Sakura estava auxiliando Fujitaka na limpeza da casa, no rádio um disco de Tchaikovsky ditava o ritmo da arrumação, ela cantarolava, acompanhando os instrumentos e dançava enquanto passeava pela sala com o espanador. O telefone começa a tocar, a garota correu para abaixar o volume do rádio, atendendo-o em seguida.
"Alô…" – disse um tanto ofegante.
"Bom dia, Sakurinha!" – pronunciou energicamente a voz do outro lado da linha.
"Bom dia, Tomoyo!" – Sakura riu da alegria da prima.
"Minha querida, tenho ótimas notícias para você… pode cancelar todos seus compromissos para o final de semana e fazer as malas!" – anunciou a jovem de olhos violetas.
"Malas?… Para quê?" – perguntou, confusa.
"Ora, minha querida… nós vamos para Hong Kong!" – Tomoyo disse parecendo estar aturdida com a pergunta da prima.
"Você não está falando sério, Tomoyo!" – Sakura sentenciou, incrédula.
"E você acha que eu brincaria com uma coisa dessas?" – perguntou decidida.
"Tomoyo, eu já disse que não posso aparecer lá assim, sem mais nem menos!" – choramingava, ainda não acreditando no que a prima havia feito.
"Eu sei… e é por isso mesmo que nós vamos a negócios…" – Tomoyo explicou, muito feliz.
"Como assim?…" – mostrou-se interessada no que a prima estava falando.
"Lembra-se que ontem o Sr. Hiiragizawa me telefonou?" – perguntou.
"Sim,…" – a jovem de olhos verdes estava confusa.
"Então,… ele estava falando que as duas partes da sociedade entraram em acordo com relação à união das empresas,… mas teríamos apenas certa dificuldade para marcarmos uma reunião com o principal acionista de Hong Kong…" – Tomoyo fez uma pausa. Sabia que a prima não entendia de negócios, e teria dificuldades para explicar alguns detalhes sobre a transação. – "Como o melhor é fazermos uma reunião para acertamos os detalhes,… temos que ver uma data em que nós três estaríamos disponíveis…" – respirou fundo. – "O processo todo não toma mais que alguns minutos, então ele falou que o mais prático seria irmos os dois até Hong Kong, porque o sócio dele é que anda inacessível, ultimamente…" – concluiu. – "Resumindo, nós vamos para Hong Kong…".
"Eu não sei se é uma boa idéia, Tomoyo!…" – Sakura disse pensativa. Por um lado, a possibilidade de reencontrar Shaoran a enchia de alegria, mas também a deixava nervosa. A última vez que o vira não sabia de seus próprios sentimentos. Tinha medo de não saber como agir diante dele novamente.
"Bem, Sakura, agora eu tenho que desligar…" – disse rapidamente. – "Faremos assim,… como a viagem é só no sábado, você tem até sexta-feira para pensar a respeito…" – aconselhou. – "Pense bem,… eu te ligo na sexta…".
Sakura escutou o 'clic' do telefone sendo colocado no gancho. Ficou parada olhando para o vazio, com o próprio aparelho ainda no ouvido. Um delicado sorriso surgiu em seus lábios, junto a um murmúrio quase inaudível, chamando pelo nome de um certo rapaz de profundos olhos castanhos.
Hong Kong, Sábado pela manhã…"Eu ainda não entendi qual o problema de eu ter marcado uma reunião com Daidouji aqui em sua casa…" – o rapaz disse sorrindo. – "É uma questão de bom senso hospedar a mais nova parte de nossos empreendimentos, Shaoran!…" – olhava para o amigo e sócio sentado à sua frente, enquanto tomavam o desjejum.
'O problema é que se trata de Tomoyo Daidouji, prima de Sakura…' – suspirou pesadamente enquanto pensava. Balançou levemente a cabeça antes que começasse a divagar a respeito da jovem japonesa. – "O problema é você não ter me avisado antes de convidá-la,… afinal a casa ainda é minha, não é Eriol?…" – lançou um olhar fulminante para o amigo que mantinha o sorriso no rosto.
"Sinceramente… vou começar a pensar que você está me escondendo algo, meu caro…" – comentou voltando a tomar seu suco de laranja.
O chinês abaixou levemente a cabeça, olhando para o lado em seguida, tentando mostrar-se indiferente. Ação que não passou despercebida pelo inglês, que sorriu.
Terminaram a refeição e foram até a biblioteca, permanecendo os dois em silêncio por algum tempo.
"E qual o horário em que o vôo de Daidouji chega, Eriol?…" – Shaoran perguntou olhando para o amigo, que ajeitou os óculos de armação leve sobre o rosto.
"Às três da tarde,…" – disse com seu costumeiro sorriso. Novamente ficaram em silêncio. Shaoran respirou fundo.
"E… e você sabe dizer se ela virá acompanhada?" – tentou perguntar de uma maneira que parecesse impessoal, falhando miseravelmente.
"Não sei dizer. Por que a pergunta?" – sorriu de uma maneira que irritava o chinês, pelo fato de parecer que ele sabia mais do que realmente dizia saber.
"Nada…" – disse chacoalhando os ombros, voltando a atenção para alguns papéis que estavam sobre sua mesa.
"Você nunca pára de trabalhar, meu amigo?…" – Eriol perguntou olhando a figura concentrada do rapaz sentado atrás da mesa do escritório. – "Precisa descontrair um pouco, vai acabar envelhecendo mais cedo desse jeito…" – brincou, fazendo o amigo largar a caneta, espreguiçando-se demoradamente.
"Acho que tem razão…" – disse levantando-se. – "Vou dar uma espairecida. Acompanha-me?" – perguntou recebendo um aceno negativo do amigo. Deu de ombros e saiu da sala, sob o olhar dos orbes azuis, como o céu da meia-noite, que possuía o inglês.
Mais tarde nos aeroporto de Hong Kong…Sakura e Tomoyo acabavam de resolver os assuntos relacionados com a alfândega e dirigiam-se para o saguão do aeroporto, onde várias pessoas se encontravam.
"Será que o Sr. Hiiragizawa já está por aqui?…" – Sakura perguntou olhando para todos os lados.
"Eu acho que sim…" – olhou no relógio. – "Vamos esperar alguns minutos…" – voltou-se para a prima que concordou com a cabeça.
"Com licença. Srta. Daidouji?" – um homem parou ao lado da jovem de olhos violetas, que virou o rosto para observá-lo.
Ele trajava uma calça social, com prega, azul-marinha, uma camisa de manga comprida azul-piscina, usava uma gravata petróleo com listras transversais verde-claras, brancas e amarelas, em tom pastel. Por cima da camisa um colete de lã grafite. Tinha os cabelos compridos, presos em um rabo de cavalo, frouxo, abaixo da nuca, sendo que alguns fios estavam soltos sobre a testa. Usava um par de óculos de aro redondo, que escondiam os olhos azuis escuros que possuía. Tomoyo piscou uma ou duas vezes, antes de responder.
"Sim,… sou Tomoyo Daidouji!" – sorriu, sendo retribuída.
"Eriol Hiiragizawa,… sinto-me encantado em conhecê-la!" – sorriu desviando o olhar para a jovem de olhos verdes.
"Esta é minha prima, Sakura Kinomoto…" – Tomoyo introduziu-os rapidamente.
"Muito prazer, Srta. Kinomoto!" – Eriol disse acenando com a cabeça. – "Acho que podemos ir agora, não é?" – perguntou virando-se para Tomoyo.
"Mas é claro!" – sorriu.
"Tomoyo, tem certeza de que não há problema algum eu ir com vocês?" – Sakura perguntou em voz baixa, para que somente a prima escutasse.
"Ora, é claro que não Sakura!" – ela assegurou. – "Eu avisei que viria acompanhada, não avisei, Sr. Hiiragizawa?" – olhou para o jovem inglês, que sorriu e assentiu com a cabeça.
"Está bem…" – murmurou, seguindo a prima até a entrada do aeroporto.
Sakura percorreu o caminho todo em silêncio, absorta em seus próprios pensamentos, enquanto via a grandeza da cidade de Hong Kong.
'Eu nunca vou encontrá-lo…' – pensou desesperando-se.
Ouvia Tomoyo e Eriol conversando, mas não conseguia entender o que estavam falando, pegando apenas algumas palavras soltas vez ou outra, tamanha sua distração.
Tomoyo e Eriol olhavam para ela de vez em quando e sorriam.
"É incrível, mas meu amigo se encontra em estado semelhante…" – ele sussurrou. A japonesa sorriu, balançando positivamente a cabeça. – "Estamos chegando!" – anunciou, tirando a jovem de seus devaneios.
Eriol conduzia as jovens a seus respectivos quartos, previamente arrumados em uma ala separada da mansão. Sakura sentia-se minúscula diante de toda aquela ostentação.
"Podem ficar à vontade para andarem pela casa,… a maioria dos criados fala japonês, então não terão problemas de comunicação…" – parou diante de uma porta, abrindo-a. – "Esse será seu quarto, Srta. Kinomoto!" – cedeu passagem para a jovem.
"Muito obrigada, Sr. Hiiragizawa…" – entrou no quarto, observando-o.
"Está de seu agrado?…" – perguntou ele. A garota voltou-se para ele sorrindo.
"Está maravilhoso!…" – disse voltando a olhar os delicados móveis que decoravam o quarto.
Uma cama grande, com a cabeceira bem trabalhada. Dois armários pequenos na parede ao lado da porta, uma mesinha de cabeceira ao lado da cama. Todos os móveis pareciam ser de mogno. Uma janela do lado esquerdo e uma porta de vidro, coberta com uma cortina bege com vários babados, que dava acesso a um terraço.
"Vamos deixá-la à vontade para organizar suas coisas,… apenas lembre-se de que o jantar é servido às sete…" – sorriu e fechou a porta, seguindo com Tomoyo pelo corredor.
"Eu achei que Li viria nos recepcionar também!" – Tomoyo disse desapontada, andando ao lado de Eriol.
"Ele anda muito estranho,…" – o jovem comentou. – "Eu posso jurar-te que nunca meu amigo ficou tão distraído, como o vi na noite de ontem".
"E você acha que tem ligação com Sakura?" – a japonesa perguntou olhando-o de forma esperançosa.
"Minha cara, se não tiver relação com sua prima…" – fez uma breve pausa. – "o Big Ben fica na França!" – disse sorrindo olhando a bela jovem que o acompanhava.
"Quando resolveremos os assuntos relacionados à empresa?" – ela perguntou assim que pararam diante de uma outra porta.
"Logo após o jantar…" – Eriol respondeu, encarando-a com um sorriso. – "Isso se meu sócio não decidir cumprir uma nova programação…" – os dois riram.
"Eu vou arrumar minhas coisas e descansar um pouco…" – Tomoyo passou a mão pelos cabelos.
"Está certo, então Srta. Daidouji…" – prestou reverência. – "Nos vemos mais tarde!…".
"É claro!…" – Eriol ia virar-se para ir embora, mas a jovem apressou-se a chamá-lo. – "Sr. Hiiragizawa!…".
"Sim?" – olhou-a curiosamente.
"Poderia me fazer um favor?…" – perguntou, ele assentiu com a cabeça. – "Chame-me apenas de Tomoyo, por favor!" – sorriu.
"Somente se me chamares de Eriol, senhorita!" – retrucou. Tomoyo fitou-o nos olhos.
"Tudo bem, então… Eriol" – disse pausadamente.
"Nos veremos logo, cara Tomoyo!" – disse galanteador, com um belo sorriso. A japonesa concordou e fechou a porta, pedindo licença. O rapaz ficou olhando a porta fechada a sua frente, de forma fixa.
Eriol estava ainda embasbacado com a garota, ela possuía uma beleza rara. Seus olhos violáceos, a pele clara, os cabelos negros. Uma aparência delicada, um espírito forte e determinado; a astúcia de uma mulher e a pureza de um anjo. Balançou a cabeça negativamente, ao lembrar-se da conversa que teve com Shaoran uma semana atrás.
§*§*Flashback*§*§
"Bem,… meu amigo… você deve compreender que eu fiquei curioso para conhecer a dona de voz tão melodiosa…" – riu – "Se ela for tão bela quanto sua voz, pode ter certeza de que antes do próximo Natal estarei casado!…" – brincou.
"Olhe Eriol,… eu não brincaria com isso!" – o amigo advertiu–o.
"Por favor, Shaoran…" – parecia incrédulo – "ninguém pode ser tão bela!" – assegurou.
§*§*Fim do Flashback*§*§
'Parece-me que tinhas razão, meu amigo!' – pensou dirigindo-se ao próprio quarto. – "Tinhas toda razão…" – murmurou.
Shaoran estava na sala da casa de Mei Ling, conversando com a prima. Na realidade ele estava calado, enquanto a garota falava sem parar sobre o que fizera durante a semana.
"Você está me escutando, Xiao Lang?" – ela o cutucou, fazendo-o encará-la.
"O que foi?…" – perguntou assustado.
"Eu é que pergunto!… Você anda muito estranho desde que voltou do Japão…" – sentou-se em frente ao primo. – "O que foi que aconteceu?…" – perguntou apreensiva.
Ele não respondeu nada. Apenas respirou fundo olhando para o jardim, que ficava entre sua casa e a da prima.
"Xiao Lang…" – ela insistiu. – "Por favor,… não precisa ficar escondendo nada!" – disse de forma branda, com um sorriso. – "Como ela se chama?".
Ele encarou-a espantado. Ela ainda sorria.
"Co-como…?" – perguntou nervosamente.
"Eu te conheço muito bem!" – sentenciou em tom brincalhão. Ele sorriu, respirando profundamente.
"Eu sou tão óbvio assim?…" – encostou-se ao sofá relaxando.
"Totalmente!" – ela riu. – "Então, como ela se chama?" – perguntou novamente.
"Sakura,… Sakura Kinomoto!" – disse sorrindo.
"Uhm… é um belo nome!…" – ficou pensativa. – "Agora,… conte-me tudo sobre essa sua Sakura…" – ficou olhando para o primo, enquanto ele narrava o que acontecera durante o período que ficou no Japão.
Mais tarde…Ele atravessava a passos lentos o enorme quintal. Sentia-se imensamente leve após ter conversado sobre Sakura com a prima.
'Sakura… Flor de Cerejeira…' – suspirou. – "A mais bela flor do mundo…" – disse baixinho, lembrando-se do conselho que a prima lhe deu:
"Já que você tem tanta certeza de que a ama, não deixe essa oportunidade escapar… Agarre-a com todas as forças!… Você sabe onde encontrá-la, vá até ela e diga-lhe o que sente… pode ser sua única oportunidade!".
'Mei Ling está certa…' – pensou sentando-se em um banco no centro do jardim. – 'eu não posso esperar que tudo se resolva como em um passe de mágica… tenho que agir. Tenho que contar a ela!' – decidiu, permanecendo no jardim, pensativo.
Sakura estava deitada na cama do quarto onde fora hospedada. Absorta em seus pensamentos, perguntava-se como faria para encontrar o jovem chinês.
Ouviu o vento soprar na janela e na porta de vidro do quarto. Sentou-se ficando a escutar aquele som. Teve de repente a impressão de a estarem chamando. Balançou negativamente a cabeça.
'Que loucura… o vento estar me chamando!' – pensou levantando-se. Seguiu até a porta do terraço e a abriu. Viu que todos os quartos daquela ala possuíam varandas e que todas elas tinham uma escada que levava para o jardim. Entrou rapidamente para colocar uma blusa e voltou a sair, descendo a escada.
'Acho que não haverá problema se eu for dar uma volta…' – pensou, lembrando-se que Hiiragizawa havia dito que poderia andar pela propriedade.
Começou a ouvir som de água por perto. Resolveu segui-lo, provavelmente haveria uma fonte ou chafariz por ali.
Cruzou o jardim até conseguir ver uma enorme fonte com o formato octogonal. Em frente a cada um dos lados havia um banco. Percebeu que em um dos bancos havia um rapaz com a cabeça erguida para trás, de olhos fechados e com os braços atrás da nuca. Aproximou-se um pouco mais, sentindo uma sensação de nervosismo. Um frio no estômago.
Estancou ao reconhecer quem ali estava. Seu coração disparou, as pernas ficaram bambas, todo seu corpo estremeceu.
'Não é possível…' – pensou piscando várias vezes para ver se ele desapareceria. Um sorriso surgiu em seus lábios trêmulos – "Shaoran…" – murmurou, voltando a caminhar na direção em que ele estava.
Shaoran aproveitava a tranqüilidade que tinha antes do jantar, sabia que assim que encontrasse Tomoyo, teria algumas coisas a explicar para Eriol, o amigo sabia ser bem irritante quando queria.
'Ele vai ficar me importunando…' – pensou fazendo surgir o esboço de um sorriso em seus lábios. – 'Ah, Sakura… o que eu não daria para poder chamá-la de minha?…' – sorriu com os próprios pensamentos. Quais seriam as probabilidades dela retribuir seus sentimentos, afinal?… Respirou profundamente, sentindo um aroma primaveril, como o que era exalado do corpo e dos sedosos cabelos da japonesa que ocupava seu coração.
"Como eu sou tolo!" – disse para si mesmo, em voz alta.
"E por que seria tolo?" – escutou uma voz melodiosa, perguntar-lhe suavemente. Abriu imediatamente os olhos, deparando-se com a imagem de um lindo anjo lhe sorrindo de forma doce.
"Sakura?" – perguntou, levantando-se sem desviar o olhar dela um instante sequer. Não queria piscar, pois este ato a faria desvanecer se fosse um sonho, mas ele não queria que desaparecesse, mesmo que fosse um sonho.
"Shaoran, você está bem?" – Sakura o olhava preocupada. – "Diga-me se eu estou te atrapalhando,… você queria ficar sozinho?" – ameaçou virar-se para ir embora, mas ele a segurou pela mão.
"Não… não está me atrapalhando, é só que eu não esperava vê-la aqui!" – sem soltar a mão da jovem, ele se aproximou mais, ficando frente a frente. – "É uma agradável surpresa!" – disse fazendo-a enrubescer.
"Você sempre exagera!" – sorriu sem desviar o olhar.
"Não é exagero algum!… É muito bom vê-la!" – ele sorriu.
"Eu fico feliz por vê-lo novamente, também!" – sentiu o coração disparar ao ver o belo sorriso que o chinês mostrou. Ele nunca sorrira daquela forma para ela antes.
Ficaram em silêncio, apenas encarando-se, e foi só então que perceberam que Shaoran ainda segurava a mão dela.
Sakura olhou para a própria mão sendo tão delicadamente mantida pela do jovem guerreiro. Ele sentiu-se encabulado e a libertou.
"Vamos nos sentar?" – perguntou apontando para o banco onde estava pouco atrás.
"Claro!" – acompanhou-o e sentaram-se lado a lado.
"Você está acompanhando sua prima?" – ele perguntou olhando-a.
"Sim,… Tomoyo me convidou para vir com ela…" – disse sorrindo. – 'Tomoyo me paga… tenho certeza de que sabia o tempo todo que Shaoran era sócio de Hiiragizawa…' – pensou planejando uma forma de torturar a prima mais tarde.
"E por que não me enviou um e-mail avisando?… Eu iria buscá-la no aeroporto junto com Eriol!" – ele sorriu.
"Na realidade Tomoyo não me disse que você era sócio de Hiiragizawa…" – olhou para baixo, ajeitando-se no banco.
"Entendo…" – virou-se para frente também. – "Eriol não me disse que Daidouji viria acompanhada…" – disse pensativo. Teria que arranjar um jeito de vingar-se do amigo.
Ficaram em silêncio, olhando para a fonte a sua frente, apenas ouvindo a água correndo e a respiração um do outro.
Era extraordinário como não precisavam de palavras quando estavam juntos. Não se incomodavam com o silêncio. Shaoran olhou para os próprios pés, lembrando-se das palavras de Mei Ling.
"Sakura…" – murmurou com a voz tremida. Ela ergueu a cabeça olhando para o jovem de forma curiosa. Ele parecia estar nervoso.
"O que foi?" – perguntou receosa.
"Nós nunca conversamos sobre o porquê de eu ter ido a Minamata, não é?" – sorriu fracamente. Ela balançou negativamente a cabeça.
"Eu também não te falei do motivo de minha estadia lá…" – sussurrou sentindo-se nervosa.
"Eu gostaria de falar sobre isso agora…" – disse. – "Importa-se?…" – perguntou.
"Claro que não!" – respondeu olhando-o. Shaoran respirou fundo e sorriu ternamente.
"Eu tinha um compromisso com uma pessoa de quem eu gostava muito, nós éramos noivos desde crianças e iríamos nos casar dentro de pouco tempo!" – fez uma pausa. Sakura estava de cabeça baixa. – "Mas o que aconteceu foi que ela conheceu uma pessoa, a quem descobriu amar… Conversamos e decidimos que o melhor para nós dois seria terminarmos o noivado…" – olhou para frente, fazendo nova pausa na narração.
"Mas você ficou mal por causa disso…" – ela disse sussurrando. – "E decidiu dar um tempo com tudo…" – suspirou. – "decidiu ir para longe,… onde não houvesse nada que te fizesse lembrar dela…" – ergueu o rosto e fitou-o com um sorriso.
"Exato…" – o chinês assentiu com a cabeça, ficando a encará-la com um sorriso.
"Entendo, e você… você ainda gosta dela?…" – Sakura perguntou receosa, um grande nó se fez em sua garganta.
"Não tem como eu não sentir carinho por ela… nós fomos criados juntos e ela é minha prima… eu a quero bem!" – disse. Ela desviou o olhar. – "Mas sabe o que é mais incrível nisso tudo?…" – perguntou.
"Não…" – a japonesa respondeu sem encará-lo.
"É que eu nunca imaginaria que não amava minha prima se não tivesse ido para o Japão…" – sorriu. – "Se não tivesse te conhecido, não perceberia o quão enganado eu estava com meus próprios sentimentos…" – sussurrou, fazendo-a fitá-lo.
"O que você quer dizer?" – os olhos de ambos se encontraram. Shaoran se levantou, ficando de costas para a jovem.
"Eu não consegui parar de pensar em você um só instante, desde que voltei…" – disse finalmente. – "Não consegui te arrancar dos meus pensamentos… porque me apaixonei por você…" – voltou-se para ela olhando-a com expectativa.
"O quê?" – ela levantou-se abismada. Seus ouvidos deveriam estar lhe pregando uma peça. – "Você quer dizer que… que…" – Sakura tinha os lábios trêmulos e seus olhos brilhavam. – "Shaoran, eu…".
"Por favor, entenda que não estou lhe cobrando nada!" – disse rapidamente, agitando rapidamente as mãos no ar. – "Você não é obrigada a corresponder meus sentimentos. E… e eu até entenderia se você dissesse não sentir o mesmo por mim!" – respirou fundo, voltando a ficar de costas para ela. – "Na realidade… me sentiria muito feliz por saber que não perderei sua amizade por ter dito esta besteira!".
"Besteira?… Sentimentos não são besteiras,… Shaoran…" – a jovem sentiu todas as suas incertezas desaparecerem após a fala dele. – "Sentimentos são ações e emoções que não podemos controlar, por mais que tentemos…" – suspirou. – "Muito menos quando se trata de amor ou paixão…".
"Sakura… O… O que quer dizer com isso?…" – perguntou ele, voltando-se para ela, confuso.
"Meu motivo de ir a Minamata foi parecido… Só que, diferente do seu caso, não conversamos sobre tudo… Ele simplesmente disse que não queria mais…" – abaixou o olhar, lembrando do dia em que seu mundo pareceu desabar. – "Mas… É como dizem, há males que vêm para o bem…" – olhou fundo nos olhos dele e sorriu. – "Se nada disso tivesse acontecido, não teria conhecido você… E descoberto o quão errada eu estava ao pensar que amava outro homem… Sendo que você já dominava meus pensamentos antes mesmo de irmos para Tomoeda…" – viu o rapaz arregalar os olhos, surpreso. – "Eu só não entendia muito bem o porquê, mas… mas quando você veio para cá eu entendi… eu percebi que, apesar do pouco tempo que nos conhecemos, foi o suficiente para que eu aprendesse a te amar…" – sorriu vendo os olhos castanhos do chinês brilhando e um sorriso se formar em seus lábios.
"Ai, Buda..." – viu-o suspirar e fechar os olhos rapidamente, aparentemente aliviado. Abrindo os olhos, exibiu um olhar diferente. Não era o mesmo brilho que tinha de felicidade, seus olhos demonstravam amor e calma. – "Não sabe como fiquei com medo de perdê-la quando eu dissesse tudo isso...".
"Mas não perdeu, Shaoran..." – ela se aproximava, parando em frente a ele, e sentindo sua cintura ser enlaçada delicadamente. – "Pelo contrário... ganhou-me permanentemente..." – murmurou, tendo seus lábios tocados pelos dele em seguida.
Em uma das janelas da mansão…"Ai que lindo!" – Tomoyo exclamou, olhando pela tela de plasma de sua filmadora de última geração. – "Admito que você tinha razão, Eriol!" – desviou o olhar da tela para o rapaz ao seu lado, voltando a olhar a tela em seguida. – "Eles formam um belo casal, não acha?".
"Sim!…" – Eriol sorriu.- "Mas tem certeza de que sua prima não se importa que você a filme?" – perguntou.
"Bem, na realidade ela não gosta,… mas eu não agüento…" – disse um pouco envergonhada. Ouviu Eriol rir. – "Além do mais, eu comprei uma filmadora nova só para poder filmá-la!… Não posso desperdiçar toda essa potência em zoom!".
"Certo…" – Eriol disse colocando uma de suas mãos sobre as da jovem que segurava a máquina. – "Agora vamos deixá-los sozinhos um pouco… eles merecem ter um pouco de privacidade!" – sorriu, desligando o aparelho.
"Mas…" – Tomoyo ia tentar persuadi-lo, mas Eriol balançou negativamente a cabeça.
"Vamos Tomoyo…" – pediu indicando a porta do quarto onde estavam. – "Vamos pedir para que nos sirvam um pouco de chá,… assim poderemos conversar um pouco antes do jantar!".
A japonesa sorriu, assentindo com a cabeça. Passaram pela porta e Eriol olhou uma última vez para a janela, acompanhando a jovem de olhos violáceos pelo corredor.
Continua…*******************
N/A – Aiaiai… Aleluiah!… Finalmente decidiram se acertar, e já não era sem tempo!… Quanta embolação… hehe… tudo bem, tudo bem!… Eu admito que a culpa é da autora, que não se decide a juntar os dois de uma vez por todas e fica colocando pedras no caminho deles… Mas já vou avisando que sem autora não tem final, e é por isso que as ameaças não devem ser proferidas até a próxima semana, certo!… Embora, eu ache que terão de enfrentar a fúria de um certo alguém que vai ficar viúvo antes mesmo de ter-se casado, né Amor?… Aiai… eu estou tããããão feliz!… Bem, deixa pra lá!…Meus agradecimentos são para: Felipe S. Kai, Miaka, Rô, Kaw Tita, Suu-chan, Jenny-Ci e todos que acompanharam. Espero que estejam comigo na próxima semana.
Até o último capítulo de Corações Partidos!
Yoru.
