Capítulo 11
Jantar em família

Snape e Martha passaram o sábado juntos. O domingo também. Segunda-feira, eles se encontraram na botica, mas só se cumprimentaram com um casto "Bom dia". Eles tinham combinado não deixarem seus sentimentos interferirem no trabalho, onde teriam uma atitude totalmente profissional. Snape não estava achando aquilo muito fácil.

Naquela manhã, porém, uma cliente muito especial entrou na lojinha.

- Bom dia. Posso ajudar a senhora?

- Você é Martha, não é? - Edna McTaggart a olhou de cima a baixo, com um grande sorriso. - Eu sou Edna McTaggart. Sev está na nossa casa.

Martha ficou um tanto ressabiada, mas procurou ser gentil:

- Oh, olá, Sra. McTaggart. Quer falar com Sev? Ele está lá dentro.

- Na verdade, eu vim falar com vocês dois. Eu estou querendo fazer um rango esperto e vim convidar vocês para comerem com a gente.

- Ora que gentileza - Martha sorriu. - Dar-se a todo esse trabalho.

Edna disse:

- Não, não é trabalho. Basta vocês irem - e nada de comer porcaria na rua! Podem chegar a qualquer hora, eu sei que os dois trabalham.

- Obrigada. Eu aviso o Sev.

- Muito bem, então - Edna deu mais uma olhada em Martha. - Até mais tarde.

Quando recebeu a notícia de um jantar especial na casa dos McTaggart e um convite que incluía Martha, Snape calculou que fosse idéia de Edna. Ao perguntar para Martha, suas suspeitas se confirmaram. Edna estava exercendo seu papel de mãe. De alguma maneira, ela tinha se arvorado em protetora de Severo Snape.

- Ah, vocês chegaram - disse Madame McTaggart, abrindo a porta.

- Espero que não seja muito cedo - disse Martha. - Mas eu posso ajudar a fazer o jantar.

Edna pegou o casaco de Martha e disse:

- Não se preocupe, querida. Mas eu gostaria de um pouco de companhia na cozinha.

Snape perguntou:

- Brian não está em casa?

- Ele foi ao centro comunitário e na volta pega o Pequetito. Daqui a pouco a gente escuta a Henriqueta roncando.

Martha disse:

- Eu vi a motocicleta há alguns dias. Ela é linda!

- Se quiser, peço pro Brian te levar para dar uma volta com ela.

- Puxa, isso ia ser bem legal.

As duas foram para a cozinha e terminaram fazendo o jantar juntas. De algum modo, Snape estava nervoso. Ele sabia que Edna havia organizado o jantar apenas para conhecer Martha. E ele queria que as duas se dessem bem. A opinião dos McTaggart era importante para ele. Eles eram seus amigos, e ao que tudo indicava, sua família no mundo dos trouxas.

Essa era uma coisa à qual ele rapidamente tinha se acostumado - à sensação de ser aceito, de pertencer, de uma amizade incondicional. Martha e os McTaggart tinham dado tudo aquilo a ele sem pedir nada em troca. Uma atitude extremamente anti-sonserina, mas uma à qual ele já estava acostumado, pensou, com um calorzinho gostoso na barriga.

- Você é a namorada do Sevvie?

Martha olhou para baixo e viu o garotinho com cabelinho louro espetado, olhando para ela com grande curiosidade.

- Oi, eu sou Martha. Você deve ser o Billy.

- Como você sabe?

- Sev me falou de você. Ele disse que você ficou doente. Você está melhorzinho agora?

- O Sev me deixou bonzinho. Ele colocou uma meleca branca no meu braço, ele estava doendo, sabe, mas aí ele colocou a meleca e depois ela ficou toda dura! Aí eu quebrei e ele colocou numa água com um cheiro esquisito, me deu um chá e depois eu dormi e acordei bom!

Brian entrou em casa e disse, severo:

- Billy, não começa a pentelhar as visitas! - Ele se virou para Martha. - Oi, Martha. Prazer, eu sou Brian. Sev, que bom gosto! A mina é mó gatinha!

Edna se virou, brincando:

- Gatinha, é?

Brian chegou para ela:

- É, mas ela é do Sev. Só eu tenho a minha bruzundunguinha. Dá um beijinho no seu bruzundungo, vai, um beijinho - E a encheu de beijos estalados no rosto.

Rindo Edna falou:

- Tá, tá! Agora vai me ajudar com a mesa.

Snape se prontificou:

- Sim, eu posso ajudar a fazer isso também.

- Com cuidado, hein? - alertou Edna. - Hoje vamos usar a louça chique.

Não foi só a "louça chique" que deixou claro que aquele era um jantar fora do comum. O cardápio especial era um ensopado de carneiro com batatas e frutas, seguido de um pudim de chocolate. Só pelo menu, Snape sentiu o empenho de Edna, uma cozinheira que não deixava nada a dever aos elfos domésticos de Hogwarts. E ele se sentiu muito grato a ela.

- Então, Martha - pergunta Edna à mesa, quando todos já estavam jantando -, você já está há algum tempo ali na botica, não é mesmo?

- É verdade. Faz mais de três anos. Antes eu trabalhava de recepcionista no prédio de uma financeira.

- E você gostava?

- Tinha um salário ótimo. Aí eles cortaram pessoal, e eu fui demitida. Mas eu gosto de onde estou trabalhando agora.

- O Sr. Winthrop tem cara de ser gente finíssima - disse Brian. - Ele ficou preocupado com o Pequerrucho. Mas Sev cuidou de tudo, né Sev?

Snape deu um pequeno sorriso. Edna disse:

- Martha, Sev é como um irmão para nós. E você sabe, ele tem esse jeito todo fechadão, mas é um coração de ouro.

Martha sorriu para Snape:

- Eu sei. Já falei isso para ele.

Brian disse:

- Olha, Martha, não se engane. Edna está querendo dizer o seguinte: se você o magoar, nós vamos ter que machucar você.

Snape se engasgou com uma fatia de maçã.

- Mas... mas...!

- É brincadeira! - disse Brian. - Tamos só zoando! Até porque a Martha é uma pessoa faixa e não faria isso com você.

De algum modo, Martha achou melhor não levar aquilo na brincadeira.

- Não, eu jamais faria isso com Sev. Ele me ajudou muito. Eu tinha um namorado abusivo.

Edna disse:

- Ah, querida. Todos nós já passamos por isso. Gente assim é muito perigosa, e a gente deve se afastar deles o quanto antes. Você meteu a cana atrás dele?

- Não, ele fugiu. Acho que Sev espantou ele.

- E dê graças a Deus que ele resolveu sumir - disse Edna.

Brian disse:

- Se ele voltar, eu posso chamar o meu amigo Mordida de Cobra. Ele é ótimo para resolver umas paradas desse tipo.

Martha sorriu:

- Obrigada. E diga obrigada a seu amigo também.

- Mordida de Cobra é gente fina - riu-se Brian, servindo Martha de cerveja e vendo que ela misturava leite. - Quando você olha para ele, você não acha, porque ele é mais feio que a morte e fede três vezes mais. Mas ele é do bem. Eu me lembro uma vez quando nós viajamos até Bristol. Ele deu uma assistência para Henriqueta.

- Você deve ter boas histórias para contar.

- Ah, a gente conhece muita gente aí. Se eu começar a contar metade do que eu já vi, broto, nós vamos conversar até de manhã.

Apesar de eles não ficarem conversando até a manhã seguinte, Brian contou diversas histórias de seus amigos motoqueiros ou de situações inusitadas pelas quais ele passara com ou sem os referidos amigos. Snape ficou fascinado com as histórias, a maior parte delas eram verdadeiras lições de companheirismo e solidariedade.

Depois do pudim caprichado de Edna, eles ficaram um pouco na mesa, ainda conversando. Snape sentiu que os seus amigos estiveram abrindo a casa deles e o coração para a pessoa que era importante para ele, em mais uma demonstração de amor. Ele jamais tinha recebido tanta atenção antes.

Brian ofereceu a Henriqueta para Snape levar Martha em casa, mas o mestre em Poções explicou que não sabia pilotar uma motocicleta. Então Brian se ofereceu para levar Martha em casa de moto, mas ela disse que a volta ficava para outro dia, e pediu que Snape a acompanhasse até em casa.

- Seus amigos são muito gentis - disse Martha, enquanto eles caminhavam em direção ao prédio dela. - Eu os adorei.

- Posso dizer que eles também gostaram muito de você.

- Eu senti que eles também gostam muito de você, Sev. Tava na cara que eles estavam vendo se eu era boa o suficiente para namorar você.

- Eu não creio nisso. Mas se esse foi o caso, você passou com nota 10.

Eles chegaram ao prédio. Martha disse:

- Você quer subir, er.. tomar um café?

Snape hesitou. Ele sabia o que ela queria dizer com "tomar um café" e o que eles fariam não tinha nada a ver com preparar a bebida trouxa favorita de Snape.

- Eu... - Ele tentou dizer. - Eu acho que...

Martha estava corada, mas disse:

- Eu adoraria que você subisse um pouco.

Ele a envolveu nos seus braços:

- Você sabe o que está dizendo?

Ela sorriu, aninhando-se em seus braços:

- Eu sei. Eu quero que aconteça, Sev. Mas não quero pressioná-lo. Só estou lhe dizendo que estou pronta... se você quiser.

Ele a apertou em seus braços:

- Faz muito tempo desde... a última vez...

- Eu ajudo você - Ela sussurrou.

O desejo dele se inflamou e ele capturou os lábios dela, mordiscando-os delicadamente. Eram deliciosos. Ele não queria se separar desses lábios. Nunca.

Mais tarde, quando ele pensou no que acontecera, viu que tudo passou meio que num borrão. Quando ele se deu por conta, eles estavam se beijando na sala de Martha, e ela não desgrudou os lábios dos de Snape, dando um chute na porta para fechá-la atrás de si, enquanto atirava o casaco para longe. Aliás, o beijo jamais fora tão quente, tão desesperado.

Snape apertava Martha contra si, e suas mãos desenhavam os contornos de seu corpo pequeno, enquanto suas bocas se uniam. Não havia outros sons na sala que o da respiração forte deles, ocasionalmente Martha deixava escapar um gemido vindo do fundo da garganta. Mas Snape só ouvia o fluxo do sangue em seus ouvidos, o seu próprio coração disparado, o desejo aumentando. Ele beijou Martha com ainda mais intensidade, se é que isso era possível.

De repente, ela se separou gentilmente dele. Ele a encarou por um minuto, vendo os lábios inchados, o cabelo que ele mesmo despenteara levemente.

Por Merlin, ela estava linda.

Então ela tocou levemente na mão dele e deu um passo para trás, sem largar a mão dele. Suavemente, gentilmente, como se ambos andassem nas nuvens, ela o levou até o quarto. Snape a seguiu, suas mãos sem jamais se separarem, e os passos deles, que sempre foram ágeis e graciosos, dessa vez mal pareciam encostar no chão. Era como andar nas nuvens.

Lá dentro do quarto simples, com alguns pequenos bibelôs numa cômoda oposta à cama de casal e cortinas graciosas do lado direito, eles concretizaram seu amor. Houve paixão, respeito, entrega mútua e muito, muito carinho.

Os dois se abraçaram fortemente, ofegantes e suados, completos e satisfeitos. Eles se beijaram suavemente, como que para selar o que tinha acontecido, e depois se ajeitaram um nos braços do outro, juntinhos e agarradinhos.

Amanhã prepararei uma poção antigravidez Impedere Enfans, pensou Snape, antes de deslizar para o sono.