Capítulo 10 - O Lugar Aonde Pertence Meu Coração

Shippou, Kirara e Kouga acordaram aos poucos. Miroku e Inu-Yasha continuavam desacordados, o primeiro por causa do veneno e o segundo por causa dos ferimentos. Kagome sorriu para a amiga Sango.

Kagome: Ainda tem antídoto na minha mochila, Sango... Ele vai precisar... Obrigada.

Sango: Eu que agradeço, Kagome... (Virou-se, pegou a mochila de Kagome, que estava jogada em um canto e foi até Miroku. Observou sua face enquanto gotas de suor desciam por ela). Você se esforçou muito...

Miroku: (Abriu os olhos lentamente). Isso... é um sonho?...

Sango: Não mais... (O beijou levemente nos lábios e tratou de pegar o remédio na mochila).

Shippou e Kirara fizeram um pouco de festa ao redor de Kagome e depois se juntaram a Sango e Miroku. Kagome voltou seus olhos para Inu-Yasha, atrás de si. Ele estava caído, desacordado. Percebeu então, que Kouga a observava. Seus olhares se encontraram.

Kagome: Kouga... eu...

Kouga: Eu sempre vou estar por perto se precisar, Kagome... (Virou-se e desapareceu na escuridão da floresta).

Kagome caminhou até Inu-Yasha e sentou-se ao lado dele. "Ele está tão ferido...". Acariciou-lhe a testa e afastou seus cabelos prateados do rosto. Ergueu-o e o abraçou fortemente contra seu peito. "Seu corpo está tão frio...".

Kagome: Por favor, Inu-Yasha... Não morra...

Inu-Yasha: Você acha... (Abriu os olhos). ...que eu morro assim tão fácil, Kagome?

Kagome: (Com lágrimas nos olhos). Graças a Deus! (O abraçou tão forte que quase lhe tirou o fôlego).

Inu-Yasha: Calma aí, Kagome!...

Kagome: Desculpe...

Inu-Yasha: (Sorriu). Tudo bem... (Passou a mão pelas lágrimas no rosto dela). Por que ainda está chorando?

Kagome: (Sorriu também). Porque eu estou feliz!

Inu-Yasha: Você é muito boba mesmo... Chora à toa!

Kagome: Inu-Yasha... (Abriu a mão e mostrou-lhe a Jóia de Quatro Almas). Veja... Está completa... E agora?

Inu-Yasha: "Está completa...". (Percebeu um olhar melancólico em Kagome). "Mas agora, nem eu mesmo sei o que eu quero...". Kagome, vamos voltar para o vilarejo. Aquela velha gagá vai saber como te orientar...

Kagome: Está certo... "O que deu nele? Ele sempre quis a Jóia de Quatro Almas para se tornar um youkai completo...".

As outras vítimas de Naraku também despertaram dos casulos e foram orientadas por Kagome e Sango a voltarem para seus lares. Acamparam o resto daquela noite para descansar. Todos estavam exaustos. Shippou e Kirara já tiravam uma gostosa soneca ao lado da fogueira. Sango estava quieta, sentada ao lado de Miroku, que parecia dormir encostado a uma árvore. Kagome terminava de trocar o curativo sobre o ferimento de Inu-Yasha.

Kagome: (Enxugando o suor da testa com a mão). Vou precisar de mais água...

Inu-Yasha: Já está bom, Kagome.

Kagome: Você só pode estar brincando. Esse ferimento está muito feio, se não for limpo direito vai infeccionar...

Inu-Yasha: Você se preocupa demais... (Ia cruzar os braços, mas sentiu o ferimento e soltou um gemido de dor).

Kagome: Viu só?

Inu-Yasha: O quê? (Tentou disfarçar, mas se encolheu com o olhar de reprovação dela).

Sango: (Rindo da situação). Pode deixar que eu vou buscar mais água, Kagome... (Levantou-se e pegou uma garrafa na mochila).

Kagome: De jeito nenhum, Sango. Eu vou... (Sentiu a mão da amiga sobre o ombro).

Sango: Deixe que eu vá... Eu já volto. (Piscou para Kagome e saiu pela floresta).

Kagome sentou-se ao lado de seu amado e aguardou pela volta da amiga. Percebeu que Miroku levantou-se e caminhou cambaleante pela mesma trilha que Sango.

Inu-Yasha: Você não vai atrás dele, Kagome?

Kagome: Não... Ele está indo na direção certa... Se vai fazer a coisa certa é outra história...

*****

Miroku chegou a um pequeno riacho. Viu a garrafa cheia de água ao lado da margem, mas nenhum sinal de Sango. "Que estranho. Onde ela foi?". Aproximou-se da garrafa.

Sango: (Surgiu por trás dele, assustando-o). Você costumava ser mais cuidadoso...

Miroku: (Caiu sentado no chão com o susto). E você, menos engraçadinha... (Corou com o olhar da jovem). O que foi, Sango?

Sango: Nada... (Sentou-se ao lado dele e ambos ficaram a fitar as águas). Sabe, eu não me lembro muito do que aconteceu depois que aquele monstro me pegou, só vagas lembranças...

Miroku: E do que você se lembra?

Sango: De você... (Corou e levantou o olhar para as estrelas). ...tentando me tirar de lá... Obrigada.

Ele ficou sem graça e também passou a olhar as estrelas. "Que situação! Queria tanto que ela estivesse aqui e agora que voltou, não consigo falar...". Acabou pensando alto.

Miroku: Idiota!

Sango: (Confusa). Como?

Miroku: (Deu de ombros). Eu sou um grande idiota... (Sentiu-a colocar a palma da mão sobre a testa dele. A proximidade o fez tremer). Sango...

Sango: Hum... Você não está mais com febre... Qual é o problema, Miroku?

Miroku: Eu... eu... (Lembrou-se de algo). Por que você me beijou?

Sango: (Agora foi ela quem ficou sem graça). Eu? Quando foi que eu fiz isso?

Miroku: Pouco antes de me dar o antídoto... (Apoiou o queixo sobre a mão). Hum... Talvez você tenha mudado de idéia quanto a minha proposta... "Idiota, não era isso que você tinha que dizer!".

Sango: Estava demorando... Lá vem você com essa proposta indecente de novo... (Suspirou). Bem, pelo menos você não tentou passar a mão em mim... "Ele é tão infantil... Nunca vai perceber...". (Levantou-se com a garrafa).

"É agora ou nunca!". Pensou Miroku. Levantou-se também, meio desajeitado e acabou derrubando a garrafa das mãos dela, que ao cair começou a derramar seu conteúdo.

Miroku: Desculpe...

Sango: Tudo bem...

Ambos abaixaram ao mesmo tempo para pegar a garrafa e acabaram tocando um na mão um do outro. Ficaram a observar suas mãos, a dele sobre a dela, e coraram ao olharem um nos olhos do outro. Logo, esqueceram-se da garrafa a vazar. Ainda estavam de mãos dadas quando seus lábios se tocaram. Depois, as soltaram e se envolveram em um terno abraço.

Miroku: Sango... Eu devia ter dito isso antes, mas nunca havia passado pela minha cabeça que um dia poderia não ter mais você do meu lado. Eu te amo... Eu...

Sango: (Silenciou-o com um leve beijo e depois, o abraçou, sussurrando em seu ouvido). Eu também te amo...

Permaneceram abraçados, pelo o que pareceu para eles uma infinidade de tempo, antes de retornarem ao acampamento.

*****

Inu-Yasha e Kagome estavam sentados lado a lado, encostados numa árvore. Ele estava quieto, segurando uma das mãos dela com sua mão esquerda. Apesar dela encará-lo incessantemente, ele não retribuía o gesto.

Kagome: Por que não me olha nos olhos, Inu-Yasha? (A resposta dele a surpreendeu).

Inu-Yasha: Me mostre de novo a Jóia de Quatro Almas, Kagome...

Kagome: O quê?

Inu-Yasha: Ora! Eu não vou tomá-la de você, se é o que está pensando!

Kagome: Essa idéia não me passou pela cabeça... (Mostrou a Jóia). Mas você não parece feliz por a termos recuperado.

Inu-Yasha: Não é esse o caso... (Olhou com tristeza para a bolinha reluzente). O brilho dela está diferente, está puro... Você conseguiu purificá-la...

Kagome: Sempre achei que quando fosse purificada a Jóia de Quatro Almas desapareceria.

Inu-Yasha: Não... Isso era o que Kikyou queria. (Finalmente a olhou nos olhos). O que você quer, Kagome?

Kagome: Como assim, o que eu quero? (Começou a sentir um aperto no coração por causa do rumo daquela conversa). Eu quero ficar com você para sempre... (O abraçou).

Inu-Yasha: (Virou o rosto). Só que agora você tem que proteger a Jóia de Quatro Almas... E seria muito mais seguro, fazer isso no seu mundo, Kagome, já que lá não existem tantos youkais como aqui. E sua família está toda lá.

Kagome: (Entendeu o que ele queria dizer, mas continuou abraçada a ele). Eu quero que você venha comigo...

Inu-Yasha: E quanto tempo você acha que vai demorar para as pessoas se assustarem comigo, Kagome? Eu sou metade youkai, se lembra? (Tinha lágrimas nos olhos). E isso nos condena...

Kagome: Eu já respondi o que eu quero, Inu-Yasha. Me diga você o que quer!

Inu-Yasha: O que eu quero não é possível porque eu não poderia mais protegê-la.

Ela tentou conter as lágrimas, colocando a cabeça sobre o ombro esquerdo dele, mas não conseguiu. Ele segurou a mão dela, tentando confortá-la. Por acaso, era a mão que segurava a Jóia de Quatro Almas.

Kagome: Você não percebeu o quão forte eu fiquei? (O encarou). E eu preciso de você não porque eu queira proteção, mas porque eu te amo. Agora o que você realmente quer? (Os olhos de ambos brilhavam por causa da umidade das lágrimas).

Inu-Yasha: Eu quero me tornar humano para ficar com você, Kagome...

Beijaram-se desesperadamente, pois chegaram a pensar que aquele poderia ser o último beijo, mas não era esse o desejo de ambos. A Jóia de Quatro Almas, entre suas mãos, começou a pulsar e a brilhar fortemente. Correntes de ventos envolveram Inu-Yasha, ergueram seu corpo no ar e o separaram de Kagome. A Jóia de Quatro Almas ficou flutuando diante do peito dele e o envolveu com um brilho tão forte que a cegou por alguns instantes. Shippou e Kirara acordaram assustados.

Shippou: Kagome! O que está acontecendo? (Pulou no colo dela).

Kagome: Eu não sei, Shippou! A Jóia de Quatro Almas enlouqueceu!

A poucos metros dali, Sango e Miroku retornavam de mãos dadas para o lugar onde estavam seus amigos. Notaram algo a sua frente.

Sango: Que brilho é aquele, Miroku?

Antes que se dessem conta, o brilho emitiu um facho de luz que subiu em direção aos céus, se desfazendo.

Miroku: Seja lá o que for, não parece boa coisa!

Apressaram o passo até o acampamento e se surpreenderam ao se depararem com um Inu-Yasha de cabelos pretos, mesmo não sendo noite de lua nova. Nem ele mesmo acreditava. Estava olhando, incrédulo para suas mãos, que não tinham mais garras. Kagome colocou Shippou no chão, levantou-se e caminhou até ele. Tocou-lhe a face, talvez para sentir se era real e notou que o ferimento em seu peito também havia desaparecido. Viram uma pequena luz descendo dos céus, era a Jóia de Quatro Almas que Kagome amparou. Então os dois se abraçaram.

Sango: Sabem, agora que eu me dei conta... (Olhou para Miroku). O buraco do vento. Naraku está morto, isso quer dizer que a maldição acabou...

Miroku: (Olhou um pouco receoso para sua mão direita e respirou fundo). Bem, vamos testar... Para trás!

Desenrolou o colar de contas e apontou seu braço para uma direção vazia. Fechou os olhos, esperando o que sempre acontecia, mas daquela vez foi diferente. Virou sua mão lentamente na direção de seu rosto. Incrédulo ainda, arrancou a luva e, para sua alegria e a de seus amigos, o buraco do vento havia desaparecido. Todos simplesmente passaram aquela noite acordados, talvez até, comemorando suas conquistas.

*****

Vivemos em qualquer lugar

Enquanto viajamos sem direção

Procurando a luz até encontrar

Eu caminho sempre com você

"Meu nome é Kagome Higurashi, tenho 16 anos e estou cursando o colegial. A minha casa é um templo muito antigo, cheio de mistérios. Há cerca de um ano, eu fui puxada para dentro de um poço por um youkai e fui parar 500 anos no passado, no Sengoku Jidai. Lá eu encontrei um garoto preso a uma árvore por uma flecha encantada. Fui eu quem retirou a tal flecha e que acabou por despertá-lo. Dentro do meu corpo, eu trazia a Jóia de Quatro Almas. Também descobri que eu era a reencarnação da sacerdotisa que lacrou aquele garoto naquela árvore. No começo, nós não nos dávamos muito bem, ele até tentou me matar. Mas as coisas foram mudando com o tempo."

Agora no fundo dessa densa floresta

Certamente, despertou o que está lá escondido

Dentro do meu coração

"Num acidente eu acabei espatifando a Jóia de Quatro Almas e tivemos que nos unir para restaurá-la. Fizemos amigos pelo caminho, mas também alguns inimigos. Durante nossa busca, nós crescemos e aprendemos juntos o significado do amor. Conseguimos ultrapassar todos os obstáculos e a Jóia de Quatro Almas finalmente está completa. Aquele garoto, hoje é a pessoa que eu mais amo e ele a mim. Deixar os amigos que fiz e retornar a minha era foi difícil, mas com ele ao meu lado eu não me sentia só. Seu sorriso me confortava. Hoje, diante daquele poço que nos uniu, estamos prestes a lacrar a passagem, evitando assim que monstros do passado possam ultrapassá-la, atrás da Jóia de Quatro Almas que agora está sob minha proteção...".

No ritmo do tempo

Talvez voarei mais uma vez

Inu-Yasha: Na forma humana não poderei mais ativar a Tessaiga, então ela será usada como lacre para este poço, Kagome...

"Eu só concordei com a cabeça e me afastei um pouco para dar-lhe espaço. Espetando a Tessaiga na tampa do poço, mesmo destransformada, seu escudo protetor impediria que youkais da outra era passassem. Ele pôs a mão sobre a espada e a sacou de sua bainha. Um gesto que eu já vira várias vezes, mas que sempre me admirava quando ele o fazia. Admiração maior foi perceber que apesar de ter uma forma humana agora, a Tessaiga continuou a obedecer a seu mestre e tomou sua forma de canino. Ele sorriu satisfeito, como se já esperasse por isso".

Inu-Yasha: Eu sabia...

Kagome: Como pode ser isso, Inu-Yasha?

Inu-Yasha: Quando eu desejei me tornar humano, Kagome, era porque eu queria ficar com você, mas, além disso, me preocupava o fato de não ser mais forte o suficiente para protegê-la. Eu devia ter percebido isso antes, já que nenhum dos meus sentidos de youkai havia sido afetado...

Vivemos em qualquer lugar

Enquanto viajamos sem direção

"Eu apenas sorri para ele. Concordamos em deixar o poço como estava. Demos as mãos e saímos para o dia claro que fazia lá fora. Mamãe, vovô e Souta nos receberam com muita alegria. O vovô ficou meio histérico quando eu engravidei, mas acabou se conformando. Já que o poço não fora fechado, vez por outra retornávamos a outra era, só para rever os amigos e os filhos dos amigos. Bem, essa é a minha história. Eu só posso dizer que sou a pessoa mais feliz do mundo por tê-lo comigo...".

Procurando a luz até encontrar

Eu caminho sempre com você...

*** FIM ***

Autora: By Mandora

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