Capítulo V
"Você não está falando sério…" – estava com os braços cruzados e olhando seriamente para o rapaz de olhos castanhos a sua frente.
"O que eu ganharia por brincar com isso?…" – ele perguntou e estendeu a mão para ela.
"Hum,…" – continuava olhando-o, desconfiada, descruzou os braços e sorriu – "tudo bem… mas se for mentira você vai se ver comigo…" – advertiu-o em tom divertido.
Ele a pegou pela mão, levando-a até a entrada da pensão.
"Certo,… agora feche os olhos…" – pediu sem soltar a mão dela. Ela fez o que ele pediu depois de balançar negativamente a cabeça e suspirar – "Muito bem,… mas não vale espiar Srta. Kinomoto…".
"Eu não vou…" – ela replicou, sorrindo – "para onde vai me levar?...".
"Eu já disse..." – ele riu da careta da garota – "é uma surpresa!".
"Não é muito longe,... ou é?" – perguntou sendo puxada.
"Não,... não é!" – balançou a cabeça.
"Ainda bem,... por que meus pés ainda estão doendo pela caminhada de ontem!" – ele riu – "Do que é que você está rindo?".
"Nada..." – parou de rir e continuou guiando-a enquanto ela cantarolava baixinho uma canção. Aproveitou aqueles poucos minutos para ficar admirando-a. Sempre pensou que não conseguiria achar ninguém mais bela que Mei Ling, mas ali estava ele, junto com aquela garota que o fazia simplesmente se esquecer de tudo – 'Como é possível que eu tenha me aberto tanto em tão pouco tempo…' – perguntava-se vendo a face da 'amiga' corada pelo frio.
"Que frio…" – agitou levemente a cabeça.
"Calma que agora falta pouco…" – ele soltou uma das mãos dela e puxou para baixo a boina que usava cobrindo-lhe os olhos.
"Shaoran!" – ele rapidamente pegou a outra mão dela antes que pudesse ajeitar a boina.
Riu com gosto quando ela lhe mostrou a língua, aparentemente irritada. Pararam de andar e ela suspirou – "Já chegamos não é?…" – ia tirar a boina dos olhos, mas ele segurou suas mãos.
"Tenha um pouco mais de paciência…" – abaixou as mãos dela e a virou pelo ombro um pouco para a esquerda – "Antes de tudo apenas escute…" – pediu suavemente. Ela concordou.
Ficaram em silêncio por alguns minutos. Muitas coisas passaram na mente dos dois jovens enquanto ouviam o som das ondas do mar estourando um pouco distante. Lembranças que há uma semana atrás os fariam sentir um forte aperto no peito, simplesmente não os incomodava naquele momento.
Apenas uma semana. Era esse o tempo que se passara desde que se conheceram, mas não era assim que se sentiam. Tinham a impressão de fazer tanto tempo que não teriam como contar.
Sakura ajeitou a boina na cabeça e olhou a paisagem. Realmente era linda. Estavam sobre uma pequena colina, onde era possível ver o mar, um pouco mais à frente, refletindo a luz pálida da lua cheia e o tímido brilho das estrelas. Um corredor de árvores, cuja única coisa que se podia identificar, àquela altura da noite, eram as silhuetas de alguns galhos. Não havia luz elétrica naquela área, tornando a paisagem ainda mais atraente. Desviou o olhar para ver o rapaz que estava ao seu lado, de olhos fechados, apenas ouvindo o som do mar. Sentia-se feliz por estar ao lado dele. Simplesmente não tinha tempo para pensar em nada que a deixasse triste quando estavam juntos. Era reconfortante. Ficou constrangida quando ele abriu os olhos e a pegou observando-o de maneira terna.
"Então?… Ganhei a aposta?" – ele perguntou sorrindo, vendo-a observar tudo em volta.
"É… acho que ganhou…" – sorriu para ele – "Este é o lugar mais bonito que já visitamos até agora…".
"Eu vim até aqui na primeira noite que passei na cidade…" – ele comentou nostálgico – "mas não estava tão bonito… o céu tinha mais nuvens, a lua ainda não estava cheia,… e eu não tinha uma companhia agradável como a Senhorita!".
"Então o Senhor veio até aqui acompanhado?" – perguntou vendo-o erguer uma sobrancelha.
"Apenas de minha mágoa…" – murmurou de cabeça baixa.
Ela voltou a fitar a lua no céu. Estava mais bonita do que o costume – 'Talvez seja o ar marinho que a deixe tão bela…' – pensou de forma sonhadora.
Ele ergueu a cabeça também. Foi quando viram uma estrela cadente. Sorriram e fizeram um desejo cada um, como era o costume.
"Está ficando mais frio!" – encolheu-se esfregando os braços.
"Vamos voltar!…" – estendeu o braço para a jovem que sorriu, aceitando-o.
Caminharam silenciosamente até chegarem na pensão.
"O que nós faremos agora?…" – perguntou olhando nos orbes verdes assim que entraram.
"Eu vou ver se posso assaltar a geladeira…" – ela comentou tirando o casaco e as luvas.
"Seria bom um chá bem quente agora…" – sentou-se no sofá da sala, próximo à lareira.
"Vou preparar… já volto…" – ela foi para a cozinha, voltando logo em seguida com uma bandeja com duas xícaras e pedaços de bolo – "Parece que a Sra. Miyaku adivinhou o que faríamos depois que voltássemos do passeio…" – sorriu, colocando a bandeja sobre a mesa de centro.
"Já deve ter se acostumado com nossas visitas à cozinha,…" – ajoelhou-se na frente da mesa ajudando-a a servir o chá.
"É…" – riu mexendo o chá – "Essa semana foi bem corrida, não é?".
"Sim,… e passou voando também…" – sentou-se no sofá com o prato de bolo na mão.
"Bem,… aqui vou eu de novo…" – ela suspirou e olhou para o rapaz, que ergueu a sobrancelha – "Meu pai sempre diz que sempre que algo ruim acontece em nossa vida, é por que vamos receber uma dádiva duas vezes melhor…" – abaixa levemente a cabeça – 'e pensando no que aconteceu comigo nos últimos dias,… acho que ele realmente estava certo…'.
"Interessante…" – tomou um gole do chá e ficou pensativo por um instante – 'Duas vezes melhor…' – sorriu olhando-a fixamente – 'É pode ser…' – pensou distraído.
"Shaoran?" – chamou-o, espantando-o um pouco.
"Desculpe,… eu estava pensando nas verdades existentes nessa frase…" – sorriu um pouco sem graça – "Sabe,… você fala muito sobre coisas que seu pai fala,… mas quase não comenta sobre sua mãe…".
"Eu não me lembro de minha mãe,…" – ela sorri – "eu tinha apenas três anos quando ela morreu…".
"Desculpe,… eu…" – ela coloca a mão sobre o braço dele.
"Não se preocupe…" – abaixa um pouco a cabeça – "tudo o que eu sei sobre a minha mãe são coisas que meu pai ou meu irmão contam…" – olha para ele com um sorriso – "Mas sabe,… ela nunca deixou de estar conosco…".
"Como assim?…" – observou-a se levantar e começar a andar pela sala.
"Nós temos uma fotografia diferente sobre a mesa todos os dias,… mamãe participa das refeições,…" – para de andar e fica olhando para o nada – "você pode achar que é loucura,… mas algumas vezes eu sinto como se ela estivesse ao meu lado…" – olha para o chinês sentado no sofá – "foi bem curiosa a maneira com que meus pais se apaixonaram sabe…".
"E como foi que eles se apaixonaram?…" – ajeita-se no sofá, enquanto a garota se senta em frente a ele.
"Mamãe estava voltando da escola com uma prima,… e viu um pássaro caído no chão embaixo de uma cerejeira…" – encosta-se no sofá – "foi colocar o filhote no ninho novamente,… mas ela era muito desastrada e… caiu…" – abaixa a cabeça – "bem em cima de meu pai que estava passando por ali na hora…".
"Sério mesmo?…" – ele sorriu. Ela balançou rapidamente a cabeça, confirmando.
"Eles passaram por muitas dificuldades,… a família de minha mãe não queria aceitar o namoro deles de jeito nenhum!…" – suspirou – "Porque meu pai era um simples professor de história, recém saído da faculdade de arqueologia…" – tirou o cabelo do rosto – "papai era professor de História de minha mãe no colegial,… quando eles se casaram ela tinha 16 anos,… mas ficou muito doente e faleceu com 27…" – uma lágrima escorre por seu rosto.
"Não chore…" – ele colocou as mãos sobre os ombros dela. Sakura encostou a cabeça no peito de Shaoran.
"Mamãe fez com que meu pai prometesse nunca chorar a morte dela…" – seca o rosto se afastando e sorri – "Eu nunca o vi chorar… e ele nunca se interessou por nenhuma outra mulher…" – respirou fundo e sorriu. Ficaram se encarando por algum tempo, simplesmente admirando os olhos um do outro. Ela abaixa a cabeça um pouco pensativa.
"O que foi?…" – ele perguntou de forma terna.
"Você acha que seria besteira… se eu esperasse que alguém me amasse de forma semelhante? Não precisava ser da mesma forma,… mas se me amassem de verdade como meu pai amou e ainda ama minha mãe?…" – ergueu um pouco a cabeça mostrando seus olhos marejados.
"Não,… não é besteira…" – ele balançou a cabeça e secou uma lágrima que escorreu no rosto dela – 'Eu mesmo gostaria de ser amado dessa forma…' – pensou enquanto a garota o abraçava para chorar em seu ombro.
Continua…*******************
N/A – Passeios noturnos, estrelas cadentes, assaltos à geladeira, lágrimas derramadas e uma confissão não declarada de sonhos comuns… Isso vai dar o que falar!…
Aiai... Outro capítulo finalizado, esse é o último curtinho que eu escrevi… a partir do sexto capítulo não consegui me controlar mais. Fazer o quê?…
Muito, muito obrigada mesmo a: Miaka Hiiragizawa (Eu sei que não muito paciente, mas precisava espalhar?=P), Felipe S. Kai, Rosana (Além de me ajudar, corrigindo meus erros, ainda deixa reviews. Que amigona você é Rô. Valeu!), Jenny-Ci (Eu gosto muito de lobos europeus, que são aqueles cinzentos, parecidos com Huskies, mas sinceramente prefiro um certo Lobo chinês que conheço!) e Saki Kinomoto (Obrigada pelo elogio e não se preocupe com a velocidade da relação deles, vai tudo acontecer em seu tempo certo!).
Beijinhos a todos e até o próximo capítulo.
Yoruki.
