CAPÍTULO VINTE E DOIS – A MÁGICA MEIA-NOITE

Praticamente três semanas passaram-se até Harry voltar a Torre da Grifinória. Foi recebido pelos companheiros do time de quadribol e por Hermione.

         - Melhor? – indagou Katie, olhando o braço esquerdo enfaixado.

         - Já estou bem. O braço é que é o problema. – respondeu.

         - Pelo menos temos alguém para te substituir. – disse Angelina.

         - Não! – exclamou Harry aborrecido. – Até lá, já poderei jogar! – afirmou com convicção.

         Hermione deu um cutucão nas costas de Harry.

         - Você ficou maluco?! Olhe o estado do seu braço! Você não vai querer que piore, não é mesmo?! – dizia a monitora em tom autoritário.  

         - Pois a Ametista não vai jogar no meu lugar! – respondeu nervoso.

         Alguém descia as escadas e ouviu a última fala.

         - Nossa Potter! Nem bem voltou, e já está querendo mandar e desmandar! Você me surpreende! – disse Ametista em tom sarcástico.

         Harry tornou-se vermelho. As pessoas começavam a se dispersarem ao verem o tom da conversa.

         - Você não vai jogar no meu lugar! Eu não permito! – retrucou Harry.

         - VOCÊ NÃO PERMITE?! – exaltou-se Ametista. – E desde quando você permite alguma coisa ou não?!

         - DESDE QUANDO EU SOU O CAPITÃO DO TIME! – vociferou.

         Ametista soltou uma risada e aproximou-se de Harry.

         - Isso é abuso de poder, sabia?

         Imediatamente, a professora Minerva adentrou na sala comunal.

         - O que está acontecendo aqui?! – e então olhou para os dois. – Sr. Potter e Srta. Dumbledore! Novamente?! Sigam-me! – ordenou austera.

         Os dois trocaram olhares e seguiram a mestra. Como já imaginado, os dois foram levados até a sala do diretor. Para sua surpresa, o diretor estava acompanhado. Sirius e Snape estavam também no âmbito. O primeiro mantinha-se em pé, apontando para o segundo, que se sentava em uma das cadeiras.

         - Você vai nos tirar dessa encrenca Snape! Não quero nem saber como, mas eu não vou permitir que um erro como este estrague minha vida novamente! – gritava Sirius.

         - Eu sinto muito, mas eu não obedeço a você! – respondeu Snape com o típico tom seco e sombrio. – Eu obedeço a ele! – e apontou para Dumbledore que passava as duas mãos no rosto, cansado.

         Sirius praticamente pulou em cima de Snape, porém McGonagall entrou na sala com os dois alunos ao seu lado. Dumbledore olhou-os por cima dos óculos meia-lua e suspirou.

         - O que foi desta vez? – indagou muito cansado.

         Sirius ajeitou-se, assim como Snape. Os dois homens permaneciam olhando para os jovens curiosos.

         - Adivinhe, Alvo. O Sr. Potter e a Srta. Dumbledore estavam aos berros na sala comunal da Grifinória novamente! – explicou Minerva ligeira.

         Dumbledore correu os olhos em Harry e Ametista, que se mantinham virados um contra o outro. Depois fez um sinal com a cabeça que a mestra poderia deixá-los com ele. Dumbledore então observou tanto Sirius quanto Snape. Os dois haviam entendido bem o quê ele queria.

         - Eu não vou sair! – afirmou Sirius com certa rispidez.

         - Assim como eu! – concordou Snape.

         O diretor encarou os bruxos e disse de forma sutil:

         - Eu ordeno que vocês saiam desta sala. Agora!

         Os homens engoliram em seco e saíram do âmbito *,* um tanto nervosos. Podia-se ainda ouvir alguns comentários ameaçadores de Sirius para o mestre de Poções do lado de fora. Dumbledore lançou um olhar aos alunos e mandou-os sentar.

         - Eu não preciso e não quero ouvir a história desta noite – começou o diretor visivelmente aborrecido. – Porque eu sei que amanhã, haverá uma nova! E eu já avisei vocês antes que parassem com essas brigas!

         - Mas... – tentou Ametista explicar, mas o diretor logo a interrompeu.

         - Não tem mas! Eu já estou cansado de ver vocês nesta sala sempre pelo mesmo motivo! Pensei que vocês fossem parar depois da última chamada minha e da professora Figg, pela pequena e nova discussão entre vocês no meio da aula dela!

         Harry e Ametista há pouco tempo ficaram em detenção por causa de uma discussão na aula de Arabella. Harry nunca vira o diretor tão amolado. Era notável. O diretor retirou os óculos e colocou-os em cima da mesa. Respirou fundo e continuou:

         - Quando eu decidi colocá-la aqui para estudar, Ametista, não a fiz passar sequer pelo Chapéu Seletor – dizia o diretor como se estivesse muito chateado com a suposta ingratidão da neta. – Muitos me criticaram, mas eu acreditava que seria o certo colocá-la na Casa em que eu estudei, em que sua mãe estudou. E também pelo motivo de lá estar três das mais incríveis companhias e amizades que você poderia conseguir em Hogwarts e até mesmo na vida. Tanto a Srta. Granger, quanto o Sr. Weasley e o Harry são ótimas pessoas e não vejo porque você continua lutando contra isso!

         Harry sentiu-se corar com tal elogio do homem que tanto admirava. Entretanto, ao olhar Ametista, viu a expressão contida da garota. Os olhos estavam cheios de água.

         - E quanto a você, Harry, evite conflitos. Conheci seu pai muito bem e, se você realmente é tão parecido com ele, sei que é um bom garoto e que não gosta de manter inimigos – Dumbledore voltou a olhar para a neta. – Já notei que vocês literalmente se odeiam, mas deve haver um motivo para tanta raiva! – Ametista permanecia estática. – E eu sei que vocês sabem porque há tanto ódio entre vocês. Se não sabem com certeza, têm pelo menos uma idéia. E não adianta maquiar o problema, colocando a culpa em outras pessoas – e olhou bem para Ametista, em relação a Snape. – Eu cansei das suas brigas e não admito mais uma sequer! E da próxima vez serei obrigado a tomar uma posição mais severa.

         Harry indicou que concordara com o diretor, enquanto Ametista ainda estava paralisada. Os olhos tremiam, cheios de lágrimas contidas a qualquer custo.  

         - Vocês precisam entender que todos nós devemos nos juntar numa época em que a escuridão está voltando para nos assombrar. E vocês dois, que são peças tão importantes nesta história, necessitam mais do que outros, estarem unidos, acima de tudo! – Dumbledore falava com certa dor e arrependimento. – Desculpe por colocá-los em tal posição, mas tenho de ser franco. Quero avisá-los que, pelo ocorrido desta noite, vocês estarão proibidos de irem a visita de Hogsmeade no próximo fim de semana.

         Harry ia reclamar, mas Dumbledore levantou as mãos, impedindo-o.

         - Não quero ouvir nenhum mas! – disse com força. – A situação está tomada e avisarei os professores responsáveis. Estamos de acordo? – Harry teve de concordar, enquanto Ametista parecia que não ouvia. – Ametista? – estranhou o diretor.

         A garota nem esperou e saiu correndo da sala do avô. Dumbledore suspirou e voltou-se a Harry.

         - Tenha paciência. Eu sei que deve ser difícil, ela é igual à mãe. Hariel era exatamente assim... – e o diretor parou. – Apesar de que alguns toques são perfeitos do pai... – divagava Dumbledore de repente.

         Harry tornou-se atento, já que Ametista havia comentado antes que não sabia a identidade do pai. Dumbledore parou e voltou-se para o aluno, como se tivesse despertado.

         - É melhor voltar a Torre – Harry já estava saindo da sala quando o diretor chamou-o novamente. – Harry! – o garoto virou-se para trás. – Todo começo é difícil, mas confie em mim e acredite: tudo isso mudará em breve. Eu conheço a neta que eu tenho. Ela tem meu sangue.

         Harry arriscou um sorriso ao diretor, que ainda parecia chateado. Deixou a sala de Dumbledore, este limpou as ralas lágrimas que saiam dos profundos olhos azuis.

***

A sala comunal àquela hora já estava vazia e escura. Onze horas. Provavelmente Hermione mandara todos irem dormir bem mais cedo do que isso. Algumas velas ainda permaneciam acesas, mas o que realmente iluminava tudo era a luz da bela lua que se estendia pelo céu. Naquela noite, estava cheia. Lembrou-se do professor Lupin, que provavelmente já estaria trancado como um lobo inofensivo dentro de seu quarto. Quando se encaminhava para a escada que levava ao seu dormitório, Harry ouviu um soluço baixinho, quase contido. "Ametista" – pensou ele.

         Foi andando pela sala comunal e sentou-se no sofá, frente à lareira que estava fraca. Ficou calculando o tempo certo de agir. Passados trinta segundos ou pouco mais, Harry levantou e num rápido movimento, retirou uma capa de algo e encontrou a neta de Dumbledore, os olhos inchados e o nariz vermelho.

         - Enlouqueceu?! – ralhou Ametista, limpando rapidamente os olhos.

         Harry riu.

         - Se você quiser brincar de esconde-esconde...

         - Cale a boca Potter! – respondeu Ametista.

         O garoto não se incomodou e continuou a rir. Ametista suspirou e pegou a sua capa de Invisibilidade das mãos de Harry.

         - Vá dormir Potter! Não quero brigar com você de novo, se não seremos expulsos de Hogwarts. – disse a garota, em sério tom.

         - Mas eu estou sem sono. – respondeu em tom maroto.

         - E o que eu tenho a ver com isso? – perguntou Ametista.

         - Eu vou ficar aqui com você. – afirmou Harry pacientemente.

         Os grandes olhos azuis de Ametista arregalaram-se.

         - Não mesmo! – aumentou um pouco a voz e percebeu, abaixando novamente. – Nem pensar!   

         - Ah! Vamos lá! Podemos conversar...

         - Eu não tenho nada para conversar com você...

         - Mas eu tenho!

         - E eu não me importo!

         Estavam prestes a discutir novamente, quando Harry lembrou-se das palavras de Dumbledore ditas há pouco e acalmou-se.

         - Escute. Se tivermos de aprender a convivermos em paz, vamos nos esforçar – Ametista fez uma careta. – Eu sei que é chato, ainda mais se tratando de nós dois, mas que tal tentarmos pelo menos?

         Ametista nada respondeu. Permaneceu olhando para os olhos de Harry.

         - Hoje? – arriscou o garoto.

         - Está bem, Potter. – respondeu Ametista depois de um bom tempo.

         Harry aproximou-se e sentou a frente de Ametista no parapeito da grande janela da sala comunal. A garota tinha as pernas recuadas contra o corpo e apoiado ali seus braços. Harry cruzara suas pernas. Ela abaixou a cabeça nos braços e voltou a ficar calada. Ele, por sua vez, arriscou de uma vez:

         - Por que você ficou daquele jeito hoje à  noite?

         Ametista soluçou baixinho. E levantou o rosto para Harry. Os olhos estavam novamente cheios de água e o nariz bem vermelho de tanto chorar.

         - Você gostaria de ouvir tudo aquilo de alguém que ama? – indagou profundamente chateada.

         Harry abaixou a cabeça.

         - Eu não sou ingrata, Potter! – protestava Ametista.

         O garoto permaneceu sem responder nada. Ametista limpou os olhos evitando chorar na sua frente e supôs:

         - Você deve ter concordado, não é mesmo?      

         Harry levantou a cabeça.

         - Concordado com o quê?

         - O fato de parecer que sou uma neta ingrata. Que não dou valor a tudo que ele fez para mim nestes anos.

         - Eu nunca poderia pensar nisso! Eu nem te conheço!

         Ambos pararam e encararam um ao outro. Aquilo era uma realidade. Eles não tinham nem idéia com quem conversavam naquele momento. Harry Potter, livros ou alguns contos distorcidos por aí. Ametista Dumbledore, praticamente desconhecida por grande parte do mundo mágico, neta do maior bruxo de todos os tempos. E era isso. Talvez algumas coisas mais, porém nada bastava para estabelecer uma amizade. Foram também tão poucas trocas de informações ou até mesmo diálogos saudáveis, sem irritações ou detenções como conseqüência.  

         - É, parece que não conhecemos nada sobre nós. – disse Ametista *,* um tanto decepcionada.

         - Mas ainda temos tempo para isto acontecer. Pelo menos três ou dois anos pela frente...

         - Isso se nada acontecer antes, não é mesmo? – interrompeu Ametista, fazendo Harry tremer.

         - O... O... O que você quer dizer com isso? – indagou o garoto bastante trêmulo.

         Ametista cruzou as pernas.

         - Voldemort – afirmou sem medo. – Afinal de contas, por que fazemos aqueles treinos especiais com o Lupin e a professora Figg?

         Harry suspirou. Gostaria que este homem nunca tivesse nascido.

         - Eu ainda nem sei bem por que eles me querem nesta "luta" ou sei lá o que será isso, mas se eu pudesse apagar tudo isso...

         - Por mim, ele já podia estar bem morto e enterrado! Só trouxe desgraça para minha vida! – resmungou Harry magoado.

         Ametista ajeitou-se e via-se a expressão doída em seu rosto.

         - É, eu sei bem o que você quer dizer.

         Harry lembrou-se então que a mãe e o pai de Ametista foram também mortos por Voldemort.

         - Eu nem pude conhecê-los direito. Ele os tirou da minha vida de forma covarde. E eu nem sei o por quê... – dizia Ametista e as lágrimas formavam-se em maior intensidade, mas ainda assim ela lutava para não chorar na frente de Harry.

         - Acho que ele foi atrás de cada um que oferecesse perigo para a formação do seu império. – arriscou Harry.

         - E que tipo de perigo minha mãe poderia oferecer?! – indagou a garota desacreditada.

         Harry lembrou-se do julgamento de Sirius e as tantas novas informações que recebera naquele dia. E depois, em Hogwarts, a discussão entre Ametista e seu padrinho, o qual não permitira que nada fosse contado a ela.

         - Sua mãe foi amiga dos meus pais, você sabia? – disse Harry.

         Ametista franziu a testa e pediu que Harry repetisse.

         - É. No dia do julgamento do Sirius – a garota mudou a feição. – a professora Figg testemunhou.

         - E o que ela tem a ver com isso?

         Harry suspirou.

         - Ela disse que ela, minha mãe e uma tal de Hariel Dumbledore eram melhores amigas. Hariel não é o nome da sua mãe? – completou o garoto.

         - Sim... – respondeu Ametista.

         Ficaram em silêncio por um momento. Harry imaginava como o mundo era pequeno. Quem diria que depois de anos, os filhos da turma da Grifinória iriam se reencontrar, mesmo que seus pais estivessem muito longe.

         - E você sabe mais alguma coisa sobre ela? – perguntou Ametista finalmente com os olhos brilhando de alegria.

         Harry sorriu. Conseguira começar uma conversa normal com a neta de Dumbledore. E até que era legal.

         - Deixe-me ver... – testava-a Harry.

         - Fale logo Potter, eu sei que você sabe! – empurrou-o de leve.

         Eles riram.

         - Bom, eu sei que a sua mãe também foi madrinha de casamento dos meus pais, junto com o Sirius.

         Ametista franziu as sobrancelhas.

         - Coitada... Ter de ficar naquele altar com um tipo daquele do lado não deve ter sido fácil! – suspirou Ametista.

         Harry fechou a cara.

         - Não gosto que fale mal dele! – reclamou com justiça.

         - Desculpe. – pediu arrependida.

         O garoto não deixou de se surpreender ao ouvi-la pedir desculpas. Aquele era um grande passo.

         - Potter, você disse que ela foi madrinha do casamento dos seus pais, certo? – Harry confirmou. – Então ela não era amiga apenas da sua mãe e da professora Figg. Era do seu pai também?

         - Bem, Arabella disse que elas ficaram amigas logo no primeiro ano. Mas tinha esse grupo de garotos que enchiam a cabeça delas...

         - Seu pai fazia parte? – indagou em quase uma risada.

         - É. Eram ele, o Sirius, o Lupin – Ametista riu ao imaginar. – e o... – tentava completar, mas era nojento falar o nome daquele ser.   

         - E quem?

         Harry respirou fundo descontente.

         - Pedro Pettigrew. Você se lembra dele, não lembra? Quando te contei sobre o Sirius e como ele me achou.

         - Ah! Eu lembro quando o Lupin me contou toda a história no... Quando aconteceu aquela confusão comigo e com o Black no feriado. – completou um pouco irritada.

         Harry relembrou do primeiro encontro cara a cara entre Sirius e Ametista, onde ela teve um ataque, esquecendo-se da história de Harry, contada no segundo contato entre eles. Ametista gritava que o padrinho de Harry era um assassino.

         - Continue. – pediu a garota curiosa.

         - Então, eles ficavam atrás delas e viviam brigando. Aí, Arabella disse que eles não agüentavam mais e decidiram ficar amigos.

         - Fácil assim? – duvidou Ametista. – Porque, convenhamos, nós dois não nos damos nem um pouco bem e não conseguimos ficar amigos de uma hora para outra!

         Harry cerrou os olhos, irritado.

         - Sem contar que todas as tentativas foram por água abaixo... – disse a garota ao relembrar o Natal.

         - Tá bem, chega! Não vamos brigar novamente! – disse Harry.

         Ametista riu. Ela sabia bem como irritá-lo.

         - Dali para frente, ela disse que a turma se uniu mais quando o meu pai e a minha mãe começaram a namorar.

         - Você sabe como foi?

         - Não. Mas deve ter sido especial... – divagou Harry.

         - E... Minha mãe também foi madrinha no seu batismo?

         - Não. Foram o Sirius e a Arabella. – completou Harry muito feliz.

         - Quer dizer então que a sua madrinha é a professora Figg?

         Harry concordou. Tirara a sorte grande. Arabella era uma ótima mulher, cuidara bem dele naquelas três semanas na enfermaria. Ficara com ele todos os dias e só saía para dar aulas, pois até mesmo as refeições eram feitas com ele.

         - Ela é incrível.

         Ametista olhou a lua novamente. Deveria estar bem perto da meia-noite.

         - Outro dia, eu estava conversando com a Hermione e ela me disse que você mora com uns trouxas, não é?

         Harry concordou com a cabeça.

         - Os Dursley. Tia Petúnia era irmã da minha mãe.

         - Porque eu ia perguntar para você. Agora que o Black foi reabilitado e você já sabe que a professora Figg é a sua madrinha, você vai continuar morando com os trouxas?

         É verdade. Harry já havia conversado com Sirius sobre isso e sonhava constantemente com uma casa em Hogsmeade, como o padrinho havia dito. Porém, após o julgamento, não foi discutida a possibilidade de guarda.

         - Sirius pediu a minha guarda para o Ministério da Magia, já que ele é o meu tutor. Mas ele não falou nada se foi aceito ou não o pedido.      

         - Ele já tinha comentado algo sobre isso?

         - Já. Tinha falado em uma casa em Hogsmeade. – respondeu um pouco melancólico.

         - Mas agora que a Arabella também pode criá-lo, com quem você irá ficar?

         Harry parou e pensou bem. Seria uma escolha muito difícil.

         - Quem sabe eles não resolvam ficar juntos? – supôs Harry, fazendo Ametista lembrar da dança com Lupin e o olhar do professor ao ver Arabella e Sirius dançando: ciúmes.

         - É, quem sabe... – divagou Ametista com o mestre de Arte das Trevas na cabeça.

         - No depoimento do Lupin, ele disse que não foi apenas minha mãe e meu pai que se casaram da turma. – contou Harry ao lembrar-se rapidamente.

         A garota franziu a testa.

         - Mas é claro! A minha mãe casou-se também! – debochou de Harry.

         - Sim, mas ele se referia a casamentos entre os amigos... – completou Harry triunfante.

         - AH! Você não explica direito! – resmungou Ametista. – Talvez o Black e a professora Figg fossem casados?

         Harry arregalou os olhos surpreso.

         - Será? Eu acho difícil! Se não eles estariam juntos agora. – arriscou o garoto.

         - É. Também houve aquela vez em que nós vimos o professor Lupin e a professora Arabella num dos corredores, no Natal. Lembra? Ela parecia bem envergonhada.

         - Mas até aí, têm tantas coisas que podem deixar uma mulher envergonhada... – respondeu Harry com ar de conquistador.

         A neta do diretor fez uma careta, desconfiada.

         - Não há coisas que me fazem ficar envergonhada! E, além do mais, você também é bem sem atitude, não é mesmo?

         Harry estranhou e corou.

         - O que você quer dizer com isso?

         - Eu já notei como você realmente não leva jeito com garotas. – completou.

         - Co... Como você já notou? – gaguejou incrivelmente envergonhado e com a face vermelha.

         - O baile, por exemplo.

         - O que aconteceu no baile? – perguntou ansioso.

         Ametista riu da cara de Harry.

         - Gina. Todos nós vimos, quero dizer, Hermione e Rony estavam um pouco mais ocupados, mas de qualquer forma, vimos que você fica extremamente tímido quando se trata de meninas.

         Harry ficara paralisado. Realmente, aquele tipo de bloqueio existia, se não já teria agido muito mais cedo com Gina. A garota o agradava, era bonita e meiga. O quê mais poderia ele querer?

         - Você deveria saber lidar com isso, já que é famoso...

         - Não comece com isso de novo! – pediu Harry.

         - Começar com o quê? – estranhou Ametista.

         - Com essa de sucesso! – irritou-se o garoto.

         - Eu não tenho culpa pelo fato de você ser famoso, ter uma lista enorme de admiradoras, que por acaso não têm a mínima idéia da enrascada que estão se metendo...

         Harry sentiu o sangue ferver novamente.

         - Francamente! – disse Ametista com o tom de Hermione. – Eu não sei o quê elas vêem nesta cicatriz sem graça no meio da sua testa!

         - O QUÊ?! – realmente sentia-se ofendido Harry, já que fora aquela cicatriz que salvara sua vida tantas vezes quando ardia pressentindo o perigo.

         - E tem também a pose de coitadinho órfão que sofre com a perseguição Daquele Lá! – dizia a garota referindo-se a Voldemort.

         - VOCÊ NÃO SABE O QUE É TER VOLDEMORT CORRENDO ATRÁS DE VOCÊ, QUERENDO A SUA CABEÇA A QUALQUER PREÇO! – vociferou Harry para cima de Ametista.

         - OH! QUE GRANDE COISA! FICO MORRENDO DE DÓ QUANDO VOCÊ FALA ISSO! – debochou Ametista, deixando Harry mais enfezado que nunca.

         - VOCÊ DEVERIA PELO MENOS ME AGRADECER POR ELE ESTAR DESAPARECIDO POR ENQUANTO, ASSIM ELE SÓ TEVE CHANCE DE MATAR SEUS PAIS E NÃO VOCÊ! – berrou Harry num impulso.

         - NÃO FALE DOS MEUS PAIS! VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE ELES! – retrucou Ametista.

         - AH! E VOCÊ SABE, POR ACASO?! NÃO! E SABE POR QUE NÃO? PORQUÊ ELES DEVERIAM SER OS PIORES TIPOS DE PESSOA DO MUNDO PARA DAR À LUZ A UMA CRIANÇA COMO VOCÊ!

         - E VOCÊ ACHA QUE OS SEUS SÃO ESPECIAIS SÓ PORQUE DERAM ORIGEM AO SALVADOR DO MUNDO?! POIS ESSES PAIS PERFEITOS ANDAVAM COM A MINHA MÃE! ESQUECEU-SE?!

         - ENTÃO O PROBLEMA ESTAVA MESMO COM O PAI! AH! QUE PENA! VOCÊ NEM SABE QUEM ELE É, NÃO É?!

         Imediatamente, o quadro da Velha Gorda abriu-se num estrondo nervoso. Ametista e Harry, mesmo no calor daquela que deveria ser a pior das discussões entre eles, entreolharam-se. Levantaram num impulso e ficaram de pé, sobre o parapeito da janela. Rapidamente, espremeram-se e cobriram-se com a capa de Invisibilidade de Ametista. 

         Minerva McGonagall vinha vestida em seu roupão e uma toca no cabelo, cobrindo seu coque. Estava ofegante e tratava de olhar em todos os cantos da sala comunal à procura dos alunos escandalosos que discutiam aos gritos.

         Em seguida, Hermione apareceu no pé da escada que levava ao dormitório feminino da Grifinória.

         - O que está acontecendo aqui, Srta. Granger?! – indagou a mestra profundamente nervosa.

         - Eu não sei, professora. Acordei com os gritos. – completou a monitora da Grifinória.

         Minerva deu mais uma olhada geral e virou-se para Hermione, que observava em especial a janela da sala comunal.

         - Já são dez para a meia-noite e ainda têm alunos histéricos rondando a Grifinória! Isto é um absurdo! – e parou de repente. – A Srta. Dumbledore está no quarto, Srta. Granger?

         Ametista e Harry estavam bem juntos para cobrirem-se por completo debaixo da capa da garota na janela da sala comunal. Neste momento, começaram a ficar ofegantes e entreolharam-se. Os olhos estavam cheios de pavor. Se Hermione contasse que Ametista não estava na cama àquela hora, provavelmente McGonagall diria que ela estava escondida em algum lugar e fora responsável pelos berros.

         Hermione ficou por um instante pensativa e deu mais uma checada na janela da sala comunal. Harry e Ametista sabiam que ela estava os observando.

         - Está sim professora. – respondeu segura.

         Minerva fitou-a.

         - Melhor que esteja. – completou a mestra.

         Hermione sabia que Ametista estava envolvida pela capa em algum lugar e não entregaria a amiga. Porém o olhar tortuoso de McGonagall nela a fazia tremer de culpa.

         - Por que a senhora diz isso? – indagou de forma esperta.

         Minerva fitou Hermione novamente e recuperou a expressão cansada de sempre.

         - Eu já esperava que fossem a Srta. Dumbledore e o Sr. Potter. Mas, bem que eu imaginei. Depois da conversa com o diretor hoje, parece que tomaram jeito – Harry e Ametista sentiram-se incrivelmente culpados e encarando-se, abaixaram suas cabeças, arrependidos de entrarem naquela discussão. – Alvo tinha falado que iria ter uma boa conversa com eles após tantas reclamações.

         Hermione arriscou um sorriso e suas olheiras começavam a terem destaque em seu rosto.

         - Espero que estes... alunos tenham consciência e parem com os berros. E fique de olho, Srta. Granger. A senhorita está aqui para isso. – e a professora sorriu. – Boa noite, Hermione.

         A garota ficou realmente emocionada por ter sido chamada pelo nome. Adorava quando a mestra que tanto admirava o fazia. Demonstrava confiança. 

         - Boa noite professora.

         A mestra de Transfiguração saiu pelo quadro da Grifinória e Hermione ficou por um instante pensativa. Depois, encarou a janela.

         - Meia-noite e aqui estou eu limpando a sua barra Ametista! Eu sei que você está por aí com essa capa e, provavelmente o Harry também. Façam silêncio e não venham me agradecer depois. – disse em tom extremo e severo, subindo as escadas para o seu dormitório novamente.

         A sala comunal voltara a ficar escura. A lua estava no ponto mais alto do céu e indicava que já era meia-noite. Ametista estava sendo praticamente prensada por Harry contra a parede, já que tentavam esconder-se por baixo da capa de Ametista.

         Harry segurava a capa com a mão esquerda e a estendia sobre os dois corpos. O braço, que era o com a infecção, começava a doer. Ambos estavam ofegantes e trêmulos. Tudo tinha acontecido muito rápido. A discussão, os berros, a invasão da professora McGonagall, Hermione.

         De pé, Harry era quase um palmo mais alto que Ametista. Ela estava apertada contra a parede e pensava em mil coisas. Ele, por sua vez, parou e observou a garota de cima. A lua banhava a face esquerda de seu rosto e fazia os olhos azuis brilharem ainda mais. Ela estava realmente bonita. Na verdade, era a primeira vez em que Harry reparara como ela poderia ser linda.

         A sensação que sentira nas oportunidades de beijar Gina voltara a tomar Harry. Entretanto, desta vez, a força era muito maior. A certa petulância e teimosia da garota que tanto o irritavam agora se tornavam qualidades mais que interessantes. Eram feitiços que ela colocava nele. E nesta noite não havia música de harpa, bolhas de sabão ou trajes a rigor. Eram apenas eles, sem maquiagem ou fantasia.

         - Ametista. – chamou o garoto com a voz um pouco mudada, rouca.

         A garota suspirou e encarou-o. Debaixo daquela capa, ela pôde ver os grandes olhos verdes de Harry através daquelas lentes de seu óculos. Eles brilhavam. "Como ele é bonito!" – pensou automaticamente, contra todas as suas conclusões já tiradas antes e, apagando tudo o quê afligira a sua mente até agora.

         Naquele momento, não estavam mais ofegantes de medo, e sim de estarem tão próximos um do outro. Não tremiam de pavor, mas sim de surpresa por terem os corpos tão colados. Respiravam o mesmo ar debaixo daquela capa, compartilhavam pensamentos e surpresas. 

         Harry sentia o coração descompassado e a respiração veloz ao aproximar-se cada vez mais de Ametista. O braço doía muito, mas não tinha nem comparação com o quê sentia naquele momento. Ele a espremia contra a parede, como se não a deixasse escapar de suas mãos. O corpo da garota estava doendo, mas ela ainda assim não se incomodava.

         O garoto sabia que aquela era a hora. Não sabia se estava certo, se deveria ser não com Ametista, mas com Gina. Porém, nada daquilo importava. Sentia tantas coisas, misturadas, confusas.

         A mão direita, que estava livre junto ao seu corpo, Harry levou-a até a altura da cintura de Ametista e a envolveu parcialmente. Não havia como relutar, evitar. Ametista sabia que isso aconteceria. E lutava contra os sentimentos que estavam tão à flor da pele naquele momento.

         Primeiramente, Harry foi se aproximando muito lentamente do rosto de Ametista até sentir o hálito que saía pela sua boca muito próximo de si. Em seguida, deixou que os pensamentos e sentimentos vividos naquele instante tomassem conta de seus atos e agiu. Encostou devagar seus lábios em sua boca e sentiu a fervura dos lábios de Ametista. Ligeiramente uma onda de arrepio tomou conta dos dois corpos. Harry inverteu o lado e agora encostou seus lábios na boca dela no sentido esquerdo. O corpo dolorido de Ametista tornou-se dormente ao encanto dos lábios de Harry e a garota deixou-se levar. Envolveu Harry levando seus braços ao redor do pescoço do garoto, pressionando-se contra seu corpo. Sem perceber, os beijos rápidos pararam e não desgrudaram mais as bocas e entraram em um novo mundo de sensações. Harry largou a capa, que caiu aos seus pés, deixando-os em evidência acima do parapeito da sala comunal da Grifinória. Levou a mão esquerda à cintura da garota e a abraçou completamente enquanto se beijavam. Era uma mistura de sentimentos. Passavam por carinho, raiva, compreensão, irritação, ódio. E as bocas insistiam em não se largarem nem por um momento. O beijo que começou inocente transformava-se em algo veloz, diferente. Mas acima de tudo, doce. De súbito, a cicatriz de Harry ferveu. A dor era enorme, mas ainda assim, ele não soltava Ametista. 

A lua parecia que observava, assim como as estrelas. De repente, um vaso acima de uma das mesas da sala comunal quebrou-se, fazendo um incrível estrondo. Sem fôlego e num susto, os dois desgrudaram-se e encararam-se, impressionados. Nenhum sabia ao certo o quê dizer ao outro. Fora tão surpreendente e maravilhoso que não haviam explicações a serem dadas. Ametista, sem outra coisa para pensar, saiu correndo da sala comunal, deixando Harry e sua capa no chão. O vaso estilhaçado e uma certa agitação no andar de cima fizeram Harry "despertar" do transe, colocar a capa de Ametista e subir rapidamente para o quarto.     

         Enquanto isso, a garota tentava colocar as idéias em mente. Imaginando que Hermione estaria na porta do dormitório à sua procura, entrou sorrateiramente pelo banheiro e depois escorregou até a cama. O dossel estava fechado e entrou rapidamente. Ainda ofegante e trêmula, custava a entender o quê a levara a beijar Harry Potter. Era tanto ódio entre eles que a atração seria algo impossível. Entretanto, na verdade, fora o momento mais feliz de sua vida. Sentira-se protegida. E não mais sozinha. Levou os dedos aos lábios ainda umedecidos admirada com tal postura de Harry e sorrira satisfeita. Fora a melhor noite de sua vida. A melhor meia-noite passada em claro.

         No dormitório, Harry viu Rony mexer-se agitado e Dino e Simas acordados. Comentavam sobre o estrondo. Devagar, abriu seu dossel, que permanecia fechado e entrou pelo lado onde Neville roncava, assim ninguém o veria. Enfiou-se debaixo das cobertas e colocou a capa de Ametista junto ao corpo, para não desconfiarem. Sentiu o cheiro da garota ainda em sua roupa e sorriu. Havia sido uma noite agitada. Conversa com Dumbledore, com Ametista, discussão, apuros com a professora Minerva e Hermione e, por final, o melhor. Seu primeiro beijo. E não haveria de ser diferente. Até mesmo a cicatriz doeu! E quem diria: Ametista. A tão odiada neta de Dumbledore. Fora inesperado, fora surpreendente, fora com a última pessoa possível, fora com muito nervosismo, fora forte, fora vibrante, fora emocionante, fora único, mas acima de tudo, fora mágico.

***

Subitamente, Dumbledore despertou desesperado e murmurou temeroso a si mesmo:

         - Ele a encontrou!