CAPÍTULO OITO – O COMUNICADO NA TEMPESTADE

Assim que os primeiros raios de claridade penetraram nas janelas do quarto dos garotos, Harry levantou. Havia passado metade da noite acordado, já que a outra metade foi tomada por pesadelos terríveis. Olhou pela janela ao lado de sua cama e viu que, novamente, o tempo não iria cooperar com as aulas de Hagrid. Aos poucos foi entrando no banho e deixando as lembranças dos pesadelos para trás. Porém, logo relembrou a noite passada, em que sua alegria foi estragada com a troca de olhares entre Ametista e Olívio. Não entendia por que aquilo havia acontecido. Tinha ficado tão nervoso que teve de subir para não causar confusão. Será que alguém havia percebido? Saiu do chuveiro e trocou-se. Dez minutos depois Rony acordara. Estava disposto a enfrentar até uma tempestade para assistir as aulas de Hagrid.

         - Dragões me fascinam. – murmurou a Harry.

         Desceram para o café famintos como toda manhã. Rony comentou ao amigo sobre a noite passada.

         - Você viu quando a Ametista entrou? O Olívio ficou bobo...

         - É. – respondeu mal humorado Harry.

         - Eu só não entendo porquê. Afinal, a Ametista nem é tão bonita assim. – opinou Rony.

         - Sei lá Rony! Ele deve ter achado que ela, sei lá, tem olhos bonitos. Mas espere até ele conversar com aquele misto de arrogância, impaciência e mal-humor! – resmungou Harry.

         Encontraram sentados à mesa a maioria dos alunos da Grifinória. Na ponta, sentavam-se Hermione, Gina, Neville, os irmãos Weasley e Lino. Harry procurava com o olhar Olívio. Logo o encontrou, procurando lugar para sentar-se. Harry e Rony aproximaram-se e chamaram o ex-goleiro e capitão da Casa para sentar-se com eles, próximos aos outros.

         - As coisas não mudaram nada aqui – comentou Olívio. – Sinto-me em casa.

         - Na verdade, eu diria que o clima está mais pesado aqui. Não podemos andar soltos pelos jardins e muito menos fazer magias fora das classes. – disse Rony.

         - Nossa, e por que toda essa proteção? – indagou Olívio.

         - Alguns dizem que é por causa da confusão e da morte de Cedrico no ano passado. Outros alegam a volta de Voldemort – Olívio arrepiou-se quando Harry mencionou o nome. – É isso que nós daqui da Grifinória acreditamos.

         - E é claro que o povo da Sonserina diz que é por causa da neta do Dumbledore. A Ametista, lembra-se? – perguntara Rony para o rapaz. Harry ficou observando, esperando uma resposta.

         - Sim, como poderia esquecer daqueles olhos! – exclamou Olívio muito animado. – Ela fala olhando em nossos olhos, é estranho. – disse o jovem. Harry também já tinha percebido isso há muito tempo atrás. Uma das coisas que irritava Harry.

         Rony olhou para o amigo, que ficara corado. Mas ele havia percebido que não era de vergonha ou timidez, como de costume. Harry olhava raivoso para Olívio, que sorria ao lembrar da face de Ametista.

         Neste momento, a garota entrou no salão principal e passou com pressa ao lado dos garotos. Depois, juntou-se aos alunos mais à frente. Conversava insistentemente com Hermione. Os três garotos conversavam calmamente, mas Rony percebia que em algumas oportunidades, Olívio ou Harry olhava para a garota na ponta da mesa. De repente, Dumbledore levantou-se. A Profª. McGonagall bateu seu garfo na taça de leite postada à sua frente. O salão silenciou-se.

         - Tenho um comunicado a fazer – disse o diretor com a voz trêmula. – Houve um imprevisto e o professor Snape, de Poções, terá de se ausentar durante alguns dias...

         Um murmúrio e falatório geral interromperam a fala do diretor. Todos pareciam espantados. Olívio sussurrou aos amigos:

         - Que sorte! Nos meus sete anos de Hogwarts, Snape nunca saiu nos tempos de aula!

         Dumbledore respirou fundo e gritou:

         - Acalmem-se! Deixe-me finalizar o recado! – agora abaixava a voz em sua altura normal e calma. – Porém, não serão canceladas as aulas de Poções – houve muitos que reclamassem, mas o diretor prosseguiu. – Elas serão dadas por um professor da escola. Ainda não foi escolhido o substituto, mas quando isso ocorrer, todos serão avisados. – e Dumbledore sentou em sua cadeira novamente, terminando o leite na taça.

***

         - Maravilha! – exclamava Rony muito animado. – Aulas sem Snape! Parece até o paraíso!

         Ametista andava juntamente com Hermione. A amiga tinha a rotineira expressão mal humorada e inquieta. Hermione achava que era por causa das palavras de Rony sobre Snape. Estava quase se aproximando de Harry para pedir que o amigo desse um basta nas exclamações de Rony, mas Ametista a segurou.

         - Não se incomode, eu não me incomodo. – disse ela amargurada.

         Pararam diante da cabana de Hagrid. Esperavam a aula de Trato das Criaturas Mágicas. Os alunos da Sonserina, muito mal humorados, chegavam devagarinho atrasados. Draco estava envolto em uma capa verde escura, com o nariz muito vermelho. Rony aproveitou.

         - Resfriadinho, Malfoy? O frio te pegou desprevenido? Ou o seu urso de pelúcia não conseguiu protegê-lo do vento gélido que entrou pela janela de seu quarto?

         Todos os estudantes da Grifinória caíram na gargalhada. Draco parecia muito indisposto para provocar Rony, já que sequer respondeu ao garoto. Rony continuou:

         - O que aconteceu? Que bicho te mordeu, Malfoy? Não vai dizer que foi praga minha ou algum inimigo seu que colocou algum vírus em seu leite matinal? Ah, ou talvez você realmente está bravo com o ursinho!

         Ninguém conseguia conter as risadas. Até mesmo Crabbe e Goyle tentavam abafar as risadas colocando as mãos enormes cobrindo a boca. Draco apenas respondeu:

         - Cala a boca, seu Weasley nojento! – praticamente sussurrou com a voz fanha. Mais alunos riram.

         Ametista observava a tudo de longe. Draco olhou para ela de repente como se pedisse ajuda ou algo e ela apenas disse arrogante:

         - Vá ao médico Malfoy! Não queremos que você passe sua doença para todo mundo!

         Pansy Parkinson aproximou-se de Draco e colocou a mão em sua testa enquanto respondia a Ametista:

         - Fique quieta no seu canto Dumbledore! – e virou-se para Draco. – Você está ardendo em febre! – entrou em pânico. Draco fervia. – Alguém chame um professor!

         Simas saiu correndo atrás de Hagrid. Pansy distanciou-se de Draco, esperando o gigante. Enquanto isso, Rony aproximou-se do garoto sonserino. Ficou olhando-o com cara de deboche. Os alunos notaram a silhueta de Hagrid vindo depressa. Pouco antes de o professor chegar, Draco aproveitou e espirrou em cima de Rony. Este saiu enojado e logo voltou, com o punho fechado. Harry e Neville seguraram-no e Hagrid chegou. Draco não queria ser carregado pelo gigante que tanto desprezava, mas àquela altura, não conseguia mais andar. Hagrid então desapareceu levando o garoto sem seus braços. Rony aproveitou e seguiu para o banheiro masculino, em busca de muita água para tirar o quê restava do espirro de Draco.

         Passado cerca de quinze minutos, Hagrid e Rony estavam de volta. O professor disse que tudo estava bem com o garoto e chamou a turma para a entrada da Floresta Proibida.

         - Por favor, eu queria pedir o máximo de calma – dizia o gigante receoso. – Não precisam se assustar. São todos inofensivos. Fiquem todos juntos.

         Os alunos entreolharam-se. Ninguém sabia o quê os esperava. Logo perceberam o porquê da recomendação de Hagrid. Depararam-se com três dragões de tamanhos diferentes, mas de aparência feroz igual. Pansy arriscou um grito, mas Goyle lhe tampou a boca. Harry assustou-se com o maior deles. Tinha uma incrível semelhança com o Rubeo-Cárneo Húngaro que havia enfrentado no Torneiro Tribruxo no outro ano. O mestre parou de repente e todos pararam atrás.

         - Agora, observam atenta e silenciosamente. – pediu Hagrid.

         O professor indicou com o dedo o primeiro dos dragões. Era um animal com cerca de cinco quatro metros de altura, possuía escamas lisas e marcas negras na crista. Os chifres eram pequenos.

         - Este é um Dente-de-Víbora Peruano – explicava o professor. – Como podem ver, é o menor dos dragões aqui, mas não pensem que é por que poderia ser o mais novo. É característico de sua espécie o pequeno tamanho. Porém, isto não o faz menos perigoso que os outros. São também os mais velozes dragões.

         - E por que seus chifres são menores que os dos outros? – indagou Neville, olhando desconfiado para o animal.

         - São de acordo com seu tamanho. Entretanto, seus chifres podem ser curtos, mas muito perigosos. Suas presas são venenosas. Cuidado. – dizia Hagrid.

         Rony parecia recuperado do incidente com Malfoy. Permanecia ali, quieto e concentrado, ouvindo e gravando cada palavra dita pelo professor. Tinha um fascínio especial por dragões, assim como seu irmão Carlinhos.

         - E do que eles se alimentam? – perguntou Rony.

         - Boa pergunta – elogiou o mestre. – Os Dente-de-Víbora alimentam-se de cabras e vacas sem hesitar, mas gosta tanto de humanos que a Confederação Internacional dos Bruxos foi forçada a enviar exterminadores ao Peru, no fim do século dezenove, para reduzir a população de dragões que estava crescendo absurdamente. 

         - Coitados! – exclamou Rony, comovido. Harry notou a semelhança do amigo com Hagrid. Os dois eram realmente interessados e sofriam junto com os animais.

         Hagrid agora apontou para o dragão ao meio. Era um belo animal azul-prateado. O focinho era curto e parecia muito calmo.

         - Este é o Focinho-Curto Sueco – dizia Hagrid. – Como podem ver, é uma das espécies mais belas de dragões. Sua pele é muito procurada para a confecção de luvas e escudos de proteção.

         - Os escudos fornecem boa proteção? – indagou Neville.

         - Sim, eu diria que os escudos produzidos a partir da pele destes dragões são os melhores – respondeu Hagrid. – E as luvas originadas de sua pele são muito leves, belas, pois a sua cor é muito bonita, e em alguns casos, elas são especiais.

         - Como? Especiais? – perguntou Dino.

         Hermione levantou o braço esquerdo freneticamente. Hagrid atendeu e a garota respondeu:

         - São especiais porque, dependendo do tipo de pele, elas podem se tornar invisíveis. É somente colocá-las que desaparecem.

         - Muito bem, Hermione. Cinco pontos para a Grifinória. – disse Hagrid.

         De repente, o dragão começou a agitar suas assas. Todos deram um passo para trás. Hagrid ficou parado e aproximou-se, passando a mão nas costas do dragão. Ele sussurrava ao animal:

         - Qual o problema? Quer espirrar?

         - O dragão está resfriado? – indagou Rony baixinho a Harry.

         - Talvez seja o que Hagrid tinha dito que estava doente. – respondeu.

         Hagrid saiu do lado do dragão e disse aos alunos:

         - Vocês verão um fenômeno difícil agora. Conheceram um novo tipo de labareda soltada por dragões de sua espécie. Afastem-se, pois ele irá espirrar.

         Os estudantes se distanciaram cautelosos. Hagrid postou-se à frente dos alunos, esperando ansioso o espirro do dragão. O belo animal começou a se agitar rapidamente. As longas e belas assas azul-prateadas estavam brilhando conforme o movimento do dragão. No momento mais inesperado, o animal contorceu-se, abriu as assas o mais alto que podia e curvou-se para frente, num enorme e assustador espirro. De suas narinas, saíram labaredas azul-brilhante, que reduziram a cerca que delimitava seu espaço a um monte de cinzas em segundos. Mas o mais surpreendente foi as incríveis labaredas azuis.

         - Nossa, e eu que imaginava labaredas vermelhas como o fogo. – comentou Rony, maravilhado com o fenômeno.

         - Mas a maioria dos dragões soltam labaredas vermelhas, Rony – dizia Hagrid. – Exatamente por isso que expliquei que seria um novo tipo de labareda.

         - Magnífico! – exclamou Ametista hipnotizada pela beleza do dragão. 

         - E professor – chamou Harry. – Por que ele tem um focinho menor que os dos outros?  

         - É uma característica da raça. Este curto focinho é responsável por um número menor de mortes humanas do que a maioria dos dragões – disse Hagrid, satisfeito por perceber que estava mantendo os alunos atentos. – Mas como prefere viver em áreas montanhosas despovoadas e selvagens, esse dado pouco significa.

         - Muito interessante... – zombou Pansy, com cara feia.

         Agora o gigante apontou para o último dragão restante. Harry olhou diretamente para os olhos do dragão negro e tremeu. Os olhos abertos eram amarelos e os chifres eram cor de bronze.

         - Este é um Dorso-Cristado Norueguês – disse Hagrid, com um tom ligeiro de dor. – O maior dos três dragões é também o mais perigoso.

         - O Norberto era dessa espécie, não era? – indagou Hermione a Harry.

         - Era. Acho que já sabemos o por quê do Hagrid estar mais quieto agora. Tenho certeza que deve se lembrar dele até hoje. – completou Harry.

         - Talvez alguns de vocês lembrem dos dragões que foram enfrentados no Torneio Tribruxo do ano passado – dizia o professor. – Um dos quatro era um Rabo-Córneo Húngaro. Na verdade, o dragão que o aluno Harry Potter derrotou – Harry corou e Hagrid continuou. Hermione observou Ametista revirando os olhos. – Os que lembram, devem ter percebido certa semelhança entre as duas raças. A diferença entre elas é que, diferentemente do Rabo-Córneo, o Dorso-Cristado possui cristas bastante salientes e negras por todo o dorso. Daí vem o nome de suas espécie. O Rabo-Córneo tem as cristas apenas em seu rabo.

         - Mas ele é perigoso como o Rabo-Córneo? – perguntou Simas.

         - Não – respondeu o mestre. – O Rabo-Córneo é conhecido por ser a espécie mais perigosa das raças dos dragões. Porém, o Dorso-Cristado é excepcionalmente agressivo com os de sua espécie. É uma das raças mais raramente criadas. – e o professor abaixou e cabeça e suspirou.

         - E do que ele se alimenta? – indagou Hermione.

         - Gosta de mamíferos de grande porte, o que é incomum para um dragão, e de criaturas marinhas. Existe até um relato não confirmado, onde conta que um Dorso-Cristado capturou um filhote de baleia nas costas da Noruega em 1802.

         - Nossa, que apetite! – brincou Rony.

         - Como são ovos desta espécie? – questionou um garoto sonserino.

         - São pretos e os filhotes desenvolvem a capacidade de expelir labaredas mais cedo que os outros de outras raças. Geralmente entre um e três meses de vida. – e Hagrid suspirou novamente, cheio de mágoa.

         Harry olhou para o gigante e deu um leve sorriso, em consolo a dor do amigo. Hagrid piscou de volta e passou a tarefa para casa, já que a aula estava no final.

         - Devem me trazer uma figura de uma raça de dragões e algumas curiosidades. Logo estaremos terminando esta matéria, mas quero que estejam bem conscientes do perigo constante que corremos com estes animais.

         Antes dos alunos saírem, Hagrid puxou de lado Harry e disse:

         - Que tal você vir hoje à tarde para um papo e uma xícara de chá? Traga também Rony. Preciso conversar com os dois.

         - Hoje nós temos aula de Adivinhação à tarde. Mas talvez, amanhã, dê para irmos até lá. – respondeu.

         - Amanhã será ótimo. Podem vir. – terminou o professor, que depois voltou para acorrentar o Focinho-Curto Sueco novamente, já que a corrente havia arrebentado depois de seu espirro.

***

No almoço, os alunos estavam comendo em meio ao barulho de trovoadas. Uma forte tempestade havia começado logo após o término da aula de Hagrid. Rony já havia acertado o horário de treinos com Olívio e estava motivado. Além disso, procurara Draco na mesa da Sonserina, mas não havia o encontrado. Hermione aproveitava para contar a história do bebê Norberto para Ametista. Teve de parar duas vezes para repetir o caminho até a enfermaria para uma aluna confusa do primeiro ano. Fred combinava com Jorge, Lino e Olívio uma nova forma de soltar uma nova invenção. Queriam fazer a professora Sprout beber uma poção que haviam feito, onde a pessoa é transformada em um misto de planta e humano. De repente, diversas corujas chegavam ensopadas e foram largando os pacotes ou cartas para os alunos.

         - Oh, o correio! – exclamou Fred. – Vamos ver se a mamãe já pensou na resposta.

         - Que resposta? – indagou Rony.

         - É que eu e o Jorge vimos que há uma loja vaga em Hogsmeade, ao lado da Zonko´s. E queríamos abrir a nossa lá. Mas primeiro precisamos da aprovação do papai e da mamãe. Só que ela está dificultando.

         - As Gemealidades Weasley entrando em ação! – zombou o irmão.

Um pacote caiu em cima de Hermione inesperadamente. Ametista, que estava sentada ao seu lado, reparou no fino, mas bonito pacote caído no colo da amiga. Junto com ele vinha uma carta.

         - Abra! – disse Ametista para Hermione que olhava o pacote torto.

         - Vou abrir a carta primeiro. – respondeu receosa.

         Hermione abriu-a e soltou um sorriso. Rony percebeu e ficou encarando a garota feliz. Ametista encostou-se na amiga e começou a ler junto com ela.

Querida Hermione,

         Começo esta carta desculpando-me para com você. Em nenhum momento quis ofendê-la. Apenas escrevi o que penso. Fui sincero. Mas depois de sua carta, percebi que havia sido injusto com você. Agora eu entendo quando você diz que é muito nova. E também seja melhor que continuemos amigos, pelo menos por enquanto. Saiba que não mudei minha proposta. Se algum dia você acorde e perceba que eu sou a pessoa certa, não hesite em me dizer, pois assim me fará o homem mais feliz do mundo! Mesmo assim, não quero que nada nem ninguém estraguem nossa amizade. Desculpe-me por ter sido grosso. Isso não acontecera de novo. Responda-me se aceita minhas desculpas. E não se esqueça: ainda gosto muito de você. Beijos.

                                                                                     Vítor

         - Ai, que bom que nós nos acertamos! – exclamou Hermione para Ametista.

         - Finalmente ele entendeu o recado da carta. – respondeu a menina, rindo em seguida.

         Rony estava sentado diante das garotas e ficou de ouvidos e olhos abertos para ver o que acontecia. Estava ligeiramente corado. Hermione pegou o pacote e abriu. Dentro havia uma miniatura de uma vassoura usada por Vítor na Copa de Quadribol do ano passado. Ametista deu uma risada e olhou para Rony. Quando percebeu que o garoto estava atento, sussurrou algo a Hermione, que evitou tirar o presente de dentro da caixa. Não queria que ele soubesse que aquilo vinha de Vítor Krum.

         Logo após o almoço, todos subiram para suas torres e descansaram antes do começo de outra aula. Harry estava desanimado e muito cansado, já que quase não havia dormido naquela noite. A maioria dos alunos arranjou alguma atividade para aquele período de descanso. Sentou-se no sofá da sala comunal e acabou adormecendo.

         Durante seu sono profundo, teve um sonho estranho. O mesmo sonho que tivera na madrugada de seu aniversário. A visão de todos os que amava e mais alguém, escondido na escuridão. Ficara intrigado. Logo depois teve uma estranha sensação de que, atrás de todos, surgira alguém. Um indivíduo sombrio, envolto em uma capa preta. Uma névoa cobriu a sua imagem e aí o ser postou-se ao lado da pessoa escondida na escuridão. Acordou repentinamente com os gritos de Rony:

         - Vamos! Vamos Harry! Acorde! Já está na hora da aula!

         Harry levantou-se com dificuldade e ajeitou o cabelo. Depois, ficou pensando no estranho sonho que havia tido. Deixou de lado e seguiu para a torre de Adivinhações. Ametista vinha atrás dos garotos, apressada. Postou-se ao lado de Harry e perguntou nervosa:

         - Algum de vocês sabe onde está meu diário?

         - Que diário? – perguntou Harry.

         - Um diário, Potter! Você sabe o que é um diário, não sabe?! – provocava Ametista o garoto, que ficava irritado. – Possui uma capa que muda de cor toda hora. Você não o viu por aí? – indagou a menina.

         - Não, não que eu me lembre. – respondeu Harry, se segurando.

         - E você, Rony?

         - Não vi também. Mas se eu achar, eu te devolvo. – respondeu meio sem jeito.

         Na sala perfumada de Sibila, os alunos já estavam reunidos. Foram os últimos a chegarem. Sentaram-se na mesa do fundo, como de costume. Harry reparou que Cho não estava lá. A professora levantou de sua mesa e passou a lição do dia.

         - Hoje, eu quero que vocês peguem um pergaminho e escrevam um segredo em um pedaço dele. Depois, dobrem-no três vezes e peguem seu baralho das Cartas do Destino. Coloquem seu papel no meio do baralho e concentrem-se. Retirem o papel e embaralhem as cartas. Após todo o processo, quero que retirem uma carta e façam a ligação da carta com o segredo e me entreguem. – e sentou-se novamente na mesa.

         - Que aula mais inútil. – cochichou Rony aos amigos.

         De repente, Cho Chang entrou na sala vermelha. Parecia que tinha corrido um bocado. A professora levantou-se e disse:

         - Srta. Chang, está atrasada dez minutos! Isso lhe custará cinco pontos para a Cornival.

         - Mas professora, eu trouxe isso para a senhora. O professor Lupin pediu para eu entregar-lhe. – e a garota estendeu a mão, que segurava um papel azulado.

         - Vá sentar. – disse Sibila e abriu o recado. Leu com atenção e depois se levantou.

         A mestra dirigia-se até o fundo da sala. Rony estava com os olhos fechados, concentrando-se. Ametista, carrancuda, escrevia o segredo no pedaço de papel, protegendo-o. Harry tinha parado de fazer a lição e reparava na garota sentada ao seu lado. Cho estava ofegante. De repente, Sibila postou-se à frente da mesa dos três amigos.

         - Sr. Potter e Srta. Dumbledore. – chamou-os.

         Harry e Ametista levantaram os olhos para a professora, que os observava por cima. Ela continuou:

         - Eu acabei de receber um recado, em que o professor Lupin pede para os dois encontrá-lo em sua sala depois do jantar. Sem falta.

         - Está bem... – ia respondendo os dois, até que a professora, com um olhar agora sombrio, interrompeu-os.

         - Podem esperar, pois isso não será bom para nenhum dos dois. Isso pode acarretar conseqüências irreparáveis. – disse a professora da aula de Adivinhações com a voz em tom quase inaudível.

         - Essa mulher é maluca! Não sei como meu avô a contratou! – reclamou Ametista irritada.

         Sibila fingiu que não ouviu e pegou o baralho de Harry e espalhou-o pela bancada. Fez o mesmo com o de Ametista. Depois, retirou ao mesmo tempo uma carta de cada baralho. As duas cartas retiradas saíram iguais: a Morte.

         - Vocês sabem o que isto significa, não é? – disse a professora, ainda olhando-os estranhamente. Após o ocorrido, voltou para a sua mesa e permaneceu calada até o final da aula.  

***

Após o jantar, Harry e Ametista seguiram para a sala de Lupin. Os dois não se falavam e andavam distantes. Ainda chovia, mas não se ouvia mais tantos trovões como na hora do almoço. Os dois subiam as escadas em silêncio. Quando estavam perto de chegar a sala do professor, viram um vulto preto passar e entrar na mesma sala. Os dois pararam imediatamente, inseguros.

         - O que foi aquilo? – indagou Ametista sussurrando.

         - Não faço a mínima idéia. – respondeu Harry.    

         A garota começava a recuar devagarinho. Harry notou e segurou seu braço. Ela se assustou, mas manteve-se firme.

         - Largue-me Potter! – resmungou Ametista.

Ele a largou rapidamente e foram até a sala. Entretanto, antes de chegarem à porta, que estava entreaberta, ouviu-se um trovão cair e uma forte luz reluziu em todo o castelo. Dava a sensação de que o chão estava se partindo. Hogwarts tremeu repentinamente e Harry e Ametista caíram no chão. Todas as luzes ou velas acesas se apagaram rapidamente e a escola ficou no escuro. Ouviram gritos de pavor e surpresa. Harry tateava o chão, a procura de Ametista. Porém, logo ouviu a um chamado bem perto.

         - Potter? Onde você está? – chamava uma seca voz em baixo tom.

         O garoto percebeu que estava perto da garota, mas não achava sua varinha para clarear o lugar. Ele sussurrou para a menina:

         - Pegue sua varinha e grite Lummus. – disse Harry.      

         - Eu sei o quê fazer! Mas não posso – respondeu com a voz arrastada. – Se pegar a varinha, todo aquele negócio vai acontecer de novo e você vai ficar mal, Potter! – terminou impaciente.

         - Não tem problema. Apenas pegue-a. – disse o garoto, disposto a ver aquele raio esverdeado que o provocava tanta dor.

         - Nada feito, Potter! Chega de confusões para o meu lado por sua causa! – respondeu Ametista alterada.

         Harry continuou tateando o chão, a procura de sua varinha e da garota. Mas não conseguia encontrar nenhuma das duas. Estava nervoso, já que até mesmo naquele momento ela fazia questão de discutir. Levantou-se ligeiramente até que, de repente, tropeçou em algo que estava no chão e caiu por cima de alguma coisa. Ouviu um sussurro sufocado:

         - Potter?!

         O garoto percebeu que havia caído em cima de Ametista. Sentia a garota tremer de raiva. Por alguns instantes, eles ouviram a respiração um do outro apressada e agora, estavam ambos corados. Os seus olhos começavam a se acostumar com a escuridão e logo Harry podia ver os grandes olhos claros e muito azuis de Ametista. Só assim percebeu como estavam próximos um do outro. Até que uma luz surgiu fraquinha na direção deles e logo estava bem em cima dos dois. Os alunos olharam para cima e viram o professor Lupin sorrindo. Ele segurava uma varinha acesa e via em sua feição alegria e preocupação ao mesmo tempo. Os dois alunos da Grifinória levantaram-se e Lupin percebeu como estavam vermelhos. Só não sabia se era de vergonha ou...

         - Espero não ter atrapalhado vocês. – zombou o professor.

         - Claro que não! – exclamou Ametista muito irritada. – Estávamos chegando aqui quando ouvimos o trovão e ficamos no escuro. Só que o Potter não tinha a capacidade de encontrar a própria varinha e nenhum dos dois sabia onde o outro estava!

         - Capacidade?! – aborreceu-se Harry. – Eu acabei tropeçando em algo e caí em cima dela. – completou o garoto muito nervoso.

         - Está bem, está bem – respondeu Lupin rindo levemente ao ver que os dois não se davam nem um pouco bem. – Não precisam me explicar nada. Eu entendo. Mas agora, Harry, aqui está sua varinha – e o professor estendeu a mão e devolveu a varinha para o garoto. – E agora, podemos conversar?

         Entraram na sala do professor alterados e ainda muito sem jeito. Um não olhava o outro. Harry então notou que havia um vulto negro no canto esquerdo da mesa do professor e gritou assustado. Lupin tampou sua boca rapidamente.

         - Por que você gritou, Harry? – indagou o mestre sem entender.

         Neste momento, Snufles acordou e começou a rosnar para Ametista. Ela deu três passos para trás e murmurou algo ameaçador para o cão. Lupin encarou o cachorro, que se acalmou. Em seguida, das sombras, o vulto saiu devagarinho. Quando puderam ver com clareza, perceberam que haviam se assustado à toa.

         - Desculpem-me se os assustei novamente. – disse a voz seca da Profª. Arabella Figg.

         Lupin indicou cadeiras para os dois alunos sentarem-se. Depois, começou a falar:

         - Nós chamamos vocês aqui por um motivo. E desta vez, um motivo muito sério. Não sei se a professora já havia comentado algo sobre esta nossa conversa, mas mesmo que não, explicaremos tudo que estiver ao nosso alcance.

         Harry e Ametista permaneceram calados, sem trocar um olhar. Lupin prosseguiu em mesmo tom sério e preocupado.

         - Como sabem, estamos em uma nova era. Era de acontecimentos imprevisíveis. E como devem também ter percebido, o mundo não é mais o mesmo. Harry, que já estudou aqui todos os outros anos de sua vida, percebeu que agora, a segurança está muito maior que a dos outros anos passados. E eu presumo que vocês saibam o porquê de tudo isso.

         - Voldemort? – indagou Harry.

         - Sim – respondeu Lupin. – E também, sabemos que ainda mais agora, em que está praticamente recuperado, ele virá atrás de certas pessoas para se vingar.

         - E eu entro nesta lista. – disse Harry.

         - Convencido... – murmurou Ametista, fazendo Harry ouvir.

         - Está com inveja é?! – provocou o garoto em resposta.

         - Escutem! – repreendeu Arabella. – Não é hora para vocês brigarem! Isto é muito mais importante!

         - É exatamente por isso que chamamos vocês aqui. Precisamos começar a treinar nossos futuros bruxos. – explicou Lupin.

         - Como assim? E o que eu tenho a ver com isso? – indagou Ametista.

         - Você tem muito a ver com tudo isso, menina – respondeu Arabella. – Assim como o Sr. Potter, você deve combater o mal.

         - E o quê nós faremos para combater o mal de dentro de Hogwarts? – perguntou Harry mais calmo, enquanto passava a mão na cabeça de Snufles.

         - Bom, Dumbledore decidiu reabrir o Clube de Duelos para os alunos a partir do terceiro ano – e Lupin suspirou. – Vocês dois terão uma espécie de treinamento especial, uma tarefa a realizar – respondeu, agora com certo brilho nos olhos. – Duelos especiais, eu diria.

         - Especiais? – estranhou Harry.

         - Isto será discutido mais tarde. A situação é que devem saber como lutar com outros bruxos, bruxos maiores e mais poderosos que vocês. – disse Lupin, em sério tom.

         - E como serão feitos estes treinos? – questionou Ametista.

         - Bom, isto ainda não está bem decidido. Mas já temos certeza que a professora Figg dará aulas especiais a Harry e eu darei aulas a você, Ametista. Já que sou seu guia, devo estar o mais próximo possível de você. – finalizou Lupin.

         - Mas eu ainda não entendi por que eu! – disse Ametista. – Potter ainda dá para entender, já que tentou – Harry enfureceu-se. – derrotar Voldemort e com certeza ele virá atrás dele. Mas eu?

         - Escute, Srta. Dumbledore – disse Arabella, impaciente. – Você também tem um papel muito importante. É dona de uma grande força e neta do maior bruxo de todos os tempos. Esta força corre em suas veias. Por isso confiamos muito em você e sabemos que podemos esperar grandes feitos da senhorita.

         Ametista franziu a testa, estranhando. Mas preferiu não falar mais nada. Olhou para o professor, que piscou. Ela arriscou um sorriso.

         - Agora, está ficando tarde e seria melhor vocês voltarem para sua torre – disse Lupin. – Ah, é claro que peço que isso fique somente entre nós. Mas como sei que irão dizer sobre isto aos seus dois amigos, peço que fique apenas entre vocês.

         Os dois acenaram positivamente com a cabeça. Quando estavam quase saindo, Ametista parou e disse ao professor em tom baixo:

         - Professor, duas coisas. A professora Sibila disse hoje a nós dois que isto que conversaríamos nos traria conseqüências irreparáveis e...

         - Não ouça nada – respondeu Lupin interrompendo a aluna. – Ela já previu a morte de Harry umas cinco vezes e ele ainda está aqui.

         - É, infelizmente! – resmungou Ametista, fazendo Lupin cerras as sobrancelhas. – E mais outra coisa. O senhor poderia me dizer onde Severo foi?

         - Ah, não. Não podemos dizer nada por enquanto, Ametista, mas prometo que quando puder, eu te direi – respondeu carinhosamente. – Ah! Mais uma coisa. Eu tenho um presente para te dar. – e o professor estendeu as mãos segurando um pacote.

         - O que é isso, professor? – perguntou a garota, curiosa. O pacote era ligeiramente pesado.

         - Abra somente em seu quarto. Se alguém souber que te dei isto, estarei despedido no dia seguinte hein! Espero que cuide bem! – pediu Lupin em tom maroto.

         Ametista agradeceu. Ela e Harry saíram da sala do professor guiados pela varinha de Harry. Não falaram nada durante a volta até entrarem na sala comunal. Harry observava o pacote na mão da garota e ardia-se de curiosidade. Ametista já estava tomando seu caminho quando Harry disse:

         - Boa noite, Dumbledore. – despediu-se friamente, a chamando pelo sobrenome também.

         - Boa noite, Potter. – respondeu a garota aborrecida.

         Harry subiu para seu quarto. De repente, avistou em cima da mesa ao lado do espelho de seu quarto, um pequeno caderno de capa azul clara. Pegou-o com cuidado. Verificou dos dois lados, procurando algo estranho no objeto. Sentou em sua cama e abriu lentamente aquilo que parecia ser um caderno. Folhas macias e azul-celeste apareceram, exalando um incrível perfume de rosas delicadas. Harry agora virava as folhas, a procura de algum nome. Notou então que nada havia sido escrito nelas, mas que seu nome aparecia sozinho, em muitas delas.

         - O que será isto? – perguntou a si mesmo em voz alta.

         Ouviu um barulho e virou-se para a cama de Rony, o amigo havia despertado. Coçava a cabeça levemente, como se quisesse lembrar de algo.

         - Rony, isto é seu? – indagou Harry.

         - Não – respondeu o garoto ruivo, olhando o caderno com os olhos ligeiramente fechados. – Será que não é aquele tal diário que a Ametista estava procurando?

         Harry parou por um momento e lembrou-se da primeira vez que conversara com a garota sem estarem acompanhados por Hermione ou Rony. Ela escrevia em um caderno como aquele que segurava. Mas o menino lembrava-se também que a capa do objeto mudava sua coloração. De azul ele passou para um rosa, quase vermelho.

         - Claro – exclamou Harry. – Este deve ser o diário da Ametista. Mas por que ele está aqui?

         O garoto ficou esperando uma resposta de Rony, que não veio. Harry virou-se para o amigo, que agora estava adormecendo novamente. Harry arriscou um feitiço para descobrir o quê estava escrito no tal diário:

         - Aparecium! – murmurou ele para as folhas, segurando sua varinha.

         Porém, nada apareceu. Deduziu então que não estava sendo escrito com tinta invisível. Não arriscou escrever algo no livro, esperando que ele respondesse, assim como quando Riddle tomou conta de Gina, no segundo ano. Decidiu recolocar o diário em cima da mesa, diante do espelho.

         De repente, Harry viu que uma sombra, demonstrando a forma de um corpo humano, apareceu no espelho. O garoto ficou paralisado, não acreditando na cena. Ainda segurava o diário, que já estava sobre a mesa. Em seguida, o vulto negro parecia estender a mão, querendo tomar o diário das mãos de Harry. Este recuou e deu um grito, assustado.

         Imediatamente, Rony levantou e acendeu a luz do quarto. Encontrou Harry caído no chão, com o olhar perdido. Ajudou-o a levantar-se e o garoto explicou tudo o que havia visto. Rony estava incrédulo.

         - Quem poderia ter sido?

         - Como vamos saber – respondeu Harry a pergunta de Rony. – Acho melhor eu dormir com o diário. Amanhã eu devolvo-o a Ametista.

         E deitou em sua cama. Até pegar no sono, lembrou-se do vulto e notou a semelhança deste com o do sonho que havia tido à tarde.

- Voldemort? – murmurou, apavorado. – Não, não. É impossível. Mesmo sabendo que ele está quieto demais para quem voltou a vida.

         Depois silenciou novamente. Pouco depois, pensou e murmurou para si mesmo.

         - E mesmo se for ele, o que vai querer com o diário da Ametista?

         Harry sentiu então um calor repentino. A idéia de alguém ferir a garota passou pela sua cabeça como um relâmpago. Primeiramente, ele até gostou da idéia já que andava em pé de guerra com a garota. Mas depois percebeu e se deu conta de que algo o prendia a ela. E o incomodava muito.

         - Como alguém consegue ser tão irritante e arrogante ao mesmo tempo?!

Ligeiramente antes de adormecer, Harry relembrou cada momento na escuridão com a neta de Dumbledore e, surpreendentemente, sorriu.