CAPÍTULO DEZ – A REUNIÃO SURPRESA

- O que?! – gritou Ametista, fazendo todos os alunos na sala comunal olharem para ela.

         Hermione acabara de contar à amiga que havia esquecido a sua capa de Invisibilidade na Sala Amaldiçoada. Ametista ficara alterada, enquanto Harry surpreendera-se ao saber que a garota também possuía uma.

         - Calma Ametista! – pediu Hermione corada. – Eu voltarei lá e trarei de volta!

         - Você está baluca? – indagou Rony, soltando um espirro forte e voltando a ficar fanho. – Se o Lupi descobre que você voltou lá, seu cargo de bobitoria vai para o espaço besbo!

         - Não, esquece isso Hermione – disse Ametista, mais tranqüila. – Eu irei até lá e trarei minha capa de volta.

         - Mas você não sabe como fazer. – respondeu Hermione.

         - E é exatamente por isso que você não vai escapar sem nada dessa! – ameaçou Ametista. – Você vai me guiar! Vai me dizer exatamente como devo fazer para entrar naquela Sala novamente! – ordenou a neta do diretor.

         - E desta vez eu vou junto! – exclamou Harry.

         - O que?! – perguntou os três amigos surpresos. – Para que?

         - Vocês não viram a estátua de Slytherin e eu quero! – disse o garoto decidido.

         - Nem pensar Potter! Você não vai comigo! – contestou Ametista.

         - Por que não?!

         - Você ainda pergunta por quê?! – surpreendeu-se a garota. – Toda vez que eu faço alguma coisa com você dá em confusão e, ainda por cima, eu realmente não quero ficar andando por aí com você ao meu lado!

         Rony e Hermione entreolharam-se, esperando uma resposta de Harry sobre a decisão de Ametista. Depois Rony espirrou novamente. Harry e Ametista encaravam-se e o menino começara a ficar incomodado.

         - Não quero saber o quê você acha! Eu vou e pronto! – respondeu Harry a Ametista.

         - E posso perguntar como?

         - Com a minha capa de invisibilidade! – disse Harry vitorioso.

         Ametista mordeu o lábio irritada e levantou:

         - Eu não preciso da sua capa estúpida, Potter! – e saiu da torre.

         Hermione e Rony observavam a tudo quietos. Harry notou a apreensão dos dois jovens e deu de ombros.

         - Agora, eu tenho uma pergunta – dizia Rony. – Como o Lupin nos descobriu lá?

         - Sei lá. E quando vocês vão voltar lá? – perguntou Hermione.

         - Não sei ela, mas eu, o mais cedo possível. – respondeu Harry, olhando para o quadro da Velha Gorda, por onde Ametista havia acabado de sair.

***

Antes do início do jantar, McGonagall chamou a atenção dos alunos e o diretor levantou de sua cadeira.

         - Tenho alguns comunicados a fazer – dizia Dumbledore com certa dificuldade. – O primeiro de todos: o professor Snape se ausentará por mais alguns dias e já decidimos qual será o mestre a dar as aulas de Poções em seu lugar. Diremos no café na semana seguinte. O segundo: as aulas de vôo serão dadas agora pela Profª. Hooch e pelo nosso ex-aluno Olívio Wood – todos olharam para o aluno sentado na mesa da Grifinória. – O terceiro: daqui duas semanas, acontecerá a primeira visita a Hogsmeade para os alunos a partir do terceiro ano, no Dia das Bruxas. Como sabem, as autorizações deverão ser entregues a Profª. McGonagall até à tarde da véspera. E o quarto: o Clube de Duelos será reaberto pelos professores Lupin e Figg. As aulas serão obrigatórias aos alunos do terceiro ano em diante. E é isso. Pode iniciar o jantar. – finalizou o diretor, sentando-se novamente na cadeira ao centro da mesa dos professores. Rony espirrou e Dumbledore olhou para o garoto e riu.

         A maioria dos alunos exaltou-se. Afinal, todos sabiam que o Clube de Duelos havia trazido muitos problemas antes, como o incidente da cobra que surgira da varinha de Draco, atacando Justino.

         - Aposto que tudo isso é por causa do Você-Sabe-Quem. – afirmou uma garota ruiva na mesa da Corvinal.        

         Os irmãos Weasley festejavam juntamente com Lino Jordan e a Casa Grifinória a notícia sobre os treinamentos de Olívio Wood. O garoto parecia muito feliz. Hermione e Ametista estavam mais perto dele do que Harry e Rony e foram cumprimentar o ex-aluno.

         - Parabéns Olívio! Eu o congratulo em nome de toda a Grifinória! – disse Hermione imponente.

         - Muito obrigado, Hermione "Percy" Granger.

         Hermione ficou irritada e voltou a seu lugar. Ametista então se aproximou e parabenizou Olívio Wood.

         - Parabéns Wood – disse Ametista em seu tom superior. – Espero que, sendo o ex-goleiro e capitão de quadribol da Grifinória, torne-se um bom professor. – completou cautelosa.

         Harry virou-se para dizer algo a Neville e reparou na conversa entre os dois jovens. Ficou encarando. Enquanto isso, Olívio respondia sorrindo a Ametista:

         - Ouvindo isso, você me deu uma força extra. Muito obrigado. 

         Ametista deu uma leve risada e voltou ao lugar, ao lado da amiga. Olívio ficou observando-a e Harry ficava vermelho. Rony notou algo estranho e desviou a atenção do amigo. Deu mais um espirro.

         - Harry – chamou o garoto. – Você disse que ia falar com Hagrid hoje à tarde. Como foi?

         - Não foi – respondeu Harry mal humorado. – Ele não estava. Deixou um recado dizendo que houve um imprevisto de última hora e teve que sair. Eu vou me encontrar com ele amanhã, depois da aula de Herbologia.

         - Quer que eu vá junto?

         - Se você melhorar desse resfriado...

***

Na manhã seguinte, Rony acordara com uma coruja grande e negra na janela do quarto, piando como uma doida. Levantou rapidamente e deixou a coruja entrar. Apoiou-se no parapeito e retirou a carta amarrada na perna da ave. Foi ao banheiro lavar o rosto e coçou os olhos, para ler o recado.         

         Rony,

         Estarei chegando provavelmente a Hogwarts hoje à tarde para falar com Dumbledore sobre algo muito importante. Levarei companhia. Peça a Hagrid que não se atrase. Avise seus irmãos e mande um beijo a todos.

                            Papai

         Pouco depois, Harry despertou e reclamou:

         - Eu sonhei com uma coruja maluca, que ficava piando sem parar!

         - Não, não foi sonho – disse Rony rindo. – A coruja do meu pai no Ministério da Magia chegou agora de manhã. Trouxe isto. – e entregou a carta a Harry.

         Depois que ele a leu, Harry disse em tom mal humorado:

         - Só espero que Hagrid não desmarque novamente comigo.

         Antes de irem para a aula de Feitiços, Rony e Harry foram até a cabana de Hagrid. Os alunos do segundo ano da Corvinal e da Lufa-Lufa estavam reunidos e olhavam para Harry impressionados. "Olha a cicatriz!", "É ele mesmo?", "Será que ele se lembra de Você-Sabe-Quem?", ouvia Harry enquanto caminhavam até a cabana. Canino estava adormecido e entraram sem problemas na cabana. Encontraram Hagrid mexendo em alguns papéis.

         - Hagrid – chamou Harry. – Bom dia.

         O gigante virou-se e começou a guardar os papéis rapidamente. Estava ligeiramente nervoso, mas os garotos estavam atrasados, portanto não perguntaram o quê acontecia.

         - O que vocês estão fazendo aqui? Não precisam ir para a aula? – indagava Hagrid ofegante.

         - Sim, é que nós viemos dar um recado – respondeu Rony. – Meu pai me mandou uma coruja hoje e disse que estará chegando em Hogwarts à tarde. E também disse que é para você não se atrasar.

         - Claro, claro. Eu não me atrasarei nem por um segundo. Nem por um segundo – repetiu Hagrid. – Ah! Agora, vão para a sua aula. – dizia o professor, os empurrando para fora de sua cabana.

         - Eu hein! Parece que o Hagrid endoidou! – exclamava Rony a Harry no caminho para a sala de Feitiços.

***

Flitwick estivera brigando consigo mesmo nos dez minutos iniciais de aula. Os alunos achavam que o professor enlouquecera. Mas Hermione sabia do que se tratava o ataque.

         - Tenho certeza que é por causa do feitiço. – disse para os amigos.

         - Qual feitiço? – indagou Rony.

         - Outro dia, eu estava conversando com o Jorge e ele me disse que o Feitiço da Memória o deixa assim mesmo. – explicou devagar.

         - Fizeram um Feitiço de Memória nele? – perguntou Harry.

         - Não – respondeu Hermione impaciente. – Ele vai ensinar-nos hoje a realizar o Feitiço da Memória. Pelo que dizem os alunos mais velhos, quando o professor está prestes a ensinar este feitiço, ele fica meio doido.

         - Eu hein! É apenas um feitiço de memória! – disse Harry, rindo.

         - Mas, principalmente hoje em dia, está muito perigoso passar este feitiço aos mais jovens. Andam executando com muita irresponsabilidade. – falou a garota.

         O mestre de Feitiços levantou de sua cadeira e subiu em cima da pilha de livros, observando os alunos. Olhou de jeito diferente a todos e de repente, começou a dizer:

         - Quero dizer que esta aula é especialmente difícil para mim. Devem entender que o feitiço aprendido hoje poderá ser de muita ajuda. Porém, não devem usá-lo por qualquer motivo. Não quero ser responsável por futuros lapsos de memória em pessoas inocentes. Não pensem que uma briga poderá ser concertada com o uso deste feitiço.

         Os alunos entreolharam-se. O professor nunca havia falado em tom tão sério antes. Flitwick acenou para Hermione e a mandou postar-se a frente de sua mesa.

         - Chamei a Srta. Granger e farei uma pequena demonstração dos tipos de Feitiços de Memória.

         Hermione engoliu em seco. O mestre encarou-a e disse ríspido:

         - Nunca vi tal postura indigna, Srta. Granger! A pior aluna de todo o colégio e ainda ganha o cargo de monitoria! É um total absurdo! Deveria ser expulsa de Hogwarts para o bem da Grifinória! – gritava o mestre, fazendo Hermione começar a chorar. De repente, o professor tomou sua varinha e exclamou: - Obliviate Temporarius! – e a garota parou de soluçar imediatamente e o olhar ficar perdido.

         - O que aconteceu? – indagou a aluna com a voz tímida.

         - Não se lembra, Srta. Granger? – perguntou Flitwick.

         Hermione indicou negativamente com a cabeça. O mestre continuou:

         - Eu estava dizendo a classe que a senhorita deveria ser expulsa da escola! É uma total vergonha ter aqui uma aluna tão displicente! – e de novo, gritou: - Obliviate Modificium! – Hermione ficou com o olhar confuso agora e o mestre perguntou: - O que eu acabei de falar para a senhorita?

         - O senhor disse que eu era uma aluna disciplinada e que deveria ser um exemplo aos alunos menores. – respondeu, olhando para o nada.

         Os estudantes surpreenderam-se. O professor depois disse:

         - Finite Incantatem! – e Hermione suspirou. – A senhorita está bem? – indagou o mestre.

         - Estou, estou sim. Mas por que o senhor falou aquelas coisas? – perguntou acanhada e preocupada.

         - Foi apenas um exemplo, Srta. Granger. Pode sentar-se. Muito obrigado pela ajuda – respondeu o professor. – Como vocês puderam comprovar, existem formas totalmente diferentes de executar um Feitiço de Memória. O primeiro usado Obliviate Temporarius apagou uma porção da memória da aluna. Mas precisamente, o acontecido naquele minuto. O segundo Obliviate Modificium, modificou a memória daquele minuto. São formas diferentes, mas que possuem efeito imediato. Entretanto, se querem o verdadeiro e eficaz Feitiço da Memória, digam apenas Obliviate. Devo lembrar-lhes que foi exatamente este feitiço que destruiu a vida, eu diria, do ex-professor Gilderoy Lockhart.   

         Rony desviou o olhar para Harry, que pigarreou alto. Hermione riu e Ametista cochichou algo a amiga, que riu timidamente.

         - Mas professor – dizia Dino. – A Hermione acabou lembrando do que o senhor falou no começo da aula. Vai acontecer isso com todos quando fazemos um dos dois feitiços?

         - Não, Sr. Thomas. Ela apenas lembrou do que havia dito no começo porque eu quebrei o feitiço com o Finite Incantatem.

         - E já aconteceu de alguém lembrar depois, mesmo sem o Finite Incantatem? – perguntou novamente Dino.

         - Bom, temos alguns episódios em que a pessoa que sofreu o feitiço fez tanto esforço para descobrir o quê havia sido dito a ela que ele não resistiu e quebrou-se – explicava Flitwick. – Vocês mesmo devem conhecer a história de Hariel e Sam.

         - Que história é essa? – indagou Harry.

         - É uma famosa lenda bruxa de amor. Hariel era uma princesa, filha de um poderoso rei bruxo, porém maligno. Em um dia, estava caminhando pelos jardins de seu palácio e encontrou um homem, alto e muito belo. "Era como um anjo", assim ela o definia. Era um guerreiro chamado Sam, e assim um pouco rude, mas ainda de muita coragem, valentia e lealdade. Apaixonaram-se a primeira troca de olhares. Encontravam-se por acaso ou pelo destino, mas nunca chegaram a se beijar ou ainda confessar o amor que sentiam um pelo outro. Até que o pai da princesa decidiu destruir todo o vilarejo, onde o guerreiro morava. O bruxo foi pessoalmente até a guerra que se instalara e o guerreiro ali estava, para enfrentá-lo, para matá-lo. E assim foi feito. O valente e justo guerreiro matou o rei e foi nomeado o novo dono do trono. Quando foi tomar posse, encontrou-se com a amada e no baile da coroação, a tomou nos braços e a beijou, confessando todo o seu amor. Depois executou um Feitiço de Memória provisório. Ela sabia que algo acontecera na noite, mas não se lembrava. Precisava descobrir. E então fez tanto esforço e clamou tanto a Merlin, que ele atendeu a seus pedidos. Em uma noite chuvosa, ao cair de um trovão, ela lembrou-se e saiu a procura do amado. Procurou-o por todo o palácio e o encontrou no mesmo lugar em que haviam se conhecido. Lá, disse que se lembrara de tudo e selaram então, o amor eterno. Pouco depois, ele teve de ir embora para uma batalha e não voltou. Ela viveu pelo resto dos dias trancafiada em seu quarto, a espera da morte, a espera de seu reencontro com o amado.

         Ao final, as garotas suspiravam e os garotos riam. Ametista estava cabisbaixa e Hermione perguntou qual era o problema.

         - Sabe, quando era bem pequena, eu lembro de meu avô me contar esta história. E você sabe por que? – Hermione indicou que não. – Pois Hariel foi o nome dado a minha mãe, por causa desta lenda.

         - Será que ela encontrou o seu Sam, o guerreiro salvador? – indagou a garota, carinhosamente.   

         - Não sei. Talvez não. Talvez tenha e ele fosse meu pai. Quem sabe? – disse Ametista, em tom de mágoa.

         Flitwick passou a tarefa, onde deveriam criar situações em que os feitiços de memória são usados sabiamente ou não. Harry e Rony estavam confusos e pediam a ajuda de Hermione para realizar a tarefa. Enquanto isso, Ametista ficara pensando na mãe e no pai. Será que eles viveram a lenda de Hariel e Sam? Será que ela viveria uma lenda como essa, porém com um final feliz? E, de repente, Ametista olhou para os amigos e notou que Harry a observava. Seus olhos se encontraram.

***

Após o almoço, Harry e Rony postaram-se no Hall de Entrada, a espera do Sr. Weasley, que logo estaria chegando. Pouco depois, a porta principal abriu-se em um estrondo e os dois jovens puderam avistar Arthur e Percy Weasley encharcados.

         - Percy? – indagou Rony desanimado. – Está era a tal companhia, papai?

         - Isto são maneiras de cumprimentar o secretário de Execução das Leis Mágicas Especiais? – insinuou Percy, orgulhoso. – Como vai, Harry?

         - Bem – respondeu o garoto, segurando o riso. – Como vai o senhor?

         - Não do jeito que realmente queria, mas bem – respondeu Arthur com a aparência muito preocupada. – Vocês pediram que Hagrid não se atrasasse?

         - Sim. – disse Rony.

         - Então é melhor irmos para a sala de Dumbledore imediatamente, filho – disse o Sr. Weasley a Percy. – Nos vemos mais tarde. – e se despediu dos garotos.

         Harry e Rony seguiram para a sala comunal. Harry comentou com o amigo a mudança de cargo de Percy.

         - Você vai ver, daqui a pouco ele estará querendo voltar a vistoriar a medida dos caldeirões. – zombou Rony.

         - Pelo menos colocaram alguém justo no Ministério. Depois do ano passado e da postura do Fudge, eu estou decepcionado.

         - Harry, você tem de entender que o Fudge é apenas um otário que apareceu demais e conseguiu o cargo de ministro. Meu pai adquiriu certa cautela com ele. Vamos ver se ele o convenceu, pelo menos, que o Você-Sabe-Quem está de volta.

         - Eu preferia que ele reabilitasse o Sirius primeiro. – sibilou Harry para si mesmo.

         A aula de Herbologia passou lentamente para Harry e Rony. Contra as regras da Profª. Sprout, os dois organizaram o material antes do horário e a Grifinória perdeu cinco pontos. Quando saíam, Hermione segurou os amigos, em postura imponente.

         - Vocês fizeram a gente perder cinco pontos! Lembre-se da Taça das Casas! – gritava ao pé do ouvido de Rony, principalmente.

         - Tá bem. Agora, nos solte porque precisamos fazer uma coisa muito importante. – dizia Rony, desvencilhando-se da amiga.

         - Aonde vocês vão? – perguntou a garota, curiosa.

         - Visitar o Hagrid. – respondeu Harry, rapidamente.

         - Posso ir também? – indagou Hermione.

         Harry e Rony entreolharam-se. Atualmente, Hermione andava bem mais preocupada com o cargo de monitoria e com Ametista que havia esquecido das aventuras com os garotos. Eles vingaram-se, então.

         - Não. O Hagrid chamou o Rony e eu, apenas! – frisou Harry.

         - Está bem, eu tinha mesmo de estudar para o teste de Aritmancia. – respondeu a garota, saindo resmungando.

Rony bateu na porta da cabana modesta de Hagrid. O gigante sorriu ao ver os dois jovens. Harry colocou o primeiro pé na sala do professor e Hagrid o empurrou levemente.

- A nossa conversa não será aqui. – disse o gigante, que envolveu os garotos em seus longos braços e os guiou para dentro do castelo.

***

- Hagrid – chamou Harry. – Nós estamos indo para a sala do Dumbledore?

Pararam diante da estátua de um gárgula e Hagrid murmurou a senha. Logo, a porta abriu-se e os amigos puderam observar uma reunião. Estavam presentes, além dos três e Dumbledore, o Sr. Weasley, Percy, Lupin e, surpreendentemente, Sirius.         

         - Olá, Sr. Weasley, Percy – cumprimentou Hagrid. – Professor Lupin, professor Black, professor Dumbledore.

         - Está com todos os papéis, Hagrid? – indagou Arthur, aflito.

         - Sim, estão todos aqui... Em algum lugar – sussurrou para si, até que exclamou: - Aqui!

         Hagrid despejou uma montanha de pergaminhos na mesa do diretor, que sorriu. Dumbledore pegou o pergaminho mais acima e deu uma ligeira olhada. Depois, por cima dos óculos meia-lua, observou Harry e Rony, perdidos.

         - Sentem-se, por favor – disse o diretor, indicando duas cadeiras para os garotos. – O assunto é muito importante e eu quero que se sintam confortáveis.

         Todos permaneceram em silêncio. Sirius parecia agitado, enquanto Arthur Weasley mexia em dois pergaminhos que segurava. Harry percebeu que Fawkes, a fênix de Dumbledore, estava adormecida. Lupin pigarreou baixinho e postou a sua cadeira ao lado da mesa de Dumbledore. Olhou atentamente para o bolo de pergaminhos e retirou um do meio da pilha. Depois de lê-lo, virou-se para Harry e começou.

         - Você sabe quem é Mundungo Fletcher? – indagou com a voz calma, como sempre.

         Harry indicou que não com a cabeça. Lupin franziu a testa.

         - Harry – e Lupin suspirou. – Mundungo Fletcher é o chefe de um departamento especial no Ministério da Magia. O Departamento de Espionagem. – completou receoso.

         - Aconteceu alguma coisa? – indagou o garoto nervoso.

         Sirius levantou-se e parou na janela, olhando para o jardim.

         - Sim, sim. Aconteceu. Na manhã retrasada, o principal espião de Fletcher avistou, coberto por uma capa surrada, no Caldeirão Furado, o nosso antigo traidor, Pedro Pettigrew. – disse Lupin, com raiva na voz.

         Harry sentiu um gelo percorrer todo o seu corpo e percebeu que Rony, por sua vez, começou a suar frio. Rabicho, como poderia ser chamado também, não aparecera desde a confusão da terceira tarefa do  Torneio Tribruxo.

         - E o que isso significa? – perguntou Rony, atônito.

         - Simples, Rony – respondia Lupin tranqüilamente. – Aquele rato imundo está de volta, trazendo consigo as milhares mortes de pessoas inocentes e, dentro de sua mente, o Lord das Trevas. Com a nova aparição de Rabicho, estou desconfiado que os servidores de Voldemort devam estar atrás de algumas coisas... – o professor parou rapidamente. – Você, por exemplo. 

         - Eu já imaginava que isso aconteceria – disse Harry. – Depois do ocorrido na final do Torneio Tribruxo... À volta de Voldemort está mais próxima...

         - Sim, está. Cada vez mais próxima – interrompeu Arthur Weasley. – Por isso mesmo, Fletcher colocou um de seus espiões atrás de Pettigrew. Estamos esperançosos de que, com a volta daquele homem, encontremos os outros procurados. Os Comensais da Morte...

         - Não sei por que vocês estão procurando! – exclamou Harry, de repente. – Eu já disse o nome de todos e vocês sabem que eles estão sentados em casa rindo das nossas caras!

         - Não adianta invadir suas casas e prender todos, Harry – disse Percy. – Precisamos de provas, fatos...

         - Mais do que à volta de Rabicho e de Voldemort? – exaltou-se Harry.

         - Harry, você se lembra de poucos meses atrás, em que eu rompi relações com Cornélio Fudge? Agora, precisamos de provas para prendê-los, para mandar cada um para Azkaban! – falou Dumbledore, cauteloso.

         - Estamos receosos e preocupados, Harry. Você precisa tomar cuidado, muito cuidado! – disse Hagrid.

         - Eu não pretendia contar a você agora, mas o professor Lupin achou melhor – disse Dumbledore, calmamente. – Porém, não quero saber de aventuras de vocês atrás de Pettigrew.

         Harry abaixou a cabeça, desapontado. Sabia que estava correndo perigo, mas não queria deixar o responsável pela morte de seus pais rondando o país, livre, rindo pelas suas costas.

         - Entretanto, Harry – dizia Sirius, que permanecia apenas calado até então. – Com o aparecimento em público de Pedro, poderemos arranjar uma boa defesa para mim.

         Harry levantou a cabeça, olhando para o padrinho. Não tinha pensado na possibilidade de que, agora, poderiam provar a inocência de Sirius perante Fudge e todo o Ministério da Magia.

         - Você pode ser inocentado? – indagou Rony, muito contente.

         - Sim, pois provando que Pettigrew está vivo, todos saberão da falsa morte feita por ele e não terão como me trancar em Azkaban novamente.

         - Mas Sirius, você ainda não tem como alegar inocência no caso dos meus pais – lembrou Harry. – Eles ainda acham que você era o Fiel do Segredo deles.

         - Isto é um problema que logo será resolvido. – respondeu Sirius.

         - O importante é que, feito um julgamento justo, você estará livre, Sirius, e poderemos correr atrás daqueles que nos traíram – disse o diretor. – E então você poderá passar suas férias com seu padrinho, Harry.

         Uma luz surgiu no rosto de Harry. Só de pensar em passar as férias bem longe da Rua dos Alfeneiros já era animador o bastante para lutar contra Rabicho ou qualquer Comensal da Morte. Mesmo Voldemort.

         - Além do grupo de espiões de Fletcher, Alastor Moody colocou todos os aurores nas ruas. Estão alertas vinte e quatro horas por dia. – lembrou Arthur Weasley.

         - Eu e o meu chefe estamos tentando entrar em contato com todas as partes do Ministério da Magia – dizia Percy em tom importante. – Precisamos regularizar as leis para pegar aqueles vermes! 

         - Agora, eu convoquei esta reunião não apenas para deixar claro que podemos logo conseguir as provas finais para o caso de Sirius – disse Dumbledore. – Mas também para dizer que o Clube de Duelos foi aberto com a função de preparar os futuros bruxos contra Voldemort e seus seguidores. Espero que os senhores façam parte. – e apontou para Rony e Harry.

         Lupin levantou e disse repentinamente:   

         - Professor, logo os treinos dos senhores Potter e Dumbledore irão começar. Já ajustei os horários com a Profª. Figg.

         - Muito bem. Esperava isto mesmo de você, Lupin – elogiou o diretor alegre. – Quero que os senhores Weasley e Granger estejam no Clube de Duelos, mas também assistirão algumas aulas particulares dos amigos.

         Rony sorriu encabulado. Quando Harry contou que faria treinos de duelos especiais, havia ficado com uma pontinha de inveja. Também queria, achava muito excitante. Talvez o diretor tivesse percebido e deu uma chance de pelo menos estar por perto.

         - Agora, quero e, desta vez é estritamente necessário que tudo o quê foi comentado nesta sala hoje, não saia desta sala. Apenas poderão comentar com os professores, que estão por dentro, e com a senhorita Granger. – terminou Dumbledore.

         Lupin adiantou-se e disse:

         - O senhor tem mesmo certeza de que não é melhor avisar sua neta também?

         Sirius pigarreou. Dumbledore apenas respondeu:

         - Já conversamos sobre isso, Lupin. Você é o guia da minha neta e sabe que é melhor não. Agora, a reunião está terminada. – finalizou o diretor, aparentando nervosismo de repente.

         No entanto, antes de Sirius deixar a sala, Dumbledore levantou-se de sua cadeira e disse ao ex-aluno:

         - É melhor você se revelar logo. Contar toda a verdade e parar com o ódio que sente. Por favor. Será melhor para todos.

         - Se o senhor acha que é verdade... – respondeu Sirius, mudando o tom calma para agressivo.

         - Por enquanto, é essa verdade que eles devem saber, Sirius. – disse Dumbledore, sério.

         - Não sei, Dumbledore. Não sei... – e Sirius saiu da sala do diretor com a expressão incomodada. 

         No corredor, Hagrid saiu, dando um tapinha de leve nas costas de Harry. Estava atrasado para a aula com os alunos do terceiro ano. Arthur Weasley ainda permaneceu na sala do diretor, enquanto Percy, Rony e Harry seguiram para a torre da Grifinória. Pouco antes de deixarem o corredor, Sirius parou Harry. Rony, Percy e Lupin continuaram, deixando os dois sozinhos:

         - Harry, nós temos uma previsão de que até o final do mês nós possamos ter as provas decisivas e poderei ter um julgamento justo. Se o tempo estiver do nosso lado, talvez você possa passar o Natal e o fim do ano comigo. – convidou Sirius sem jeito.

         - Mas você já tem lugar para ficar? – indagou o afilhado animado.

         - Ainda não, mas nessas férias, quando tinha um tempo livre, Lupin me levava para visitar algumas casas. Acho que encontrei algumas, mas queria que você aprovasse antes. Afinal, poderá morar comigo, então a casa também será sua.

         - Não importa o lugar em que moraremos, e sim que eu estarei com você, Sirius. – respondeu Harry.

         Sirius deu um abraço no afilhado e sorriu. Harry seguiu para a sala comunal, enquanto o padrinho transformou-se no enorme cão negro e foi para a sala de Lupin.

***

A maioria foi dormir cedo naquela noite porque Percy parecia disputar com Hermione quem possuía mais comando. Logo, os alunos até do sétimo ano subiram para os quartos, cansados dos monitores. O dia nem mesmo havia amanhecido e Harry ouviu reclamações ao seu lado. Abriu os olhos devagar e viu Olívio Wood sacudindo Rony. Seria o primeiro treino mais pesado do garoto desde que o ex-capitão havia chegado. Depois olhou para a janela e avistou uma massa de névoa espessa contrastando com o céu ainda rosa. Rony colocou as vestes de quadribol e seguiu para a sala comunal. Por mais cedo que fosse, encontrou Ametista sentada em um dos sofás, segurando o tal diário na mão direita e uma caneca de leite na esquerda.

         - Bom dia Weasley. – exclamou a garota em baixo tom.

         - O que você está fazendo acordada há essa hora? – indagou Rony.

         - Insônia – respondeu, tomando um gole de leite. – Quer um pouco?

         - Não obrigado – respondeu Rony, bocejando. – Mas onde você pegou essa caneca?

         - Fui até a cozinha com a minha capa. Os elfos estavam dormindo e então eu aproveitei para pegar uma xícara de leite quente. Você tem certeza de que não quer um pouco? – ofereceu novamente, empurrando a xícara para o garoto sonolento. – Vai te esquentar, está bem frio lá fora.

         - É, eu imagino. – resmungou discretamente.

         - Mas por que você está aqui? – perguntou Ametista, indicando o sofá para o garoto sentar.

         - Treino de quadribol. – respondeu mal humorado.

         - Mas eu não vi o resto do time. O Potter também não faz parte?

         - O treino é com o Olívio. Mas eu não entendo porque tão cedo. Eu me lembro bem quando era o Harry que levantava super cedo para treinar. Agora, sou eu! – disse, quando Olívio desceu as escadas dos dormitórios.

         - Que bom! Você foi rápido! – exclamou para Rony, que fechou a cara de repente. – Bom dia, Ametista.

         - Boa madrugada, você quer dizer! – zombou a garota. – Não está cedo demais para um treino de quadribol? – repreendeu o rapaz no típico tom ríspido.

         - Bom é quem cedo madruga! – respondeu animado. – Não quer assistir um pouco?

         - Não, muito obrigada – respondeu sem ânimo. – Prefiro ficar aqui dentro quentinha. É melhor vocês levarem casacos, eu estou avisando. – disse Ametista, em tom superior.

         Os garotos não deram atenção e saíram pelo quadro da Velha Gorda. Rony resmungou novamente e Olívio comentou:    

         - Quando ela disse que preferia ficar lá dentro quentinha, eu quase respondi que eu poderia esquentá-la lá fora. – e riu em seguida.

         - Olívio... Olívio... – disse Rony, em tom de deboche. – Sempre o mesmo arrasador de corações! Não toma jeito hein!

         Os dois jovens caíram na risada e Olívio respondeu:

         - Desta vez, arrasaram meu coração...    

         - Pois eu só te digo uma coisa: espere até conhecê-la melhor. Todo esse encanto vai cair por terra.

         Saíram pouco depois do castelo e cruzaram o jardim de Hogwarts tremendo de frio. Rony avistou o campo de quadribol de longe e imaginou o gelo que seria voar com aquela névoa. Olívio murmurou algo para si e os dois entraram no vestiário. Estava mais frio ainda lá dentro. Rony sentou-se em um banco e encostou a cabeça em um armário. Se Olívio não tivesse gritado de repente, com certeza estaria dormindo.

         - Rony, se você quer ser um bom goleiro, precisa se esforçar muito e estar sempre alerta. Lembre-se sempre disso!

         - Juro que não vou me esquecer... – murmurou irônico e sonolento.

         - Agora, táticas conhecidas feitas pelos melhores goleiros do mundo mágico... – dizia Olívio, enquanto o sol começava a dar as caras no campo.

         Cerca de uma hora depois, saíram do vestiário e congelaram. O tempo havia piorado cem por cento e Rony recuou alguns passos de volta ao vestiário. Até que alguém atrás dele o fez pular para frente de susto.

         - Eu avisei! – exclamou Ametista superior. – Eu disse que estava muito frio aí fora.

         Ametista estava bem agasalhada e parecia que fazia questão de mostrar-se mais inteligente para os garotos. Olívio e Rony franziram as sobrancelhas e seguiram para o campo. Ametista subiu para uma arquibancada e ficou assistindo-os até a hora do café da manhã.

Na mesa da Grifinória, vários alunos reclamavam de Percy e Hermione, que agora era chamada de "Minerva Dois", coisa que ela detestava. Os irmãos Weasley imitavam Percy cumprimentar os outros para cada aluno que entrava no Salão Principal. Avistaram de longe Olívio, Rony e Ametista aproximando-se.

         - Oh! Se não é o excelentíssimo novo goleiro do time da Grifinória. Como vai, meu caro? – disse Fred a Rony, que riu bastante.

         Ametista foi recebida com um "bom dia, esplêndida neta do esplêndido diretor desta esplêndida escola" de Jorge. Aproveitou e sentou-se ao lado de Harry e sussurrou ao seu ouvido:

         - Potter, você já tirou aquela idéia maluca e idiota de ir comigo naquela sala, não é? – indagou arrogante.

         - Claro que não, eu disse que ia e vou! – respondeu Harry, fazendo Hermione olhar de canto para os dois.