Capítulo 2 - O Reencontro
Enquanto corria pela floresta, Kagome só tinha um pensamento. "Não me deixe, Inu-yasha! Não me deixe!" De repente, foi agarrada e arrastada para detrás de uma árvore pelo hanyou. Ele cobriu sua boca, a segurou fortemente contra o seu peito e ficou vigiando. Estava de tocaia.
– Você é muito barulhenta, sabia? Faça silêncio... – A soltou lentamente.
– Por que você foi embora?!
– Eu não disse para você fazer silêncio. Estou sentindo o cheiro de um youkai.
– Um youkai? Onde? – Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, como que procurando saber onde estava o perigo.
– Bem, ele ainda está longe. – Confessou, meio desconcertado. – Mas ele fede tanto que o vento me trouxe o seu cheiro. – Desviou o olhar. – Por que você não está com os outros?
– Porque você está aqui...
Ela estava tão perto. Era demais para ele. Empurrou-a suavemente e afastou-se, sentando-se numa pedra, de costas para ela.
– Você não consegue ficar perto de mim. Não consegue sequer olhar para mim... Eu acho que você ainda está zangado comigo... – Virou-se e começou a se retirar, até escutar as palavras dele.
– Não estou zangado com você.
– Então por que...
– Será que você poderia não dizer mais nada?
– Então é isso? – Aproximou-se e se ajoelhou atrás dele. – Você quer que eu me cale?
Ele sentiu um arrepio percorrer seu corpo. "Kikyou também disse a mesma coisa."
– Kagome, me diga, você está bem?
– Apesar de estar bem fisicamente, sinto falta de uma coisa muito importante...
– Do quê?
– De você.
"Eu também senti sua falta...". Pensou ele, mas não conseguia dizer.
– Desde que a Kikyou se foi, você tem andado sozinho e distante. Não fala mais com ninguém. Nem sei como nós estamos tendo essa conversa... Eu sei que você preferia que ela estivesse aqui, mas eu não queria morrer...
Foi quando ele se virou e acariciou o rosto dela, surpreendendo-a. "Desde de quando ele é assim tão gentil?"
– Não diga bobagens, Kagome. Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo exatamente igual. Ainda te salvaria. Não me arrependo disso.
– Mas... – Comentou ela, esperando pela conclusão do que ele tinha para lhe dizer.
– Kikyou sempre foi a razão de tudo que eu fiz, de uma forma ou de outra. Mesmo quando eu soube que ela havia morrido, ainda tinha você.
– Eu ainda estou aqui... – O abraçou carinhosamente. Ele, por sua vez, retribuiu de forma tímida no começo, mas depois se entregou.
– Mas a forma como eu via você mudou. Apesar da aparência, não há mais nada da Kikyou em você... Eu só vejo você mesma.
– Entendi... – Ela teve os olhos cheios de lágrimas que ele não pôde entender até que ela terminasse de falar. – Eu não sou suficiente para você... – Levantou-se e saiu correndo, mas Inu-yasha a impediu segurando a sua mão. – Por favor, me deixa ir embora...
– Você me deixaria ir embora... – Aproximou-se e segurou uma mecha do cabelo dela. – ...mesmo que eu te pedisse?
Ela mal conseguia falar enquanto as lágrimas caíam de seus olhos.
– Eu não quero que você vá embora.
– Eu não irei. – Enxugou as lágrimas do rosto dela. – Não irei mais... Porque agora eu encontrei uma razão para ficar.
Seus olhos brilhavam, tanto os dela como os dele. Ele puxou-a para perto de si. Ambos podiam sentir seus corações batendo cada vez mais rápido, seus lábios cada vez mais próximos. No instante em que se tocaram, Inu-yasha deu um pulo para trás e sacou a Tessaiga. Kagome teve um pressentimento.
– Estou sentindo a presença de um fragmento da Jóia Shikon! Atrás de você, Inu-yasha!
– Eu sei! Eu posso sentir o fedor!
O hanyou virou-se e cortou as árvores atrás de si. Surgiu uma criatura enorme, lembrava um tatu, com espinhos compridos nas costas, formando um penteado meio-punk.
– Carne fresca... – Disse o youkai, olhando para Kagome. – Carne humana fresca.
A jovem esbugalhou os olhos e recuou uns dois passos.
– Hei! Espera aí! Eu não vou virar o seu jantar!
– Kagome! Onde está o fragmento?!
O youkai avançou sobre ela, prendendo-a contra uma árvore com suas garras. Ao erguer seus olhos na direção do monstro, pôde ver o fragmento nitidamente.
– Na garganta dele! Dentro da garganta, Inu-yasha!
Ele avançou sobre o monstro e cortou os espinhos de suas costas. Grande quantidade de sangue jorrou, atingindo Inu-yasha, mas parecia que o golpe não havia causado nenhum efeito sobre o youkai, que continuava a mantê-la cativa.
– Maldição! Mas que sangue fedorento! – Tentou cobrir o nariz, mas estava coberto de sangue. Aquele cheiro o estava deixando tonto.
– Inu-yasha! – Gritou a jovem.
– Vou provar a sua cabeça primeiro! – O monstro colocou para fora uma língua fina, comprida e gosmenta, que enrolou no pescoço de Kagome.
– Seu monstro desgraçado! – Tentou chegar até ela, mas sua visão estava embaçada e seus sentidos desorientados.
Foi quando se fez ouvir um rugido e Kirara surgiu da floresta. Ela pulou sobre a lateral da cabeça do youkai, destroçando a língua e a boca e libertando a colegial. Mais sangue de odor fétido jorrou, respingando sobre Kagome, enquanto a criatura se debatia de um lado para o outro em agonia.
– Nossa! Obrigada, Kirara! – Agradeceu a jovem, enquanto era retirada de perto do monstro pela amiga youkai, arrastando-a pela gola de sua blusa. – Tem um fragmento na garganta dele. Acha que consegue tirá-lo?
Kirara acenou com a cabeça e avançou no pescoço da criatura, agarrando-o com suas presas. O youkai balançou-se de um lado para o outro até Kirara conseguir estraçalhar o pescoço dele, removendo o pedaço em que estava o fragmento e levando-o para a colegial. Ela prontamente o examinou, localizando e removendo o fragmento e, como resultado, o youkai se desfez, restando apenas os ossos de sua carcaça pelo chão. O hanyou aproximou-se, mas caiu sobre os joelhos, fazendo com que a jovem corresse em sua direção e o amparasse.
– Kagome, você está bem? – Perguntou ele, meio atordoado.
– Sim, estou... Mas você está precisando de um banho. – Comentou ela, tentando disfarçar o quão preocupada estava com ele.
– Você também não está cheirando muito bem... – Desmaiou.
– Kirara, me ajude a levar Inu-yasha de volta.
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Estavam todos ao redor da fogueira. Quer dizer, de um lado estavam o monge, a exterminadora e o filhote de raposa cobrindo o nariz e, do outro, estavam o hanyou, a colegial e a youkai destransformada. O cheiro era insuportável e quem mais fedia era o próprio Inu-yasha mal-humorado. Ele estava sentado, emburrado, encostado em uma árvore.
– Vocês podiam ser mais educados. – Comentou a jovem, também com a mão sobre o nariz.
– Desculpe, Kagome-chan... – Comentou Sango. – Mas vocês estão fedendo muito.
– É por causa do sangue fedorento daquele bicho. Até derrubou o Inu-yasha. Quem acabou me salvando foi a Kirara. – Completou a colegial.
– Você quer parar de ficar dizendo isso, Kagome! Você sabe como o meu nariz é sensível! – Sua irritação era visível.
– É brincadeirinha, Inu-yasha... – Desculpou-se ela, abanando uma das mãos na direção dele. A outra continuava cobrindo seu nariz.
Ai... O que eu não daria por um banho agora...
– Tem um rio mais adiante.
– Sério? Mas por que você não disse isso antes? – Começou a revirar as coisas dentro de sua enorme mochila amarela.– Que bom! Nós vamos poder nos livrar desse fedor. – Pegou uma sacola branca.
– Bahh... Bobagem! Amanhã o cheiro já sumiu.
– Você não acha que vai ficar assim a noite toda, não e? Você está coberto de sangue e fedendo!
– Você é muito chata, sabia?
– VOCÊ VAI TOMAR BANHO!
– PÁRE DE FICAR ME DANDO ORDENS!
Os outros três que assistiam a cena se espantaram e Shippou pulou assustado no colo de Sango.
– Eles brigam tanto que dá medo... – Sussurrou ele, com um visível arrepio correndo por suas costas.
– Pelo menos as coisas voltaram ao normal. – Comentou o monge, cobrindo um pouco a boca com uma das mãos para evitar ser escutado pelos dois que discutiam.
– Você acha isso normal, Houshi-sama?
– Bom, é o mais normal que eles podem ser, Sango.
Kagome levantou-se e assumiu uma posição ameaçadora diante do teimoso hanyou, com os braços retesos ao longo do corpo e punhos cerrados.
– Se você não tomar banho por bem, vai tomar por mal! Kirara! – A youkai mais que prontamente transformou-se em fera. Kagome colocou um par de toalhas na sacola e deu para ela segurar com a boca. – Senta! – O colar no pescoço do hanyou brilhou e ele caiu de cara no chão.
– Mas porque diabos você fez isso, Kagome? – Resmungou ele, com o rosto ainda colado na grama.
Ela não respondeu. Apenas agarrou-o pela orelha e saiu arrastando-o.
– Hei! – Reclamou ele. – Não puxe desse jeito! Vai com calma! – Sem muita escolha, ele teve que seguir com ela.
– Eu vou dar banho em você! Kirara, venha também.
E saiu arrastando Inu-yasha, seguida por Kirara. Os três remanescentes no acampamento estavam perplexos.
– Eu ouvi bem? – Perguntou Sango ao monge. – Ela vai dar banho no Inu-yasha?
– Ai... Ai... Que cara de sorte...
– Houshi-sama! – Deu um cascudo nele.
– Ai! – Alisou o topo da cabeça. – O que foi que eu fiz?
Continua...
