Primeiro Pecado
Por Hime
-Capítulo 3-
"Fecho meus olhos
O tempo respira, posso ouvir
Todo amor e tristeza fundem-se no meu coração
Seque minhas lágrimas
Limpe minha face sangrenta
Eu quero sentir-me vivendo minha vida fora das muralhas"
(Art Of Life – X-Japan)
O sábado amanheceu ainda mais quente que o anterior, cheio de um céu
anil e um calor insuportável. Quem passasse nas calçadas sombreadas por ralas
árvores poderia olhar para o asfalto derretendo, cheio de marcas de pneus. Foi
neste início de manhã que Syaoran acordou muito bem disposto e ansioso pelo
seu final de semana.
Tomou
seu café apressadamente e seguiu para a sala de visitas. Ansioso, andava de um
lado para o outro, mas logo se sentou e ligou a televisão. Quem sabe isto lhe
tirasse um pouco da tensão? Passou a mão pelo rosto. Não, não havia tensão
e nem havia motivos para estar tenso. Depois que pensou nas palavras do colega,
chegou a uma única conclusão: era facilmente influenciado. Isto, era isto
mesmo. Ele, apaixonado? Balançou a cabeça de forma negativa com um sorriso
debochado no rosto. Ele não estava apaixonado de forma alguma. Foi somente uma
suposição de Minoru, não um fato exposto. Sakura era uma ótima amiga que
tinha conhecido e que tinha preferências em comum com ele, será que era tão
difícil entender? Voltando à realidade, desligou a televisão; fazia barulho
demais. O telefone tocou. Syaoran se jogou até a outra ponta do sofá e tirou o
fone do gancho.
- Alô?
[-
Syaoran?]- Uma voz grave o fez sentir o coração murchar.
-
Fala.- Disse com voz séria, se ajeitando no sofá.
[-
Nossa, minha voz ainda continua a mesma?- Eriol disse, divertido.- Liguei para
te fazer um convite. Vai ter um jogo de futebol hoje à tarde no campo de
sempre, você vai?]
- Faz
tempo que não jogo...- Lançou um olhar perdido para o teto.- Quem vai? A que
horas?
[- Em
torno das duas da tarde. Todo o pessoal que mora no bairro.]
- Duas
horas? Com esse sol? Você quer me tostar vivo?
[- Ei!
Você nunca teve essas frescuras. Vai ou não?]
- Tudo bem, eu vou.
[- Ótimo.
Até as duas.]- E desligou secamente o telefone.
Syaoran
suspirou pesadamente. Iria se levantar do sofá quando a campainha do telefone
soou novamente.
- Alô.
[- Ahn... Por favor, eu gostaria de falar com o Syaoran, ele está?]- A
voz feminina e tímida disse do outro lado da linha.
-
Sakura?- Grudou mais o fone à orelha.
[- Ah
Syaoran, é você? Tudo bem?]
- Sim,
tudo certo, e você?
[- Ah,
comigo tudo bem também.]- Pela voz, pôde perceber que a garota sorria.-[Li,
aconteceu um imprevisto hoje e não vou poder te devolver o livro agora pela
manhã, vou estar livre somente pela tarde, pode ser?]
- Já
disse, não se preocupe com isso...- Iria pronunciar o nome da amiga, mas
achando que poderia chamar a atenção da mãe resolveu deixa-lo oculto.- À
tarde estou livre sim.- Lembrou-se do convite do amigo.- Quer dizer... Na
verdade...hm...
Estava pensando num modo de conciliar as duas coisas. Não poderia deixar
de comparecer ao jogo que Eriol havia lhe deixado com vontade de ir e também não
queria abrir mão da possibilidade de rever Sakura, afinal, era sua amiga.
Tamborilou um pouco os dedos no braço do sofá e logo disse:
- Quer
ir a um jogo de futebol?- Sorriu ao fazer a proposta.
[-
Futebol? Ahn...]- Definitivamente não suportava futebol e nem entendia muito
bem a razão e felicidade de ver uma dúzia de marmanjos correndo atrás de uma
bola, mas seria uma boa idéia sair um pouco, dar algumas risadas.- [Tudo bem,
vai. Eu vou.]
- Ótimo!!-
Seu entusiasmo fez sua voz alterar-se um pouco, mas olhando com receio para os
lados, voltou a se acalmar com um leve sorriso no rosto.- Às duas da tarde no
campo atrás do bosque, sabe onde é?
[- Sei
sim. Aliás... Se não me engano, meu irmão também vai.]
- Seu
irmão? Ah, que bom.- Sua voz murchou, juntamente com seu sorriso entusiasmado.-
Então até mais.
[-
Sim, tchauzinho.]- Sentiu que a garota sorria novamente.
- Irmão...-
Repetiu em voz baixa. Por essa ele não esperava.
Eram duas e dez da tarde quando algumas nuvens cobriram o céu da cidade.
Não era um prelúdio de chuva, mas aliviava um pouco a força do sol. Estavam
em torno de quinze rapazes reunidos comentando o fenômeno quando Li chegou ao
campo. Cumprimentou todos, inclusive Tomoyo, que estava com Eriol. Sentou-se na
pequena inclinação que havia perto do campo e olhou para o horizonte. Viu a
silhueta de Sakura chegando com um rapaz, seu irmão provavelmente.
- Li!-
Sakura correu ao ver o seminarista. Cumprimentaram-se.
-
Olhe, este é meu irmão Touya. Touya, este é Syaoran, de quem lhe falei.
Alguns
pensamentos indefinidos e embolados passaram pela mente do jovem seminarista,
mas foram todos apagados quando sentiu o aperto de mão do irmão de Sakura. A
garota, com o livro em mãos, o entregou para o dono, que o colocou junto com
suas coisas. Tomoyo apareceu e convidou a colega e amiga para se sentarem em
volta do campo onde aconteceria o jogo.
Por
alguns imprevistos, os coletes dos times não foram trazidos e os jogadores
foram divididos entre o time 'com camisa' e o time 'sem camisa'. Touya
estava com uma roupa diferente dos demais, Sakura pensou um pouco e deixou um
pequeno 'oh' escapar de seus lábios. Ele seria o juiz. Eriol escolheu seu
time e logo arrancou a camiseta, a jogando longe. Li estava no time oposto. Além
de se proteger do mormaço, poderia confrontar com Eriol, que era um de seus
passatempos preferidos.
Touya
iniciou a partida. Durante o jogo, Sakura e Tomoyo esperneavam em razão de um
ou outro tombo, e quase entravam em campo com um kit de primeiros socorros
quando algum jogador sofria uma falta. O jogo estava favorável para o time de
Eriol, que ganhava por um gol, até que Touya apitou o final do primeiro tempo.
Tomoyo foi até Eriol e Syaoran que estavam bebendo água enquanto Sakura
permanecia sentada. Touya, depois de esvaziar sua garrafa térmica cheia de água
gelada, se sentou ao lado de Sakura. Com os braços apoiados nos joelhos, virou
a cabeça para a irmã, que olhava os rapazes conversando.
- O
que foi?- Sakura se sentiu observada e se voltou para o irmão.
- Você.-
Apontou o indicador para o rosto da garota.
- Eu?
O Quê?- Bateu na mão do irmão.
-
Mocinhas educadas não ficam olhando para as pernas dos jogadores.- A fitou
seriamente com seus belíssimos olhos castanhos.
Sakura
corou de vergonha e raiva.
-
Touya! Eu não estou fazendo isso!- Quase avançou no homem ao seu lado.
Touya
sorriu. Adorava provocar a irmã. Passou a mão pelos cabelos castanhos, quase
avermelhados.
- Tome
cuidado. O tempo está fechando.- Levantou-se para voltar a apitar o jogo.
Sakura
olhou para o céu. Agora nuvens escuras se mostravam no céu, dando um aspecto
diferente ao clima, agora com alguma brisa.
Tomoyo
voltou para sentar ao seu lado, e conversando, quase não prestaram atenção ao
jogo, que terminou empatado. Tomoyo novamente foi até o namorado e Sakura se
levantou batendo no short, tirando a pouca grama que havia grudado na roupa.
Iria até Syaoran, mas foi impedida por uma mão forte que segurava seu braço.
-
Vamos embora, Sakura! Vai chover!- Touya não tinha trocado de roupa e segurava
na outra mão uma pequena bolsa esportiva que continham suas coisas.
-
Espere um pouco Touya, eu só vou me despedir e...- Foi cortada.
-
Olha!- Com o rosto, indicou o céu, negro, infestado por pesadas nuvens.- Outro
dia você faz isso, vamos!- A puxou.
A
passos trôpegos, olhando para trás, acompanhou o irmão até a moto. Viu o
rosto de Syaoran ao longe e abanou o braço, tendo seu gesto correspondido.
Subiu na garupa da moto e agarrou-se ao irmão, que acelerou e foi embora. Li
ainda tentou correr até onde a garota estava, mas parou na metade do caminho,
visto que Touya não esperaria. Ao ver a moto sumir na primeira curva, sentiu
algumas pesadas gotas de chuva tocarem sua pele. Pareciam lhe castigar...
Depois de comer um rápido almoço, Syaoran foi até a escrivaninha do
seu quarto, ver o livro que estava ali aberto. A pequena janela do seu dormitório
estava aberta, deixando a luz e algum vento entrar, fazendo as folhas do livro,
agora secas, balançaram ao seu desejo. Manuseando um pouco a capa, viu que já
poderia recolocar o livro na estante.
- A
chuva de ontem quase o derreteu...- Murmurou enquanto andava cautelosamente pelo
corredor até chegar à biblioteca. Um roxo na canela não era o que queria
agora.
Ao
entrar no escritório-biblioteca encontrou a mãe sentada, provavelmente
analisando alguns relatórios da empresa. As cortinas estavam fechadas; a luz,
acesa.
- Mãe.-
Recolocou o livro em seu devido lugar.- Por que não abre a janela?
- Para
que, meu filho?- Levantou os olhos dos papéis e encarou o rapaz.
- É
melhor, mais saudável, e mais econômico.- Se sentou num dos sofás.
- Hm...-
Voltou-se para os papéis.- Não estamos mais na idade da pedra para necessitar
da luz do sol.
- Acho
que não é por isso...
-
Como?- Olhou-o fixamente.- Por que eu mentiria, Syaoran?
- Mas
mãe, antes você gostava tanto d...- Foi cortado bruscamente.
- Sem
'mas'. Deixe-me trabalhar.- Tornou a olhar os papéis.
Syaoran
se levantou levemente irritado. Aos poucos se sentia cansado de ser tratado como
uma marionete.
A
campainha tocou, e um Syaoran com semblante emburrado se recusou a atender, indo
para o seu quarto. Novamente ouviu o mesmo barulho. Saiu do quarto e foi até a
entrada da cozinha. Não viu nenhuma criada pela casa. Armando a pior carranca
que tinha, foi até a porta. De lá, viu a silhueta conhecida, com os belos fios
de cabelo sendo balançados pela brisa.
-
Sakura...- Murmurou involuntariamente.
A moça
abanou o braço, o chamando. Li deu uma pequena corrida até o portão.
- Olá!
Ontem nem nos falamos direito.- Sorriu e se apoiou nas grades do portão,
ficando de frente para o seminarista.
- Tem
razão, aquela chuva atrapalhou...- Sentiu um vento atrevido entrar-lhe pela
camisa.
- Por
isso vim te convidar para sairmos um pouco. Vamos?- Seus olhos verdes brilharam
ainda mais, acompanhando os lábios curvados num sorriso.
Por
alguns instantes Syaoran acompanhou cada reação daquele belo rosto, mas a voz
de Sakura lhe chamou novamente à realidade.
-
Vamos?
-
Ah... Onde?- Abriu um lado do portão, ficando ao seu lado.
-
Bem...- Olhou para cima, fitando seus olhos.- Nós poderíamos...
O
barulho de um trovão os interrompeu, e logo depois ouviram o barulho de um raio
caindo, provavelmente em algum sítio ou chácara que havia nas redondezas.
- Acho
melhor entramos, Sakura.
- Não,
eu vou para casa. É perto, acho que dá tempo.- Sentiram fortes pingos de uma
chuva de verão sobre suas cabeças.
- Acho
que não.- Syaoran sorriu.
Puxando
a garota para o lado de dentro do portão, o fechou. Segurou firme na delicada mão
e, rindo juntos, correram até o interior da residência.
-
Chegamos bem a tempo...- Comentou ao ver pela porta a chuva cair abundantemente.
Syaoran
sacudiu o cabelo com a mão, fazendo algumas gotas de chuva voarem longe. Olhou
para Sakura, que contemplava todo aquele derrame de água.
- O
que foi?
-
Nada. Espero que a chuva acabe logo...
Syaoran
tocou em seu ombro, fechando a porta à sua frente.
- Vem,
vamos pegar alguns livros.- Segurou seus dedos, a puxando.
À
medida que ia andando Sakura deixava os passos mais pesados, o que fazia os
finos dedos escaparem de sua mão. Por fim, quando se soltaram, Syaoran entrou
no escritório e pediu que Sakura esperasse na porta.
- Vim
pegar uns livros.- Disse sem fitar a mãe, para que esta nada lhe perguntasse.
- É?
Você disse que não gosta de ler quando está aqui nos fins de semana.- Bateu
duas vezes com a caneta na mesa, olhando o nada.
-
Realmente, mas não são para mim. Sakura está aí.- Aproximou-se da porta e
saiu carregando os livros.
Yelan
olhou a porta recém fechada. Sakura... Não havia simpatizado com esta garota
desde o primeiro momento, mas agora... Agora a antipatia tinha se tornado algo
maior...
Syaoran saiu da biblioteca e novamente apanhou aqueles dedos que antes
haviam fugido de sua mão.
- Vem,
vamos para um lugar mais fresco.- Disse, visto que a casa estava ficando abafada
pela ação da chuva.
Sentia
novamente os dedos escorregarem, mas agora pegou em sua mão, a segurando
firmemente. Olhou para trás e viu que Sakura caminhava mantendo a cabeça
abaixada. Mal sabia ele que a garota tinha as maçãs do rosto rubras de
vergonha. Pararam. Bem... Syaoran parou e Sakura bateu a testa em suas costas.
-
Aqui.- Disse sorridente.- Aqui é meu lugar preferido.
-
Ah...- Tirando a mão do local da batida, admirou.- É realmente muito bonito.
O
jardim dos fundos era amplo, bem cuidado. Uma variedade de flores e cores
cobriam canteiros muito bem feitos, quase desenhados. As árvores com suas copas
naturais, perfeitas, recebiam toda a água que o céu desabava. Syaoran apontou
um banco de madeira com encosto, largo, com aparência de antigo, porém firme.
Sentaram-se.
-
Conhece?- Mostrou o livro para a garota.
- Não.-
Olhou interessada, já pegando em suas mãos.- É dele também?
- Sim.
Este foi escrito antes dele atingir a fama. É muito bom.
- Que
legal...
Começou a folhear o livro, passando os dedos pelas beiradas amareladas.
O vento frio foi sentido pelo casal de amigos, e Sakura encolheu as pernas sobre
o banco, as colocando de lado.
- Está
com frio?- Educadamente Syaoran perguntou.
- Não...- Dizia sem nem ao menos prestar atenção, lendo alguns
trechos.
Li se
aproximou e colocou o braço direito por trás do banco com a desculpa de
apontar um parágrafo qualquer e pôde sentir o suave aroma que seus cabelos
emanavam... O mesmo que sentiu... Forçou um pouco a memória. O mesmo que
sentiu da primeira vez em que foram à biblioteca da sua casa pegar um livro.
Deitando levemente o rosto para a esquerda pôde novamente analisar todos os
contornos do delicado rosto da garota que estava à sua direita. Os belos olhos
fitando o livro, a face meiga, os castanhos cabelos tinham alguns fios dourados,
acobreados, que desciam todos juntos até o ombro. Não podendo tocá-la,
acariciou com o olhar todo o seu perfil, desde a franja soprada pelo vento, o
nariz, os lábios se movendo ao sussurrar de uma ou outra palavra, o queixo...
Sakura sentiu-se observada.
- O
que foi?- Virou seu rosto de repente, o pegando de surpresa, prendendo-o com os
olhos.
- Nada! Não se preocupe.- Quis sorrir, mas não conseguiu. Seus olhos o
desmentiriam.
Sakura
olhou-o sorrindo, Syaoran estava agindo de forma um pouco estranha. Voltou os
olhos para o livro. Não estava lendo, apenas estava passando o tempo perto do
amigo, apreciando sua silenciosa companhia. Ouviu seu nome sendo sussurrado,
virou-se, e antes que pudesse falar algo sentiu seus lábios serem tomados por
um beijo cálido. Sentiu um par de braços em volta do seu corpo. Ao primeiro
instante apenas ficou imóvel, tentando entender o que estava acontecendo, mas
aos poucos se deixou levar pelo momento. Com um flash de razão invadindo sua
mente, apoiou as mãos nos ombros fortes do rapaz e o afastou. Manteve seus
olhos no chão até que o fitou e falou:
-
Syaoran...- Sentou-se mais para trás, afastando-se dele.- Isto não está
certo.
Li
tinha seus olhos fixos nos da garota, sentia como se fossem mãos o chamando
para perto. Evitou respirar fundo. Não queria sanidade à sua mente agora.
-
Sakura, eu... Eu não sei mais o que está certo.
- Eu não
quero te atrapalhar. Pense no seu futuro, na sua carrei...- Calou-se ao sentir
um suave toque sobre o rosto.
- Não...
Não me peça isso...
Aproximando-se
dela, tomou novamente seus lábios, apoiando uma mão na nuca da garota. Há
muito tempo não se sentia tão livre. Pensando melhor... Desde que havia
entrado no seminário por ordem da mãe. Sentiu os leves braços contornarem seu
pescoço.
-
Syaoran, eu trouxe um lanche e...- Yelan parou, estática.
Seu
filho... Sentiu o sangue lhe subir à cabeça e com força jogou a bandeja no chão,
estilhaçando objetos. Sakura pulou de susto e Syaoran afastou-se rapidamente.
-
Syaoran Li!!- Yelan gritou com o rosto vermelho.
Sakura
levantou-se envergonhada, sem explicações. Apertou nervosamente as mãos. Logo
ouviu a voz enfurecida da mulher se dirigir à ela:
- Saia
daqui sua atrevida!- Berrou.- Vá embora!
Sem
esperar mais, Sakura sentiu um aperto no peito e começou a correr em direção
à saída.
-
Sakura! Espere!- Syaoran ainda tentou, em vão.
De
longe podia ouvir os soluços descontrolados da garota. Tentou correr também,
mas Yelan gritou:
- Não
se atreva!
Syaoran
a fuzilou com os olhos. Era a primeira vez que via a mãe agir com tamanha
tirania. Não pôde deixar de perceber que a chuva já havia parado. Deu um
passo para entrar em casa quando ainda ouviu a voz de Yelan.
- Não
pense que vai atrás dela.
Syaoran
não respondeu. Sem virar o rosto, continuou andando e trancou-se no quarto.
Tomou um rápido banho tentando esfriar a cabeça. Sabia que se falasse apenas
uma frase, ela não traria resultados muito bons. Depois do banho colocou uma
calça jeans qualquer e uma blusa verde, de linha, mangas compridas. Saiu do
quarto e encontrou a mãe sentada na sala, ainda furiosa. Syaoran abriu a porta.
- Você
não vai sair.- Disse imponentemente.
Syaoran
a olhou da cabeça aos pés com um olhar de desprezo. Dando meia volta, saiu,
batendo a grande porta de madeira com um estrondo. Yelan se levantou ultrajada e
seguiu direto para o escritório. Havia surgido uma idéia em sua mente e faria
um telefonema. As coisas não poderiam ficar simplesmente assim.
Sem pressa alguma Syaoran andava pelas ruas molhadas, evitando a calçada
para que as gotas das árvores não lhe molhassem. Com as mãos nos bolsos e a
cabeça baixa, pensava no que diria a Sakura quando a encontrasse. Estava indo
em direção à sua casa, não poderia deixar que a garota carregasse todo o
peso do mundo nos ombros. Ergueu a cabeça a fim de que o frescor do momento
batesse em seu rosto. Sabia que a culpa também era sua. A maior parte, aliás.
Não pensou muito naquele momento, e nem mesmo desejava. Viu que tinha chegado
em frente à casa de Sakura. Sem hesitar tocou a campainha, estava na hora de
agir.
Depois
de ter avisado de sua presença, houve alguns momentos de silêncio e se sentiu
observado. Abriram a porta, era Touya.
- Pois
não?- Disse sério como de costume.
- Eu
gostaria de falar com a Sakura.
Viu o
homem hesitar um pouco. Meneou a cabeça e abriu a porta totalmente.
- Pode
entrar.
Assim
que Li entrou Touya fechou a porta e foi para o seu quarto. Syaoran estranhou,
mas apenas até o momento em que olhou para os lados e viu Sakura sentada em
algumas almofadas no chão. Não tinha percebido sua presença ainda. Deu um
passo à frente e a garota, que antes mexia vagarosamente num controle apontado
para o aparelho de tv, baixou o objeto, o colocando na mesa. Encolheu-se,
calada. Tinha os olhos avermelhados.
-
Sakura...- Disse com voz moderada.
Caminhou
até o seu lado e se sentou, ignorando o comercial que passava na tv. Tocou no
ombro da garota, mas ao ver a retração, retirou a mão.
-
Escute... Você não tem culpa, não precisa se sentir tão mal.- Sakura
permanecia calada, e vendo que a situação continuaria assim continuou.- Fui eu
quem não quis raciocinar naquele momento, me desculpe. Nada daquilo deveria ter
acontecido e... Perdoe minha mãe também. Ela estava muito nervosa e...
-
Esqueça Syaoran.- Falou firmemente.- Não precisa se desculpar, apenas esqueça,
finja que nada aconteceu. Será melhor para todos.- Evitava o fitar por muito
tempo.
Syaoran
sentiu como se uma mão se fechasse com força e esmagasse seu coração. Queria
que Sakura entendesse, perdoasse ou quem sabe ficasse magoada para sempre,
mas... Esquecer? Esquecer tudo o que sentiu e o que se passou em sua alma
naquele momento? Sentiu-se chateado, mas se era assim... Que retomasse a amizade
que havia entre eles antes, ou ao menos tentasse. Pensou algum tempo e sorriu
forçadamente.
- Tudo
bem.- Encostou-se no sofá, estirou uma perna e dobrou a outra, onde apoiou o
cotovelo e apontou para a tv.- Quem são?
-
Estes? Nunca ouviu falar? Syaoran, eles são muito bons!- Seus olhos brilharam
de entusiasmo.
- Hum...
Não, nunca ouvi falar. Na minha casa só tem música clássica, antiga. Discos
antigos da minha mãe.
- Bom,
pode não ser um clássico da atualidade, mas... Ouça.- Imperativa, quase
mandou.- Não é interessante?
-
Sim... Muito...
Sakura parecia
empolgada enquanto falava sobre a banda, mas estava ouvindo completamente. A
música tinha uma ousadia e força que o expunham à verdade. O ritmo quase
agressivo parecia tentar colocar à força aquelas palavras em suas entranhas.
Fixou-se
em uma parte:
"(...) por que eu amo você
Quero amar até os crimes que cometeu
Não preciso de nome, passado, nem coração
Só preciso de dois corpos, um querendo o outro
Eu não sei como amar, não me pergunte por que
Queime-me com o fogo da sua paixão
Vou para o amanhã, pois não tenho nada a perder(...)"
Sentia-se incomodado, como se verdades espetassem seus ouvidos. Inquieto,
passou a mão pelo rosto e levantou-se se despedindo. Precisa falar com alguém
nesse momento. Tudo conspirava... Só faltava a sua decisão. Ao sair pelo portãozinho
da entrada dirigiu-se à casa de Eriol. Talvez ele tivesse a resposta para o que
procurava.
Continua...
N/A: Olá! Demorei um pouquinho mais com esse capítulo, mas nada
comparado ao fic anterior, né? ^^" Prometo que neste fic não demoro mais que
quinze dias para postar!
Se a relação deles tinha ficado meio confusa, espero que tenha se
esclarecido um pouco. Ah, e não pensem mal da Sakura, tadinha, ela não faz de
propósito. Sobre a Yelan, eu quero muito saber a opinião de cada uma de vocês,
por favor.
Ah sim, como este fic vai ter um capítulo a mais do que eu esperava,
coloquei o trechinho da música "Art Of Life" que é do X-Japan, não do
Glay. O outro trecho, que coloquei no final, é de "Yuuwaku", do Glay.
Sem confusões, por favor!
"Você faz aniversário e eu ganho presente", assim disse a Rachel
uma vez. Isso é bem legal, mas não agora. Deixemos este 'privilégio' para
o próximo. Portanto, comentem, sim? ^.~
Agradecimentos:
Anna Li Kinomoto:
Gostou deste capítulo? ^.~ Que bom que não está achando cansativo, este foi
até legal de se fazer.Thanx!
Madam Spooky: Pobre Li... Está na sua mira. Coitada
da Sakura, ela não é tão má, só meio lenta. -__- Obrigada por acompanhar.
Lally-chan: Haa... sumida! Que tal, gostou da minha
Yelan? Que bom que gostou do capítulo anterior. B-jos e obrigada.
Violet-Tomoyo: Nossa Tomoyo,o capítulo dois te
agradou tanto assim? Que bom que gostou! Tentei dar um sabor a mais neste
capítulo três, espero que também tenha gostado. Obrigada!
Jenny-Ci: Imagina que eu iria me esquecer de você!
^.~ Como você tinha dito antes, a Yelan pegou no pé, na perna e em tudo mais o
que tinha e não tinha direito... Obrigada!
Diana Lua: Realmente.. Põe estranheza na Yelan....
-__- E sim, "O Crime do Padre Amaro" é aquele em que ele faz a amante
abortar e ela acaba morrendo... Padrezinho corrupto!!! Bom, o fic já está no
fim, acho que vou ter que começar num final desde já. Aliás, eu te respondi o
e-mail? Eu lembro de ter escrito, mas de ter enviado.... Obrigada por tudo,
Diana!
Renata ^_^: Aqui
está a continuação. A Yelan superou o limite de mala e pulou para um
container, hehe. Espero que tenha gostado da relação S+S neste capítulo.
Obrigada!
Miaka Hiiragizawa: Bom, trabalhei mais com S+S, ficou
melhor? Acho que realmente tinha ficado meio vago... Obrigada pelo toque!
Lívia: Pronto, sua G16A(gostou da sigla?). A
depravação está chegando com força total, hehe. Você mal espera pelo
próximo capítulo. Ah, já consertei aquele detalhe do primeiro capítulo.
Obrigada!
†Miru Himura†:
Hahaha.
O Li não está bem se desviando... afinal, ele não parece querer muito, né?
Aqui está a continuação. Obrigada pelo comentário.
Dai: Já disse para não se preocupar com esse
negócio de review... E não te contei muita coisa porque... Bem, o fic já é
curto, está acabando... Bem, a Yelan agora sim provou que faltam alguns
parafusos. ^^'' E pobre da Sakura, hein? Tachada de corromper o
"padre"!!! Obrigada!
Mitty: Por favor, não morra, hein? O que achou do
capítulo? Espero que tenha gostado. Obrigada por acompanhar e dar sua opinião.
B-jos,
Hime
Hayashi
