Não vai ter outro jeito? - Rony estava tentando minimizar os estragos enquanto Harry tinha a cabeça baixa e dava batidinhas de leve com a testa na mesa.

- Não! Eu apenas consegui uma compensação... - ele esboçou um sorriso.

- Ahn? Como assim? - disse Harry, levantando a cabeça.

- Dumbledore colocou no grupo de Harry a sua irmã, Rony. A pequena Gina. Eu insisti que pelo menos ele pusesse algum amigo de Harry. As outras pessoa do grupo eu não sei quem são... Do seu grupo, Rony eu só sei que a sua namorada faz parte, os outros dois eu desconheço - os dois meninos se entreolharam.

Estava quase na hora do jantar e queriam conversar com Hermione sobre o que ela havia descoberto na biblioteca. Então se despediram dos gigantes, levando, satisfeito, muitos biscoitos de chocolate e canela no bolso.

Assim que terminaram de jantar entraram na sala comunal e se sentaram em uma das mesas de leitura. Estavam apenas aguardando Hermione. Ela tinha jantado mais cedo com Gina e estava no dormitório feminino, conversando com a menina.

- Gina, você tem certeza de que está bem? Eu posso ficar aqui com você mais um pouco - Mione estava penalizada.

- Está Mione, pode descer. Você tem que contar aos meninos as coisas que descobriu. Eu só não quero descer assim - seu rosto estava inchado e os olhos vermelhos de tanto chorar. - Eu não quero vê-lo agora. Ainda está doendo muito. Eu não quero encará-lo e tratá-lo como se fosse culpa dele. Porque não é... - ela fungou. - Ele simplesmente não sabe que eu existo - deu um grande suspiro. Mione olhou para baixo, sacudindo a cabeça negativamente.

- As coisas podem mudar, Gina. Vê eu e o seu irmão?

- Mione, você e o Rony foram feitos um para o outro. Qualquer um podia ver isso. Meu irmão é que é um tonto. Só isso! Mas o Harry não. Ele sabe o que quer... Quem quer... Só que não sou eu... - Mione não tinha mais argumentos para a amiga então tentou apelar.

- Então se você vai desistir eu vou te ajudar. Você sabe, não existe só um garoto disponível nessa escola...

- Eu sei o que você quer dizer, Mione. Mas parece que para mim sempre existiu apenas um garoto. Parece que eu sempre enxerguei só Harry Potter na minha frente...

- Então agora você vai começar a olhar para os lados, Gina - as duas riram e Hermione desceu as escadas para encontrar os garotos.

- Até que enfim! - disse Rony. Ela ignorou o namorado e colocou um livro que tinha pegado na biblioteca, um dicionário e a caderneta de Arabella sobre a mesa. Parecia de mau humor.

- Aí está o material da pesquisa que eu passei o horário do almoço fazendo para vocês - disse secamente, deixando-os perceber que estava aborrecida.

- Por que você está assim? - perguntou Rony.

- É, Mione? Você mesma tinha se oferecido - ela não encarou o namorado e respondeu olhando apenas para Harry.

- Hoje eu tive que ouvir algumas poucas e boas do Malfoy - Rony ficou vermelho de raiva mas continuou calado.

- O que aquele idiota disse? - Harry já estava cheio de Malfoy, sempre atrapalhando.

- Só besteiras. Mas uma das coisas que ele disse é verdade... - nesse instante ela encarou o namorado. - O senhor percebeu, por acaso, que eu não estava presente na mesa do almoço? - Rony abriu a boca e arregalou os olhos, espantado. - Como eu imaginei! A sua falta de respostas é muito reconfortante.

- Mione, eu... - ele tentou se explicar mas foi interrompido.

- Francamente, Rony! Até Malfoy percebeu que eu não estava na mesa.

- E o que o Malfoy poderia estar fazendo para prestar tanta atenção à mesa da Grifinória? Boa coisa não devia ser - Mione também ficou encafifada com aquilo.

- Não vem ao caso o porquê das atenções do idiota do Malfoy estarem voltadas para a nossa mesa. E sim o porquê da sua falta de atenção comigo. Porque o Harry eu sei que está passando por um problema mas você... Qual é a sua desculpa? - Rony fez uma careta. Parecia que ia passar mal do estômago. Era a primeira briga que tinha com Hermione desde que tinham começado o namoro. Harry resolveu interceder pelo amigo.

- Mione, foi culpa minha. Ficamos bolando estratégias para o campeonato de quadribol com o resto do time. Rony ainda estava chocado com o fato de ser o novo goleiro. Todos estavam amontoados à nossa volta, dando os parabéns para ele. A maior confusão... E você sabe, ele só concorreu à vaga por sua causa, para você ficar orgulhosa do seu namorado - Harry mal podia acreditar nas baboseiras que dizia. Mas surtiu efeito pois na mesma hora Hermione se abraçou a Rony.

- Está desculpado - Rony mexeu os lábios por sobre os ombros da namorada e Harry pôde ver que ele murmurava "obrigado".

Harry acenou com que estava tudo bem e então começaram a reunião. Hermione explicou o que tinha conseguido na biblioteca.

- Esse aqui é o livro que eu descobri - ela abriu a primeira página.

- "Projeção Astral" - leu Harry.

- Parece que a coruja seca ia adorar esse livro - Harry fez um gesto de silêncio a Rony enquanto Hermione o censurava com o olhar.

- Esse livro fala que algumas pessoas podem, enquanto dormem e mesmo até acordadas, experimentar diferentes níveis de consciência. Tem alguns termos que eu não conhecia então este dicionário trouxa me ajudou um pouco.

- Como assim, Hermione? Diferentes níveis? - Harry estava curioso.

- Estágios entre estar acordado e dormindo. Os extremos são o sono e a vigília mas há estágios intermediários. Por exemplo, o nosso corpo e o nosso espírito são fundidos, colados um ao outro. Mas algumas pessoas podem... Hum, digamos, descolar um do outro por alguns instantes e visitar outras dimensões dessa forma.

- Quer dizer que é como se o Harry tivesse morrido por uns tempos? - Rony estava impressionado. - Que coisa sinistra! - Harry lembrou que tinha visto Colin e ficou preocupado, será que tinha ido até a dimensão dos mortos?

- Como isso funciona, Hermione? Qual é a utilidade disso? Isso é bom ou ruim?

- Depende Harry... Aí que entra o livrinho da Arabella. Nele há algumas informações. Algumas dessas viagens são apenas experiências sem sentido. Outras podem nos trazer informações. É como o que ela disse na aula. São muitos os canais que podem ser sintonizados para se adquirir informações. Mas ainda não se sabe muito a respeito desse tema. Os cientistas trouxas tentam provar várias teorias. Mas sem acreditar em magia é difícil concluir algo. Só posso te dizer que, segundo o livro, você teve uma experiência fora do corpo. É um tipo de projeção astral. Agora, os objetivos disso, não poderemos saber.

Os dois meninos estavam ainda curiosos com aquilo tudo. Era como se a menina tivesse engolido o livro e simplesmente cuspisse as palavras.

- Hermione, dá para você resumir? - Rony ainda estava confuso. Ela fez uma expressão monótona e simplificou.

- É como se o espírito do Harry saísse para passear. Ele é um visitante meio, digamos, insólito.

Com tantas informações assim estava ficando difícil entender. Harry tinha imaginado que ele estava sendo visitado, não o contrário. Então Hermione sugeriu.

- Vamos dormir. Amanhã eu vou procurar mais coisas na biblioteca. Talvez eu fale com a Arabella, como quem não quer nada. Ela sabe que eu sou interessada na matéria.

Com isso eles se levantaram. Rony e Harry foram para o dormitório dos meninos e Hermione, assim que entrou no seu quarto, foi recebida por Bichento, que se enroscou em suas pernas, ronronando. Ela colocou os livros em cima da escrivaninha, trocou o pijama e quando foi chamar o gato para se deitar ao seu lado estranhou. Ele não obedeceu. Estava deitado em cima da sua escrivaninha, exatamente encolhidinho sobre a caderneta da professora Arabella. Mas Hermione não percebeu isso. Estava com muito sono, apenas murmurou "Gato mimado" e dormiu na mesma hora. Ela tinha tido um dia muito cheio.