Corações Partidos

Capítulo VIII

"Hatsumi!" – exclamou sem esconder a surpresa de vê-lo justamente ali.

"Boa noite, Sakura!" – ele trazia um sorriso constrangido no rosto e seus olhos azuis e brilhantes a observavam, analisando cada reação.

Sakura, inicialmente, sentiu-se tensa, mas relaxou após o susto e sorriu sentando-se no banco, convidando-o a fazer o mesmo. "Não imaginei vê-lo em Tomoeda hoje…" – sua voz tinha um que de ironia, que não conseguiu ser ocultado.

"Precisava falar com você!" – disse de forma amena.

"Comigo?" – perguntou espantada – "E o que seria tão importante a ponto de fazer com que você viesse a nossa cidade apenas para falar comigo?…" – olhou-o curiosa.

"É um tanto difícil falar isso,… bem…" – ela se levantou interrompendo-o.

"A última vez que você veio com rodeios foi para terminarmos com o namoro… O que viria agora?…" – perguntou bastante séria.

"Olha eu entendo que você esteja brava comigo, Sakura, e tem todo o direito de estar magoada, mas…" – levantou-se e segurou uma das mãos dela – "eu percebi que minha decisão foi apressada,… eu não imaginava que te amava tanto até perceber como minha vida é vazia sem você…".

"O que disse?" – puxou a mão e recuou um passo.

"Eu disse que ainda te amo!" – disse energicamente, vendo-a paralisar como no dia em que a pediu em namoro.

Shaoran achou que a fila para o chocolate quente estava grande demais, então decidiu voltar para onde Sakura o esperava. Sentiu uma pressão no peito. Era uma sensação semelhante a que sentiu quando Mei Ling rompeu seu compromisso, mas o mais estranho é que não parecia ser um sentimento próprio. E, de alguma forma, sabia que era Sakura quem estava sentindo aquilo.

"O que disse?" – estancou ao ouvir a voz de Sakura exaltada. Fixou o olhar no rapaz que estava na frente de Sakura. Ele a olhava com tanta volúpia que deixou Shaoran furioso.

'Quem ele pensa que é para…' – teve os pensamentos interrompidos pela voz do rapaz.

"Eu disse que ainda te amo!" – o chinês arregalou os olhos e fixou sua atenção na figura inerte da bela mulher que estava de costas para ele. Sem raciocinar direito deu meia volta e se afastou a passos largos. Assim que alcançou considerável distância, encostou-se ao tronco de uma árvore, fechando os olhos.

'Por que me afastei daquela maneira?…' – perguntou-se, mas já sabia a resposta. Havia se apaixonado pela jovem de olhos esmeralda e não suportaria ouvi-la dizer que correspondia os sentimentos do estranho. Sentiu os olhos arderem – "Estúpido!" – murmurou para si mesmo – 'O que eu faço agora?…' – abriu os olhos e viu, pouco mais à frente, a barraca onde vendiam a bebida que havia ido comprar alguns minutos antes, agora vazia – 'Vou tentar agir como se nada houvesse acontecido,…' – respirou fundo – "Pelo menos até amanhã!" – dirigiu-se até a barraca.

Sakura olhava atônita para o rapaz a sua frente. É claro que ainda sentia certo ressentimento pelo término do namoro, mas isso não a incomodava. Agora o fato de o rapaz dizer que 'ainda a amava', após tudo o que disse anteriormente deixou-a furiosa.

"Você ainda me ama?…" – sorriu sardônica – "E como foi que você chegou a essa brilhante conclusão?" – Hatsumi a olhava espantado, poderia jurar que o silêncio em que ela se encontrava era sinal de que lhe daria uma outra chance. Sakura tentava manter a voz controlada, mas não podia evitar a ironia com que falava – "Será que não percebe o quanto isso é ridículo?… Depois de todo aquele 'preciso de liberdade para experimentar coisas novas', você aparecer três semanas depois dizendo que me ama?…".

"Mas Sakura eu…" – ela o interrompeu bruscamente.

"Você o quê?… Achou que eu ficaria feliz e aceitaria reatarmos?… Que me jogaria em teus braços sem pensar assim que me dissesse isso?…" – riu balançando a cabeça – "Sinto muito, mas se enganou, Sr. Eiji!…" – virou-se para ir embora, voltando para o templo, mas parou e olhou para ele completando – "Sabe o que eu descobri nessas três semanas?… Que eu não te amo de verdade e não vi diferença alguma em minha vida sem você!" – ficou de costas para ele – "A não ser o fato de não sofrer por meu namorado me negligenciar!…" – seguiu para a direção que Shaoran tomara alguns minutos atrás.

Sentia-se maravilhosamente livre e não evitou o sorriso de aparecer em seu rosto. Viu Shaoran se aproximando com dois copos na mão, aumentou ainda mais o sorriso.

"Muito obrigada!" – disse entusiasticamente pegando o copo da mão dele.

"Não há de quê!… Por que não ficou me esperando?…" – perguntou percebendo a alegria dela. Ela deu de ombros.

"Eu estava querendo ir para casa,… me acompanha?…" – pediu suspirando.

"Claro!…" – disse seguindo-a. Saíram do templo em seguida.

Caminhavam calmamente em silêncio e, apesar de estar acostumada a permanecerem quietos, sentiu-se realmente incomodada dessa vez.

"Eu adoro os festivais,… até mesmo esse friozinho fica gostoso durante as festas,…" – disse com um sorriso – "O que você achou?…" – ele ergueu a cabeça um instante encarando-a com um meio sorriso.

"Muito bonito,… divertido…" – ficou pensativo e abaixou a cabeça em seguida.

O silêncio novamente se formou. Enquanto passavam pela ponte do parque, Sakura deu um pulo e sorriu, correndo até a entrada de um parquinho com um enorme escorregador que tinha a forma de um pingüim gigante com uma coroa.

"Eu gostaria de lhe apresentar ao Rei Pingüim!" – esperou que ele se aproximasse e entrou puxando-o – "Vem comigo,… quero te mostrar uma coisa!" – disse enquanto atravessava o parque. Caminharam até chegar em um ponto entre o parque, o bosque e o riacho que corria por ali – "Em algumas noites é possível encontrar vaga-lumes por aqui!" – anunciou animada.

"Em pleno inverno?…" – ele questionou com uma sobrancelha erguida.

Ela respirou fundo e cobriu o rosto com as mãos, como quem se dá conta de algo, espiando-o entre os dedos.

Shaoran riu e encarou-a, Sakura olhou o riacho e quando voltou a fitá-lo, estava sério e com o olhar perdido em sua direção.

Ficou preocupada com aquela atitude dele. Por mais reservado que Shaoran fosse, aquilo, definitivamente, não estava certo. Era como se uma barreira houvesse se instalado entre eles de uma hora para a outra.

"Está tudo bem?…" – perguntou.

Ele a encarou de forma inexpressiva e balançou a cabeça positivamente murmurando que sim.

"Shaoran,…" – chamou-o para que não voltasse a abaixar a cabeça – "o que foi que aconteceu?".

"Bem, é que…" – ele interrompeu a sentença e respirou fundo. Não poderia dizer que ouvira a conversa entre ela e aquele rapaz, mesmo porque isso não explicaria a sensação de vazio em seu peito, por vê-la feliz e saber que não foi o responsável por sua felicidade – 'Céus… O que aconteceu comigo?… Como pude amá-la em tão pouco tempo?' – perguntou-se perdendo o rumo de seus pensamentos – 'E-eu… eu a amo!' – sentiu-se desolado por aquela descoberta.

"Shaoran,…" – Sakura tocou-lhe o braço, despertando-o de seus devaneios – "o-o que houve?…".

"Tenho que voltar…" – respondeu rapidamente – "tenho que voltar para Hong Kong!…" – disse abaixando a cabeça.

"Por-por quê?…" – deu um passo para trás, levando inconscientemente as duas mãos ao peito.

"Eu liguei para Hong Kong antes de ir para sua casa e surgiram alguns problemas…" – mentiu – "como chefe da família é minha responsabilidade resolve-los!" – ponderou se seria uma razão convincente.

"E-en-entendo,…" – gaguejou, afastando-se para sentar em um banco a alguns passos de onde estavam – "E-e quando é que você vai?…" – forçou um sorriso.

"Amanhã mesmo!" – olhou para o céu, observando as estrelas. Era uma incomum noite de inverno, com poucas nuvens.

"E porque não falou nada antes?…" – parecia chateada.

"Não gosto muito de despedidas, Sakura…" – disse simplesmente – "eu gostaria de poder ficar mais algum tempo,…" – sorriu tristemente – "apesar de tudo me diverti muito, e adorei ter te conhecido…" – respirou fundo.

Ela ficou de cabeça baixa por alguns segundos. Ergueu os olhos com um sorriso nos lábios e suspirou.

"Iremos manter contato, não é?…" – encararam-se sorrindo.

"Mas é claro!… Você tem meu e-mail, eu tenho o seu… podemos nos falar por telefone…" – viu-a aproximar-se de onde estava – "e, também, Hong Kong é uma cidade maravilhosa… você está convidada a me visitar se algum dia for até lá!".

"Pode ter certeza de que irei!…" – sorriu, parando a sua frente – "Acho melhor irmos embora… está ficando frio…" – saíram do parque.

Sakura passou o braço pelo de Shaoran enquanto caminhavam. Ele sentiu um calor se apossar de seu corpo e uma convicção maior de seus sentimentos avassalar sua mente.

"Você não quer entrar?…" – perguntou quando chegaram em frente ao portão da casa amarela.

"Não,… muito obrigado…" – beijou delicadamente o rosto dela – "Espero vê-la em breve…" – sorriu, virando-se.

"Posso te acompanhar ao aeroporto amanhã?…" – perguntou rapidamente. Ele se voltou para fitá-la com um sorriso.

"Se você conseguir acordar antes das cinco, pode sim…" – ela fez uma careta – "Meu vôo saí às seis, mas vou pegar um táxi às cinco para ir até Tokyo…" – explicou.

"E você vai conseguir dormir?…" – implicou.

"Durmo no avião…" – sorriu e acenou antes de virar-se novamente, partindo, sem ver uma gota cristalina escorrer pelo rosto da jovem.

Continua…

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N/A – O que eu faço com esses dois?... Aiai... É um horror quando se tiram conclusões precipitadas e bem que ele podia ter ficado espiando por mais algum tempo... * suspiro*... Tudo bem, agora vou ter que dar um jeito de resolver isso... vai ser complicado, mas vou conseguir....

Bem, pessoal desculpem pelo atraso, eu tive um problema com meus documentos, como falei nas notas do 'Angels', tive que re-revisar todo o capítulo... depois de recuperá-lo, mas não vale a pena ficar recordando disso...

Todos que deram um palpite sobre a 'figura misteriosa' acertaram, se bem que mais óbvio impossível… Espero que tenham gostado deste capítulo…

Agora vêm os agradecimentos, como não poderia deixar de ser... Afinal sem os reviews eu certamente não me empenharia para escrever…

Felipe, Polly-chan, Jenny-Ci, Ana Paula e Suu-chan… também Miaka e Rô (você salvou minha vida!!…).

Beijos e até a próxima semana (na data certa)…

Yoru.