- Bella! Bella! O que foi isso? – gritava Harry confuso ao ver um raio cortar o ar logo à sua frente e quase atingir a madrinha, que agora estava caída no chão.
Arabella tentava levantar-se do solo enquanto agarrava com força a varinha na mão direita.
- Remo, ele está... Não sei... Não pode ser ele! – dizia a mestra em meio a pensamentos.
Tornou o rosto para o afilhado e encontrou-o curioso logo acima de seu corpo. Só havia uma coisa a se fazer. Arabella fechou os olhos com força e concentrou-se por um momento.
"Eu preciso da sua ajuda! Venha rápido!"
Como num piscar de olhos estava postado ao lado de Harry o padrinho, Sirius Black, com a face preocupada.
- Harry! Você está bem?! – indagava aflito, enquanto dava leves tapas nas costas do afilhado em forma de conforto.
Porém, Harry sequer teve tempo de responder, pois ouviu a mulher logo abaixo apontar a varinha para o ar e gritar: "Transparecium Totalis!". Conseguiu então entender a tamanha expressão de terror que se assolou diante do rosto cansado de seu padrinho.
Harry voltou-se para trás e pôde ver algo incrível: o professor Lupin estava levantando Ametista do chão apenas com uma mão agarrada ao pescoço da aluna, como se tentasse sufocá-la.
Sirius imediatamente correu e parou a poucos metros de onde Lupin levantava Ametista, que estava praticamente desmaiada pela falta que o ar lhe fazia.
- REMO! O QUE É ISSO?! – espantou-se o bruxo.
Estranhamente, ao ver Sirius tão perto, Lupin soltou a mão do pescoço de Ametista, que caiu como um grande saco de areia no gramado. A garota tossia incontrolavelmente e parecia querer arrancar ar de qualquer jeito. Borrões vermelhos, quase roxos, marcavam toda a extensão de seu pescoço. Harry foi ao seu encontro.
- Ametista? Você está bem?
- Eu pareço bem?! – ela parecia bem descontrolada. – Esse maníaco quase tentou me sufocar agora!
Harry procurou fechar a boca e observar os dois bruxos que começavam a trocar algumas frases. Sirius falava naquele momento.
- Remo, você perdeu o controle?! E hoje nem é lua cheia! O que deu em você?! – Sirius não estava exatamente preocupado com o quê poderia ter acontecido a Ametista, e sim pelo comportamento tão estranho que o seu amigo apresentava.
Lupin, surpreendentemente, tinha os olhos mais brilhantes do que quando há pouco quase estrangulara Ametista.
- Sirius Black?! Quem diria, hein! – seus lábios crispavam conforme dizia cada frase. – Mas, devo admirar, quanta petulância de dar as caras em minha frente! Depois de tudo o que fez...
Sirius franziu a testa e ouviu alguns passos atrás de seu corpo. Arabella estava em pé novamente e concentrava seus olhos negros em Lupin.
- Remo, o que você está dizendo?! Ficou maluco?! Snape fez alguma coisa com aquela maldita poção que lhe dá?! – supunha Sirius em meio a um latido apenas de pronunciar o nome do professor seboso de Hogwarts.
- Snape?! Não, não. Snape ainda não me prestou serviços – respondeu Lupin, depositando os olhos em Arabella. – E você mudou bastante desde a última vez que nos vimos – a encarou de cima a baixo. – Sempre bonita. E os negros olhos especiais...
Num impulso, Arabella levou o corpo para junto do de Sirius e sussurrou em seu ouvido:
- Não é o Remo.
Sirius assustou-se e virou-se para ela.
- Como você pode ter tanta certeza? Talvez Remo fosse apenas um pouco tímido para falar essas coisas para você e agora teve coragem e...
- Remo nunca me olhou dessa forma. – interrompeu-o a bruxa, agitando a varinha, ao ver o olhar do bruxo se recair novamente para a garota caída no chão ao seu lado, sendo amparada por Harry.
- Finite Incantatem! – gritou a bruxa em direção a Lupin.
O disfarce caiu por água facilmente. Então todos puderam assistir a um bruxo alto, de aspecto esquelético e muito pálido, e cabelos louros platinados.
- Lúcio Malfoy! – impressionou-se Harry, caído ao lado de Ametista.
Em seguida, o bruxo, agora em veste negras, apontou a varinha para Harry e Ametista.
- Então tenho a chance de carregar dois prisioneiros comigo?! Que presente você e o lobisomem me deram, Figg! – esbravejou Lúcio Malfoy em tom vitorioso.
Sirius rapidamente gritou um feitiço de desarmamento, fazendo a varinha de Lúcio Malfoy escapar de seus dedos e ir parar nas mãos do homem.
- Eu não preciso da minha varinha Black! Você deveria saber disso! Eu sou um Comensal e tenho o poder que quiser em minhas mãos! – e gritando enlouquecido, Lúcio saiu em disparada atrás de Harry.
Imediatamente, Harry levantou e puxou Ametista pelo braço com tamanha força que a fez sair do chão. Os dois corriam descontroladamente sendo seguidos pelo comensal de muito perto. Entretanto, nem eles nem mesmo Lúcio esperava que alguém aparecesse para ajudá-lo.
Arabella e Sirius corriam atrás de Lúcio quando ouviram um raio cair fortemente dos céus e cair muito perto de ambos, que se desequilibraram e caíram no chão. Quando tentavam se levantar, deram de cara com outros dois comensais.
- O Malfoy cuida dos pequenos, e nós acabamos com os grandes. – disse um deles, um homem extremamente bonito, de incríveis olhos verdes que Arabella reconheceu rapidamente.
- David! – e seu coração deu um forte aperto.
Sirius levantou e ajudou Arabella levantar, afastando-se ligeiramente do alcance dos comensais.
- Adams! Até mesmo você?! Eu sempre disse a você mesmo que ele era um fraco idiota Bella! Mesmo estando na Corvinal! – dizia Sirius parecendo ciumento.
- Vamos acabar logo como isso Nott. Você fica com a mulher, eu não conseguiria mesmo matá-la de qualquer forma. – disse o comensal em suas vestes negras, apontando com a cabeça para Arabella, que tentava controlar as lágrimas que pareciam querer brotar.
Sirius e Arabella deram mais alguns passos para trás e empunharam suas varinhas diante dos corpos. Sirius virou-se para a bruxa e disse em tom alarmado:
- Precisamos salvar Harry do Malfoy!
- Não, precisamos salvar a Ametista do Malfoy, Sirius! Não se lembra do Snape dizendo?! O Malfoy está atrás da Ametista! Voldemort está atrás dela!
O coração de Sirius foi tomado por uma dor muito grande e então, não sabendo direito da onde viera, um raio cruzou em sua frente, atingindo ambos os comensais, que caíram no chão desacordados.
Dumbledore estava atrás dos bruxos e tinha uma expressão irreconhecível. Pior do que aquilo foi ver ao seu lado um Lupin, totalmente apavorado e com a veste ligeiramente banhada em sangue, sendo carregado por um, mais calmo que nunca, Draco Malfoy.
- O garoto Malfoy encontrou o professor assim na sala. O próprio pai o atacou ao ver que o filho tinha visto a sua transformação.
E parecia mesmo verdade. Draco possuía um enorme rasgo no veste da Sonserina, onde saía muito sangue.
- Meu pai vai raptar a Dumbledore. Eu o ouvi conversando com esses aí. – disse Draco em tom de quem não dava a mínima, apontando para os dois comensais desacordados.
Sirius e Arabella tentavam rapidamente digerir tanta informação nova dentro de suas cabeças. Foi Dumbledore que os "despertou".
- Vamos! Temos de impedir que Lúcio leve Ametista! – ordenou o professor, fazendo com que Draco e Lupin ficassem onde estavam, já que os ferimentos pareciam bem feios.
***
Hermione e Rony ficaram boquiabertos ao ver Draco e Lupin juntos, como se estivessem apoiados um ao outro. Correram ao seu encontro.
- Professor?! O que aconteceu? – perguntou Hermione, dançando na ponta dos pés envolta dos dois.
Lupin parecia não ter muita força para explicar o quê havia acontecido tanto a ele quanto a Draco. Percebendo isso, o sonserino levantou-se ligeiramente e cambaleou.
- Está vendo isso, Granger? – indagou, apontando para o rasgado de seu casaco, exibindo a pele vermelha de sangue. – Meu pai estuporou o professor e depois se transformou nele, entendeu?
- Seu pai?! Mas o que ele está fazendo aqui?! E o que você tem a ver com isso, Malfoy?! – perguntava Hermione curiosa e confusa.
- AH! Certo! Vocês não viram, não é mesmo? – Hermione e Rony entreolharam-se. Draco parecia satisfeito. – Está uma confusão dos diabos lá dentro sabem – o garoto contava como se fosse uma estúpida briga de corujas. Não é nem um pouco interessante. – Meu pai está perseguindo a Dumbledore. Ele quer raptá-la.
- O QUE?! E você fala nessa naturalidade?! – surpreendeu-se Rony. – E o Harry, como ele está?!
- Acho que o Potter está fugindo junto com ela. Não sei. O Dumbledore, a professora Figg e o Black foram atrás deles.
Hermione sentiu as pernas ficarem moles e caiu no chão sentada. Depois, tornou-se para Draco novamente.
- E como isso aconteceu? – indagou, indicando o rasgo.
- Meu pai me viu assistir sua transformação e decidiu aplicar um castigo por ter sido tão curioso. – brincou Draco em tom sarcástico, mesmo que àquela hora não fosse a mais apropriada para uma de suas ótimas piadas.
***
Sem qualquer direção, Harry e Ametista corriam velozmente. Harry trazia Ametista segurando-a pelo pulso de maneira que chegava a doer bastante. Contudo, eles não possuíam tempo para preocuparem-se com qualquer dor que pudesse abatê-los. Os dois ainda ouviam os passos também do bruxo que corria atrás deles. Entretanto, em um minuto, o barulho parou e foi como se Lúcio tivesse parado de correr.
Harry e Ametista aproveitaram para parar e ofegar por alguns segundos. O garoto largou o pulso de Ametista e não pôde deixar de reparar nas marcas tão nítidas e fortes no pescoço da garota.
- Você tem idéia do porquê do Lúcio Malfoy estar correndo atrás de nós?! – interrogou Harry.
Ametista apoiava os braços sobre os joelhos e levantou a cabeça.
- Provavelmente porque eu estou com você! Sempre que estou perto de você, surgem problemas! – parecia bastante mal humorada como de costume.
- Não sou eu que quase morri sufocado há pouco! – retrucou Harry, que parecia sem a menor força de discutir num momento como aquele. – Vamos correr novamente.
- Ah! Claro! Potter, use seu cérebro para alguma coisa! – Harry contorceu o rosto de ódio. – Nós não sabemos para onde foi o pai do Malfoy, então eu proponho que fiquemos quietos por aqui mesmo. Talvez ele esteja longe agora ou tenha desistido...
Harry ficou pensativo. Depois, os olhos negros da madrinha vieram em sua mente. Ele caminhou contra Ametista, dirigindo-se mais para o centro do jardim enquanto a garota ficava na margem do lago.
- O que será que aconteceu com a Bella?! Ela deveria ter vindo atrás de nós! – resmungou o garoto aborrecido.
- Por favor, Potter! Vai choramingar agora também é?! – ralhou Ametista, olhando o próprio reflexo no lago. – Eu não vou agüentar você do meu lado res...
Mas, antes que pudesse terminar, Ametista sentiu novamente uma grande mão envolver seu pescoço e, dessa vez, a jogá-la contra o lago. Era como se tivesse levado centenas de facadas pelo corpo. A água era tão gelada que sentia os dedos ligeiramente dormentes. Abriu os olhos embaixo da água e pôde ver novamente a face mais pálida que nunca de Lúcio Malfoy. Ele puxou a cabeça para fora da água, pegando ar. Ametista sentiu novamente que iria desmaiar rapidamente. Agora, além de tentar sufocá-la, o Comensal da Morte tentava afogá-la.
Subitamente, Lúcio puxou Ametista para a superfície do lago. Ametista pôde tentar recuperar um pouco de ar enquanto Harry assistia a tudo paralisado. O Comensal havia-o enfeitiçado. Uma forte força subia pelos seus cabelos ao vê-la daquela forma. "Eu vou assisti-la morrer?", pensava Harry com um aperto no coração. Ametista sentia que a morte estava próxima quando sentiu ser jogada novamente para dentro da água.
Ficou durante alguns breves segundos com a cabeça no lago quando Lúcio a puxou e gritou:
- Agora, você vem comigo! – ele tentou puxá-la para fora do lago, mas Ametista deu um chute em sua barriga, o fazendo soltá-la, caindo de costas contra a gélida água do lago de Hogwarts.
- Sua bruxinha atrevida! Você vai desejar jamais ter feito isso! – vociferou Lúcio Malfoy, tentando se levantar e apertando a varinha entre os longos dedos. – Crucio!
Ametista, mesmo dentro da água, foi atingida pela Maldição Imperdoável que o comensal havia lançado e foi arremessada até o fundo do lago, se debatendo da cabeça aos pés, sentindo que o corpo era totalmente retalhado por milhares de espadas. Parecia que iria virar do avesso. E mesmo que estivesse no solo, com certeza não teria ar para respirar. Aquela força tremenda que a fazia contorcer-se de dor a fazia perder a noção do que era respirar.
Nesse momento, Harry agitava-se loucamente tentando se desvencilhar do feitiço de paralisação do corpo lançado pelo comensal. Ametista deveria estar sofrendo muito e parecia doer muito mais em Harry ficar ali assistindo a garota descontrolar-se de dor. "Eu não posso ficar aqui de braços cruzados assistindo ela morrer!". Numa força de vontade tremenda, misturada a uma raiva que o queimava por dentro, Harry conseguiu se livrar do feitiço. Entretanto, uma imagem o fez parar o que fazia. Vinham ao seu encontro Arabella, Sirius e Dumbledore. Os três corriam o mais rápido que podiam, Dumbledore ligeiramente atrás pela idade. Antes que qualquer um fizesse alguma coisa, viram o mais belo fenômeno acontecer bem diante de seus olhos.
Seus ouvidos foram tomados por uma canção que fazia o coração pulsar de forma tão feroz que os ouviam em seus ouvidos. Era uma canção de fênix.
Ametista sentia que iria desistir. A dor que a culminava era tão grande que não possuía mais forças para tentar lutar contra. Estava vencida. E ainda foi vencida diante de Harry. Contudo, antes de deixar-se levar, desejou pela última vez rever aqueles olhos verdes que a encantaram numa noite de lua cheia. Que a fizeram perder a cabeça e todo o controle. Um forte zumbido então invadiu seus tímpanos e tornou-se uma bela canção que fazia sentir o coração na garganta. A canção da fênix.
A garota concentrou-se então e imaginou alguém que poderia salvá-la. O seu guardião. Surpreendentemente, uma figura turva surgiu diante de seu corpo e pulou sobre a Maldição lançada por Lúcio.
Todos que assistiram de fora puderam observar um belo cervo bater as patas no solo depois de quebrar o feitiço sobre Ametista, fazendo Lúcio Malfoy desaparecer repentinamente. Harry piscou várias vezes antes de aceitar finalmente que aquele cervo era, na verdade, o espírito de seu pai, bem diante de seu nariz, acabando de salvar alguém que, Harry descobrira somente naquele momento, era tão importante para ele.
Vagarosamente, a imagem bela e prateada de seu pai como animago desapareceu por completo. Harry correu então para dentro do lago e retirou um corpo mole e sem vida. Ametista estava finalmente em seus braços, mas parecia não estar nada bem. Carregou-a até a margem do lago e colocou-a deitada na relva. Dumbledore passou a mão trêmula em uma das maças do rosto da neta.
- Temos de levá-la à Ala Hospitalar. Ela não resistirá muito tempo aqui. – disse apressado, levantando o corpo da neta com um feitiço.
Porém, antes de seguirem caminho, Harry o interceptou.
- Professor – chamou o garoto, que lançou um olhar desconfiado, mas decidido a Sirius e voltou-se ao diretor. – Eu gostaria de carregá-la.
Sirius fechou a cara, ainda bem preocupado, e Arabella sorriu ao vê-lo permanecer calado, sem reclamar. Em seguida, a mestra passou as mãos pelos cabelos de Harry e deu um beijo em sua testa. O teste estava acabado. Mas havia muito mais ainda. E muito pior.
***
Na sala comunal, Harry contava tudo o que acontecera com ele e Ametista no duelo. E também o ocorrido com Lúcio Malfoy. Hermione estava com os braços entrelaçados nos de Rony, todos diante da lareira acesa.
- Mas eu acho que o mais estranho de toda essa história foi o Malfoy.
Rony insistia em dizer que Draco andava estranho já fazia meses, mas que desta vez foi demais. Ele praticamente ajudou-os.
- Não esperava que, depois do que aconteceu naquele corredor entre você, ele e a Ametista, o Malfoy fosse querer ver a sua cara novamente! Aquele soco doeu até em mim, Harry!
Os dois garotos riram. Hermione, por sua vez, reservou uma expressão severa que somente ela e Minerva conseguiam fazer.
- Isso é muito mais que um desentendimento com Malfoy, Rony! Isso é coisa séria! O que Voldemort iria querer com a Ametista?! Ela quase foi morta e vocês dois fazendo piadinhas sobre o Malfoy!
Ambos sentiram um pouco de culpa. Entretanto, Harry sabia bem que nos últimos dois dias desde que tudo havia acontecido, a única coisa em que conseguia pensar era Ametista. Tentou vê-la na ala hospitalar, mas ela está sem quaisquer condições de receber visitas, assim disse Madame Pomfrey. Sabia que a única pessoa a ter acesso à garota além da enfermeira foi o avô. Os outros foram impedidos de manter qualquer tipo de contato com ela.
Harry despediu-se e foi-se deitar. Rony e Hermione ficaram no andar de baixo, namorando. Harry trocou-se rapidamente e deitou na cama, fechando o dossel. Imaginou o que Ametista estaria passando naqueles dias sozinha na ala hospitalar. Sozinha.
"Por que você se importa tanto com ela?! Ela não merece nem um pedacinho da minha preocupação! Eu a odeio, assim como ela me odeia!", pensava Harry.
Porém, foi num impulso que Harry decidiu. Levantou velozmente, pegou o Mapa do Maroto e vestiu apenas sua capa de Invisibilidade. Seguiu sorrateiramente até a porta da ala hospitalar. Abriu com certa dificuldade e finalmente, conseguiu adentrar. Pôde ver a enfermeira dormindo em uma das camas do fundo da ala e concentrou-se em uma em especial. A cama era coberta por um dossel branco, aonde se via parcialmente quem estava dentro. E, como previsto, lá estava Ametista.
O garoto aproximou-se devagar e verificou se Madame Pomfrey estava mesmo dormindo. Em seguida, retirou sua capa e observou a garota adormecida. Tinha alguns cortes no rosto e ainda a expressão de dor acompanhava o sobe e desce da respiração ritmada. Harry foi novamente tomado por uma intensa força e abriu levemente o dossel, colocando parte de seu tronco e sua cabeça dentro da cama, olhando Ametista mais de perto. Um incrível perfume de sândalo envolvia-o. Ele sabia, vinha dela.
"Por que eu não consigo me controlar perto dela? Por que sempre lembro daquela noite na sala comunal? Daquele beijo...".,
Ametista suspirou levemente e então, Harry percebeu.
"Foi o Malfoy! Claro! Eu não suportei vê-lo beijando a garota que EU havia beijado, que EU tive em meus braços, que EU gosto!". Harry sentiu um estalo na cabeça e sorriu. "Eu gosto dela? Gosto?", perguntou-se a si mesmo, mas acabou perdendo-se novamente no perfume de sândalo de Ametista.
Harry não conseguiu se conter novamente e, repetindo a mesma atitude daquela noite de lua cheia, se viu grudando lentamente seus lábios nos de Ametista. De primeira, a garota não acordou. Harry largou os lábios em forma de coração de Ametista e a observou cautelosamente. Passou então os dedos carinhosamente pelo contorno macio de seu rosto e pôde notar que as marcas no pescoço da garota estavam quase apagadas por completo.
"Harry, o que você está fazendo?! Você odeia essa garota!", pensava agitando a cabeça. "É como Rony disse, ela não é para você!". Harry lutava contra os pensamentos tão contraditórios. Há pouco, ele perguntava-se se estava gostando de Ametista. Agora, aceitava que ele a odiava. Tudo estava tão confuso! "É tudo culpa do Malfoy!".
Um arrepio na espinha ele sentiu e não conseguindo se controlar entrou mais um pouco para dentro do dossel e debruçou-se sobre Ametista, fazendo com que tocasse seus lábios novamente. Eles agora pareciam doces e mais convidativos que nunca.
"Mas isso parece tão certo", continuava a divagar, soltando de seus lábios.
Ametista suspirou levemente. Harry permaneceu admirando cada centímetro de seu rosto. "Não importa!", ralhou consigo mesmo.
Harry pressionou os lábios mais fortemente contra os de Ametista e percebeu quando a boca da garota mexeu lentamente. Harry pôde sentir os braços da garota o envolvendo, como se fosse abraçá-lo, e deixar ser beijada. Harry não perdeu tempo e arrepiou-se quando sentiu as mãos de Ametista percorrerem suas costas enquanto se beijavam de forma cativante. Ele estava com o dorso inclinado sobre ela, postou as mãos em sua cintura e às vezes, tocava-lhe o rosto gentilmente. Ambos aumentavam o ritmo do beijo, e as mãos pareciam cada vez mais envolventes. O perfume de sândalo que Harry sentia ao afagar o rosto nos cabelos de Ametista o fazia delirar. O garoto percebera que, em nenhum momento, a garota sequer abrira os olhos.
Passados cerca de quinze minutos, o que pareceu uma eternidade para Harry, tão boa que não imaginava terminar, Madame Pomfrey deu um pulo de sua cama e ascendeu à própria varinha. Harry imediatamente escondeu-se debaixo da cama de Ametista, que somente naquele momento abriu os olhos. A garota levantou num impulso nervoso e agitado, olhando para os lados, como se procurasse alguém.
- Srta. Dumbledore, você está bem? – indagou a enfermeira.
- Estou, estou. – respondeu Ametista brevemente, ainda checando todos os cantos da ala hospitalar com os olhos.
A enfermeira apagou a varinha e voltou a dormir. Ametista deitou a cabeça no travesseiro e sentiu um perfume diferente no ar. Estava acostumada ao seu perfume de sândalo, mas aquele era muito mais envolvente. Levou os dedos à boca e fechou os olhos. "Foi tão real!", pensou antes de cair adormecida novamente.
Harry esperou cerca de cinco minutos e colocou a capa novamente. Lançou um último olhar a garota estirada na cama. Não deixou de sorrir. O coração estava disparado e ainda tinha o perfume de sândalo por todo o corpo. Saiu da ala hospitalar e lembrou de cada toque de seus lábios nos de Ametista. Era impossível que ela não sentisse nada por ele. E foi relembrando esses momentos que Harry teve a certeza que ela soubera de sua presença. Quando, em um dos intervalos para pegar o ar novamente em que ambos desgrudavam os lábios, o garoto pôde ouvir numa voz fraca, mas incrivelmente sedutora, Ametista pronunciar pela primeira vez: Harry.
***
Na manhã seguinte, Ametista despertou com um homem sentado ao seu lado, tendo nos lábios um largo sorriso branco.
- Professor! – ela festejou ao ver Lupin, novo em folha, sentado ao lado de sua cama. – Como o senhor está?
Lupin aumentou o sorriso.
- Bem melhor. Eu fiquei muito preocupado com a senhorita, sabia? – e riu em seguida de forma gostosa.
- Eu pareço bem? – indagou Ametista em tom maroto.
- Hum... Para mim, nada como uma boa noite de sono! – e sorriu mais ainda.
Isso a fez lembrar do sonho que tivera na noite passada. Os inúmeros beijos que dera em Harry, entrelaçados. Corou levemente.
- Mas, eu estou aqui para conversar com você.
- O que? – perguntou Ametista, enquanto divagava.
- Você vai sair hoje. Pode começar a se preparar, Hermione estava eufórica. Ela ficou muito preocupada mesmo com você!
Ametista levantou o rosto corado e indagou ao professor:
- O Potter está bem?
- Oh! O Harry? – frisou o mestre. – Sim, ele está muito bem.
Ametista abaixou os olhos para olhar suas pernas. Lupin continuou.
- Ele ficou realmente preocupado com você, sabe? Quando aquele cervo te protegeu, Harry foi correndo e entrou no lago, te tirando de lá. Depois, te carregou nos braços até o castelo e...
A garota levantou a cabeça rapidamente surpresa.
- Ele me... carregou?!
Lupin não conseguiu conter o sorriso.
- O que tem de mais nisso?
Ametista engoliu em seco.
- Bem, o senhor sabe, nós, bem... Nós não nos damos muito bem. Não teria porque o Potter me carregar até o castelo.
- O Harry te carregou até o castelo. E você sabe que ele também veio aqui umas três vezes nesses dois dias querendo saber sobre você. Depois, deveria agradecê-lo.
Ametista fez um careta. Lupin engajou o assunto.
- Falando em agradecimentos, eu queria primeiro, pedir desculpas a você e ao Harry por ter colocado-os em tal situação de perigo. Eu e Bella sentimos muito mesmo tudo o que aconteceu com vocês.
- Não precisa se desculpar professor! Quem iria adivinhar que aquele maluco do pai do Malfoy ia vir aqui e tentar achar o Potter ou sei lá o que?!
Lupin preferiu não contar os verdadeiros planos de Lúcio Malfoy. Assim, continuou:
- E em segundo lugar, eu queria parabenizá-la por tamanha performance contra suas duas primeiras tarefas.
Ametista, que ainda reservava certo sorriso no rosto, perdeu toda a felicidade.
- Professor, já que o senhor é o meu guia – ela começou devagar e bastante cautelosa. – eu queria fazer uma pergunta e gostaria de ter uma resposta.
Lupin, curioso, franziu a testa.
- Meu pai abandonou a mim e a minha mãe, não é?
O bruxo sentiu perder o chão. Não queria que Ametista tivesse perguntado aquilo a ele. Especialmente a ele.
- O que?!
- É que, na segunda tarefa, eu tive de enfrentar o dementador – Ametista estava temerosa. – E quando cheguei perto dele, ouvi uma discussão entre a minha mãe e o meu pai. Ele dizia que ia embora e no final, desejou a minha morte e amaldiçoou a minha vida e a da minha mãe. – tocar novamente naquele assunto doía demais para a garota, que tentava segurar as lágrimas.
Lupin reservou uma expressão estranha e indecifrável. Levantou-se bruscamente. Depois, apenas respondeu, deixando a ala hospitalar e a garota:
- Eu estou com pressa Ametista – e ao ver o rosto da menina se encher de pavor, finalizou. – Acho melhor você perguntar isso ao seu avô. Ele pode te explicar melhor.
