CAPÍTULO VINTE E SEIS – O DUELO

Após a vitória sobre a Sonserina, a Grifinória disparou na contagem de pontos no Campeonato das Casas. A festa daquela noite iria até bem mais tarde, se dependesse dos alunos. Mesmo Hermione não estava ligando para a gritaria dentro da sala comunal. Sentada num dos sofás ao lado de Rony, o garoto segurava a sua mão.

         - Até quando Mione? Eu estou cansado de ter de esconder isso de todo mundo!

         - Rony, francamente! – ralhou a garota exasperada. – Nós estamos namorando há dois dias!

         Harry estava sentada ao lado dos amigos e ria da situação. As orelhas de Rony tornavam-se vermelhas.

         - Eu quero ficar junto de você, mas não posso porque você não quer que descubram!

         - Eu não quero discutir sobre isso de novo Rony!

         Nesse momento, Ametista entrou na Torre da Grifinória. Ela tinha um pequeno curativo na testa. Todos pularam em cima da garota.

         - Eu preciso respirar! – gritou Ametista, sentindo-se sufocada com as centenas de abraços e tapas nas costas que recebia.

         Harry levantou de súbito e disse aos amigos:

         - Por que vocês não pegam as nossas capas novamente? Assim não vou precisar ouvir vocês discutindo.

         - E perder essa festa? – indagou Rony, fazendo Hermione enfurecer-se.

         - Então quer dizer que essa festa é melhor do que ficar comigo, não é? – retrucou nervosa, enquanto Ametista chegava mais perto.      

         - Oi pessoal... – ia cumprimentando a garota, quando Hermione correu para o dormitório.

         Antes que Ametista pudesse perguntar o quê havia acontecido, Colin Creevey veio ao seu encontro, carregando sua máquina fotográfica, dizendo agitado e com os olhos brilhando:

         - Harry, Harry! Por favor, junte-se com a Ametista! Quero uma foto com os apanhadores da Grifinória!

         Eles entreolharam-se e, diante de tanta persistência do garoto, resolveram aceitar, colocando-se um ao lado do outro. Colin bateu a foto e, assim, instantaneamente ela saiu.

Enquanto Ametista logo subia atrás de Hermione, Harry fez questão de ir até Colin e pedir que ele desse uma cópia da foto. Queria guardá-la. Ametista, por sua vez, encontrou a garota na cama.

         - Por favor, hein! Não sei mais porque você quer esconder isso Hermione! O Rony já mostrou que gosta de você! 

         A garota levantou-se do leito e encarou-a:

         - E você? Você também não pode falar nada!

         Ametista apertou os olhos.

         - O que?! – perguntou confusa.

         - Você fica evitando o Harry depois daquela noite! Só agora que vocês estão trocando algumas palavras...

         - Não mude de assunto, Hermione! E... como você sabe disso?

         - Você acha que eu não iria descobrir?!

         - O Potter te falou alguma coisa?

         - É claro que falou!

         Ametista ficou calada por um tempo e depois abriu uma gaveta, tirando de dentro dela seu diário.

         - Pegue-o. – e jogou-o em cima de Hermione, que o encarou curiosa.

         - O que você quer que eu faça com isso? – indagou perdida.

         - Pense no Rony – Hermione franziu as sobrancelhas. – Faça o que estou dizendo! – ordenou Ametista.

         Imediatamente, o diário passou de azul claro para um forte vermelho. Hermione arregalou os olhos:

         - O que isso quer dizer?

         - Esse diário tem um poder de nos revelar nossos sentimentos. Eu tenho ele desde que nasci, pelo menos é o que eu me lembro. Meu avô disse que foi da minha mãe.

         - Ele o quê? – desacreditou a monitora.

         - Ele muda conforme as suas emoções. Por exemplo, quando eu lembro do meu avô, ele fica azul claro. Ou quando eu penso na minha mãe, ele fica rosa claro...

         - E o que isso significa?

         - Quando o diário fica vermelho, é porque você gosta dessa pessoa em que você está pensando. Por isso que, quando você pensou em Rony, o diário ficou vermelho como sangue. Porque você é apaixonada por ele.

         Hermione ofegou surpresa e desceu rapidamente as escadas para a sala comunal. Encontrou Rony conversando com Neville, Dino e Harry.

         - Harry, você poderia me emprestar a sua capa?

         Rony observou e respondeu baixinho em seu ouvido:

         - Já disse que não vou sair daqui hoje! – reclamou bravo.

         Hermione pegou ar e coragem. Em seguida, agarrou o pescoço do namorado e deu-lhe um beijo. De forma engraçada, todos os garotos ficaram vermelhos e riram. Rony a empurrou de leve e ela pôde ler em seus lábios ele perguntar confuso: "O que você está fazendo?". A garota abriu um sorriso e o beijou novamente. Quando terminado, Hermione notou o que acabara de fazer e corou furiosamente. Fred e Jorge aproveitaram e começaram a caçoar. Ametista desceu as escadas também e assistiu a tudo. Harry foi até ela.

         - Como?

         - Ela só precisava de um empurrão.

         Gina dava pulos de alegria. Sempre desconfiara que o irmão gostava de Hermione. Harry viu a garota sorridente vir em sua direção.

         - Eles não são lindos juntos?

         - É, eles são. – concordou Harry.

         Em seguida, o garoto lembrou de como era bom beijar alguém. Virou-se para o lado direito e encontrou Ametista. Novamente, a vontade de agir o tomou. Porém, as palavras de Rony tornaram a passar pela sua mente e virou-se para o lado esquerdo e encontrou Gina. Ela era tão bonita...

***

Mesmo faltando apenas quatro semanas para o fim do ano letivo, todos se sentiam muito pressionados com os N.O.M.s tão perto. As aulas estavam mais pesadas e os professores faziam questão de ficar lembrando a todos do que os esperava naquela semana. Porém, isso não apagava o fato de que Ametista e Harry permaneciam sem estudar e se odiar. Numa aula da professora Minerva, Ametista recusara-se a fazer uma transfiguração junto de Harry, que a vinha provocando, e então ambos tiveram mais uma detenção para a coleção. Hermione ficava todos os intervalos de aulas e fins de semana na biblioteca, revisando tudo o que podia ou não ser pedido. Rony agora ficara bastante furioso, já que a namorada sequer ligava para ele.

         No início da penúltima semana de aulas, Lupin chamou Harry e Ametista ao final de sua aula. Os jovens se aproximaram, carregando seus livros e mais alguns que Hermione os obrigará a ter para os testes dali praticamente cinco dias.

         - Nós queríamos realizar isto mais cedo, porém com os N.O.M.s, nós tivemos de nos concentrar nas tarefas para os seus testes. – dizia o mestre que vinha com a expressão cansada há três dias.

         - Não entendi. – afirmou Harry curioso.

         - Nem eu nem Arabella pudemos avisá-los antes, acreditem, mas vocês devem se lembrar do teste que passaríamos a vocês, não é mesmo? – Harry trocou um olhar com Ametista. – Vocês teriam de se enfrentar para testar os conhecimentos adquiridos em nossas aulas especiais.

         - Ah não! Pensei até que vocês haviam esquecido disso! – resmungou a garota aborrecida. – Eu ainda vou ter de lutar com esse aí? – Ametista apontou para Harry ao seu lado, que fez uma careta.

         - Sim, vocês vão terão de se enfrentar – Lupin pôde ver as expressões horrorizadas de ambos. – Qual é o problema?

         - Será uma matança! – exclamou Harry nervoso. Ele e Ametista vinham brigando mais do que nunca. – Nós dois já estamos há muito tempo esperando apenas uma chance para...

         - Eu não quero ouvir o resto! – irritou-se Lupin de uma forma que Harry nunca havia visto. Ele estava... impaciente. – Será nesta sexta-feira, às nove horas, nos jardins ao lado do lago! Entenderam?

         - Mas é o dia dos N.O.M.s! – exclamou Harry preocupado.

         - Sem mais perguntas. – respondeu Lupin, finalizando a conversa.

         Tanto Harry quanto Ametista não tentaram responder. Saíram da sala ligeiramente assustados. Quando estavam no meio do corredor, Ametista falou:

         - Ele estava nervoso, não?

         Harry virou-se para a garota.

         - Sou apenas eu, ou você também reparou que ele e a Arabella estão agitados demais com esse negócio... esse teste?

         Ametista agitou a cabeça concordando com o garoto. Seguiram até a masmorra para a aula de Snape. A porta da sala já estava fechada quando os dois adentraram discretamente na sala. O professor parecia bem aborrecido.

         - Dez pontos a menos para a Grifinória pelo atraso. Onde estavam?

         - O professor Lupin tinha um recado para nós e... – ia respondendo Ametista quando ele a interrompeu.

         - Não quero saber! Menos cinco pontos para a Grifinória por falar em hora indevida! – exclamou Snape alterado.

         Ametista ficou boquiaberta.

         - Mas o senhor acabou de perguntar onde estávamos! – retrucou.

         Snape parecia exasperado, mas queria logo acabar com uma possível discussão. Ametista não tinha medo de enfrentá-lo e Snape não queria perder o controle na frente dos outros alunos.

         - Srta. Dumbledore, vá sentar-se com o Sr. Weasley e ao final da aula combinamos as suas detenções.

         - Detenções?! – surpreendeu-se Harry.

         - Isso mesmo, senhor Potter. A sua e a dela! – finalizou Snape, agitando suas vestes negras.

         Ametista e Harry trocaram um olhar raivoso para com o mestre e foram se sentar.

***

- O que?! Mas vocês não têm tempo para detenções e testes ridículos! – ralhou Hermione enquanto almoçavam, sobre os N.O.M.s.. 

         - Você fala como se fosse nossa culpa Hermione! – retrucou Harry. – Vá falar então com o Lupin, ou quem sabe com o Snape!

         - Eu só estou imaginando como será esse nosso teste Potter. Não estou com um pressentimento bom... – disse Ametista devagar.

         - Talvez você saiba que a morte está próxima! – respondeu o garoto nervoso.

         Ambos tinham discutido novamente na aula do professor Binns e estavam trocando farpas desde que saíram da sala de aula. Hermione e Rony não agüentavam mais as trocas de acusações.

         - Cale a boca, Potter! – respondeu Ametista.

         Rony e Hermione trocaram olhares e deixaram a mesa e os dois jovens propícios a uma nova discussão. Ao meio do corredor, Rony parou a garota e deu-lhe um beijo. Fazia pelo menos um dia em que eles não se tocavam, Hermione estava mais estudiosa que nunca.

         - Eu estou cansado daqueles dois sabe. – disse o garoto, em meio ao beijo com a namorada.

         - Eu também. Que bom que eu tenho você. – respondeu Hermione e Rony pôde perceber em seus lábios encostados que ela sorrira.

         - Sinto muito interromper esse momento tão lindo, mas será que vocês poderiam sair do meu caminho? – disse uma voz arrastada.

         Imediatamente, Hermione soltou-se de Rony e encontrou os olhos acinzentados de Draco Malfoy os observando.

         - Então toda aquela história de vocês se casarem era verdade. Bom, vocês se merecem mesmo. – debochou o garoto, em olhar superior.

         Hermione pareceu lançar um sorriso irônico.

         - Engraçado Malfoy, mas você está sozinho e não tem ninguém para rir das suas piadas – disse olhando envolta de Draco. – O que aconteceu? Os trasgos o abandonaram depois de perder a final de quadribol?

         - Você não sabe de nada, sua sangue-ruim! – alterou-se o garoto.

         Rony velozmente partiu para cima de Draco e o empurrou fortemente. O garoto cambaleou para trás e trombou com alguém.

         - Malfoy! Olhe por onde anda! – gritou Ametista, acompanhada de Harry.

         Draco não chegou a cair, mas virou-se para trás e encarou aqueles olhos azuis raivosos. Ametista e Harry acabavam de discutir e resolveram sair da mesa, seguindo para o mesmo corredor.

         - VOCÊ! – exclamou Draco, parecendo bem descontrolado. O garoto levantou os braços largados e postou-os sobre os ombros de Ametista, os apertando intensamente. – Você não cumpriu sua parte! Não cumpriu! 

         Rony era segurado por Hermione enquanto Harry observava a conversa entre um Draco bastante alterado e ligeiramente cambaleante, e Ametista.

         - Me largue! – gritou, mas Draco não a obedeceu e apertou os ombros com mais força ainda. Ametista prosseguiu, vendo que Draco não faria o que ela pedira. – Eu não tinha nem concordado, esqueceu?! Será que a derrota para mim te fez queimar todo o cérebro?! – retrucou Ametista. – Sem contar que você já devia se dar por satisfeito, já que quase me matou no ar!

         - Como me arrependo de não ter conseguido! – respondeu o garoto. –Isso me faz lembrar que tenho algo para fazer, não é mesmo? – cutucou Draco, e Ametista sabia que ele estava falando sobre Gina. – Mas por sua causa, eu não tenho para quem contar! Ninguém quer me ouvir!

         Hermione, Rony e Harry entreolharam-se. Draco Malfoy estava mesmo dizendo que ele estava sozinho, sendo ignorado até mesmo pelos trasgos que andavam com ele?

         - Oh! Vai me dizer que ninguém mais quer saber de você?! Ah! Por que será mesmo, não é?! Talvez porque todos tenham percebido que você é um fraco, um idiota que só sabe tirar proveito das outras pessoas! – Ametista parecia bem nervosa também.

         Harry pôde observar que os olhos dela brilhavam como quando ele e ela discutiam. "O que ele está fazendo com ela?", pensou Harry, nervoso.

         - EU NÃO SOU UM FRACO! EU SOU MUITO MELHOR QUE TODOS VOCÊS! – e o garoto girou em torno do corpo, apontando para os quatro ao seu redor. – E quanto a você – ele abaixou o tom de voz e desceu as mãos dos ombros para os braços, os apertando densamente. Harry podia imaginar que deveria estar doendo bastante. – Eu posso te garantir que logo poderei rir vendo que terei minha vingança. EU TE ODEIO!

         - Não me incomodo! Mas para a sua informação, eu não odeio você Malfoy! Eu tenho pena! – Draco cerrou os olhos e Ametista aproximou seu rosto do de Draco, quase encostando seu nariz no dele. – E isso, eu posso te garantir, é bem pior.

         Draco parecia que iria rugir como um leão e estuporar Ametista naquele corredor, se estivesse ao alcanço de sua varinha. Harry continuava a observar e pensar, bastante nervoso, sobre uma possível reação de Draco. Pegou-se pensando, e balançou a cabeça surpreso: "Se ele encostar um dedo nela, eu juro que acabo com ele!".

         Draco tinha quase a mesma altura de Harry. Seus olhos tinham de estar abaixados para encarar Ametista. Entretanto, os dois pareciam que estavam tão colados e cheios de ódio que, num impulso absurdo e sem qualquer medida, Draco juntou seus lábios com os de Ametista.

         Imediatamente, Harry sentiu um fogo subir de seus pés até a ponta dos fios de seu cabelo. "O QUE ELE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!".

         Hermione e Rony permaneceram estáticos, observando Draco beijar Ametista. Parecia um pesadelo!

A garota sentiu uma forte carga elétrica por todo o corpo e arrepiou-se junto com Draco, que também se surpreendeu por sentir tal sensação que poucas até hoje já tinham provocado nele – podia-se incluir Gina, e com louvor. Ametista levantou ambas as mãos e começou a dar socos no peito do garoto, querendo que ele parasse. Mas ele insistia em beijá-la.

Imediatamente, Hermione viu Harry ficar vermelho e ser tomado por uma força impressionante, arrancando Draco de Ametista. Porém, antes dos lábios do garoto descolarem dos da menina, Draco mordeu com intensidade o lábio inferior da boca de Ametista, que deu um pulo para trás e levou a mão direita à região. Ela sangrava. Parecia até que Draco havia arrancado-lhe um pedaço. E para a surpresa de Rony e Hermione, que olhavam a cena atônitos, Harry virou Draco de frente para ele e deu-lhe um soco furioso, que lançou Draco contra a parede do corredor. Harry parecia ter enlouquecido.

- NUNCA FAÇA ISSO DE NOVO, MALFOY! – vociferou Harry, de um jeito que faria qualquer um tremer fortemente.

Ametista tentou falar, mas ainda com muita dificuldade, já que o lábio parecia ter anestesiado toda a boca de tanta dor.

         - O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, SEU MALUCO! – esbravejou a garota descontrolada, com os dedos nos lábios.

         Draco estava encostado na parede, mas pôde ainda ouvir a garota gritar e pôde responder, antes que o soco de Harry o fizesse desmaiar:

         - Era o único jeito de te fazer calar a boca!

         E, em seguida, Draco sentiu uma ligeira falta de ar e tudo escureceu. Hermione correu para cima do garoto.

         - Ai Deus! Ele desmaiou! – e virou-se para Harry. – Não precisava bater tão forte Harry!

         O garoto estava ofegante, encostado na parede oposta observando o que acabara de fazer. E ainda sentia algo queimá-lo por dentro. "Por que você fez isso? Você está com ciúmes dela?! Da Ametista?!". Virou-se para ela e a garota caiu no chão, apoiando a queda com os dois braços. Cuspiu sangue. Parecia que Draco havia feito muito mais que morder seu lábio. Parecia ter jogado algo dentro da boca de Ametista que a fazia sangrar muito.

         Harry correu até ela e ajoelhou-se também.

         - Vamos, você precisa cuidar da sua boca. – disse Harry em tom preocupado, estendendo-lhe a mão.

         Ametista tinha a mão direita na boca e jogou a mão esquerda na de Harry, que a ajudou a levantar do chão. Sentiu um novo choque percorrer o corpo, um pouco mais intenso. Largou rápido da mão do garoto e disse:

         - A Hermione vai comigo.

         Harry concordou, um pouco contra a própria vontade, e chamou Hermione que, surpreendentemente estava preocupadíssima com Draco.

         - Nós o levamos até a enfermaria, Mione. – disse Rony.

         Hermione levantou-se do chão e seguiu com Ametista para o banheiro feminino. Harry aproximou-se de Rony, que estava parado ao lado do desacordado Draco.

         - Então, vamos levá-lo para a Madame Pomfrey e...

         - Por mim, ele poderia ficar aí! – resmungou Harry num impulso.

         Rony tornou-se para o amigo, estampado.

         - Que diabos deu em você, Harry? Nunca vi você tão furioso – e parou ligeiramente. – Certo, talvez em algumas brigas com a Ametista e quando você viu o Sirius pela primeira vez, mas você estava realmente furioso!

         Harry respirou fundo e apenas respondeu:

         - Vamos levar ele de uma vez.

***

Na sexta-feira de manhã, foram realizados os Níveis Ordinários de Magia, onde os resultados somente seriam publicados dali uma semana. Hermione parecia incrivelmente confiante e dizia ao namorado, Rony, e Harry, no meio do almoço:

         - Sabe, eu pensava que eles seriam muito mais difíceis! Mas agora, vi que não era tão tenebroso quanto eu imaginava!

         - Só se for no seu caso Mione! Eu acho que fui um desastre! – comentou Rony visivelmente chateado.

Harry achou que não se concentrou totalmente para os N.O.M.s, e assim, não conseguira atingir a pontuação máxima, pensava. Estava bem mais preocupado com o teste de mais tarde. O duelo entre ele e Ametista estava mais perto que nunca, e ele tinha de admitir que as suas pernas tremiam só de pensar no que poderia ser daquela noite.

Ametista, por sua vez, tentou ao máximo desvencilhar-se de Draco no salão principal, nas aulas com a Sonserina, em qualquer lugar do castelo. Quanto a Harry, ela ainda não descobrira por que ele reagira daquele jeito. Corria sempre de seus olhares durante o jantar, ou nas aulas em conjunto. Entretanto, não poderia fugir dele pelo resto de sua vida. Sabia que naquela noite, teria de enfrentá-lo olhando em seus olhos, com toda a coragem que ainda lhe restava. Porém, a lembrança de ambos os choques que sentira com os garotos ainda a intrigava.

         Eram nove horas. Nem Harry nem Ametista jantaram. Juntos de Rony e Hermione, seguiram para o jardim de Hogwarts, ao lado do lago da lagosta gigante. Encontraram Lupin e Arabella conversando baixinho. Ambos pareciam bastante agitados. Ao verem os alunos, Arabella veio ao seu encontro.

         - Que bom que chegaram! Estávamos ansiosos! – a professora parecia estar muito animada.

         Os quatro se aproximaram de Lupin. Não havia nada de diferente, apenas por uma parede transparente que dividia o jardim em dois lados, paralela ao lago.

         - Agora que estão aqui, iremos explicar como funcionará a prova de vocês, certo? – todos permaneceram calados. – Eu e Arabella conversamos muito e decidimos que realmente seria melhor que vocês não se enfrentassem diretamente.

         - Bom, vamos dizer que temos muitos motivos para achar que seria muito perigoso colocar um para duelar contra o outro. – completou Arabella sorrindo timidamente.

         Harry e Ametista trocaram um olhar depois de cinco dias e pareciam decepcionados.

         - Mas, Bella, como vai ser então? – perguntou Harry.

         - Criamos três etapas para vocês provarem que aprenderam muito em nossas aulas – explicava a mestra. – Na primeira etapa, vocês deverão enfrentar uma criatura e derrotá-la. Na segunda, vocês não irão derrotar, mas sim espantar, ambos com o mesmo feitiço. E na terceira e última, irão duelar.

         Ambos não tinham entendido muito bem, parecia uma espécie de enigma, mas preferiram não dizer nada. Lupin chamou então Ametista para um canto, enquanto Arabella fez o mesmo com Harry.

         - Lembre-se de tudo que praticamos certo? Seja corajoso. – disse a mestra em tom delicado para o afilhado.

         Harry arriscou um sorriso e abraçou a madrinha.

         Lupin, por sua vez, disse a aprendiz:

         - Você enfrentará coisas que antes só imaginara. Então, siga tudo o que fizemos e você se sairá muito bem. Não pense em desistir! – apoiou o professor, dando um beijo carinhoso na testa de Ametista, que sentiu um calor paterno e reconfortante, parecendo bem conhecido, apenas esquecido.

         Harry e Ametista tomaram suas posições. Harry ficou do lado direito da parede transparente, enquanto Ametista tomou o lado esquerdo, na margem do lago.

         - Podem ir! – gritou Arabella, agitando sua varinha em torno do jardim.

         Quando deram um passo para frente da parede transparente, não puderam mais ver o lado oposto. Era como se fosse uma parede verdadeira, não permitindo que um visse o que o outro realizaria.

         De fora, Hermione, Rony e os professores podiam ver com clareza ambos os competidores antes de entrarem na área da parede transparente. Lupin levantou a cabeça e encarou o castelo. Pôde ver numa das janelas bem ao alto que um homem velho assistia a tudo. Dumbledore estava observando com atenção.

         Rapidamente, Sirius apareceu ao lado de Arabella e perguntou:

         - Como estão indo?

         - Eles acabaram de entrar Sirius. – disse a professora, apertando seus dedos contra a palma da mão.

         - Você tem certeza que nada vai acontecer ao Harry? – indagou o homem com a expressão inquieta.

         - Não Sirius, nada irá acontecer a nenhum dos dois. – confirmou Arabella, olhando dentro dos olhos de Sirius.

***

Harry caminhou cerca de dez metros e o seu lado do jardim estreitou-se, fazendo-o entrar num corredor. Estava num labirinto. O corredor possuía curvas e ao passar de cinco minutos, Harry já havia destruído cerca de vinte diabretes com certa facilidade. Entretanto, num piscar de olhos, o corredor tornou-se uma grande sala de paredes roxas e o céu escuro sobre seus cabelos. Um vento gelado tomou o corpo de Harry e, quando menos esperou, ouviu um estrondo em suas costas.

         Virou-se bruscamente e encontrou uma criatura de no mínimo cinco metros de altura, parecendo um grande trasgo, porém Harry sabia que não era um, já que ele possuía um comprido rabo escamoso de dragão, dois pares braços recheados de espinhos e o corpo repleto de pêlos escuros.  

         O estranho animal soltou um grunhido alto, que quase fez Harry ensurdecer-se. Sentiu-se ligeiramente tonto e notou então que essa era a idéia do animal. O enorme "trasgo-dragão" veio em sua direção, os quatro braços tentando alcançar o pequeno estudante bem embaixo de sua nariz.

         Harry pulou para trás e correu até um dos cantos da sala roxa, pensando no que seria aquilo. Então, lembrou-se da madrinha:

         "Um dos animais famosos incluídos neste grupo é o Dratroll, uma mistura de trasgo com dragão, perigosíssimo, já que seu rugido tem o poder de ensurdecer o oponente por um curto período de tempo e deixá-lo tonto, para que corra até sua presa e a domine, a tempo de digeri-la ainda viva".

         - Claro, um Dratroll! – exclamou Harry entusiasmado. – Mas que raio de grupo é esse que ele faz parte?

         Sem ao menos pensar novamente, o Dratroll soltou um novo rugido, fazendo Harry ter tonturas e cambalear contra a parede. Tentou gritar, mas sequer ouviu sua voz. "Ele me deixou surdo!", resmungou em sua mente.

         O animal voltou a correr pesadamente atrás de Harry, encurralando-o contra a parede. O garoto percebeu quando o Dratroll levantou o seu escamoso rabo de dragão e jogou-o contra Harry.

         - Impedimenta! – gritou o garoto, mesmo sem ouvir a voz.

         Imediatamente, o rabo do Dratroll parou no ar a poucos metros do corpo tonto de Harry. Entretanto, o animal parecia bem mais forte que um simples feitiço e conseguiu se desprender, agitando o rabo contra Harry, fazendo o garoto ser arremessado para a parede oposta da sala. Harry parecia desmaiar. A dor fora tão forte que as suas costelas pareciam ter partido todas de uma só vez. "Ah, você já teve quedas piores que esta Harry! Levante e lute!" – o garoto ouviu a voz de Arabella no fundo de sua mente. Realmente, a queda no jogo contra a Corvinal naquele ano havia feito uma lesão em seu pulso esquerdo. Caíra de bem mais alto e com muito mais força.

         Com isso, Harry tentou levantar-se e a voz de Arabella veio à sua mente mais uma vez: "O próximo grupo que iremos estudar são os mistos, que foram criados pelos bruxos do século treze. São animais de grande porte e que possuem uma forte aversão a fogo".

         - Claro! Fogo! – Harry ouviu bem no fundo sua voz, parecia estar voltando.

         "No caso específico do Dratroll, você deve acertar num ponto certo. Entre de seus dois pares de braços, há um ponto vital. Você deve acertá-lo bem ali!". E assim, Harry teve sua grande idéia.

         - Accio Firebolt! – gritou e pôde ouvir com clareza as palavras.

         Enquanto isso, o Dratroll vinha em sua direção novamente. Harry começou a correr envolta do animal, deixando-o tonto, correndo atrás do próprio rabo. Logo, Harry ouviu um zumbido e viu a vassoura pousar em sua mão direita. Subiu alto e voou rápido, deixando o Dratroll confuso. Quando o animal estava ficando demasiadamente enfurecido, Harry tomou a varinha entre os dedos e gritou, apontando-a para o meio de seus quatro braços:

         - Incendio!

         Rapidamente, o animal deu um grito estridente e caiu no chão, morto. Harry havia vencido a primeira etapa do duelo.

***

- Harry completou a primeira tarefa. – disse Arabella, abrindo os olhos como se despertasse de um transe.

         - Mesmo?! Eu sabia que ele conseguiria! – festejava Sirius.

         Hermione e Rony abriram sorrisos. Estavam muito curiosos para saber que tipo de desafios ambos enfrentariam. Lupin parecia preocupado. Sirius virou-se para o amigo, que olhava para o nada.

         - Ande Remo, comemore! – Arabella deu um cutucão em Sirius. – Oh! A sua queridinha aluna anda com problemas, é?

         O professor permaneceu calado. Sabia que o combinado seria testar os alunos, mesmo que fosse para testar o físico de Harry e a mente de Ametista.

***

Assim como Harry, Ametista caminhara cinco minutos por um corredor, que ao contrário de Harry, tinha de um lado a parede, e do outro o lago de Hogwarts. Enfrentou kappas pelo caminho e, ao passar por todos, entrou em uma porta logo à frente.

         O âmbito que acabara de adentrar estava completamente escuro. Não se conseguia nem observar o céu da noite. O lugar era quente e Ametista começara a acostumar os olhos diante de tamanha escuridão.

         - Lumus! – disse, e a ponta da varinha prata acendeu.

         As paredes do lugar eram todas de madeira, assim como o teto e o chão. Era uma sala retangular, sem possuir nenhuma fresta ou janela. Ametista começara a sentir-se sufocada. Olhou envolta e nada encontrou.

         - Que lugar é esse?! – espantou-se curiosa.

         Entretanto, para sua surpresa, viu uma porta se abrir no fundo de uma das paredes de madeira. Andou obstinada a encontrar alguma pista do que deveria fazer ali, mas quando chegou perto, nada viu. Não havia sequer uma porta! A garota engoliu e sentiu a garganta seca.

         - Eu me sinto presa aqui dentro. Parece até que me trancaram num armário e jogaram a chave fora! – brincou por um momento.

         Foi então que uma luz acendeu em sua mente e virou rapidamente as costas. Um grande espelho estava postado diante dela, majestoso e tomando a parede de madeira de cima a baixo.

         - Eu estou num armário! – apavorou-se ao ver a própria imagem no espelho.

         Virou-se novamente e correu contra o lado do enorme espelho, encolhendo-se contra uma das paredes de madeira. Estava trêmula e fechou os olhos velozmente. Ouviu uma voz em sua mente: "Você tem de enfrentar seus maiores medos para vencer! Enfrente-o ou perderá!".

         - Professor? – indagou para ninguém, mas aquelas palavras ficaram em sua cabeça. – Como eu faço isso?

         Lupin sabia que Ametista estava desesperada. Por mais idiota que parecesse a idéia de fugir de um espelho, ele sabia que poderia ser o fim do mundo para a garota.

         "Você terá de descobrir sozinha!". Ametista sabia daquilo e, num impulso, levantou e tomou a varinha nas mãos. Aproximou-se devagar e viu a própria imagem estampada na muralha à frente. Ofegante, ela notou que o próprio peito subia e descia conforme sua respiração. E foi tão mais rápido que apareceu em suas costas a imagem que mais temia.

         Um vulto negro, as vestes ensopadas, o rosto encoberto. Ele pareceu caminhar na direção da garota, com ambos os braços estendidos para frente, como se quisesse abraçá-la. Ametista sente as pernas amolecerem e os pulsos doerem intensamente embaixo das faixas azuis, como se fossem ser cortados sozinhos apenas pela força que aquele homem exercia sobre ela. Postou-se bem atrás de Ametista e apoiou a cabeça em seu ombro esquerdo.

         - Ninguém poderá ajudá-la – disse em seu ouvido em quase um sibilo. Ametista pôde sentir a respiração do ser em seu pescoço e sentir nojo. – Somente eu!

         O homem gritou nesse momento, levantando os braços sobre Ametista, a cobrindo de forma rápida com a veste negra e molhada. Ametista sentiu o corpo congelar-se diante da água que encharcava a capa do homem que a envolvia. Como num estalo, sentiu uma varinha ser encostada em suas costas e imediatamente empunhou a sua varinha mágica e gritou:

         - RIDDIKULUS!

         Em seguida, o homem sumiu envolto em uma nuvem, assim como o enorme espelho e as paredes de madeira. Viu-se no mesmo corredor novamente. Tinha as roupas ligeiramente coladas no corpo, já que a água da capa do homem a havia molhado. Ainda ofegante, olhou para frente e sentiu um frio cortante possuir todo seu corpo e concentrar-se na espinha. Havia algo logo à frente e ela deveria seguir e enfrentar, o que quer que fosse.

***

- Ela conseguiu! – disse Lupin em um tom calmo e feliz ao mesmo tempo. Arabella, Hermione e Rony viraram-se para o professor. – Ametista realizou a primeira tarefa.

         Hermione e Rony sorriram. Arabella voltou-se para onde estava. Ela queria também que Ametista conseguisse realizar tudo o que era imposto, mas ainda torcia pelo afilhado.

         - Mas quem era aquele homem? – interrogou Lupin para si mesmo.

         - Que homem Remo? – Sirius estava ao seu lado e indagou curioso.

         Lupin voltou-se para olhar Sirius e ficou durante um tempo pensativo. Depois respondeu:

         - Nada, esqueça.

         Com isso, Lupin saiu do gramado do jardim e foi em direção ao castelo. Arabella nada falou e Sirius enrugou a testa estranhando.

         - Aonde você vai?! – gritou para o amigo, que já estava longe demais para sequer ouvir.

***

O corredor estava novamente estendido à frente de Harry. Ele continuou, tendo de enfrentar alguns vampiros pelo caminho. Até chegar numa nova abertura do corredor. Parecia que estava no meio da Floresta Proibida, já que árvores e pinheiros diversos circundavam a sua volta. O chão era de terra batida e seguia-se uma trilha. Harry preferiu acender a varinha e prosseguir até onde pudesse ir. Caminhou por no máximo dez minutos e encontrou, surpreendentemente, uma cama ao final da trilha.

         "Descanse por meia hora

          A estrada pode ser tortuosa

          E todos precisamos de um repouso"

         "Que bilhete mais estranho" – pensou Harry. De fato, suas costas ainda doíam. O Dratroll havia realmente feito um bom arremesso de Harry com o rabo de dragão contra a parede. E também suas pernas estavam hesitantes em caminhar ou mesmo ficar em pé. Havia a cabeça, que ainda rodava levemente. E não havia nada que o impedisse de descansar um pouco. "Senão, não teriam colocado esse bilhete".

         Primeiro sentou e ficou assim por dois minutos. Olhou para os lados atento e deitou-se por completo na cama. Era macia e parecia que tinha algum poder de aliviar qualquer tipo de dor que poderia estar sentindo. Harry aproveitou e esparramou-se no leito tão confortável.

         - Será que a Dumbledore também conseguiu uma cama para ela? – perguntou-se, pensando na estudante da Grifinória que também estava realizando aquele teste.

         Começou a pensar em diversas coisas como seus pais, em seus melhores amigos Hermione e Rony, agora namorados, o padrinho Sirius, a querida madrinha Arabella que mostrava cada dia mais ser uma ótima mãe, Gina e seu divino charme, a noite do beijo com Ametista. Quando percebeu, já estava sonhando com o diretor de Hogwarts, anunciando que a Grifinória acabara de ganhar novamente o Campeonato das Casas. Adormeceu.

         Ouviu bem no fundo de seu sonho um farfalhar distante e não se incomodou. Harry virou-se de posição e continuou a ouvir o farfalhar, agora mais próximo. O garoto ajeitou-se de forma mais confortável e abriu os olhos rapidamente e logo os fechou. Porém, por mais rápida que fosse sua visão do exterior, vira algo negro no pé da macia cama em que estava descansando.

         - O que é isso? – perguntou bem baixinho para si mesmo.

         A coisa continuava a se aproximar, enquanto Harry fingia estar adormecido. Sentiu um manto de folhas cobrir suas pernas até a região da cintura e lembrou-se das aulas de Lupin e dos treinos com Arabella.

         "É a Mortalha-Viva!". Harry deu um pulo imediatamente quando sentiu o manto lhe cobrir até a metade do peito. Em resposta, o animal pareceu se esticar e cobrir a cabeça de Harry, tentando de qualquer maneira sufocá-lo.

         "O único modo de espantar a Mortalha-Viva é usando o feitiço do Patrono", lembrou Lupin explicando em meio à turma da Grifinória.

         - Tente pensar em algo bom, rápido! – gritou Harry meio sufocado para si.

         Enquanto Harry sentia que perdia o pouco ar que ainda lhe restava nos pulmões tentou visualizar uma imagem boa, uma sensação que o fizera se sentir muito bem. Imaginou primeiro os pais, mas não deu certo. Depois Hermione e Rony juntos, algo que o fizera muito feliz. Entretanto, parecia que a força da Mortalha era muito maior que a própria força de sua mente e sentia que o cérebro estava precisando rapidamente de oxigênio. Sentia que ia desmaiar. E veio à sua mente a melhor coisa que acontecera com ele naqueles últimos tempos.

         Relembrou seu beijo com Ametista. Apesar de lutar contra o sentimento de felicidade ao pensar em quem odiava tão profundamente, Harry empunhou a varinha e gritou:

         - EXPECTO PATRONUM!

         E Harry conseguiu. Da ponta de sua varinha, foi conjurado um perfeito cervo, prateado e belo, espantando a Mortalha para longe do garoto e o permitindo sentir novamente o ar entrar pelo seu nariz. Ofegante, Harry admirou-se por ter feito seu melhor Patrono até aquele dia. Ficou por um momento sentado na cama, pensando nos pais, principalmente no pai. Depois se levantou e viu-se no mesmo corredor. Porém, havia alguém mais à frente. Alguém conhecido. Alguém que deveria duelar contra. Harry aproximou-se e espantou-se:

         - Bella?

***

Ametista seguiu por mais quinze metros e caiu novamente numa das aberturas estranhas do corredor. Entretanto, desta vez, ainda tinha a parede ao seu lado direito e o lago de Hogwarts ao esquerdo, apenas haviam aberto mais o espaço.

         Ainda ligeiramente espantada e surpresa com a primeira tarefa, a garota estava trêmula quando sentiu uma contração em seu estômago e o mesmo frio cortante de antes tomar todo seu corpo. Perdeu a respiração rapidamente e ofegou. Quando respirou novamente, sentiu o frio invadir seus pulmões igualmente e sentou no chão, pensando que logo iria desmaiar.

         Tentou se segurar na própria grama e ouviu um zumbido bem no fundo de seus ouvidos. Como se fosse um grito. Mas parou de repente, e sentiu novamente como se tivesse entrando em um mar gélido do norte. A onda de frio somente não piorou porque Ametista sentiu precisar virar de costas ainda no chão e conseguir enxergar o que estava provocando tal sensação.

         Era um dementador. Coberto por um capuz, deixando todo o rosto escondido, o dementador inspirou de forma ruidosa e longa, fazendo a onda de frio intensificar-se. Ametista sentiu algo cortar o ar de seus pulmões novamente. E quando ela parecia não conseguir mais levantar ou mesmo respirar, algo a fez acordar. Algo bem pior do que qualquer coisa que ela pudesse imaginar.

         "Não! Não vá!"

         A garota subitamente abaixou os olhos e apurou os ouvidos. Aquela voz era conhecida. Era a voz de uma mulher. Parecia desesperada.

         "Eu não fico aqui! Não mais!"

         Agora era a voz de um homem. Uma voz grossa e carregada de ódio. Essa também parecia conhecida.

         "Você não entende! Por favor, não vá!"

         "Não! Já disse que não! E eu entendo muito bem! Você me enganou!"

         Os dois adultos pareciam discutir. Ametista sabia que era algo bem sério apenas pelo tom do homem raivoso e da mulher enlouquecida.

         "Eu não sabia! Não vá, não me deixe, eu imploro!"

         "Nada que você fale irá me fazer voltar atrás! Você me enganou! Você me iludiu! A única coisa que eu amava mais do que você, você conseguiu tirar de mim!"

         Ametista começou a ficar mais confusa ainda. O que era aquilo? Em seu coração, ouvir tudo aquilo doía mais que ficar sem o avô durante todos aqueles anos. E o frio ainda a possuía, porém, haveria algo bem pior.

         "Não, por favor! Eu já disse que não sabia! Já disse que foi feitiço! Por favor, não me deixe, não deixe a Ametista!"

         A garota sentiu um estalo na cabeça. "O que?!" – perguntou para si mesma.

         "Ametista? Oh! Por favor, você tirou o que eu mais amava! Você tirou Ametista de mim! Eu não permaneço nem mais um minuto com você aqui!"

         "Não, por favor, você sabe que eu te amo! Que eu nunca faria nada para te magoar! Eu te amo e amo nossa filha!"

         "Eu só digo mais uma coisa a você Hariel, a mulher que eu amei por todos esses anos: eu amaldiçôo você e a essa criança pelo resto da minha vida! Eu não sou mais seu marido, ou o pai desse bebê! Eu desejo tanto que Ametista não tivesse nascido! Desejo que tivesse morrido! Pois eu não teria de carregar tamanho desgosto! Eu te odeio mais que tudo! Você e Ametista!"

         Ametista sentiu perder o chão. Então, aqueles eram seu pai e sua mãe, discutindo. E seu pai estava indo embora, deixando sua mãe e ela, Ametista. E como se tudo isso não bastasse, ele ainda desejou que estivesse morta. Por seu rosto escorreram lágrimas, sabendo então que seu pai não era um herói, seu pai havia deixado-a e sua mãe também para trás. Havia amaldiçoado a sua vida e a da própria esposa.

         O dementador aproximou-se e esticou a mãe para fora da capa. A mão coberta de feridas, como se estivesse decomposta. Num novo impulso, cheio de ódio e raiva, a garota sacou a varinha e esbravejou:

         - EXPECTO PATRONUM!

         Da ponta de sua varinha mágica irrompeu um fio prateado, depois tomando forma e ao final, criando um belo pássaro. Era uma fênix prateada, bela e magnífica. Forte e pura. Abriu então num movimento leve suas asas no ar e o dementador desapareceu. Ela o havia espantado para bem longe. E com um Patrono exuberante e poderoso. Parecia que em vez de concentrar sua mente em algo bom, o tamanho ódio que sentira no momento provocou um Patrono tão mais perfeito dos que já houvera conjurado nos testes de Lupin.

         Deu um murro na relva e sentiu as lágrimas fluírem livremente pelo rosto cansado. Tudo que imaginara durante tantos anos era uma completa mentira. E, mais do que tudo agora, ela odiava esse homem, mesmo sem nem ter idéia de quem fosse.

         Surpreendentemente, levantou a cabeça e conseguiu distinguir no meio da vista embaçada com as lágrimas, um vulto. Observou o vulto se aproximar e tomou um susto:

         - Professor?

***

- Bella? Mas como? Por que você está aqui? – perguntava Harry diante da madrinha.

         - Você concluiu ambas as tarefas com muita determinação e coragem, Harry. Você conseguiu. – disse a mestra, aproximando-se devagar.

         A lua estava minguante, e enquanto Harry reparava como a madrinha ficava linda a luz do luar, ambos estavam novamente nos jardins de Hogwarts. O corredor havia sumido, o labirinto havia acabado.

         - Agora, para mostrar-se perfeito, precisa ultrapassar a última tarefa – dizia Arabella, aproximando-se de Harry. – Você deverá duelar contra mim.

         O garoto arregalou os olhos. Arabella concentrou-se neles.

         - Eu o quê?!

         - Você vai ter de me enfrentar. E me vencer. Sou sua mestra e o aluno estará apenas pronto quando conseguir derrotar seu mentor Harry. É assim que as coisas funcionam. – explicava a mulher em tom delicado.

         - Mas, eu não posso e...

         - Mesmo que eu seja sua madrinha Harry, mesmo que você tenha um grande carinho por mim, terá que me enfrentar – respondeu Arabella antes de Harry terminar. Ela estava lendo a sua mente novamente. – É agora a sua última missão.

         Harry olhou para os pés pensando em como reagiria. Teria de duelar contra a própria madrinha, a própria mãe. Arabella quebrou o contato visual.

         - Quer dizer então que, assim como eu, a Ametista vai ter que duelar contra o Lupin? – perguntou Harry.

         - Sim. Mas ela ainda não concluiu a segunda tarefa e, bem, Remo estava um pouco preocupado com isso...

         - Por que? – Harry tentava aumentar o tempo da conversa, disposto a criar um bom plano para derrotar Arabella.

         A mulher cravou seus olhos negros em cima de Harry por um momento e respondeu:

         - Eu não deveria dizer isso a você, mas... Bem, eu e o Remo estudamos você e Ametista juntos antes de criar essa prova. Achamos que o ponto a ser explorado em você seria o físico, a resistência. Por isso teve de enfrentar um Dratroll e uma Mortalha-Viva.

         - E quanto a Ametista?

         Arabella parecia hesitante, mas acabou soltando.

         - Nós decidimos que o ponto a ser testado em Ametista seria a sua própria mente – Harry enrugou a testa e Arabella grudou seus olhos nos de Harry, lendo sua mente novamente. – Ela teve de enfrentar seres que testariam a sua autoconfiança – concentrou-se novamente nos olhos verde-esmeralda do afilhado e terminou. – Ametista tinha que enfrentar uma variação de bicho-papão especial, e um dementador.

         Harry engoliu em seco. Ele havia adquirido um terror especial por dementadores. Arabella sentiu algo apertar forte em seu peito.

         - E eu acho que ela teve alguns problemas com ambos – de repente, Arabella quebrou o contato visual e pegou a varinha do bolso da capa preta. – Transparecium Magic!

         Agitando a varinha no ar, Arabella pôde ver ao seu lado esquerdo, perto da margem do lago de Hogwarts o que acontecia entre Lupin e Ametista. Num impulso, ela gritou:

         - REMO, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!

***

Tanto Arabella quanto Lupin haviam deixado Sirius, Hermione e Rony esperando, olhando para o nada. O bruxo começava a andar de um lado para o outro, os compridos cabelos escuros se sacudindo conforme o vento forte. Sirius não sabia bem o porquê daquilo, mas estava sentindo algo errado quando Arabella disse que o deixaria para passar a terceira tarefa a Harry, e quando Lupin passara há pouco do seu lado, dizendo que Ametista havia concluído a segunda tarefa e deveria se juntar a ela.

         - Sirius, você está bem?

         O homem virou-se bruscamente e encontrou Rony observando-o apavorado. O garoto estava apreensivo com Harry, e dessa vez não havia ninguém para transmitir o que acontecia do lado de dentro daquele labirinto instalado no jardim.

         - Claro, só estou um pouco preocupado. – mentiu.

         Sirius sabia que havia algo de errado. Embora lutasse mais que tudo contra aquilo, ele sabia que não era Harry quem o preocupava. Era Ametista.

***

Levantando-se devagar do chão, Ametista encontrou o mestre parado em pé a poucos metros de distância, a observando. Enxugou ligeiramente as lágrimas e correu ao encontro do bruxo. Lupin permanecia imóvel. A garota, por sua vez, o abraçou, encaixando os braços por baixo dos do professor. Ela não conseguia conter as lágrimas.

         - Professor, professor! Eu preciso da sua ajuda! Eu... Eu... – ela tentava arquejar algumas palavras, mas parecia impossível. Gaguejando, ela voltou a falar. – O dementador. Eu ouvi a minha mãe... e o meu pai também.

         Lupin continuava paralisado. Porém, ao ouvir o final da fala de Ametista, o bruxo endireitou-se, fazendo a garota soltar-se de seus braços imóveis.

         - Você o que? – perguntou o homem em tom diferente.

         - Eu disse que ouvi o meu pai e...

         Ametista parou quando levantou a cabeça e, ainda com a vista levemente embaçada, encarou os olhos claros de Lupin. Não eram mais os mesmos. O professor parecia diferente. Ele estava... frio.

         - Você ouviu seu pai, Ametista? – frisou o mestre em falar seu nome.

         A garota não respondeu. Não conseguia definir bem o quê era, mas olhar para aqueles olhos era como olhar para os olhos de... Draco Malfoy.

         - Não vai me responder?

         Ametista deu alguns passos para trás diante da voz intrépida do professor. Ele tremia os olhos de forma estranha e brilhavam ligeiramente. Era como se tivesse encontrado um tesouro.

         - O senhor está bem? – perguntou, temerosa.

         - Se estou bem? – o mestre parecia seco. Ele deu uma meia-volta e olhou novamente para a neta do diretor. – Sabe o que me faria sentir bem?

         Ametista recuou mais alguns passos e foi quando o choque aconteceu. Lupin, sem mais nem menos, jogou o próprio corpo em direção a Ametista e pulou como um lobo para cima dela. Não, não era lua cheia. E então, ele com apenas uma mão, agarrou o pescoço de Ametista e, com muita facilidade, a levantou do chão, querendo sufocá-la.

         - O que... o senhor... fazendo? – Ametista tentava falar alguma coisa, mas a falta de ar era tão grande enquanto Lupin a levantava cada vez mais do chão.

         - Eu espero isso há muito tempo! – disse o mestre, dando uma gargalhada em seguida.

         Ametista tentava arquejar alguma frase, mas o ar faltava-lhe em demasia naquele momento.

         - Você disse que ouviu o seu pai, Ametista? – começou o professor, com um estranho brilho malicioso nos olhos. – A senhorita nem sabe quem é o seu pai! Como pode ter tanta certeza que era ele?! – ele parecia furioso.

         A garota não entendia o que fazia Lupin agir daquela forma. Mas ele não parou por ali.

         - A senhorita não tem nem idéia de quem ele seja? Nada? – indagava insensível diante de ligeiras lágrimas de Ametista. – Mas eu pensava que fosse óbvio! – e então ele parou por um momento e completou com algo muito curioso. – Ah! Havia me esquecido! A senhorita não passou pelo Chapéu Seletor, não é mesmo?

         Ametista começava a sentir-se zonza. O ar realmente lhe faltava com generosidade e a vista começava a embaralhar. Foi num grito que o homem retirou sua atenção dos olhos azuis de Ametista.

         - REMO, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!

         Arabella estava postada ao lado direito dos dois bruxos, acompanhada de Harry, que parecia não ver nada.

         Lupin deu um sorriso torto e assustador. Retirou com a mão livre de dentro de suas vestes a própria varinha e gritou, apontando-a em direção a Arabella:

         - Estupefaça!

         Rapidamente, Arabella conseguiu escapar do feitiço e caiu na grama espantada. Aquele não era Lupin. Não era mesmo.