CAPÍTULO 8 –O CORVO E O DRAGÃO

Como de surpresa, ela chegava, tomando a todos no pior momento possível, durante o instante de maior excitação .

E maior medo .

E pânico .

Onde quer que estivessem, nas mais variadas situações e posições possiveis, a opinião era unânime . E o sentimento também .

Muitos colocavam a mão na boca de tanto horror, outros cobriam os olhos, não suportando ver aquilo .

Para eles, apenas um jogo .

Para ele ... também .

Um jogo que podia tomar proporções desastrosas ... e mortais .

Yoh Kneen . !4 anos . Quarto ano de Hogwarts .

O que estava fazendo ali ? Nem mesmo gostava de Quadribol . Preferia corrida de vassouras, gostava de sentir o vento bater em seu rosco, a sensação de singrar os céus cada vez mais rápido .

O que fazia ali ? O que ?

Por um pequeno instante, o qual se estendia por toda a eternidade, os expectadores estavam congelados diante da situação, como se ela demorasse uma eternidade para passar .

E como era doloroso tal momento . Podiam ver, passando pelos seus olhos, todo o clima, todos os momentos do jogo, em menos de um segundo .

Um segundo que foi fatal para outros .

Até que o instante passa .

- YOOOOOOOOHHHH !!!!!!

O grito da jovem Weasley corta o silêncio, mas é abafado pelo som do estádio e do tempo . Os espectadores haviam praticamente se esquecido do jogo em si, prestando atenção ao apanhador .

Mas a verdade, a grande verdade, era que ele havia dado voltas demais, abusado demais daquela situação, e seu corpo agora iria pagar caro por isso .

Até mesmo a torcida do time adversário, os sonserinos, estavam com os olhos vidrados no evento .

Durante muitos e muitos anos, todos jogaram Quadribol, sabendo que o esporte era bem violento . Mas, uma vez que sempre podiam contar com uma especialista em cura, ferimentos gravíssimos eram coisa passageira .

Mas a dor, em muitos casos, não .

As vezes, uma dor podia durar uma eternidade para passar, e mais outra até que alguma ajuda chegasse, coisa que demorava naquele momento . Os alunos estavam de boca aberta, muitos até assustados com a queda, outros receosos de expressar algum outro comentário .

De sua posição, ele abre sua mão, permitindo que as primeiras lágrimas do céus tocassem em sua pele, confirmando algo que ele já esperava .

Chuva .

Carlos faz um sinal, sendo seguido por Miranda e Ariel, ao passo que a chuva começa a cair pesadamente . No mesmo instante, ele sinaliza para Rika e James, os quais não haviam se esquecido de que, apesar da chuva e do ferimento de Yoh, algo não podia ser esquecido : o jogo continuava .

A voz de Lino Jordam sumiu, pois simplesmente faltavam-lhe palavras para dizer, para descrever o que acabara de ver .

Afinal, segundo alguns, a dor era uma mera opinião .

Uma opinião com fundamentos bem rígidos e convincentes, a propósito .

- É minha – o grito de Malfoy , apesar da distância, ecoa até os ouvidos de Yoh, semi-inconsciente e tentando suportar toda a dor que percorria seu corpo .

E falhando miseravelmente, por sinal .

A grande verdade era que ele passou da conta, abusou mais do que devia, e pagou o preço por isso . Seu corpo deu tantas voltas no chão durante a queda, que a dor em seus músculos era imensurável .

- E CAI O APANHADOR DA CORVINAL, SENHORAS E SENHORES ! E QUE QUEDA TERRÍVEL ! E A JULGAR PELA QUEDA, DIFICILMENTE YOH KEEN IRÁ SE ERGUER NOVAMENTE NESSE JOGO - ele continua observando tudo a sua volta, em especial ao movimento de Draco - O QUAL NÃO PARECE MUDAR MUITO, JÁ QUE DRACO ESTÁ LITERALMENTE PEGANDO O POMO !!!

As últimas palavras de Lino . As últimas que atingiram os ouvidos de Yoh . Sua cabeça doía muito, tudo girava ao seu redor, como se fosse explodir .

E, apesar de tudo, ele continuava enxergando razoavelmente bem os jogadores e seus movimentos .

Apesar de estar correndo ao lado de Malfoy, ainda assim estava prestando atenção ao seu time, acompanhando o desenrolar do jogo para não cometer algum erro ao pegar o pomo . E o mesmo, diga-se de passagem, estava jogando bem .

Muito bem, por sinal . Podia dizer que o time se desenvolveu bastante em poucas semanas .

Mas talvez Cho estivesse certa, pensava .

A questão era que o time se movia desesperadamente, como se estivesse planejando algo .

Improvável .Draco iria pegar o pomo e o jogo seria encerrado . Sua vassoura estava longe demais para ele tentar algo, tampouco tinha forças para se mover . Podia sentir cada osso que estava quebrado, fraturado ou levemente escoriado, e eles eram muitos .

Até mesmo seu rosto doía . Sentia um leve sangramento em sua cabeça, acompanhado de uma forte dor na nuca .

Mas, mesmo assim, ele mantinha os olhos fixos no jogo, pelo menos enquanto seu corpo permitia tal coisa .

Draco se aproximava perigosamente do pomo .

E ele não podia fazer nada .

Quadribol ... hunf ! No fim, todo o jogo seria perdido por que ele fora derrubado . Não importava o quanto o seu time estivesse jogando bem, nem mesmo se fosse superior ao time da Sonserina ...

Tudo acabado .

Tudo .

- JAMES !!!!

O rapaz ouve o berro de sua irmã de sangue e de equipe, movendo-se perigosamente em meio a chuva, tentando atingir seu objetivo . Tentando, não . Precisava atingi-lo . Treinou duramente, se preparou para aquele momento . Não podia falhar . As aulas extras que teve com Yoh e Carlos ... era hora de mostrar que serviram para algo .

E serviram .

Não era uma regra geral, mas na maioria dos casos, os jogadores mais rápidos de um time eram os apanhadores . E não era por menos, tendo em vista sua função, perseguir uma esfera absurdamente rápida .

Em seguida, vinham os apanhadores . Um jogador incauto menosprezaria a função deles, e este mesmo jogador não duraria nem cinco minutos para se arrepender . Embora não tenham a função de marcar gols ou pegar a goles, eles eram obrigados a serem rápidos o suficiente para impedir que os demais jogadores fossem atingidos . Claro, os artilheiros, apanhadores e goleiros evitavam, na medida do possível, serem atingidos pelos balaços, mas não podiam ficar se concentrando nisso em tempo integral .

Mesmo por que, se fossem atingidos por um, poderiam ser colocados para fora do jogo em definitivo . Tanto batedores quando apanhadores tinham igual importância, a única diferença mesmo era que se ocupavam de esferas em velocidades diferentes, mas que podiam ser igualmente incomodas .

Embora não fossem considerados os mais velozes, os artilheiros deveriam ter uma boa desenvoltura e coordenação motora entre seus companheiros para conseguirem um excelente resultado . Afinal, de nada adiantava os batedores e apanhadores sem um time de nível .

Por último, haviam os goleiros . Definitivamente não eram conhecidos pela sua velocidade – nem tinham como – mas seu principal atributo era a sua agilidade, sua capacidade de se moverem rapidamente em curtos espaços . Definitivamente de nada adianta um goleiro com uma Firebolt, se ele mal é capaz de se mover entre o curto espaço que tem para impedir gols . Na verdade, uma vassoura poderosa ajudaria, mas não seria o principal fator . Habilidade e agilidade contavam muito .

Era isso que passava pela sua cabeça naquele momento . Carlos e Yoh sempre apostavam corrida de vassouras na fazendo do pai de Yoh, e acabam tendo que enfrentar todo tipo de obstáculo, desde musgos, arvores no caminho, pedras que surgiam do nada, e as vezes, algumas criaturas estranhas que os perseguiam . Na maior parte das vezes, eram obrigados a manobrar suas vassouras quase que instantaneamente em diferente ângulos e a uma velocidade alucinante .

Ele passava por algo parecido . Era obrigado a manobrar em uma vassoura com um bastão, e ainda agüentar o impacto no seu corpo depois de atingir o balaço com sua ferramenta de trabalho . Sempre fora curioso com a habilidade de Yoh, mas depois de treinar com ele durante alguns dias – e, em especial, os balaços enfeitiçados do professor Flitwick – acabou aprendendo alguns truques interessantes .

E até desenvolvendo outros, junto com Rika .

Voando como um louco, James se posiciona bem à frente de um dos balaços e, girando o corpo, ele o acerta, fazendo o mesmo seguir em outra direção .

- E ATENÇÃO, SENHORAS E SENHORES ! PELO VISTO, O TIME DA CORVINAL COMEÇOU A APELAR ! A PERDA DE SEU APANHADOR OS DEIXOU APAVORADOS ! O BATEDOR JAMES ACABA DE REBATER UM BALAÇO EM DIREÇÃO A MALFOY, O QUAL SE PREPARA PARA SE DESVIAR E ...

- ESPERA, LINO – Cho o interrompia – VEJA AQUILO . NEM EM CEM ANOS O BALAÇO VAI ATINGIR O MALFOY !

- BEM OBSERVADO, CHO ! NA ALTURA EM QUE ESTÁ, O BALAÇO VAI PASSAR A CERCA DE VINTE METROS DO MALFOY ! A TENTATIVA DE FALTA DE JAMES FALHOU !

- Creio que não – a bela moça de cabelos rosas dava um sorriso de vitória, enquanto sua vassoura habilmente segurada apenas pelas pernas se movia bem acima de James e dos demais jogadores . Rika havia rebatido o outro balaço para a esquerda e, acelerando ao máximo, ela para a exatos cinqüenta centímetros de onde o balaço iria passar – bons sonhos, Malfoy – com força ela segura seu bastão e calcula a trajetória, usando de uma perfeita sincronia que ela acabou por desenvolver com James ao longo de vários e vários treinos, e atinge com uma força poderosa, no entanto controlada, o balaço, o qual desce em direção a Draco como um míssil .

- AGORA VAI SER FALTA ! VAI SER FALTA ! A APANHADORA RIKA MALICIOSAMENTE LANÇOU O BALAÇO CONTRA MALFOY !

O pomo estava há poucos metros dele . Iria apanha-lo . Nunca mais seria desprezado, nunca . As pessoas iriam reconhece-lo, iriam reconhecer o valor de Draco Malfoy . Iriam se dar conta de que Harry Potter não era o único aluno talentoso da escola .

E ele só precisava pegar o pomo .

Os comentários de Lino Jordam pouco importavam para ele . O pomo era seu, e de mais ninguém . Dizia um velho ditado, "os vencedores sempre querem a bola".

Sua, e somente sua .

E de mais ninguém . E nem mesmo aquele balaço descendo perigosamente em sua direção iria impedi-lo .

Ou talvez sim .

Tudo ocorre muito rápido, mas diante dos olhos de Rika e James, era como se estivesse acontecendo em camera lenta .

Quando o balaço rebatido por Rika atinge a altura de exatos vinte metros, ele se choca contra o balaço arremessado anteriormente por James . O resultado é inesperado, o balaço arremessado por James tem sua trajetória mudada bruscamente, indo em direção ao loiro-gambá, bem mais rápido do que o esperado .

A mão de Draco cruza a dura parede criada pela chuva, aproximando-se do pomo . E cada vez mais . E mais . E mais .... até que ele é atingido nas costas, surpreendendo-se por causa do ataque surpresa . Ele perde momentaneamente o controle da vassoura e vai em direção a arquibancada, tentando ignorar a dor e manter o controle, de modo que acaba se chocando alguma vezes com alguns alunos, até que a vassoura dele dá um volta completa e o arremessa no campo .

Draco olha para cima, incrédulo .

Tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante . Sentia como se algo tivesse perfurado suas costas, tremenda era sua força .

O que fora aquilo ?

- MINHA NOSSA ! O QUE FOI AQUILO ? A JUÍZA NÃO VAI MARCAR FALTA ?

- NÃO HOUVE FALTA, LINO !

- NÃO ? ENTÃO COMO VOCÊ CLASSIFICA AQUILO ? UM BALAÇO PROPOSITAL ATINGE MALFOY, E VOCÊ DIZ QUE NÃO FOI FALTA, CHO ? TODOS VIRAM A MÁ CONDUTA DA APANHADORA DA CORVINAL !

- ENTÃO OBSERVE O QUE A JUIZA TEM A DIZER, LINO ! MAS ACREDITO QUE ELA VAI CONCORDAR COMIGO QUE NÃO HOUVE FALTA . RIKA REBATEU UM BALAÇO CONTRA OUTRO BALAÇO, E NÃO CONTRA O DRACO , LOGO NÃO PODE SER CONSIDERADA UMA FALTA !

- VAMOS VER ISSO ! E NÃO É QUE É VERDADE ? A JUIZA ESTÁ MANDANDO CONTINUAR A PARTIDA, E OS ARTILHEIROS DA CORVINAL APROVEITARAM A DISTRAÇÃO PARA MARCAR MAIS UM GOL ! ISSO É IMPRESSIONANTE, SENHORAS E SENHORES ! FOI MUITO ASTUTO DA PARTE DOS BATEDORES EM ARMAR UMA FALTA INDIRETA ! JAMES E RIKA SINCRONIZARAM SEUS MOVIMENTOS E A FORÇA DE SUAS BATIDAS PARA FAZEREM OS BALAÇOS SE ENCONTRAREM EM UM PONTO ESPECIFICO E ATINGIREM O APANHADOR DA SONSERINA ! REALMENTE, NÃO PODE SER CONSIDERADO COMO FALTA, POIS O BALAÇO QUE ATINGIU O MALFOY NÃO FOI IMPULSIONADO POR NENHUM DOS APANHADORES, E SIM POR OUTRO BALAÇO !

- Agora é contigo, Yoh . – Rika tinha um sorriso entre os lábios, ao passo que observava o amigo, o qual perdera os sentidos de vez – erga-se .

***

Futebol . Vinte e dois jogadores em campo disputando o direito de estufar uma rede .

Tênis . Dois jogadores – ou mais, em alguns casos – tentando fazer o outro cometer um erro .

Natação . Homens e mulheres lutando contra – e usando ao seu favor – a força das águas para atingir seu objetivo, para atingirem seus objetivos .

Maratona . Pessoas dando o seu melhor em uma corrida de pura resistência, em que o vencedor não é aquele que tem as melhores condições, mas sim aquele que tem o melhor preparo físico e controle do corpo .

Corrida . Cem, duzentos ou trezentos metros, o corredor tinha que saber usar sua musculatura, seu peso, sua agilidade e sua respiração, tudo isso ao mesmo tempo, para quebrar limites e correr como o vento .

Combates . Boxe, Judô, Capoeira, Luta-Livre ... no fim, um objetivo maior do que vencer, mas sim mostrar ao mundo a beleza da arte de cada estilo, o seu modo de viver, sua filosofia de vida .

Esgrima . Considerado o esporte dos nobres, o modo que os cavalheiros usavam para resolver suas diferenças, de modo leal e sem trapaças, um contra um, olho no olho, como homens de verdade .

Surf . Alpinismo . Pára-quedismo . O homem chegando aos seus limites, provando um imenso prazer e uma dose extra de pura adrenalina ao desafiar as forças da natureza .

Corrida de vassouras . Não muito diferente das diversas modalidades de corridas existentes no mundo dos trouxas, as quais ele amava . Fórmula 1, Kart, Iatismo, balões, cavalos ...

A velocidade, pura e simplesmente . Os grandes campeões, os mestres da velocidade, diziam que, quando estavam em seus limites, quanto atingiam aquilo que eles apelidavam de "A Grande Reta" , todo o resto perdia sua importância, de modo que a única coisa que conseguiam enxergar era a luz primordial, a força da velocidade . O prêmio que guiava cada um deles, que os motivava a ultrapassar os limites para vencer .

Quadribol . Um esporte de bruxos . Uma espécie de futebol de bruxos, apesar das regras englobarem elementos de baseball, corrida e outros esportes .

Ele simplesmente não gostava desse esporte . Nem um pouco .

Simplesmente por ser um tanto quanto ilógico .

Afinal, de que adiantava um time super treinado que podia ser derrotado apenas por causa de um único jogador ? Claro, de nada adiantava um time de futebol bom se o goleiro fosse terrível, mas mesmo assim, ele ainda tinha uma ajuda, tinha seus apoiadores .

Quadribol, não . Todo o resultado do jogo era colocado nas mãos dos apanhadores, e as vezes, ele nem precisava ser bom, só precisava ter uma vassoura boa, como o Draco .

Não era a toa que estava conseguindo se virar . Malfoy nunca fora um bom apanhador . Mas não era essa a questão .

A Sonserina tinha um time de Quadribol excepcional, mas de uns tempos para cá, sempre perdia para a Grifinória, e isso por causa de seu apanhador, Harry Potter .

Poderiam chamá-lo de invejoso, mas os números falavam por si . Houve um jogo em que eles precisaram ter uma certa vantagem de pontos para poder ganhar, o que significava que o Potter não poderia apanhar o pomo de cara, deveria esperar um pouco .

Outra . O caso da Cho . Ela sempre foi uma excelente jogadora . Não havia o menor questionamento quanto a isso . E sinceramente, em condições normais o Potter não a venceria .

Outro agravante . O time da Grifinória perdeu uma vez por que o Potter passou mal devido a proximidade com os dementadores .

Tudo perdido . Sem apanhador, sem fim do jogo . Mesmo com o time da Grifinória em plena vantagem, bastava o apanhador rival pegar o pomo ou, como tinha a vantagem, esperar o seu time marcar um número de gols suficientes para ele pegar o pomo e vencer .

Simples . Todo um time condenado por um único jogador . Pro inferno todo o trabalho de equipe, basicamente .

Não foi assim que os grifinórios ganharam todos esses anos, com o Potter sempre pegando o pomo ?

Tecnicamente falando, em nível de habilidade, os sonserinos são os melhores . Grifinória, Lufa - Lufa e Corvinal se igualavam . Mas a Grifinória ganhou uma vantagem enorme, um excelente apanhador .

Traduzindo em miúdos : todo o excelente time da Sonserina derrotado só por que o apanhador dela não conseguiu ser mais rápido que o apanhador rival .

A capacidade de cada jogador, o treino que faziam, o seu desempenho ... tudo jogado fora, só por que alguém não pegava a bola .

E agora ele estava naquela situação .

Caído e inconsciente, nada podia fazer . Aparentemente Draco também caira, mas duvidava que ele permanecesse assim por tanto tempo, pois fora atingido menos violentamente do que ele .

Afinal, o mesmo não estava usando sua vassoura no limite, tampouco tinha habilidade para tanto .

Realmente, Quadribol era um dos jogos mais confusos , dependendo do ponto de vista . Ao mesmo tempo em que incentivava a interação entre os participantes e o trabalho de equipe, jogava tudo para o alto ao deixar a responsabilidade nas mãos de um único jogador .

Realmente, se não fosse um pedido de seu melhor amigo, nunca teria feito aquele teste .

A chuva cai cada vez mais forte, castigando incessantemente todos os jogadores . A goles se tornava mais pesada, e os jogadores, mais lentos .

E todos jogavam uma partida sem fim, um jogo que aparentemente, nunca iria terminar .

Não que fosse a primeira vez que tal coisa acontecesse, claro . Mas devido as circunstâncias, aquilo poderia se estender por mais tendo do que haviam programado .

Era uma chuva pesada, a qual parecia não ter fim .

No chão, a água misturada com a terra mágica daquele local formava uma densa lama, negra como um abismo, a qual formava uma grossa crosta negra no chão .

No meio disso tudo, um cambaleante Malfoy se ergue, segurando suas costelas .

Como doía ! Lembrava-se das vezes em que fora acertado por balaços, mas aquele tipo de sofrimento parecia não ter fim .

Nem um pouco !

Era como se estivesse morrendo um numero incontável de vezes, e tendo a certeza de que nunca escaparia disso . Pior, a sensibilidade do corpo era explosiva, de modo que afetava todos os sentidos do corpo .

Ele se ajeita no chão, manchando-se um pouco com a lama, unindo seus pensamentos em um objetivo .

O jogo .

Ainda não havia terminado .

E ele precisava providenciar que aquilo tivesse um fim .

Com esforço, ele se ergue, mas depois de dois passos, o mesmo cai . Erguendo-se novamente, ele vai mancando pelo campo, deixando pegadas na lama, a qual se desfazia rapidamente .

Sua vassoura ... sua tão preciosa vassoura ... tinha que alcança-la ... tinha que fazer isso ! Não podia perder ... não podia desistir ... JAMAIS !

Os poucos metros que o separavam dela pareciam uma eternidade . Uma infinidade de obstáculos , no qual ele teimava em continuar .

- Venha – ele estica seu braço, e a mesma obedece ao seu chamado . Usando-a como apoio, ele respirava pesadamente, chegando a ouvir o pulsar de seu coração .

Lentamente a vassoura vai erguendo-o no ar, fazendo-o se distanciar do chão .

Era agora . Tinha que ficar atendo em relação aos balaços, e esperar pelo pomo, apenas isso .

Quanto ao sangue-ruim do Kneen ... era uma boa hora para descobrir o quanto ele era "forte".

Para Yoh, nada mais parecia importar . Sentia-se totalmente abatido .

Simplesmente por que não acreditava naquele esporte . Como dar algo além do seu melhor se não acredita naquilo ?

Foi o que fizera até então, deu o seu melhor, mas até quando faria isso ? Que lhe importava ganhar um título, se o mesmo nada significava para ele ?

Ele não imaginava o quanto estava errado .

Ou melhor ....

Por um motivo que ele sequer imaginava, ele acabou de visualizar em sua mente o movimento de Rika e James, o lance combinado que fizeram para tirar momentaneamente Malfoy do jogo .

Aquilo foi excelente . Excepcional . Era preciso muito treino, concentração e auto-disciplina para calcular a velocidade e distância exata que os balaços precisariam percorrer .

Mas não era essa a questão . Até era, mas ainda não vinha ao caso .

No primeiro jogo contra a Lufa - Lufa, ele teve relativa facilidade . Apenas ficou parado enquanto esperava sua hora chegar, e pegou o pomo . Ignorou por completo os balaços, pois sabia que podia se desviar deles . Mas nem sempre .

Durante o treino do professor Flitwick, ele pode comprovar isso . Teve a idéia de pedir ao professor para enfeitiçar um grande números de balaços, para testar sua capacidade de manobrar em altíssima velocidade .

A principio, isso deu certo, mas no momento em que o pomo surgiu, as coisas se complicaram .

Pior, ele teria sido massacrado, na verdade . Isso se Rika e James não tivessem intervindo .

Rika e James .

Anjos da Guarda .

Ele não podia se desviar de todos os balaços .

Eles não podiam rebater todos eles .

Mas, a partir do momento em que combinaram sua habilidades, ele desviando dos balaços, eles rebatendo os mais perigosos, ele conseguiu pegar o pomo . Se feriu gravemente, mas conseguiu pegá-lo .

Era estranho dizer, mas naquela hora, era como se algo tivesse despertado nele . Algo que ele não se dera conta antes .

Individualismo .

Sempre considerou o apanhador como extremamente individualista, cuja única função é aproveitar uma oportunidade .

E ficaria pensando assim até o fim de sua vida se não tivesse visto aqueles dois defendendo-o, devolvendo os balaços .

Rika e James ...

Que dupla !

Verdadeiros anjos da guarda, prontos para deixar seu caminho livre .

Foi ai que ele percebeu uma coisa .

Algo que esteve diante dele esse tempo todo .

Não era uma questão de ser individualista, e sim , de ponto de vista .

Era verdade que aquele jogo dependia e muito de uma única pessoa ... mas até ai, era o mesmo que um time cujo único ponto forte é seu artilheiro, ou então um goleiro que é uma verdadeiro muralha de aço .

Demorou algum tempo para Yoh perceber ... ele precisou experimentar aqui, sentir na pele o êxtase e a excitação do jogo .

O alegria do campeonato ... o prazer pelo esporte ...

Demorou para ele entender, para compreender que ele sozinho não era nada . Assim como Rika e James . E Carlos . E Mirada . E Ariel . E Julieta .

Sozinhos, não eram nada .

Unidos, eram algo . Uma coisa forte, poderosa, maior do que um simples grupo .

Uma equipe . Um time .

Se ele tinha espaço livre para voar, se Carlos podia marcar gols e Julieta podia defender, era por que seus "anjos da guarda" velavam por eles . Se o jogo era virado, era por os artilheiros faziam o milagre de conduzir a goles pelo campo, passando por balaços perdidos e muitas vezes sendo atrapalhados por apanhadores e batedores .

Se Julieta conseguia fazer suas peripécias e ainda ter espaço livre para defender três lugares diferentes, não era única e exclusivamente por causa de sua talento, mas por que ela tinha artilheiros e batedores em quem confiava, os quais manteriam a goles e os balaços o mais distante possível .

E aquilo só chegava a um fim, só tinha um desfecho, quando ele pegasse o pomo dourada . Ele, mas não sozinho, pois podia contar com os artilheiros e o goleiro para manter um placar razoável, e os batedores para livrá-lo de outras preocupações .

Não ele . Eles .

Sozinhos, não erma nada .

Unidos, eram um . Apenas um . Cada um com sua individualidade contribuindo para um ideal em comum : Não a vitória, nem a glória ou a fama .

Mas o prazer pelo esporte, o prazer pela competição, o simples ato de estar competindo, sentindo o prazer e a excitação correr em suas veias .

Cada um executando sua função e contribuindo para um todo .

Ao rebater aquele balaço contra outro para atingir Malfoy, Rika fez muito mais, ela depositou toda a sua confiança em Yoh, acreditando que ele se ergueria .

Pois sabia, não, acreditava que ele compreenderia aquilo, que enxergaria que Quadribol não era apenas um jogo individualista em que riquinhos exibiam novos modelos de vassouras .

Ela estava certa . Era irônico ele precisar quebrar quase todos os ossos do corpo para compreender que, muito mais do que qualquer opinião pessoal sua, Quadribol era o principal jogo dos bruxos e, não por acaso era o mais jogado, famoso e adorado . Era algo que existia em todos os continentes . Assim como o futebol dos trouxas que existia em todos os continentes e levava multidões a loucura, Quadribol era uma paixão que cativava bruxos do mundo inteiro, unindo-os por um único objetivo, independente de credo, cor, raça e nascimento : competição . O prazer único e inigualável de ver 14 jogadores correndo pelos céus, observando tudo lance a lance, seja a goles, os balaços ou o pomo . As faltas espetaculares, os gols esplêndidos e a disputa do pomo . Cada um torcendo pelo seu time do peito, vibrando com a narração dos mais experientes narradores, capazes de transmitir aos espectadores o máximo da emoção, do amor, do carinho, da agressividade, do sentimento mútuo compartilhado por todos os jogadores durante um jogo . Bruxos e bruxas de várias partes do mundo parando e deixando seus problemas de lado, independente de serem "sangue-puros" ou mestiços, sentando-se lado a lado para observar, ignorando a tudo e a todos . Preconceitos e inimizades eram deixadas de lado, pois todos compartilhavam algo maior, algo espetáculos, algo lindo, algo ... glorioso .

Algo que nem mesmo os grandes mestres das trevas podiam tomar, algo que unia seres em todos os cantos do mundo por um ideal em comum que nada tinha a ver com a guerra, injustiça, perversidade, depravação, desigualdade e indiferenças .

Era algo ... puro .

Seu sangue fervia como nunca havia fervido antes, como se algo novo tivesse nascido nele. Por um breve instante achou que havia ficado furioso e que seus olhos se tornariam vermelhos, mas não era isso .

Excitação . Estava excitado por aquilo, pelo sentimento do desafio inerente .

Não sentia mais seu corpo, a dor era imensurável . Tampouco tivera suas forças restabelecidas .

Era sua pura determinação e força de vontade que o movia .

Sua mão afundava na lama, como se quisesse marcá-la por toda a eternidade, enquanto se esforçava para se erguer . Sentia cada osso de seu corpo estalando, pedindo por redenção, mas seu interior clamava por algo maior .

Algo glorioso .

Seus braços davam-lhe a sensação de que iriam se partir, mas uma força maior o erguia .

Algo glorioso .

Um grito em meio a multidão era emitido, mas pouco importava para ele . Ele iria se erguer novamente, nem que tivesse que sacrificar sua vida para tanto .

De onde estava, Draco sequer acreditava em seus olhos . Não podia crer que, depois daquela queda, ele estivesse tentando se erguer .

A lama negra havia coberto todo o corpo de Yoh, com exceção dos olhos, formando uma densa crosta, de modo que ele lembrava algo diferente, apesar da aparência humanóide . Sua capa se sobressaia, apesar de estar rasgada em alguns pontos devido ao atrito gerado pela queda .

Mas ele insistia sem se entregar . Sabia que, acima dele, os demais jogadores estavam torcendo e continuando o jogo, sejam os da Corvinal, sejam os da Sonserina . Pois, no fundo de seus corações, mesmo que não soubessem, todos almejavam algo gerado pelo Quadribol .

Algo glorioso .

Suas pernas estavam lhe matando, arrancando seus últimos suspiros em vida . Como se caminhasse em meio a brasas, ele dava um passo, quase caindo, só evitando isso por motivos que nem ele sabia descrever .

Só o som da chuva e dos balaços sendo rebatidos era ouvido, pois todo o estádio havia ficado em total silêncio para admirar tal cena, tal esforço .

Seus olhos já estavam vermelhos, não de nervosismo, mas pela irritação causada pelo sangue que entrou neles .

E seus ossos, prontos para se partirem enquanto ele caminhava em meio a lama, até sua vassoura .

- Um corvo – um dos alunos concluía ao perceber o corpo totalmente negro de Yoh com uma capa cuja parte traseira destruída lembrava as asas de uma ave . – Ele parece um corvo !!!

Mas nada importava . Nada mesmo .Estava prestes a cair, a ceder aos caprichos e necessidade de seu corpo, quando aquilo começou .

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

Não podia olhar, mesmo no limite de suas forças, só algo merecia sua total atenção .

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

Começou com um aluno, o qual provavelmente nunca saberiam quem era . Em seguida, outro se uniu a ele .

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

E outro . E outro . E mais outro !

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

- Corvo ! Corvo ! Corvo ! Corvo !

As vozes ecoavam pelo campo, até que Yoh se dá conta que se referiam a ele . Um dia perguntariam o motivo de o chamarem de corvo, talvez por causa de seu boné, mas a verdade era que se referiam a ele mesmo .

- Águia ! Águia ! Águia ! Águia ! – berrava o professor Flitwick, numa vã tentativa de faze-los se lembrar que o símbolo da Corvinal era uma ave de rapina, e não um corvo . Quando se deu conta de que era uma torcida de um homem só, ele se calou .

E os gritos continuaram .

Só que com uma leve mudança .

- Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos !

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- Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos ! Corvos !

Cada passo era um sacrifício ... era um movimento extremamente controlado diante de um precipício ... um avanço contra a tempestade .

Corvos .

Tempestade .

Os Corvos de Ravenclaw .

Os Corvos da Tempestade .

- Vem – ele dá o último passo e clama pela sua vassoura, a qual obedece seu comando, diante de aplausos de todos os presentes . Exausto, ele cai sobre ela, depositando todo o seu peso e enlaçando-a com suas pernas .

Não poderia subir novamente . Não tinha velocidade para tanto, tampouco conseguiria controlar o tranco adicional, de modo que ele voa até a parede e começa a voar ali perto, dando voltas em torno do estádio bem próximo ao chão . Em determinado momento, quando atinge uma certa velocidade, ele voa bem mais perto da parede, como se a estivesse usando como pista, ficando a poucos centímetros dela, numa velocidade que aumentava cada vez mais .

E a dor do vento batendo em seu corpo também .

Só uma vez ... só mais uma vez .

Era um tudo ou nada . Fora capaz de igualar a velocidade de Draco, mas agora, tinha que fazer mais do que isso .

Tinha que superá-lo .

Ao contrário do que o professora Snape o acusará, não havia nenhuma magia ali, tampouco qualquer trapaça . Ele apenas acelerou sua vassoura ao limite e além disso, fazendo-a atingir uma velocidade impressionante .

Em verdade a Firebolt era uma vassoura sem igual, pois partia da inércia total para uma alta velocidade em poucos segundos e com pouco espaço . Malfoy conseguia fazer isso muito bem, mas nem tanto . Fora bastante esperto em se informar a respeito dele . Na primeira aula de vôo na escola madame Hooch disse que ele segurava a vassoura de maneira errada durante anos ... o modo pelo qual ele entrou para o time da Sonserina por causa do pai ... as vezes em que ele perdeu para o Potter e o último jogo contra a Lufa - Lufa, foram o ponto principal para ele descobrir o ponto fraco de Malfoy .

Ele simplesmente era fraco .

Não se referia a ele em si . No fim, descobriu que Draco possuía um gênio, uma atitude, uma personalidade e força de vontade fortíssimos, o qual poucos poderiam superar e era capaz de colocar aos seus pés qualquer pessoa, mas para tanto, Draco teria que andar com seus próprios pés, seguir seu próprio caminho .

Ela se referia mesmo a sua habilidade com uma vassoura . Se fora treinado pelo pai desde pequeno, mesmo que não fosse um às do vôo, sua habilidade mais uma Nimbus série 2001 seriam suficiente para dar uma surra em qualquer um, e mesmo com um talento de nascença, Potter pouco poderia fazer contra ele . O tiro de misericórdia foi no jogo contra a Lufa - Lufa .

Enquanto isso, ele voava cada vez mais rápido, dando voltas e voltas próximo ao chão, aumentando a velocidade da vassoura a níveis antes só possíveis em teoria .

Malfoy não tinha tanta habilidade assim . Ele acreditou que o dinheiro era tudo, e depositou todas as suas esperanças no que o dinheiro podia comprar de melhor, a melhor e mais rápida vassoura fabricada até então .

Se Draco tivesse metade da Habilidade de Luna, a apanhadora da Corvinal, teria pego aquele pomo em menos de cinco minutos de jogo, ao invés de arrastá-lo por quinze longos minutos . Era um insulto alguém com uma veículo tão rápido não conseguir ir mais rápido .

Simplesmente por que Draco não tinha a habilidade necessária para atingir o máximo de uma Firebolt . Se o tivesse, de nada adiantaria sua estratégia .

Basicamente, ele deu voltas e voltas no estádio, de modo que pudesse aumentar a velocidade da vassoura . A principio uma Nimbus, de qualquer série, não é páreo para uma Firebolt, mas se você dispuser de um terreno e espaço o suficiente para acelerar, é possível fazer qualquer vassoura se tornar mais rápida do que sua velocidade normal .

Era o mesmo que ocorria com os carros dos trouxas . Em um velocímetro poderia estar marcando como velocidade limite algo em torno de cento e oitenta quilômetros . Claro que você, "no tranco", poderia fazer o veículo ultrapassar tal velocidade, mas a direção iria ficar pesada demais, e não era algo para qualquer um . Seria necessária alguém com as características obrigatórias para controlar tal máquina .

Era o que ele fazia . Ao voar além do limite com a Nimbus 2003, a mesma vibrava tanto, que só um pulso forte e uma habilidade excepcional como a dele para voar e manobrar em altas velocidades lhe permitiam manter aquilo um certo tempo, mas nem tanto .

E agora lá estava ele, correndo como nunca .Era sua pista livre, e ele estava a espera de sua luz sagrada, a qual colocaria um fim a tudo . Os espectadores apenas viam um borrão passar pelas paredes, e um vento forte junto com um pouco de lama que era levantada passava por eles .

A vassoura começa a vibrar novamente, e ele a segura com tudo o que lhe resta . A dor da vibração era insuportável, mas tinha que suportar, tinha que resistir .

Por que ele estava começando a amar aquele jogo . Finalmente entendeu seu verdadeiro significado, enxergou que era mais do que um jogo de um homem só .

Não podia perder . NÃO TINHA ESSE DIREITO !

Até que ela surge . Modestamente, mas surge em meio aquele chuva, quase que imperceptível .

Para sua surpresa, mas nem tanto, Malfoy a percebera antes, de modo que acelera ao máximo sua Firebolt .

Mas não o suficiente para escapar dele .

A vassoura vibrava cada vez mais, e seu instinto de corredor lhe dizia que algo de muito ruim iria acontecer . Algo do qual ele não estava preparado para enfrentar .

Mas ele continua, redireciona a vassoura e singra os céus como um raio atrás do pomo, o qual se desviava graciosamente dele e de Malfoy .

O tempo não tinha mais importância, tampouco o espaço . Eram eles e apenas eles com um único objetivo em mente, pegar aquele objeto, aquele que seria seu prêmio .

Não demora muito, o pomo estava logo a sua frente, apenas alguns metros , na verdade . E ele o disputava com Malfoy .

Nunca sentiu tamanha excitação em sua dúvida . Draco era um oponente respeitável que, apesar de sua pouca técnica, era capaz de fazer as coisas acontecerem pela força de sua vontade .

Ambos ficam lado a lado, percorrendo em camera lenta os poucos metros que faltavam . Estavam dando tudo, suas vidas pela vitória, por aquele momento .

Uma rápida vibração, e sua vassoura perde um centésimo de sua velocidade atual . Algo perigoso demais naquelas condições .

Sem alternativa . Sem saída . Sem escapatória .

- Os vencedores sempre querem a bola, Malfoy – o rapaz envolto por uma crosta de lama gritava, ao passo que , em alta velocidade, pulava de sua vassoura em direção ao pomo, ato esse imitado por Draco .

- Os vencedores sempre quererm a bola, Kneen – recitava Draco, com os olhos em chamas e um desejo enorme de atingir seus objetivos .

Ambos haviam deixado as vassouras para trás, disputando até o fim o desfecho daquele jogo . Para ambos, nada mais importava, apenas o pomo dourado .

Ou a luz sagrada, como diria Yoh . Ela brilhava diante de seus olhos, a luz , a força que concedia a velocidade a todos os corredores e lhes incentivava a ultrapassar todos os limites impostos para alcança-la e conseguir o prêmio absoluto almejado por todo velocista .

Não se viam mais Draco Malfoy e Yoh Kneen no meio de um salto em direção ao pomo, mas sim a explosão de seus espíritos, ambos lutando fervorosamente pelo resultado .

Yoh e Draco .

Kneen e Malfoy .

O Corvo e O Dragão .

Suas mãos se esticavam até o último momento . Yoh nem se deu conta – ou se deu, não se importou – quando sua vassoura se partiu em vários pedaços, sobrecarregada por ultrapassar os limites .

Mas nada mais importava, nada mesmo . Só ele, o pomo dourado .

Quem venceria ? Draco ? Yoh ?

Tanto faz . Vencer não era importante, e sim competir . Tanto que Draco apesar de levemente decepcionado, reconhece na hora que Kneen, por um breve momento, foi mais forte do que ele, quando o mesmo pega o pomo .

Mas isso também não importava, pois não tiveram tempo de comemorar quando seus corpos despencaram em direção ao chão, de modo que Yoh caiu encima de Draco .

- Argh ! – Havia uma certa fúria no grito de Draco – Kneen ... saia ... de cima ... de ...

Ela tenta erguer Yoh, e o mesmo tenta se mover, mas não consegue . Estava no limite . Havia ultrapassado seus limites .

Quanto a Draco, ele não tinha certeza, mas imaginava que o mesmo ainda não ultrapassara seus limites .

Se um dia fizesse isso, seria uma pessoal única e inacreditável .

Os demais sons haviam sumido . O silencio impregnava o local, com exceção da chuva .

Apenas o som de passos era ouvidos por ambos .

- Senhor Kneen ... Senhor Malfoy – a voz dura e rígida de Madame Hooch parecia ser mais forte do que a própria chuva, como se o vento expulsasse a tempestade naquele local para permitir que a mesma se pronunciasse – meus parabéns . Foi uma honra arbitrar uma partida como essa, na qual tive o prazer de encontrar tão grandes esportistas . Ambos jogarem honestamente sob as regras da Confederação Mundial de Quadribol, e em todo o momento, demonstraram o verdadeiro espirito da competição, mais do que isso, se tornaram representações vivas do verdadeiro significado deste jogo . Não importa o resultado deste jogo, pois independente de quem tenham vencido, ambos os senhores são vencedores, e ninguém pode tirar isso de vocês . Demonstraram garra, perseverança, honestidade, igualdade e respeito pelas habilidades do colega, além de um inigualável senso de competição . Senhor Malfoy, Senhor Kneen ... apesar das dificuldades apresentadas, apesar dos obstáculos que ambos enfrentarem neste jogo, seja o grau de habilidade ou a qualidade de seu equipamento, os senhores competiram maravilhosamente . Em anos arbitrando e ensinando Quadribol para milhares de bruxos, foram poucas as vezes em que vi pessoas encarnando o verdadeiro espirito do esporte, como hoje . Mesmo com as dificuldades impostas pelo clima, mesmo com os ferimentos, ambos lutaram por algo maior do que a vitória, pois a vitória não seria suficiente para faze-los se erguerem no estado em que se encontravam . Ambos foram movidos por algo maior, algo que estava no intimo de cada um, mesmo que não tenham percebido . Meus parabéns, senhores. Foi o melhor jogo de Quadribol que já arbitrei em toda a minha vida .

Ambos os apanhadores provavelmente nunca entenderiam como os espectadores puderam ouvir as palavras que Madame Hooch parecia ter sussurrado apenas para eles, mas uma enorme salva de palmas foi ouvida em seguida .

Por que ela estava certa . Não foi uma partida ganha, foi algo mais do que isso .

Um time ganhou, mas não o time vencedor .

Um time perdeu, mas não o time perdedor .

Naquele dia, a crença em algo que unia a todos, que os guiava a um ideal em comum venceu, movidos pelo esforço inigualável de ambos apanhadores .

Anos mais tarde, todos se lembrariam daquele dia .

Muito mais do dia em que um desconhecido venceu o herdeiro de uma das famílias mais ricas entre os bruxos, tampouco no dia em que Corvinal venceu Sonserina .

Seria o dia em que, em uma demonstração intima e pessoal por parte de cada um dos presentes, algo glorioso, algo puro fora alcançado . Algo que transcendentia o simples conceito do jogo, que ultrapassava as barreiras impostas pela sociedade, vencendo-as triunfantemente e atingindo cada um dos jogadores e espectadores, capaz de bater forte no peito de todos, fazendo rivais darem as mãos, inimigos se perdoarem e desconhecidos se apresentarem .

Seria o dia em que o Corvo bateu suas asas e o Dragão despertou .