Hogwarts estava silenciosa quando todos voltaram. Snape havia voltado antes. Harry veio o caminho todo abraçado em Sirius. Rony e Hermione comentavam das caras e bocas que Fudge fez quando teve de ler o resultado. Arabella passou o tempo todo com Dumbledore. Os dois conversavam sobre Hariel. Lupin sorria ao ver a felicidade do melhor amigo. Sirius estava radiante. Porém, ele sabia que ainda sofreria muito com o preconceito das pessoas. Entretanto, nada de ruim passava pela sua cabeça. Seguiram todos para a sala de Dumbledore, pois ainda nem tinham tido tempo para comemorar direito. O diretor disse a senha para entrar e surpreendeu-se ao ver quem estava lá.
- Ametista! O que você está fazendo aqui? – perguntou Dumbledore ligeiramente aborrecido.
- Eu não conseguia dormir e sabia que você viria aqui depois do julgamento. – respondeu também brava.
Foi do nada. Harry entrava na sala abraçado com o padrinho, que parou de repente. Todo o sorriso que tinha nos lábios desapareceu. Lupin percebeu, mas nada fez.
- Então, vá deitar agora. – disse Dumbledore para a neta.
- Antes eu quero saber qual foi o resultado! Não fiquei aqui esperando vocês para me expulsarem o mais rápido possível! – falou bem nervosa.
Harry adiantou-se antes que alguém respondesse algo.
- Nossa Ametista! Você deveria ter ido! Foi demais e... – contava super animado o garoto quando alguém segurou em seu ombro.
- Não há nada para a senhorita saber! – disse Sirius levemente exaltado.
Todos se viraram para o homem. Via-se claramente que Sirius não gostara nada da presença da neta de Dumbledore.
- O quê?! – surpreendeu-se Ametista. – Eu fico aqui horas, nervosa, ansiosa para saber o mínimo que fosse, esperando que o senhor pudesse ser inocentado e é assim que eu sou recebida?!
A discussão estava formada. Sirius aproximou-se mais da mesa de Dumbledore, onde a garota estava sentada. Os dois passaram a aumentar a voz a cada frase dita.
- A senhorita é muito curiosa! Isto não é assunto para o seu bico! – dizia Sirius alterado.
- EU! CURIOSA?! Eu fiquei preocupada, torcendo pelo seu bem, e depois sou chamada de curiosa! – respondia Ametista indignada.
- EU NÃO ME IMPORTO COM O QUE VOCÊ PENSA DE MIM! NÃO PRECISO DE SEU APOIO! – gritava agora Sirius.
A troca de ofensas entre os dois começava a se tornar feia. Ninguém sabia o que fazer. Todos olhavam boquiabertos. Sirius não se importava de estar discutindo com a neta do diretor de Hogwarts, de um grande amigo, de um homem que acabara de ajudá-lo a se tornar um homem livre. Ametista, por sua vez, esquecia que aquele era o padrinho de Harry, um humano a quem devia respeito, que era Sirius Black. Harry se segurava no braço direito de Sirius, tentando acalmá-lo.
- Bom, está claro que você tem algum problema comigo! – gritava a garota vermelha. – Porque eu não posso andar com o Potter – na verdade, Ametista não gostava de andar com Harry. – Não posso falar com Lupin, não posso sequer torcer por você! QUAL O SEU PROBLEMA COMIGO?! – berrou ao final, explodindo.
Sirius foi responder bruscamente quando Dumbledore interrompeu:
- BASTA! – ordenou com toda a força. Os dois pararam. – Isto já foi longe demais! Hoje é um dia de felicidade, não um dia de desgraça! Ametista, Sirius foi reabilitado – disse, virando para a neta. – Sirius, ela estava apenas preocupada – tornou-se para o bruxo. – Agora já chega! Não quero ouvir mais nada de vocês dois! Se discutirem novamente e eu souber, terei de tomar medidas bruscas! Entendam-se! Ametista, vá para sua torre agora mesmo! Os srs. Potter e Weasley e a srta. Granger também. Lupin e Arabella os acompanhem, certifiquem de que estarão em seus quartos – os três começaram a reclamar, mas Dumbledore lançou um olhar, calando-os. – Sirius, você permaneça aqui.
Todos deixaram a sala do diretor rapidamente. Sirius bufou. Dumbledore encarou o homem seriamente.
- Escute Sirius, você deve se acalmar. Aquela atitude foi infantil ao extremo, ultrapassou todos os limites! Não quero que isto se repita! Tudo o que aconteceu no passado deve ser esquecido! Ninguém teve culpa. Já disse uma vez para se revelar e acabar com esta história de mágoa ridícula de uma vez! – Sirius sentia-se pequeno diante da repreensão do diretor. – E eu falei sério! Não quero ver mais vocês dois se pegando! Vocês são...
- Não! – interrompeu Sirius, lendo os pensamentos de Dumbledore. – Já sei como vai terminar esta frase e digo que não somos nada! Eu já entendi qual é o recado, agora posso voltar ao meu quarto?
Dumbledore tinha a expressão chateada. Sabia que havia gastado o seu tempo à toa conversando com Sirius. Permitiu que o homem voltasse ao seu quarto e observou Fawkes. A fênix o observava. Depois, voltou-se para a janela da sala e viu, nas margens do lago de Hogwarts, um animal branco, não conseguia ver direito e disse para si mesmo:
- Nos ajude, bote algo de bom na mente destes dois. – e foi-se deitar.
***
O sábado amanheceu devagar. Harry levantou e olhou-se no espelho. Via-se ainda a expressão alegre e marota em seu rosto. Sirius agora era um bruxo inocente e, ainda por cima, poderia cuidar do afilhado. Em seguida, o garoto imaginou a mestra Arabella. A sua madrinha. Queria ouvir as mil histórias que eles poderiam lhe contar. Lavou o rosto e desceu para a sala comunal. Para sua surpresa, havia centenas de alunos. Todos se postavam diante do Mural de Recados da Grifinória. Harry aproximou-se.
EM COMEMORAÇÃO AO DIA DOS NAMORADOS, NO PRÓXIMO DIA CATORZE DE FEVEREIRO, SERÁ REALIZADO UM BAILE ESPECIAL NO SALÃO PRINCIPAL. ESTEJAM TODOS COM ROUPAS À RIGOR. INÍCIO ÀS 19:00 H. PERMITIDO APENAS PARA OS ALUNOS ACIMA DO QUARTO ANO. EM PARES. MAIORES INFORMAÇÕES, FALAR COM O PROFESSOR REMO J. LUPIN.
- Oh! Não! – resmungou ao lembrar do Baile de Inverno.
- Do que você está reclamando Harry? – indagou uma voz doce ao seu lado.
Harry virou-se e encontrou Gina o encarando.
- Leia. – disse o garoto, apontando para o comunicado.
Gina leu com atenção e arregalou os olhos diante da penúltima frase.
- Em pares? – espantou-se ligeiramente nervosa.
- Que droga! Eu odeio esses bailes! – resmungou novamente o menino.
- Eu também. – mentiu Gina timidamente.
Harry pigarreou e parou em Gina. Ficou pensativo e depois, a convidou para descer para o café. No salão principal, Dumbledore tinha a expressão cansada. Parecera que não conseguira dormir a noite toda. Assim como Snape. O garoto ignorou e sentou-se com Gina. Neville e Dino estavam sentados à mesa também.
- Vocês viram? – instigou uma conversa Dino. – Que hora para um baile hein!
- Por quê? – estranhou Harry.
- Você não leu a capa do Profeta Diário?
Harry negou franzindo as sobrancelhas.
- Sirius Black é inocente de todas aquelas acusações! – disse o menino surpreso enquanto dizia.
- Mesmo?! – espantou-se Gina ao lado de Harry.
- É. O único assunto entre os alunos. Que grande furo! – exclamou Neville trêmulo.
De repente, uma figura loira postou-se ao lado de Harry.
- Deve estar muito contente, não é mesmo Potter! – debochou Draco. – Afinal de contas, o assassino de seus pais está solto agora!
Foi o bastante para Harry levantar-se e dar um belo de um soco no meio da cara de Draco.
- CALE A SUA BOCA NOJENTA MALFOY! – espumava Harry.
Gina imediatamente abaixou para socorrer Draco. A boca do garoto sangrava levemente e foi visível a agitação dos professores ao ver o ocorrido. Draco levantou-se e puxou seu braço para junto do corpo onde Gina segurava.
- Eu não preciso da sua ajuda! – gritou amargurado.
Hermione vinha correndo, juntamente com Rony. O garoto estava frenético enquanto a monitora gritava com Harry:
- Você é maluco! Dar um soco no Malfoy no meio do salão principal, Harry! Quer fazer a Grifinória ficar fora do Campeonato das Casas?! – gritava Hermione enlouquecida.
- Pelo menos o Potter mostrou que é homem! – alguém disse ao lado de Hermione com a voz ríspida.
- Não me provoque agora, Dumbledore! – respondeu Harry vermelho.
- Mas foi bom que você desse o primeiro soco porque se o Malfoy tivesse mais nervoso, com certeza você já estaria no chão! – continuou Ametista.
- Ametista, não é hora para isso... – dizia Rony prevendo o quê viria pela frente.
- Nunca é hora para dizer algo que fira o coitadinho do Potter! – alterou-se Ametista. – Agora que o padrinho herói está solto, tudo Potter pode, tudo Potter faz!
Dumbledore e os outros professores corriam até o fundo do salão principal na mesa da Grifinória.
- SIRIUS TEM RAZÃO POR NÃO GOSTAR DE VOCÊ! VOCÊ É INSUPORTÁVEL! – berrou Harry em resposta.
- POIS VOCÊ É UM PROTEGIDO QUE SE ACHA SÓ PORQUE FEZ VOLDEMORT – vários tremeram. – DESAPARECER SEM EXPLICAÇÃO!
- EU SOU O PROTEGIDO?! PELO QUE ME CONSTA, NÃO SOU EU A IRRITANTE E ARROGANTE NETA DO DIRETOR!
- VÁ PARA O INFERNO! – berrou Ametista enlouquecida.
- É ONDE SEUS PAIS DEVEM ESTAR! – respondeu Harry maluco.
Todos se calaram. Dumbledore vinha correndo junto com os outros professores e parou de repente. Hermione e Rony ficaram boquiabertos. Ametista não pensou duas vezes e sacou a varinha:
- ESTUPEFAÇA! – gritou sem pensar e Harry caiu desacordado.
- Expelliarmus! – disse Lupin em direção a Ametista, fazendo sua varinha voar e cair entre os alunos da Sonserina.
Arabella abaixou-se junto de Harry, inconsciente.
- Harry! – sacudia o menino.
Hermione e Rony faziam o mesmo. Lupin passou por eles e tomou Harry em seus braços.
- É melhor levá-lo à Madame Pomfrey. Com licença. – pedia o mestre calmamente.
Hogwarts assistia à tudo calada. Hermione e Rony seguiram Lupin. Arabella levantara e dissera agitada aos alunos:
- O SHOW ACABOU! VOLTEM PARA SUAS TORRES! – ordenou a professora ligeiramente transtornada.
Entretanto, o pior ainda estava por vir. Repentinamente, ouvia-se gritos histéricos de diversos alunos. Hogwarts estava em pânico. Arabella espantou-se ao ver Sirius Black em carne e osso em meio aos alunos, com a varinha em punho contra Ametista Dumbledore.
- O QUE VOCÊ FEZ?! – berrava Sirius enlouquecido.
- VÁ PERGUNTAR AO SEU AFILHADO PERFEITO! – retrucava Ametista enfurecida.
Espantosamente, vasos começaram a quebrar-se sozinhos. Os alunos permaneciam berrando assustados. Parecia que o calor da discussão entre Ametista e Sirius era que fazia os objetos partirem-se. Os estilhaços misturavam-se aos gritos dos dois.
- SABE DE UMA COISA?! SUA MÃE DEVE ESTAR MESMO NO INFERNO! – gritou Sirius descontrolado. – PARA DAR VIDA A UM DEMÔNIO COMO VOCÊ!
Dumbledore ficara paralisado ao ouvir a discussão entre sua neta e Harry, mas ao ver Sirius e Ametista, prevendo o rumo que as coisas tomavam, tomou a frente.
- CALEM-SE TODOS! – gritou tão fortemente, que perdeu equilíbrio.
Arabella percebeu e rapidamente estava postada ao lado do velho diretor para segurá-lo. Hagrid mandou os monitores cuidarem de seus alunos e guiar todos para fora do salão principal. Ametista parecia anestesiada depois de ouvir Sirius. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Surpreendentemente, doía para Sirius assistir a garota que o enfrentava com tanta coragem e teimosia, chorar.
Dumbledore aproximava-se devagar. Arabella vinha junto, pisando nos restos dos vasos partidos. Tanto Sirius quanto Ametista permaneciam parados, olhando um ao outro. As lágrimas não paravam de cair do rosto sem emoção de Ametista. Percebiam-se também os olhos inchados do Sirius. Dumbledore olhou para os dois, porém, antes que pudesse dizer alguma coisa, Ametista saiu correndo. Imediatamente, Sirius caiu no chão e Dumbledore e Arabella ouviram os soluços do homem chorando.
***
A torre da Grifinória estava estarrecida. Hagrid dera conta dos alunos, já que Hermione fora acompanhar Lupin e Rony até a enfermaria. Madame Pomfrey lançara o feitiço Enervate para tentar despertar Harry, mas o garoto parecia fraco demais para reagir. Lupin, Rony e Hermione ficaram do lado de fora da ala hospitalar.
- O que foi aquilo no salão? – falava consigo mesma Hermione. – Pelo que Ametista havia me contado, eles até conseguiram viver em paz por alguns dias no feriado, mas até parece que tudo era mentira!
- Não quero saber qual foi o motivo que fez aquela garota atacar Harry! O que ela fez não foi certo! Não quero vê-la nem pintada na minha frente, Mione! – dizia Rony, profundamente amargurado.
Lupin nem dava atenção a possível discussão entre Hermione e Rony. Seu pensamento estava longe. A imagem de Ametista atacando Harry não saía de sua cabeça e, de repente, Sirius apareceu claramente.
- Sirius! – exaltou-se o mestre surpreso.
Hermione e Rony pararam no mesmo instante e encararam-no:
- Está tudo bem, professor? – indagou a monitora.
- Espero... – divagou Lupin, que depois virou-se rapidamente para os dois jovens. – Fiquem aqui e vigiem Harry. Não o deixem sair daqui!
Rony queria perguntar algo para Lupin, mas nem teve tempo. O mestre saiu correndo pelo corredor. Hermione franziu as sobrancelhas perdida e ali ficaram a espera da recuperação de Harry.
***
Arabella estava encostada na janela da sala de Lupin quando o professor adentrou como um furacão. Ela surpreendeu-se:
- Eu estava pensando em você! – disse meio preocupada.
O mestre apenas respondeu:
- Onde está o Sirius?!
Arabella sacudiu a cabeça negativamente. Em seguida, Dumbledore surgiu do nada ao lado da professora.
- Como está Harry, Remo? – indagou o diretor.
- Madame Pomfrey ainda tentou lançar um feitiço para acordá-lo, mas não adiantou – contava Lupin desanimado. – Hermione e Rony estão lá para esperá-lo despertar.
- Como assim, ele não acordou?! – apavorou-se Arabella.
- Era o quê eu imaginava... – dizia Dumbledore, mudando a feição atordoada. – A carga emocional deste feitiço lançado pela Ametista deve ter sido tão forte que acabou afetando algumas terminações nervosas de Harry.
- Como o senhor pode ter tanta certeza? – duvidou a mestra.
- Você mesma observou – Arabella franziu as sobrancelhas. – Os vasos.
- Que vasos? – perguntou Lupin temendo a resposta.
Dumbledore e Arabella entreolharam-se temerosos.
- Após o incidente com Harry, Sirius discutiu com Ametista... – ia dizendo Arabella, mas Lupin a interrompeu.
- Sirius não... – apavorou-se o mestre.
Arabella confirmou com a cabeça. Dumbledore retomou. O diretor estava visivelmente chocado e muito amargurado.
- Quantas vezes vocês presenciaram uma discussão entre os sangues em questão? – dizia o sábio homem. – Os vasos quebravam-se e podíamos ainda assim ouvir os gritos dos dois, Remo.
Lupin abaixou a cabeça, magoado. Arabella postou-se ao lado de Dumbledore e o diretor a abraçou. Repentinamente, Lupin levantou a cabeça.
- Onde está a Ametista?
- Não sabemos. Eu só a vi correndo do salão após Sirius... – dizia Arabella receosa. Porém, ao ver os claros olhos angustiados de Lupin, prosseguiu. – Após Sirius dizer que... – a professora pausou. – a mãe dela deveria estar mesmo no inferno para dar à luz a um... – pausou novamente. – demônio como ela. – terminou em quase um sussurro.
Lupin arregalou os olhos. Dumbledore virou-se para a janela.
- E o Sirius?
- Não sabemos também. – respondeu a mulher.
Ficaram calados por algum tempo. Lupin deixou a sala como uma rajada veloz de vento. Arabella observou e nada disse. Dumbledore permanecia encarando a janela. A mestra aninhou-se ainda mais nos braços do diretor como se ele fosse um pai e sussurrou amargurada.
- Se ao menos Tiago estivesse aqui...
***
Quem andasse pelos corredores de Hogwarts, veria algo assustadoramente impressionante. Apesar do turbilhão ocorrido há poucas horas, a escola parecia em férias. Tudo estava silencioso, escuro – apesar de ser ainda duas horas da tarde – e sem vida. Fazia pouco mais de uma hora que Dumbledore havia dado um comunicado aos monitores, onde as aulas do dia foram canceladas excepcionalmente diante do acontecido. Os alunos foram proibidos de saírem de suas torres, enquanto os professores tentavam encaixar uma saída diante de tantas colocadas. Nenhum entrava em acordo, e o diretor decidiu dar a reunião por encerrada após dez minutos de gritos desordenados.
Estranhamente, nem Lupin ou Arabella participaram da reunião. A mestra encontrava-se em seu dormitório, isolada, lendo algumas cartas e observando um antigo álbum de fotografias. Em uma delas, turma estava reunida: Tiago e Lílian estavam abraçados em bonitos trajes, Lupin – Arabella reparara como o amigo estava bonito – dava um beijo carinhoso numa bochecha de uma bonita mulher beirando seus vinte e poucos anos, Hariel Dumbledore, com um longo e belo vestido branco, Pedro Pettigrew – Poderia muito bem apagá-lo desta foto, resmungou a mestra. – com um copo de cerveja amanteigada na mão esquerda, e ela e Sirius – passou os dedos levemente sobre a foto – com os braços entrelaçados. Para sua surpresa, Lupin, apesar do beijo em Hariel, estava cabisbaixo. Ela mesma também estava triste. Tiago e Lílian tinham os olhos encharcados enquanto, surpreendentemente, lágrimas escorriam pelos rostos de Hariel e Sirius.
Imediatamente, Arabella levou a foto aos lábios e deu um beijo. Em seguida, suspirou em triste tom.
Lupin, por sua vez, aparatou em um lugar totalmente diferente do que já se havia visto. As ruas que abriam o povoado eram de terra batida. As casas singelas que apareciam aos poucos estavam em péssimo estado. Aparentemente, uma cidade fantasma. Lupin levantou a cabeça e pôde avistar em uma placa caindo aos pedaços: Godric's Hollow.
Voltou a mente ao lugar que havia passado pela sua cabeça quando pensou em Sirius. O alto da colina de Godric's Hollow. Aparatou.
O professor observou um homem em posição de rei contemplar o povoado de cima da colina. Entretanto, no ponto mais alto daquela colina, encontrava-se um casarão de fazer inveja a qualquer lugar possível no mundo todo. Pinheiros rodeavam-no de forma bela e graciosa, fazendo do ponto o mais desejado por bruxos e trouxas. Porém, em contraste a este belo paraíso, encontrava-se o mesmo casarão em ruínas, desmoronando, sujando a paisagem. E ainda, via-se o homem, que apesar de parecer um rei em posição onipotente, debulhar-se em lágrimas. Lupin nada fez, ficou apenas admirando o amigo, que havia enfrentado as maiores provações de sua vida, mas sabendo que elas ainda haviam apenas começado.
***
Cabelos ondulados contrários ao vento. Soluços. Margem do lago de Hogwarts. Ametista passara todo o dia de frente para aquele lago, engolindo e remoendo o que acabara de fazer e ouvir de manhã. Os seus olhos azuis aproximavam-se de um vermelho ameaçador. A tristeza e a raiva corriam pelas suas veias junto com o sangue fervente. Doía pensar em Harry, doía pensar em Hermione e Rony, doía pensar em seu avô, doía pensar em sua mãe, mas principalmente, doía pensar em Sirius Black.
A noite surgia devagar. Ela nem podia imaginar que seu avô sabia bem onde ela estava. Imaginava estar bem escondida. Entretanto, alguém a encontrou. Mas ela não se incomodou. Já estava acostumada com aquela presença.
Uma imagem prateada começou a se formar lentamente ao seu lado. Pouco depois, poderia se ver com clareza um grande cervo. Um imponente cervo a observava. Ametista pôde ver o reflexo do belo animal nas águas do lago de Hogwarts.
- Eu quero ficar sozinha. – disse a garota baixinho.
O cervo fitou-a e permaneceu onde estava.
- Eu falo sério! Não quero ouvir nada do que você tem para dizer! – dizia Ametista enfurecida.
O animal curvou-se e bebericou um pouco da água do lago. Depois, dobrou as duas pernas frontais e ficou encostado na cabeça de Ametista. A garota ouviu no fundo de sua mente a voz de um homem:
"Você tem de me ouvir hoje! Pelo menos hoje!"
- Não, não quero ouvir! – repetiu Ametista.
"Não fale, apenas pense". – voltou a soar a voz em seu ouvido.
Ametista levantou a cabeça e emparelhou-se com o cervo.
"Eu disse que não e é não!" – pensou com toda força e o cervo desapareceu como num passe de mágica.
***
Arabella adormecera sobre os álbuns e cartas em sua cama. Lupin chegou sorrateiramente e observou a mulher. Os compridos fios negros de seu cabelo dividiam espaço com sua face cansada. O mestre notou as fotos espalhadas pelo chão do dormitório. Parou em uma onde estavam Lílian, Hariel e Arabella na sala comunal da Grifinória, no sexto ano. Depois, voltou a olhar a mestra e, num impulso, acariciou sua face delicadamente com os dedos. Arabella despertou imediatamente.
- Remo! – o mestre retirou imediatamente a mão da face de Arabella. – O... O que foi que aconteceu? – acordou agitada ao lembrar da mão de Lupin sobre seu rosto.
O homem endireitou-se sem jeito e respondeu nervoso:
- Nada, nada!
Arabella rapidamente levou as mãos ao rosto, percebendo que estava corada pela mudança rápida da sua temperatura.
- Por que você saiu daquele jeito? – indagou a mestra veloz.
- Eu tinha uma idéia de onde Sirius poderia estar...
- E você o achou?! – exaltou-se Arabella, visivelmente preocupada.
- Achei.
- Onde? – voltou a indagar no mesmo tom.
- Em Godric's Hollow. – respondeu Lupin pausadamente.
Arabella abaixou a cabeça.
- A colina? – tentou a mestra e Lupin confirmou.
- Acho que devíamos falar com Dumbledore. – disse Lupin.
A professora levantou os olhos e concordou tristemente.
Pouco depois, lá estavam Lupin e Arabella sentados nas cadeiras à frente da mesa de Dumbledore. O diretor tinha a face ainda perturbada.
- Godric's Hollow. – era a terceira vez que Dumbledore repetia este nome após Lupin contar-lhe toda a história.
Arabella adiantou-se.
- Alvo, precisamos fazer algo. Hogwarts está em pânico, Harry ainda na enfermaria, Sirius em Godric's Hollow e Ametista desaparecida... – ia dizendo a mestra, mas o diretor a interrompeu.
- Acredite, eu sei bem onde Ametista está.
- Então, devemos fazer algo, não acha?! – retomou Arabella.
O diretor levantou de sua cadeira e olhou para a janela. Já era noite. As estrelas eram nítidas no céu limpo. Dumbledore virou-se para os dois mestres e disse cauteloso:
- Eu tenho uma solução, mas precisarei da inteira ajuda e, principalmente, confiança de vocês.
- Estamos aqui para ajudá-lo, Alvo. – apoiou Lupin serenamente.
Dumbledore hesitou por um instante e pensou melhor. Porém, era a única saída que eles tinham naquele momento de incertezas e histerias.
- O Feitiço do Esquecimento.
Lupin levantou no mesmo instante:
- Não podemos! – exaltou-se. – Seria uma invasão! Todos têm o direito de pensarem o que quiserem!
Dumbledore suspirou desapontado. Lupin ainda permanecia de pé. Arabella correu seus negros olhos pelos presentes e depois se levantou. Sentiu um aperto no peito e virou-se para a janela. Viu Sirius caminhando de volta ao castelo.
- É nossa única saída, Remo. – disse devagar.
Dumbledore virou-se para a professora. Lupin arregalou os olhos.
- Não podemos! – repetiu Lupin pausadamente.
Arabella parou na frente do amigo e olhou bem fundo em seus olhos.
- Houve uma vez, Remo, que algo muito mais sério aconteceu, algo que poderia mudar radicalmente o curso do que ocorreu hoje. Você sabe muito bem do que eu estou falando – Lupin sentia-se desconfortável. – E tivemos a chance de, naquele tempo, aplicar o Feitiço do Esquecimento. Mas não fizemos. E você sabe por quê, não é mesmo? – Arabella podia ver os olhos de Lupin tremerem. – Pois tínhamos medo de interferir no ramo dos acontecimentos. E, se nós tivéssemos aplicado, nada disso estaria existindo hoje, nem nos nossos sonhos! Eu não quero errar pela segunda vez!
Via-se Arabella falando com o seu coração, mas cheia de arrependimento. Lupin sentia o mesmo. Ele então, voltou os olhos para Dumbledore e concordou com a cabeça.
O diretor arriscou um sorriso e disse:
- Este será então um segredo nosso. Um segredo firmado entre nós três e somente nós. O Feitiço acontecerá nesta noite, portanto, estejam preparados. Depois, eu dou uma desculpa. Ausentaremos por um dia.
Arabella e Lupin concordaram e suspiraram.
- Estão certos de que farão isto? – perguntou pela última vez o diretor.
- Por Sirius e por todos nós, Alvo. – finalizou Arabella.
***
- Senhor Potter. Senhor Potter. – chamava uma voz.
Harry abriu os olhos lentamente. Madame Pomfrey segurava um frasco em sua mão direita. Sentia-se tonto.
- Tome este tônico. Vai lhe fazer bem. – voltou a falar a enfermeira.
O garoto tomou em suas mãos o frasco e bebeu. Tinha um gosto terrivelmente amargo. Limpou a boca e virou-se para Madame Pomfrey:
- O que é isso?! – espantou-se com o péssimo sabor do tônico.
- Sangue de dragão. – e a enfermeira deixou a sala.
Harry olhou para os lados e não viu ninguém. Em seguida, lembrou-se de Sirius. Ele corria em sua direção. Na verdade, não era bem em sua direção. Era na direção de alguém à sua frente. De repente, Ametista veio a sua cabeça.
- Aquela garota! – resmungava sozinho. – Ainda me paga!
Posteriormente, Hermione e Rony entraram e postaram-se ao lado da cama do amigo.
- Como você está? – indagou Hermione ligeiramente preocupada.
- Um pouco tonto. Mas só. – respondeu fracamente.
- Sabe, você não deveria estar assim apenas com um feitiço – dizia Rony. – Você foi estuporado.
- A Ametista pediu desta vez. Mas eu não esperava que ela fosse me estuporar! Eu realmente não agüento mais viver com ela! – reclamou Harry.
- Harry, eu entendo que você esteja aborrecido, mas... – dizia Hermione, porém foi interrompida por Rony.
- Não venha tentar defende-la! O que aconteceu hoje foi a gota d'água!
- Eu não estou defendendo ninguém Rony! – respondeu Hermione furiosa.
Harry notou que mais uma briga estava prestes a ocorrer e logo mudou de assunto:
- Já está de noite? – tentou algo bem ridículo.
Rony bufou e respondeu:
- Já está quase na hora do jantar.
- E como está o castelo? – perguntou Harry.
- Não sabemos exatamente. Dumbledore proibiu qualquer um dos alunos saírem de suas torres. Apenas nós dois estamos fora, acho. – disse Hermione.
Ficaram por alguns segundos calados e Harry voltou a perguntar:
- Vocês viram Sirius?
- Não, Harry. Sirius sumiu desde a briga entre você e Ametista. Também, é só, pois, estivemos aqui toda à tarde.
Arabella entrou de repente e olhou feio para Rony e Hermione.
- Todos os alunos deveriam estar em suas torres. Isto também é aplicado a vocês dois.
Rony forçou um sorriso falso e olhou para Hermione.
- É melhor vocês descerem para o jantar. – recomendou a mestra.
O garoto ruivo ainda tentou reclamar, mas Hermione não deixou e o puxou para fora da enfermaria. Arabella voltou-se para Harry.
- Está melhor? – perguntou.
Harry confirmou com a cabeça. A professora sorriu. Harry sentiu-se corar por um momento e não se segurou.
- Eu queria poder falar para todos que você é a minha madrinha.
Arabella aumentou o sorriso. Pediu um espaço a mais na cama de Harry e sentou-se na ponta.
- Sabe Harry, logo você poderá. Logo. – e beijou a testa do afilhado.
O menino notou que a madrinha parecia triste.
- Você está bem? – perguntou meio sem jeito.
Arabella ajeitou-se e deixou Harry encostar a cabeça em seu peito, aninhando-o. Depois, levantou a franja de cima de sua testa e pôde reparar a cicatriz tão famosa.
- Estou. Estou. – mentiu e apenas curtiu o primeiro momento com o afilhado tão amado.
***
O jantar foi particularmente tenso. Via-se a expressão desconfiada dos professores sobre o diretor, e o olhar medroso de muitos alunos. Ao final, Dumbledore levantou-se e disse:
- Eu sei que o dia hoje foi muito agitado e muitos de vocês devem estar se perguntando as causas de tamanhas confusões que andam acontecendo atualmente em Hogwarts. Em breve, tudo será resolvido. Agora, eu já avisei os monitores responsáveis e, que fique bem claro, será totalmente proibida a saída de qualquer aluno das torres ou salas comunais após as nove e estejam todos dormindo às dez. Não quero ouvir amanhã nenhuma reclamação de qualquer monitor que seja. Como conheço muito bem as Casas que tenho em minha escola, reforço novamente a ordem, principalmente para a Grifinória – os alunos sentiram-se corar. – que costuma ter o prazer de desafiar a ordem dos monitores – e olhou para Hermione. – Podem terminar seus jantares e subam para suas torres. Boa noite. – e o diretor saiu do salão, mas antes passou por Snape e disse em baixo tom:
- Isto também vale para os professores.
Snape ajeitou-se na cadeira e prosseguiu com seu jantar.
***
A escuridão contrastava com o brilho das estrelas naquela bela noite. Porém, Ametista não estava lá para admira-las. Passara o dia todo na margem do lago de Hogwarts. As lágrimas já haviam secado, o rosto já havia desinchado. Mas o coração ainda doía. Como queria ver a mãe pelo menos uma vez. Saber algo sobre ela.
- Eu sabia que você estaria aqui. – disse uma voz cansada nas costas de Ametista.
Ela nada respondeu. Continuou olhando seu reflexo nas águas escuras e cristalinas do lago. Ela podia ver-se, não acontecia nada como quando se olhava num espelho. Dumbledore aproximou-se e olhou-se também nas águas.
- Como você sabia? – perguntou a menina baixinho.
- Não devia ter falado que todas as vezes que sua mãe estava triste ou agoniada com algo, ela vinha aqui. Não devia. – brincava o homem.
Ametista permaneceu olhando-se.
- Mas você não tem vontade de saber por que ela vinha aqui, Ametista? – indagou Dumbledore.
- É um lugar calmo, bonito...
- Não. Eu disse uma vez à ela que este lago era encantado. Existem diversos seres embaixo dessas águas. Coisas incríveis, eu diria.
- E daí? – a garota não deu muita importância.
- Mas não foi isso que a atraía para cá. Entre uma conversa e outra, eu acabei revelando a ela que este lago tinha o poder de nos mostrar as coisas por um outro lado.
Ametista finalmente retirou os olhos de si mesma e voltou-se para o avô interessada.
- Como assim?
Dumbledore notou e prosseguiu. Naquele momento, nada mais importava. Logo, o Feitiço do Esquecimento seria feito e poderia testar a reação da neta por um momento.
- Concentre-se em algo que você queira ver ou descobrir e fixe o olhar num ponto do lago.
Ametista pensou rapidamente na mãe e concentrou-se da melhor maneira. Dumbledore aproveitou e sorriu satisfeito. A garota voltou-se para o lago e fixou os grandes olhos azuis num ponto. E emocionou-se.
Uma mulher por volta de seus vinte anos. Compridos cabelos dourados. Dois grandes olhos azuis. As bochechas eram rosadas e exibia um sorriso belíssimo.
- É a minha mãe? – indagou Ametista em tom choroso.
Dumbledore confirmou e sentiu o coração apertar. A imagem foi sumindo aos poucos e Ametista enxugou as lágrimas. Voltou-se para o avô:
- Ela é linda.
- Hariel era a menina mais bonita de Hogwarts. E não digo isso por ser minha filha, mas por ela realmente ser. Os garotos ficavam loucos por ela. Tinha pretendentes por todo o castelo, mas acho que todos tinham medo de se aproximarem.
Ametista estranhou. Dumbledore completou:
- Sua mãe não era nada fácil. Estuporou mais de cinco vezes o monitor da Sonserina – e Dumbledore segurou o riso. – Tive muitos problemas com ela. Mas ainda assim, era graciosa, doce. Tanto que conquistou seu pai direitinho...
- Quem é o meu pai, vovô? – perguntou Ametista de repente.
Dumbledore engoliu seco e respondeu:
- Você logo saberá. Mas, agora, vamos voltar ao castelo, está bem?
Ametista sabia que não adiantava tentar. Levantou-se e abraçou o avô carinhosamente.
***
Hermione cochichava com Gina, num canto da sala comunal enquanto Harry, que fora dispensado da enfermaria, jogava Snap Explosivo com Rony. Carregando uma capa na mão esquerda, Ametista entrou pelo quadro da Velha Gorda.
- Ora, ora! Veja quem está aqui! A lunática neta do diretor! – debochou Rony raivoso.
Ametista não deu bola e prosseguiu seu caminho até a escada que levava aos dormitórios femininos. Entretanto, dessa vez foi Harry que não se conteve. Esperou cinco minutos e seguiu em direção ao quarto da garota.
Quando Harry entrou, encontrou Ametista sentada em sua cama, estática.
- Não tem nada para me dizer? – indagou o garoto.
A garota levantou a cabeça e respondeu:
- Se você espera ouvir desculpas da minha boca, sinto muito, mas isso não vai acontecer. Nunca! – frisou no final.
Harry cerrou os olhos verdes e tirou a varinha de suas vestes, apontando-a para Ametista.
- Você por acaso vai me atingir com algum feitiço, Potter?
Toda vez que Harry ouvia-a chamá-lo pelo sobrenome, seu sangue fervia e tudo o quê mais queria naquele momento era amaldiçoa-la.
- E então, eu estou esperando – desafiava a garota. – Prometo que não vou arrancar a varinha da sua mão.
Harry sentia ódio. Muito ódio. O mesmo que sentiu quando cruzou seu primeiro olhar com Sirius, pensando ser o assassino de seus pais.
Num impulso, Harry apontou a varinha mais fortemente e gritou:
- Estupefaça!
Ametista pulou em cima de sua cama e escapou por muito pouco. Harry respirou fundo, parecendo não acreditar e a garota levantou.
- Para que estamos fazendo aqueles malditos treinos especiais, hein Potter?! – explicou Ametista ríspida e irritante.
Imediatamente, Hermione apareceu ofegante.
- Ouvimos um barulho estranho... – dizia a garota, mas parou ao ver Harry ainda apontando sua varinha para Ametista. – Harry! O que você fez?!
O garoto estava tão nervoso e carregado de ódio que não conseguiu responder à monitora da Grifinória. Ametista tomou a frente:
- Hermione, nada aconteceu aqui. Somente Potter veio me importunar novamente, coisa que ele ainda não conseguiu por completo por pura incompetência! – provocou.
Harry puxou-a e agarrou o braço de Ametista, apertando com muita força.
- EU ESTOU CANSADO DE VOCÊ E DESSA SUA IRONIA E SARCASMO CONSTANTE! – berrou enfurecido.
Hermione conhecia bem Harry para saber que ele havia chegado ao seu limite. Ainda assim, Ametista mantinha a postura superior. Os dois encaravam-se de tal forma que dava medo até a quem assistisse.
- Harry! – repreendeu Hermione. – Já chega! Solte o braço dela e eu farei uma queixa, pessoalmente, sobre vocês dois aos professores! E se eu ver mais um briga sequer, os dois estarão de detenção com o Filch na mesma noite! Entenderam?! – irritou-se Hermione, tendo uma incrível semelhança com Percy Weasley em seus tempos de monitoria.
***
Já passava das onze e meia da noite quando Lupin chegou na sala de Dumbledore. O diretor estava acariciando Fawkes em sua gaiola. Sorriu ao notar a presença do professor de Defesa Contra a Arte das Trevas.
- Pensei que talvez você pudesse desistir no final, Remo. – disse o diretor cauteloso.
- Eu disse que faria e cumpro minha palavra. – reafirmou Lupin seriamente.
Dumbledore arriscou um consentimento com a cabeça.
- E, se me permite perguntar, o que fez mudá-lo de idéia? – Lupin franziu a testa e Dumbledore facilitou. – Foi o sentimento de culpa pelos erros do passado com Sirius ou pela bela insistência de Arabella?
Prontamente, Lupin ruborizou.
- Não sei do que você está falando, Alvo. – mentiu ainda corado.
Dumbledore sorriu maliciosamente e disse em seguida:
- Remo, eu o conheço há anos. Desde que você entrara nesta escola e, ainda mais depois de tornar-se amigo de Hariel. Eu vejo as coisas.
Lupin engoliu alto e quando pensou em responder algo para o diretor, a porta rompeu-se e Arabella entrou com as típicas e misteriosas vestes negras.
- Estavam me esperando? – perguntou em tom cansado.
- Sim, estávamos apenas conversando. – gaguejou Lupin.
- Já avisei a Minerva para que digam que fomos ao Ministério da Magia em Londres. – disse o diretor.
- Melhor, assim evitará confusões. – concordou Arabella.
- Bem, vamos começar então – disse Dumbledore voltando à postura séria e sensata. – Sigam-me.
O diretor tocou no canto esquerdo da parede detrás de sua mesa e abriu-se uma porta. Lupin observou melhor a escura passagem e pensou – "Esta passagem não constava no Mapa do Maroto".
- Podem confiar. – disse o diretor.
Arabella olhou desconfiada e entrou atrás de Dumbledore. Lupin seguiu logo à sua sombra. Era uma escada pequena, feita de pedras ligeiramente escorregadias que levava a uma grande e escura sala de janelas pontiagudas. Ao centro, havia uma espécie de plataforma, onde em cima, havia um belo esquife de vidro.
- Onde estamos, Alvo? – indagou Arabella receosa.
- Esta é uma passagem especial para encantos complexos, feitiços restritos e exorcismos, eu diria. – respondeu observador.
- E para que este esquife? – indicou Lupin com o dedo.
- Apenas para ocasiões de extrema preocupação... – dizia o diretor, mas Arabella o interrompeu.
- Como, por exemplo? – indagava Arabella atenta.
- Desfazer um feitiço Imperius.
Dumbledore parecia dizer aquilo com dor, como se soubesse que logo precisaria usá-lo. Lupin notou que, num canto muito bem escondido da sala, havia algo coberto por uma capa.
- O que é aquilo? – perguntou curioso.
- O Espelho de Ojesed – suspirou Dumbledore. – Depois daquela confusão com Quirrel e Voldemort, achei melhor que o guardássemos aqui, já que assim, ninguém o encontrará.
Arabella e Lupin trocaram olhares intrigados. Dumbledore voltou a atenção dos dois para a plataforma com o esquife de vidro no centro do âmbito.
- Quero, então, que vocês juntem todos as suas lembranças deste dia a ser esquecido e das pessoas em que o efeito deverá perdurar mais fortemente. – disse o diretor com seriedade.
Tanto Lupin quanto Arabella fixaram suas mentes em Ametista, Harry e, principalmente Sirius Black. Dumbledore pegou a mão direita de Arabella e assim, todos deram as mãos, fechando um círculo de magia envolta do esquife. De repente, dentro dele, luzes de diversas cores e tonalidades misturavam-se num turbilhão, refletindo por toda a sala secreta.
Fora dali, Hogwarts dormia silenciosamente. As salas comunais estavam vazias, os dormitórios apagados, o salão principal solitário. Depois de uma hora de transmissão de pensamentos dos professores ao esquife, este se abriu magicamente e os três começaram a pronunciar versos em língua nunca ouvida antes. Era uma mistura de latim com inglês, confusa e impossível de entender.
As luzes passaram a tomar aos poucos os cômodos do castelo, a fim de que atingisse a todos. Então, as luzes transformaram-se em pó dourado, que caía por cima das cabeças dos alunos, professores, elfos, empregados. Ao final do processo, Dumbledore, Lupin e Arabella caíram em um sono profundo que, sem saber, duraria dois dias.
Estava feito, enfim, o Feitiço do Esquecimento.
