Num impulso cheio de dor e algo mais que Ametista não conseguia definir, a garota arremessou o Chapéu Seletor contra a parede oposta da sala de Dumbledore, quebrando um de seus objetos. Foi ao chão no segundo seguinte e abraçou as pernas com as mãos e braços trêmulos, jogando-se contra a parede abaixo da janela. Tentava entender de algum modo o quê acabara de acontecer, mas simplesmente, nada vinha a sua mente. A cabeça ainda doía com aquela coisa que a atingiu repentinamente. Não só isso, quando piscava os olhos, via um raio cruzar suas pálpebras.
Contudo, antes que pudesse compreender algo a mais, uma figura negra e alta invadiu a sala. No escuro, Ametista não conseguiu definir muito bem quem era, mas não sentiu-se ameaçada. Logo, aparecera em seu campo de visão dois olhos temerosos que a olhavam admirada. Arabella. A mestra olhava-a confusa e então Ametista indicou ligeiramente o Chapéu Seletor caído no outro lado da sala. A bruxa desviou o olhar por um momento e voltou-se para Ametista. Aproximou-se da garota encolhida e apavorada, e encarou bem no fundo de seus olhos.
Ametista sentiu um leve frio tomá-la por um instante, e recuperar a respiração ao entender a professora olhá-la com certa compaixão e tristeza.
- Você foi então selecionada para a Sonserina. – afirmou Arabella em tom profundamente culpado.
- A senhorita leu a minha mente? – espantou-se Ametista, se algo a mais naquela noite poderia ainda assustá-la.
Arabella nada respondeu. Não moveu um músculo da face. Ler a mente de Ametista foi extremamente confuso e doloroso. Por um momento, ela pôde sentir o quê Ametista sentia. Após alguns minutos, Arabella disse:
- Ele não foi covarde.
Ametista arregalou os olhos, agora cheios de ódio por alguém tentar defender àquele ser. Arabella falava sobre seu pai.
- Você não sabe de nada, como pode defender um hom... – e então parou. – Você sabe o que aconteceu, não é mesmo? – Arabella permaneceu a encarar Ametista sincera. – Você estava lá!
Quando Arabella pensou em responder, a sala iluminou-se de forma repentina. Como num furacão, entraram na sala do diretor ele, Lupin e... nada mais, nada menos que Sirius Black.
Ametista, imediatamente levantou-se e gritou, apontando para o Chapéu jogado no chão.
- Por que eu fui selecionada para a Sonserina?!
Dumbledore e Lupin trocaram um olhar temeroso. Sirius estava recostado na parede ao lado da porta, observando os próprios pés. Não podia mais olhar para Ametista.
- Você colocou o Chapéu Seletor, Ametista? – arriscou Dumbledore. – Você sabia que não deveria fazer isso...
- Mas eu fiz! – respondeu ríspida. – E eu quero uma explicação!
- Não há como explicar, Ametista – começou Lupin cauteloso. – O Chapéu não diz o porquê de selecionar al...
Dumbledore interrompeu-o levantando sua mão esquerda no ar, fazendo Lupin calar-se rapidamente.
- Chega de disfarces, Remo! Está na hora de Ametista saber de toda a verdade.
A garota cerrou os olhos ligeiramente em tom desconfiado. O avô parecia extremamente sereno, mesmo prestes a revelar um segredo que guardara por todos aqueles anos. Arabella postou-se ao lado de Lupin, e colocou a mão direita em seu ombro esquerdo. Ambos entreolharam-se e depois, lançaram a visão sobre Sirius. O homem agora encarava Ametista.
Dumbledore atravessou sua sala e sentou-se na cadeira de sua mesa. Arabella e Lupin sentaram em outras duas, enquanto Sirius permanecia em pé, longe, ao lado da porta.
- Sente-se Ametista. – ofereceu seu avô.
- Prefiro ficar em pé. – respondeu ainda bastante desconfiada. Seus olhos corriam por todos que estavam ao redor da mesa do diretor.
Dumbledore suspirou e tirou o álbum de fotos de Ametista de dentro de uma gaveta. Em seguida, a garota franziu a testa intrigada. "Não me lembro de ter trazido para ele ver.".
- Alvo – chamou Lupin de repente. – Não seria melhor chamar o Snape? – perguntou.
- Não! – todos viraram-se na direção da porta e encontraram Sirius com os olhos fixados em Ametista. – É melhor que ele não esteja aqui!
Ametista sentiu-se estranha ao encarar o homem de frente após a surpresa no quarto de Harry. Suas bochechas coraram um pouco.
O diretor abriu o álbum somente para ele e concentrou-se ligeiramente na última foto. Fechou-o em seguida, e tornou-se para Ametista.
- Durante anos eu tentei esconder isso de você, de meus amigos, do Ministério da Magia – começou Dumbledore. – Mas acho que chegou a hora de a verdade vir à tona. Você, Ametista, cresceu, aprendeu, viveu desafios, enfrentou um ano de Hogwarts, conheceu novos bruxos, bruxas. Até mesmo formou amigos. Mas, eu sei que você anseia informações sobre sua mãe, seu pai, seu sangue.
Ametista sentiu a respiração tornar-se levemente mais rápida do que o normal. Um mistério de quinze anos seria resolvido há alguns instantes.
- Quando Hariel deu-nos a notícia que estava grávida, não poderia ter ficado mais feliz em toda a minha vida. Nem quando minha própria mulher me disse que estava esperando um filho meu, eu consegui ficar mais feliz. – Arabella arriscou um sorriso.
- Por que? – indagou Ametista atenta.
Dumbledore deu uma risada tímida.
- Pois eu nunca tinha visto minha filha mais feliz em toda sua vida. E o mais importante, eu conseguia ver a felicidade no brilho dos olhos, não dos dela, mas sim do seu pai, Ametista.
Ametista desfranziu a testa e pegou-se surpresa. Dumbledore começava a entrar na verdadeira história.
- Ele me abandonou, não é? – interrompeu-o a neta, com os olhos tremendo de expectativas. – E a minha mãe também.
Lupin olhou de esguelha para Sirius, que voltou os olhos para o chão. Uma forte dor em seu coração o fazia perder o fôlego. A sua hora estava chegando.
- Você tem de entender as causas que fizeram seu pai sair de sua casa, não abandoná-la – Ametista piscou algumas vezes e olhou para cima tentando controlar suas emoções. – E posso dizer que, provavelmente, eu teria feito a mesma coisa.
A menina abaixou o rosto diretamente para o avô e viu-se espantada.
- O que?! Abandonar sua mulher e filha?! Eu nunca faria isso! – revoltou-se Ametista.
Arabella viu um jarro de água logo ao lado de seu assento tremer.
- Eu nunca conheci uma pessoa que amasse você tanto que nem seu pai, Ametista – Sirius não conseguiu controlar-se e deixou uma lágrima cair de seus olhos discretamente. – Todos os dias, ele vinha com uma novidade sobre você, suas roupas novas, um sorriso inocente, uma risada gostosa, um perfume diferente.
Lupin não conseguiu conter-se e interrompeu o mestre:
- Eu ainda me lembro quando ele veio até mim e contou-me que a primeira palavra que você tinha dito fora papai. Ele chorava feito criança. – Ametista chutou-se mentalmente por ter arriscado um sorriso carinhoso.
Arabella não deixou de sorrir e completou com os olhos viajantes:
- O dia em que Hariel teve você, Ametista, foi incrível. Durante todo o dia, houveram tempestades, trovões, relâmpagos. Hariel estava com medo de algo dar errado – a mulher suspirou levemente. – Mas, quando a noite chegou, a lua nasceu mais linda do que poderia nascer em qualquer outra oportunidade. Era tão graciosa e perfeita. Minguante, exatamente como hoje – olhou em direção à janela. – Era meia-noite quando você nasceu. A tempestade parou imediatamente. Parecia até que você havia trazido calmaria e paz a Terra.
Agora, Ametista não se arrependera e abrira um ligeiro sorriso. Lupin apertou a mão esquerda de Arabella em sinal de conforto e compreensão.
- Todas noites em que você ficava acordada, que ficava doente, não era Hariel que ficava acordada. Era seu pai. Na sua primeira noite, ele ficou abraçado à você o tempo todo. Ele dizia que gostava de seu perfume. Sândalo, assim como o da sua mãe. – finalizou o diretor.
Dumbledore parou por um instante, deixando a chance de Ametista indagar:
- Por que ele foi embora? – correu os olhos pelos três a sua frente. – Se ele amava tanto assim a minha mãe e até mesmo a mim, não existiria motivo para deixar-nos para trás!
Lupin e Arabella entreolharam-se novamente. Sirius permanecia na sombra ao lado da porta, discreto, tentando esconder suas emoções.
- Após um ano e alguns meses – começou Dumbledore. – seu pai descobriu que...
- O que? – voltou a questionar Ametista sentindo perder a respiração novamente.
Arabella concentrou os olhos em Dumbledore e sentiu que era a hora. Dumbledore respirou fundo.
- Ele descobriu que você não era... não era... – o diretor olhou bem no fundo dos olhos de Ametista e completou finalmente. – Descobriu que você não era filha dele.
Ametista caiu, desajeitadamente, sentada na cadeira que restava. Levou a mão à boca espantada.
- Eu... eu não era... não era filha dele? – gaguejou tentando entender algo, olhando para seus pés.
- Foi feito um encantamento para que você fosse filha de outro homem, não de seu verdadeiro pai. – explicou Lupin.
- Mas como foi que ela não percebeu que não era ele?! Digo, ele era o marido dela, o homem que ela amava! – indignou-se Ametista, dando um soco fraco no braço da cadeira.
- Magia Negra e Magia Branca andam juntas, Ametista – disse Arabella. – Foi feito um complexo encantamento, enganando até mesmo a nós. E são apenas poucos que podem realizá-lo.
Ametista sentiu uma ligeira tontura. Fechou os olhos e concentrou-se numa imagem de um homem, enganando a tudo e a todos. Sentiu seu sangue ferver de ódio.
- Mas ainda ele me abandonou, meu pai! – gritou repentinamente, cheia de mágoa. – Ele foi embora de casa por isso?!
- Ele se sentiu traído, Ametista! Coloque-se no lugar dele e pense quão cruel pode ser uma revelação como essa! A única coisa que ele amava mais do que Hariel não era dele! Não tinha seu sangue! – protestou Arabella apreensiva.
Ametista sentiu novamente um ódio crescente dentro de seu coração batendo cada vez mais forte. Abaixou a cabeça, escondendo sua surpresa e mágoa. Todos ficaram calados por algum tempo.
E foi então que tudo aconteceu.
- Eu amava Hariel mais que tudo.
Ametista virou-se rapidamente na direção de onde vinha a voz e encontrou os olhos vermelhos e o rosto molhado pelas lágrimas, de Sirius Black. O homem, que permanecera calado até aquele momento, soltara uma frase que mudaria o curso de suas vidas para sempre. Seus olhos estavam projetados, pela primeira vez, exatamente em Ametista.
- O que? – indagou Ametista num tom baixo e fraco.
Sirius concentrou seus olhos azuis nos de Ametista e completou, tomando toda coragem e ar que ainda restava em seus pulmões.
- Eu era seu pai, Ametista.
Ametista nada conseguiu responder. Naquele curto instante, apenas tentou arregalar os olhos e sentir o coração disparar. Nada passou pela sua mente, focou-se apenas na imagem de Sirius Black, desolado e emocional. Todos permaneceram em silêncio, observando a reação de ambos.
Sirius também não encontrava mais palavras para serem ditas a ela. Somente a presença da garota o fazia perder os sentidos. Uma parte de sua vida, a melhor parte, estava materializada em sua frente, sem demonstrar qualquer emoção. Sim, ela não possuía seu sangue, mas ele ainda sentia que ela era uma parte dele.
Repentinamente, observou-se brotar dos profundos e enormes olhos azuis de Ametista lágrimas. Ela, que detestava chorar na frente dos outros, achando que era a maior fraqueza que alguém poderia demonstrar, estava se definhando na frente de todos.
No segundo seguinte, cinco objetos da sala de Dumbledore quebraram-se velozmente. Os pedaços voaram por todo âmbito, cortando levemente a face esquerda do rosto de Arabella. Somente agora, Ametista levantou-se da cadeira e correu para fora da sala, sem olhar para trás. Lupin fez menção de acompanhá-la, mas Dumbledore o impediu:
- Ela precisa de um tempo para tentar entender.
Arabella levantou-se, o rosto cortado, e foi ao encontro de Sirius, ainda paralisado ao lado da porta. Ela parou em sua frente e olhou-o com compaixão. Sirius abraçou-se à mulher, caindo aos poucos no chão, sentindo perder novamente os sentidos. A última coisa que ele lembrou-se foi o rosto de Ametista em meio à escuridão. Desmaiou, em meio aos cacos, nos braços de Arabella.
***
Um raio de sol batia no delicado rosto. Vagarosamente, a luminosidade passou a ser percebida e a incomodar. Hermione abriu os olhos e observou a sala de Aparatação ao seu redor. Havia caído no sono em cima de uma das bancadas. Olhou rapidamente em seu pulso e encontrou seu relógio, marcando oito horas.
- Já?! – assustou-se, levantando-se veloz e correndo para fora do âmbito. – Não posso me atrasar para a aula! – murmurou para si mesma, sentindo uma mão agarrar seu braço de repente.
Hermione virou-se bruscamente e encontrou os olhos de Lupin.
- Hoje é domingo, Srta. Granger. – e arriscou um sorriso.
Hermione soltou um suspiro aliviado e não deixou de notar a aparência acabada do professor. "Mas ainda estamos longe da lua cheia", pensava, concentrando-se nos olhos do mestre.
- Acho que Arabella tinha comentado algo comigo sobre você – Hermione engoliu em seco. – Ela ia explicar algo à você, não é mesmo?
- É, sobre... – lembrou-se do diretor permitindo que ela conversasse apenas com Arabella e Lupin. – A professora Figg ia me contar sobre... sobre a Ametista. – sussurrou ao final inocentemente.
O mestre perdeu o sorriso e o constante brilho nos olhos.
- A senhorita sabe que Sirius é o pai de Ametista – afirmou o mestre como se divagasse. – A situação é que, agora, a própria Ametista também sabe disso.
Hermione arregalou os olhos espantada.
- Tudo poderá ser resolvido em breve, mas o mais importante nesse momento é que você não comente sobre isso com ninguém, certo? Nem Rony nem Harry podem ter idéia do que houve.
A garota concordou e Lupin a liberou para continuar seu caminho. "Então a professora Figg ficou auxiliando o Sirius, provavelmente.".
Chegando a sala comunal da Grifinória, Hermione encontrou Harry sentado numa cadeira ao canto. Aproximou-se devagar e sentou-se ao seu lado. Harry cruzou seu olhar com o dela.
- Onde você estava? – indagou preocupado. – Você está com uma cara de quem dormiu muito mal.
- E dormi! A professora deixou-me dormir na sala dela, já estava tarde para eu voltar para a Torre da Grifinória. Posso dizer que as bancadas da sala de Aparatação não são as mais confortáveis.
Hermione e Harry arriscaram um sorriso. A garota notou que Harry não estava muito animado.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou amigável.
Harry suspirou profundamente.
- Na verdade – começou tenso. – você é a única pessoa em quem eu posso confiar para contar as minhas coisas, mesmo. – e sorriu acanhado.
A monitora franziu a testa.
- E o Rony?
Harry soltou um muxoxo e contou tudo o quê havia acontecido na noite passada entre ele, Rony e Ametista. Ao final, Hermione dizia que logo essa frescura de Rony passaria e que poderiam ser amigos novamente.
- Então você não conseguiu conversar com a Ametista? – Harry confirmou com a cabeça. – Harry, isso é normal, já que você é tímido e sempre teve medo de demonstrar suas emoções. Você é muito reservado e isso pode prejudicá-lo – Hermione aproximou-se do rosto do amigo e abaixou a voz. – Mas se você gosta mesmo dela, espere a melhor oportunidade, reúna toda a sua coragem e diga o que você sente.
- Isso parece muito coisa de garota, Mione. – zombou Harry, fazendo Hermione dar um leve tapa em suas costas.
- Mas, agora, falando em Ametista, você a viu por aí?
- Não, na verdade, não a vejo desde que saiu da sala comunal ontem à noite. – finalizou Harry, convidando Hermione para tomarem café, bem longe das novidades e de Rony.
***
O sol já havia nascido há quase três horas e ainda ninguém tinha sinal de Ametista. Foi assim até ele se pôr. Após o jantar, Hermione fora chamada a acompanhar a professora McGonagall até a sala de Dumbledore. Para sua surpresa, lá também estavam Arabella, Lupin e Harry.
- Srta. Granger, por favor, sente-se. – pediu o diretor.
Hermione ajeitou-se numa cadeira logo ao lado de Harry, que a olhou em tom de preocupação e curiosidade. Poucos segundos depois, a porta do âmbito abriu-se novamente, onde encontravam-se Snape e Rony. O garoto caminhou até a mesa de Dumbledore e ajeitou-se na cadeira restante. Snape encarou Harry pela primeira vez após a discussão com Ametista. Sentiu o ódio que já tinha pelo garoto crescer mais um pouco. Os três professores ficaram em pé.
- Muito bem – começou o diretor, olhando para Lupin. – Ele estará de volta daqui...?
- Provavelmente meia hora, Alvo. – respondeu o professor.
Dumbledore voltou seus olhos para os três jovens sentados à sua frente.
- O motivo de ter chamado vocês aqui nesta noite é de extrema importância para todos nós. A Srta. Granger já possui alguma informação a mais do que vocês dois, portanto explicarei rapidamente do que se trata este nosso encontro.
Harry e Rony entreolharam-se pela primeira vez no dia. Haviam se evitado até então, e Hermione pôde jurar que suas supostas mágoas tinham sido deixadas para trás naquele momento. Tudo parecia bem mais sério do que uma briguinha imbecil entre eles.
- Isto se trata da situação do mundo mágico e não mágico atual. E, é claro que incluímos nessa discussão Voldemort. – Harry trocou um olhar rápido com Arabella.
- Portanto, essa conversa diz respeito a vocês também, assim como nós. – completou a mestra em tom baixo.
- Ande logo com isso Alvo, por favor. – pediu Snape raivoso.
Dumbledore pareceu ter ignorado o mestre de Poções e continuou:
- Porém, antes de entrarmos na questão de Voldemort, temos de tocar num assunto muito mais delicado que este – Harry e Rony franziram suas testas igualmente. – É a respeito do passado de algumas famílias. A sua, Harry, a de Arabella, a de Sirius, e a minha.
Dumbledore calou-se por um momento. Lupin, notando a situação, interrompeu a fala do diretor e disse:
- Como vocês já sabem, nós todos éramos amigos em Hogwarts. Entretanto, alguns de nossos pais já sabiam o que viria a acontecer conosco e já lutavam contra a força crescente do império de terror construído recentemente por Voldemort.
- Meu pai era trouxa, mas minha era bruxa – interrompeu Arabella. – Ela chegou a estudar aqui mesmo em Hogwarts, mas sempre adorou o mundo não mágico. Foi assim que ela conheceu meu pai. Mas ainda assim, ela não poderia deixar o mundo mágico de lado somente por causa dele. Com isso, ela decidiu morar em Londres, mas trabalhar no Ministério da Magia, como faz até hoje.
- Ela até mesmo chegou a trabalhar com seu avô, Harry, Anthony Potter, que fora ministro da magia. – disse Lupin.
Os olhos de Harry brilharam ao ouvir mais informações sobre sua família. Seu avô havia sido ministro da Magia!
- Minha mãe é uma das mais influentes cabeças dentro do Ministério e, isso sempre foi uma ameaça a mim e a minha irmã.
"Arabella tem uma irmã?", pensou o garoto rapidamente.
- Assim, posso dizer que sempre tive minha vida ligada a todos os casos de Voldemort e sabia muito bem do que ele poderia ser capaz. Ela sempre dizia a mim para ficar bem longe do lado das trevas, sempre! – completou a mestra calmamente.
- Já seu pai – começou Lupin a Harry. – sempre teve acesso a todas essas informações. A partir disso, ele decidiu tornar-se um auror, mesmo sabendo que Voldemort estava em sua melhor forma. Casou-se com Lílian aos dezenove anos, um ano após sair de Hogwarts, e logo ela estaria grávida de você – Harry sorriu. – Seu pai foi um dos melhores aurores do Ministério, descobrindo até que... – Lupin olhou de esguelha para Arabella, que abaixou a cabeça. – Descobrindo muitas coisas.
- Ambas as famílias, Figg e Potter, eram extremamente importantes para a continuação do plano contra Voldemort – dizia Arabella, andando lentamente pela sala. – Mas nós fomos pegos por uma surpresa – ela deu uma pausa controlada. – que não podíamos lutar contra.
Lupin continuou calado, assim como Snape. Arabella lançou um olhar a Dumbledore, que suspirou e concentrou seus olhos em Harry, Rony e Hermione.
- Tudo começou no Natal – começou Dumbledore num tom saudoso. – Hariel, minha filha, estava em seu quinto ano. Era uma noite especialmente exaustiva para mim, eu ainda me lembro. Ela foi levada até minha sala, acompanhada de um garoto, por Filch – Dumbledore deu um sorriso. – Ele dizia que tinha os encontrado escondidos numa das salas desocupadas da escola. E eu recordo que tanto Hariel quanto o garoto coravam como fogo! – Harry, Rony e Hermione riram. – Filch saiu da sala e eu perguntei o que estava acontecendo. Hariel tentou explicar, mas eu me lembro do garoto, dando um passo a frente, levantando a cabeça e me encarando. Eu poderia dar risada, mas para ele parecia um passo enorme de coragem. O garoto encheu o peito de ar e disse: eu estou namorando sua filha – Hermione e os garotos arregalaram os olhos. – Eu fiquei um pouco receoso no começo, mas depois achei que não duraria muito. Eu só não imaginava que ele fosse pedi-la em casamento dois anos depois.
- Às vezes eu não consigo acreditar que eles se casaram. – interrompeu Lupin ao olhar curioso dos estudantes.
- Mas, e daí? O que aconteceu? – perguntou Rony sacudindo-se na cadeira.
- Eu sabia que Hariel era apaixonada por ele, mas não imaginava que fosse tanto! Digo, foi eles deixarem Hogwarts, que em três meses estavam se casando! – disse Dumbledore.
- Mas quem era o garoto? – indagou Harry curioso.
Arabella, Lupin e Dumbledore entreolharam-se.
- Você não tem nem idéia de quem possa ser? – arriscou Lupin astuto.
Harry franziu a sobrancelha, assim como Rony. Dumbledore olhou então para Hermione.
- Eu?! Contar?! – surpreendeu-se a garota, vendo a cabeça do diretor concordar. – Mas...
Dumbledore insistiu, e Hermione virou-se para os dois curiosos garotos sentados ao seu lado.
- Bem, o garoto era...era...era o Sirius.
Harry e Rony arregalaram os olhos imediatamente.
- Sirius foi casado com a sua filha?! – engasgou Harry.
- Foi. Na verdade, eu acho que eles sempre se gostaram, mas nunca quiseram admitir. Sabem, eles viviam se pegando no meio das aulas, gritando e ofendendo um ao outro... – explicou Dumbledore, olhando de modo suspeito para Harry, sobre ele e Ametista.
- Mas o que isso tem a ver com o assunto principal? – perguntou Rony curioso ao olhar confuso dos outros. – Tudo isso não era sobre Você-Sabe-Quem?
Os professores novamente se entreolharam de modo temeroso.
- Bem, vocês já podem tirar alguma conclusão disso, não podem? – testou Arabella.
Harry e Rony se olharam perdidos. Mas então, uma luz acendeu na cabeça de Harry, que logo disse inseguro:
- Peraí, se o Sirius foi casado com a sua filha, e logicamente a Ametista é filha da sua filha – Rony confundiu-se ainda mais. – Digo, de Hariel. Então, se Ametista é filha de Hariel, e ela era casada com o Sirius, isso quer dizer que...
Rony pulou da cadeira.
- Ametista é filha do Sirius!
Dumbledore continuou a encarar Harry e Rony. Os garotos estavam incrédulos. Isso sim era alguma coisa! E grande!
- Mas isso é... estranho demais – disse Harry subitamente. – Sirius agiu esse ano todo como se odiasse Ametista! Não há nenhuma lógica nisso, nenhuma! Se ela fosse filha dele, ele nunca faria isso!
- É exatamente esse o ponto dessa conversa, Harry – interrompeu-o Dumbledore. – Ametista não é filha de Sirius.
Harry, Rony e agora também, Hermione, sentiram as cabeças rodarem confusas.
- Mas o senhor havia me dito que ela era! Ela era filha do Sirius! A...a...aquela foto dizia tudo! – protestou Hermione. – Meus pais! E apareciam o Sirius e a sua filha, professor!
- Eu sei, Hermione – concordou o diretor. – Mas a história é um pouco mais obscura do que essa. Vocês realmente achariam que Sirius odiaria a minha neta como eles odeia sabendo que ela era filha dele?
Harry e Rony continuavam confusos. Hermione, de repente, arregalou os olhos como se tivesse com um tesouro nas mãos.
- Então, a Ametista...
Dumbledore levantou a mão e impediu-a de completar a frase, por mais eufórica e surpresa que Hermione pudesse estar.
- Nós descobrimos um ano depois que Ametista não era filha de Sirius – dizia Arabella. – Ele amava a Ametista mais do que tudo, mais do que seus pais, mais do que seus amigos, mais que Hariel. E, simplesmente ela não era mais filha dele! Sirius ficou transtornado, ele deixou Hariel e Ametista cerca de dois meses antes de Voldemort matar Hariel e seus pais, Harry.
- Mas, se vocês dizem que ela gostava muito do Sirius, por que então ela teve um filho de outro homem? – indagou Harry confuso.
- Foi feito um feitiço, um encantamento – respondeu Lupin. – Nesse encantamento, juntou-se Magia Branca e Magia das Trevas. E ninguém poderia cortá-lo, destruí-lo.
- E quem fez esse feitiço? – indagou Hermione, quase subindo pelas paredes da sala do diretor.
Dumbledore olhou diretamente para o outro canto da sala, onde somente uma pessoa residia: Severo Snape.
- Você fez o feitiço?! – perguntou Harry sentindo um ódio subir pelas suas pernas e concentrar-se em sua cabeça.
Snape caminhou até perto da janela ao lado direito da sala e virou seu rosto macilento e aborrecido para Harry.
- Eu ajudei a fazer o encantamento, mas não o executei, Potter. – frisou bem em seu tom seco e austero.
- E por que o senhor fez isso?! – irritou-se Hermione.
Snape tornou os olhos negros para a monitora da Grifinória.
- Não importa o porquê, Srta. Granger. Eu ajudei com a minha abrangência em Poções e Feitiços. – explicou orgulhoso.
Arabella e Lupin o olhavam com nojo. Ele não parecia incomodar-se de ter destruído a vida de três pessoas. Isso ainda o tornava mais frio e cruel. Lupin tinha uma enorme vontade de atravessar a sala e quebrar o nariz comprido e torto do homem.
Entretanto, foi Rony quem fez uma pergunta essencial:
- A quem você ajudou?
Todos os olhares da sala recaíram sobre Snape. Por mais frio que o professor fosse, doía falar sobre aquilo. Não havia coisa que ele mais poderia se arrepender em sua vida de ter feito.
- Eu ajudei...ajudei... – parecia encontrar um modo de escapar daqueles olhos ansiosos e perigosos, mas não havia jeito. Tinha de ser sincero, pelo menos uma vez. Por Ametista. Por Hariel. – Eu ajudei Voldemort.
Os três jovens arregalaram os olhos igualmente e ficaram boquiabertos. Snape abaixou seus olhos e concentrou-os bem longe de Arabella, já que a mestra estava tentando ler sua mente culpada naquele momento e ver sua fraqueza e seu maior erro.
Desta vez, foi Hermione que deduziu novamente.
- O senhor está dizendo que ajudou Voldemort a cometer um encantamento para ser realizado sobre Hariel Dumbledore, certo? Então, foi Voldemort que executou o feitiço?
Foi Dumbledore que pegou ar e respondeu:
- Sim. E você sabe o que isso significa, não é mesmo?
Harry e Rony viraram-se para Hermione, que tampou a boca em tom de incrível surpresa. Mas foi Harry, sentindo um enorme aperto no coração e a garganta fechar com a tamanha revelação, que disse:
- Isso quer dizer que...que Ametista é filha de Voldemort!
Nesse exato momento, uma série de vasos – alguns que restaram desde os últimos cinco que haviam se quebrado na noite anterior – partiram-se de forma surpreendente. Os estilhaços deixaram todos surdos por um segundo. Dumbledore, que já sabia muito bem o quê provocava os pratos quebrarem-se, virou para a porta e encontrou sua neta, com os olhos trêmulos e cheios de ódio.
***
Ver o sol nascer e se pôr na beira do lago de Hogwarts era algo realmente para ficar na memória. Ficaria, se não fosse uma memória já tomada por difíceis e complicados pensamentos. Por mais que quisesse desligar-se de seus problemas e dilemas, Ametista permanecia com os olhos cheios de lágrimas. Elas estavam prestes a secar. Passara toda a madrugada ouvindo apenas uma frase em sua mente: Eu era seu pai, Ametista.
Sirius Black. Ela poderia esperar que qualquer outro ser no mundo pudesse ser seu tão querido, e depois odiado, pai. Mas, como na maioria das vezes, as coisas não aconteciam para ela do jeito que esperava. Dessa vez, não seria diferente. Porém, o mais difícil era tentar compreender como um homem que a tratava daquela forma tão ríspida e arrogante – exatamente do jeito que ela era – poderia ser seu pai.
E foi então que ela lembrou-se de que, na verdade, ele não era seu pai. Seu avô havia dito a ela que um encantamento havia sido feito, onde Sirius não era seu verdadeiro pai. Pensando assim, ela não teria o sangue da importante família Black correndo em suas veias.
"Se ele não é meu pai, quem é então?", pensava curiosa e frustrada ao mesmo tempo. A idéia de ter Sirius Black como pai poderia ser assustadora, mas certamente, ela já conhecia o homem e saberia como lidar com ele.
A partir desse pensamento, levantou-se e deixou o lago de Hogwarts. Decidiu tirar essa história a limpo. Por mais doloroso e ainda mais cruel que pudesse ser. E seria.
Chegando a sala do diretor, ditou a senha e subiu as escadas, até alcançar a porta entreaberta. Foi abrindo aos poucos ao ouvir seu avô conversando sobre algo muito importante com Hermione. Olhou pela fresta e encontrou Harry, Rony e Hermione sentados em frente do diretor. Snape estava recostado, olhando para os próprios pés na janela. Arabella e Lupin observavam a tudo do lado esquerdo da sala.
E foi quando ouviu Harry dizer com completa certeza: Isso quer dizer que...que Ametista é filha de Voldemort!
Imediatamente, Ametista perdeu a respiração e viu a vista escurecer. Segurou-se na parte lateral da porta entreaberta para não cair. Seus olhos pulavam para fora da órbita, cheios de raiva e ódio. Abriu a porta por fim e mordeu o lábio, segurando as lágrimas. "Eu sou filha do Voldemort?!". Foi nesse momento que os vasos restantes da sala do diretor quebraram-se de forma rápida, provocando um barulho ensurdecedor por um segundo.
Tentou recuperar o ar e soltou um grito contido. Voltou a olhar para frente e encontrou os olhos azuis e culpados de Dumbledore a olharem de forma intensa. Os joelhos vacilaram, mas sentiu-se raivosa o bastante para passar a história a limpo, nem que fosse por uma frase.
***
- COMO VOCÊ PÔDE ESCONDER DE MIM?! – Ametista berrou de forma descontrolada e sem qualquer medida. – DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS, VOCÊ ME ESCONDEU ISSO?! COMO VOCÊ PÔDE?!
Arabella e Lupin tentaram se aproximar, mas Dumbledore os impediu, levantando de súbito e caminhando na direção de Ametista. A garota estava postada ao lado da gaiola de Fawkes, o corpo paralisado e trêmulo.
- Ametista, tente entender...
- VOCÊ QUER QUE EU ENTENDA?! ENTENDER?! NÃO, EU NÃO SOU CAPAZ DE ENTENDER! PRIMEIRO FOI O BLACK! AGORA, VOCÊ VEM COM ESSA HISTÓRIA QUE EU SOU FILHA DAQUELE MONSTRO?! NÃO, EU NÃO POSSO ENTENDER!
Harry virou-se e encontrou Ametista desolada, gritando a plenos pulmões com uma figura que, naquele momento, parecia fraca e bem menor que a neta. Dumbledore matava-se por dentro, por fazer a única pessoa que realmente amava sofrer daquela maneira.
Dessa vez, não foi Dumbledore que respondeu, e sim Snape, que deu um passo a frente do diretor e disse:
- Você não poderia crescer sabendo que era filha de Voldemort, Ametista! Isto não tem cabimento!
- O QUÊ NÃO TEM CABIMENTO AQUI É VOCÊS TEREM ME ENGANADO, MENTIDO DURANTE TODOS ESSES ANOS! – Ametista pegou mais um pouco de ar e continuou. – ERA POR ISSO ENTÃO QUE EU VIVIA TRANCADA NAQUELA CASA! PARA VOLDEMORT NÃO ME ENCONTRAR, NÃO É?!
- Oh, Ametista... – tentou Dumbledore dizer algo, mas nada vinha a sua mente. A dor era grande demais.
A garota também, pareceu perder as forças e desabar no choro. Snape abaixou a cabeça novamente, enquanto Dumbledore envolveu-a em seus calorosos braços. Ametista soluçava e chorava descontroladamente. Não tinha como entender que seu pai pudesse ser o homem que destruiu tantas vidas! E que ainda matou a sua mãe! Não, não havia explicação.
Rony e Hermione abraçaram-se ligeiramente enquanto Harry permaneceu com os amigos sentados nas cadeiras, assistindo o desespero da família Dumbledore. Um segredo guardado a sete chaves havia sido, finalmente, revelado e aberto para que todos pudessem ter conhecimento. Claro, o segredo ainda está longe de ser explicado com todos os detalhes. E nessa história, ainda falta decidir o que será feito daqui para frente. Será que Ametista se recuperará de tamanha revelação? Será que Snape será um dia perdoado? Será que Sirius deixara seu orgulho de lado e a reconhecerá como uma verdadeira filha? Será que Voldemort possui planos para Ametista? Será o sangue de Ametista tão especial?
A noite foi-se indo embora enquanto todos observavam atentamente avô e neta em um abraço doloroso e cheio de amor.
