Uma semana passara-se e a tensão ainda estava no ar. Na Grifinória, era ainda maior, pois no dia seguinte, o primeiro jogo de quadribol do ano aconteceria contra a Lufa-Lufa, e o time ainda não estava cem por cento. Eles já haviam nomeado Harry como o capitão do time e ele estava cumprindo bem a nova função. Fred e Jorge reclamavam que o garoto havia se tornado uma cópia perfeita de Olívio Wood. Este, por sua vez, vivia com Rony, passando seus conhecimentos e treinando nas horas vagas. No almoço, a escola esperava ansiosamente o amanhecer do dia seguinte. Queriam esquecer as confusões da última semana, vendo um bom jogo de quadribol de Hogwarts.
- Harry, como vão os treinamentos com a professora Figg? – indagou Hermione, comendo um pedaço de alface.
- Ela pega pesado. Ainda não tive sequer a chance de perguntar alguma coisa fora do treinamento. Ela só fala daquilo e de como devo ser forte – resmungava Harry. – Sem contar que ela me trata pior do que nas aulas! E não se cansa de dizer que estou fraco.
- E os seus, Ametista? – perguntou Rony com a boca cheia.
- Perfeito! Eu gosto tanto do professor Lupin! Sabe, eu sinto como se ele fosse algo mais do que apenas um professor. É como se ele fosse uma espécie de pai, sei lá. Ele não pensa só nos treinamentos, ele me dá conselhos e é super atencioso. – elogiou Ametista.
- Que diferença, hein! – exclamou Hermione.
Harry bufou e imitou o "perfeito" dito há pouco por Ametista. Ela notou:
- Algum problema Potter? Está com inveja?! – provocou.
- Por favor, eu tenho mais o que fazer do que ficar com inveja de você e seus treinos meia boca! – Ametista cerrou os olhos. – Oh! Perfeitos, eu quero dizer. – imitou Harry.
Os dois fuzilavam-se com o olhar. Rony e Hermione franziam a testa, impressionados. Colocar Harry e Ametista na mesma mesa era uma bomba relógio que poderia explodir a qualquer hora. Hermione resolveu interromper e diminuir a tensão.
- Que bom que está tudo indo bem então...
- Estaria indo bem se não fosse por aquele cachorro, o Snuffles. – disse Ametista, fazendo Harry fechar a cara.
- Por quê? – indagou Harry. – Qual é o seu problema com ele agora?! – alterou-se o garoto.
- Eu não estou conversando com você Potter! – respondeu Ametista quase em um berro.
Imediatamente, Rony interrompeu:
- Por que Ametista? – retomou meio sem jeito.
- Ele fica o tempo inteiro rosnando ou latindo para mim! Eu não sei qual é o problema dele comigo – Harry abafou uma risada. – Eu sempre me dei tão bem com animais! Eu até tenho um de estimação! – respondeu a garota.
- Sério! Não é um rato, né? – espantou-se Rony.
- Não. Não é um rato. É muito mais majestoso! – disse Ametista com os olhos brilhando.
- O que é? – perguntou Hermione radiante de curiosidade.
- Um cervo. – respondeu Ametista maravilhada.
Harry paralisou neste momento. Lembrou-se de que o pai, que fora um animago clandestino, transformava-se em cervo. Por isso o apelido de Pontas, no Mapa do Maroto.
- Mesmo? – indagou Harry sem acreditar.
- Sim, Rony e Hermione! – deixou claro a garota, aborrecida. – Eu acho que ele é um tipo de guardião. Não sei.
- Como assim? – perguntou Hermione intrigada.
- Toda vez em que eu posso estar em perigo, eu o vejo em algum lugar, perto de mim, como se me protegesse. Geralmente, eu me livro dessas coisas quando o sinto ou vejo. – respondeu a garota.
- É só com o cervo? – indagou Rony.
- Não, às vezes... Mas vocês vão me achar louca desse jeito! – suspirou envergonhada. – Tem vezes em que não o vejo. Então, eu ouço um canto, de dar arrepios, eu diria. Ele começa a aumentar tanto, que chega a vibrar meu coração! E nada acontece comigo!
Harry sabia bem da onde vinha este tipo de canto.
- Isso é o canto de uma fênix, Rony e Hermione! – resmungou Harry. – Eu sei porque já ouvi um canto desses e tive a mesma sensação. – disse Harry meio seco.
- E tem mais! É muito estranho, pois no outro dia, eu vi o cervo na entrada da Floresta Proibida e chamei o Hagrid para vê-lo. Mas Hagrid disse que não havia nada lá! – resmungou Ametista de um jeito meloso.
- Quem ouve você contando isso... Acha que é loucura mesmo! – debochou Rony.
- E sabe o que também foi estranho? – continuou Ametista. – No incidente na Sala Amaldiçoada, eu não ouvi nenhum canto ou vi o cervo. Acho que foi por isso que não pude evitar que tudo aquilo acontecesse. Não tive nenhuma proteção.
- Eu gostaria de vê-lo! – pediu Hermione jeitosa, referindo-se ao cervo.
- Se eu puder, por mim tudo bem! – respondeu Ametista com afeto.
Harry ficara muito incomodado com toda aquela conversa. Mas deixou de lado, quando saiu para treinar com o time antes da estréia na copa.
***
O dia amanheceu com ligeiros raios de sol entre as densas nuvens, imagens que não eram vistas há muito tempo em Hogwarts. Logo, os alunos iam descendo para o café. Rony tremia de cima a baixo. Ninguém nunca vira alguém mais nervoso com a estréia como o garoto. Comia como um esfomeado, e não se incomodava com que os outros dissessem. Naquele dia, nem Malfoy poderia estragar sua alegria.
- Finalmente, poderemos ver a derrota da Grifinória! Com o Weasley como goleiro, a Lufa-Lufa vai dar uma goleada boa para calar a boca desses nojentos! – gritava Draco, andando entre as mesas da Grifinória e da Lufa-Lufa, acompanhado por Crabbe e Goyle.
A Lufa-Lufa ria baixinho, enquanto os gêmeos Fred e Jorge, encaravam o menino loiro. Draco, antes de deixar o salão principal, deu uma olhada ligeira para a mesa da Grifinória. Avistou uma garota de longos cabelos vermelhos como o fogo e deu um sorriso irônico.
Harry e Rony despediram-se de Hermione e Ametista, que seguiram para as arquibancadas. Neville, Gina e Olívio acompanharam-nas.
Enquanto isso, os dois amigos seguiram para seu quarto e colocaram suas vestes de quadribol. Depois, foram para o vestiário e encontraram o resto do time.
- Finalmente as estrelas do time chegaram! – exclamou Katie Bell.
- Como? Nós somos as estrelas do time! Os melhores batedores que Hogwarts já teve! – respondeu animado Jorge.
Harry subiu em cima de um dos bancos, segurando sua Firebolt com a mão esquerda.
- Este é o nosso primeiro jogo do ano, contra a Lufa-Lufa. O primeiro jogo de Rony, nosso novo goleiro! – e todos gritaram. – E o primeiro jogo comigo no comando! – e todos saudaram. – E por isso, quero sair daqui vitorioso! Nós podemos, nós vamos ganhar!
Todos se uniram e gritaram o nome da Casa Grifinória. Tomaram suas vassouras e postaram-se à frente da porta principal para a entrada no campo. Harry notou que Rony ainda tremia. Deu um toque em Fred e Jorge.
- Qual é, irmão?! Mostre-nos que você tem sangue Weasley nas veias! – gritou Fred e Jorge, desmanchando o cabelo de Rony.
Lá fora, ouvia-se Lino Jordan narrando o início do jogo.
- Aqui estamos novamente na Copa de Quadribol de Hogwarts. Jogo de hoje, e de estréia: Lufa-Lufa versus Grifinória! – e a torcida aplaudiu. – Chamarei agora o time da Lufa-Lufa!
Os jogadores entravam em campo voando em suas vassouras. A torcida gritava chamando pelo nome de Cedrico Diggory, que havia sido o apanhador da Lufa-Lufa nos anos passados.
- E agora o time da Grifinória! – e os aplausos foram em maior quantidade. – O melhor time da copa nos últimos anos! – exclamou Lino, ouvindo logo em seguida:
- Jordan! Espero não ter problemas com você neste ano! – repreendia Minerva, severamente.
Quando as portas abriram-se e os jogadores da Grifinória entraram em campo, Harry tomou um susto. Em todos os espaços das arquibancadas reservadas a Lufa-Lufa, faixas com o rosto de Cedrico estavam estampadas, com a frase: "Lembre-se de Cedrico Diggory!". Harry teve a ligeira sensação de sentir algo passar atrás dele e virou para trás. Avistou o rosto delicado de Cho Chang na torcida, emocionada.
Madame Hooch posicionou-se no meio do campo e chamou Harry e Peter Thompson.
- Thompson, Potter. Apertem as mãos. – pediu e os dois capitães dos times deram as mãos. Thompson era do quarto ano e parecia legal. Harry sabia que ele era o novo apanhador, substituindo Cedrico.
A professora de vôo jogou a goles no ar, iniciando o jogo. Harry subiu bastante e ficou atento. Peter fez o mesmo, um pouco mais distante. O garoto lançou um olhar para a arquibancada e viu Hermione segurando seu cachecol, sorrindo alegremente para Rony, que mantinha a mesma postura de Olívio Wood. Este, por sua vez, estava ao lado de Ametista, que mantinha o contato visual com alguém na arquibancada oposta. Achou estranho, mas nada fez. Gina fazia o mesmo. Neville gritava como um louco o nome de Harry.
- Pênalti para a Lufa-Lufa! – gritou Lino. – Nem foi uma falta tão absurda assim... – ia dizendo em protesto o narrador.
- JORDAN! – berrou Minerva.
A artilheira da Lufa-Lufa parou com a goles na mão confiante. Na verdade, ninguém ainda havia visto a performance de Rony como goleiro de quadribol. Ouviu-se o apito de Madame Hooch.
- WEASLEY DEFENDE BRILHANTEMENTE! – exclamou Lino como um verdadeiro grifinório.
Rony parou a goles incrivelmente com a ponta da sua vassoura. A artilheira decepcionou-se e Alícia Spinnet aproveitou para pegar a goles e correr para o gol adversário. Driblou o goleiro e passou para Angelina Johnson mais a sua frente.
- GOL DA GRIFINÓRIA! – berrou Lino feliz. – Dez pontos para a Grifinória.
Via-se na arquibancada dos professores, Lupin vibrar, junto com os latidos do cão negro Snuffles. Mas a alegria durou pouco. Fred, sem querer mandou um balaço no braço direito de Rony, pegando de raspão, fazendo o irmão desviar-se por um instante dos arcos. Foi o bastante para o artilheiro da casa adversária fazer um gol.
- Gol da Lufa-Lufa. – passou Lino sem a menor empolgação.
Harry, que observava tudo de cima, viu ligeiramente uma bolinha dourada voando pouco atrás de Peter. Correu como um jato atrás do pomo de ouro. Peter notou e correu atrás de Harry. O pomo desceu rapidamente, fazendo Peter desequilibrar-se da sua vassoura, uma Nimbus 2001. Harry aproveitou e pegou o pomo de ponta cabeça.
- POTTER PEGOU O POMO! – berrou Lino, com o apito de Madame Hooch.
- Vitória da Grifinória! – disse a mestra satisfeita.
A torcida veio abaixo. Todos comemoravam felizes. A Grifinória reuniu-se no chão, esperando os jogadores descerem de suas vassouras, enquanto o time reunia-se no ar, cumprimentando Harry pelo desempenho muito bem feito. De volta à torre da Grifinória, os alunos comemoravam.
- Bela estréia, Rony! – elogiou Dino, dando um aperto de mão no amigo ruivo.
- Realmente, parece que a ajuda de Olívio foi muito bem usada. – disse Parvati, lançando uns olhares ao garoto.
Hermione percebeu e sentou-se ao lado do amigo.
- Você foi incrível, Rony. – disse em baixo tom.
- Você acha mesmo? – indagou Rony corando.
- Claro, todos nós achamos. – completou Hermione, dando um beijo no rosto do amigo.
Rony parou assustado. Hermione nunca havia dado nem um beijo sequer em seu rosto. Sempre em Harry. No fundo, Rony sentia-se bem incomodado com isso, já que sempre reservou uma grande afeição pela amiga. Hermione deu um sorriso maroto e saiu da sala comunal, indo para o quarto. Harry, que conversava com Simas no outro extremo da sala, viu bem a cena e deu uma risada.
No quarto, Hermione encontrou Ametista mexendo em algumas fotos, em um grande álbum.
- Posso ver? – perguntou timidamente.
Ametista levantou o rosto e deu um sorriso.
- O que foi que você fez? – indagou.
- Nada, por quê? – respondeu Hermione sem entender.
- Porque você está vermelha como fogo!
Hermione postou-se à frente do espelho do quarto, virado para o oposto da cama de Ametista, e colocou as mãos nas bochechas.
- Eu não fiz nada. – respondeu rapidamente, pensando se Rony havia percebido algo.
Voltou para a ponta da cama de Ametista.
- Deixe-me ver o álbum? – indagou novamente Hermione.
- Outro dia eu te mostro – respondeu Ametista, guardando-o dentro de sua mala. – Eu queria te perguntar uma coisa.
- Pode perguntar. – permitiu Hermione.
- Uma vez você me disse que a Gina gostava do Potter, não disse?
Hermione estranhou.
- Disse, pelo menos é o que parece. Não é uma coisa confirmada, nós nunca ouvimos isso da boca dela, mas sabemos que ela gosta dele sim.
- Você tem certeza? – insistiu mais uma vez.
- Tenho – respondeu Hermione incomodada. – Mas por que você está me perguntando isso?
- Calma que eu ainda tenho uma outra coisa para perguntar! Qual é a relação entre a família do Rony e a do Malfoy?
Agora Hermione realmente estranhou.
- Por que estas perguntas, Ametista?
- Porque sim! Se você quiser, me responda. Mas se não quiser, tudo bem. Eu pergunto para outra pessoa. – respondeu Ametista ríspida.
Hermione receou, mas no fim respondeu.
- A pior possível. Eles realmente não se dão bem. Em inúmeras situações, o pai de Malfoy, Lúcio, tentou despedir o pai do Rony do Ministério, sem contar as brigas entre o Rony e o Malfoy.
- Eles realmente não se dão?
- Não. E eu acho que nunca se darão.
Ametista levantou e saiu do quarto, deixando Hermione sozinha e perdida. A garota seguiu para a sala comunal. Depois saiu da torre da Grifinória e foi para o jardim de Hogwarts.
Enquanto isso, na cabana de Hagrid, Gina conversava com o gigante animadamente. Comentavam sobre o desempenho de Rony em sua estréia. Hagrid colhia alguns vegetais parecidos com cogumelos e Gina acariciava Canino, esticado no belo gramado.
De longe, Hagrid avistou uma garota vindo em sua direção em meio ao dia já acabando. Os cabelos castanhos longos dançavam em choque com o vento.
- Ametista! Minha menina! – gritava Hagrid feliz.
A garota aproximou-se da cabana do professor e disse rapidamente.
- Olá Hagrid! Gina, posso conversar com você por um minuto?
Gina estranhou, mas deixou Canino e seguiu com Ametista até a beira do lago de Hogwarts.
- Aconteceu alguma coisa? – indagou a filha menor dos Weasley.
- Não exatamente – respondeu Ametista pausadamente. – E é isso que eu quero descobrir.
- Pode falar.
As duas sentaram-se no gramado e ajeitaram as vestes vermelhas da Grifinória.
- Você gosta do Potter, Gina? – perguntou Ametista.
Gina corou rapidamente e sentiu-se desconfortável. Além de a paixão secreta ser revelada tão facilmente, Gina não conhecia Ametista direito.
- Do... Do Harry? – gaguejou.
- É, do Potter.
- Bem... Eu... Eu não sei. Mas por que você...
Ametista a interrompeu.
- É que a Mione me contou a história sobre a Câmara Secreta e sobre o diário de Voldemort – Ametista não tinha problema em falar o nome do bruxo tão temido. – Basicamente, o motivo daquilo foi a sua paixão pelo Harry, não foi?
- Não exatamente! – protestou Gina. – Eu sempre fui muito sozinha aqui em Hogwarts, Ametista. Não tenho muitas amigas ou amigos. Quando achei aquele diário, que falava comigo, descobri que alguém poderia me entender, alguém com quem eu poderia desabafar!
- Desabafar sobre Potter? – insistiu Ametista.
Gina encarou Ametista, estranhando tantas perguntas.
- Por que você está me perguntando essas coisas?!
- Pelo seu bem. – respondeu Ametista sem jeito.
Gina parou de repente. Seria certo dizer todas aquelas coisas para uma desconhecida? Se fosse para dizer aquilo para alguém, poderia muito bem ser Hermione, não ela. Mas, no momento, a garota parecia estar sendo sincera e preocupada. Não haveria problema.
- Sim. Eu sempre reservei uma paixão por Harry. Sempre o vi como um herói, um salvador. Principalmente depois de ter me salvado daquele homem.
- Então você gosta dele?
- Não sei. Este ano, algo aconteceu. Eu não o vejo mais como um herói, ou o homem dos meus sonhos.
- Ele foi substituído por alguém?
- Não! Claro que não.
- Mas e aquele menino, aquele seu amigo?
- Ele apenas conversava comigo porque queria namorar minha amiga e eu estava ajudando. – respondeu, um pouco desapontada.
Ametista ouviu com atenção e perguntou repentinamente:
- E o Malfoy?
Gina paralisou. "Como ela poderia ter descoberto?", pensou.
- Como o Malfoy? – fingiu Gina assustada.
Já estava totalmente noite. Ametista respirou fundo e respondeu:
- Eu já percebi uma certa troca de olhares entre vocês dois...
- O que? Claro que não! – respondeu Gina, nervosa.
- Eu vi hoje no jogo de quadribol! – Gina paralisou novamente. – Durante o jogo todo, vocês ficaram se olhando. Você nem viu a hora em que o Rony defendeu aquele pênalti!
Gina parecia ter levado um belo balde de água fria na cabeça.
- Eu... Eu não tenho nada com o Malfoy – respondeu acanhada. – Não tenho e nunca tive.
- Te perguntei isso porque eu sei que as duas famílias se odeiam e, principalmente, Rony e Malfoy. Você sabe que qualquer estreitamento entre as duas, poderia causar uma explosão e, além do mais, Rony nunca aceitaria você com Mal...
- Eu já disse que não tenho nada com ele! – respondeu Gina ríspida, com os olhos cheios de água.
Ametista levantou-se e disse, fechando a conversa.
- Eu só estou dizendo isso porque alguém deve abrir seus olhos. Eu admito que não gosto dele e sei bem de sua fama. E ele não é flor que se cheire. Tome cuidado.
Gina estreitou os olhos.
- Mas por que você está tão preocupada?
- Não é preocupação... – respondia Ametista ríspida, mas Gina a interrompeu.
- Se não é preocupação, para que você está fazendo isto então?!
Ametista refletiu rapidamente sobre a resposta que poderia dar a Gina. Ela mesma não sabia direito porque estava fazendo aquilo, mas sabia que era o certo. Tinha tido um sonho estranho onde um homem dizia que Gina era uma chave importante e que deveria protegê-la. Nada respondeu e saiu do jardim, voltando para a torre da Grifinória.
***
No jantar, a Grifinória estava reunida, ainda festejando a vitória na partida contra a Lufa-Lufa. Dumbledore parabenizou a casa e todos comeram bem e com muita vontade, como Rony. Em alguns intervalos de tempo, vinha alguém e cumprimentava-o pelo desempenho. O garoto estava muito feliz por ter seu dia de Harry Potter, assim como disse há pouco para o amigo. Ametista notou que Gina não havia ido jantar. Ficou perturbada. Porém, havia alguém mais que também notou a falta da garota.
Gina permanecia sentada à margem do lago de Hogwarts. Ainda tinha os olhos ligeiramente inchados. Chorara muito após a conversa com Ametista. Olhava para seu reflexo no lago, como se fosse um grande espelho. Via o céu nublado e as poucas estrelas que ainda brilhavam no céu escuro. Mas logo viu outro reflexo na superfície da água. O reflexo que vinha aparecendo em seus sonhos há algum tempo. O garoto pálido, de olhos azuis e cabelos loiros.
- O que faz aqui Weasley? – ouviu-se a voz seca de Draco.
Gina esfregou os olhos e limpou-os. Depois, virou para trás e respondeu ríspida.
- Não te interessa, Malfoy! Vá embora!
Draco havia se feito de surdo. Ao contrário do pedido, sentou-se ao lado de Gina no gramado do jardim.
- Estranho ver um Weasley isolado num dia de festa! Afinal, a Grifinória ganhou novamente. – disse Draco.
- Diga logo o que você quer, Malfoy. – pediu Gina, sentindo-se ligeiramente quente.
- Eu... Eu estava dando uma volta por aí e encontrei você... – disse Draco sem jeito.
- E decidiu me torturar, assim como faz com o Rony. – completou Gina mal humorada.
- Não – respondeu Draco, mudando o tom de voz para mais suave. – Eu percebi que você estava chorando, então queria saber o que houve – Gina surpreendeu-se com a postura carinhosa de Draco. – Um Weasley nunca chora.
- Quer saber para zombar de mim? – supôs Gina nervosa.
- Claro que não. Se eu fosse agir do jeito sonserino de ser, já teria inventado uma história bem cabeluda sobre você. – respondeu Draco em tom cansado.
Gina olhava para Draco, diferente de como se postava dentro do castelo. O garoto arrogante e prepotente da Sonserina havia baixado a guarda.
- Já disse que não te interessa! – insistiu Gina.
Draco calou-se. Não sabia como continuar a conversa. Gina permanecia irredutível. Decidida a mandar o garoto embora. Pensou e viu a única chance de tentar uma conversa. Foi direto ao ponto.
- Sabe, Weasley? Eu também não tenho amigos – Gina deu um pulo. – Não amigos verdadeiros.
Gina parou por um instante. Será que até mesmo Draco havia percebido que era solitária na Grifinória?
- E... E por que... Por que você está dizendo isso? – perguntou Gina gaguejando.
- Porque eu sei que você também é. Sei que também não tem amigos na Grifinória. – respondeu rapidamente.
- Mas e os brutamontes que andam com você?
- Quem? Crabbe e Goyle? Não! Aqueles não gostam de mim, e sim tem medo do meu pai. Por isso andam comigo. Quando ficaram sabendo do meu sobrenome, me juraram fidelidade, acredita? – contou Draco, em tom de gozação.
Gina riu. Draco perguntou:
- E você, por que não tem amigos?
Gina pensou realmente se deveria contar seus problemas para um completo desconhecido. Ainda sendo este o maior inimigo do seu irmão, da sua família. Mas, quando percebeu, já estava respondendo.
- Amigos eu tenho. Mas não aquele amigo que posso contar tudo, falar qualquer besteira, essas coisas. A Hermione...
- Você é amiga daquela sangue-ruim?! – espantou-se Draco.
Gina fechou a cara.
- Não gosto que fale assim dela!
Draco encolheu-se. Sabia que não deveria errar em nada naquela noite. Poderia ser sua chance de se aproximar de Gina. Deveria levar seu plano adiante. O plano deveria ser perfeito. Tornarem-se amigos. Apesar de não ser exatamente o modo com que o garoto vinha pensando em estar com a garota do quarto ano.
- Desculpe. É que eu não gosto dela! Ela é uma trouxa completa! Nada de bruxos na família, inteligente e chata demais!
Gina olhou para o garoto com tom de reprovação.
- A Mione é minha amiga, sim! – repreendeu o garoto. – Mas não é aquela amiga. Ela é muito mais amiga do Rony e do Harry do que de mim.
- Bom, eles são mais velhos...
- Você me acha uma pirralha? – protestou Gina aborrecida.
- Não! Não! Claro que não! – consertou Draco. - Eu acho você bem amadurecida.
Draco lançou um olhar safado para Gina, que não gostou. O garoto deu um sorrisinho tímido depois e levantou.
- Escute, Weasley, eu acho que deveríamos entrar, está ficando frio e tarde. Se alguém nos pegar, estamos ferrados.
Gina olhou contrariada. Estava começando a gostar da conversa com Malfoy. Ele não parecia tão ruim. Draco percebeu que a garota tremeu ligeiramente. Tirou seu casaco verde escuro da Sonserina e envolveu a menina, ainda sentada no gramado.
Gina ficou maravilhada com o tom protetor de Draco com ela e respondeu gentilmente:
- Antes disso, vamos combinar uma coisa. Não vamos contar a ninguém sobre nossa conversa. Por favor! Isso só iria piorar as coisas.
- Não falarei nada. – prometeu Draco.
Gina levantou-se. Voltando ao castelo, Draco disse, antes de entrar, finalizando o papo entre os dois:
- Vamos só combinar mais uma coisa. Você me chama de Draco e eu te chamo de Gina, tá? Agora que somos amigos...
Gina concordou com a cabeça satisfeita e devolveu o casaco de Draco. Ela entrou primeiro, indo para a torre da Grifinória. Antes, mandou um tchau para Draco, que devolveu outro sorrindo. Na torre, encontrou sentados na sala comunal, Rony e Harry. O irmão levantou-se ao ver a menina.
- Onde você estava, Gina? – indagou nervoso.
- Não te interessa, Rony! – respondeu.
Rony levantou e foi atrás da irmã.
- Você nem jantou! O que foi que aconteceu?
- Me esquece, Rony! – gritou Gina, desvencilhando do irmão.
- Ei! Volte aqui, Gina! Eu ainda não terminei com você!
A garota seguiu direto para o quarto, deixando seu corpo cair em sua cama levemente, ouvindo de longe os gritos de Rony. Lembrou-se do último sorriso do novo amigo e sorriu.
Rony parou na escada do dormitório das garotas e virou de costas para Harry, que observava tudo quieto.
- Mulheres! – resmungou o garoto ruivo. – Existe raça mais difícil e complicada que essa?!
Enquanto isso, Draco dirigiu-se para a torre da Sonserina e não teve de explicar nada a ninguém. Explicar o seu plano. Foi apenas para o quarto e olhou-se no espelho na cabeceira da cama. Percebeu que estava corado. Sentiu-se perturbado. Estava fazendo algo de muito errado. Estava se enganando e enganando a outros. Pensou no seu plano. Gina veio à cabeça. Sentiu-se feliz. Feliz pela primeira vez em sua vida.
***
Novembro passou e ninguém reparou. Dezembro passava igualmente até a chegada do feriado de Natal e Ano Novo. Draco e Gina encontravam-se regularmente, a cada dois dias bem à noite, na biblioteca. Uma semana antes do feriado, os alunos começavam a arrumar suas malas. Estavam sentados na sala comunal Rony, Hermione e Ametista conversando.
- Para onde você vai Rony? – indagou Hermione interessada.
- Nós conseguimos juntar um pouco de dinheiro e iremos para a Escócia. Percy levará a namorada. Já estou até vendo! Vai ser um saco! – resmungava.
- Mas você não convidou o Potter para ir junto? – perguntou Ametista.
- Convidei, mas o Dumbledore não deixou ele ir junto comigo. Falou que é melhor ele não sair de Hogwarts por enquanto.
- Eu concordo plenamente – disse Hermione, levemente mandona. – Com todas as coisas que aconteceram no dia das Bruxas, é perigoso Harry sair por aí. Ainda mais com você, que é tão cabeça dura!
Rony corou de raiva. Já havia alguns dias que Hermione andava bem enjoada, chata. Não passava um dia em que ela não discutia com Rony ou até mesmo com Harry ou Ametista. A garota percebeu que mais uma começaria ali e tratou de distraí-los.
- E você, Mione? Por que vai para casa? Rony disse que você passava os feriados aqui em Hogwarts nos últimos anos. – disse Ametista sem jeito, meio apressada.
- Exatamente por isso. Minha mãe reclamou que eu não passo mais os feriados em casa, então este ano eu fui forçada. Fazer o quê? – respondia, dando de ombros.
- Quer dizer, ela disse para nós que vai para casa. Talvez ela vai dar uma voltinha pela Bulgária, que tal? – ironizou Rony, em relação a Vítor Krum, que morava na Bulgária.
- Que engraçadinho! – resmungou Hermione. – Aposto que você ficaria roxo de ciúmes se eu fosse mesmo!
- EU! CIÚMES? – protestou Rony furioso.
Ametista pediu para os dois se acalmarem. Rony fechou a cara e Hermione dava sorrisos irônicos.
- Então quer dizer que você e o Harry irão passar o feriado aqui em Hogwarts sozinhos? – disse Rony, em tom malicioso.
- Weasley! – protestou Ametista, corando levemente. – Mas, sabem, eu estava vendo a lista de pessoas que permanecerão aqui. Acho que da Grifinória, somos apenas eu e o Potter. Infelizmente!
- Eu sei bem o porquê disso – falou Hermione, em tom sábio. – Com a Marca Negra, os pais ficaram assustados e querem os filhos mais perto o maior tempo possível!
Harry vinha andando na direção dos amigos. Sentou ao lado de Rony e bufou.
- E aí? – perguntou Rony curioso.
- Não adianta. Ele não deixa! Que droga! – reclamou nervoso.
- O que você foi fazer? – indagou Hermione.
- Tentei pela última vez convencer alguém para poder viajar com Rony. Mas Dumbledore está irredutível! – disse Harry, dando socos na mesa.
- Assim é melhor, Harry. Poderá aproveitar para estudar melhor para os N.O.M.s. – disse Hermione, fazendo Harry olhar com ódio para o rosto da garota.
- Já que não tem jeito, teremos de ser apenas nós dois mesmo! – disse Ametista, desanimada. – O pior feriado da minha vida! – resmungou a garota em seguida. Hermione havia convidado Ametista para ir para sua casa, mas o avô da amiga não permitiu.
O final de semana chegou e Hogwarts estava agitada. O dia amanheceu nublado e frio. Os alunos alinhavam-se para o desembarque. Hermione terminava de ajeitar a mala no quarto. Ametista estava ajudando a amiga, enrolando algumas meias. Parvati e Lilá, companheiras de quarto das duas, já haviam descido.
- Eu não consegui dormir hoje. – disse Ametista, coçando o olho esquerdo.
- Por quê? – indagou Hermione.
- Não sei. Fiquei pensando que este é o meu primeiro feriado com meu avô, mas Severo não está conosco.
- Você não teve mais notícias dele?
- Não, meu avô disse que não sabe de nada. – explicou brevemente Ametista, desanimada.
- Mas não fique assim – disse Hermione, colocando a mão nas costas da amiga em consolo. – Seu avô estará aqui e Harry também.
- Ah! Por favor, não me lembre disso! Não sei como vou sobreviver com o Potter esses dias! Será o pior feriado que eu já tive!
Hermione deu uma risada de deboche.
- Por quê? – disse, respirando fundo.
- Você ainda pergunta porquê?! – espantou-se Ametista. – É a primeira vez em que estarei sozinha com ele. Digo, sem você ou Rony por perto por tanto tempo. Será o inferno!
Hermione riu levemente e as duas desceram as malas.
Enquanto isso, Rony e Harry já estavam postados na plataforma de desembarque. Rony bocejava e Harry parecia preocupado.
- Que foi? – perguntou Rony em meio a um bocejo.
- É estranho. É o primeiro feriado com Sirius, mas ao mesmo tempo, eu não me sinto feliz.
- Por quê? – estranhou o amigo.
- Sei lá. Acho que me sinto preso em Hogwarts. Não é como deveria ser. Deveríamos estar comemorando em casa. Na nossa casa. – respondeu Harry em tom melancólico.
- É, enquanto o julgamento de Sirius não acontecer, você terá de ficar aqui mesmo. – lembrou Rony.
- Eu sei. Ele até me falou que viu uma casa em Hogsmeade. Fiquei tão feliz, mas acho que ainda não será nestas férias que me livrarei dos Dursley. – resmungou Harry contrariado.
- Não pense assim. Fique feliz, pois você não vai ter de agüentar por quase duas semanas Percy e a namoradinha cochichando pelos cantos! – resmungou Rony mal humorado.
Harry riu.
- Isto te irrita?
- Claro! Você não sabe como é! É uma tortura cada dia! – reclamou Rony, simulando a cena entre Percy e Penélope.
- Aposto que você gostaria de ficar de cochichos com a Mione pelos cantos! – disse Harry, fazendo Rony corar.
- QUE?! – protestou Rony. – Claro que não! – repetia.
- Tá bom, tá bom. – disse Harry segurando a risada.
- Na verdade, você diz isso porque você queria fazer!
- Como? – perguntou Harry confuso.
- Você tem a oportunidade! Estará aqui sozinho com a Ametista! O castelo inteiro estará à sua disposição! – disse Rony, fazendo, agora, Harry corar furiosamente.
- Cala a boca Rony! Você sabe que eu não suporto nem estar próximo daquela garota!
No mesmo momento, Hermione e Ametista apareceram com as malas da primeira. Os garotos cumprimentaram as meninas e ficaram esperando o sinal para o embarque. Logo, viram a silhueta de um homem gigante chegando.
- Hagrid! – gritou Harry chamando o professor.
Hagrid aproximou-se e cumprimentou a todos. Parecia feliz. Pouco depois, o sinal foi dado. Hermione despediu-se de Hagrid e aproximou-se de Ametista.
- Te mando cartas. E por favor, me responda. – pediu, dando um abraço na amiga.
- Pode deixar. Não se preocupe. – respondeu Ametista, sorrindo.
Hermione foi até Harry e deu um beijo no rosto do amigo. Harry corou. Rony despediu-se de Hagrid.
- Cuide-se bem, Rony. E mande um alô para seu pai. – pediu o gigante carinhosamente.
- Eu mandarei, Hagrid – depois foi em direção a Ametista. – E você, fique de olho nele. – completou em relação a Harry.
- Com certeza! Gastarei meu tempo precioso cuidando do Potter! – debochou Ametista ríspida.
Rony riu e ela desejou boa viagem. Depois foi até Harry e bateu em suas costas. Antes de deixar a plataforma, disse no ouvido do amigo:
- Lembre-se dos cantos. – e subiu no trem.
Harry fechou a cara e viu o trem desembarcar. Ficaram na plataforma os três, olhando o trem desaparecer em meio às folhagens.
Hagrid abraçou os dois, apertando-os. Harry lançou um olhar a Ametista, que se sentia do mesmo jeito: esmagada.
- Parece que seremos apenas nós três. – disse Hagrid, sorrindo.
