CAPÍTULO CINCO – A VARINHA MÁGICA

Nada como uma notícia para melhorar o humor de qualquer pessoa. E aquela não seria diferente. A presença de Olívio Wood, o antigo capitão de quadribol da Grifinória, tornava a chance de ganhar o título de quadribol no ano ainda maior. Rony parecia ganhar uma nova motivação e estava mais confiante. McGonagall concordou com a permanência de Olívio em um quarto na torre da Grifinória. Porém, o ex-aluno somente estaria em Hogwarts no começo de outubro, dali três semanas.

         - Precisamos começar a treinar, você não pode esperar que o Olívio chegue aqui e te transforme em uma semana antes do jogo contra a Lufa-Lufa. – repetia Harry para Rony, que parecia ter desistido dos treinos diários com o amigo.

         - Se você insiste tanto, vamos reunir o time e tentar jogar. – dizia Rony, especialmente mal humorado naquele dia. Snape tinha pegado sua cola da poção novata grudada no caldeirão.

         Andando pelos corredores de Hogwarts, Harry viu o Sr. Olivaras conversando com Dumbledore. Parecia um pouco preocupado, assim como o diretor. Logo depois, entregou uma caixa comprida e fina dourada, com leves fios azuis. Cutucou o amigo:

         - O que será que tem naquela caixa?

         - Provavelmente um filhote de basilisco... – respondeu Rony, com muita calma.

         Harry olhou para o amigo abobado com a resposta dada.

         - Calma Harry! Você anda muito apavorado! Não deve ser nada. 

         Enquanto Harry e Rony tentavam treinar quadribol, Hermione e Ametista trancaram-se em seu quarto para elaborar a resposta para Vítor Krum. Hermione parecia tensa.

         - Isso não vai dar certo. Ele não vai nem abri-la. – reclamava Hermione.

         - Deixe de ser boba Hermione! – repreendeu Ametista tipicamente ríspida. – Não duvido que ele até pense em não abrir, mas a curiosidade vai ganhar. Ele não vai saber se você repensou na resposta e aceitou o pedido ou está apenas explicando-se.

         - É, isso faz sentido. – consertou Hermione ligeiramente assustada.

         - Bom, agora – dizia Ametista, pegando a carta de Krum da mão de Hermione e um pergaminho. – precisamos montar uma boa explicação.

         Ametista pensava, lendo novamente a carta enquanto Hermione observava os garotos no jardim treinando quadribol. Rony parecia gritar com Harry.

         - Hermione, eu pensei em começar dizendo que ele entendeu mal a sua resposta, que você ainda não pensa nisso.

         - Nisso o quê? – indagou a garota, desligada.

         - Em namorar! – irritou-se. – Acorde Mione! – Hermione engoliu em seco e passou a encarar Ametista. – E também precisa deixar muito claro que você o considera muito e não quer perder sua amizade.

         - Ah! Isso? Claro, posso dizer isso sim. – respondeu desanimada.

         Depois de um tempo, Ametista terminou a carta para Hermione.

         Caro Vítor,

         Não quero que me entenda mal. Fiquei muito magoada por você pensar que não gosto de você. Eu te considero muito e não quero acabar com essa amizade! Eu não te joguei nem humilhei! Você tem um coração muito bonito e acho que apenas disse isso num momento de raiva.

         Outra coisa, quero que saiba que eu não aceitei seu pedido de namoro porque ainda acho que sou muito nova para namorar. Não penso nisso. Apenas procuro me dedicar aos estudos. Espero que tenha entendido que, de forma alguma, quis te machucar ou duvidei de seus sentimentos a meu respeito. Não vamos desperdiçar nossa amizade por isso. Eu peço que pense bastante e veja que gosto muito de você.

                                                                           Hermione

P.S: Tire essa idéia maluca de que sou apaixonada pelo Harry, pois eu não sou!

         - E então? O que você achou? – perguntou Ametista.

         - Ficou ótima. Só espero que ele leia.

         - Ah, ele vai! – respondeu Ametista segura.

         Na hora do jantar, Harry sentou-se ao lado de Hermione e fechou a cara. O mesmo aconteceu com o mal humorado Rony, que se acomodou ao lado de Ametista, à frente. As garotas ficaram se olhando, sem saber o que falar. Hermione tomou a atitude:

         - O que foi que aconteceu?

         - É simplesmente impossível ensinar alguém que não está nem aí! – exclamou Harry.

         - E é pior ainda ter um professor como esse! – gritou Rony, fazendo Ametista franzir a testa.

         - Ah! Agora sou eu o ruim! Acho que você inverteu os papéis!

         - Mesmo? Pois não parece nem um pouco, Sr. Apanhador de Ar!

         Ametista afogou uma risada. Harry encarou-a nervoso. Os alunos começavam a olhar. Hermione então, parou a briga:

         - Harry, alguém disse que seria fácil ensinar o Rony?

         Todos ficaram quietos. Harry resolveu atacar Hermione.

         - Ah! Agora você está do lado dele?!

         - Eu não estou do lado dele. E você Rony? Alguém disse que o Olívio viria para formar um novo Rony, um goleiro genial, em uma semana? – interrogava Hermione, agora para cima de Rony.

         - Então está defendendo ele?! – exclamou Rony, surpreso.

         - Eu não estou defendendo ninguém. Eu só acho que não vai adiantar vocês ficarem brigando. Vocês deviam se juntar para fazer a Grifinória ganhar essa copa, isso sim!

         Harry e Rony entreolharam-se. Ametista observava a discussão com um sorriso irônico, irritando Harry. Rony então, estendeu a mão para  o amigo, que relutou. Hermione deu um chutão nele por baixo da mesa. O garoto então, apertou a mão de Rony.

         Ao final do jantar, Dumbledore chamou a neta. Ametista aproximou-se e ele avisou que ela deveria estar em sua sala dali dez minutos. Era um assunto muito importante.

         Pouco tempo depois, estava Ametista entrando na sala de seu avô.

         - Gatos Adocicados. – disse a garota.

         A porta abriu-se e ela entrou. Encontrou o avô, sentado em sua mesa, pensativo. Como sempre, observou Fawkes, chacoalhando-se dentro de sua gaiola, nervosa. Isso sempre acontecia quando ela entrava lá. Depois o Chapéu Seletor, num banquinho, ao lado da janela.

         - Sente-se Ametista. – ordenou, sério.

         A menina sentou-se, relutante. Não havia feito nada de errado.

         - Eu recebi uma encomenda hoje.

         - Encomenda?

         - Sim, é uma encomenda muito especial. Você tem alguma idéia do que possa ser? – perguntou, testando a neta, como de costume.

         - Não, vovô. – respondeu, temerosa.

         Dumbledore abriu uma gaveta em sua mesa e tirou de dentro uma caixa fina e comprida, dourada com delicados fios azuis. A mesma que Harry havia visto Sr. Olivaras entregar ao diretor.

         - Foi o que eu imaginei. – deduziu Dumbledore, ainda sério – Mas, tenho certeza de que vai gostar.

         - É para mim? – indagou desconfiada.

         - Você estava esperando isso há tanto tempo! Quanto mesmo? – pensou Dumbledore. – Ah! Claro, desde seus onze anos.

         Ametista abriu a boca, mais nenhum som saiu. Parecia estarrecida com a encomenda, já sabia o quê era.

         - Não acredito! Ficou pronta? – perguntou Ametista, com ambição nos fundos olhos azuis.

         - Sim, depois de cinco longos anos. – respondeu o avô, ainda sério.

         Ametista pegou com cuidado a caixa dourada e a abriu. Dentro dela, tinha um pano azul claro, parecendo de seda, muito fino. Desenrolou-o e espantou-se:

         - Minha varinha mágica!

         Era uma varinha de aproximadamente trinta centímetros. Porém, era muito diferente de qualquer outra varinha já vista. Esta tinha um cabo fino e percebia que um filete envolvia a varinha de cima a baixo. Mas a diferença mais nítida foi a sua coloração. Era totalmente prata, em vez de marrom, como todas as varinhas. Ela fitava a varinha, impressionada. Dumbledore disse:

         - Segure-a. Veja se é esta mesmo!

         Ametista olhou o avô, parecendo confiante. Com muita cautela, tirou-a de dentro da caixa. Imediatamente, um fenômeno curioso e muito bonito aconteceu. Da mão de Ametista, surgiram raios de diferentes cores, que corriam por toda a extensão de sua varinha, juntando-se na ponta desta e conjurando uma grande raio verde. Toda a sala de Dumbledore foi preenchida com a luz verde incrivelmente bela que o raio oferecia. O diretor abaixou a cabeça imediatamente, como se estivesse desapontado.

         Ametista ficou durante um tempo olhando para a varinha. Parecia já reconhece-la, sabia que era perfeita para ela. Até que Dumbledore falou em tom decepcionado:

         - Esta é a sua varinha mágica. Ela te escolheu.

         - Nem parece verdade! Depois de tantas tentativas, finalmente uma varinha me escolhe! – disse orgulhosa.

         - Mas, eu devo avisar-lhe de uma coisa essencial – disse, agora em tom muito mais sério de que a neta jamais via visto antes. – Esta varinha, Ametista, é uma varinha especial! É única, não há e nunca haverá nenhuma igual a essa! Nem parecida! E ela tem um poder muito maior do que se pode imaginar. Então, você tem de tomar cuidado, muito cuidado com ela. Você me entendeu?

         - Claro. Entendi, meu avô. – respondeu, segura.

         Ametista saiu da sala, com a varinha guardada novamente na caixa e pensando por que o avô disse aquilo. Ela sabia que não existem varinhas iguais. Mas por que havia deixado tão claro?

***

Na manhã seguinte, Ametista reuniu os três colegas na sala comunal antes de descerem para o café da manhã. Rony estava alegre, apesar de um pouco sonolento. Harry e Hermione comentavam que teriam uma nova aula de bichos-papões com Lupin. Ametista logo desceu correndo de seu quarto, com a caixa de sua varinha.

         - Olhem! – exclamou, muito feliz.

         Harry bateu o olho na caixa e lembrou-se de tê-la visto antes. Rony também, apesar de um pouco perdido.

         - Hei, Harry, essa não foi a caixa que nós vimos ontem com o Sr. Olivaras?

         - Foi, exatamente essa caixa.

         - Mas vocês acharão mais legal o quê tem dentro dela. – disse Ametista orgulhosa, desenrolando o pano sedoso azul claro.

         Os três espantaram-se quando viram a varinha. Hermione parecia incrivelmente surpresa.

         - Isso seria uma varinha mágica? – indagou, curiosíssima.

         - É, é a minha varinha. – respondeu Ametista, cheia de si.

         - Mas, eu nunca vi uma varinha assim! – estranhou a amiga – Ela é prata!

         - Eu sei. Meu avô disse que é uma varinha muito especial.

         - Mas você não tinha uma outra varinha? – perguntou Rony.

         - Tinha, mas não era minha. Era a melhor varinha que eu tinha encontrado. – respondeu a menina.

         - Como assim? A melhor? – questionou Harry, curioso.

         - Bom, quando fui no Sr. Olivaras há cinco anos, para comprar minha varinha, não teve nenhuma que se adequasse a mim. Nenhuma me escolheu. Então, como não podia ficar sem nenhuma, eu testei milhares e a melhor, eu fiquei enquanto o Sr. Olivaras fabricava a minha.

         - Nossa! Nunca ouvi alguém dizer que não tinha encontrado a varinha perfeita para si – comentou Rony. – Acho que isso é realmente raro de acontecer.

         - Também acho – concordou Hermione. – O Sr. Olivaras nunca errou em suas composições.

         - Mas o mais incrível é quando eu pego a varinha. Toda vez isso acontece. – disse Ametista, retirando a varinha mágica da caixa.

         O mesmo fenômeno aconteceu. Raios coloridos saíram de sua mão e dispersaram-se por toda a varinha até se juntarem e formarem uma grande raio verde, que iluminou toda a sala, deixando-a toda verde.

         - Oh! – exclamaram Hermione e Rony, enquanto Harry ficava paralisado.

         - É muito lindo! Quando recebi minha varinha, ela apenas me permitiu cometer um feitiço. – disse Hermione, desanimada.

         - É, a minha também. – concordou Rony.

         Ametista olhou para Harry que permanecia paralisado, olhando para ela e para a varinha.

         - O que foi, Potter? – perguntou a menina, impaciente.

         Ele nada respondeu. Rony aproximou-se dele e acenou com a mão na frente de seu rosto, tentando "acordá-lo" do transe que parecia sofrer. Mais nada aconteceu. Hermione percebeu que havia algo errado com o amigo. Tomou sua varinha e apontou para o amigo:

         - Despertálus!

         Harry imediatamente acordou e caiu no sofá, como se despertasse muito rápido e sentisse tontura. Percebeu que sua cicatriz passava a queimar ardentemente. Não conseguia nem colocar a mão nela, pois era tão forte a dor que, se fizesse, talvez piorasse.

         - O que aconteceu? – indagou Rony para Harry.

         - Não sei. Apenas fiquei paralisado por um tempo. – explicou, sem comentar nada, pois sabia que Rony e Hermione ficariam muito preocupados com ele.

         Harry ficou encarando Ametista e sua varinha. A garota parecia cerrar as sobrancelhas como se estivesse raivosa.

         - Vamos tomar café. – disse Hermione, mais calma.  

         A caminho do salão principal, Harry lembrava do que acabava de ocorrer e apenas conseguia visualizar o forte raio verde que era projetado da varinha de Ametista. O raio era exatamente igual ao de Voldemort, em Avada Kedavra.

         Na mesa da Grifinória, os alunos tomavam café calmamente. Rony estranhou que Harry não comia nada, permanecia olhando para o grande prato de pão francês em sua frente.

         - Você não vai comer, Harry? – perguntou o amigo.

         - Não, estou sem fome. – respondeu Harry, que não conseguiria comer com toda aquela dor que sentia em sua cicatriz.

         Fred e Jorge comentavam sobre Gina, que agora se sentava com a turma do quarto ano. Parecia muito animada e vinha assim de um tempo.

         - Eu acho que a nossa irmã está namorando – sussurrou Fred para os amigos.

         - Namorando? Mas já? – indagou Hermione.

         - O quê? Ela já desistiu do Harry? – debochou Rony.

         Diferentemente de todas as outras vezes que alguém mencionava a paixão de Gina por Harry, o garoto não deu a mínima. Na verdade, nem percebeu quando Rony repetiu pela terceira vez a brincadeira.

         - Harry, qual é o problema? – perguntou o amigo, começando a ficar preocupado.

         - Não, não é nada – respondeu rapidamente antes que alguém notasse algo. – Do que você estava falando?

         - Em que planeta você estava? – disse Jorge, surpreso.

         - Desculpe, é que eu estava pensando em outra coisa. – explicou-se logo Harry.

         - Eu estava dizendo que acho que a Gina está namorando. Ela fica andando para cima e para baixo com um menino, aquele ali – Fred apontava para um garoto de cabelos e olhos castanhos, ao lado da irmã – Aí o Rony perguntou se ela já tinha desistido de você.

         - Rony! Você sabe que ela não gosta de mim! – reclamava Harry.

         Ametista, por sua vez, só observava a conversa, já que não conhecia a paixão secreta de Gina por Harry. Depois, no caminho para a sala de Lupin, a garota perguntou para Hermione:

         - A irmã do Rony gosta do Potter?

         - Acho que não mais, mas ela gostava dele. Depois eu conto a história que aconteceu no segundo ano. Mas por quê você pergunta isso?

         - Nada... Por nada. Coitada também! Gostar do Potter! – respondeu Ametista rapidamente.

         - Você ainda não acredita no Harry?

         - Não é uma questão de confiança, Hermione. Ainda não conversei com o Severo também. – terminou Ametista.

         Ao entrarem na sala de Lupin para Defesa Contra a Arte das Trevas, encontraram Snuffles guardando a porta. Ficaram todos esperando no corredor. Harry, Rony, Hermione e Ametista aproximaram do cachorro negro. Todos passaram a mão na cabeça do cão. Porém, na vez de Ametista, a garota ficou olhando o animal de cima como se desconfiasse de algo. O animal rosnou. Logo, Lupin chegava à porta da sala.

         - Me perdoem pelo meu atraso. Entrem. – desculpava-se o professor.

         Todos entraram e se posicionaram em suas bancadas. O professor parecia um pouco tenso, mas estava pronto para a aula com os bichos-papões. Enquanto o professor arrumava o armário que o demônio estava trancado, Harry pensava se contaria ou não para Sirius sobre o ocorrido de manhã na sala comunal da Grifinória. A dor havia diminuído.

         - Muito bem, meus alunos. Agora, quero ver se vocês realmente lembram de nossas aulas passadas. Qual é o feitiço para afastar o bicho-papão? 

         Pela primeira vez, todos os alunos levantavam a mão, não apenas Hermione. O professor escolheu Rony.

         - Ridikkulus! – respondeu, com convicção.

         - Muito bem, cinco pontos para a Grifinória – disse o professor. – Agora, vou escolher um aluno para enfrentar o bicho-papão – Lupin olhava em volta, à procura do aluno. – Claro, Sr. Longbottom!

         Neville deu um pulo de susto. Não esperava ser escolhido. Mas, pelo menos gostava de ser por este professor, Lupin sempre foi muito atencioso com ele. Deu três passos para frente, parando exatamente à frente do armário.

         - Lembra-se do terceiro ano, Neville? – indagou o professor.

         - Acho que sim, professor. – respondeu com a voz trêmula.

         O professor contou até três e abriu o armário. Exatamente como no terceiro ano, saiu o professor Snape, mais cruel que nunca. Neville arrepiou-se de medo.

         - Por que ele tem medo do Severo? – perguntou Ametista para Rony, em baixo tom.

         - Você não conhece Snape como nós, Ametista. – respondeu.

         Lupin esperava ansiosamente a reação de Neville, que, com certa dificuldade, tomou sua varinha e gritou:

         - Ridikkulus!

         O bicho-papão Snape tomou a forma de um palhaço. O mestre de Poções estava com uma vestimenta verde-limão, no lugar da negra já conhecida por todos, uma grande peruca amarela e o nariz muito vermelho com se tivesse passado todo o ano com um forte resfriado.

         Todos os alunos começaram a rir e o bicho-papão voltou ao armário. Até mesmo Ametista ria. Em seguida, o professor foi chamando uma série de alunos e assim transcorreu toda a aula do dia. Entretanto, no final, o professor chamou uma pessoa inesperada.

         - Srta. Dumbledore!

         Hermione olhou e sorriu para a amiga. Harry estava postado ao lado de Rony e comentou vingativo:

         - Vamos ver qual é o maior temor dela!

         - Imagine se aparece você lá na frente, Harry? – debochou Rony, fazendo Harry forçar uma risada insatisfeita.

         - Muito engraçado Rony!

         Ametista aproximou-se do armário e olhou para a classe, que estava atrás da garota, todos ansiosos. Lupin disse então:

         - Já conhece o processo. Pegue a varinha.

         - O senhor tem certeza? – indagou a menina, relutante.

         - É claro que tenho. Confie. – sussurrou o professor ao pé do ouvido de Ametista.

         Ametista lembrou-se então da cena da manhã e tomou a varinha, escondida no casaco, tentando evitar um alvoroço. Harry, que observava de longe, ao lado de Hermione e Rony, percebeu a luz esverdeada saindo das vestes de Ametista bem fraca. Logo em seguida, sentiu a cicatriz ferver intensamente. Levou a mão à testa. Hermione percebeu:

         - O que foi, Harry? Sua cicatriz está doendo? – exclamou a amiga, apavorada.

         - Não, não é nada. Apenas estou com um pouco de dor de cabeça. – respondeu com a voz fraca, por causa da forte dor.

         Lá na frente, o professor esperava Ametista mostrar sua varinha. Quando a viu, tomou um susto:

         - O que é isso, Ametista? – indagou parecendo muito tenso.

         - Ah, minha nova varinha, professor. – respondeu com cautela e baixinho.

         - Bom – dizia Lupin, que não tirava o olho da varinha – vamos fazer isso logo senão a aula acabará.

         O mestre contou até três e abriu a porta do armário, cauteloso. Surpreendentemente, o bicho-papão transformou-se em um grande espelho.

         - UM ESPELHO? – exclamou Hermione e Rony juntos.

         Harry, que estava com a cabeça abaixada por causa da dor, levantou e viu o grande espelho, em frente de Ametista.

         - Por que ela teria medo de um espelho? Que garota maluca! – perguntou Harry, que por um momento havia esquecido de sua intensa dor.

         Reparou que a garota agora estava paralisada, olhando apavorada para o espelho. E o reflexo era incrivelmente estranho, estava turvo. Atrás do que seria o reflexo de Ametista, estava uma negra sombra arrepiante. Ametista estava com a sua varinha em punho, mas não conseguia dizer nenhum feitiço que impedisse aquele espelho. Os alunos começavam a rir disfarçadamente.

         - Vamos Ametista! – repetia o professor.

         - Eu... Eu não consigo! – gritava a menina tremendo.

         - Você consegue! – tentava convencer o professor.

         - NÃO, EU NÃO CONSIGO! – esbravejou a menina.

         No mesmo momento, o professor transformou o espelho em luas, como sempre fazia. Já estava no horário da aula de Poções. Os alunos saíam da sala de Lupin, ainda rindo. Ametista ficou parada no mesmo lugar. Parecia totalmente petrificada. Lupin passou a mão em seu cabelo. Ametista mexeu a cabeça e o professor viu seus olhos arderem de terror. A garota começou a acariciar os pulsos com se quisesse protegê-los. Harry, Hermione e Rony paravam diante da aluna.

         - Eu não consegui, professor. Eu não consegui. – repetia muito decepcionada consigo mesma.

         - Não há problema. Depois você pode passar aqui? Quando todas as aulas tiverem terminado?

         - Sim, professor. – Ametista guardou a varinha nas vestes e saiu cabisbaixa da sala, sozinha.

         Os três permaneceram ali, olhando o professor, que estava pensativo.

         - O que foi aquilo, professor Lupin? – perguntou Hermione.

         - Não sei, mas foi muito estranho. Agora, vão para a aula de Poções. – ordenou o professor.

         Ametista vinha chegando à masmorra de Snape para a aula de Poções e encontrou o professor encostado na porta. Não cumprimentou.

         - Então agora a senhorita passa e não cumprimenta mais? Algum problema, Ametista? – perguntou Snape com a voz cortante.

         - Nenhum. – respondeu ríspida.

         A garota entrou na sala e encontrou os colegas da Grifinória cochichando. Sabia que era dela, mas não dava a mínima. Sentou-se na bancada. Antes que pudesse acomodar-se direito, Draco veio falar com ela.

         - Então, Dumbledore? Você não parece bem. – disse em tom sarcástico.

         - E o que isso importa a você? – respondeu, querendo acabar com o papo, arrogante.

         - Importa muito. Devo admitir que não gosto do pessoal da Grifinória, nem de seus amigos. Acho todos idiotas, mas eu gosto de você. – falou Draco, parecendo sorrir.

         Nesse instante,  entrava Harry, Hermione e Rony na sala. Os três se postaram ao lado da bancada de Ametista.

         - Sabe... Como é mesmo seu nome? – perguntou a menina.

         - Malfoy, Draco Malfoy. – respondeu ríspido, não havia gostado da garota não lembrar de seu nome.

         - Certo! Malfoy, sinceramente... – ia dizendo bem baixinho, fazendo Draco se abaixar e ia aproximando-se de Ametista para ouvir melhor. – VÁ CUIDAR DA SUA VIDA! – berrou ao final, fazendo Draco afastar-se bruscamente, quase surdo.

         Draco mudou o tom de voz, enquanto Harry pigarreava alto.

         - Espere e verá, Dumbledore. – respondeu apenas o menino, saindo dali.

         - Pode deixar que estarei esperando! – gritou Ametista nervosa.

         - Ametista, você está bem? – perguntou Hermione. 

         - Estou, não precisa se preocupar! – disse Ametista ligeiramente grosseira.

         Rony postou-se ao seu lado, já que na aula passada, Snape havia mudado-os de lugar. O professor pediu que os alunos colocassem os materiais pedidos em cima das bancadas para fazerem a poção novata novamente. Depois, olhou para Rony e contraiu os olhos.

         - Peguem as suas varinhas e façam isso logo. – ordenou, de muito mau humor, como de costume.

         Ametista, que estivera muito nervosa depois do ocorrido na aula de Arte das Trevas, esqueceu-se do ocorrido na sala comunal de manhã e pegou a varinha, sem escondê-la nas vestes. O fenômeno já conhecido começou a acontecer e muitos dos alunos não perceberam até que os raios coloridos que saiam da mão da menina e percorriam toda a varinha se juntassem e conjurasse o luminoso raio verde, que agora iluminava todos os cantos possíveis e impossíveis da sala de Snape, que era muito escura. Novamente, Harry paralisou. Hermione logo percebeu e começou a chacoalhar o amigo, tentando tirá-lo do transe. Gritos de surpresa dos alunos ecoavam por toda a sala. Para a surpresa de Rony, Snape caiu em sua cadeira, trêmulo. Encarava o raio esverdeado, apavorado. Quando acabou o fenômeno, Snape retirou a aluna da sala e a levou para o corredor.

         - O... O que foi isso, Ametista? – perguntou o professor, ainda com a voz cheia de temor.

         - Como vou saber?! Toda vez que eu toca na minha varinha, isso acontece! Não é culpa minha! Não posso evitar que aconteça! – explicou a garota, alterada e ríspida.

         - Você tem de impedir que isso aconteça novamente. Você me entendeu? – agora gritava o professor, mas Ametista não se impressionava.

         - Pode deixar, isso não vai acontecer de novo. – assegurou Ametista levemente irônica.

         De volta a sala de aula, os dois eram observados por olhos curiosos de todos os alunos. Draco ainda estava com o queixo caído. Ametista sentou-se na sua bancada junto com Rony, que lembrava a reação estranha de Snape, em relação ao raio.

         - Voltem ao seu trabalho! – ordenou Snape.

O professor começou a rodear as bancadas, verificando os caldeirões. Hermione ainda agitava Harry, tentando tirá-lo do transe. Snape percebeu a agitação e foi até a bancada de Harry.

         - Srta. Granger! O que está fazendo? – indagou, surpreso.

         - É que o Harry está paralisado e eu não consigo acordá-lo. Parece hipnotizado! – tentou explicar Hermione, ofegante.

         O professor aproximou-se de Harry e percebeu os olhos perdidos no tempo do aluno. Tomou sua varinha e apontou para o estudante:

         - Despertálus! – gritou.

         - Como fui me esquecer disso? – perguntava-se Hermione, furiosa.

         Harry piscou três vezes. Quando sua visão voltou ao normal, deu de cara com o professor olhando para sua cicatriz. De repente, a forte dor em sua cicatriz voltou e mal conseguia abrir os olhos agora.

         - Dez pontos a menos para a Grifinória! – disse o professor, em relação a Harry.

         Depois da classe ter se acalmado, Snape dividiu a sala em dois grupos, para uma competição de poções. Claro que no final, a Grifinória ganhou, afinal, Sonserina não possuía Hermione Granger. Entretanto, o professor deu um jeito de dar alguns pontos a mais para a casa que coordenava.

         Na aula de História da Magia, o professor Binns explicava sobre a origem de Hogwarts. Hermione parecia cada vez mais fascinada com as novidades que não estavam nos livros.

         - Como vocês sabem, Gryffindor e Slytherin, apesar de formarem a escola juntamente com Ravenclaw e Hufflepuff, eram inimigos. Possuíam diferentes idéias e fortes opiniões. Portanto, num dia qualquer, Gryffindor teve a idéia de colocar uma estátua sua na frente da grande porta de entrada de Hogwarts. Logo, a idéia caiu nos ouvidos de Slytherin, que achou que o inimigo teria mais destaque que ele. Assim, resolveu fabricar uma estátua maior que a de Gryffindor. Seguindo a idéia, Ravenclaw e Hufflepuff também construíram suas estátuas, porém menores do que dos dois outros fundadores da escola.

         - E estas estátuas ainda existem, professor? – perguntou Hermione, muito interessada.

         - Infelizmente, as estátuas desapareceram repentinamente. Ninguém sabe o quê realmente aconteceu com elas. – respondeu o professor, desapontado.

         - Eu daria qualquer coisa para ver estas estátuas. – sussurrou Hermione para Ametista.

         No almoço, Hermione ficou esperando alguma carta de Vítor Krum. Ametista havia percebido a inquietação de Hermione.

         - Não adianta, você mandou a carta ontem, Mione! Ele só vai responder daqui uma semana. – tentou acalmá-la.    

         - Responder? Quem? – indagou Rony, desconfiado.

         - O... O... – tentava arranjar uma desculpa Hermione, quando foi interrompida por Ametista.

         - O pai dela.

         - Ah... – apenas disse Rony, continuando a conversa com Fred.

         - Não sei se você reparou, Rony, mas nós não estamos tendo aula de tarde hoje. Não tem nada no horário. Isso é muito raro aqui. – comentou Hermione, interrompendo.

         - Graças a Deus, um dia livre. – debochou Rony, junto com Fred.

         Harry estava quieto, pensando e tentando entender o porquê de sua dor na cicatriz ou da paralisação quando Ametista pega naquela varinha. Valeria a pena contar algo a Sirius ou Lupin ou até mesmo a Dumbledore? Não conseguia encontrar uma solução. Sabia que a garota ia conversar com os professores sobre o ocorrido com o bicho-papão. Decidiu então, ir mais tarde falar com eles, antes da garota.

***

Com a tarde livre, Rony chamou o amigo para treinarem um pouco quadribol. Harry não concordou, já que estava decidido a conversar com o padrinho e Lupin. Rony seguiu então para a sala comunal e encontrou Hermione carregando três grossos livros sobre Hogwarts.

         - Você realmente entrou de cabeça na aula do Prof. Binns, não é?

         - Você não achou interessante, Rony? – perguntou, surpresa.

         - Na verdade, acho que somente você estava interessada na aula. Todo o pessoal estava muito entediado – disse, segurando a risada, quando viu a cara de reprovação da amiga, atrás daqueles livros.

         - Vocês não sabem apreciar uma boa aula. – e saiu da sala, mal humorada.

         Logo depois, Rony estava andando com a sua vassoura pelos corredores à procura dos irmãos. Não sabia se estavam em aulas. Viu Ametista vindo do fim do corredor, carregando sua vassoura também.

         - Eu estava procurando você mesmo. – exclamou Ametista.

         - O que foi?

         - A Hermione disse que você ia treinar quadribol. Já que ela me disse que você estava sozinho, pensei se não quer minha ajuda. Sabe como é, eu posso ser uma melhor professora que o Potter! – gabou-se Ametista.

         - Você só está sendo gentil para continuar essa disputa com o Harry? – estranhou Rony cansado das brigas dos dois.

         - Não estou sendo gentil! Eu não tenho nada para fazer e sei que você precisa de ajuda. Então, estou fazendo isso pela Grifinória. – consertou a garota.

         - Claro, claro! – fingiu Rony concordar. – Que bom que você joga quadribol. – disse Rony falsamente, seguindo com a amiga para os jardins de Hogwarts.

         Harry parou diante da porta de Lupin e respirou fundo. Repensou na decisão de contar a eles. Mas, sabia que isso poderia trazer conseqüências piores se não contasse aos dois. Eram tão atenciosos com ele. Mereciam saber. Entrou na sala e encontrou Lupin com um grosso livro dourado em cima da mesa, concentrado. Sirius estava escrevendo uma carta.     

         - Posso entrar? – perguntou educadamente, mesmo depois de já ter entrado.

         - Você já entrou mesmo. – respondeu Lupin, rindo em seguida, sem levantar os olhos ao garoto.

         - Algum problema, Harry? – indagou Sirius, largando a pena em cima da mesa, cheia de tinta.

         - É, talvez.

         Sirius pulou da cadeira, preocupado. Lupin permaneceu com os olhos no livro. O padrinho de Harry perguntou o quê era. Harry respondeu calmamente:

         - É a minha cicatriz...

         - O QUE? – gritou Sirius interrompendo-o, pulando em cima do garoto, ofegante.

         Somente naquela hora, Lupin tirou os olhos da enciclopédia ou o que fosse aquilo e sentou-se melhor em sua cadeira. Depois, disse a Sirius:

         - Se você não sair de cima dele, não vai conseguir explicar-nos.

         Sirius acalmou-se e abaixou para olhar melhor a testa do afilhado.

         - Parece normal. – respondeu, com a voz trêmula.

         - A cicatriz não muda quando ele sente dor, Sirius – disse Lupin como se Sirius fosse burro. – Sente-se Harry. – disse Lupin, sempre calmo.

         O garoto sentou em uma das cadeiras em frente da mesa do professor e Sirius ao seu lado.

         - Quando isso aconteceu? Como? – interrogava Sirius ao menino.

         - Bom, tudo começou esta manhã. Estávamos sentados na sala comunal e Ametista tinha uma coisa para nos mostrar...

         - Ah, a Srta. Dumbledore. – disse Lupin, com certo orgulho.

         - Ah, a Srta. Dumbledore. – repetiu Sirius, imitando Lupin.

         O professor lançou um olhar cortante ao amigo. Depois de um período silencioso, Harry continuou:

         - Ela trouxe uma caixa e a abriu. De dento tirou a varinha dela, aquela prata. E devo dizer que nunca vi nenhuma varinha igual. Mas, prosseguindo, ela pegou a varinha e uns raios coloridos saíram da mão dela e percorreram toda a varinha. Na ponta dela, elas se juntaram formando um grande raio verde.

         - É, eu vi o raio saindo de suas vestes na aula. – falou Sirius em tom severo.

         - Depois, somente lembro de cair no sofá e sentir minha cicatriz ferver...

         - Está vendo, Lupin? – gritou Sirius, misturado com um latido – SUA CICATRIZ FERVEU! – esbravejou e frisou o padrinho.

         Lupin permaneceu quieto.

- Hermione me disse depois que fiquei paralisado por uns momentos – complementou Harry.

         - PARALISADO? – espantou-se novamente Sirius.

         - Isto aconteceu apenas uma vez, Harry? – indagou Lupin, calmo como no começo da conversa.

         - Não... – Harry ia explicando, mas Sirius o interrompeu.

         - NÃO? QUANTAS VEZES ISSO ACONTECEU?

         - Na sua aula, ela retirou a varinha de dentro das vestes, pois sabia que se fizesse, isso poderia acontecer novamente. Mas, eu consegui ver os reflexos dos raios saindo da roupa dela e minha cicatriz, desta vez, queimou mais do que da outra vez...

         - NOVAMENTE? MAIS? – indagava Sirius, apavorado.

         - Depois de um tempo, a dor passara. Porém, na aula do Snape...

         - ACONTECEU MAIS UMA VEZ? – indagou o padrinho pela terceira vez.

         - Acho que ela se esqueceu do que aconteceu de manhã e tirou a varinha sem proteção. Fiquei paralisado novamente e, quando Snape me despertou, minha cicatriz voltou a ferver.

         - Não aconteceu mais uma vez, não é? – parecia mais calmo Sirius.

         - Não. Mas hoje foram já três vezes. Estou com dor até agora – reclamou Harry. – O que vocês acham que está causando is...

         - O RAIO DAQUELA MALDITA VARINHA, É CLARO! – repetia Sirius, antes de Harry terminar a pergunta.

         - Não tome decisões precipitadas, Sirius. – disse Lupin.

         - Quando você vai desistir de bajular esta garota, Lupin? – indagou Sirius em tom raivoso.

         - Sirius, mantenha a calma. Agora, Harry, eu vou investigar isso. Quanto à dor em sua cicatriz, para que ela não aconteça novamente, quando a Srta. Dumbledore tocar nela, mantenha distância ou feche os olhos.

         - Ah! E eu aposto que você não vai falar nada com aquela garota, estou certo? – dizia Sirius, quando Lupin levantou e abriu a porta para ninguém. – Vai fugir, agora? – indagou Sirius, desafiando-o.

         O professor ficou em silêncio, olhando o corredor. Sirius aproveitou e sussurrou ao afilhado:

         - Preciso te alertar sobre algumas coisas, Harry... – e Lupin lançou um olhar para dentro da sala e, logo em seguida, disse:

         - Fique quieto, Sirius! Agora, Harry, quando tiver pesquisado e descoberto tudo sobre isso, eu te aviso. Durante este tempo, tome as precauções que te falei.

         Harry percebeu pelo tom de voz de Lupin que era para sair dali. Despediu-se do padrinho e do professor e saiu da sala, sem entender as alfinetadas de Sirius a Lupin.