CAPÍTULO VINTE – UMA DATA ESPECIAL

Harry levantou e olhou-se no espelho. Tinha uma dor de cabeça forte. Sentia a leve sensação de estar fazendo tudo novamente. Entretanto, via-se ainda a expressão alegre e marota em seu rosto. Sirius agora era um bruxo inocente e, ainda por cima, poderia cuidar do afilhado. Em seguida, o garoto imaginou a mestra Arabella. A sua madrinha. Queria ouvir as mil histórias que eles poderiam lhe contar. Lavou o rosto e desceu para a sala comunal. Para sua surpresa, havia centenas de alunos. Todos se postavam diante do Mural de Recados da Grifinória. Harry aproximou-se.

         EM COMEMORAÇÃO AO DIA DOS NAMORADOS, NO PRÓXIMO DIA CATORZE DE FEVEREIRO, SERÁ REALIZADO UM BAILE ESPECIAL NO SALÃO PRINCIPAL. ESTEJAM TODOS COM VESTES À RIGOR. INÍCIO ÀS 19:00 H. PERMITIDO APENAS PARA OS ALUNOS ACIMA DO QUARTO ANO. EM PARES. MAIORES INFORMAÇÕES, FALAR COM O PROFESSOR REMO J. LUPIN.

         - Oh, não! – resmungou ao lembrar do Baile de Inverno.

         - Do que você está reclamando Harry? – indagou uma voz doce ao seu lado.

         Harry virou-se e encontrou Gina o encarando. Estranhamente, já sabia que era ela.

         - Leia. – disse o garoto, apontando para o comunicado.

         Gina leu com atenção e arregalou os olhos diante da penúltima frase.

         - Em pares? – espantou-se ligeiramente nervosa.

         - Que droga! Eu odeio esses bailes! – resmungou novamente o menino.

         Gina cerrou os olhos ao lembrar vagamente de ouvir o mesmo Harry dizer aquilo.

         - Eu também. – mentiu Gina timidamente.

         Harry pigarreou e parou em Gina. Ficou pensativo e depois, a convidou para descer para o café. Parou de repente.

         - Você não já não viu estas cenas antes? – perguntou para Gina.

         Inexplicavelmente, a garota também tinha essa impressão.

         - Acho que sim, Harry. Estranho não?

Acabaram não dando importância. No salão principal, nem Lupin, Arabella ou Dumbledore estavam presentes. O garoto ignorou e sentou-se com Gina. Neville e Dino estavam sentados à mesa também.

         - Vocês viram? – instigou uma conversa Dino. – Que hora para um baile, hein!

         - Por que? – estranhou Harry.

         - Você não leu a capa do Profeta Diário?

         Harry negou franzindo as sobrancelhas, mas em seu íntimo já sabia que era sobre seu padrinho.

         - Sirius Black é inocente de todas aquelas acusações! – disse o menino surpreso enquanto dizia.

         - Mesmo?! – espantou-se Gina ao lado de Harry.

         - É. O único assunto entre os alunos. Que grande furo! – exclamou Neville trêmulo.

         De repente, uma figura loira postou-se ao lado de Harry. Instintivamente, Harry sentiu que deveria logo cortar o papo com Malfoy e ir embora.

- Deve estar muito contente, não é mesmo Potter! – debochou Draco. – Afinal de contas, o assassino de seus pais está solto agora!

         Harry conteve-se, deixando-se levar pelos pensamentos e ignorou Draco de maneira fria. Gina lançou um olhar a Draco, que cerrou os olhos e virou as costas, seguindo para a mesa da Sonserina. Hermione e Rony aproximaram-se e acomodaram-se. Gina abaixou o olhar, chateada com Draco e Hermione franziu a testa.

         - Vocês viram? Baile de dia dos Namorados! Não temos tempo para esses eventos! Temos os N.O.M.s no final do ano! – resmungava.

         - Ao contrário de certas pessoas, Mione, nem todos os alunos de Hogwarts estão estudando vinte e quatro horas por dia. – provocou Rony.

         Harry olhava a comida em cima de sua mesa. A dor de cabeça era mesmo chata. Persistente. Ametista surgiu de repente, ao lado de Gina e sentou-se, apoiando a cabeça num impulso sobre a mesa.

         - O que aconteceu? – perguntou Hermione.

         - Minha cabeça. Está explodindo! – reclamou manhosa.

         - Onde está o Dumbledore? – indagou Rony a Ametista.

         A garota virou-se para a mesa dos mestres e reparou na falta de seu avô, Arabella e Lupin.

         - Ele disse que teria de ir ao Ministério da Magia em Londres por uns dois dias. Acho que levou o Lupin e a professora Figg junto.

         Harry virou-se para a garota. Ela tinha olheiras fundas como quem não tivesse dormido a noite toda.

         - Você está com uma cara péssima! Normal... – debochou Harry ainda ligeiramente nervoso com que houve no dia anterior, onde Ametista discutira com Sirius.

         Ametista levantou a cabeça com os olhos cerrados.

         - Eu já tive um belo pesadelo com você Potter nesta noite, então não me provoque! – respondeu irritada.

         - Pesadelo comigo? Que pesadelo? – interessou-se Harry.

         - Sonhei que você me enchia a paciência e eu te estuporava! O que você acha disto?! – exaltou-se Ametista.

         A cabeça dos dois estralava de dor quando trocavam acusações ou desaforos. Era automático. E como ambos perceberam rapidamente, pararam. Ametista levantou-se e voltou para a torre. Harry coçou os olhos e também voltou para a torre. Rony o acompanhou. Gina resolveu agir e sentou-se ao lado de Hermione.

         - Você vai fazer algo de especial hoje, Mione? – indagou cautelosa.

         - Não sei. Por que?

         - Eu queria conversar com você. – disse Gina tímida.

***

Sirius andava de um lado para o outro, intrigado com o bilhete deixado por Lupin em cima de sua mesa. A cabeça rodava e doía muito.

Sirius,

         Arabella e eu fomos convocados, junto com Dumbledore, para uma reunião de emergência no Ministério da Magia, em Londres. Devemos nos ausentar por cerca de dois dias. Não se preocupe e cuide-se.

                                               Remo

         - Estranho. Reunião de emergência? – intrigava-se Sirius.

         Entretanto, mais estranho que aquilo era sua dor de cabeça. Não tinha uma há anos. Havia apenas uma pessoa que o fazia ficar com dores de cabeça. Apenas uma. E Sirius controlava o pensamento. As lembranças doíam demais.

***

No almoço, Harry e Ametista ainda não conversavam e as cabeças ainda insistiam em incomodar. Rony comia normalmente e Gina e Hermione chegaram atrasadas. Via-se claramente a expressão surpresa e severa de Hermione enquanto se aproximava. Sentou-se ao lado de Ametista.

         - Gina contou-me tudo sobre ele. – sussurrou ao pé do ouvido em tom de reprovação.

         Sim, Draco Malfoy. Mas parecia que ele havia voltado a ser como era antes de toda aquela confusão com Gina. Perturbador ao extremo. Ametista arriscou um olhar a Hermione, porém preferiu suspirar e olhar para a mesa da Sonserina. Malfoy encarava Gina com os olhos cerrados.

         De repente, ao meio da refeição, corujas invadiram o salão principal. Minerva McGonagall levantou-se e chamou Hermione. Enquanto isso, Gina esperava receber algum recado de uma conhecida coruja negra, mas nada veio. Uma coruja qualquer veio carregando uma carta e despejou-a no lugar onde Hermione estava sentada. Ninguém notou, menos Rony.

         - Acho que a Mione não vai se incomodar se eu abrir a carta dela, não é mesmo? – supôs a Harry, vendo a monitora da Grifinória deixar o salão principal acompanhada de McGonagall.

         Harry nem prestou atenção em Rony e apenas concordou com a cabeça. O garoto tomou a carta em suas mãos então e guardou-a no bolso do casaco, esperando abri-la na sala comunal. Ele também recebeu um exemplar do Profeta Diário, que Harry lia toda vez. Entretanto, as notícias da capa daquele dia não podiam ser piores: "Mais uma morte! E mais uma Marca Negra!" – lia-se na manchete principal.

         - Oh não! – exclamou Harry deixando cair os ombros desanimado.

E O MINISTRO PERMANECE NEGANDO!

OAKHILL – Foram encontrados os corpos de Richard McCarthy, de sua mulher, Diane McCarthy e seus dois filhos, Grace, de onze anos, e Stuart, de oito. Desaparecidos a dois dias, o Departamento de Investigação Mágica recebeu uma coruja com todos os dados e pistas de onde encontrá-los. Testemunhas dizem que a Marca Negra pairou sobre o bairro onde foram encontrados, Oakhill, por cerca de três horas.

         Como sabem, Richard e Diane McCarthy foram aurores durante a guerra contra os Comensais da Morte e Você-Sabe-Quem. Aposentados há seis meses, eles planejavam voltar ao trabalho após o ataque a Igor Karkaroff, já citado neste jornal.

         Também podemos destacar a insistência em negar a volta de Você-Sabe-Quem e seus Comensais, do Ministro da Magia, Cornélio Fudge: "Estas devem ser piadas de algum irresponsável que anda circulando e colocando a população mágica em pânico". Vamos então esperar que alguém do alto escalão do Ministério seja morto para o ministro despertar e perceber que medidas precisam ser tomadas.

         Reportagem escrita por David McDermott.     

- Como ele pode ser tão hipócrita?! – exaltava-se Harry.

***

Rony não esperou Harry terminar de comer e logo subiu para a torre da Grifinória. Precisava terminar um dever de Defesa Contra a Arte das Trevas passado por Lupin a mais de uma semana. Sentou-se numa das poltronas da sala comunal e observou a carta que segurava entre os dedos.

         - Preciso ler! – reivindicou rapidamente como que logo perderia a coragem. Abriu e o rosto tornou-se velozmente vermelho, quase roxo.

Hermione,

         Como estão as coisas por aí? Bem, eu sei que já decidimos não tocar mais neste assunto, porém é difícil nesta época do ano. Ando pensando muito em você nestes últimos dias. Farão um baile aqui em Durmstrang e eu gostaria que pudesse estar contigo em meus braços. Um sonho? Espero que não. Talvez você possa pedir uma "folga" para Dumbledore e vir para cá. Dançaríamos bastante, posso te prometer. Responda-me quando puder. Beijos.

                                                                                              Vítor           

         Rony enchia-se de fúria. De ódio. Então, ela correspondia-se com aquele cara ainda! O garoto sentia-se traído, enganado. E pensar que ficou a manhã toda a procurando para, desta vez, convidá-la para ser seu par no Baile. Mas, depois daquilo, ela não merecia nem metade do seu carinho!

Num impulso quase animal, Rony correu até o quarto da garota. Estava vazio. Olhou todas as camas, procurando um detalhe que revelasse qual era a de Hermione. E viu, na mesa de cabeceira, um porta-retrato, onde estava uma foto dela, dele e de Harry. Os três sorriam. Abriu todas as gavetas da mesa e nada encontrou. Foi então que viu o baú no pé da cama da amiga. Num flash, abriu o baú e encontrou praticamente, uma pilha de cartas. Espalhou-as pela cama e verificou uma por uma. Haviam algumas de Harry, outras mais dele e centenas de Krum! E o pior aconteceu: ele leu cada uma até chegar naquela que o garoto pedia-a em namoro. Rony sentiu o peito apertar de ódio. Na verdade, ciúmes. Ciúmes doentios. E como se nada bastasse, Hermione entrou no quarto e deu de cara com um garoto de cabelos e rosto vermelhos, olhos cravados e cheios de lágrimas em pergaminhos estendidos em cima de sua cama.

         - Rony? – arriscou Hermione, quando viu a face do amigo levantar-se e cravar os dentes nos lábios.                          

         - VOCÊ TÁ NAMORANDO O KRUM?! – indagou Rony berrando.

         Hermione arregalou os olhos. Rony descobrira. Andou e emparelhou-se com a cama. E pôde ver as cartas abertas de qualquer jeito.

         - Você não tinha o direito de mexer nas minhas cartas! – ralhou a menina indignada.

         - VOCÊ CONTINUA ESCREVENDO PARA ESSE CARA?! – esbravejou Rony, novamente enfurecido.

         Hermione nunca vira Rony tão nervoso em sua vida. Nem quando Bichento tinha supostamente comido Perebas.

         - E qual é o problema? – provocou a garota.

         Rony, num ato inesperado, pulou em cima de Hermione como um leão pronto para devorar sua caça.

         - QUAL O PROBLEMA?! ELE É O PIOR HOMEM QUE EU JÁ VI NA MINHA VIDA! – gritou de tal maneira que os alunos começaram a ouvir da sala comunal.

         - Você não o odiava quando era apenas o apanhador da Bulgária! – lembrou Hermione, ficando também bem nervosa.

         - CLARO QUE SIM! ISTO FOI ANTES DE EU VER ELE DANÇANDO COM VOCÊ! – vociferou sem pensar.

         Hermione ficou sem reação. Estava comprovado o ciúme de Rony para com ela. Rony também notou após ter dito a besteira que havia feito. Escolheu então sair do quarto correndo, deixando Hermione ali, em meio as cartas espalhadas e seus sentimentos revirados.

         Ametista apareceu repentinamente, de olhos arregalados ao ver o que havia acontecido:

         - O que... – ia perguntando a amiga, quando viu Hermione cair sentada na cama como uma pedra sem vida.

         Na verdade, Hermione ficaria ali até o final da tarde. Tentando relembrar tudo o que acontecera há pouco, e as palavras de Rony misturando-se com as batidas rápidas de sua coração. Ele, por sua vez, trancou-se no quarto, deixando as lágrimas que tanto tentou segurar, correrem livres pelo seu rosto.

***

Nem naquela noite, nem no dia seguinte, nem na semana seguinte. Rony e Hermione não trocavam sequer olhares. Para ajudar ainda, Harry havia brigado feio, novamente, com Ametista em uma aula de Arabella, que os expulsou da aula de Aparatação. Não se falavam igualmente. Apenas Gina trocava palavras com todos.

Foi num jantar em que Dumbledore levantou de sua cadeira (após ter voltado do transe, juntamente com Lupin e Arabella, sofrido no Feitiço do Esquecimento) e lembrou aos alunos que dali três dias aconteceria o Baile de Namorados, proposto pelo professor Lupin, orgulhoso em sua cadeira.   

         - Devem providenciar seus pares logo. O Baile está chegando e queremos ver todos vocês aqui. – disse o diretor.

         - Baile, que coisa mais idiota. – resmungou Rony.

         Hermione não deu a mínima e continuou a refeição. Harry pensou no que o amigo acabara de dizer e uma idéia surgiu na cabeça. Terminou de jantar e subiu para a torre da Grifinória. Enquanto Hermione e Rony subiram para seus dormitórios e Ametista foi, surpreendentemente, para a biblioteca, Harry esperou Gina despedir-se para dormir.

         - Hei Gina! – chamou Harry, ao vê-la pisar no primeiro degrau da escada. – Posso dar uma palavrinha com você num instante?

         Gina levantou as sobrancelhas surpresa e voltou. Postou-se a frente de Harry.

         - Que foi? – indagou sem muita empolgação.

         - Você... Você... – via-se a clara dificuldade de Harry em completar a frase, envergonhado.

         - Você o que? – tentou ajudar Gina.

         - É que, você sabe, eu não tenho jeito para essas coisas.

         Gina franziu a testa desconfiada. Harry disse finalmente:

         - Você quer ir ao baile comigo?

         A garota levantou as sobrancelhas realmente surpresa e sentiu-se ruborizar por um instante. Harry também sentiu um calor diferente.

         - Claro. – respondeu Gina realmente feliz por dentro.

         Harry arriscou um sorriso maroto e desejou uma boa noite de sono, dirigindo-se para seu dormitório. Seria difícil, já que Gina não esqueceria daquela noite tão cedo assim.

         Na manhã seguinte, Hermione encontrou Ametista adormecida sobre um monte de cinco grossos livros numa mesa ao canto da sala comunal da Grifinória.

         - O que você está fazendo aqui? – perguntou curiosa.

         Ametista levantou como um foguete assustada. Depois, coçou os olhos e pôde ver melhor Hermione. Abaixou a cabeça novamente.

         - Estudando, o que parece? – respondeu Ametista mal humorada.

         Hermione franziu a testa. A amiga nunca fora muito fã de estudos, então vê-la naquela posição era diferente.

         - Mas para que você está estudando? – voltou a indagar Hermione.

         - As aulas com o Lupin andam acabando comigo! No começo era até divertido, mas agora está impossível! Toda vez ele me pede para estudar isso ou aquilo sobre coisas incompreensíveis! – resmungou Ametista, arrogante.

         - Acho melhor você ir tomar um banho e lavar seu rosto. Ainda dá tempo de chegar na primeira aula. – aconselhou a monitora.

         No salão principal, Gina acordara radiante, contando para suas amigas do quarto ano que Harry Potter a havia convidado para ir ao Baile do Dia dos Namorados. Hermione aproximou-se e ouviu o final.

         - Harry te convidou Gina?! – surpreendeu-se a menina.

         - Sim! Isso não é ótimo! – animou-se Gina.

         A monitora da Grifinória deu um sorriso amarelo e sentou-se na mesa. Harry chegou em seguida. Sentou-se cansado.

         - Então você convidou a Gina? – insinuou Hermione.

         Harry concordou com a cabeça, pegando um pão com a boca.

         - Olívio acabou de me dizer que o jogo contra a Cornival será no próximo fim de semana. Espero que todos estejam novamente preparados – disse Harry com a boca cheia. – Falando em baile – mudou de assunto. – Com quem você vai?

         - Não conto. – respondeu rápido.

         Harry riu e sacudiu a cabeça.

         - E aquela Dumbledore ridícula?

         - Harry! – repreendeu-o Hermione. – Pare de falar dela assim!

         - Ela é mesmo! Não tenho que ficar poupando palavras! – resmungou Harry irritado.

         - Não sei com quem ela vai. E pronto.

         - E o Rony? – indagou Harry estrategicamente.

         - Não sei e não quero saber! – irritou-se Hermione, bebericando o café, cortando a conversa.

***

À noite, lá estava Ametista debruçada sobre os livros, tentando entender algo daquelas lendas sem pé nem cabeça. Não sabia porque ficava ali, enquanto poderia estar divertindo-se com sua capa de Invisibilidade por aí. Sem contar que odiava o clima da biblioteca e, parecia também que Madame Pince não gostava muito de vê-la ali. Vigiava-a todo o tempo. Os olhos estavam quase se fechando quando alguém apareceu e a "acordou".

         - Ametista? – chamou uma voz conhecida.

         - Rony, que você quer? – perguntou sem muita vontade.

         - O que você está fazendo aqui? – estranhou o garoto em tom debochado.

         - Caçando elfos é que não é! Estou estudando! – respondeu ríspida e sarcástica.

         Rony deu um sorriso amarelo sem graça e sentou-se em sua frente.

         - Preciso de um favor seu. – disse com cuidado.

         Ametista largou a pena que segurava e parou em Rony.

         - Você sabe que eu não sou o tipo de pessoa solidária... – ia dizendo quando o garoto a interrompeu.

         - Não será muito difícil.

         A garota franziu a testa. Mantinha o pé atrás, era desconfiada ao extremo. E Rony era o tipo que não se deixaria enganar.

         - Fale logo. – disse ríspida.

         - Vá ao baile comigo. – respondeu Rony.

         Ametista arregalou os olhos.

         - Nem pensar Weasley! – irritou-se, o chamando pelo sobrenome. – Eu não irei naquele baile idiota!

         - Por favor! Eu preciso que você vá comigo!

         - E por que eu?! Têm milhares de garotas espalhadas por este castelo! – reclamou.

         - Porque só você pode me ajudar... – dizia Rony.

         Uma resposta abriu-se diante de Ametista. E de repente, ela mudou o tom da conversa.

         - Ajudar com o quê? – indagou com esperteza.

***

Não demorara muito e o dia chegara. Perto das quatro horas da tarde, Hermione e Gina dispararam para o quarto. A monitora ajudaria Gina a arrumar-se. Harry e Rony jogavam Snap Explosivo com Fred e Jorge. Ametista estava sentada no sofá lendo qualquer livro. Jorge atacou:

         - Você não vai se arrumar, Ametista?

         A garota não levantou os olhos do livro e respondeu sem dar muita importância a pergunta feita:

         - Não demoro para me arrumar.

         - Claro que não! – começou Harry. – Nada fará melhorar a sua aparência mesmo! – provocou.

         Os quatro garotos riram. Ametista realmente não era o melhor exemplo de beleza. Baixa e sem maiores atrativos, bonito mesmo nela apenas os olhos. Mas ela não se importava. Muito menos com a opinião de Harry.

         - E eu respondo igualmente a você Potter. – retrucou ainda sem tirar os olhos do livro.

         Passado pouco mais de uma hora, Ametista deixou a sala comunal e seguiu para o quarto. Encontrou Hermione enrolando os fios do cabelo na própria varinha e Gina tomando banho.

         - O que você está fazendo?! – espantou-se.

         - Alisando meu cabelo. – respondeu rápida.

         Ametista franziu a testa e retirou o vestido do armário.

Perto das sete horas, os garotos já estavam prontos na sala comunal. Fred e Jorge haviam dado um traje de festa para Rony, como pedido por Harry no ano anterior. O garoto estava com um traje verde bem escuro. Harry tinha usado o mesmo no Baile dos Campeões, a veste verde-esmeralda. Fred usava vestes a rigor parecidas com a de Jorge, o primeiro vestia vinho, e o segundo marrom. Pouco a pouco foram aparecendo Dino, Neville e Simas. Por último, Olívio Wood em tom negro. As garotas com certeza cairiam por ele naquele noite.

         Então apareceram. Primeiro foram Lilá e Parvati, de amarelo e verde. Dino e Simas aproximaram-se. Levaram Neville, que iria com Padma, irmã de Parvati. Depois foram Angelina, de creme, Alícia, de branco, e Katie de vermelho. Fred e Jorge acompanharam as três. Katie iria com um garoto do sétimo ano da Lufa-Lufa. Depois, apareceu Gina. Harry impressionou-se. Ela trajava um delicado vestido rosa que firmava suas curvas que começavam a aparecer. O longo cabelo ruivo preso num coque gracioso, deixando alguns fios soltos. O garoto chegou perto e sorriu. Em seguida, Hermione desceu, ajeitando o cabelo. Rony segurou a respiração. Estava deslumbrante. A conhecida cabeleira transformou-se em uma coisa só. O brilho das madeixas lisas realçavam junto com o roxo do vestido. Usava sapatos de saltos certamente. E tinha uma leve maquiagem nos olhos e um batom claro sobre os lábios. O parceiro prontificou-se.

         - E então, como estou Olívio? – indagou Hermione, querendo mostrar-se a Rony orgulhosa.

         Olívio Wood sorriu assistindo a cena. Rony ficara da cor de seu cabelo. O ciúme corroía sua mente e ele apertava os dedos de raiva. Por último, apareceu Ametista. Rony aproximou-se cavalheiro e deu seu braço para a garota apoiar. Olívio parou de repente. A típica caída que já sentia pela neta do diretor ressaltava ao vê-la daquela forma. Mas ele não foi o único. Até mesmo Harry notou a diferença. Ela trajava um vestido azul-petróleo e o cabelo fora solto como uma cascata de ondas e presa com uma presilha a franja, transformada numa trança. Todos seguiram para o salão principal.

         As mesas das casas de Hogwarts foram retiradas e deram espaço a mesas pequenas onde cabiam cerca de seis pessoas. A decoração fora feita com rosas das mais diferentes cores e laços azuis e vermelhos. Dumbledore sentava-se em uma mesa juntamente de Minerva, Lupin, Arabella e... Sirius!

         - Harry, aquele não é Sirius? – indagou Rony surpreso.

         O garoto arregalou os olhos. Pela primeira vez Sirius aparecia em público. E os alunos não pareciam incomodados. Entretanto, ele estava diferente. Havia cortado o cabelo na altura dos ombros, feito a barba, colocado um belo traje a rigor azul escuro e tinha o maior sorriso de todos na mesa. Os grandes olhos azuis também se destacavam. Enquanto Gina, Hermione, Olívio e Ametista pegavam uma mesa, Harry e Rony foram até a mesa dos professores.

         - Sirius! – festejou Harry alegre.

         O padrinho virou-se contente para o afilhado e lhe deu um abraço.

         - Liberdade Harry! Liberdade! – repetia Sirius. – Mas diga-me. Com quem você veio hoje? – indagou maliciosamente.

         - Com a Gina, sabe? – respondeu o garoto ruborizado.

         - A mais nova dos Weasley? – perguntou Arabella entrando na conversa.

         Harry virou-se para a madrinha e concordou. Ela estava realmente bonita. E muitos jovens do sexto e sétimo ano olhavam para a professora com outros olhos. Harry sentia ciúmes.

         - Você está muito bonito hoje – elogiou Arabella. – A semelhança com Tiago é gritante, não acham?

         Os olhos de Harry brilharam. Rony cumprimentou a todos e Lupin disse num impulso:

         - Veio com a Hermione, Rony?

         Harry segurou a risada, assim como os outros da mesa ao ver o rosto de Rony passar de branco a vermelho de vergonha.

         - Não, não – respondeu meio sem jeito. – Vim com a Ametista.

         Agora foram os olhos de Lupin que brilharam.

         - E onde ela está? – indagou curioso.

         Em seguida a pergunta, as garota apareceram. Olívio ficara na mesa conversando com Jorge e Lino. Arabella observou Gina e Hermione e elogiou-as. Ametista aproximou-se e cumprimentou todos, exceto Sirius Black. Parecia que os dois ainda tinham a lembrança do dia do julgamento viva em suas mentes. Lupin sorriu e perguntou:

         - Animada, Ametista?

         - Eu pareço estar? – respondeu. – Porque devo confessar que tem alguma coisa que não me deixa dormir direito há quase três noites seguidas. – terminou sobre as aulas especiais e seus estudos.

         - E eu espero não ter nada a ver com isso. – completou o professor, entendendo bem o recado.

         - Sua mãe também não gostava muito de estudar... – disse o avô da garota saudoso.

         Ametista sorriu orgulhosa.

         - Está vendo professor – dizia ela a Lupin. – Já vem do sangue.

Sirius virou-se ligeiramente ao ouvir a garota e trocou olhares com Arabella e Dumbledore. Rapidamente, desviou o olhar.

         - Vocês estão todas divinas. – Elogiou Dumbledore. – Espero que possam aproveitar a festa.

         Harry olhou para a mesa do ao lado e encontrou muitos conhecidos. O ex-professor Moody, seu assistente Matt Holm, a bela Lynn Winter, que ajudara Sirius no julgamento, Percy Weasley e a Sra. Figg. Harry tomou um susto e arregalou os olhos ao encontrar a vizinha da Rua dos Alfeneiros.

         - Sra. Figg! – exaltou-se.

         A velha senhora tinha a expressão de bondade estampada no rosto quando viu Harry. Ela, que morava junto aos trouxas e ficara com Harry durante algum tempo, estava postada ali.

         - Como vai Harry? – cumprimentou.

         - A... A senhora é bruxa? – gaguejou o garoto.

         - Bruxa? Claro! Sou a mãe de Arabella. – e apontou para a mestra na mesa ao lado.

         Harry permanecia com os olhos arregalados. Porém, preferiu não continuar a conversa. A música começara a tocar e a comida a ser servida pelos elfos. Voltaram todos para a mesa. Gina sacudia o pé por baixo da mesa.

         - Eu adoro esta música. – disse sorridente.

         Rony lançou um olhar a Harry, que levantou uma sobrancelha, não entendendo. O garoto indicou Gina com a cabeça. Harry bufou.

         - Gina, você quer dançar? – perguntou meio sem graça.

         Ametista segurou o riso. Harry cerrou os olhos para a garota, que franziu a testa de forma engraçada.

         A festa passava agitada. Muitos comiam, outros dançavam, outros apenas admiravam. Dumbledore convidara a Sra. Figg para uma dança e Moody, Minerva McGonagall. Fred dançava com Angelina em esplendorosa apresentação. Eram servidas muitas cervejas amanteigadas. Na ponta oposta do salão onde Rony estava sentado, via-se Draco agitando um copo impaciente, enquanto Pansy Parkinson mexia em seu cabelo. Ametista levantou e disse:

         - Olívio, vamos dançar um pouco? – pediu meio rude.

         Os olhos de Olívio brilharam ao ouvir aquilo. Rony levantou-se:

         - Mas eu sou seu par!

         Ametista devolveu um olhar de dar muito medo para Rony e seguiu para o meio da pista com Olívio, ignorando-o. Harry conversava com Sirius e Lupin em uma outra mesa, enquanto Gina ia pegar um copo de ponche. Arabella dançava com Matt. Lupin tinha o olhar perdido.

         - Sabe Harry, fiquei muito satisfeito ao vê-lo com a menina Weasley. Gina, não é mesmo? – Harry confirmou com a cabeça. – É uma garota muito bonita, combina com você... – dizia Sirius quando Lupin levantou-se da cadeira.

         - O que ele vai fazer? – indagou Harry curioso.

         O mestre aproximou-se de Arabella e disse a Matt:

         - Poderia dançar um pouco com a dama?

         Arabella sorriu e abaixou os olhos para o chão envaidecida. Matt suspirou e deixou Lupin colocar os braços em volta da professora.

         - Atrapalhei alguma coisa? – perguntou Lupin.

         - Absolutamente nada. – respondeu a mulher satisfeita.

         Gina voltou segurando um copo de ponche entre os dedos e uma música romântica começou a tocar. Sirius deu um toque nas pernas de Harry por baixo da mesa e o garoto levantou-se.

         - Vamos dançar de novo? – convidou a garota, que sequer largou o copo e segurou a mão esquerda de Harry estendida a ela.

         Olívio tentava conversar com Ametista, mas nem mesmo os três copos de cereja amanteigada conseguiram diminuir o mau humor da garota. Katie Bell aproximou-se e pediu para dançar com Olívio. Ametista imediatamente soltou-se do bonito jovem e voltou para a mesa com os pés doloridos.

         Rony permanecia sentado com Hermione. Os dois não trocaram sequer uma palavra a noite toda. Ela sacudia os pés enquanto ele friccionava os dedos da mão tentando criar coragem. Ametista aproximou-se e observou a cena.

         - Eu acho melhor vocês saírem daqui logo porque eu estou bem nervosa! – exaltou-se fingindo estar irritada.

         Rony e Hermione entreolharam-se e continuaram sentados. Rony virou-se para Ametista e ela indicou a pista com a cabeça. O garoto gaguejou na primeira, mas depois repetiu e aquilo soou bonito:

         - Vamos dançar, Mione? – convidou timidamente.

         Hermione levantou os olhos para aquele garoto. Ela o via diferente. Rony não parecia nada com aquele constante panaca que a irritava à todo minuto com uma tirada nova. Não hesitou e estendeu a mão para levá-la à pista.

         Sirius passou a mão pelos fios negros do cabelo e olhou para a mesa do lado. Encontrou Lynn Winter, bela e majestosa, sentada. Levantou e foi na direção esperada.

         - A senhorita dançaria comigo em agradecimento pelo apoio naquele dia do julgamento? – pediu em tom engraçado.

         - Somente se o senhor me chamar por Lynn. – e sorriu em seguida.

         Harry dançava com Gina calmamente. Sentia as batidas do coração aceleradas da garota bem perto de seu peito. Surpreendentemente, a sensação era gostosa. Porém, mas estranho que aquilo foi ver um Draco Malfoy se aproximar e dizer:

         - Potter, eu poderia dançar um pouco com a Weasley?

         Gina virou-se para Draco impressionada. Harry ia responder algo grosseiro a Malfoy, quando a garota o parou e apenas agitou a cabeça positivamente. Harry ficou sem reação e procurou a mesa para sentar-se. Avistou de longe Cho dançando com um garoto da Lufa-Lufa. Imaginou-se no lugar dele por um instante. Voltou para a mesa e encontrou Ametista bebericando o quarto copo de cerveja amanteigada.

         - Você vai ficar bêbada assim. – disse em tom debochado.

         - Se isso ajudar a passar essa noite mais rápido, estarei satisfeita. – respondeu mal humorada.

         - Nossa! Quanta má vontade! Então porque veio?!

         Ametista virou-se para Harry e bufou.

         - Fique sabendo que eu só vim neste baile por causa do Weasley. Sozinho, ele não vai conseguir nada com a Mione.

         Harry, que já tinha uma idéia dos planos daquela noite de Rony, nada questionou. 

         - Devo admitir que você me surpreendeu.

         - Por que? – indagou a garota.

         - Ajudar um amigo. Achava que não fazia muito o seu tipo...

         - E não faz! Eu só fiz isso pela Herm... – e então parou.

         - Por quem?

         Ametista tinha uma desconfiança, mas contá-la para Harry era demais.

         - Por... Por... Ah! Não importa Potter!

         Pararam então ao lado deles Arabella e Lupin. A mestra tinha a face bem rosada enquanto Lupin exibia um grande sorriso.

         - Vocês não vão dançar? – perguntou a madrinha de Harry.

         - NÃO! – responderam os dois juntos.

         - Ah! Vão sim! – disse Lupin, levantando Harry da cadeira, assim como Arabella ajudava Ametista.

         Os dois jovens entreolharam-se e tiveram a mesma conclusão: os professores estariam certamente muito bêbados. Mas não teve jeito. A música mudou e Dumbledore pediu que a luz fosse diminuída. Era uma balada bem melosa. Ametista fez uma careta, enquanto Harry virava de costas para ela. Lupin empurrou um para o outro e os dois trombaram.

         - AI! Você pisou no meu pé! – reclamou Harry.

         - Mesmo?! Oh! Me desculpe Potter! – debochou irônica.

         - Não me provoque Dumbledore! – respondeu o garoto.

         Ametista riu vitoriosa. Harry indignou-se e segurou a garota pela cintura, puxando-a para si.

         - Como sei que você me odeia, e acredite, o sentimento é recíproco, você vai ter de dançar comigo! – provocou Harry, fazendo Ametista cerrar os dois olhos azuis.

         Os dois não se acertavam nos passos, ela insistia em pisar no pé dele, era engraçadíssimo. Perto do final da música, os dois cansaram e deixaram-se levar pelo clima calmo e romântico. Podia-se ver vários casais se beijando na pista. Ametista apoiou a cabeça no ombro esquerdo de Harry e o garoto pôde sentir o gostoso perfume da menina. Sândalo. Ele virou-se para ela e sussurrou em seu ouvido:

         - Não está tão mal, não é mesmo?

         Ametista sentiu-se arrepiar. O perfume dele era bom. Soltou-se por um momento e os dois permaneceram apenas dançando conforme a música.

         Do outro lado da pista, dançavam Hermione e Rony. A cada trinta segundos, Rony ia aproximando o corpo da garota para mais perto do seu. Hermione arrepiava-se constantemente. Rony a envolvia em seus braços e ela não estava tão mais baixa que ele. O salto havia ajudado e, mesmo que estivesse sem eles, não dariam muita importância.

         Pouco antes da música terminar, Harry foi tocado por alguém pelas costas. Virou-se e encontrou Sirius com a face descontente. Ametista retirou a cabeça do ombro do garoto e deu de cara com o homem.

         - Harry, poderia conversar com você um pouco?

         O garoto olhou para Ametista, que ajeitou o vestido e voltou à postura superior. A garota sequer disse algo a Sirius e voltou à mesa.

         - O que foi, Sirius? – perguntou impaciente.

         - Já não te disse para não andar com essa garota, Harry? Parece que tudo o que eu falo entra por um ouvido e sai pelo outro!

         - Eu só estava dançando com ela! Nada mais!

         - Seu par era a menina Weasley, não ela! Além do mais, já é o bastante para mim! – exaltou-se Sirius. – E não quero ver mais você e ela por aí juntos, está me ouvindo?!

         Harry sentiu uma enorme vontade de responder algo a Sirius, mas preferiu calar-se. Voltou à mesa e sentou-se com a garota.

         - Até que não dançamos tão mal.

         Ametista virou-se para Harry e arriscou um sorriso. E fora o bastante para pessoas que, teoricamente, se odiavam.

         Enquanto isso, Rony sussurrou no ouvido de Hermione:

         - Vamos lá fora, está muito quente aqui dentro.

         A garota levantou a cabeça e concordou. O seu coração disparou.

***

Enquanto isso, depois de acabada a dança entre Gina e Draco, o garoto puxou Gina para fora do salão principal.

         - Porque você me tirou do Harry? – perguntou a garota aborrecida, já que Draco fizera questão de não dizer nada enquanto dançavam.

         - Eu só fiz isso para ele perceber que não tem todas as garotas de Hogwarts atrás da fama dele. Existem outras que se encantam com a frieza de um Malfoy. – respondeu presunçoso.

         - Se você quis dizer que eu me encantei com você, está muito enganado Draco. – falou Gina rapidamente.

         - É claro que não é você, Weasley. Você é totalmente caidinha por ele, não é verdade?

         Gina cerrou os olhos, nervosa.

         - Eu nem deveria estar gastando meu tempo com você. Mas é divertido ver que logo o seu sonho de ter o Potter cairá por água abaixo... – ia dizendo, voltando para o salão.

         - O que você quer dizer com isso, Draco? – intrigou-se Gina.

         - Acho que você estava tão perturbada com o meu charme que nem percebeu a romântica dança entre ele e a Dumbledore. Que pena hein!

         Gina ficou parada ali. Impossível, pensou rapidamente. Afinal de contas, Harry e ela se odeiam.

***

- Onde está a Gina? – perguntou Jorge, com os braços entrelaçados em Alícia Spinnet.

         Harry deu de ombros. Também estava preocupado. Nunca se deve confiar em um Malfoy.

         - Mas você deveria estar com ela! – espantou-se o irmão gêmeo.

         - Eu estava. Só que o Malfoy quis dançar com ela e...

         Jorge arregalou os olhos.

         - O Malfoy?! E você deixou?!

         Neste momento, Gina tocou as costas de Jorge.

         - Onde você estava?! – indagou o irmão furioso.

         - Não te interessa! – respondeu.

         Harry arregalou os olhos e segurou o riso. Gina enfrentava o irmão com todas as forças. Logo, ela o despachou e sentou-se à mesa com Harry.

         - E então? Como foi a dança com o Malfoy? – perguntou Harry em tom ligeiramente ciumento.

         - Bem. E a sua com a Ametista?

         Harry ajeitou-se na cadeira e respondeu:

         - Sabe como é, nós nos odiamos. Não tinha como ser pior!

***

O céu estrelado dava um toque a mais àquela noite. Rony caminhava com Hermione ao seu lado. Tremedeira. A garota, por sua vez, tinha na mente inúmeros planos para tentar adivinhar o quê o menino iria fazer. Seria realmente espantar o calor do salão principal?

         Estavam postados no meio do jardim de Hogwarts, quando de repente, Rony parou. Hermione também.

         - Algum problema? – indagou receosa.

         - Eu... Eu queria conversar com você. – gaguejou.

         - Sobre? – voltou a indagar no mesmo tom.

         - Krum. – disse com dificuldade.

         Hermione fechou os olhos e abaixou a cabeça. Sabia que ao final da "conversa" entre os eles, certamente sairiam brigados.

         - O que tem ele? O que tem o Vítor? – repetiu curiosa.

         - É exatamente isso que eu quero saber. – respondeu Rony.

         Hermione suspirou. Rony, que até aquele momento estava de costas para a garota, virou e olhou no fundo de seus olhos.

         - O que há entre você e aquele cara? – repetiu.

         A garota tentou um sorriso.

         - Não há! Nada... – respondia quando ele a interrompeu.

         - E todas aquelas cartas?! Não era nada?! – desconfiou.

         - Se eu tivesse algo com o Vítor, você seria o primeiro a saber. – disse a garota segura.

         Rony permaneceu encarando-a.

         - E com o Harry?

         Hermione arregalou os olhos.

         - O que?! – espantou-se surpresa.

         - É que eu li em uma das cartas que aquele cara desconfiava que gostava do Harry... – completou Rony bem vermelho.

         - Eu não gosto do Harry! Ele é meu melhor amigo, Rony! – contestou Hermione exaltada.

         - Então você gosta do Kr... Daquele cara, não é? – Rony evitava ao máximo sequer pronunciar o nome de Vítor Krum.

         - Não! – gritou Hermione. – Eu não gosto do Vítor e muito menos do Harry, Rony!

         Rony suspirou disfarçadamente e pareceu acalmar-se. Ficaram durante algum tempo calados. Rony virou-se de costas novamente para Hermione. Ela decidiu continuar a conversa.

         - Mas, por que você está perguntando tudo isso?

         Hermione não viu, mas Rony apertou os olhos esperando não ouvir a essa pergunta. Virou-se para ela e respondeu:

         - Porque... Porque... Porque eu estava curioso, é só! – arranjou uma resposta rapidamente.

         - Eu não acredito. – afirmou Hermione com o típico tom severo.

         Rony percebera que não dava mais para esconder. Deveria seguir o conselho de Ametista e abrir o jogo logo de uma vez. Mesmo que aquilo destruísse a amizade dele, ou tranformasse aquela noite na mais especial de suas vidas.

         - E então? Não vai me responder? – repetiu Hermione.

         Rony suspirou e pegou toda a coragem que ainda restava.

         - É que... Eu... Eu...

         - Você o quê? – a impaciência começava a tomar conta da garota.

         Rony respirou fundo e respondeu:

         - Eu perguntei tudo isso porque eu estava curioso – disse, vendo Hermione girar os olhos, impaciente. – E também porque eu estava morrendo de ciúmes. – completou muito corado.

         Hermione ficou boquiaberta. As suas desconfianças estavam então, na verdade, certas. Rony tinha ciúmes dela. 

         - Eu... Eu... – tentava arranjar alguma coisa para responder, mas Rony prosseguiu.

         - Vê-la dançando com o Krum – parecia enojado de falar o nome. – foi o fim do mundo para mim! – desabafava o garoto meio que sem perceber. – Depois encontrar todas aquelas cartas dele, dizendo que queria namorar você, a convidando para ir a Bulgária, o seu sumiço nas férias, todas aquelas coisas... Deixavam-me maluco!

         - Mas... Quando você...

         Hermione parecia anestesiada. Rony a interrompeu novamente:

         - E ouvir aquele sonho estúpido do Harry sobre nós – Rony corou furiosamente. – Depois ter de agüentar as gozações de todos... Aquilo me matava!

         Hermione abaixou a cabeça ao lembrar daquele dia. "Traidora!" – ouvi-o gritar em seu ouvido ainda.

         - Mas foi naquela noite que eu percebi.

         - O que? – não entendeu a garota.

         - Eu tive um sonho naquela noite. Eu sonhei com você – Hermione sentiu um aperto no coração. – Sonhei com você a noite toda. E então, fui àquela aula de Adivinhação e tirei uma espécie de carta do amor. Eu sabia então porque estava tão furioso...

         - Mas... – tentava interrompê-lo, mas Rony não deixava.

         - Então teve a aula do Snape e a Ametista me perguntou porque eu odiava tanto o Krum...

         Hermione lembrou-se de Ametista dizendo que havia descoberto algo muito interessante sobre Rony naquela manhã.

         - Ela me contou que eu respondi que morria de ciúmes dele com você...

         Hermione corou e arriscou um sorriso. Uma brisa leve sacudia os fios de seu cabelo. Rony segurou uma das madeixas de seu cabelo.

         - E hoje eu percebi o quanto você é bonita... – disse enrolando a madeixa entre os dedos delicadamente. – o quanto você dança bem... – Hermione corou mais um pouco. – E quanto tempo eu perdi longe de você. – completou sussurrando em seu ouvido. 

         Hermione arrepiou-se dos pés à cabeça, e Rony notou. Os dois corações batiam muito forte nesta altura da conversa e o garoto parecia já ter domado o medo e conquistado aos poucos a garota.

         - Eu... Eu estou surpresa. – Hermione arriscou uma frase depois de ouvir tudo aquilo.

         - Mas eu ainda não terminei. – disse Rony com um sorriso maroto.

         Hermione arregalou os olhos e os dois riram.

         - Eu não gostava de você quando te conheci – Hermione estranhou. – Porém, ficamos amigos e passamos a dividir tudo juntos. E tantas aventuras que já tivemos! – Rony aproximou-se mais de Hermione e colocou os braços em volta de sua cintura. – E desafios que enfrentamos. E é por isso que eu aprendi a conviver com você, a entender as suas manias, a respeitar seu jeito de ser e a gostar de tudo isso com muito carinho. Então, eu quero dar um novo passo. E quero iniciá-lo com você. 

         Os dois tinham os olhos grudados um no outro. Sentiam as pulsações dos corações acelerados. Hermione não conseguia acreditar. Foi então que aconteceu. Rony havia se perdido nos olhos da garota e esquecido todas as frases bonitas que diria a ela num momento tão novo como este. Apenas aproximou o seu rosto do dela e sentiu mais uma vez a suave essência de rosas da sua pele. Retirou uma das mãos de sua cintura e tocou-lhe a face esquerda do rosto de Hermione. As estrelas assistiram as duas bocas encontrarem-se delicadamente. Os lábios de Rony tocaram os de Hermione suavemente e a mistura de sentimentos guardados há tanto tempo vieram à tona. Entretanto, os dois juntaram-se em um só ser. Tudo que era de ruim passou como uma brisa pela mente deles e acabou-se quando perceberam o enorme carinho que um sentia pelo outro. E não havia sentimento mais gostoso que aquele. Ficaram ali não se sabe quanto tempo, passando um para o outro tudo o que sentiam apenas por um beijo.