Dumbledore esteve presente durante o atendimento médico a Harry e Gina. O menino estava praticamente em perfeito estado, tinha alguns hematomas mas nada que um bom chocolate da Dedosdemel não resolvesse. Gina estava mais grave. Tinha quase morrido e teria que passar pelo menos uma noite na enfermaria.
Toda a família dela perambulava pela enfermaria, para loucura de Madame Pomfrey. Harry já tinha sido liberado e ficou do lado de fora. Assim que Gina estava fora de perigo saiu, bem como o diretor. Não podia permanecer ali, parado, sem explicação nenhuma. Estava muito confuso. Precisava falar com Dumbledore. Ainda não tinha entendido o que acontecera. Foi até a sala do professor, que sorriu para ele. Parecia que já o estava esperando.
- Harry! Eu imaginei que você viria aqui. Estava te esperando. Sente-se - ele obedeceu. - Creio que esteja com muitas perguntas na cabeça... - Harry confirmou.
- Eu queria entender... A Gina... Eu pensei que ela estava... Estava... - não conseguia completar a frase.
- Ela estava Harry... Quase, para dizer a verdade. Apenas um fio de vida a prendia aqui. E esse fio teria se soltado se não fosse por você.
- Mas por que não se soltou? Eu não entendo, o que eu poderia ter feito, eu...
- Amor, Harry... Um tipo diferente, que nós só sentimos uma vez na nossa vida. E uma mágica muito poderosa. Você já se perguntou o porquê de a Srta. Weasley ter estado dentro da Câmara com você? - Harry sacudiu negativamente a cabeça. - Ela é uma sobrevivente de Voldemort. Como você. Mas ela tinha que passar por isso. Ela escolheu, mesmo sem saber, pois faria tudo por você - Harry ainda não compreendia. - Vocês são dois bruxos de primeira... Mas juntos são mais do que isso. Vocês são uma só alma. A ligação de vocês é harmônica, perfeita. Você nunca reparou como podem adivinhar um ao outro? - Harry agora estava entendendo onde o diretor queria chegar. - E, sendo assim, os dois estão ligados a Voldemort. Igualmente. Ele sabe disso. Por isso tentou roubar Gina de você no primeiro ano dela. O poder dele está fragmentado, entre vocês três. Mas ela não passou para o lado dele, quase morreu naquela Câmara. E ela morreria por você, como você morreria por ela. Então ele resolveu matá-la, tirá-la de você, diminuindo suas forças. Seria fácil enquanto as suas atenções estivessem voltadas para outro lugar, você estava convenientemente tendo todas aquelas visões com a dimensão de Érevan, apesar de estar tomando a poção anti-sonhos. Mas ele não contava com a força do amor de vocês dois, Harry. Isso sim foi imprevisível. Ele não imaginava que você, suas lágrimas do mais puro amor e sua força de vontade e desprendimento transfeririam energia vital suficiente para salvá-la da morte. Esse é o maior erro dele, subestima os sentimentos humanos mais nobres. Mais uma vez os planos dele falharam e você o venceu - Harry tinha compreendido. - Vá Harry! Eu creio que a Srta. Weasley vai gostar que seja você a primeira pessoa que ela vir quando acordar...
Ela estava deitada na cama da enfermaria. Todos já haviam se retirado para um quarto próximo, que Dumbledore havia reservado para a família Weasley. Harry fora o único que não havia conseguido permanecer ali. Estava muito confuso para entender o que havia acontecido. Não sabia o que pensar, o que dizer e muito menos o que fazer. Só agora, depois do que havia acontecido e de saber por que havia conseguido salvar Gina da morte, entendia plenamente o que sentia. Harry Potter amava Virgínia Weasley! Incondicional, desesperadamente. Mais que qualquer outra coisa na sua vida. Só não sabia ainda o que fazer com essa nova informação.
Embora não tivesse entrado na sala esteve presente o tempo todo, assistindo todos os cuidados prestados a ela da porta da enfermaria. Só havia se retirado para ir até a sala do diretor. Não tinha coragem de entrar mas ficar longe dela dessa forma o estava matando, era insuportável.
Correu até a Torre da Grifinória e voltou coberto pela capa de invisibilidade que seu pai lhe deixara. Assim, invisível, poderia entrar e olhar para ela mais de perto sem ser notado. Sorrateiramente se esgueirou pela porta.
Gina estava ainda pálida, o que contrastava com os cabelos vermelhos espalhados no travesseiro, os lábios de cereja entreabertos. Respirava profundamente, de forma irregular, os olhos fechados. Ele então, sentindo-se seguro o suficiente pela invisibilidade, aproximou-se mais dela.
Deus! Como ela era linda! Ainda assim, abatida por ter chegado tão próxima à morte, conservava o encanto, a magia que, agora, o arrebatava por completo. Enquanto ele a contemplava, Gina, ainda de olhos fechados, disse:
- Eu sei que você está aqui, Harry... - ele se assustou. Não fez nenhum movimento ou som quando ela abriu os olhos e olhou para o vazio, exatamente o lugar onde ele estava. - Eu sinto você... Mesmo que não o veja... Não preciso vê-lo para isso. O que nos mantém ligados está além dos nossos cinco sentidos, da nossa compreensão - ele estava calado, confuso sobre o que ela dizia. Tinha andado até a janela, por onde o luar entrava, desenhando apenas a sombra das grades no chão, como se não houvesse alguém ali de pé. - Você não entende - disse enquanto levantava, com certa dificuldade e andava devagar até à janela, onde ele estava. O luar desenhava agora também o contorno de Gina. - Eu sinto você porque eu sinto o que você sente. É como se eu ouvisse os seus pensamentos, sussurrando para mim. Antes eu não entendia também, bloqueava isso em mim. Tentei lutar contra isso com todas as forças. Agora eu não consigo mais e nem quero. É mais forte que eu, que você, mais forte até que a morte, como nós vimos - ela agora estava a apenas um passo dele. - Eu te amo! – disse enquanto puxava, com as mãos pálidas e trêmulas, a capa que o cobria, revelando-o e, assim, projetando a sombra dos dois no chão. - Eu precisava dizer essa última parte olhando dentro dos seus olhos.
Harry, que antes não sabia como agir, deixou-se guiar por seus instintos. Sorriu, como nunca ela havia visto antes. Olhando profundamente nos olhos dela disse, praticamente sem conseguir controlar a própria voz, que saía espontaneamente:
- Eu também te amo, Gina... - o luar e a felicidade iluminaram os olhos castanhos dela.
Harry, não resistindo mais aos próprios impulsos, pegou-a subitamente nos braços e, envolvendo-a pela cintura, tocou os lábios dela com os seus, roçando apenas de leve no início. Dessa vez, os dois estavam muito bem acordados e o beijo podia ser partilhado por ambos.
Ele sentiu, pela primeira vez na vida, como se estivesse sendo consumido por chamas, corria fogo vivo em suas veias. Apertou os lábios contra os dela, intensificando aquela sensação maravilhosa. O coração de ambos batia forte, cada vez mais rápido, num compasso sincronizado.
Os lábios trêmulos, sôfregos, de Gina se abriam para ele, que aprofundava, assim, cada vez mais o beijo. Apertava-a ao máximo contra si, enquanto ela abraçava com força seu pescoço, passando os dedos por entre seus cabelos negros despenteados.
O calor que sentiam era tão intenso que era como se a qualquer momento eles fossem derreter, para se forjarem num só corpo. Sentiam uma brisa morna os envolvendo. Se estivessem de olhos abertos veriam as fagulhas douradas que se formavam, em espirais, em volta deles, como no dia em que foram escolher suas varinhas. Algo mágico estava acontecendo.
Ele a sentiu ceder aos poucos, de súbito seu peso havia aumentado. Harry olhou para ela. Gina virava os olhos. Acabava de desmaiar nos braços dele.
Com esforço, ele a pegou no colo e delicadamente a pôs de volta na cama. Ela havia sofrido emoções demais para uma só noite. Ele também, era verdade, mas por ser tão delicada, pensava ele, tudo devia ter sido muito mais difícil. Novamente, como no seu primeiro ano, chegara à beira do abismo, da morte. Deveria chamar Madame Pomfrey? Foi quando ela abriu novamente os olhos e sorriu.
- Deus! Não foi um sonho! - ela pensava que tudo, desde ser salva por ele até o fato de ele estar ali e, principalmente o beijo, havia sido um sonho. - Você está realmente aqui? - ele sorria, tinha nos olhos o alívio por ela ter acordado do desmaio, além de aquela expressão que ela sempre sonhou que ele a reservasse. Harry a olhava como quem olha para a face do amor.
- Estou Gina, e sempre estarei. Eu te amo! Agora você precisa descansar bastante. Vou ficar aqui até que você acorde, está bem? Não quero te deixar. E não vou, nunca mais! - aquilo era música para os ouvidos de Gina e ela não cansava de ouvir.
Assim, ele puxou uma cadeira para bem perto da cabeceira da cama e sentou. Ele a olhava com carinho, contemplando cada detalhe. Pegou sua mão esquerda na dele, levou até seus lábios, beijando-a, e depois repousou de volta na cama, com a dele por cima. Ela olhou feliz para ele e repetiu o seu gesto. Depois reparou na própria mão, pequena e delicada, guardada sob a dele, um pouco maior, quente, áspera, as unhas roídas... Mão de um garoto.
Piscou e agora via a mão de um homem por sobre a sua. Alianças idênticas em ambas, no dedo anelar. Pegou a mão dele, entrelaçou à sua, conduzindo-as juntas e as repousando no próprio ventre. Ela podia sentir, com a mão, como ele e também dentro de si, o bebê se movendo. O bebê deles, uma parte dele, viva, pulsando dentro de si. Gina estava sonhando.
Era um dia muito ensolarado, ela levantou os olhos e o encarou, seus olhos verdes brilhavam de alegria, amor, e orgulho de merecer aquela família. Agora ele se inclinava para ela, a outra mão afundando em seus cabelos ruivos, que passavam suavemente por entre os dedos, para beijá-la. Ela sentia com prazer ainda o toque da mão esquerda dele em seu ventre, acariciando-o. O bebê se mexendo ao toque do pai. Ela se pendurava nas pontas dos pés, imersa naquelas sensações, ao pescoço dele. Piscou novamente e o que via era bem diferente agora.
Estava uma escuridão tremenda, apenas a varinha dele iluminava a sala onde estavam. No colo dela uma menina de uns dois anos, ruiva, os olhos grandes, profundamente verdes e assustados, chorava. Sentia a mão esquerda dele segurando a sua, desta vez com força. Mantinha a ela e a filha atrás de si, para protegê-las. Ela levantou o olhar para ele e viu, pela primeira vez nos brilhantes olhos verdes dele uma expressão desconhecida. Determinação, medo, tristeza... Tudo isso já havia visto naquele olhar mas ódio? Daquela forma? Nunca. Era essa a expressão que tinha. Harry estava extremamente atento, parecia pronto para se defender de alguma coisa, ou melhor, para defender sua família, pronto para matar ou morrer, se fosse preciso. Então ela o ouviu falar, baixo, mas firmemente.
- Gina, tire a Hannah daqui. Agora! - mas ela não pôde deixá-lo. Não largou sua mão. E em apenas um segundo ela viu o clarão verde, como o que havia visto no campo de quadribol na sua adolescência, e não sentiu mais a mão protetora dele na sua.
Apertou a filha, que chorava, contra si, apavorada. Abaixou no chão, pegando a própria varinha.
- Lumos! - sussurrou e o que viu quando encontrou os olhos verdes dele a desesperou, destruiu.
Não havia mais o brilho que tanto amava neles, havia se extinguido. Não havia mais vida, estavam mortos. Ele estava morto. Harry Potter estava morto! Não teve nem ao menos tempo de chorar, em seguida viu novamente o lampejo verde e dessa vez piscou os olhos e não os abriu mais.
Quando acordou a mão esquerda dele ainda repousava sobre a sua, a mesma mão de garoto de antes. Ele ressonava, dormindo, sentado na cadeira, debruçado sobre a cama, guardando seu sono. Ela, delicadamente, tirou a mão de baixo da dele, acordando-o com isso.
- Gina, você já acordou? - disse, bocejando. - Você deveria dormir mais meu amor! É preciso que você descanse agora, muita coisa aconteceu - ele próprio devia descansar também.
- Não Harry, eu não posso... - disse, chorosa.
- O quê? Descansar? É claro que você pode. O tempo que precisar. Não se preocupe, eu vou ficar aqui com você. Vou sempre estar aqui para você, Gina, sempre. Eu te amo!
- Não, não vai não... - ele não compreendia o que ela estava falando, Gina chorava. - Me perdoe Harry, eu simplesmente não posso. Eu... Eu não suportaria... - ele estava cada vez mais confuso. - Seria tudo culpa minha...
- Gina, eu não vou te deixar! - ele tentava consolá-la, segurar sua mão, abraçá-la. Era tudo em vão, ela se esquivava dos abraços, dos toques, Harry agora estava sentado na beirada da cama. - O que seria culpa sua, meu amor? - ele estava seriamente preocupado agora.
- Não Harry! Não me chame assim, você está tornando tudo mais difícil desse jeito - as lágrimas corriam livres pela face empalidecida da menina. - Eu poderia me sacrificar por você. Eu morreria por você! Um milhão de vezes se fosse necessário. Mas eu não poderia deixar você... Não poderia deixar isso acontecer com você nem com a Hannah - ele agora definitivamente estava certo de que ela não estava em seu juízo perfeito.
- Eu acho melhor chamar Madame Pomfrey ou mesmo Dumbledore. Você está tendo algum tipo de alucinação! Quem é Hannah, Gina?
- A minha fi... A nossa filha, Harry! O nosso bebê! - olhava desconsolada para ele, estava quase soluçando.
- Gina, nós não temos filhos, você está imaginando ou sonhou. Você não está bem... Eu...
- AINDA! - ela gritou, nervosa. - Não temos ainda mas ela existe. Lá na frente, no nosso futuro, uma pedacinho meu e seu e ela está morta. Tudo está morto. Porque você está morto - chorava compulsivamente agora, não permitindo que ele a tocasse.
- Gina, foi um sonho. Foi só um sonho ruim! - tentava desesperadamente convencê-la de que aquilo era algo imaginário. Queria segurá-la no colo, abraçá-la, protegê-la daquele pesadelo horrível.
- Não Harry, você mesmo viu, os sonhos podem ser reais. Premonições, visões, como a professora Figg nos ensinou. Você as teve várias vezes. Elas sempre querem dizer alguma coisa. Não posso deixar você se sacrificar assim por mim. Eu simplesmente não poderia viver um segundo com isso, sem você. Não sabendo que você morreu por minha causa. Mesmo que fosse por um segundo... - a visão dele morto, o olhar sem vida, voltavam à sua mente agora. - Aquele foi o pior segundo da minha vida - não conseguia mais controlar o choro.
- Gina, por favor, fique calma! Não chore! Eu não agüento ver você chorar - ele agora tinha conseguido finalmente tocar o rosto dela com a mão. Limpava as lágrimas que escorriam com o polegar. Tentava acalmá-la. Acariciava-a de leve, sentindo a pele dela quente e molhada.
- Não... Me... Toque - Gina soluçava, a voz entrecortada. Não conseguia mais impedi-lo de tocá-la, não tinha mais forças para isso. Sentir o toque dele era maravilhoso, queimava, transcendia a própria carne. As mãos dele, deslizando suavemente na pele macia, deixavam-na arrepiada, era irresistível. Uma tortura à qual ela não suportaria por muito tempo. - Harry, não! Por... Fav... - ela tentava, em vão, ainda resistir, recuar. Seu rosto estava tão próximo ao dele que podia sentir sua respiração.
Ele não pôde se conter. Ela própria não conferiu mais resistência alguma. Ele havia pressionado com força a boca na dela e agora a beijava como se fosse sorvê-la. Não conseguia afastar seus lábios dos dela. Eles se beijavam freneticamente, famintos um pelo outro. As línguas se tocavam, acariciando-se, e se afastavam, imediatamente se procurando para de novo se tocarem, de forma magnética. Parecia algo quase sobrenatural, como se as duas almas estivessem se fundindo numa só. Harry sentia o cheiro dela, o gosto, o hálito quente, quase febril. Nunca haviam sentido nada parecido em toda a vida. Estavam impregnados um do outro. Ele deslizava as mãos pelas costas dela, por sua cintura, causando-lhe arrepios. Gina cedia completamente e se entregava ao beijo, cada vez mais intenso, mais profundo. Doía fisicamente resistir àquilo, estava se contendo para não gritar. Enterrava as unhas nele, tentando se segurar para que não desmaiasse novamente e não perdesse nenhum momento. Sentia que estava quase explodindo por dentro, como se estivesse no limiar da morte de novo. Mas de uma forma diferente dessa vez. A qualquer momento aconteceria.
Então aconteceu, quando o beijo parecia já ter esgotado todas suas energias. Ela gemeu, involuntariamente, sem saber por quê. Estava tonta, o coração batendo muito rápido. Ele não queria parar, ainda não estava satisfeito, mas viu que ela parecia sofrer com tudo aquilo, então não pôde mais continuar.
- Gina... - ela o olhava. O olhar perdido, estava trêmula, muito vermelha, suada, ofegante, fogo nos olhos castanhos. Ainda permanecia abraçada a ele, tentando recuperar o fôlego. - Me desculpe, eu perdi a cabeça, não sabia que isso ia acontecer... Eu... Você sabe que eu nunca faria nada que pudesse te mago...
- Harry, por favor... Eu sei disso! - disse, refazendo o compasso da sua respiração e desvencilhando-se do abraço. - Não se desculpe, não por isso! Não por me amar de forma tão intensa! Isso era tudo o que eu sempre quis... - ele estava realmente desconcertado com o que havia feito. - Mas eu percebi, por isso mesmo, que é simplesmente mais doloroso perder aquilo que você tem, da forma que nós temos um ao outro, sabe? Assim, por inteiro. Tudo o que aconteceu... Todos esses anos... Nós somos e sempre seremos um só. Esse é o motivo pelo qual eu não suportaria estar pela metade, sem você. É assim que eu ficaria se algo te acontecesse. Por favor, eu faria qualquer coisa, qualquer coisa... Mas não me peça para aceitar que se sacrifique, que você morra. Eu te amo mas isso seria demais para mim. Eu não posso viver um sonho sabendo que o final dele é um pesadelo sem fim, do qual eu não vou acordar - com essas palavras Harry olhou para Gina, ele próprio tinha lágrimas nos olhos agora.
- Gina, eu te amo! Quero te ver feliz, eu faço tudo o que você me pedir, mas... - ela o interrompeu.
- Então saia, Harry! Saia! Agora! - "Antes que seja tarde e eu mude de idéia", pensou. Sabia que não resistiria a outro beijo daqueles. - É só o que eu estou te pedindo.
Ele abaixou a cabeça, soluçava baixinho agora. O corpo ainda trêmulo, sedento por mais, vibrando com a lembrança vívida do beijo. Ele não podia acreditar. Finalmente disse, com firmeza, determinado agora.
- Eu não vou te perder, Virgínia Weasley! Eu vou te provar que nós podemos mudar esse futuro. E aí vou tê-la de novo para mim. Para sempre! - ela o olhava, triste enquanto Harry falava.
- Eu fui, sou e sempre serei sua, Harry... Só sua! De mais ninguém - era para ela difícil dizer aquelas palavras. - Só que nós não podemos... - ela começaria tudo de novo mas ele interrompeu.
- Está bem Gina, eu vou aceitar isso por hora. Saiba que é só temporariamente, eu sei o quanto você está abalada agora. Mesmo por que depois você própria vai ver que as coisas não funcionam como a gente quer. Você não pode simplesmente ignorar algo assim. Como você mesma disse é mais forte que nós. Mais forte até que a morte. Não podemos ficar longe um do outro, muito menos sem nos tocar. É como um imã, é intrínseco, não depende da nossa vontade. Agora que nós rompemos essa barreira não há mais jeito! Nós passamos do ponto em que poderíamos voltar. E você sabe o que isto significa?
Gina, de cabeça baixa, apenas acenava que não. Temia que ao olhar em seus olhos desistisse de tudo e se jogasse de novo em seus braços. Não conseguia falar nenhuma palavra.
- Que talvez o sonho continue, talvez o final não seja o que pensamos. Se meus pais não tivessem vivido o sonho curto deles eu não existiria. E hoje eu não poderia estar aqui, de pé, nessa sala, te amando desse jeito que eu amo, com meu coração parecendo que vai explodir dentro do peito de tanto amor. Pense nisso...
Com essa última frase Harry se retirou. Gina chorava ainda, não pensaria sobre aquilo, ainda não, ainda doía muito.
Ela acabara de ter os instantes mais felizes de toda sua vida. Sabia que embora só pudesse ser feliz, completa, ao lado dele tinha que desistir de tudo isso. Pagaria o preço mais caro que podia pelo futuro dele. Pela vida dele. Mas numa coisa ele tinha razão, não conseguiria ficar perto dele sem tocá-lo, sem abraçá-lo, beijá-lo. Só de pensar no beijo dele seu corpo estremecia, descontrolado, precisando senti-lo contra si de novo. Ela tinha tomado a decisão mais difícil da sua vida: ela devia ir para longe. Deveria partir, para sempre. Para longe do amor da sua vida. Para longe de Harry Potter.
