3 –A menininha do papai tem namorado
Gina e a mãe não trocaram nenhuma palavra até estarem de volta a Toca. Chegando lá a casa estava vazia (alguém tem que trabalhar não é?) e Gina se apressou em ir para o quarto desfazer a mala. Pretendia tomar banho e ir dormir, mas Molly apareceu na porta de seu quarto. "Ok Gina. Você arrumou o namorado, você o apresentou pra sua mãe. Você agüenta o sermão.", ela mentalizava como um mantra, tentando se manter calma sem nenhum sucesso.
- Gina, podemos conversar? – a mãe disse entrando e sentado-se na cama, frustrando as esperanças de "fuga" da garota.
- Claro... – ela respondeu sem jeito, sentando-se também.
- Você fez muito bem em me pedir pra ir sozinha. – ela disse calmamente. Gina não conseguiu perceber se ela estava sendo compreensiva ou se um sermão de reprovação partiria dali. – Só Merlin sabe o escândalo que seus irmãos iam fazer naquela estação. Percy foi um bom aperitivo do que vai acontecer hoje a noite nessa casa...
- Hoje a noite? – ela não queria entender.
- Quando seu pai e seus irmãos voltarem e nós contarmos as novidades pra eles. – ela explicou pacientemente.
- Ah... Mãe?
- Sim?
- Você está do meu lado, não é? Quer dizer... quando eles começarem a dizer... – Gina suspirou – Você vai ficar do meu lado não vai?
Não era uma pergunta, era um pedido, uma súplica. Estava morrendo de medo de ter que enfrentar sua família sozinha. Sua mãe sempre fora uma grande amiga e ela esperava que continuasse sendo.
- Quando você fez mistério sobre a identidade do rapaz eu logo imaginei que teríamos surpresas. – ela ergueu as sobrancelhas e contraiu os lábios - Mas o filho de Lúcio Malfoy é bem mais do que uma surpresa pra mim e você sabe que será um choque para os meninos... – Gina baixou os olhos dando o caso por perdido, mas Molly ainda não havia terminado – Claro que eu estou do seu lado, queridinha, mas você deveria ter me contado antes.
A garota abraçou a mãe e esta afagou seus cabelos, como fazia quando Gina era pequena.
- Desculpe mamãe. Mas eu tive tanto medo de que nem você me entendesse! – ela levantou e encarou a mãe muito seriamente – Eu e o Draco... Estamos juntos desde Hogwarts.
Molly pediu que Gina contasse a historia desde o principio, e ela atendeu o pedido alegremente, aliviada por dividir aquela parte tão importante da sua vida com sua mãe. Ela certamente não disse nada sobre a visita de Draco ao seu quarto, porque a educação dos Weasley era bem rigorosa ("careta", diriam os gêmeos) nesse ponto. Ela a substituiu por uma carta onde Draco relatava como tinha deixado sua casa pra se refugiar na França.
- Bem que eu desconfiei que as cartas não eram da Lenina! – a mãe riu-se – Você não dá tanta atenção as cartas da pobrezinha...
- Mãe... o que você achou do Draco? Você vai mesmo me defender, não vai?
A mulher ponderou por alguns instantes.
- Ele parece um bom menino. Um pouco triste e talvez não muito amigável. Mas eu conheço um bruxo das trevas quando vejo um e esse menino, Draco, não é me parece um deles.
O coração de Gina pareceu bater mais leve depois daquela declaração, mesmo quando a expressão da mãe se tornou mais séria.
- E que história é essa de "defender"?! – Molly perguntou com uma ponta de indignação - Eu, seu pai e seus irmãos somos sua família! Você não precisa se defender de nós!
- Mas eles vão pirar quando souberem! – ela argumentou com tristeza - Imagine Rony! E os gêmeos? E quanto a papai? Eu não consigo imagina-lo concordando com nosso relacionamento...
- Esse rapaz te faz feliz? – a mãe interrompeu, perguntando uma coisa que Gina considerou totalmente fora do contexto. Uma daquelas perguntas absurdas que as mães fazem quando é preciso.
- Faz... – ela respondeu corando sem perceber.
- Você acha que eu, seu pai ou seus irmãos faríamos qualquer coisa pra te impedir de ser feliz?
Gina baixou os olhos e refletiu. De modo algum! Nem em seus sonhos mais malucos ela podia imaginar sua família atrasando sua felicidade por seus próprios interesses e preconceitos. Não... definitivamente sua família não era assim. Ela murmurou algo em negativa.
- Mas mãe... – ela insistiu choramingando – Eles vão ficar malucos!
Molly deu um sorriso tranquilizador.
- Vão mesmo! Mas vão acabar entendendo... – ela deu um beijo na testa da filha – E pelos olhinhos brilhantes que eu vi quando você estava com ele, vejo que eles não terão outra saída a não ser se acostumar.
Ela saiu do quarto, deixando Gina a vontade pra tomar seu banho e pra se preparar para o que viria. Agora ela se sentia muito mais confiante. "Mas que o Rony vai ter uma ataque histérico, isso vai."
***
Arthur, Molly, Gina, Fred, Jorge, Rony, reunidos na cozinha da Toca depois do jantar. Na cozinha, porque Molly achava que esse era o melhor lugar para conversar e depois do jantar porque ela achava que discutir a mesa fazia mal. Gina pensava em como puxar o assunto quando Percy entrou em casa com uma expressão soturna.
- Então aí está você mocinha! – ele dirigiu-se a Gina, sem saudar o resto da família – Já contou pra todos? Eu precisarei dizer eu mesmo sobre seu namoradinho fugitivo?
- Não fale assim, Percy!
Gina se levantou num salto e estava pronta para começar uma discussão agressiva com o irmão, mas Molly dirigiu-se a ele reprovadora.
- Percy Weasley, nem tente abrir essa boca! – ela apontou-lhe o indicador e ele baixou os olhos. Ela voltou-se mais suavemente para Gina – Querida, é hora de dar a notícia...
- Namorado? – o pai de Gina ficou tão pálido que suas sardas pareceram sumir – Do que exatamente eu não estou sabendo?
- Fugitivo? – Fred fez cara de sério – Ele fugiu de Askaban?
Jorge imitou-lhe a expressão, comicamente severa, e completou.
- Ou fugiu de você?
Os dois caíram na risada, mas o olhar incisivo da mãe os fez parar imediatamente.
- É papai, eu estou namorando. – Gina aproveitou o silencio.
- Mas você não é muito nova?! – ele parecia desolado. Sua menininha! Bem, ele sabia que cedo ou tarde esse dia chegaria. Mas ainda era tão cedo!
Molly ia retrucar, mas Rony foi mais rápido e partiu em defesa da irmã.
- Pai! Gina tem quase dezoito anos! – ele saiu de seu lugar e se colocou ao lado dela – Ela tem responsabilidade pra escolher um namorado! Além disso , - ele olhou para a irmã e sorriu - , a Mione me disse que era um rapaz ótimo!
Gina arregalou os olhos. Não tinha dito a Hermione sobre seu namoro secreto com Draco, não tinha falado nada sobre aquela noite e nem sobre nada! "Rapaz ótimo? A Hermione enlouqueceu" , resmungou mentalmente, "Ou estava brincando e o Rony não entendeu".
- Mas a Mione não sabia... – Gina murmurou.
O irmão sorriu orgulhoso.
- Minha namorada é esperta não é? Ela disse que sabia de um namorado de Hogwarts, que você não tinha dito pra ela, mas ela tinha certeza de que você estava namorando escondido.
- E ela disse quem é ele? – a voz de Gina era quase um gemido.
Impossível, se ela tivesse dito, ele estaria estrangulando-a e não passando o braço pelo seu ombro.
- Não... – o rosto de Rony perdeu o entusiasmo – Ela se recusou a dizer mas disse que era um cara legal...
- Nossa menininha! – Jorge fungou forçado e limpou os olhos com a barra da camisa – Ontem mesmo ela estava engatinhando por essa casa! – apontou para o chão, depois levou a mão ao peito, apertando a camisa - E hoje...SNIF! já tem namorado!
Fred simulou um choro barulhento e deitou a cabeça no ombro do irmão, murmurando coisas como "Ela era só um bebê! Hoje já é uma mocinha!". Quando Molly olhou-os com reprovação novamente, Jorge sorriu maroto e disse para a irmã.
- Legal que você desistiu do Harry! – ele mantinha os polegares pra cima.
- Ele não é o Harry, é? – perguntou Fred cutucando a irmã e piscando um olho.
Ninguém percebeu, mas uma nuvem de tensão passou pela face de Molly e Gina. As duas tiveram o mesmo pensamento: "Estão esperando por um cover do Harry e vão dar de cara com seu oposto."
- Virgínia, estamos curiosos! – o pai disse alegremente – Quem é o felizardo que namora a minha filhinha? Eu já o conheço?
- A mamãe conhece! – Gina quase gritou olhando desesperada para a mãe.
- Sim! – ela confirmou calmamente com um gesto de cabeça - Conheci-o hoje, na estação de trem...
Percy pigarreou alto.
- E eu também...
- ...Ele me parece um rapaz encantador! – Molly concluiu.
- Aposto que vocês conhecem o nome dele de algum lugar. – o jovem funcionário do Ministério ironizou, achando toda aquela reunião familiar um absurdo.
- É mesmo? – Arthur interessou-se, o rosto animado e curioso – Bem, não façam mais suspense! Diga, quem é ele?
Rony e os gêmeos concordaram e todos os olhares se voltaram para a caçula.
- Ahm...- as palavras não saiam. Gina fechou e abriu a boca varias vezes, mas nenhum som saiu dela. Os rapazes perceberam que havia algo errado.
- Está se sentindo bem? – disse Rony ainda ao seu lado.
- Quer água querida? – a mãe, fazendo menção de abrir a torneira.
- Vai dizer ou é preciso que eu mesmo diga? – Percy irritado como raramente tinha estado.
O som de todos falando ao mesmo tempo assustou a garota, e de algum modo, acabou com seu bloqueio verbal.
- Draco Malfoy! – as palavras saíram mais altas do que ela gostaria.
Um silencio breve até que se ouviu o som da risada desafinada de Rony,. E logo depois as gargalhadas exageradas dos gêmeos. Por um segundo Gina se perguntou porque todos na sua família tinham que ter uma risada tão escandalosa.
– Malfoy? Imagine só!– Ronald se apoiava nela, sem ar.
- Virgínia Weasley, você aceita essa doninha em casamento? – Jorge sentia o rosto doer de tanto contorce-lo em sorrisos.
- Gininha! – Fred buscava ar – Essa foi boa! Eu não teria pensado em nada tão hilário....
- Ok, Gi, você já quebrou o gelo. – Rony disse em meio a risadinhas – Agora pode falar sério.
- É sério! – Gina, Percy e Molly disseram em uníssono.
Arthur esperou que os filhos voltassem a rir, mas nada aconteceu. Olhou para o rosto tenso da filha, irritado de Percy e para o semblante decidido da esposa e soube que era mesmo verdade. Achou que fosse desmaiar. Ou acordar de um pesadelo. Nenhum dos dois aconteceu então ele resolveu falar:
- Draco Malfoy? O filho de...
- Lúcio Malfoy, o comensal da morte? Ele mesmo! – Percy esbravejou.
Rony olhou para Gina como se tivesse visto uma aranha gigante. Os gêmeos estavam simplesmente boquiabertos.
- Filha isso é verdade? – depois da confirmação da garota, Arthur murmurou – Como isso aconteceu? – ele voltou-se pra Percy num tom de voz mais alto – O que ele fez com ela?!
Percy estufou o peito.
- Ele está no Ministério, pai. Se ele fez algo de errado com a Virgínia nós vamos ficar sabendo.
- Ele não fez nada comigo! – ela protestou – Nós só estamos namorando! Ele não fez nada de errado!
- Ele É errado! – Rony tirou o braço do ombro da irmã e cruzou-os, encarando a irmã com severidade – Como você deixou ele encostar em você? Ele é desprezível! Ele é um MALFOY, ele fede!
- Ronald! Mais respeito! – Molly repreendeu, tentando achar um modo de conter aquela situação antes que a conversa se convertesse em caos.
- Isso mesmo filho. – o pai levantara-se e agora gesticulava com nervosismo– Esse rapaz provavelmente enfeitiçou a minha filhinha! Magia negra!
- É o que eu penso! – Percy assentiu orgulhosamente.
Gina ergueu os braços para atrair atenção.
- Isso é RIDÍCULO! – ela não controlava mais o volume da voz - Ele não me enfeitiçou! Eu não sou uma criança, eu não me deixaria envolver dessa forma! Nós estamos namorando e isso é tudo!
O que veio foi uma chuva de comentários, gritos, murmúrios inconformados, gestos exagerados e indicadores apontados. Molly subiu em uma cadeira e bateu o pé.
- CALADOS! – ela gritou e como elfos domésticos todos obedeceram. – A menina não foi enfeitiçada, muito menos com magia negra! – ela olhou para seu marido, que corou – E, Percy, até que se prove o contrário o rapaz não é um criminoso. Ronald, lembre-se que sua namorada é uma moça muito sensata que jamais esconderia algo se achasse que era perigoso. E quanto a vocês dois, - ela apontou na direção dos gêmeos - deviam dar mais crédito ao que a sua irmã tem a dizer.
- Então DIGA alguma coisa! – berrou Jorge contrariado – Explique o inexplicável.
- Preciso ter uma conversa séria com a Mione... – sussurrou Rony.
Pela segunda vez naquele dia, ela contou como tinha acontecido seu romance com Draco, desde as primeiras aulas, passando pelas brigas e cartas durante aquele ano. E pela segunda vez omitiu certas partes comprometedoras sem dano para o entendimento geral do caso...
- Mas Molly... – Arhtur deixou-se cair novamente na cadeira, estava muito, muito, muito chocado - Você viu o garoto? Ele parece perigoso? – ele olhou para Gina com preocupação - Com aquele pai que ele teve, o que você quer que eu pense?
Rony era o único que não tinha se acalmado ainda, ele continuava resmungando e batendo as mãos nas laterais do corpo inconformado.
- Eu convivi com essa criatura por sete anos! Ele é um nojentinho preconceituoso, imbecil! E ainda por cima o Percy disse que ele está PRESO!
- Ele não está preso! – Gina replicou – Papai... – ela começou docemente - você não me ouviu? Ele não quis ser como o pai dele, ele fugiu para não se tornar um Comensal... Ele é um bom garoto!
" Ele é um bom garoto'?! Acho que eu forcei um pouco...", Gina pensou. Bem, agora já estava dito, por mais que soasse ridículo.
- Meu amor, eu o conheci. - Molly intercedeu a favor da filha - Ele certamente não é um anjo, mas não parece um assassino em potencial. – o tom de voz era suave e persuasivo – Pensem bem, garotos, se ele fosse assim tão ruim porque se iria se expor a uma visita a nossa casa?
- Ele não vai vir na nossa casa! – foi a vez de Fred se indignar.
- Vai sim... – Gina disse por entre os dentes.
- Até ele concluir as pendências que tem com o Ministério ele não vai a lugar nenhum – Percy disse triunfante
- Não faça insinuações Percy!- a ruiva teve vontade de estrangular o irmão.
- Não é nenhuma insinuação. É a mais pura verdade!
Rony balançou a cabeça, falou consigo mesmo e depois dirigiu-se a todos.
- Não precisam discutir. – disse ele friamente - Não conheço nenhuma força nesse mundo que traria Draco Malfoy pra dentro dessa casa.
"Eu conheço uma.", ela pensou divertida ao lembrar que ele já havia estado lá e nenhuma pessoa naquela sala, além dela, sabia.
- Ele mesmo se ofereceu, Ronald. – esclareceu Molly e depois, com ares de assunto encerrado, ela completou – Agora todos para a cama, amanhã falaremos disso com mais calma.
- Eu acho que... – Percy começou.
Arthur lançou um olhar atordoado para o filho.
- Eu acho que isso foi suficiente por hoje... – e dizendo isso saiu da cozinha, seguido pelos filhos.
Quando eles já tinham ido, Gina voltou-se para a mãe.
- Mamãe, até que não foi tão difícil... – ela disse esperançosa.
- Difícil vai ser amanhã, quando eles acordarem e se derem conta de que não foi um pesadelo!
As duas riram e ainda ficaram conversando amenidades por algumas horas.
