Harry voltava para a sala comunal da Grifinória, quando encontrou Hermione correndo em sua direção. Estava com um grande sorriso no rosto.
- Harry! – dizia ofegante. – Precisava mesmo conversar com você. Só você pode me ajudar.
- Fala. – respondeu o garoto curioso.
- Eu estava na biblioteca procurando algumas coisas sobre aquelas estátuas dos fundadores de Hogwarts e encontrei em um deles o nome de um livro que dizia o paradeiro das estátuas. – explicou, atropelando algumas partes.
- E aonde eu entro nisso, Hermione?
- Preciso da sua capa da invisibilidade. – pediu com a face rosada.
Harry olhou para a amiga desconfiado. Hermione continuava corada e sorrindo.
- E para que você vai usá-la? – perguntou o garoto.
- Eu preciso entrar na sala reservada. Eu tenho certeza que esta lá. O livro está lá! – exclamou.
A idéia de loucura passou rapidamente pela cabeça de Harry, que estava achando que Hermione estava muito entretida na história das tais estátuas. Mas aceitou emprestar a capa.
- Muito obrigado! – e depois deu um abraço no menino.
Hermione já corria de volta à torre quando Harry a parou.
- Você sabe onde está o Rony?
- Ele está treinando quadribol com a Ametista lá embaixo nos jardins. – respondeu a garota, se desvencilhando do amigo.
Harry seguiu para os jardins segurando sua Firebolt. Ficava relembrando das palavras de Sirius. Tomar cuidado com o quê? E como o padrinho frisava a proteção de Lupin em cima de Ametista. Tudo estava muito estranho. Chegando aos jardins, encontrou Rony rodando em volta dos arcos de quadribol. Ametista segurava a goles e, pelo que parecia, cobraria uma suposta falta. Ela gesticulava e Rony parecia seguro em defender a goles. Harry subiu em cima de sua Firebolt e subiu até a altura da garota. Agora, conseguia ouvir o quê Ametista dizia a Rony.
- Rony, não se esqueça do que te falei. Fique sempre rodeando os arcos. Mas nunca faça na mesma ordem. Assim, o artilheiro não saberá em qual arco você atacará. Fique atento. – Ametista pegou o apito que estava pendurado por um cordão em seu pescoço e apitou.
A garota atirou a goles no arco do meio. O garoto passou muito perto, mas não conseguiu segurar a goles. Depois Rony exclamou:
- Essa passou perto! – e riu em seguida. – Oi Harry!
Rony perguntou como foi a visita na sala de Lupin e Ametista lembrou-se de que deveria ir até lá para conversar como o professor pedira de manhã.
- Potter, você pode continuar ajudando o Rony? – indagou a menina, atrasada. Harry confirmou com a cabeça.
Antes de Ametista descer, Harry gritou por ela.
- Você poderia fazer um favor a mim? – pediu Harry.
A garota franziu a testa. Mesmo que ela tivesse ouvido sua história e chegava até a andar com ele, fazer favores era demais!
- O que você quer, Potter? – indagou irritada.
- Isso. – disse e apontou para a garota.
- Isso o quê? – repetiu sem entender.
- Pare de me chamar de Potter!
Ametista ficou durante alguns segundos pensativa e depois respondeu rapidamente:
- Não! – e Harry ficou furioso.
A garota desceu da sua vassoura e correu em direção ao quarto para lavar o rosto. Logo após, seguiu para a sala de Lupin. Enquanto isso, Hermione pegou a capa de invisibilidade no quarto de Harry escondida. Coberta inteiramente pela capa, Hermione seguiu para a biblioteca da escola. Madame Pince estava totalmente atarefada por causa de um aluno que havia deixado quatro livros fora do lugar. Aproveitou a chance e entrou com cuidado pela porta principal junto com um grupo de alunos da Lufa-Lufa. Passou por uma mesa onde Colin Creevey e seu irmão, Dênis, pesquisavam sobre a guerra dos bruxos contra os gárgulas. Sabia essa matéria do começo até o fim, com todos os detalhes. Seguiu para a porta da Sessão Reservada. Olhou ao redor, procurando alguém que pudesse estar atento. Nada havia. Abriu a porta calmamente e entrou. Os inúmeros corredores de livros deixavam a garota maravilhada.
- Que paraíso. – sibilou para si mesma.
Procurava em total silêncio o tal livro que deixava claro o lugar das estátuas dos fundadores de Hogwarts. Entretanto, ouviu passos vindo da porta da sessão. Lembrou-se que ainda estava com a capa e passou a observar todos os corredores. Não conseguia encontrar ninguém. De repente, conseguiu enxergar em uma das pequenas placas que dividiam as sessões de livros a palavra "Hogwarts". Imaginou, pelo nome do livro ("Perigos e segredos guardados a sete chaves em Hogwarts") que ali deveria estar o livro. Aproveitou e caminhou silenciosamente até a coluna de numerosos livros. Com um piscar de olhos, encontrou o livro, no topo da coluna. Porém, era muito baixa e não conseguia alcança-lo. Começou a ficar tensa, procurando algo para subir em cima. Achou, no meio da quinta sessão de colunas um banquinho desgastado.
- Parece servir... – disse baixinho, verificando o banquinho.
Voltou para a coluna onde havia encontrado o livro e colocou o banco em frente, procurando subir para o alcançar. Quando estava subindo, sentiu um calafrio e a presença de alguém. Olhou para baixo do lado esquerdo e não viu ninguém. Antes de verificar o lado direito, ouviu uma voz perguntar:
- Harry?
A menina virou-se, reconhecendo a voz. Tirou a capa e sorriu ao professor. Lupin apenas respondeu:
- Hermione? Pensei que você não era capaz de fazer isso! – e riu.
Desceu do banquinho e tentou explicar para o mestre. Ele logo entendeu e tentou ajudá-la. Alcançou o livro e pegou para a garota.
- Muito obrigado, professor. Mas espere que o senhor não conte isso a ninguém. – pediu acanhada Hermione.
- Não, não contarei. Mas da próxima vez, me peça e eu pego para vocês. Não está mentindo para mim, não é? – indagou Lupin, desconfiando da explicação de Hermione.
- Não, só quero saber onde elas estão mesmo, professor. – respondeu a menina, referindo-se às estátuas.
- Quando acha-las, me avise – pediu o mestre, rindo – Mas, falando sério agora, não mexa com estas coisas, Hermione.
- Por que? O que estas estátuas poderiam fazer? – perguntou a garota, intrigada.
- Apenas não seja curiosa o bastante para ir atrás delas – respondeu Lupin, em tom sério.
- Se o senhor insiste. – disse Hermione, recolocando a capa e saindo com o professor, escondida.
Somente naquela hora reparou que o mestre estara segurando um livro grosso, parecendo muito antigo, sobre magia negra. Hermione estranhou, pois sabia que mesmo os professores preferiam evitar estas coisas. Mas, não deu muita importância. Optou por voltar para a sala comunal e ler como uma louca.
Chegando a sala de Lupin, Ametista encontrou o professor voltando para sua sala, já que todo o incidente na biblioteca havia acontecido enquanto treinava com Rony e ajeitava-se. O professor parecia muito satisfeito de ver a aluna.
- Estava esperando você. – disse Lupin, abrindo a porta da sala.
Snufles estava descansando. Acordou imediatamente quando os dois entraram na sala. Ametista observou o cão e cerrou as sobrancelhas. Lupin notou. Snufles também e latiu para a garota. Ametista se afastou.
- Algum problema com Snufles? – indagou Lupin sério.
- Eu acho que ele não gosta de mim. Eu sinto que há algo de errado dele comigo – comentou. Lupin apenas riu – Acho que eu sei o que o senhor quer saber. – disse repentinamente.
- Sabe? – perguntou para ela, curioso.
- Sei. Você quer saber por que tenho medo de espelhos.
- Vamos dizer que você acertou uma parte de nossa futura conversa. Eu te chamei aqui para conversar sobre sua varinha também.
- Minha varinha? – estranhou Ametista.
- Sim. Eu vi o reflexo verde saindo de suas vestes hoje de manhã na aula.
Ametista engoliu alto. Lupin prosseguiu:
- E eu quero saber o por quê de ela fazer isso. Suponho que você saiba, não?
- Infelizmente, nisso eu não poderei ajudar, professor. – respondeu desanimada. Snufles latiu novamente.
- Por que? – perguntou o professor, interessado.
- Bom, eu vou contar toda a história. Eu recebi a varinha ontem de meu avô...
- Ontem? – interrompeu Lupin. – Como ontem? Você viveu todo este tempo sem ter uma varinha?
- Não, eu tinha outra. Mas não foi a varinha escolhida.
Lupin fazia uma cara de quem estava perdido. Ametista respirou fundo e explicou toda a história de nenhuma varinha a escolher. No final, o professor parecia mais curioso que nunca.
- Nunca vi isto acontecer. É muito estranho.
- É, eu sei. E por isso fiquei com a melhor varinha que tinha. Até que o Sr. Olivaras fabricou uma varinha nova especialmente para mim.
- E você está com ela aí?
- Estou. Quer vê-la melhor?
Ametista tirou a varinha do meio das vestes com o casaco, sem tocar na varinha. Nada aconteceu. Deixou a varinha em cima da mesa do professor. Lupin começou a observa-la mais atentamente.
- Incrivelmente bonita. Porém, nunca vi qualquer varinha prata. Mostre-me o fenômeno que aconteceu hoje de manhã na aula. – ordenou.
- O senhor tem certeza? Pois o Harry Potter não reagiu muito bem a isso. – disse Ametista e imediatamente Snufles postou-se ao lado de Lupin.
Lupin confirmou com a cabeça, estava muito curioso. Ametista pegou então a varinha e todo o fenômeno aconteceu, iluminando a sala, agora esverdeada. Ao final, os dois pareciam impressionados.
- Nunca vi coisa parecida. – sussurrou Lupin.
Lupin pegou a varinha na mão e começou a estudá-la. Ficou com ela durante dez minutos. Ametista permanecia curiosa, esperando algum tipo de diagnóstico. O professor pegou um pergaminho e anotou algumas coisas. Depois, Lupin mudou radicalmente de assunto.
- Agora, vamos falar sobre o espelho. Explique-me aquilo. Por que você teria medo de um espelho?
Ametista estava calada. Apenas ficou encarando o professor. Lupin repetiu a pergunta. A garota não mudou a postura. Lupin levantou da cadeira e adotou uma maneira radical. Abriu o armário da sala e de dentro saiu um espelho enorme, o mesmo que na aula da manhã. A garota gritou e virou-se para trás, como se quisesse esconder-se do espelho.
- Ametista, você precisa confiar em mim! Eu sou seu guia aqui em Hogwarts e preciso estar a par de tudo que acontece com você!
A neta de Dumbledore permaneceu quieta, de costas para o espelho e o professor, trêmula.
- Confie Ametista! Se não me disser qual é o problema, vou deixar que o bicho-papão descubra! – avisou Lupin, com a face corada.
Ametista lentamente virou para frente, ainda de olhos fechados e disse com a voz fraca ao professor:
- Tudo bem. Eu conto.
Lupin transformou o espelho em luas, como sempre e o bicho-papão voltou para o armário. Lupin sentou-se novamente em sua cadeira e falou para a garota abrir seus olhos. Estava ansioso para saber o mistério.
- Por onde quer começar? – indagou o professor, paciente.
- Desde que eu me lembro, desde que entendia as coisas do mundo, eu tenho esse sonho...
- Sonho? – questionou Lupin, perdido novamente.
- É, um sonho. Sempre tenho o mesmo sonho. Na verdade, eu não chamaria aquilo de sonho. É bem mais um pesadelo. Persegue-me durante anos.
- E como é?
- É estranho. Como disse, eu tenho este sonho desde muito pequena e mesmo assim, sempre me vi com meus quinze, dezesseis, dezessete anos. Do jeito que estou agora ou um ano mais velha...
- Exatamente deste jeito? Mesmo quando era pequena?
- Sim. Ele começa sempre do mesmo jeito. Eu estou andando por uma rua escura, parecendo Hogsmeade. Estou chorando e chove um pouco. Estou carregando uma mala. Percorro um quarteirão. Até que chega um ponto em que a chuva começa a apertar e eu continuo andando sozinha.
- Você disse que estava chorando. Sabe por que?
- Não. Só sinto uma dor enorme no coração. Como se tivesse sido... sei lá... traída. Ou alguém em quem eu confiava havia me abandonado.
- Totalmente sozinha?
- Sim, tanto que eu olho para trás e não encontro nada. Apenas escuridão. Algumas luzes de postes estão acessas, mas nada consigo ver. Porém, em uma parte, logo depois, eu chego em frente de uma casa antiga e meio desgastada. Eu sinto que devo entrar. Abro um portão, que range muito alto. Quando entro na casa, eu encontro tudo destruído. Algo me puxa para o andar de cima – ela parou por um instante. – Subo e até sinto que alguém está me olhando. Mas não dou importância e continuo subindo.
- Você não sabe o que te puxa para dentro da casa e para o andar de cima? Não sabe se é alguém ou uma luz acessa? – indagava o mestre, todo trêmulo.
- Eu não sei, é alguma coisa. No andar de cima, eu começo a me assustar. Eu ouço gritos, chamados de socorro. Gritos de lamento e de dor. E sei que não de uma única pessoa.
Lupin de repente, começou a suar frio. Inclinou-se para frente, ouvindo cada palavra da história com muita atenção. Ametista prosseguiu:
- Mas, não consigo descer. A força continua a me puxar para o sótão da casa. Encontro uma escada espiral que levava para cima. Quando subo, uma porta prata bloqueia minha passagem. Lembro que tento abri-la, mas não consigo. Está trancada. Recordo pegar a varinha, esta varinha – apontou para a varinha em cima da mesa. – e consigo destrancar a porta.
- Quando você recebeu a varinha, não percebeu a semelhança com a varinha de seu sonho?
- Sim, eu achei que já a conhecia. Mas custei a ligar as duas varinhas. Demorei, até que a semelhança surgiu esta noite em minha cabeça.
- Hum, interessante. – sibilou o professor, fitando a varinha.
- Bom, depois que consigo destrancar a porta, me espanto, pois entro numa sala repleta de espelhos. – e suspirou em seguida, tensa.
- E? – interrogava agora Lupin.
- Eu viro as costas e vejo que não há mais a porta prata. Apenas espelhos. Olho para frente, somente espelhos. Olho para o chão, espelhos, para o teto, espelhos. Começo a ficar paranóica! – exclamou Ametista, apavorada em continuar.
Os dois ficaram por um momento quietos, Lupin conseguia ouvir a respiração da aluna e os tremores que Snufles fazia, encostado em sua mesa. O cão estava totalmente impressionado.
- Você não pode parar agora, Ametista. Termine. – pediu o professor, muito mais curioso e entretido na história assombrosa.
A garota respirou e olhou para as janelas. Depois, continuou:
- Como dizia, eu fico apavorada. Não encontro saída. Vejo meu reflexo em todos os espelhos. Meu cabelo estava mais comprido e meus olhos cada vez mais claros. Respirava rápido e somente conseguia ver meu reflexo. Eu sei que sou assim hoje em dia, como no meu sonho, pois eu passo em frente de espelhos rápido, mas consigo perceber meu reflexo apavorado algumas vezes.
- E você fica lá? Trancada?
- Não. De repente, os espelhos não refletem mais minha imagem. Todos mostram os espelhos, uns aos outros, mas não eu. Apenas o que está na minha frente. Apenas aquele – pausou novamente. – No meio do silêncio, eu ouço um ranger de porta. Penso que é no portão de entrada da casa. Mas eu me engano e – agora estava realmente apavorada só de contar. – vejo um vulto. Grito, mas sei que ninguém me escutou. Viro as costas e encontro um homem, coberto por uma capa preta, ensopada. Parecia que havia saído de uma tempestade. Não consigo ver seu rosto.
- Homem? Que homem? – indagou Lupin curiosíssimo.
- Este é o mais estranho. Eu não consigo ver quem é, mas dentro de mim, eu sei quem é.
- E quem é?
- Aí é que está o problema. Eu mesma, não sei quem é. Mas parece que no sonho, eu sei – terminou Ametista, continuando a contar. – Estou em pânico. Ouço raios e trovões do lado de fora. De repente, os reflexos voltam e somente consigo ver à minha volta o homem, envolvido pela capa encharcada.
- Você não consegue de nenhuma forma reconhecer quem é a pessoa? – perguntou Lupin, trêmulo.
- Não. Quando menos espero, o homem começa a falar. Diz que nada nem ninguém poderão me salvar ou ajudar. Ele diz alguns nomes, mas não consigo entende-los. Uma espécie de nuvem cobre os nomes, quando ele os pronuncia. Depois, ele saca sua varinha e grita algum feitiço, que também não consigo entender e vai embora. Eu caio desacordada. Após um tempo, acordo e continuo vendo o reflexo dele em todos os espelhos. Eu estou tão apavorada que grito um feitiço e quebro todos os espelhos. Eles me cortam toda. Lembro de muitos cortes e sangue. Aí, acordo ofegante e totalmente apavorada. Este sonho é a causa disso. – e Ametista estendeu os braços, deixando aparecer às faixas nos pulsos.
- O que é isso? – interroga Lupin, tremendo.
- O senhor pode não acreditar, mas são as marcas do sonho. As conseqüências, os cortes dos pedaços quebrados dos espelhos.
Lupin toca os braços da aluna, e observa atentamente as faixas. Custa a acreditar. Olha para a menina e vê o pavor em sua face.
- Posso ver? – indaga o professor, indicando as faixas.
- Não, é melhor não. – responde Ametista, recuando os braços.
Lupin ficou durante um momento olhando a garota. Ela finalizou:
- É por isso que eu não suporto espelhos, não consigo olhar para eles. Vejo o reflexo do homem toda vez, apontando a varinha para mim. – e abaixou a cabeça.
Havia passado uma hora. Lupin percebeu que a conversa tinha sido exaustiva tanto para ela quanto para ele e Sirius.
- Ametista, pode ir embora. Sei que isto foi muito difícil e cansativo para você. Mas quero que confie em mim.
Lupin arriscou um sorriso a garota em conforto. Quando estava quase deixando a sala, Lupin fez uma última pergunta:
- Quando foi a última vez que teve este sonho?
- Na noite anterior a minha vinda a Hogwarts. Desde que estou aqui, não tenho este sonho.
- Por favor, se você tiver novamente, avise-me, certo?
Ametista confirmou com a cabeça, deixando a sala. Lupin voltou à sala e encontrou Sirius transformado. Estava mais pálido do que de costume. Lupin sentou-se em sua cadeira, passou a mão no rosto e olhou para a mesa. Encontrou a varinha da aluna, Ametista havia esquecido-a lá.
***
A manhã seguinte apresentava um sol forte e uma temperatura agradável. Harry levantou cedo, tivera pesadelos à noite toda. Estava exausto. Rony, ao contrário, estava com uma enorme disposição. Mostrava-se ansioso com a aula de Trato das Criaturas Mágicas.
- Aula com os dragões será ótimo. Será que encontramos aquele que você enfrentou no ano passado, Harry? – questionava o garoto, sobre o Rabo-Córneo Húngaro.
Harry estava lembrando dos pesadelos que assombraram sua noite. A maioria com os pais. Imaginou-se até no futuro, morrendo pelas mãos de Draco, que havia se unido a Voldemort apenas para destruí-lo. À parte engraçada era Rony e Hermione juntos. Até que faziam um bonito casal, pensou.
- Harry? – chamou Rony.
- Ah! O quê você falou mesmo?
- Esqueça. Vamos descer para o café. E você não me disse sobre o quê Lupin queria falar, ontem.
- Depois eu conto, foi tudo meio confuso. – respondeu Harry, bocejando.
No Salão Principal, Hermione estava sentada ao lado de Fred, conversando animadamente. Ametista sentou-se ao lado de Neville, que insistia em dizer que enfrentou Sirius Black em um sonho e o matou. Harry aproveitou o espaço entre a garota e o amigo trapalhão e sentou-se. Ametista aproveitou e perguntou ao garoto:
- Você está bem, Potter?
Harry olhou perdido para a garota. Ela refez a pergunta e completou:
- Acorde Potter! Por causa de ontem. Eu sei que você não ficou muito bem com o fenômeno maluco da minha varinha.
- Não, não. Eu estou bem. – respondeu Harry, corando.
Enquanto isso, Rony entrou no meio do irmão e de Hermione.
- Sobre o que estão falando? – perguntou, curioso.
- Tenho certeza que não é de seu interesse, Rony. – respondeu Hermione.
- Intrometido. – disse Fred, rindo.
- Hunf! – resmungou Rony, sentando-se ao lado de Hermione, tentando ouvir alguma coisa.
Harry ficou observando o amigo perto do pescoço de Hermione, na tentativa de descobrir qual era o segredo entre ela e o irmão. Decidiu agitar o café.
- Vocês não sabem com o quê eu sonhei hoje? – disse Harry, aguçando a curiosidade de todo o grupo sentado perto dele.
- Com o quê? – indagou Fred, que parou interrompeu sua conversa com Hermione.
- Sonhei que éramos todos mais velhos e que estávamos lutando contra Vold... – explicava Harry quando percebeu que boa parte de quem escutava a história tampou os ouvidos, o nome que ia pronunciar – Desculpem-me. Contra Você-Sabe-Quem.
- E? – perguntou Lino Jordan, ao lado de Fred.
- E que a Hermione e o Rony estavam casados! – exclamou Harry, fazendo estourar uma onda fortíssima de risadas. Todos riam, menos Rony, muito perturbado, e Hermione, muito envergonhada.
Depois de alguns minutos, todos haviam parado de rir e agora faziam piadinhas com os dois. Mas a hora da primeira aula do dia quebrou a brincadeira. Agora, os alunos do quinto ano da Grifinória dirigiam-se aos jardins de Hogwarts. Hermione e Rony foram o caminho todo calados, com as faces ainda rosadas. Ametista disse a Harry, que agora começava a sentir-se arrependido pela brincadeira:
- Potter, você não deveria contar aquilo na frente de todo mundo.
Viam de longe a silhueta de Hagrid. O gigante carregava algumas folhas nos braços e carregava até o ponto de entrada na Floresta Proibida. Quando todos os alunos da Grifinória estavam reunidos, via-se os da Sonserina chegando lentamente. Draco aproximou-se de Hermione e Rony, acompanhado de Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson, com a sua cara de buldogue habitual.
- Ouvi alguns boatos de que vocês estariam juntos. Que gracinha! – zombou o menino loiro em tom arrogante.
- E eu que imaginei que você namorasse Vítor Krum, Granger – disse Pansy, sempre invejosa.
Harry, que estava perto, lamentou-se pelo feito há pouco.
- Ela não devia ter dito isso. – sussurrou para Ametista, que permanecia olhando.
Rony mudou a feição. Antes, não estava dando a mínima a que Draco ou seus amigos poderiam falar. Mas, como sempre, era tocar no nome de Vítor Krum que o sangue subia em sua cabeça.
- Você está com inveja, não é? Você é que gosta da Hermione! – gritou Rony para Draco, muito alterado. – Eu não namoro com ela e nunca irei! – Rony agora se virou contra Hermione, que estava com os olhos cheios de água pela última fala de Rony. – E você, é melhor assumir seu namorico ridículo com o Krum logo, antes que achem que vamos casar!
Draco e os companheiros ficaram olhando Rony esbravejando enquanto Harry e Ametista observavam a cena.
- Tire essa idéia maluca da tua cabeça cheia de gosma, Malfoy! – finalizou Rony, indo para cima do garoto, que não tirava o sorriso irônico do rosto. Harry percebeu e segurou o braço do amigo. Rony, por sua vez disse. – Você também! Tire isso da cabeça e me solte!
Somente naquele momento Harry percebeu que sua brincadeira tinha sido de muito mau gosto. Hermione, que estava a poucos metros dali, correu de volta para a torre da Grifinória. Hagrid notou que havia uma agitação. Foi em direção, acabar com a discussão.
- Vamos parar com isso agora. Estamos atrasados para o início da aula. Junte-se em duplas. – dizia com as turmas tumultuadas.
Rony não queria nem saber da aula e seguiu para a torre também. Hagrid perguntou qual era o problema para Harry, que respondeu:
- Confusão, Hagrid.
A aula decorreu normal. O professor dava exemplos de diferentes tipos de dragões, enquanto alimentava um Olho-de-opala com pedaços de carneiro frescos, seu prato predileto.
- Como podem ver, este aqui é um Olho-de-opala. Nativo da Nova Zelândia, tem essas escamas nacaradas – passava a mão nas costas do dragão – e estes olhos iridescentes sem pupilas. Produz chamas vermelhas e não muito agressivo.
- E o que ele chama de agressivo? – ironizou Simas a Neville.
Rony voltou direto para a torre da Grifinória. Parecia um touro perseguindo um pano vermelho. Praticamente babava de tanto ódio como um cão raivoso. Passando pelo quadro da Velha Gorda, encontrou Hermione agachada do lado da janela. A garota soluçava baixinho, como quem quisesse conter o choro. Quando percebeu que o garoto tinha entrado na sala comunal, levantou-se e disse:
- Você não precisava ter falado daquele jeito, na frente de todo mundo, Rony!
Rony, que subia as escadas do dormitório dos meninos, parou no meio do caminho e virou-se para a garota, que estava com os olhos inchados.
- Eu só falei a verdade! Nós não somos namorados! – disse, grossamente.
- Mas dizer que nunca namoraria comigo, que o Draco gosta de mim e ainda por cima dizer que deveria assumir meu namoro com o Vítor! Isso já foi demais! – gritou, chorando.
- Demais? – parecia indignado – Demais é você continuar mantendo relações com o Krum! Ah, não! É Vitinho! – esbravejava mais alto Rony do que a garota.
- Eu não tenho e nunca tive nada com o Vítor, e não é Vitinho!
- Você é uma traidora, Hermione! Não merece a amizade ou sequer a atenção de alguém! E eu disse e repito! Eu nunca namoraria você, nem se fosse a última garota na face da Terra! – exclamou Rony, deixando Hermione calada por um instante.
A garota ficou olhando para Rony, perplexa. Não acreditava que tudo aquilo era por causa de Krum. Agora sim ela percebia que tudo era apenas uma desculpa para Rony brigar sobre Vítor Krum.
- Traidora? – indagou em baixo tom, muito magoada.
- TRAIDORA! E NUNCA QUERO FALAR COM VOCÊ DE NOVO! – gritou Rony, realmente nervoso.
Hermione subiu correndo as escadas para seu quarto e trancou-se ali, enquanto Rony sentou-se no sofá da sala comunal, roçando os dentes de raiva.
Após a aula de Hagrid, Harry e Ametista correram para a torre da Grifinória. Encontraram Rony sentado ainda no sofá, emburrado.
- Você sabe onde está a Hermione? – indagou Ametista, com calma.
O garoto apenas indicou com o dedo a escada para o dormitório das garotas. Ametista subiu, deixando Rony e Harry sozinhos.
- É... Rony? – disse Harry, fazendo Rony virar mais para a janela – Eu queria me desculpar por ter contado aquilo no café. – foi falando aos poucos, cauteloso.
Rony permanecia quieto, olhando para a janela da sala comunal.
- Por favor, eu não imaginava que fosse ficar tão nervoso e incomodado... – tentava explicar-se Harry até que Rony o interrompeu, ainda olhando para a janela.
- Eu não fiquei incomodado. – respondeu friamente.
- Como não? Eu vi e todo mundo viu como você se importou com o meu comentário. Principalmente depois da Parkinson dizer aquilo sobre o Vít... – dizia Harry, quando ouviu a voz de Rony novamente.
- Você poderia evitar falar esse nome?
Harry ficou calado, observando o amigo. Depois, tomou coragem e falou:
- Por que você fica tão irritado quando eu ou qualquer outra pessoa pronuncia este nome? Quem ouve, pensa que você está com inveja do Krum ou com ciúmes da Mione!
- Eu não tenho ciúmes nem dela e muito menos inveja dele! – esbravejou, nervoso.
Harry não queria insistir no assunto com Rony, pois sabia que o amigo ficaria muito mais exaltado do que já estava, mesmo sabendo que era verdade.
- Tá bem. Eu só quero que você esqueça o quê aconteceu. Não foi por querer, Rony. – pediu Harry, acanhado.
Rony ficou por um tempo quieto, pensando. Depois respondeu:
- Tá bem, mas depois terá de explicar toda essa história para o pessoal, porque eu não quero que me apontem, dizendo que sou namorado daquela traidora.
- Quem é traidora? – indagou Harry, perdido.
- A Hermione, é claro! – respondeu Rony em tom raivoso.
Harry realmente não queria discutir o assunto com Rony. Mas sabia que, se o amigo tivesse dito isso a Hermione, a amizade entre eles acabaria facilmente.
- Então, vamos descer para o almoço? – propôs Harry.
- Vamos. – logo respondeu Rony, ainda meio emburrado.
Enquanto isso, Ametista corria para o dormitório. Entrando, encontrou Hermione sentada na cama, com a cabeça abaixada. Soluçava. Ametista sentou-se na ponta, olhando a amiga chorar silenciosamente.
- Hermione?
A menina levantou a cabeça lentamente e olhou para Ametista, que permanecia observando. Falou repentinamente:
- Você acha que sou muito feia?
- Claro que não! – respondeu Ametista, surpresa com a pergunta – Claro que não! Você é muito bonita, Hermione.
- Se eu fosse bonita, ele não falaria o quê ele falou.
- O Rony? – perguntou Ametista. Ela não tinha o costume de chamar Rony pelo sobrenome, somente quando ficava nervosa.
Hermione confirmou com a cabeça.
- Mione, não ligue para o quê ele falou. Ele é um menino. Nessa época, eles não sabem o que falam.
- Mas, mesmo assim. Eu sei que ele acha aquilo mesmo.
Ametista ficou parada, pensando na reação da amiga a toda história.
- Dá para perceber que não é isso que está te aborrecendo. Ele disse mais alguma coisa para você? – indagou Ametista.
Hermione permaneceu calada, até que decidiu soltar tudo de uma vez:
- Quando ele chegou da aula do Hagrid, eu estava lá na sala comunal. Eu disse que ele não precisava ter falado aquelas coisas e ele foi super grosso, dizendo que eu era traidora e não merecia a atenção de ninguém! Do nada, sabe. E ainda disse coisas sobre eu e o Vítor. Eu sei que isso só foi um pretexto dele para discutir novamente sobre o Vítor comigo! Eu sei que sim! Foi terrível!
Ametista ficou durante um período olhando a amiga, com os olhos vermelhos e inchados. Depois perguntou calmamente:
- Você gosta do Rony?
- Não, claro que não! – respondeu Hermione rapidamente. – Não é sobre isso, é que se ele pensa assim, os outros também devem.
- O Krum não pensa. – disse segura.
- E de que adianta o Vítor pensar assim. Eu não sou bonita! Eu sou horrorosa! E ainda sou acusada de ser traidora! – gritava Hermione.
- Quem você acha bonita? A Pansy Parkinson, por acaso?
- O Malfoy gosta dela... – disse Hermione chateada.
- O Malfoy não gosta de ninguém, Mione! E mesmo se gostasse, ela é medonha, tem aquela cara amassada, aquela cara de buldogue! Você é muito mais bonita que ela! E tenho certeza que muita gente acha o mesmo. É só impressão sua! O Rony pode ter falado aquelas coisas, mas eu sei que não é o quê ele e muito menino pensa por aí! – respondeu Ametista, tudo de uma vez, perdendo a paciência.
- Eu não sei. – e enfiou a cabeça no travesseiro.
- E tem mais! Você não é nenhuma traidora! Você apenas ficou amiga do Krum e o Rony está com ciúmes, é só! Foi exatamente como disse, isso foi somente uma desculpa dele.
Hermione não conseguia parar de pensar nas palavras de Rony. Elas iam e voltavam na mesma rapidez que respirava.
- Não vai adiantar você ficar aí, chorando. Vamos descer para o almoço e mostrar como não dá a mínima para o Rony ou qualquer outro que diga aquelas coisas.
- Não, por hoje não. – respondeu Hermione, deitando em sua cama encolhida, pensando nas acusações de Rony.
