'8º capítulo - A verdade

No dia seguinte, Gina acordou cedo para conversar com Harry. Ele podia estar chateado com ela e com direito. Draco havia dado um soco nele por causa dela.

"Porque tudo tem que ser tão difícil?" - ela perguntava-se, descendo as escadas para o salão.

Ela avistou Harry com um machucado no rosto. Ele estava lendo algo no jornal. Algo que o deixava inconformado.

- Harry. - ela falou sentando-se ao seu lado. Ela olhou para ele. Por um instante ela imaginou como tudo teria sido se Harry a tivesse notado mais cedo. Mas retirou aqueles pensamentos de sua cabeça - Eu sinto muito.

Harry a olhou como sempre o fazia. Parecia olhar uma amiga ou uma irmã. Carinhosamente, com cuidado e proteção.

- Não peça desculpas. - ele falou gentilmente - Eu tive tanta culpa quanto Draco. Eu não deveria ter me metido entre vocês dois.

- Ele não devia ter feito aquilo. - ela falou triste. - Eu realmente sinto muito, Harry.

Gina levantou-se e antes que ela pudesse sair do salão, Harry falou para ela:

- Gina, - ele disse esperançoso - Uma semelhança que eu notei ontem foi à dor que eu vi em seus olhos e nos olhos dele. Eu nunca defenderia Draco mas eu desejo que você volte a ser feliz novamente.

- Obrigada. - ela disse saindo do salão logo depois.

Ela estava andando distraída pelo castelo. Não sabia onde seus pés a levariam. Ela havia perdido tudo que tinha conquistado na vida, seus amigos, seu caminho e seu coração.

Ela estava perdida, sem rumo, sem destino. Não sabia mais o que queria, não sabia mais o que fazer, sentia-se sem ar. Não conseguia mais respirar.

Seus pés a levaram para o lugar onde reviveu várias lembranças. O jardim. Como ela podia esquecer de todos aquelas tardes e noites observando o céu na companhia dele. Foi ali que tudo havia começado num fim de tarde em setembro. E tudo acabou tão rápido que ela nem tinha percebido o tempo passar.

Ela inspirou aquele ar puro da natureza e sentiu as lágrimas rolarem pelo seu rosto mais uma vez. Parecia que ela não controlava mais seus sentimentos nem sentidos. Eles simplesmente se expressavam quando achavam melhor. Mas quando seria o melhor momento?

Ela voltou para a biblioteca e apanhou seus livros que tinha deixado lá na tarde anterior. Ainda sentia o cheiro dele nos livros dela. Ele havia simplesmente tomado toda a vida dela para ele. E levara seu coração embora.

Ela queria fugir mas como ela poderia fugir de si mesma, do que ela havia se tornado? Gina travava uma luta desesperadora contra seu próprio coração e não sabia quem ganharia já que um não poderia viver sem o outro.

~*~

Draco lutava contra uma maldita voz que era parte de si mesmo que falava como se se aconselha alguém:

"Esta garota te mudou e você nem percebeu, Draco."

Era verdade. Mas ele lutava contra a verdade. Depois do pesadelo que havia sido a tarde anterior, a única coisa que evitava fazer era pensar nela. Mesmo sabendo que a presença dela estava em tudo que ele olhava ou pensava.

- Não pense mais nela, Draco. - ele afirmava para si mesmo - Você não a merece.

"Você sempre fez sofrer todas as pessoas que te amavam, Draco. - uma voz perturbadora dizia em sua cabeça - Do mesmo modo que aconteceu com sua mãe"

- Hei, Draco. - Goyle o chamou entrando no dormitório - Vai ficar aí a tarde toda, é? Vamos perturbar a Weasley.

Draco se levantou com raiva nos olhos. Goyle havia mexido numa ferida aberta e machucada de Draco. Ele acabou levando um soco no meio do rosto por tê-la chamado daquela maneira.

- Nunca mais fale dela desta maneira. - Draco falou voltando-se para a cama. Goyle estava ajoelhado no chão com o nariz sangrando.

- Cara, aquela Weasley realmente fez você mudar. - Goyle falou antes de sair do dormitório. - Mas se lembre, Draco, quem se envolve com um Malfoy sempre sai perdendo alguma coisa.

Tudo aquilo era a mais pura verdade. Ele não agüentava mais ficar ali trancado querendo morrer por não tê-la em seus braços. Por não poder beijá- la, por tê-la perdido para sempre.

Naqueles últimos dias, Draco e todos os outros alunos do 5º ano de Hogwarts fizeram o teste de Nom's. Eles teriam o resultado assim que voltassem para as aulas. Ele simplesmente havia parado de estudar naqueles últimos dias. Sempre via a imagem do rosto dela se formar diante dos seus olhos assim que apanhava os livros de qualquer matéria.

Ele havia acordado assustado na manhã de seu último dia em Hogwarts. Sabia que naquele dia definitivamente algo ruim aconteceria mas ele não sabia o quê. Mal havia conseguido pregar os olhos durante a noite, algo o dizia que não deveria voltar para casa pois ali seria seu fim.

Mas ele já tinha certeza que seu fim estava próximo e mesmo assim ele não tinha mais pra que viver. Seu pai havia lhe tirado as duas únicas pessoas que ele amou na vida e agora a única coisa que restava para ele era a morte, a morte que havia procurado logo após o falecimento de sua mãe. Ele arrumou suas malas na manhã cinzenta e sem vida. O sol estava escondido entre as nuvens naquela manhã. Ele mal podia sentir que havia amanhecido, os raios de luz nem chegavam à parte escura e sombria do castelo onde ficava a casa da sonserina.

Ele se sentia morto e sem vida alguma para continuar ali. Queria o mais breve possível se afastar de Hogwarts e de todas as doces lembranças dela que sempre estariam grudadas naquelas paredes.

Mas antes, ele tinha que se despedir. Mesmo que sentisse vontade de a ver uma última vez sentiu que aquele desejo lhe era proibido depois de tantos momentos horríveis que a fez passar. Então, decidiu escrever uma carta dizendo para ela os motivos que teve para fazer o que fez e onde ela podia encontrar a verdade.

Draco desceu com suas malas para o salão comunal e as deixou bem próximo da entrada. Se fosse por ele partiria logo de manhã mas sabia que o trem só partiria no início da tarde, depois do almoço, e além do mais ainda tinha que fazer com que a carta chegasse às mãos de Gina. Reuniu força e coragem que retirou da oportunidade de poder revê-la só mais uma vez. Encontrou Melina saindo do salão comunal da grifinória.

- Melina. - ele falou triste mais cordialmente.

Ela se virou e o observou. Ele estava com uma aparência horrível, seus olhos estavam inchados e se via claramente e passara longas noites em claro.

- Eu sei que nunca fui muito gentil com você. - ele falou tentando ser o mais direto possível - Mas eu gostaria que você entregasse isto para Gina. Diga para ela que aí está toda a verdade. E que a única coisa que eu espero dela agora é que ela possa ser feliz novamente mesmo que seja longe de mim.

Draco virou-se o caminho oposto o salão comunal da sonserina e seguiu seu caminho. Ele não controlava mais seu destino nem sua vida. Vida? Ele não tinha mais vida, aquele era um curto espaço de tempo que teria entre a vida e a morte. Sabia que aquele era seu último dia em Hogwarts e no mundo mágico.

~*~

- Ele pediu para eu entregar isto para você. - Melina disse para Gina suavemente - Ele falou que aí está toda a verdade que você procurava e desejou que você fosse feliz novamente mesmo que longe dele.

- Eu não quero mais saber nada sobre ele. - Gina falou sem nem sequer pegar no envelope com a carta. - Não quero mais saber o porquê.

Gina havia mentido apenas para si mesma pois Melina sabia que mais cedo ou mais tarde ela leria a carta, era apenas uma questão de tempo.

- Tudo bem. - Mel falou se levantando - Mas a carta vai ficar aí pois é a sua. Só fiz o que ele me pediu.

Mel se afastou de Gina e subiu as escadas para o dormitório. Gina sabia que a amiga estava sendo muito forte para agüentar o mal-humor constante dela.

Gina se levantou. "Não!" - ela falou pra si mesma - "Chega de sofrer." Ela deixou a carta em cima da mesa e saiu do salão comunal da grifinória. Mas ela não sabia que naquele momento estava pondo em risco tanto a vida dele quanto à dela.

Gina estava sentada mais uma vez no banco do jardim. Ela sentia que suas pernas sempre a levariam de volta para lá. De volta para o lugar onde ele havia lhe dito que lhe amava e ela realmente sentiu esse sentimento ser correspondido. Pela primeira vez, ela havia se apaixonado por alguém e este alguém retribuía seu amor. E mesmo que ela não quisesse admitir, ela acreditava naquilo.

Sabia que tinha perdido tudo mais não tinha visto o que havia ganhado. Tinha ganhado um amor que duraria para sempre e mesmo que se lembrasse que o para sempre não dura para sempre. Ela faria o amor deles durar para sempre. Pois seria algo diferente e novo, algo que após anos ela nunca iria esquecer.

Ela apoiou a mão no banco e sentiu algo se encostar à sua mão, algo espinhoso. Era uma rosa. Então compreendeu, o amor deles era como uma rosa, linda e delicada, mas com espinhos para serem cortados.

Ela voltou quase que desesperadamente para o salão comunal, sentia que agora tinha que saber o que ele iria lhe falar. Agora ela estava pronta para descobrir a verdade, qual que fosse ela.

~*~

Os alunos já embarcavam nas carruagens em direção a Hogsmeade para pegar o trem que iria levá-los para casa. Draco estava dentro de uma delas, finalmente deixaria Hogwarts para trás, onde deixou sua vida e seu amor e encararia frente a frente à morte que agora não lhe parecia mais tão horrível, agora que não tinha mais Gina em seus braços.

~*~

Gina, A verdade leva tempo. Mas este tempo acabou finalmente. Você quer saber o porquê que eu te magoei tanto, agora te darei o meu porquê.

Lúcio matou minha mãe.

A única pessoa que me dava forças para continuar vivendo o inferno que era a minha casa. Meu pai tinha encontrado Rabicho e Voldemort e os protege até então na mansão. Quando eu soube disso eu encarei o que eu mais temia na minha frente.

Virar um comensal da morte.

Este sempre havia sido meu destino até então, mas eu sempre pensei que conseguiria escapar dele. Na noite na qual eu me tornaria um comensal, eu fui apresentado a Voldemort e quando meu pai me fez a pergunta que eu tanto temia eu respondi o que eu sentia que era certo...

Não.

Como eu havia me recusado eu seria morto. Eu tinha consciência disso e a única coisa que eu temi naquele momento foi ter que deixar minha mãe viver sozinha com aquele monstro.

Foi no exato momento em que Lúcio me apontou a varinha e murmurava as palavras do imperdoável mortal que eu a observei entrando na minha frente. Recebendo o feitiço que era para a minha morte, não a dela. Eu quis morrer desde aquele dia e foi naquele dia que eu recebi a ordem para permanecer vivo.

Lúcio iria me matar logo depois de ter matado a própria esposa mas Voldemort o impediu e o ordenou para que me enviasse de volta a Hogwarts para que eu levasse o sangue de Harry Potter com o objetivo de Voldemort voltar imune aos poderes dele. Mas eu estava atordoado e sofrendo demais para me preocupar com aquela ordem, sendo que em todo aquele momento eu quis morrer.

Foi por isto que eu tentei me matar, eu peguei o carro e o desgovernei com o propósito de reencontrar minha mãe em algum lugar no mundo dos mortos. Enquanto o carro caía do penhasco, uma foto que eu tinha guardado da minha mãe caiu do retrovisor. Foi aí que eu parei e pensei se ela gostaria que eu fizesse aquilo com a minha vida. Antes de pensar em qualquer outra coisa, eu aparatei de volta na mansão. Eu aprendi aparatar com ajuda da magia negra que meu pai me ensinou desde criança.

Eu aceitei o acordo com Lúcio mais nunca tive a intenção de cumprir a ordem que ele havia me dado. Eu pretendia fugir antes disso. Mas para isso eu precisava sair de Hogwarts e ter repetido não colaborava com a situação que estava no ministério. Eu na realidade fui expulso e readmitido no mesmo dia. E só devido ao interesse que meu pai tinha comigo em Hogwarts.

Eu não queria mais saber de nada com estudos, só pensava que depois que voltasse para casa sem o sangue de Potter finalmente chegaria o meu tão sonhado fim. Mas meu pai me pressionou e eu fui forçado a melhorar meu rendimento escolar.

Foi aí que conheci você. Dei-me uma nova chance para continuar a viver, foi aí que comecei a me envolver com você e a cada dia que passava eu me sentia mudar, eu senti que você me fez querer mudar ser melhor e quando eu olhava pra você, eu sabia que podia. Você se tornou minha guia, minha luz, minha esperança, hoje eu notei, que você me fez mudar.

E eu gostaria que um dia você pudesse me perdoar por tudo de ruim que eu fiz com você. Pois saiba que eu terminei com você pensando em te proteger e não te ver sofrer. E quando eu vi que ficar longe de você para mim é como morrer e para você era o mesmo eu voltei atrás e nós nos magoamos ainda mais.

Eu tentei esquecer, Gina, você não sabe como eu tentei te esquecer mais é impossível uma pessoa lutar contra o que ela é. Contra o que ela sente. Você deve entender como é difícil.

A única prova que eu tenho contra meu pai são minhas lembranças daquela noite, e mesmo que elas estejam cravadas em mim para sempre, eu as deixo para você para que saiba que eu só tentei fazer o que achava certo. Espero que esta carta chegue em suas mãos, Gina.

Eu te amo. Mas sinto que minha presença vai continuar a lhe causar dor, portanto desejo que você possa algum dia voltar a ser feliz. Mesmo que não seja comigo, eu gostaria de poder ver você sorrindo só mais uma vez. Isto me deixaria em paz.

Imagino que quando você ler está carta eu já esteja bem distante de você. Hoje eu volto para a mansão, para acertar as dívidas com meu pai. Ele tem que pagar pelo que ele fez comigo e pelo que ele me fez fazer com você. Eu quero que você saiba que mesmo que eu morra esta noite, eu já estava morto assim que eu perdi você.

Espero que consiga me esquecer e ser feliz novamente.

Draco Malfoy.